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Recebido em: 02/05/2013

Aprovado em: 12/06/2013

A MULHER, A MAÇONARIA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Hugo Garcez Duarte ¹

Resumo
O presente trabalho analisa a relação da mulher com a maçonaria no horizonte da efetiva tutela dos
direitos fundamentais, com ênfase nos direitos à igualdade, liberdade de crença e autonomia da
vontade. Em última instância, procura-se demonstrar que a conclusão racional acerca da constituci-
onalidade da exclusão da mulher dos quadros da maçonaria perpassa a hermenêutica e argumenta-
ção jurídicas.

Palavras-chaves: Mulher; Maçonaria; Direitos; fundamentais.

Abstract
This paper analyzes the relationship of women with Freemasonry on the horizon of the effective
protection of fundamental rights, with an emphasis on equality, freedom of belief and freedom
of choice. Ultimately, we seek to demonstrate that the rational conclusion about the constitu-
tionality of the exclusion of women cadres of Freemasonry permeates hermeneutics and legal
arguments.

Keywords Women; Masonry; Rights; fundamental.

1
Mestre em Hermenêutica e Direitos Fundamentais pela Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC – Juiz de
Fora/MG; Professor e Coordenador do Curso de Direito da Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas –
FADILESTE – Reduto/MG.

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DUARTE, Hugo Garcez. A MULHER, A MAÇONARIA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Introdução
A posteriori, discorre-se sobre o direito à
A Maçonaria costuma estar envolta em igualdade, abordando-se as distinções existentes
muitos mistérios, sobretudo, quando se fala na entre os conceitos de igualdade formal e de
impossibilidade de participação da mulher em igualdade material, bem como sobre a autono-
seus quadros, pois as explicações costumam en- mia da vontade, distinguindo-a da autonomia
contrar-se carreadas de argumentos místicos, fi- privada.
losóficos e religiosos. Contudo, sob o prisma
Constitucional, dos direitos fundamentais e da Lado outro, enfrenta-se algumas questões
teoria da eficácia horizontal dos direitos funda- atinentes aos direitos de liberdade de consciên-
mentais, referido impedimento pode, pelo pris- cia, de convicção filosófica ou de crença, deixan-
ma de alguns, violar dados direitos. do-se claro transmitirem a ideia de que o cida-
dão brasileiro é livre para crer no que bem quei-
A proposta deste trabalho é analisar esse ra, seja a crença de ordem filosófica, religiosa,
fato frente à efetiva tutela dos direitos funda- política, social, entre outras.
mentais, com especial a atenção ao direito à
igualdade, à liberdade de crença e à autonomia Por fim, as considerações finais são apre-
da vontade, tendo como paradigma a teoria da sentadas, apontando-se que, por mais que seja
eficácia horizontal dos direitos fundamentais. difícil tender por uma ou outra posição, a chama-
da filtragem constitucional impõe que a conclu-
Inicialmente, discorre-se sobre a Maçona- são racional acerca de ser razoável ou não a ex-
ria, quando se enfrenta seus dogmas, ritos, bem clusão da mulher dos quadros da Maçonaria, ten-
como os motivos declarados pelos quais se im- do em vista o tema eficácia horizontal dos direi-
pede a mulher de participar dos seus quadros. tos fundamentais, perpassa a hermenêutica e ar-
Posteriormente, fomentam-se os direitos gumentação jurídicas.
fundamentais na Constituição de 1988, donde se
destaca estarem esses direitos localizados num
Título específico, por mais que estas cláusulas A Maçonaria
não sejam taxativas. O Grande Oriente do Brasil, organização
Por conseguinte, desenvolvem-se as ca- maçônica mais antiga ainda em funcionamento
racterísticas dos direitos fundamentais como: his- no país, divulga as seguintes informações acerca
toricidade; universalidade; limitabilidade; irre- da instituição:
nunciabilidade; indivisibilidade; inalienabilidade/ Apesar dos grandiosos mistérios que a en-
indisponibilidade; concorrência; interdependên- volve, trata-se a Maçonaria de uma instituição
cia e complementaridade; imprescritibilidade; permanente, de caráter filosófico, filantrópico,
efetividade; constitucionalização; vinculação dos educativo e progressista.
poderes públicos; aplicabilidade imediata e aber- A Maçonaria é considerada uma entidade
tura e eficácia. filosófica por tratar em seus atos e cerimônias da
Por oportuno, discorre-se sobre as fun- essência, propriedades e efeitos das causas natu-
ções dos direitos fundamentais, abordando-se a rais, analisando as leis da natureza, relacionando-
teoria dos quatro status de Jellinek. as as bases da moral e da ética. Sua vertente fi-
E, finalmente, algumas considerações so- lantrópica deve-se ao fato de que a constituição
bre a eficácia horizontal dos direitos fundamen- da maçonaria não se deve a obtenção de lucro
tais são expostas, quando se sustenta que a lesão pessoal, sendo destinadas as suas arrecadações
ou ameaça a direitos fundamentais não resulta, ao bem-estar do gênero humano. E é encarada
unicamente, do Estado, mas também, do particu- como uma entidade progressista porque por
lar, devendo os direitos fundamentais ser respei- mais que parta do princípio da imortalidade e da
tados em âmbito privado. crença em um princípio criador regular e infinito,

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Deus, não obsta o esforço dos seres humanos na abriga em seu seio homens de qualquer religião,
busca da verdade, nem reconhece outro limite desde que estes acreditem em um só Criador.
nessa busca senão o da razão com base na ciên- Dentre os mais ilustres maçons pode-se
cia. citar Voltaire, Goethe e Lessing, Beethoven,
Essa entidade tem como princípios a liber- Haydn, Mozart, Frederico o Grande, Napoleão,
dade dos indivíduos e dos grupos humanos, se- Garibaldi, Byron, Lamartine, D. Pedro I, José Boni-
jam instituições, raças ou nações; a igualdade de fácio, Gonçalves Lêdo, Duque de Caxias, Deodoro
direitos e obrigações dos seres e independente- da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Mo-
mente de religião, a raça ou nacionalidade; e a rais, Campos Salles, Rodrigues Alves, Nilo Peça-
fraternidade da pessoa humana. nha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Braz, Wa-
Seu lema é Ciência; Justiça e Trabalho. A shington Luiz, Rui Barbosa e muitos outros.
Ciência para esclarecer os espíritos e elevá-los. A Pode-se notar que homens das mais varia-
Justiça para equilibrar e enaltecer as relações hu-
das estirpes foram aderiram aos preceitos maçô-
manas. O Trabalho, por ser o meio através do nicos, podendo-se afirmar tratar-se a maçonaria
qual os homens se dignificam e se tornam inde- de uma entidade altamente tolerante, exigindo
pendentes economicamente. dos seus membros a tolerância, o respeito à dife-
A Maçonaria objetiva a investigação da rença, às opiniões políticas e às mais variadas
verdade, o exame da moral e a prática das virtu- crenças religiosas.
des. A moral é, para a Maçonaria, uma ciência Para adentrar à Maçonaria é indispensável
com base no entendimento humano, lei natural e crer na existência de um princípio criador e ser
universal que rege todos os seres racionais e li- homem livre e de bons costumes, consciente de
vres. É a demonstração científica da consciência, seus deveres para com a Pátria, seus semelhantes
com vistas à liturgia dos deveres e a razão do e consigo mesmo, e ter um ofício lícito e honra-
uso dos direitos inerentes ao homem. do, que lhe permita prover suas necessidades
A Maçonaria concebe a virtude como força pessoais e de sua família, bem como a sustenta-
de fazer o bem em seu mais amplo sentido. Ou ção das obras da Instituição.
seja, a virtude seria o cumprimento dos deveres Ademais, exigi-se do maçom o respeito
do homem para com a sociedade e para com a aos seus estatutos e regulamentos e o acatamen-
família maçônica, sem qualquer interesse pesso- to às resoluções da maioria, tomadas de acordo
al. O maçom tem como dever respeitar os direi- com os princípios que as regem; amor à Pátria;
tos dos indivíduos e da sociedade, protegendo e respeito aos governos legalmente constituídos;
servindo os semelhantes. acatamento às leis do país em que viva, entre ou-
Por mais que defenda premissas espiritu- tros.
ais, a Maçonaria não é uma religião, sendo uma Em particular, exige-se, igualmente: a
sociedade que objetiva a união entre os homens, guarda do sigilo dos rituais maçônicos; conduta
admitindo em seu seio pessoas de todos os cre- correta e digna dentro e fora da maçonaria; a de-
dos religiosos, sem nenhuma distinção. dicação de parte do seu tempo para assistir às
E apesar de não ser uma religião, a Maço- reuniões maçônicas; a prática da moral, da igual-
naria pode ser considerada uma entidade religio- dade, da solidariedade humana e da justiça em
sa, pois reconhece a existência de um único prin- toda a sua plenitude, proibindo-se, terminante-
cípio criador, regulador, absoluto, supremo e in- mente, dentro da instituição, discussões políticas
finito, ao qual se dá o nome de Grande Arquiteto e religiosas.
do Universo, além de tratar-se de uma entidade Os membros da Maçonaria reúnem-se pe-
espiritualista em contraposição ao predomínio riodicamente no chamado templo maçônico para
do materialismo. Noutras palavras, a Maçonaria praticar as cerimônias ritualísticas que lhes são
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permitidas, em um ambiente fraternal e propício 1) A obediência deve ser legalmente esta-


para concentrar sua atenção e esforços no intuito belecida por uma Grande Loja regular ou
por três ou mais Lojas funcionando sob os
da melhoria do seu caráter, da sua vida espiritual auspícios de uma Grande Loja regular; 2) a
e do desenvolvimento do seu sentimento de res- Loja deve ser realmente independente e
ponsabilidade, fazendo-lhes meditar tranquila- possuir governo próprio, com autoridade
mente sobre a missão do homem na vida, recor- não discutida sobre os graus simbólicos da
dando-lhes constantemente os valores eternos Maçonaria (Aprendiz, Companheiro e Mes-
tre) sob sua jurisdição e não estar vincula-
cujo cultivo lhes possibilitará cercar-se da verda- da de nenhuma outra forma ou vir a com-
de. partir soberania com qualquer outro corpo
A Maçonaria oferece ao seu associado a maçônico; Os maçons no âmbito de sua
jurisdição deverão ser exclusivamente ho-
possibilidade de aperfeiçoar-se, de instruir-se, de mens e tanto ela como suas lojas não po-
disciplinar-se, de conviver com pessoas que por derão ter contatos maçônicos com Lojas
suas palavras, por suas obras, podem constituir- que admitam mulheres; 4 Os maçons, no
se em exemplos; encontrar afetos fraternais em âmbito de sua jurisdição, deverão crer em
qualquer lugar em que esteja, dentro ou fora do um Ser Supremo (Deus); 5 Todos os ma-
çons, no âmbito de sua jurisdição, deverão
país, bem como a satisfação de haver contribuí- assumir seus compromissos sobre o Livro
do, mesmo que em pequena parcela, à obra mo- da Lei Sagrada (A Bíblia), ou à vista dele ou
ral levada a efeito pelos homens. Pompílio, com seus ―Collegia Fabro-
rum‖ (espécie de corporações, guildas ou
A Maçonaria não considera possível o sindicatos profissionais da época), levados
progresso senão na base do respeito à personali- pelas legiões romanas e seus pontífices
dade, à justiça social e a mais estreita solidarie- para todo o mundo de então, e especial-
dade entre os homens. O segredo maçônico, que mente para a Inglaterra onde fundaram as
tem se servido os seus inimigos para fazê-la sus- várias cidades com a terminação ―chester‖,
e a atual York, denominada Eboracum pe-
peita, não é um dogma, senão um procedimento, los Romanos (SÉRGIO PEREIRA COUTO,
uma garantia, uma defesa necessária. Também Desvendando a Maçonaria, 2010, p. 22-23).
não admite em seu seio pessoas que não tenham
um mínimo de cultura que lhes permitam prati-
car os seus sentimentos. Além disso, o aspirante A mulher na Maçonaria
à Maçonaria deve ter uma profissão ou renda No ponto anterior, pôde-se constatar que
com que possa atender às necessidades dos seus a Maçonaria tem como princípios a liberdade dos
familiares, contribuir com as despesas da socie- indivíduos e dos grupos humanos, sejam institui-
dade e socorros aos necessitados.2 ções, raças ou nações, além da igualdade de di-
Segundo Sérgio Pereira Couto (2010), a reitos e obrigações dos seres sem distinção de
Maçonaria moderna divide-se em duas correntes religião, raça ou nacionalidade.
principais, aquela que segue a Grande Loja da Apesar da premissa, bem como haver Lo-
Inglaterra - GLUI, e a orientada pelos preceitos jas Maçônicas chamadas de mistas, por admiti-
do Grande Oriente da França – GodF. rem homens e mulheres, e Lojas femininas, a Ma-
A GLUI é a Grande Loja mais antiga do çonaria tida como regular não reconhece nenhu-
mundo, originando-se em 1717. Essa Grande Lo- ma dessas modalidades, sendo a mulher impedi-
ja estabelece a quem pretende a ela se associar da de integrar seus quadros, sob argumentos de
as seguintes regras: ordem histórica, social, sexual, moral, legal e
ocultista.

2
As informações sobre a Maçonaria até esta referência foram colhidas do website do Grande Oriente do Brasil. Sobre a Maçona-
ria.

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Tais fundamentos são apontados por Como advém a harmonia de que se falou
Kenyo Ismail (2012), para quem a Maçonaria tem acima pela prática de um rito lunar ou so-
lar? Diz a ciência que o corpo humano in-
a sua origem (cunho histórico) nos pedreiros de dependente de sexo, é composto de hor-
ofício (homens) e, em respeito às tradições do mônios masculinos e femininos numa base
chamado ―Antigo Ofício‖, as Obediências Maçô- mais ou menos proporcional. É da ciência
nicas mantêm tal regra de inadmissão de mulhe- oculta que a exaltação de um ou de outro
res. Outra justificativa é a de que tal instituição impulsiona a tendência para um compor-
tamento mais másculo ou mais feminil,
consolidou-se na Inglaterra, donde surgiu a pri- tanto por parte do homem quanto por
meira Grande Loja, época em que as reuniões parte da mulher. O rito lunar é a ela apro-
das Lojas ocorriam em tabernas, locais nos quais priado, pois dispensa provas da guarda de
a presença de uma mulher de bem era inaceitá- segredos e do silêncio, qualidade estas por
vel (cunho social). Há também a de que a Maço- essência, inerentes ao sexo masculino. Co-
mo exemplo os ritos lunares, podem ser
naria é uma fraternidade, exigindo em suas reu- citadas as procissões, ladainhas e auto-
niões muita concentração, contexto que poderia flagelação, cerimônias exóticas - com "x" -
sofrer deturpações por eventual desvio de aten- mostradas e praticadas pelo público em
ção por parte dos maçons pela presença de mu- geral, ou a mulher em particular, porque,
lheres, bem como que a natural relação sexual por ser emocional, torna-se devocional. Os
perigos desses ritos são os desvios para o
entre homens e mulheres prejudicaria a fraterni- animismo, panteísmo, baixa magia, secta-
dade entre eles (cunho sexual). Que ainda quan- rismo e principalmente, em torno de tudo
do da sua iniciação, o candidato presta juramen- isso, o fanatismo (Revista O Prumo - Dar-
to no sentido de seguir os ―Landmarks‖ maçôni- ley Worm - Abril, 1996). Os ritos "Lunares"
cos, os quais incluem o ingresso apenas de ho- cadenciam na mulher os seus harmônios
masculinos por um dos Nadis, o Píngala, e
mens (cunho moral). Ou ainda que as normas de pelo outro, no Ida, exalta os seus harmô-
muitas instituições possuem cláusulas ―pétreas‖, nios femininos, para, na condição de mu-
imutáveis, e que, como ocorre com alguns arti- lher plena, harmoniosamente, através do
gos da Constituição brasileira, não poderiam so- 3.º Nadis, o sushuna - que se situa junto
frer modificações (cunho legal).3 E, por fim, que ao líquido cervical - elevar-se ao cére-
bro. No homem, a coisa funciona exata-
existem Ordens Solares e Ordens Lunares, sendo mente ao contrário, sendo os harmônios
as Ordens Solares voltadas aos homens e as Or- masculinos exaltados no Píngala e os femi-
dens Lunares às mulheres e, sendo a Maçonaria ninos contidos na Ida, resultando assim
tipicamente uma Ordem Solar, o ingresso de mu- harmônios somente masculinizados, fluin-
lheres não seria coerente (cunho ocultista). do na mesma direção e pelo mesmo canal.
Quando isso acontece no homem ou na
Quanto à relação rito maçônico e mulher, mulher, a vida alcança sua plenitude física,
vale analisar: sexual, mental e espiritual. Compreendam
agora "o porque" do Caduceu de Mercúrio

3
Relativamente a esse ditame de Kennyo Ismail, necessário ponderar que, na Carta Magna, nos incisos do § 4º do art. 60 consta
que não será admitida emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a se-
paração dos poderes; e os direitos e garantias individuais. Contudo, tais cláusulas não são imutáveis, outrossim, insuscetíveis de
serem abolidas. Logo, nada impede que o Congresso Nacional, por meio de uma Emenda à Constituição, altere alguma (s) dessas
normas. Isso ocorreu, inclusive, quando da criação da Emenda Constitucional nº 45/2004, promotora de alterações no art. 5º da
Lei Maior, que trata de direitos e garantias individuais.
4
Nesse mesmo sentido, afirma Ortega que o rito maçônico é solar e deve ser praticado única e exclusivamente por homens, pois,
na essência masculina, o rito é um aglutinador harmônico do visível com o invisível. E, como para a mulher, o rito tem que ser o
lunar, visando manter a mesma harmonia e igualdade de afeto ritual, tornar-se inconcebível a sua presença nos quadros da maço-
naria, ORTEGA, Osvaldo. A Mulher e a Maçonaria: Porque a mulher não pode pertencer a Maçonaria? In: Revista Loja Estrela da
Lapa nº 7, p. *S.N.+.

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ser um emblema da medicina, e conse- tudo que aqui foi dito e vejamos uma ou-
quentemente da saúde, e a sua relação e tra focalização da mulher, em análises
emblemação na Kundaline. Saibam tam- comparadas, pela adaptação por abstra-
bém o porquê de numa festa branca Ma- ções na transposição da operativa para a
çônica a mulher só poder se sentar na co- especulativa. Por estas e nestas transposi-
luna do sul, coluna passiva, da beleza, lu- ções, em relação ao homem, existem indu-
nar e devocional, própria dela e neutra ções a um subjetivo comportamento, de
numa relação harmônica aos seus hormô- construtor moral. Nas ações de um hipoté-
nios. E saibam ainda porque realmente o tico caldeamento homem/mulher, estas
Sol, orientador por excelência, deve ficar subjetividades poderiam implicar no se-
no lado norte e a Lua no lado sul. O Rito guinte: não ficaria bem, a exemplo dos
Iniciático solar envolve silêncio, esoteris- operativos, uma mulher carregando pe-
mo, juramentos de segredo, procedimen- dras, dando-lhe marteladas, partindo ou
tos em concordância com a essência da aparando-as, como não ficaria bem, com
natureza masculina, tendo como símbolo uma alavanca, num esforço hercúleo, mo-
maior da sua ação o trabalho, advindo daí vimentando o mundo. Ela, com uma mar-
o avental. No homem, o trabalho por seu reta nas mãos, chegaria a ser um pesadelo.
suor é o adequado canal a um seu fim últi- Imagine-a ritualisticamente, com o lado
mo como um sacerdote da moral. Na mu- esquerdo do peito nu... poderia? E desco-
lher, o grande conduto que a levaria à berta um pouco acima do joelho direito
condição de iniciada seria o parto, que a praticando os c.: p.: de p.?... poderia...? Do
transformaria em mulher plena, I.É, MÃE, ponto de vista da moral, em certas circuns-
na condição quase divina de pela dor e tâncias, uma mulher não seria tão livre
pelo amor poder alcançar o céu. Nela, a como o homem, pois precisaria ter autori-
iniciação seria inconsciente, e teria desdo- zação do esposo para se ausentar à noite e
bramentos em sacrifícios por novas vidas, não ficaria bem para ela, perante a socie-
por atos de amor, perpetuadores do gran- dade, voltar as altas horas como o homem
de desígnio das divindades. No homem, volta. Portanto, a mulher, numa interação
ao contrário, a iniciação seria consciente, ao mundo que vivemos, não poderia ter a
já que não tem canais naturais - ao contrá- liberdade que imagina poder ter. Talvez
rio das mulheres -, que pudessem levá-lo a este trabalho venha justificar de forma
esse estágio, em cujo principal escopo tra- mais acentuada, os reais motivos de so-
balharia denodadamente, mesmo que com mente o homem poder praticar a maçona-
luta, pela fraternidade universal. O ocultis- ria por seu rito solar (ORTEGA, 2004, p. 01).
mo tentaria pelo rito lunar que é esoteris-
mo, mostrar que a mulher por sua nature-
za já nasce com canais abertos à iniciação. Enfim, por todos esses argumentos, nota-
Por ser solar, o ritual maçônico tem nos
seus mistérios os reais motivos impediti-
se que o impedimento à participação da mulher
vos de a mulher não poder praticar a ma- encontra-se impregnado de convicções místicas,
çonaria como ela é (na visão ocultista ). filosóficas e religiosas.
Talvez, agora, aqueles que lerem ou ouvi-
rem este ensaio venham a ter uma melhor
Considerando que o artigo 5º, caput da
noção do porquê da posição da mulher Constituição Federal dispõe que todos são iguais
nas lojas ser na coluna do sul, e como já perante a lei, sem distinção de qualquer nature-
foi mostrado, das razões reais da existên- za, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangei-
cia das figuras do Sol no lado direito do ros residentes no país a inviolabilidade do direito
Venerável Mestre e da Lua no seu lado
esquerdo. É sempre bom saber que o Sol,
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
cuja luz é imanente em si mesmo, repre- propriedade e, que o inciso I do mesmo disposi-
senta a iniciação consciente do homem, tivo constitucional prevê que homens e mulheres
apenas refletida, e por isso mais diáfana, são iguais em direitos e obrigações, além do fato
evoca a iniciação inconsciente na mulher. de que a mulher ocupa, atualmente, uma posição
Tem ela ainda em si, independente do sa-
ber, por seu emocional, essa mesma luz a
destacada no cenário trabalhista, jurídico, social
iluminar-lhe o coração. Esqueçamos agora e econômico, procura-se, a partir de agora, anali-

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sar em que medida o impedimento à participa- e, aos índios (arts. 231 e 232 da CF).
ção da mulher nos quadros da Maçonaria pelos Neste diapasão, Paulo Gustavo Gonet
motivos ora expostos é contrário aos direitos Branco (2005), em alusão ao parágrafo 2º do art.
fundamentais, tendo como sustentáculo a co- 5º da constituição Federal alude que:
nhecida teoria da eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.
A caminhada não será das mais fáceis, O parágrafo em questão dá ensejo a que
se afirme que se adotou um sistema aber-
pois a discussão envolve a colisão de direitos
to de direitos fundamentais no Brasil, não
fundamentais como igualdade, autonomia da se podendo considerar taxativa a enume-
vontade e autonomia privada, e, a liberdade de ração dos direitos fundamentais no Título
consciência, convicção filosófica e de crença. II da Constituição (...). É legítimo, portanto,
cogitar de direitos fundamentais previstos
Antes de enfrentarmos o desafio, traremos expressamente no catálogo da carta e de
à baila algumas palavras acerca dos direitos fun- direitos materialmente fundamentais que
damentais na Constituição Federal de 1988, às estão fora do catálogo. Direitos não rotu-
características dos direitos fundamentais e às su- lados expressamente como fundamentais
no título próprio da Constituição podem
as funções.
ser como tal considerados, a depender da
análise de seu objeto e dos princípios ado-
tados pela Constituição (GONET BRANCO
Os Direitos Fundamentais na Constituição de apud Silva, 2005, p. 39).
1988
Os direitos fundamentais estão consagra-
dos na Constituição Federal de 1988 no Título II - Ademais, a despeito do art. 5º, caput, da
Dos Direitos e Garantias Fundamentais, abran- Constituição Federal (LENZA, 2011) fazer referên-
gendo no Capítulo I os direitos e deveres indivi- cia expressa, tão somente, a brasileiros, sejam
duais e coletivos (art. 5º da CF); no Capítulo II os natos ou naturalizados, e estrangeiros residentes
direitos sociais (art. 6º ao 11 da CF), no Capítulo no País, a doutrina e o Supremo Tribunal Federal,
III os direitos da nacionalidade (arts. 12 e 13 da inclusive, entendem, mediante uma interpretação
CF); no Capítulo IV os direitos políticos (art. 14 ao sistemática, a inclusão nesse rol dos estrangeiros
16 da CF); e no Capítulo V os partidos políticos não residentes, dos apátridas e das pessoas jurí-
(art. 17 da CF). dicas.

Todavia, necessário esclarecer, tratar-se o Corroborando a alegação, José Luiz Qua-


Título II de um rol meramente exemplificativo. dros de Magalhães (2006) aduz que:
Isso porque existem outros direitos fundamentais
alocados em toda a Constituição. O Título VIII da Artigo 5: ―Todos são iguais perante a lei,
Constituição Federal, atrelado à ordem social, sem distinção de qualquer natureza, ga-
por exemplo, não há sombra de dúvidas, trata de rantindo-se aos brasileiros e aos estrangei-
direitos fundamentais, pois nele estão previstas ros residentes no país a inviolabilidade do
normas relativas ao direito ao trabalho e seguri- direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos
dade social (art. 193 ao 195 da CF); à saúde (art. seguintes:‖ Como professora de Direito
196 ao 200 da CF); à previdência social (arts. 201 Constitucional I, sua primeira prova avalia-
e 202 da CF); à assistência social (arts. 203 e 204 va o conhecimento dos alunos a respeito
da CF); à educação cultura e desporto (art. 205 dos direito individuais. Uma das questões
ao 217 da CF); à ciência e tecnologia (arts. 218 e estava assim proposta: Os direitos indivi-
duais relativos à vida e à liberdade no Bra-
219 da CF); à comunicação social (art. 220 ao 224 sil são assegurados pela Constituição Fe-
da CF); ao meio ambiente (art. 225 da CF); à famí- deral para as seguintes pessoas: a) Apenas
lia, criança e adolescente (art. 226 ao 230 da CF); para os brasileiros natos e naturalizados;

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b) Para os brasileiros e estrangeiros resi- mo, posteriormente reforçado pelas revoluções


dentes no país; c) Para todas as pessoas inglesa, norte-americana e francesa, até culminar
que se encontram no território brasileiro;
d) Nenhuma das respostas anteriores. No-
no que hoje concebemos como tais.
te-se que a questões B transcreve parte do O caráter universal dos direitos fundamen-
artigo 5º da Constituição Federal de 1988. tais decorre do fato de que tais direitos são uni-
A maior parte dos alunos que assistiu às
aulas e leu os textos indicados pela profes- versais, porque são inerentes à condição huma-
sora respondeu corretamente à questão na. Assim, toda pessoa humana está abrangida
assinalando a letra C. Entretanto, um aluno pelos direitos fundamentais, independentemente
relapso e criador de caso assinalou a ques- de sua situação social, política, econômica, sexo,
tão B e, alegando estar a professora erra- idade, raça ou nacionalidade.
da, recorreu e xingou até a última instância
acadêmica, perdendo, obviamente, o re- Os direitos fundamentais são irrenunciá-
curso e a razão. Ora, como dissemos, veis, ou seja, nenhum ser humano pode abrir
Constituição não é texto, e uma leitura mão de possuir direitos fundamentais. Assim, o
literal não sistêmica e descontextualizada
do texto pode sugerir então que, como a titular de direito fundamental pode até não utili-
Constituição expressamente se refere à zá-lo, mas lhe é vedada a possibilidade de re-
garantia dos direitos individuais para bra- nunciá-lo.
sileiros e estrangeiros residentes no Brasil,
aos estrangeiros, turistas, não residentes, A característica de indivisibilidade indica a
não tem assegurado o seu direito à liber- unidade incindível no contexto de tais direitos,
dade, o que é errado (MAGALHÃES, 2006, não se podendo fracioná-los. A indivisibilidade
p. 151-152). dos direitos fundamentais implica na sua inter-
relação e interdependência.
Não se pode esquecer-se, igualmente, que Por inalienabilidade/indisponibilidade dos
o parágrafo § 2º do art. 5º da CF prevê que os direitos fundamentais, entende-se que esses di-
direitos e garantias expressos na Constituição reitos são insuscetíveis de transferência, seja na
não excluem outros decorrentes do regime e dos forma onerosa ou na gratuita. Já a característica
princípios por ela adotados, ou dos tratados in- da concorrência indica que variados direitos fun-
ternacionais em que a República Federativa do damentais podem ser exercido ao mesmo tempo.
Brasil seja parte. Ademais, as várias previsões constitucio-
nais, apesar de autônomas, possuem diversas in-
tersecções para atingirem sua finalidade. Neste
As características dos Direitos Fundamentais contexto, os direitos fundamentais não devem
Os Direitos Fundamentais detém variadas ser interpretados isoladamente, mas de forma
características, as quais podem ser encontradas conjunta, com vistas ao alcance dos objetivos
nas mais diversas obras sobre o tema, conforme traçados pela norma constitucional.
o ponto de vista de cada autor. Pode-se apontar, Os direitos fundamentais são, ainda, im-
contudo, que as características dos direitos fun- prescritíveis, pois uma vez não exercitados não
damentais sejam: historicidade; universalidade; incidem prescrição (sua perda pelo não exercício
limitabilidade; irrenunciabilidade; indivisibilidade; num lapso temporal). E como resultado da carac-
inalienabilidade/indisponibilidade; concorrência; terística efetividade, pode-se entender que os
interdependência e complementaridade; impres- direitos fundamentais são passíveis de concreti-
critibilidade; efetividade; constitucionalização; zação em todo âmbito, seja na relação indivíduo
vinculação dos poderes públicos; aplicabilidade e Estado, seja na relação entre particulares.
imediata; abertura e eficácia.
Os direitos fundamentais são direitos ine-
Os direitos fundamentais são resultado de rentes à pessoa humana, consagrados como tais
um processo histórico iniciado com o cristianis-

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DUARTE, Hugo Garcez. A MULHER, A MAÇONARIA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

no documento normativo de maior hierarquia ção aos poderes públicos, vinculando-se


dos mais diversos países. Até mesmo o exercício ao Estado por meio de mandamentos e
proibições. O indivíduo aparece como de-
da função pública está vinculado aos direitos tentor de deveres perante o Estado. Status
fundamentais (vinculação dos poderes públicos), negativo – o indivíduo, por possuir perso-
no sentido de que não se tratam de simples pro- nalidade, goza de um espaço de liberdade
gramas ou carta de intenções, mas de normas diante das ingerências dos Poderes Públi-
revestidas de efetividade. cos. Nesse sentido, podemos dizer que a
autoridade do Estado se exerce sobre ho-
Os Direitos Fundamentais não carecem de mens livres. Status positivo ou status civi-
regulamentação pelo legislador ordinário para tatis – o indivíduo tem o direito de exigir
que possam ser aplicados.5 Sua característica de que o Estado atue positivamente, realizan-
do uma prestação a seu favor. Status ativo
abertura e eficácia leva à percepção de que são – o indivíduo possui competências para
passíveis de expansão, podendo o seu alcance influenciar a formação da vontade do Esta-
ser ampliado. Assim, o catálogo dos direitos fun- do, por exemplo, pelo exercício do direito
damentais não é exaustivo, sendo totalmente de voto (exercício de direitos políticos)
possível o surgimento de novos direitos funda- (LENZA, 2012, p. 965).
mentais.
A eficácia horizontal dos Direitos Fundamen-
As funções dos Direitos Fundamentais tais
Os direitos fundamentais devem ser efeti- Desde o seu surgimento, os direitos fun-
vados em todas as suas órbitas, detendo tais di- damentais foram encarados como aqueles direi-
reitos uma multifuncionalidade. Esta diversidade tos ligados à liberdade, sendo concebidos como
de funções (MENDES & BRANCO, 2011) leva ao direitos que exigem do Estado uma abstenção no
entendimento de que a própria estrutura dos di- sentido de não violá-los. Ou seja, seriam direitos
reitos fundamentais não seja unívoca. Sendo, contemplados ao indivíduo a fim de protegê-lo
deste modo, propicia a algumas classificações, contra eventuais ações arbitrárias do Estado.
úteis para a melhor compreensão do conteúdo e
da eficácia dos vários direitos.
Os direitos de defesa caracterizam-se por
Diversos autores pretendem, à sua manei- impor ao Estado um dever de abstenção,
ra, explicar as funções dos direitos fundamentais, um dever de não interferência, de não in-
obtendo Jellinek, por meio da sua teoria dos tromissão no espaço de autodeterminação
do indivíduo. Esses direitos objetivam a
quatro status, êxito nessa jornada. Segundo Len- limitação da ação do Estado. Destinam-se
za (2012), as funções dos direitos fundamentais a evitar ingerência do Estado sobre os
podem ser encontradas a partir de uma reflexão bens protegidos (liberdade, propriedade...)
acerca da relação travada entre o Estado e o indi- e fundamentam pretensão de reparo pelas
víduo. Nesses termos, para o autor, diante do Es- agressões eventualmente consumadas
(MENDES; BRANCO, 2011, p. 178).
tado, o indivíduo detém os status passivo, nega-
tivo, positivo e ativo, os quais podem ser defini-
dos como: Conforme visto alhures, quando se discor-
Status passivo ou subjectionis – o indiví- reu sobre a teoria de Jellinek, o indivíduo encon-
duo se encontra em posição de subordina- tra-se em uma relação de subordinação para
5
Não se pode esquecer-se da clássica classificação das normas constitucionais quanto à eficácia e/ou aplicabilidade de José Afonso
da Silva, a qual divide as normas constitucionais em normas constitucionais de eficácia plena, de eficácia contida e de eficácia limi-
tada (institutiva e programática). Contudo, não serão abordadas aqui, por tratar-se o estudo de analisar outra seara, por mais que
se possa afirmar que os direitos fundamentais têm aplicação imediata, independentemente da natureza da norma que o consagra.

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DUARTE, Hugo Garcez. A MULHER, A MAÇONARIA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

com o Estado, logo, os direitos fundamentais te- direitos e garantias de terceiros, especial-
riam uma eficácia vertical, sendo aplicados na mente aqueles positivados em sede cons-
titucional, pois a autonomia da vontade
relação Estado/indivíduo. não confere aos particulares, no domínio
Essa aplicação dos direitos fundamentais de sua incidência e atuação, o poder de
transgredir ou de ignorar as restrições
nas relações estabelecidas entre o particular e o
postas e definidas pela própria Constitui-
poder público não se discute. No entanto, vários ção, cuja eficácia e força normativa tam-
estudiosos começaram a perceber que a opres- bém se impõem, aos particulares, no âm-
são a direitos fundamentais não advém, unica- bito de suas relações privadas, em tema de
mente, do Estado, mas também, do particular, liberdades fundamentais. III. SOCIEDADE
CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. ENTIDADE
fazendo surgir a chamada teoria da eficácia hori-
QUE INTEGRA ESPAÇO PÚBLICO, AINDA
zontal dos direitos fundamentais, por da qual se QUE NÃO-ESTATAL. ATIVIDADE DE CARÁ-
defende a ideia de que os direitos fundamentais TER PÚBLICO. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM
também devem ser respeitados em âmbito priva- GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LE-
do. GAL.APLICAÇÃO DIRETA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS À AMPLA DEFESA E AO
Corroborando a ideia, o Supremo Tribunal CONTRADITÓRIO. As associações privadas
assim decidiu: que exercem função predominante em
determinado âmbito econômico e/ou soci-
EMENTA: SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LU- al, mantendo seus associados em relações
CRATIVOS. UNIÃO BRASILEIRA DE COM- de dependência econômica e/ou social,
POSITORES. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM integram o que se pode denominar de
GARANTIA DA AMPLA DEFESA E DO CON- espaço público, ainda que não-estatal. A
TRADITÓRIO. EFICÁCIADOS DIREITOS União Brasileira de Compositores - UBC,
FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVA- sociedade civil sem fins lucrativos, integra
DAS. RECURSO DESPROVIDO. As violações a estrutura do ECAD e, portanto, assume
a direitos fundamentais não ocorrem so- posição privilegiada para determinar a
mente no âmbito das relações entre o ci- extensão do gozo e fruição dos direi-
dadão e o Estado, mas igualmente nas tos autorais de seus associados. A exclusão
relações travadas entre pessoas físicas e de sócio do quadro social da UBC, sem
jurídicas de direito privado. Assim, qualquer garantia de ampla defesa, do
os direitos fundamentais assegurados pela contraditório, ou do devido processo
Constituição vinculam diretamente não constitucional, onera consideravelmente o
apenas os poderes públicos, estando dire- recorrido, o qual fica impossibilitado de
cionados também à proteção dos particu- perceber os direitos autorais relativos à
lares em face dos poderes privados. II. OS execução de suas obras. A vedação das
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO garantias constitucionais do devido pro-
LIMITES À AUTONOMIA PRIVADA DAS AS- cesso legal acaba por restringir a própria
SOCIAÇÕES. A ordem jurídico- liberdade de exercício profissional do só-
constitucional brasileira não conferiu a cio. O caráter público da atividade exerci-
qualquer associação civil a possibilidade da pela sociedade e a dependência do
de agir à revelia dos princípios inscritos vínculo associativo para o exercício profis-
nas leis e, em especial, dos postulados que sional de seus sócios legitimam, no caso
têm por fundamento direto o próprio tex- concreto, a aplicação direta dos direitos
to da Constituição da República, notada- fundamentais concernentes ao devido pro-
mente em tema de proteção às liberdades cesso legal, ao contraditório e à ampla
e garantias fundamentais. O espaço de defesa (art. 5º, LIV e LV, CF/88). IV. RECUR-
autonomia privada garantido pela Consti- SO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO
tuição às associações não está imune à (BRASIL, 2005, p. 01).
incidência dos princípios constitucionais
que asseguram o respeito aos direitos fun-
damentais de seus associados. A autono-
mia privada, que encontra claras limitações Não há dúvidas para o homem médio de
de ordem jurídica, não pode ser exercida que a melhor solução para o caso acima tenha
em detrimento ou com desrespeito aos

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DUARTE, Hugo Garcez. A MULHER, A MAÇONARIA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

sido a tomada pelo Supremo Tribunal Federal. frentadas neste trabalho, pois os seus esforços
Enfim, existem dadas situações envolvendo parti- concentram-se em analisar a impossibilidade da
culares fáceis de serem resolvidas. admissão das mulheres nos maçonaria quadros
Exemplificando a hipótese, Pedro Lenza da maçonaria frente à efetiva tutela dos direitos
(2012) cita em sua obra Direito Constitucional fundamentais, com ênfase nos direito à igualda-
Esquematizado que se um empresário demitir de, autonomia da vontade e liberdade de crença,
um funcionário em razão de sua cor, o Judiciário tendo como norte a teoria da eficácia horizontal
poderá (ou deverá) reintegrar o funcionário, já dos direitos fundamentais, o que faremos a partir
que o ato motivador da demissão, além do triste de agora.
e inaceitável crime praticado, fere, frontalmente,
o princípio da dignidade da pessoa humana, fun- O Direito à Igualdade
damento da República (CF, art. 1º, III). O grande
problema surge quando situações mais comple- Pelo princípio da igualdade ou isonomia,
xas envolvem a esfera privada. Será que nessas previsto no art. 5º, caput da Constituição Federal
situações os direitos fundamentais seriam aplica- de 1988, todos são iguais perante a lei, sem dis-
dos? tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
Buscando solucionar o problema, grandes inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
teóricos elaboraram as seguintes teorias acerca igualdade, à segurança e à propriedade, nos ter-
da aplicação dos direitos fundamentais às rela- mos da Constituição.
ções privadas.
A igualdade insculpida no dispositivo é
Eficácia indireta ou mediata – os direitos
fundamentais são aplicados de maneira conhecida como igualdade formal, ou seja, igual-
reflexa, tanto em uma dimensão proibitiva dade na lei. Contudo, diversos teóricos desenvol-
e voltada para p legislador, que não pode- vem que não basta essa igualdade na lei, haven-
rá editar lei que viole direitos fundamen- do a necessidade da conquista de igualdade no
tais, como ainda, positiva, voltada para
mundo dos fatos (igualdade material/ substanci-
que o legislador implemente os direitos
fundamentais, ponderando quais devam al).
aplicar-se às relações privadas. Eficácia Para que isso ocorra, far-se-á necessário
direta ou imediata – alguns direitos funda-
mentais podem ser aplicados às relações tratar igualmente os iguais e desigualmente os
privadas sem que haja a necessidade de desiguais na medida de suas desigualdades, pois
intermediação legislativa para a sua con- o princípio da isonomia (NOVELINO, 2012), tem
cretização (LENZA, 2012, p. 967). por fim impedir distinções, discriminações e pri-
vilégios arbitrários, preconceituosos, odiosos ou
injustificáveis.
Inúmeros casos levam a grandes discus-
sões no que diz respeito à aplicação da teoria Note-se que (MORAES, 2010) o que se ve-
indireta/mediata ou da teoria direta/imediata e, da são as diferenciações arbitrárias, as discrimi-
em última instância, a eficácia horizontal dos di- nações absurdas, pois, o tratamento desigual dos
reitos fundamentais. Será (LENZA, 2012) que nu- casos desiguais, na medida em que se desigua-
ma entrevista de emprego na iniciativa privada, o lam, é exigência tradicional do próprio conceito
dono do negócio deverá contratar o melhor can- de justiça, pois o que realmente se protege são
didato? Será que o dono de uma empresa pode- certas finalidades, tendo-se por lesado o princí-
rá demitir alguém simplesmente porque não está pio constitucional, unicamente, quando o ele-
gostando de sua aparência? mento discriminador não se encontra a serviço
de uma finalidade acolhida pelo direito.
Tratam-se esses eventos de casos gerado-
res de muitas polêmicas, as quais não serão en- Nesses termos, Marcelo Novelino (2012)

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DUARTE, Hugo Garcez. A MULHER, A MAÇONARIA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

discorre que a eficácia horizontal dos direitos dãos da violação de direitos fundamentais
fundamentais impõe aos particulares o dever de perpetrada por outro ente da Federação,
seja a União, outros Estados-membros ou
observância ao princípio da igualdade, sendo- Municípios‖ (BRASIL, 2011, p. 07).
lhes vedado praticar condutas de cunho discrimi-
natório ou preconceituoso. Todavia, para o autor,
a aplicação deste princípio às relações entre par- Veja-se que o Estado deve estar atento à
ticulares não se dá com a mesma intensidade em realização da igualdade material de modo a im-
que ocorre em relação aos poderes públicos, em pedir, inclusive, a violação desse direito por par-
respeito à autonomia da vontade, princípio basi- ticulares, abalizando as autonomias da vontade e
lar das relações privadas. privada.
Sobre o dever do Estado diante do direito
de igualdade, nos termos aqui delineados, segue
A Autonomia da Vontade
trecho de um importante julgado do Supremo
Tribunal Federal: A Constituição Federal de 1988 não prevê,
em nenhum dos seus dispositivos, o princípio da
autonomia da vontade, podendo esta ser defini-
[...] os objetivos fundamentais da Repúbli- da, sumariamente, como a possibilidade do indi-
ca, previstos nos quatro incisos do já men-
cionado art. 3.º, dizem respeito à atuação viduo se autodeterminar, desde que não ultraje a
do Poder Público na construção e na ma- lei ou qualquer direito alheio. Essa ideia pode ser
nutenção das liberdades fundamentais e extraída do princípio da legalidade, previsto no
na busca inescusável e ininterrupta de ní- inciso II do art. 5º da Constituição Federal, o qual
veis minimanente aceitáveis de igualdade prevê que ninguém será obrigado a fazer ou dei-
material, justiça social e solidariedade en-
tre os indivíduos. Ora, é inevitável a con- xar de fazer alguma coisa senão em virtude de
clusão de que está entre as finalidades do lei. Ou seja, no que toca a parte final, tudo o que
Estado Brasileiro, pelo menos implicita- a lei não impeça o indivíduo pode fazer, manifes-
mente, a promoção dos direitos funda- tando as suas vontades.
mentais, tarefa essa que incumbe a todos
os entes da Federação, dentro dos limites Segundo George Marmelstein (2009), a
de suas competências. E nem poderia ser autonomia da vontade pode ser entendida como
de outra forma – afinal, a própria gênese a faculdade que o indivíduo possui para tomar
do constitucionalismo associa-se à organi-
zação e racionalização do poder político
decisões na sua esfera particular de acordo com
para proteção dos direitos fundamentais. seus próprios interesses e preferências. Ou ainda,
Pois bem. Como visto acima, a promoção o direito de fazer tudo aquilo que se tem vonta-
dos direitos fundamentais envolve, neces- de, desde que não prejudique os interesses de
sariamente, a atuação positiva do Poder outras pessoas. Para o autor:
Público não apenas na oferta de presta-
ções materiais positivas, mas também no
exercício de seus deveres de proteção, A proteção da autonomia da vontade tem
agindo no sentido de impedir a violação como objetivo conferir ao indivíduo o di-
dos direitos fundamentais dos indivíduos reito de autodeterminação, ou seja, de
ou de uma coletividade por terceiros. determinar autonomamente o seu próprio
Cumpre ao Estado-membro, portanto, destino, fazendo escolhas que digam res-
exercer tal mister e atuar comissivamente peito a sua vida e ao desenvolvimento hu-
na defesa dos direitos fundamentais. Nes- mano, como a decisão de casar-se ou não,
sa linha de raciocínio, se o Poder Público de ter filhos ou não, de definir sua orienta-
pode obstar à violação de direitos funda- ção sexual etc (MARMELTEIN, 2009, p. 95).
mentais por particulares ou por Estados
estrangeiros, não parece haver qualquer
impedimento a que um Estado-membro
aja positivamente para proteger seus cida-
Deve-se, entretanto, estabelecer a distin-

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DUARTE, Hugo Garcez. A MULHER, A MAÇONARIA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

ção entre a autonomia da vontade a autonomia absolutos. Um direito fundamental vai até onde
privada. Pode-se dizer (FAVARIN, 2009) que a au- começa o outro e, diante de eventual colisão, fa-
tonomia da vontade tenha uma conotação subje- zendo-se uma ponderação de interesses, um terá
tiva, psicológica, enquanto que a autonomia pri- precedência em face do outro se não for possível
vada marca o poder da vontade no direito de um harmonizá-los.
modo objetivo, concreto e real. A autonomia pri- Neste sentido, no que toca a inadmissão
vada constitui-se, em suma, em um dos princí- das mulheres nos quadros da maçonaria, trata-se
pios básicos e fundamentais do sistema de direi- de tema muito polêmico, envolvendo questões
to privado, num reconhecimento da existência de altamente subjetivas bem como crenças, autono-
um âmbito particular de atuação em eficiência mia da vontade e privada de uma mulher que
normativa. eventualmente queira adentrar a maçonaria, bem
como a autonomia da vontade e privada dos
membros da maçonaria no sentido de aceitarem,
O Direito à Liberdade de Crença
ou ao menos, pensarem na hipótese de relativi-
O art. 5º, inciso VI da Constituição Federal zarem os seus conceitos filosóficos, místicos e
provê a inviolabilidade à liberdade de consciên- religiosos. A tarefa é das mais difíceis!
cia e de crença, sendo assegurado o livre exercí-
Opinar sobre se esta exclusão ofende ou
cio dos cultos religiosos e garantida a proteção
não o princípio da igualdade é igualmente peno-
aos locais de culto e as suas liturgias.
so, pois se o conceito de igualdade é tratar os
Por força do dispositivo, entende-se que o iguais como iguais e os desiguais como desi-
cidadão brasileiro é livre para crer no que bem guais na medida em que se desigualam, os de-
queira. Noutras palavras, não se pode impor a fensores da ofensa poderiam dizer que nessa hi-
ninguém quaisquer convicções, seja de ordem pótese haveria um tratamento ofensivo ao direi-
filosófica, religiosa, política, social, entre outras. to insculpido no art. 5º, caput e inciso I da Cons-
Trata-se a liberdade de crença de um te- tituição Federal, por não haver necessidade, nes-
ma abrangente englobando a liberdade de esco- se caso, de um tratamento desigual à mulher,
lha de religião, de aderir a qualquer seita religio- podendo-se, por exemplo, haver uma lapidação
sa, a liberdade de mudar de religião, bem como no rito de modo que a mulher possa participar.
a liberdade de não aderir à religião alguma, as- Já os defensores do contrário diriam que a mu-
sim como a liberdade de ser ateu ou agnóstico. lher tem de ser desigualada, pois o rito é imodifi-
cável, tratando-se de uma convicção indubitável
Isso porque à luz da Constituição Federal de seus associados, em que a mulher não pode
de 1988 o Brasil é um Estado laico, leigo, não fazer parte pelos motivos já expostos. Enfim, as
sendo adepto de qualquer religião, rezando, in- dúvidas são grandiosas e os argumentos são va-
clusive, o inciso I do art. 19 que é vedado à Uni- riáveis.
ão, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí-
pios estabelecerem cultos religiosos ou igrejas,
subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamen- Conclusão
to ou manter com eles ou seus representantes
Passados pouco mais de vinte anos da en-
relações de dependência ou aliança, ressalvada a
trada em vigor da Constituição Federal de 1988,
colaboração de interesse público. Ou seja, há
uma separação total entre Estado e igreja em a forma de aplicar o direito se modificou no ce-
nário jurídico brasileiro.
nosso país.
Noutras épocas, a aplicação da regra jurí-
Note-se, todavia (LENZA, 2012) que os di-
reitos fundamentais de liberdade de crença, da dica era inquestionável, sendo os princípios con-
liberdade de culto e da prática de ritos não são siderados meros valores, participando da aplica-

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DUARTE, Hugo Garcez. A MULHER, A MAÇONARIA E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

ção do direito em último caso, quando já esgota- COUTO, Sérgio Pereira. Desvendando a Maçonaria. São
das as perspectivas legais, da analogia e dos cos- Paulo: Universo dos Livros, 2010.
tumes. Contudo, com o inquestionável reconhe- FAVARIN, Ana Paula Schmidt. Um pouco sobre o Princípio
cimento normativo dos princípios, o paradigma da Autonomia Privada. In: Recanto das Letras. Disponível
em: http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos.
foi alterado, exercendo o juiz uma função diversa Acesso em: 22 de abril de 2012.
da de outrora, que se reduzia ao silogismo.
MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Direito Constitucional
Tudo isso foi possível, porque a Constitui- – Tomo III. Belo Horizonte: Mandamentos, 2006.
ção de 1988 passou a ocupar (LENZA, 2009) o MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais. 2.
centro do sistema, devendo os Poderes Públicos, ed. São Paulo: Atlas, 2009.
quando da observação e aplicação das leis, além MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
das formas prescritas na Constituição, estarem Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
em consonância com seu espírito, seu caráter 2011.
axiológico e seus valores, de maneira a revelar a MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São
importância do homem e a sua ascendência a Paulo: Atlas, 2010.
filtro axiológico de todo sistema jurídico. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16.
ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
Nesse quadrante, o direito brasileiro deve
passar, atualmente, por uma filtragem constituci- _________. Direito Constitucional Esquematizado. 15. ed. São
Paulo: Saraiva, 2011.
onal, pois segundo Daniel Sarmento (2010) as
normas constitucionais que são irradiadas para ORTEGA, Osvaldo. A Mulher e a Maçonaria: Porque a mu-
lher não pode pertencer a Maçonaria? In: Revista Loja Es-
os diversos ramos do direito, impõe uma releitu- trela da Lapa nº 7. Disponível em: http://
ra dos seus conceitos e institutos, já que se en- www.estreladalapa7.com.br/a_mulher_e_a_maconaria1.htm.
contram constitucionalizados princípios e valores Acesso em: 12 de maio de 2012.
fundamentais de elevada estatura moral. SARMENTO, Daniel. Livres e Iguais: Estudos de Direito
Constitucional. 2ª tiragem. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
A problemática que envolve este trabalho
2010.
não é exclusa do raciocínio. Por mais que seja
ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo:
extremamente difícil tender para uma ou outra
Universo dos Livros, 2012.
posição, a conclusão racional acerca de ser razo-
ável ou não a exclusão da mulher dos quadros da SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Po-
sitivo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
maçonaria, tendo em vista o tema eficácia hori-
zontal dos direitos fundamentais, perpassa a her-
menêutica e argumentação jurídicas.

Referências Bibliográficas
BRASIL, Grande oriente do. Sobre a Maçonaria. Disponível
em: http://www.gob.org.br/gob/index.php?
option=com_content&view=article&id=51&Itemid=65.
Acesso em: 12 de maio de 2012.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário
nº. 201819/RJ. Segunda Turma. Rel. Min. Gilmar Mendes.
Decisão em 11/10/2005. Disponível em: http://
www.stf.jus.br. Acesso em: 20 de abril de 2012.
________. Supremo Tribunal Federal. Ação Direita de Incons-
titucionalidade nº. 4.227/DF. Tribunal Pleno. Rel. Min. Ayres
Britto. Decisão em 05/05/2011. Disponível em: http://
www.stf.jus.br. Acesso em: 20 de abril de 2012.

C&M | Brasília, Vol. 1, n.1, p. 51-64, Jan/Jun, 2013.


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