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ENGENHEIRO COELHO
2014
LEONARDO DA SILVA MORALLES
ENGENHEIRO COELHO
2014
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo,
Campus Engenheiro Coelho, do curso de Licenciatura em Música apresentado e
aprovado em 09 de Novembro de 2014.
Segundo leitor.
Cogito, ergo sum
(Penso, logo existo)
- René Descartes
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 09
2 METODOLOGIA ................................................................................................................... 11
3 DESENVOLVIMENTO .......................................................................................................... 13
3.1 Diversidade como proposta para uma educação musical mais significativa .......... 13
3.2 Indústria cultural: termos e definições .......................................................................... 19
3.3 Relações entre diversidade e massificação na escola: compreendendo conflitos e
refletindo práticas .................................................................................................................. 25
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 26
5 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 28
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1INTRODUÇÃO
cultural que gera alguns dos conflitos encontrados em sala de aula. Este trabalho se
propõe a analisar esses conflitos e refletir sobre eles e contribuir na formação sólida
dos educadores musicais.
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2 METODOLOGIA
3 DESENVOLVIMENTO
De uma maneira geral, podemos dizer que essas gerações [dos anos
80 em diante] compreendem a música de maneira limitada, distante
de uma concepção artística ou estética. A música serve para dançar,
para relaxar, para entreter, para alegrar, mas não para pensar, ou
simplesmente proporcionar o prazer de ser escutada e compreendida
na sua essência. A escuta musical é acomodada; sua escolha é
baseada naquilo que a mídia oferece (ou impõe) e é facilmente
aceita, de forma que parece estar vinculada à diversão e ao bem-
estar (MOREIRA, 2012b, p. 292, grifo nosso).
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Refere-se às mudanças no ensino de música na escola, especialmente à promulgação da lei
11.769/08, que coloca a música como componente curricular obrigatório dentro do ensino de Arte na
escola regular.
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Para uma melhor compreensão desse termo na discussão que se seguirá, é importante ressaltar
que, nesta citação, entendemos por “produto cultural” tudo aquilo que é gerado por uma determinada
cultura e se torna um elemento característico dela: costumes, religião, alimentação, regionalismos, e
também música. Dentro da Teoria Crítica, ao tratar de um produto cultural, a abordagem é diferente,
sendo necessário a explicitação dessa diferença dos contextos em questão.
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A autora aponta que o educador e o músico são duas figuras que devem
andar em consonância. Isso também sugere que o gosto pessoal não deve
influenciar sua prática docente, pois os alunos da escola regular, em sua maioria,
pertencem à regiões de exclusão social e baixa escolaridade. Portanto, torna-se
natural que os movimentos musicais que narram processos sociais de opressão se
manifestem com maior intensidade no cotidianos desses alunos.
A presença dessas manifestações culturais é decisiva no momento da
educação musical. Se almejamos uma educação mais inclusiva, onde cada vez mais
pessoas possam se apropriar do conhecimento e fazer dele sua morada intelectual,
o respeito a tais movimentos deve ser estimulado e praticado em todos os âmbitos.
É comum o erro de elevar a arte a um patamar tão estigmatizado que acaba-se por
criar pré-requisitos do que é “bom” ou “ruim”, novamente voltando-se à questão do
gosto.
Devemos considerar que a produção estética dos movimentos sociais deve
ser encarada como arte:
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No original: Music has power, or so many people believe. Across culture and time it has been linked
with persuasion, healing, corruption, and many other transformational matters. The idea behind these
linkages is that music acts – on consciousness, the body, the emotions. Associated with this idea is
another – the idea that music, because of what it can do, should be subject to regulation and control.
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Neste caso, diferentemente do item anterior, a palavra “produto” se refere a algo que é vendido, que
é objeto, justificando a transformação de algo imaterial em material.
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Esse autor também afirma que a arte abdicou de sua autonomia e se incluiu
entre os bens de consumo, tornando-se produto (2003, p. 4). Esses ditos “produtos
culturais” – se assim podemos chamá-los - se apresentam de forma muito
semelhante, reforçando o processo de padronização. Para exemplificar isto, basta
analisar as telenovelas: a cada temporada surgem “novas” histórias, enredos,
personagens, mas no fim tudo é exatamente igual; clímax, clichês, romances, tramas
e até mesmo falas. Se podemos considerar uma telenovela como produto artístico-
cultural, derivado da arte do teatro e da linguagem televisiva, é possível afirmar que
se trata de algo massificado.
Ora, uma vez que tudo se assemelha, que escolha possuímos em arte? A
indústria rouba do indivíduo a possibilidade de escolha daquilo que julga ser
necessidade para si. Horkheimer e Adorno (2002, p. 18) dizem que tudo aquilo que
surge como novo já possui as “marcas do jargão sabido” e sempre se demonstra “à
primeira vista, aprovado e reconhecido”.
Outro aspecto importante para a discussão é a diferenciação que Adorno faz
entre música “séria” e música “ligeira”. Inicialmente, entende-se que o autor se refere
à música erudita (em sua totalidade), na primeira expressão, e à música popular, na
segunda. Porém, apesar desse conceito postulado por Adorno não ser totalmente
claro, é possível compreender que não era exatamente isso o que ele queria
transmitir. Podemos compreender, por meio de seus estudos, que a questão é o
processo de massificação na música, e não o tipo de música que é massificada
(OLIVEIRA, 2012, p. 1162).
O fato de que a música ligeira se manifesta mais predominantemente na
música popular não sugere que a música erudita não possa sofrer o mesmo
processo. A veiculação midiática é mais ativa nesse tipo de manifestação musical
assim como também é ativa a sua efemeridade. Esses produtos, semelhantes entre
si, surgem e desaparecem repentinamente, sempre dando lugar a outros de
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aparência idêntica. As músicas de sucesso logo são substituídas por outras, que por
sua vez são iguais em essência às que suplantaram. Nesse contexto, Anamaria
Brandi Curtú, musicista e educadora musical, questiona o motivo real da valorização
fetichista e dos produtos “de sucesso” na música:
Ele ainda afirma que essa música serve para o prazer e entretenimento, mas
que recusa os valores que carrega; um paradoxo em si mesma, pois não supre a
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necessidade que ela mesma cria, contribuindo para “o emudecimento dos homens,
para a morte da linguagem, para a incapacidade de comunicação” (ADORNO, 1983,
p. 166). Podemos entender que o objetivo real da indústria seja o de gerar
“máquinas humanas”, que respondam a estímulos específicos, possuam
comportamentos idênticos, e que comprem o mesmo gosto.
Todos esses aspectos são relevantes para a música, seu estudo e
compreensão. Entretanto, ainda mais importante é a sua relação com o contexto da
educação, pois é na sala da aula com o contato com o professor que o
conhecimento em música é construído.
Como salientado anteriormente, a construção da educação nos dias atuais
deve ser compreendida no meio cultural em que a mesma se origina. Porém é
preciso que o estudo dos fatores socioculturais sobre ela (e também sobre o ensino
de música) não se torne apenas algo taxativo, somente identificando os tipos
musicais em questão e assumindo-os. Há necessidade que se transcenda, por meio
do ensino consciente e inclusivo, a concepção de coisificação da música.
No contexto educacional, encontramos diversas manifestações artísticas
trazidas pelo cotidiano do aluno. Isso é de vital importância na problemática, mas
não deve ser o fim dela. A aplicação da Teoria Crítica nos faz pensar sobre a
importância da bagagem musical de cada pessoa: como ela reage à música? O que
ela gosta de ouvir e por que? Todos esses questionamentos são válidos, mas se
tornam nulos quando se elimina a possibilidade da ação de um fator importante na
educação: o acesso à diversidade.
Como já citado, o processo industrial sobre os indivíduos busca apagar o
pensamento racional sobre o consumo dos produtos. E como estamos considerando
a cultura como sendo um produto padronizado, a ela nos remetemos para tratar da
relação entre música e educação. Nesse campo Adorno diz que:
absorve e assimila tudo aquilo que é contra ela, como bem aponta Curtú (2013, p.
52):
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5 REFERÊNCIAS