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Exame Necroscópico em Bovinos

Mariana de Araújo da Silva


Médica Veterinária - UFERSA
Mestre em Ciência Animal - UFERSA
Doutora em Biologia Celular - UFMG
Preparação para necropsia

 Importância da necropsia
 Separação de material
-Paramentação
-Necropsia
-Colheita de amostras para exames

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Procedimentos gerais pré-necropsia

 Autorização do proprietário ou responsável


-Em caso de seguro, solicite a apólice

 Informações sobre a rotina da propriedade e


os fenômenos que antecederam a morte.
Verifique:
• raça
• idade
• sexo
• peso
• condições de manejo
• alimentação
• sintomas
• tempo de duração da doença
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Procedimentos gerais pré-necropsia

 No geral:

• densidade populacional
• outros animais que adoeceram ou morreram
• aspectos de flora e fauna
• localização e tipo de aguadas
• topografia da área
• tipo de solo e atividades agrícolas e/ou
industriais nas redondezas

 Quanto mais informações, mais fácil será a compreensão dos achados de necropsia, a
colheita de material e a solicitação dos exames complementares.
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Procedimentos gerais pré-necropsia
Cuidados para evitar a contaminação

 Em campo: local isolado, à sombra,


com boa iluminação, e se possível forrar o solo com
plástico, lona ou similar.

 Não realize o exame junto a nascentes, rios,


córregos e açudes.

 Quando possível, realize o procedimento em local


com estrutura de água, luz, esgoto e mesa
para apoiar o cadáver, bem como janelas
e portas para evitar as moscas.
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Procedimentos gerais pré-necropsia

Cuidados para evitar a contaminação

 Água: item importante

 Utilize medidas sanitárias básicas


para enterrar ou descartar os despojos.

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Casos de eutanásia

 Usar técnica adequada que cause poucos danos e não comprometam o diagnóstico
da enfermidade
 Exame externo antes da eutanásia

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Exame clínico pré-necropsia

 Posição do animal ao morrer

 Exame externo

 Exame das mucosas

 Exame da pele (lacerações ou outras injúrias)

 Determinar o tempo de morte

 Sinais que indiquem possível causa mortis

 Avaliação do umbigo em animais jovens (acúmulo de pus)


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Avaliação macroscópica e análise anatomopatológica

 Observação minuciosa
• favorece a interpretação correta
• facilita o raciocínio patológico
• ajuda na conclusão do diagnóstico

 Informações diretas à enfermidade principal

 Estabelecer critérios de avaliação como:


• localização
• tamanho Vesículas e úlceras: caso de febre aftosa

• forma
• superfície
• peso A) Aspecto macroscópico normal à
• número toda superfície de corte
B) Linfadenomegalia devido a
• extensão acúmulo de exsudato purulento 9
Exame necroscópico
 A avaliação necroscópica inclui três momentos:
• exame externo
• abertura
• exame interno do cadáver

 Fotodocumentação: registra a sequência e os detalhes, permite que as anotações


sejam realizadas após o procedimento e ilustra a descrição das lesões no relatório.
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Exame necroscópico – Exame externo do cadáver
 Observação do local onde o animal morreu

 Avaliar ambos os lados e o estado geral do cadáver

 Colheita de material para diferentes exames laboratoriais: fezes, fragmentos de pele e


secreções junto aos orifícios naturais. 11
Exame necroscópico – Abertura do cadáver
 Cadáver em decúbito lateral direito: rúmen
 Molhe e elimine sujidades da superfície corpórea
 Faz-se uma incisão posterior a região axilar esquerda, para retirar o membro
anterior
 Incisão na região inguinal, secionando a cápsula da articulação coxofemoral, para
retirar o membro posterior.

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Exame necroscópico – Abertura do cadáver
 Contornar as cavidades torácica e abdominal: retirada da pele
 Exposição das vísceras abdominais para a avaliação in situ
 Observação de possíveis conteúdos livres no espaço abdominal
 Serrar o gradil costal esquerdo, costela a costela, na sua porção dorsal e ventral,
obtendo a exposição das vísceras e do espaço torácico.

 Colheita de material, avaliar gânglios, glândulas salivares e tireóide


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Exame necroscópico – Exame interno do cadáver
 1º conjunto: língua, traquéia, esôfago, pulmões e coração
 Mantenha a tração e corteadas
Na região submandibular, estruturas
partir do lábiocervicais dorsalmente
inferior, rebata a pele,até a entrada
o tecido do tórax,e a
subcutâneo
para a liberação
musculatura, atédo conjunto
o início língua, esôfago
da cavidade e traqueia.
torácica.

 Realize
Continue duas
o corte
incisões
na linha
na face
dorsal
interna
da cavidade
dos ramostorácica,
lateraisjunto
da mandíbula,
às vértebras,
seccione
até a inserção
a musculatura
do
local, tracione
diafragma. Neste
a língua
ponto,para
seccione
fora daa cavidade
aorta, a cava
oral ee osiga
esôfago,
com uma
de modo
incisão
a liberar
junto àoinserção
primeirodos
palatos.
conjunto. 14
Exame necroscópico – Exame interno do cadáver
 2º conjunto: vísceras abdominais - aorta, baço, fígado, pâncreas, rins, pré-estômagos,
estômago e intestinos
 Tração das vísceras no sentido exterior ao abdômen e corte as estruturas na altura da
linha dorsal, junto às vértebras lombares, até o início da cavidade pélvica, finalizando
com o corte do reto e remoção do conjunto abdominal.

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Exame necroscópico – Exame interno do cadáver
 3º conjunto: canal pélvico - bexiga, reto, ânus, testículos e pênis nos machos, ou útero,
vagina e vulva nas fêmeas
 Serre e remova a porção esquerda dos ossos do coxal, para expor as estruturas do canal
 Tração da bexiga para o exterior da carcaça, e contorno da cavidade pélvica internamente
com a faca curva, bem como o ânus e a genitália externa

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Exame necroscópico - Avaliação do cadáver
 Sequência anatômica:
• Primeiro (língua, esôfago, traqueia, pulmões e coração)
• Segundo (aorta, baço, fígado, pâncreas, rins, pré-estômagos, estômago e intestinos)
• Terceiro conjuntos (bexiga, reto e estruturas do aparelho reprodutor)

 Estruturas osteomoleculares

 O exame da cabeça, sistema nervoso central e da carcaça

! Sempre avaliar a carcaça e as vísceras durante toda a necropsia, assegurando a


vistoria completa do cadáver, além da obtenção de informações e material valiosos à
composição do diagnóstico.
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Exame necroscópico – Avaliação das vísceras
 Alterações durante o procedimento necroscópico:
• pulmões: em contato com o ar tendem a apresentar tonalidades escuras de vermelho
• cavidade torácica aberta, o parênquima pulmonar evolui ao colabamento
X
• estômago e os intestinos: odor ofensivo e sujar/contaminar o material e o local da necropsia.

 Histórico e suspeita diagnóstica:


• necessária uma inversão na sequência de avaliação
• colheita de material da forma mais asséptica possível,
utilizando técnica e instrumental adequados.

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Exame das vísceras – língua e esôfago
 Superfície
 Cortes
 Abertura do esôfago

 Inúmeros cisticercos
Hemorragia na mucosa da traquéia
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Exame das vísceras – traquéia e pulmão
 Corte e abertura da traquéia  Abertura dos brônquios principais
 Conteúdo  Cortes transversais dos lobos
 Aspecto da mucosa  Pressão - parasitas do gênero
Dictyocaulus

Vermes adultos detectados nos


brônquios e nos bronquíolos.

Traqueia repleta de conteúdo


espumoso (edema pulmonar agudo)

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Exame das vísceras – coração
 Abertura do saco pericárdio: acúmulos de conteúdo
 Abertura das câmaras cardíacas: lúmen das câmaras, válvulas cardíacas
• Espessura das paredes
• Hemorragias
• Degeneração
• Necrose isquêmica e não isquêmica

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Exame das vísceras - diafragma, baço e linfonodos

 Diafragma: integridade
 Baço: atrofia x esplenomegalia
 Linfonodos e nódulos hemolinfóides: tamanho e presença de tumorações

Metástase em linfonodo mediastínico de carcinoma


escamoso decorrente da intoxicação crônica por
samambaia (Pteridium aquilinum).
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Exame das vísceras - fígado
 Alterações de volume
 Irregularidades e opacidade na superfície
 Nodulações
 Modificações na cor e parênquima
 Cortes transversais seriados

Carcinoma hepatocelular 23
Exame das vísceras – rins
 Exame externo e interno
 Corte longitudinal único ao longo da curvatura maior até alcançar o hilo, removendo a
cápsula
 Alterações nas regiões cortical, medular e pélvica.

Nefrite em bovinos
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Exame das vísceras – pré-estômago, estômago e intestinos
 Exame do conteúdo
Posicionamento e mucosa do rúmen, retículo, omaso e
gástrico
 abomaso
Manipulação mínima
 Exame
Colheitadas
dealças intestinais
material para exames

Timpanismo causado por intoxicação por samambaia

Tricobenzoares achados no abomaso

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Exame das vísceras – pré-estômago, estômago e intestinos

Haemonchus contortus

• Rúmen de bovinos confinados: úlceras decorrentes da dieta rica em carboidratos


• Rúmen e retículo: cicatriz de úlceras ou de perfurações por corpos estranhos pontiagudos
• Abomaso: parasitoses como haemoncose e ostertagiose
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Exame das vísceras – bexiga, uretra e ampola retal
 Bexiga: serosa, abertura, conteúdo, mucosa, espessura da parede
 Uretra: mucosa
 Ampola retal: mucosa

Aspecto normal da bexiga


Coleta de urina escura: animal com suspeita de
intoxicação por cobre 27
Exame das vísceras – sistema reprodutor
 Fêmeas: abertura da vulva, canal vaginal
e cérvix e em direção aos cornos, avaliando
a mucosa e alterações de conteúdo no
lúmen uterino
• ovários: corte longitudinal
• glândula mamária

Mastite estafilocócica em bovinos: nódulos piogranulomatosos


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Exame das vísceras – sistema reprodutor
 Machos: abertura da bolsa escrotal;
exame do pênis
• exteriorização dos testículos e corte
longitudinal único ao longo da linha oposta
ao epidídimo em cada testículo

A B

A: testículo hipotrofiado 29
B: testículo normal
Exame das vísceras – músculos, ossos e articulações
 Exame da carcaça por meio da palpação e do corte dessas estruturas
 Podem ocorrer lacerações musculares, fraturas e aumento de volume único ou
múltiplo, envolvendo articulações, ossos ou músculos

Massa tumoral no interior do canal vertebral, exercendo Icterícia moderada em feto - Aborto por Leptospirose
compressão medular - linfoma

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Exame das vísceras – sistema nervoso central (SNC)
 Medula espinhal e encéfalo
• Remoção da cabeça - acesso ao encéfalo
• Monobloco hipófise, hipotálamo e hipocampo
• Acesso a medula espinhal: segmentos cervical, torácico e lombar

Linhas de corte

Exposição do encéfalo Caixa craniana após Linhas de corte na base do crânio


remoção do encéfalo para remoção do monobloco

IMPORTANTE: como o encéfalo apresenta consistência macia e está sujeito a perdas teciduais decorrentes do tempo de
morte e manipulação inadequada, procure realizar o exame tão logo a morte ocorra empregando técnica adequada.
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Exame das vísceras – amostras do SNC
 Cortes do SNC padronizados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
(MAPA)
-exame da raiva e monitoramento da encefalopatia espongiforme bovina (EEB ou
“doença da vaca louca”)
 Abertura do crânio e remoção do encéfalo e do monobloco da caixa craniana
 Obtenção de três porções anatômicas do conjunto encefálico: quatro fragmentos.

Envio 1º cnj: tálamo (ta), medula oblonga Envio 2º cnj: monobloco (M), cerebelo (C),
(mo), cerebelo (ce), ¼ telencéfalo (HC). telencéfalo (T ) e tronco encefálico (TE).

 Dois conjuntos de amostras:


• 1º raiva e testes biológicos diferenciais
• 2º monitoramento da EEB e diagnóstico diferencial de outras enfermidades do SNC
-1º: acondicionado em saco plástico, dentro de uma caixa isotérmica com gelo reciclável, enviada em até 48
horas ao laboratório (>48h congelar)
Encéfalo Cerebelo Encéfalo (E), tronco encefálico
-2º: frasco contendo
Porção formalina a 10%,Setas:
do encéfalo temperatura
Porção central do ambiente
cerebelo
pedículos cerebelares Cortes
(TE), do tálamo(C)
cerebelo e da medula
oblonga
Formulário Único de Requisição de Exames para Síndrome Neurológica. 32
Colheita de amostras para exame
 Exame histopatológico
• formalina a 10%
• temperatura ambiente
• volume 1:10 a 1:20
• fragmentos de 3cm

Pulmão: pneumonia em fase de hepatização


vermelha

A amostra deve ser colhida o mais rápido possível após a morte do animal, contendo porções
dos tecidos - lesado e adjacente - evitando áreas compostas apenas por necrose.
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Colheita de amostras para exame
 Exame microbiológico
• isolamento de fungos, bactérias e vírus
• 6h post-mortem
• pouca manipulação
• seringas estéreis: fluidos
• conteúdo intestinal: coleta interna
• exame bacteriológico em diarreia – swab estéril
acondicionamento: recipiente primário + saco com vedação hermética + caixa isotérmica/gelo
• 48h mínimas de transporte
• congelar?

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Colheita de amostras para exame
 Exame toxicológico
• isolamentos específicos e de alto custo
• somente se necessário
• toxina: longos períodos
• amostras de: fígado, rim e conteúdo estomacal
• ação da toxina: SNC, pele e pulmão
• 50-100g de cada amostra
• temperatura ambiente, resfriado ou congelado

Amostras de conteúdo ruminal, fígado e intestinos, para


identificação da toxina botulínica

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Colheita de amostras para exame
 Exame parasitológico
• identificar ovos, larvas, proglotes e parasitas adultos
• amostras de fezes, urina e esfregaço sanguíneo
• exame coproparasitológico: 10-20g de fezes da porção final do intestino + coletor universal
+ caixa hermética com gelo.

Larvas de Paramphistomum Babesia


no lúmen do rúmen

• NÃO CONGELAR A AMOSTRA!!!


• parasitas intestinais adultos e ectoparasitas: frascos com álcool 70%, 1:10 à temperatura
ambiente
• Babesia sp e Anaplasma sp: coleta de sangue logo após o óbito: sangue periférico e central :
lâminas de esfregaço – fixação em álcool metílico.
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Relatório de necropsia
 Caráter único
 Alta quantidade de informações
 Documentação de casos
 Fotodocumentação: local, cadáver, etapas da necropsia, despojos
 Relatório de necropsia:
• demandas jurídicas e periciais
• justificativas de responsabilidade profissional
• acompanha as amostras
• linguagem e conteúdo claros

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Destino dos despojos e desinfecção do ambiente
 Incinerados ou enterrados
 Cuidados na incineração
 Enterrar: lençol freático, clostridiose, sistema digestório
 Desinfecção do ambiente: locais fechados, enfermidade infectocontagiosa
-uso de lança-chamas ou fumigador.

Fumigação: 50 mL de formalina a 25%,


adicionada de 75 gramas de permanganato de
potássio para cada 2,5 m3 de área do ambiente.

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Considerações finais

 Formulário de requisição de exames laboratoriais: completas e detalhadas


 Evitar prejuízo nos resultados
 Enviar as informações do relatório de necropsia
 Imagens
 Cuidados na colheita, conservação e transporte das amostras
 Necropsia branca: diagnóstico laboratorial pode elucidar o caso.

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Referências
• Manual de Necropsia em Bovinos – Zoetis. Autores: Profa. Dra. Moema Pacheco Chediak Matos e Profa. Dra. Veridiana
Maria Brianezi Dignani de Moura, Escola de Veterinária e Zootecnia - Universidade Federal de Goiás, Goiânia – GO,
2013.
• Apostila de Técnicas de Necropsia, Patologia Veterinária Geral – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Autores:
Djeison Lutier Raymundo e Caroline Argenta Pescador.
• Técnicas de Necropsia – Serviço de Anatomia Patológica. Medicina Veterinária – Universidade do Oeste Paulista.
• BARROS, C.S.L.; MARQUES, G.H.F. Procedimentos para o diagnóstico das doenças do sistema nervoso central de
bovinos. Lid Gráfia Editora, Brasília, 2003, 50p.
• FISCHER, P.; BRITO, L.A.B. Técnica de necropsia. Publicação de circulação interna (apostila). Departamento de
Patologia da Escola de Veterinária da UFG, 1989, 22p.
• FOSCULO, C.D. Guia Prático de Veterinária (manual técnico). Hermes Pardini Veterinária, 2012, 76p.
• MARTINS, E.O.; ZEZZA NETO, L. Técnica de necropsia para os animais domésticos: marcha da técnica de necropsia (apostila). Universidade de Marília, 1992, 27p.
• Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Manual Veterinário de colheita e envio de amostras: manual técnico. Cooperação Técnica
MAPA/OPASPANAFTOSA para o fortalecimento dos programas de saúde animal do Brasil, Rio de Janeiro: PANAFTOSA - OPAS/OMS, 2010, 218p.
• RIET-CORREA, F; SCHILD, A.L; LEMOS, R. A. A.; Borges, J. R. Doenças de ruminantes e equídeos. Santa Maria: Pallotti, 2007, v.2, 1466p.

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