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Políticas Públicas e Economia Criativa: subsídios da Música, Teatro e Museus

na cidade de Natal/RN
Fernando Manuel Rocha da Cruz
Doutor em Ciências Sociais
DPP/UFRN
fmrcruz@gmail.com

No presente artigo procuramos conceituar a economia criativa de acordo com os


principais autores nacionais e estrangeiros, bem como identificar as políticas
públicas que institucionalizaram a economia criativa no Brasil. Trata-se de uma
importante política pública que pode contribuir para o desenvolvimento local e
nacional, tal como é reconhecido internacionalmente. Interessa igualmente, por
versar sobre o patrimônio material e imaterial e o desenvolvimento social, cultural e
econonômico.
Optamos em esta pesquisa pela metodologia mista, uma vez que procuramos
caracterizar quantitativamente os setores da musica, do teatro e dos museus, no
estado do Rio Grande do Norte (RN) e quando possível na cidade de Natal, mas
também aprofundar o conhecimento sobre estes setores através da aplicação de
entrevistas semiestruturadas aos responsáveis de grupos de música, de grupos de
teatro e aos diretores de museus sediados em Natal, no estado do Rio Grande do
Norte, ou que aí pudessem atuar. O número total de entrevistas foi catorze, das
quais foram aplicadas cinco no setor do teatro, outras cinco e grupos de música e
quatro em museus da cidade de Natal. Esta pesquisa se enquadra no âmbito do
projeto denominado “Estudo de caso e mapeamento das indústrias criativas no
estado do Rio Grande do Norte”, aprovado e renovado pelo Edital
PIBIC_PIBIC_AF_PIBITI_2014-2015 (UFRN), apresentando em este artigo
resultados finais relativamente aos setores da música, teatro e museus.
Conceitualizando a Economia Criativa…
No âmbito da Política Cultural, o Ministério da Cultura brasileiro promoveu a criação
da Secretaria da Economia Criativa, em 2011. Nesse mesmo ano, foi aprovado o
Plano da Secretaria da Economia Criativa. Dessa forma, era proposta uma política
específica no âmbito cultural que agregava a economia, a gestão e a cultura. A
mensagem subliminar era a da necessidade de criar renda em setores sobretudo
culturais que tradicionalmente viviam dependentes dos apoios federais, estatais ou
municipais. Dessa forma, o Estado brasileiro atendia ao interesse despertado
internacionalmente com a declaração da “Nação Criativa” pelo governo australiano,
em 1994 e pelo governo trabalhista, no Reino Unido, em meados dos anos noventa.
O primeiro Relatório da Secretaria da Cultura, Mídia e Esportes (DCMS, sigla em
inglês) conceituou as indústrias criativas como “aquelas atividades que têm sua
origem na criatividade, habilidade e talento individuais, assim como possuem o
potencial de criar emprego e riqueza através da geração e exploração da
propriedade intelectual”. (BOP CONSULTING, 2010, p. 13-14). identificando ainda
como indústrias criativas: Arquitetura, Arte e Antiguidades, Artes Cénicas,
Artesanato, Cinema e Vídeo, Design, Design de moda, Edição, Publicidade, Música,
Software interativo de entretenimento, Software e serviços de informática, Rádio e
TV (BOP CONSULTING, 2010, p. 14-15).
Em 2001, Howkins (2012) publica o seu livro “Economia Criativa: como ganhar
dinheiro com idéias criativas” e institucionaliza o termo Economia Criativa, o qual é
adotado oficialmente em 2006, no Reino Unido (BOP CONSULTING, 2010, p. 16). O
interesse na temática leva igualmente à publicação do primeiro “Relatório de
Economia Criativa – Uma opção de desenvolvimento viável”, em 2008, e o segundo,
em 2010, pela UNCTAD (2012, p. XV-XVI). O interesse internacional é justificado
pelo aumento das exportações de bens criativos, apesar da crise econômica
mundial. A diminuição em 12% do comércio internacional em 2008, foi contrariada
pelo aumento de produtos criativos, entre 2002 e 2008, de cerca de 14%, ao atingir
US$ 592 bilhões, em 2008 (UNCTAD, 2012, p. XVI). Quanto ao Brasil,

os dados mostram alinhamento a essa tendência internacional. Em 2011, 243


mil empresas formavam o núcleo da indústria criativa. Sob uma perspectiva
mais abrangente, os números mostram que toda a Cadeia da Indústria
Criativa, que inclui atividades relacionadas e de apoio, movimenta mais de 2
milhões de empresas brasileiras. Com base na massa salarial gerada por
essas empresas, estima.se que o núcleo criativo gera um Produto Interno
Bruto equivalente a R$ 110 bilhões, ou 2,7% do total produzido no Brasil.
Essa cifra chega a R$ 735 bilhões se considerada a produção de toda a
Cadeia da Indústria Criativa nacional, equivalente a 18% do PIB brasileiro.
(FIRJAN, 2012, p. 7)

Miguez (2007, p. 96-97) propõe como conceito de economia criativa o “conjunto


distinto de atividades assentadas na criatividade, no talento ou na habilidade
individual, cujos produtos incorporam propriedade intelectual”. (MIGUEZ, 2007, p.
96-97) Para Caiado (2011, p. 15), a economia criativa é “o ciclo que engloba a
criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam a criatividade, o
ativo intelectual e o conhecimento como principais recursos produtivos”. Já o Plano
da Secretaria da Economia Criativa brasileira adota o seguinte conceito:

definimos Economia Criativa partindo das dinâmicas culturais, sociais e


econômicas construídas a partir do ciclo de criação, produção, distribuição/
circulação/difusão e consumo/fruição de bens e serviços oriundos dos setores
criativos, caracterizados pela prevalência de sua dimensão simbólica.
(BRASIL, 2012, p. 23)

Percebemos, porém, que tratando-se de um conceito em construção se sobrepõe


em alguma medida à economia da cultura. Nesse sentido, propomos a reformulação
do conceito de modo a atentar à centralidade do elemento cultural. Assim, propomos
que a economia criativa seja definida pelas atividades econômicas que têm objeto a
cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar
o valor do bem ou serviço prestado. Deste modo, compreendemos o ciclo
econômico de criação, produção, distribuição, difusão, consumo, fruição de bens e
serviços que têm por objeto a arte e a cultura ou que incorporam elementos culturais
ou artísticos. Afastamos desta concepção as atividades culturais e artísticas que não
têm intuito econômico. O elemento simbólico e intangível são elementos que
importam às atividades econômicas e que quando incorporados nestas, lhes altera o
valor econômico. Trata-se por um lado da profissionalização de atividades culturais e
artísticas, assim como o reconhecimento do valor econômico dos elementos
culturais e artísticos incorporados em outras atividades econômicas como a
gastronomia, a arquitetura ou os games.
A UNCTAD elenca os setores criativos em quatro categorias: Patrimônio, Artes,
Mídia e Criações funcionais. Em Patrimônio estão incluídos os setores criativos que
se distinguem entre Locais culturais (sítios arqueológicos, museus, bibliotecas,
exposições) e Expressões culturais tradicionais (artesanato, festivais, celebrações).
Em Artes, os setores criativos se distinguem entre Artes visuais (pinturas, esculturas,
fotografia, antiguidades) e Artes cénicas (música ao vivo, teatro, dança, ópera, circo,
teatro de fantoches). Na categoria cultural Mídia, os setores criativos são
subdivididos entre Editoras e mídia impressa (livros, imprensa e outras publicações)
e Audiovisuais (filme, televisão, rádio e demais radiodifusões). Finalmente, em
Criações funcionais, os setores criativos se distinguem entre Design (design de
interiores, gráfico, moda, joalheria, brinquedos), Novas mídias (software, vídeo
games, conteúdo digital criativo) e Serviços criativos (arquitetónico, publicidade,
cultural e recreativo, pesquisa e desenvolvimento) (UNCTAD, 2012, p. 8).
O Plano da Secretaria da Economia Criativa (SEC), pelo contrário, optou por
identificar cinco categorias culturais: Patrimônio, Expressões Culturais, Artes de
espetáculo, Audiovisual/do livro, da leitura e da literatura e Criações culturais e
funcionais. Na categoria cultural Patrimônio distinguimos os setores criativos:
património material, arquivos, museus e patrimônio imaterial. Em Expressões
culturais identificamos os setores criativos: artesanato, culturas populares, culturas
indígenas, culturas afro-brasileiras, artes visuais e arte digital. Em Artes de
espectáculo estão incluídas as indústrias criativas: dança, música, circo, teatro. Na
categoria Audiovisual/ do Livro, da Leitura e da Literatura identificamos os setores
culturais: cinema e vídeo, publicações e mídias impressas. Finalmente, em Criações
culturais e funcionais distinguimos os setores criativos: moda, design e arquitetura.
(BRASIL, 2012, p. 30)
Em termos comparativos, verificamos que apesar de uma identificação diferenciada
das categorias culturais entre UNCTAD e SEC, não existe uma diferenciação
significativa em termos de conteúdo, uma vez que os setores criativos identificados
são meramente exemplicativos e não exaustivos. Para este estudo, em que iremos
tratar do teatro, da música e dos museus. Verificamos que o último (museus) se
insere na categoria do patrimonio, quer na UNCTAD, quer na SEC enquanto teatro e
música se incluem em Artes do espetáculo, segundo a SEC, e em Artes, de acordo
com a classificação da UNCTAD (cf. Tabela 1). De qualquer modo, museus, música
e teatro têm uma forte ligação com o patrimônio imaterial ou intangível dadas as
suas fortes ligações culturais, como iremos verificar no discorrer deste estudo.
Tabela 1 – Comparação das categorias culturais e setores criativos entre a SEC e a UNCTAD

Secretaria da Economia Criativa (Brasil) UNCTAD

Categoria Cultural Setores criativos Categoria Cultural Setores criativos


Patrimônio Patrimônio Material Patrimônio Locais culturais:
Arquivos - Sítios arqueológicos
Museus - Museus
- Bibliotecas,
- Exposições
Patrimônio Imaterial Expressões culturais tradicionais:
Expressões Artesanato
- Artesanato
culturais Culturas Populares
Culturas Indígenas - Festivais
Culturas Afro-brasileiras - Celebrações
Artes Visuais Artes Artes visuais
Arte Digital - Pinturas
- Esculturas
- Fotografia
- Antiguidades
Artes de espetáculo Dança Artes cênicas
Música - Música ao vivo
Circo - Teatro
Teatro - Dança
- Ópera
- Circo
- Teatro de fantoches
Audiovisual/ do Cinema e vídeo Mídia Editoras e mídias impressa
Livro, Publicações e - Livros
da Leitura e da mídias impressas - Imprensa e outras publicações
Literatura Audiovisuais
- Filme
- Televisão
- Rádio e demais radiodifusões.
Criações Culturais Moda Criações funcionais Design
e Funcionais Design
- Interiores
Arquitetura
- Gráfico
- Moda
- Joalheria
- Brinquedos
Novas mídias
- Software
- Video games
- Conteúdo digital criativo
Serviços criativos
- Arquitetônico
- Publicidade
- Cultural e recreativo
- Pesquisa e desenvolvimento (P&D)
criativo
Fonte: BRASIL (2012); UNCTAD (2012) (Adaptado).

Contextualizando Natal/RN…
O estado do Rio Grande do Norte localiza-se no Nordeste brasileiro possuindo uma
população, estimada em 2014, de 3.408.510 habitantes. A sua área é de 52.811,047
km2 e a sua densidade demográfica é de 59,99 hab/km2. Possui 167 municípios e a
capital do estado é Natal (IBGE, 2014) (cf. Fig. 1).
Fig. 1– Estado do Rio Grande do Norte (RN)

Fonte: IBGE (2014).

Natal é uma cidade de destino turístico devido ao seu clima e às praias que se
estendem pelo seu litoral. Durante a Segunda Guerra Mundial, recebeu um
contingente de dez mil soldados norte-americanos quando sua população não ia
além de 60.000 habitantes (PEDREIRA, 2008). É uma cidade que depende
econômicamente do setor público e muitas empresas do setor privado dependem de
editais e concursos públicos. Hoje, Natal tem uma população estimada em 862.044
habitantes. Sua área territorial é de 167.263km2 e sua densidade demográfica é de
4.805,24 hab/km2 (IBGE, 2014) (cf. Fig. 2).
Fig. 2 - Natal

Fonte: IBGE (2014).

O estado do Rio Grande do Norte (RN) tem um porcentual de municipios que


realizam festivais ou mostras de música de 24,55% enquanto a média nacional é de
38,70%. O porcentual de municipios no RN que realizaram concursos de música é
de 15,57%, sendo a média nacional de 31,90%. Quanto ao porcentual de municipios
no RN com escolas, oficinas ou cursos de música é de 22,16% abaixo da média
nacional que é de 33,80%. Porém, o porcentual de municípios no RN com grupos
artísticos musicais é de 48,50% acima da média nacional cifrada em 47,20%.
Porém, quanto ao porcentual de municípios do RN com grupos artísticos de
orquestra é apenas de 4,79% enquanto a média nacional é de 11,50%. Em relação
aos municípios do RN com grupos artísticos de bandas de música, o porcentual é de
54,49% acima da média nacional com 53,20%. Mas, se o porcentual de municípios
do RN com grupos artísticos de coral é de 23,95%, a média nacional é bem mais
elevada com 44,90%. O porcentual de municípios no RN com lojas de discos, CDs,
DVDs e fitas é de 40,72% abaixo dos 59,80% da média nacional. Ao nível da
graduação, o RN oferece quatro cursos de graduação em música e um curso de
graduação em canto. (BRASIL, 2010)
Quanto ao teatro, o RN conta conta 16 teatros. O Índice de Concentração na Capital
é de 56,25% e o Índice de Habitantes por Teatro em Natal é de 88.000 habitantes
por teatro. O porcentual de municípios com escolas, oficinas ou cursos de teatro no
RN é de 14,97% e a média nacional de 23,20%. O porcentual de municípios no RN
que realizaram festivais/mostras de teatro é de 22,75% abaixo da média nacional de
25,80%. O porcentual de municípios no RN que realizaram concursos de
dramaturgia é de 7,19% igualmente abaixo da média nacional de 9,30%. Ao
contrário, o porcentual de municípios no RN com grupos artísticos de teatro é de
47,90%, valor superior à média nacional de 39,90%. Quanto ao porcentual de
municípios no RN com teatros e/ou salas de espetáculo é de 12,57%, valor inferior à
média nacional de 21,20%. Por último, é de referir que o RN apenas dispõe de um
curso de graduação em Teatro e outro em Artes Cênicas. (BRASIL, 2010)
Finalmente, quanto a museus é de referir que o RN tem 52 museus. O Índice de
habitantes por Museu no RN é de 59.000 habitantes por museu. O porcentual de
municípios com museus no RN é de 14,97%, abaixo da média nacional que é de
21,90%. Não existem cursos de museologia no RN cujo total nacional é de 6.
(BRASIL, 2010)

Estudos de caso na cidade de Natal/RN


A) Música
Na música, a origem das ideias criativas é justificada pela inspiração do músico, mas
também pelo contato com outros músicos e pelas vivências do cotidiano. São ainda,
apontadas como qualidades que facilitam o surgimento de ideias criativas o domínio
técnico, o estudo e a prática. Por último, refira-se ainda, a ausência de problemas
que afetem a concentração/inspiração, assim como, a experimentação.

quanto mais você se aproxima da música, estuda, se aproxima dela, com


mais facilidade as músicas vão chegar pra você… isso é uma visão
romântica… mas você pode ver também pelo lado pragmático da coisa, que é
a questão da repetição, de quantas horas do seu dia, você dedica aquilo.
Então, você fica ali tocando dez horas, vamos supor, por dia. Com certeza vai
vir um monte de ideia boas na sua cabeça, mas se você não se aproxima
tanto do instrumento ou da música… fica atento aos pequenos sinais, a uma
frase que você ouve na rua… ou até mesmo uma melodia de três notinhas
que vem na sua cabeça. Mas você chega em casa e tenta desenvolver. Eu
acho que música é inspiração, é técnica, no caso da composição, mas é
muito de você obstinado a fazer aquilo. É um pouco de transpiração também.
(Diogo Guanabara, Macaxeira Jazz)
Luiz Gonzaga trouxe a canção Asa Branca falando da seca. Então eu,
conversando com um amigo meu no primeiro CD, eu disse: “Rapaz é o
seguinte… Eu quero fazer uma coisa diferente, eu vivo no Nordeste, eu estou
no Cajueiro de Pirangi todo dia recebendo turista… Eu vejo o turista vindo de
fora e vestindo aqui o Nordeste… porque aqui é ruim? Aqui não é ruim
‘caba’… vamos fazer uma música que fale das coisas boas, do cara que está
em São Paulo e vem p’ra cá”. Aí a gente fez, Sertão do Cabugi, entendeu? é
o cara que está em São Paulo e vai embora e diz: “Eu vou embora, não fico
mais aqui,vou lá p’ra minha serra no Sertão do Cabugi.
(Francisco Cláudio, Forró Meirão)

Os grupos entrevistados (Macaxeira Jazz, As Nordestinas, e Far From Alaska) são


grupos pequenos com quatro a cinco membros enquanto Forró Meirão tende a ser
concebido como um grupo médio com mais de seis membros. A Orquesta de Música
da UFRN chega a reunir cerca de setenta elementos. Todos os grupos têm como
principal característica a complementaridade de papéis. Apenas Macaxeira Jazz se
assume como um grupo sem hierarquia e daí a igualdade nas despesas e das
receitas dentro do grupo. O ambiente familiar, o respeito de personalidades, a
entreajuda, a prioridade dos projetos do grupo face aos individuais são também
algumas das características assumidas pontualmente.

Claubertto é o sanfoneiro, um dos produtores da banda,[…] vocal. Ele é


compositor também. Eu sou Cláudio, eu sou o vocalista, também sou o
produtor da banda. [...] Claubertto também ele é design da banda. [...] Ele
toma conta dessas coisas de internet aí, essas redes sociais. Ana Cláudia é
vocalista, […] tem a parte dela. Papai, ele é o produtor também, ele é o
motorista, ele é o professor, ele é quem responde pela gente. Ele é o
segurança, entendeu? Minha mãe tem a parte dela também… E aqui o Forró
Meirão, agora tem os músicos que trabalham com a gente. A gente está
dividindo a estrada com eles por aí… Tem o baterista, nosso grande amigo
Calcai, temos o nosso mesário Wellington Garcia, temos o guitarrista Naldo,
temos o baixista, Edson Lins. [...] O percussionista é Alex.
(Cláudio, Forró Meirão)

A maioria dos grupos de música entrevistados acredita que a cultura potiguar


influencia seus projetos musicais e que estes revelam de alguma forma, esse meio
cultural, social e físico. Apenas o grupo Far From Alaska rejeita essa influência em
seus projetos.

Certamente! Acho que não tem nenhum artista que não seja influenciado pelo
seu meio. Ele pode até negar esse meio, é uma possibilidade… mas dizer
que ele não é influenciado, que ele está completamente desconectado.
Absolutamente… eu não acredito nisso.
(Maestro André Muniz, Orquestra da UFRN)

Quanto às medidas ou políticas públicas existentes cabe salientar algumas


iniciativas locais com a do Vereador Hugo Manso que colocava músicos a atuar nas
praças; a existência de editais para apoio de projetos na área da música. Contudo,
falta no RN políticas definidoras de porcentagens da música local na rádio; falta de
apoios para que o músico se possa dedicar em pleno à musica e não se tenha de
preocupar com o seu empreendedorismo; a abertura de editais para projetos
diferentes e inovadores na área da música; maior incentivo das empresas à música.

tem os Projetos de Lei, tem a Lei Câmara Cascudo, a Lei Rouanet, que os
projetos se inscrevem e tudo mais… só que isso ajuda a viabilizar muita
coisa, muitos projetos… Só falta a curadoria abrir um pouco mais p’ra outras,
porque são sempre as mesmas pessoas com os mesmos projetos sendo
contemplados ano a ano. E enfim, talvez uma abertura maior fosse
importante p’ra ter outras pessoas podendo fazer as coisas também, até em
menor escala.”
(Cris Botarelli, Far From Alaska)

B) Teatro
No teatro, a origem das ideias criativas, tanto é de ordem individual como coletiva,
não tendo uma única fonte. Trata-se muitas vezes de um processo longo. Tanto
parte de um texto, como de temáticas, como de elementos da natureza. Somam-se
as experiências dos atores e diretores e se confronta por vezes com os próprios
autores ou dramaturgos. Conta, porém, com as limitações materiais.

Às vezes cada um do grupo joga na mesa uma vontade, a maneira que o


grupo digere isso é que faz o espetáculo. A inspiração é uma combinação de
ideias, esse processo é longo. O processo teatral é um processo longo. Não
parte só da vontade criativa, mas do casamente dessa vontade criativa com
meios materiais.
(Nara Kelly, Estação de Teatro))

o Grupo Carmin trabalha com dramaturgia própria, a gente não pega, pelo
menos até agora, não pegamos textos já prontos e montamos, a gente cria o
texto, convida o dramaturgo pra vir pros ensaios, pra trabalhar com a gente e
criar esse texto a partir das nossas experiências, dos nosso estudos, a
criação vem muito daí, da montagem do espetáculo, parte também dessa
coisa coletiva que o grupo mesmo propõe, eu proponho cenas
(Quitéria Kelly, Grupo Carmim)

Os grupo de teatro ensaiam quer em salas alugadas, quer em salas da universidade,


quer ainda alternando em salas com outros grupos de teatro. Trata-se de grupos que
têm divisão de tarefas, embora o seu núcleo possa ser mínimo. Há, no entanto, na
maioria das vezes uma hierarquia dentro do grupo de teatro.

eu sou o director. Atualmente, a gente chamou essa professora da UNESP


que é a Luciana para também dirigir os espetáculo e os outros vão se
revesando como músicos, preparadores corporais, assistentes de direção.
(Robson Hardechpek, Arquétipos Grupo de Teatro)

temos um coordenador, um tesoureiro e os outros membros vão se dividindo


em tarefas, como pesquisas e estudos, infraestrutura… Ela não segue uma
coisa muito organizada, tem um processo meio anárquico… vamos
sobrecarregando uma criatura ou outra.
(Lenilton Teixeira, Grupo Estandarte)

Quanto à influência da cultura potiguar nos projetos teatrais, ela é assumida


unanimemente, embora um dos grupos refira que se trata apenas de uma influência
no meio de muitas outras influências.

minha formação artística é toda natalense, potiguar. Toda influência da minha


carreira, do meu trabalho é daqui… assistindo os grupos de teatro daqui…
assistindo os artistas da cidade, tendo como referência meus colegas de
trabalho. Tudo daqui, até porque é tão difícil a gente ter acesso a coisas de
fora. Agora, com esse advento da Internet está tudo muito mais acessível,
mas quando eu comecei a gente só tinha a gente mesmo p’ra se alimentar
(Quitéria Kelly, Grupo Carmim)

N’“Os desaparecidos” falamos da gente… não deixa de ser universal, pois


não somem crianças só em Natal. O Saramago não é daqui, é português,
mas ele fala no excesso de informação. Com tanta informação que vi, passa
a não enxergar com o excesso de luz, temos isso na nossa cidade e no nosso
país. A influência não é de um foco, mas de um todo.
(Lenilton Teixeira, Grupo Estandarte)

As medidas e Politicas Públicas existentes para a atividade teatral são sobretudo


privilegiadas ao nível do Fundo de Incentivo à Cultura. Os editais são fundamentais
na vida dos grupos de teatro que gostariam, no entanto, que seu número fosse
ampliado, bem como, os incentivos à pesquisa, produção, fruição e circulação no
próprio estado. Por outro lado, registra-se ainda a necessidade de preparação
específica para os concursos via edital.

A primeira coisa é o incentivo a pesquisa, produção e fruição dessas obras,


por que eu preciso de alguma forma ter como produzir e circular com esse
material. É preciso ter como produzir, mas também como circular com esse
material, por que se não conseguir circular ninguém vai ver, não se vai trocar
ideias e nem amadurecer
(Lenilton Teixeira, Grupo Estandarte)

C) Museus
As ideias criativas no âmbito museológico é fixado em editais, a que os artistas
podem concorrer e ter acesso às salas para suas exposições. A organização de
exposições temporárias procura inovar e coloca em prática as ideias criativas.
Igualmente, assinalar datas comemorativas e organizar eventos nos museus são
formas criativas de renovar as coleções. Desse modo, a criação pode ser provocada
através da definição de um edital, de uma proposta do próprio museu e do seu
diretor ou sua diretora, quer das propostas dos próprios artistas que aí expõem seus
trabalhos.

O Instituto tem sempre exposições temporárias que tem a ver com alguma
data que a gente está comemorando, tenha ela a ver com Cascudo ou não.
Por exemplo, a gente sempre comemora o aniversário dele, que é 30 de
dezembro. É nessa ala, que sempre é fora, sempre são painéis, e até para o
turista ter sempre alguma coisa diferente, a gente sempre tem alguma
exposição diferente. No Dia Internacional da mulher, a gente mostrou o
universo feminino pela visão de Cascudo, na semana agora de Museus, que
começa na próxima semana a gente vai fazer exposição sobre as coleções
de Câmara Cascudo, até porque o tema da Semana de Museus é coleções.
Então, a gente se adequa, a gente está dentro do Ibram- Instituto Brasileiro
de Museus, nós somos cadastrados no Ibram, e o Ibram sempre propõe
programações e exposições temporárias dependendo do que esteja
acontecendo. A semana de Museus específica, que é essa que começa
próxima semana, é a programação… é sempre voltada para um tema, tema
esse que agora é “Museus: as coleções criam Conexões”. A gente fará uma
exposição falando sobre as coleções Cascudianas, então sempre a gente tá,
ou com temas voltados para Cascudo, ou com temas que são propostos pelo
Ibram e por comemorações voltadas para a área de museus. Normalmente
sou eu que pensa um pouquinho como é que pode tecer esse tema, né? A
gente funciona aqui, também temos funcionários que nos auxiliam nisso aí,
mas basicamente a elaboração disso aí fica muito a meu encargo, em relação
a esse tipo de exposição.
(Daliana Cascudo, Ludovicus: Instituto Câmara Cascudo)

Os museus têm estruturas pequenas e encontram-se divididos hierarquicamente,


por alas e exposições temporárias e permanentes. Alguns museus são públicos e
outros privados, mas seus acervos são objeto de pesquisa sobretudo de alunos
universitários. A divisão de tarefas e funções existe, embora seja necessário em
muitos casos um trabalho colaborativo.

Trabalhar aqui é trabalhar com uma multiplicidade de tarefas que realmente


absorvem muito tempo, por que nós trabalhamos numa cadeia produtiva que
cada um tem que desempenhar o seu papel (...) É como o nome diz
“colaborar” trabalhar com os outros, a gente tem que tá trabalhando de forma
sincrônica e que cada um faça a sua parte como deve para que o trabalho
saia realmente bom
(Sonia Otton, Museu Câmara Cascudo)

A preservação dos acervos museológicos está presente na organização dos museus


e reflete a cultura potiguar e a sua relação com a cidade de Natal.

De cada microrregião do estado você tem dois municípios e um brinquedo


para representar, então, o museu hoje ele termina sendo uma referência para
educação e a cultura do Estado.
(Lerson Maia, Museu do Brinquedo Popular)
o nosso principal objetivo aqui é manter viva a memória de Câmara Cascudo.
Câmara Cascudo que se dizia um provinciano incurável, nunca quis sair da
sua terra, que nunca quis que seu acervo saísse daqui, então tudo isso, essa
vontade dele tão grande de se manter aqui, de que as coisas dele se
mantenham, é isso que a gente procura seguir e é por isso que nós estamos
tão arraigados e vinculados à Cidade do Natal
(Daliana Cascudo, Ludovicus: Instituto Câmara Cascudo)

Quanto às medidas e Políticas Públicas existentes para o exercício da museologia,


verificamos a ausência de Políticas Públicas estatal e municipal. Apenas o Instituto
Brasileiro de Museus (IBRAM) apoia e orienta o exercício e o desenvolvimento da
museologia.

Em Natal eu desconheço, uma política por parte do estado, ou por parte do


Município, com a temática do Museu, e se tem a gente nunca foi convidado,
para participar de uma reunião.” “A gente sempre dialoga e (...) sempre busca
algumas orientações e informações é com o Instituto Brasileiro dos Museus -
Ibram, mas aqui mesmo no estado e no município a gente desconhece algum
setor da Fundação José Augusto, ou da Capitania das Artes que dialogue
com essa ação se tem são mais voltados para os museus estaduais.
(Lerson Maia, Museu do Brinquedo Popular)

Nós queremos que ele fomente, que ele dê apoio, que ele inicie um política
contínua de editais, uma política contínua de capacitação, pedindo o apoio do
Ibram, chamando profissionais de outros estados, criando um ambiente para
que uma política museológica se desenvolva por si, e nem isso que seria
obrigação constitucional do estado, aqui no Rio Grande do Norte a gente não
tem a mão do poder público na área da cultura no que diz respeito aos
museus
(Sonia Otton, Museu Câmara Cascudo)

Concluindo…
A origem das ideias criativas nos três setores culturais e criativos são não somente
de ordem individual, mas sobretudo de ordem coletiva. A educação, a prática e a
experiência são determinantes para o desenvolvimento dessas ideias e não se
resumem a dotes genêticos ou inatos. O meio cultural, social e natural assume
também papel de destaque nessa produção criativa. Os recursos econômicos e as
infraestruturas disponíveis são no entanto condicionantes que importa considerar. A
ausência de Políticas Públicas locais, tanto municipais como estatais são igualmente
imprescindíveis para o desenvolvimento destes setores.
Quanto à estrutura e ambiente organizacional dos setores culturais e criativos –
música, teatro e museus – estes tendem a ser hierárquicos e especializados através
da divisão de funções, embora possa se tratar de estruturas flexíveis, bem como
colaborativas. Alguns grupos, deparam-se com dificuldades sobretudo logísticas,
sobretudo, ao nível do teatro.
Em todos os setores enunciados, a cultura potiguar encontra-se presente e se reflete
na produção cultural. Há, por isso, um diálogo entre o presente e o passado, entre o
tangível e o intangível que importa ter atenção e que é importante apoiar em termos
locais. É de salientar ainda que Natal se apresentando como uma cidade turística
deve olhar com especial cuidado para estes setores quer como setores identitários
ao nível local, quer como instrumento de afirmação de uma cultura local que é
exposta cotidianamente à cultura global e turística, quer nacional, quer internacional.
Por último, importa refletir sobre a demanda de apoios à cultura nos setores da
música, do teatro e da atividade museológica. A política pública de desenvolvimento
da economia criativa assentando seus pilares no empreendedorismo e na
criatividade em todo o ciclo econômico dos setores criativos e culturais coloca a
responsabilidade nos empreendedores culturais e criativos na busca de
financiamentos e receitas para o desenvolvimento das suas atividades. Porém, o
Estado, nos seus diferentes níveis, não se pode eximir da responsabilidade de
apoiar estes setores. Há, no entanto, que apoiar estes setores na criação de
mercados locais, nacionais e internacionais. Individualmente ou em pequenas
estruturas empresariais, esta tarefa é extremamente dificil de alcançar, daí que se
exija ao Estado o apoio e a adoção de medidas que permitam a criação de
mercados, a difusão de seus produtos culturais por meios tecnológicos e
informacionais.

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