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Alcindo Neckel

David Peres da Rosa


(Org.)

e d i t o r a
goellner
Alcindo Neckel
David Peres da Rosa
(Org.)

Geoprocessamento
e suas diferentes
aplicabilidades

2013

e d i t o r a
goellner
Sumário
6 Apresentação
9 Prefácio
12 Resumos
CAPÍTULO I
18 Geoprocessamento como suporte ao desenvolvimento
da aquicultura marinha
Eduardo Guilherme Gentil de Farias

CAPÍTULO II
44 Geoprocessamento: uma análise dos dados coletados
a campo com o gps de precisão e de navegação
em comparação com os dados obtidos o google earth,
relativamente à mesma área de amostragem
Serleni Geni Sossmeier
Jéssica Piroli
Alcindo Neckel

CAPÍTULO III
62 Técnicas de geoprocessamento aplicado ao
planejamento ambiental municipal
Pedro Roberto de A. Madruga
CAPÍTULO IV
88
O uso do geoprocessamento: uma análise de duas áreas
no instituto federal de educação, ciência e tecnologia
do rio grande do sul - ifrs, campus de sertão/rs
Daiane Tonet
Serleni Geni Sossmeier
Jéssica Piroli
Alcindo Neckel

CAPÍTULO V
116 Geoprocessamento aplicado à fiscalização de áreas de
proteção permanente – a prática na área de proteção
ambiental “Mestre álvaro” – serra - ES
Caroline Araujo Costa Nardoto
João Pinto Nardoto
Rodrigo Bettim Bergamaschi

CAPÍTULO VI
134 Aplicabilidade do geoprocessamento no cemitério central
da cidade de Marau/rs - brasil
Fábio Remedi Trindade
Alcindo Neckel
Felipe Pesini
Apresentação

O
processamento de dados com coordenadas deli-
mitas, ou seja, georreferenciadas, dá origem ini-
cialmente ao Geoprocessamento, que, por meio
de softwares específicos, desenvolve o processamento de
informações cartográficas. Por muito tempo, esse método
foi utilizado com finalidade de locação de área de explo-
ração. Contudo, atualmente, o Geoprocessamento possui
um uso infinito de gerenciamento, podendo ser emprega-
do em diversas áreas.
Em face disso, o presente livro traz à tona o tema
Geoprocessamento, assunto que cada vez mais está pre-
sente nos meios agrícola, acadêmico e até civil.
Conforme se disse, até aproximadamente 20 anos
atrás, com exceção dos profissionais que trabalhavam na
área de cartografia ou de topografia, poucos profissionais
tinham conhecimento acerca do que se tratava o Geopro-
cessamento. Hoje em dia, com a pressão governamental
e da própria população para o cumprimento da legisla-
ção, esse tema está cada vez mais conhecido pela popula-
ção em geral. E assim o é tendo em vista que tal processo
vem sendo utilizado tanto para delimitar áreas de reser-
va legal ou áreas de preservação permanente, quanto,
ainda, para demarcar territórios de exploração agrícola,
florestal ou pecuária, e até mesmo para estudos sociais,
como para o mapeamento de escolas e de doenças. En-
fim, hodiernamente, qualquer informação pode ser geor-
refenciada para servir de base para futuros estudos.
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Objetivando a geração de informação sobre esse assunto, no


qual ainda há muitas lacunas, muitas incógnitas e muitas dúvi-
das, o Professor Alcindo Neckel convidou o Professor Doutor David
Peres da Rosa para dar início a um trabalho de pesquisa, a ser
desenvolvido por um grupo de estudo formado por acadêmicos do
curso de Agronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul - Câmpus Sertão. O grupo foi for-
mado por pesquisadores com uma rica diversidade de conhecimento
e cultura, pois nele havia acadêmicos de diversos semestres, dentre
os quais alguns moravam na cidade, outros no campo, alguns eram
bolsistas de iniciação científica. Tratava-se, em verdade, de um gru-
po seleto que se dispôs a realizar estudos na área de geoprocessa-
mento sem qualquer remuneração para tal. Ganharam apenas, é
claro, o conhecimento.
Durante aproximadamente 12 meses, os integrantes do gru-
po de estudos, sob a orientação do Prof. Alcindo e do Prof. David,
estudaram, revisaram, levantaram dados, discutiram, trocaram
e-mails, reuniram-se e escreveram alguns capítulos que se encon-
tram nesse livro, buscando gerar informação útil para os técnicos
de campo e para os interessados na área.
Contudo, os professores Alcindo e David não se satisfizeram
tão somente com tal trabalho, embora tenha sido muito produtivo.
A partir daí, resolverem incrementar o livro. E, para tal, em visita
ao Departamento de Geomática da Universidade Federal de Santa
Maria, em janeiro de 2013, convidaram o Professor Doutor Pedro
Roberto de A. Madruga para participar desse projeto. E sua respos-
ta foi positiva. O Prof. Pedro, popularmente chamado de Madruga,
traz para esse material o seu conhecimento, que julgamos de gran-
de valia, haja vista seu vasto conhecimento nessa área.
Expandindo o projeto, abrangendo outras áreas, convidamos o
pesquisador visitante do Marine Sensing and Simulation Group, no
Texas A&M University - EUA, o Dr. Eduardo Guilherme Gentil de

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Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Farias e, também, Caroline Araujo Costa Nardoto, João Pinto Nar-


doto e Rodrigo Bettim Bergamaschi para darem sua contribuição.
Como resultado, pode-se verificar que essa proposta abrange o
geoprocessamento na área agrícola, nos capítulos II e IV, na área de
pesca, no capítulo I, na área de gestão ambiental, nos capítulos III e
V, e na área de planejamento urbano, no capítulo VI, demonstrando,
em um só livro, 3 grandes usos do geoprocessamento.
Para manter esse livro útil e atual, solicita-se aos leitores e
usuários que enviem ao editor suas críticas, sugestões e correções.
Tudo será utilizado nas futuras publicações do grupo.
Salienta-se, ainda, o empenho da equipe que, em pouco tempo,
conseguiu gerar essa publicação que vem a agregar conhecimento a
essa grande área que é o Geoprocessamento.

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Prefácio

O
livro Geoprocessamento e suas aplicabilidades
buscou difundir algumas formas de aplicação do
tema, que cada vez aparece mais na mídia, disse-
minando, assim, informações práticas e úteis que podem
ser empregadas por técnicos de campo e também pelo
poder público.
O capítulo I traz informações sobre o geoproces-
samento na área de pesca, a partir do trabalho do pes-
quisador Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, cujo
currículo está voltado para essa área. Esse setor, que
emprega o uso sensoriamento remoto há algum tempo,
carece de informações. E, nesse ponto, essa matéria é
enfatizada na importância estratégica que as geotecno-
logias possuem no desenvolvimento da atividade aquí-
cola, frente aos desafios inerentes aos múltiplos usos do
litoral brasileiro. Nesse contexto, visa a estimular o inte-
resse de instituições, de pesquisadores e de profissionais
ligados à área de recursos pesqueiros e de engenharia de
pesca a fazerem uso de dados geoespaciais como ferra-
menta para o desenvolvimento sustentável da aquicul-
tura nacional.
O Geoprocessoamento dá-se não só na área de aquí-
cola, mas também no meio urbano, no qual o planejamen-
to cada vez mais vem sendo exigido pela comunidade,
principalmente no que tange ao planejamento ambien-
tal. E, nesse quesito, o capítulo III, da lavra do Professor
Doutor Pedro Roberto de A. Madruga, da Universidade
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Federal de Santa Maria, traz informações e estudos realizados em


seu Departamento. Lá, o Dr. Madruga coordena um projeto-piloto
que tem como objetivo divulgar as técnicas de geoprocessamento
para a comunidade técnico-científica, e em especial aos profissio-
nais que atuam na elaboração e na utilização de mapas básicos e
temáticos, visando primeiramente ao planejamento urbano, rural e
ambiental de municípios de pequeno e médio porte. No capítulo, são
abordadas técnicas de geopreocessamento empregadas no planeja-
mento ambiental municipal da região chamada Quarta Colônia de
Imigração do Rio Grande do Sul, localizada na região Centro-Oeste
do Estado. Na atual condição em que os municípios se encontram,
há preconização para a atual legislação, e, nesse ponto, o sensoria-
mento remoto e os sistemas de informação geográfica (SIG) são as
ferramentas fundamentais de planejamento.
Os capítulos II, IV e VI foram elaborados pelo grupo de estudos
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Gran-
de do Sul – Câmpus Sertão (IFRS – Câmpus Sertão), composto pelos
acadêmicos do curso de Bacharelado em Agronomia: Daiane Tonet,
Serleni Geni Sossmeier, Jéssica Piroli e Felipe Pesini, além do Tec-
nólogo em Gestão Ambiental Fábio Remedi Trindade, contando com
a orientação do Professor Alcindo Neckel.
Assim, o capítulo II traz à tona uma dúvida que se tem no dia a
dia, a respeito de qual seria a ferramenta a ser utilizada para medi-
ção de área. Ou, ainda, qual é o erro possível de ocorrer na utiliza-
ção de cada ferramenta. Nesse ponto, é realizada uma comparação
entre os dados de um GPS de precisão contra um de navegação, con-
trastados com os dados obtidos no Google Earth, uma vez que se tra-
ta de ferramenta de fácil acesso, havendo, contudo, a necessidade de
saber as implicações de sua utilização em determinadas atividades.
No capítulo IV é abordada a caracterização do relevo de duas
áreas agrícola pertencentes ao IFRS – Câmpus Sertão. Para tal,
foi realizado um estudo em duas áreas de topografia acentuada,
buscando situações de declive e aclive e representando-as por meio
do Sistema de Informações Geográficas (SIG). Tal informação é im-
portante para quem trabalha com manejo do solo para produção

10
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

vegetal, pois o planejamento das culturas, dos tipos de cultivares,


a instalação de terraços para o controle de erosão, o sentido de se-
meadura, com essa informação, ficam facilitadas e é otimizado o
gerenciamento e a gestão da área.
Com relação ao planejamento territorial de municípios, é cada
vez mais comum, no dia a dia, estudos ambientais aplicados a esse
fim. Contudo, há vários municípios que desconhecem esse assun-
to, principalmente aqueles com menor população. Nesse contexto,
o capítulo V traz informações sobre o uso do sensoriamento remoto
na fiscalização de áreas de preservação permanente no município
de Serra no Espírito Santo. Esse capítulo, elaborado por Caroline
Araujo Costa Nardoto, João Pinto Nardoto e Rodrigo Bettim Ber-
gamaschi (mestrando em Geografia na UFES e Analista do setor
de Geoprocessamento do Instituto Jones dos Santos Neves – IJSN),
visa principalmente à delimitação e ao controle de Área de Preser-
vação Ambiental, realizados por meio da análise da situação am-
biental de infrações de Áreas de Proteção Permanentes (APPs) uti-
lizando a tecnologia associada aos Sistemas de Informações Geográ-
ficas (SIGs).
Por fim, o capítulo VI traz outro uso do geoprocessamento: na
gestão de informações. Nesse ponto, demonstra um estudo sobre a
contaminação por necrochorume e outros contaminantes num ce-
mitério público do município de Marau (RS). Esse estudo visou a
verificar indícios e, ainda, a chamar a atenção dos cidadãos e do
poder público para a grande importância de um ambiente salubre.
A importância dessa matéria é grande, haja vista que, independen-
temente do tamanho da cidade, ou até mesmo da comunidade rural,
geralmente há cemitérios, e sua gestão ambiental é importante.
Esperamos que esse trabalho auxilie a difundir as aplicações
do georreferenciamento e, bem assim, desperte o interesse de mais
pessoas nessa área.

David Peres da Rosa


Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Sul – Câmpus Sertão

11
Resumos

Pesquisas científicas voltadas para geotecnologias


Capítulo I

Geoprocessamento como suporte ao


desenvolvimento da aquicultura marinha -
Eduardo Guilherme Gentil de Farias

Os recentes avanços das técnicas de geoprocessamento


associadas ao desenvolvimento computacional das últi-
mas décadas, têm se mostrado úteis no gerenciamento
de projetos em aquicultura. Dados meteo-oceanográfi-
cos, tais como: temperatura da superfície do mar, cor-
rentes marinhas, altura significativa de ondas, concen-
tração de clorofila, intensidade dos campos de ventos e
batimetria, manipulados em ambientes de Sistemas de
Informações Geográficas (SIG), têm possibilitado cada
vez mais, uma análise espacial quantitativa dos ecossis-
temas aquáticos, facilitando assim, a implementação e
a gestão de parques aquícolas. Devido a relevância do
tema e a escassez de literatura apropriada sobre o as-
sunto no idioma português, o presente capítulo tem como
objetivo fornecer elementos fundamentais que propiciem
o entendimento básico acerca do uso integrado de dados
ambientais num SIG, enfatizando a importância estra-
tégica que as geotecnologias possuem para o desenvol-
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

vimento da atividade aquícola, frente aos desafios inerentes aos


múltiplos usos do litoral brasileiro. Adicionalmente, este trabalho
se propõe a estimular o interesse de instituições, pesquisadores e
profissionais ligados a área de recursos pesqueiros e engenharia de
pesca, a fazerem uso de dados geoespaciais como ferramenta para o
desenvolvimento sustentável da aquicultura nacional.

Palavras-chave: Geoprocessamento, aquicultura e desenvolvimento


sustentável.

Capítulo II

Geoprocessamento: uma análise dos dados coletados


a campo com o gps de precisão e de navegação em
comparação com os dados obtidos no Google Earth,
relativamente à mesma área de amostragem - Serleni
Geni Sossmeier - Jéssica Piroli - Alcindo Neckel

O desenvolvimento da tecnologia para a localização de alvos na su-


perfície terrestre pode ser representada por meio de dados obtidos
no programa Google Earth e com GPS de navegação, ou de precisão.
Para uma análise mais detalhada dos dados, foram selecionadas
duas áreas, que pertencem ao Instituto de Educação, Ciência e Tec-
nologia do Rio Grande do Sul, Câmpus Sertão, situado no Distrito
Engenheiro Luiz Englert, no Município de Sertão/RS. Metodologi-
camente, o estudo foi dividido em duas etapas: na primeira proce-
deu-se ao levantamento de dados a campo (coleta das coordenadas
e da altitude) e a segunda etapa consistiu na compilação dos dados
extraídos a campo, com o uso do programa Google Earth, TrasCord
e SURFER 10. Os resultados da pesquisa mostraram que é possível
usar o software Google Earth e o GPS de navegação para a verifica-

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Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

ção planialtimétrica do território, pois, mesmo que haja erro entre


as imagens, os dados muitas vezes podem ser confiáveis, podendo
ser utilizados em ações que não necessitem de exatidão. Já para as
que necessitarem de exatidão, o GPS de precisão é mais confiável.
Este estudo pretende demonstrar as diferenças obtidas a partir do
uso dessas tecnologias voltadas ao geoprocessamento.

Palavras-chave: Geoprocessamento. Tecnologias. Coordenadas Geo­


gráficas.

Capítulo III

Técnicas de geoprocessamento aplicado ao


planejamento ambiental municipal
- Pedro Roberto de A. Madruga

Diante da necessidade do planejamento municipal levando em con-


sideração a questão ambiental, de forma a contemplar o que preco-
niza a atual legislação, as técnicas de geoprocessamento, em espe-
cial o sensoriamento remoto e os sistemas de informação geográfica
(SIG) são as ferramentas fundamentais neste planejamento. Neste
sentido, o presente trabalho tem como objetivo geral desenvolver
uma metodologia utilizando técnicas de geoprocessamento como
forma de facilitar o planejamento ambiental em nível de municí-
pio. Como objetivos específicos definiram-se: Elaboração dos mapas
base e temáticos necessários ao planejamento ambiental, quais se-
jam: Mapa base político administrativo da área rural, uso da terra,
planialtimétrico, rede viária, hidrográfico, hipsométrico, classes de
declividade, áreas de preservação permanente (APPs) e conflitos de
uso da terra. Como área de estudo foi escolhida a região denomina-
da de Quarta Colônia de Imigração do Rio Grande do Sul, localizada
na região Centro-Oeste do Estado, entre Santa Maria e Cachoeira

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Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

do Sul. Como resultados foram obtidos os mapas propostos nos ob-


jetivos, utilizando-se as tecnologias de geoprocessamento, concluin-
do que as técnicas utilizadas prestaram-se aos objetivos propostos,
mostrando a realidade ambiental da região, principalmente no que
tange as áreas de preservação permanente e seus respectivos con-
flitos de uso da terra.

Palavras-chave: Geoprocessamento, mapas base e mapas temáticos.

Capítulo IV

O uso do geoprocessamento: uma análise de duas áreas no


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Sul - IFRS, Campus de Sertão/RS - Daiane Tonet
- Serleni Geni Sossmeier - Jéssica Piroli - Alcindo Neckel

O campus do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), loca-


lizado no município de Sertão/RS, tem como peculiaridade ser for-
mado por diferentes representações de relevo. Buscando caracte-
rizar essa representação de terreno, a pesquisa objetiva trabalhar
com o geoprocessamento em duas áreas mais acentuadas, tanto em
declive, como em aclive buscando uma representação da realidade,
por meio do Sistema de Informações Geográficas (SIG), com coleta,
informação, manipulação, análise e representação de informações
sobre a espacialidade. Metodologicamente, para o desenvolvimento
deste trabalho foram utilizados o Sistema de Posicionamento Global
(GPS) de precisão e de navegação, pelos quais foram coletadas as
Coordenadas Geográficas (Latitude e Longitude) e a altitude. Para
o processamento de dados, utilizou-se o software Surfer 10 e Track
Maker. A pesquisa teve como resultado a obtenção de informação
que permitiu a configuração da representação de um plano real da

15
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

área analisada, comparando, assim, suas particularidades planial-


timétricas do local em três dimensões (3D). As variações de terreno
mostradas neste estudo podem ser muito úteis para profissionais da
área do geoprocessamento que queiram detalhar o terreno e anali-
sar suas características próprias.

Palavras-chave: Geoprocessamento, Mapeamento, SIG.

Capítulo V

Geoprocessamento aplicado à fiscalização de áreas de


proteção permanente – a prática na área de proteção
ambiental “Mestre Álvaro” – Serra–ES - Caroline Araujo
Costa Nardoto - João Pinto Nardoto - Rodrigo Bettim
Bergamaschi

O presente trabalho objetiva contribuir para os estudos ambientais


aplicados ao planejamento territorial no município de Serra (ES),
com aplicação metodológica na Área de Preservação Ambiental Mes-
tre Álvaro, por meio da análise da situação ambiental de infrações
de Áreas de Proteção Permanentes (APP's) da área. Para tanto será
utilizada tecnologia associada aos Sistemas de Informações Geográ-
ficas (SIG's), cujo crescente avanço é de grande utilidade ao suporte
de políticas públicas, devido à facilidade e eficiência de seu uso. Jus-
tifica-se pela necessidade de identificação das áreas em desacordo
com a lei de proteção permanente, sobretudo nas áreas urbanas e,
logo, de esclarecimento de seu quadro urbano-ambiental, como uma
das maneiras de auxiliar a institucionalização do desenvolvimento
de modo sustentável. Por meio dos resultados de identificação das
APP's, dar-se respaldo aos órgãos competentes à administração de
tais para que promovam penalidades aos transgressores, como o
impedimento dos usos indevidos por meio de multas financeiras ou

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Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

aplicações de modelos de recuperação das áreas culpadamente de-


gradadas. Além disso, as análises descritas e as bases de dados ge-
radas poderão servir de suporte a outros estudos ambientais, como
o monitoramento das infrações.

Palavras-chave: Geoprocessamento, análise ambiental, áreas de


proteção permanente.

Capítulo VI

Aplicabilidade do geoprocessamento no cemitério central


da cidade de Marau/RS – Brasil - Fábio Remedi Trindade -
Alcindo Neckel - Felipe Pisini

Esta pesquisa tem como objetivo chamar a atenção dos cidadãos


e do poder público para a grande importância de um ambiente sa-
lubre e em interação contínua com o ser humano, usando-se da-
dos geoprocessados no Software Surfer 10. Apresenta-se o relato
de um levantamento de dados provenientes de um estudo realizado
no cemitério central do município de Marau, no Rio Grande do Sul.
Analisou-se a quantidade, tipos e locais de sepultamentos. Houve,
também, a coleta de amostras de solo no local para verificação de in-
dícios relacionados à contaminação por necrochorume e outros con-
taminantes. Constatou-se que se faz necessária a gestão ambiental
dos cemitérios, para a minimização de riscos à saúde humana por
bactérias encontradas no solo. Os dados foram coletados, organi-
zados e demonstrados em mapas, onde demonstram os diferentes
cenários e graus de contaminação do solo encontrada.

Palavras-chave: Cemitério. Geoprocessamento. Contaminação.

17
CAPÍTULO I
Geoprocessamento como
suporte ao desenvolvimento da
aquicultura marinha

Eduardo Guilherme Gentil de Farias*

1 Introdução

N
os últimos anos, a produção mundial de pescado
capturado, encontra-se estabilizada em torno de
90 milhões de toneladas, sendo que a maioria dos
estoques pesqueiros tradicionais encontram-se em declí-
nio (FAO, 2012). Esse panorama, deve-se principalmen-
te a sobre pesca e a destruição dos habitats naturais,
ocasionados pela expansão das atividades antrópicas
(FAO, 2012). Considerando a crescente demanda por ali-
mentos, devido ao crescimento exponencial da população
do planeta, a aquicultura vem despontando como uma
das principais alternativas para a geração de pescados
(KENNISH, 2001). Essa tendência mundial foi obser-
vada por Borguetti et al., (2003). Analisando dados do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos re-
nováveis (IBAMA) e da Organização das Nações Unidas
para Alimentação (FAO), os autores mostraram que a

*
Engenheiro de Pesca – Dr. Sensoriamento Remoto (INPE). E-mail: gentil@
dsr.inpe.br
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

produção aquícola mundial apresentou um incremento de 187% em


11 anos (1990 a 2001), enquanto a pesca experimentou um aumento
de apenas 7,8% para o mesmo período.
A aquicultura pode ser definida como o conjunto de técnicas in-
terdisciplinares dedicadas ao cultivo de organismos aquáticos, como
por exemplo: moluscos, crustáceos, plantas aquáticas e peixes. De
acordo com Thomas et al. (2011), o sucesso da atividade aquícola
está diretamente relacionado com a correta manutenção desses or-
ganismos em cativeiro, o que implica na intervenção humana no
processo de criação, visando assim, um incremento na produção de
biomassa.
Segundo Ryan (2004), é possível setorizar a aquicultura mari-
nha (maricultura), considerando a distância física em que os em-
preendimentos se encontram em relação à faixa de praia. Bridger
et al. (2004), considerou que a aquicultura marinha pode ser pra-
ticada em quatro compartimentos ambientais distintos, separados
de acordo com a vulnerabilidade da área de cultivo frente a pos-
síveis alterações do ambiente. Nomeadamente, estas sub-regiões
são: terrestres (viveiros escavados em regiões estuarinas), costeiras
(estruturas instaladas em regiões de baías e enseadas), expostas
(estruturas instaladas em pontos adjacentes a faixa de praia, numa
distância inferior a 2 quilômetros) e áreas offshore (estruturas ins-
taladas numa distância superior a 2 quilômetros em direção ao mar,
tendo-se como referência, a linha de costa). Muir (1998), classificou
a aquicultura marinha como costeira e offshore. Essa classificação
considera quatro critérios distintos, sendo estes: localização, meio
ambiente, acesso e operação (Tabela 1).

19
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Tabela 1 – Características da aquicultura costeira e offshore.


Características Aquicultura costeira Aquicultura offshore
Localização/Hidrografia 0-2 quilômetros da costa. >2 quilômetros da costa.
Hs <= 1 metro; ventos Hs médio entre 1-4 metros,
brandos (<= 5 metros/ com possível exposição a
segundo); presença marulhos; ventos superiores
Meio Ambiente
de correntes costeiras a 5 metros/segundo e
localizadas e presença de ausência de correntes
correntes de maré costeiras.
Acessível periodicamente
Acesso Fácil acesso
(custo elevado)
Regular; fácil monitoramento
Remota; monitoramento
e administração manual da
Operação esporático e alimentadores
alimentação dos indivíduos
automáticos
cultivados
Terminologia: Hs corresponde a altura significativa de ondas. Maiores detalhes em: Houlthuijsen
(2007).
Fonte: Adaptado de Muir (1998).

É importante salientar que, os conceitos apresentados para


aquicultura costeira e offshore, possuem estreita relação com a
distância entre a faixa de praia e o espaço físico utilizado para a
implantação de empreendimentos vocacionados ao cultivo de orga-
nismos aquáticos. Contudo, veremos adiante que, a partir de infe-
rência geográfica multi-paramétrica, poderemos definir com maior
precisão os locais para a prática da aquicultura. De fato, são os re-
quisitos biológicos dos organismos cultivados, as estruturas de cul-
tivo e o meio físico que definem conjuntamente o potencial para a
aquicultura marinha (FAO, 2007). Nessa perspectiva, a distância do
empreendimento em relação à linha de costa adjacente possui pouco
significado analítico.
Considerando o papel estratégico da aquicultura na produção
de pescados, alguns países como a Noruega, Nova Zelândia, Tailân-
dia, Índia e China já incluíram em seus planos nacionais de gestão
integrada da zona costeira, um conjunto de diretrizes ambientais
para a expansão da maricultura (TACON et al., 2006).

20
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Buscando um melhor gerenciamento da aquicultura em Águas


da União e frente às novas demandas globais por sustentabilida-
de, o Brasil lançou o Programa Nacional de Desenvolvimento da
Maricultura (PLDM), através do Ministério da Pesca e Aquicultura
(MPA). É importante salientar que esta é a primeira iniciativa na-
cional de ordenamento geoespacial com foco setorial na maricultura
brasileira (VIANNA et al., 2012). O objetivo dos PLDM's, é geren-
ciar os conflitos gerados pelos múltiplos usos da zona costeira, ga-
rantindo a integração das diferentes atividades econômicas e recre-
acionais inseridas no litoral brasileiro. Essa integração passa neces-
sariamente por um processo político-social que envolve diferentes
interesses, ordenados por um sistema normativo e legal que deve
estar em consonância com princípios técnico-científicos, democráti-
cos e éticos (VIANNA et al., 2012).
Segundo Silva et al. (2011), os objetivos de projetos dessa natu-
reza, geralmente incluem: a correta alocação dos recursos naturais
para cada uma das funções ou atividades competidoras, a resolução
ou minimização de conflitos, a minimização dos impactos ambien-
tais e a conservação dos recursos naturais.
Buitrago (2005), relata que o uso de técnicas de geoprocessa-
mento podem auxiliar no gerenciamento da aquicultura marinha,
permitindo a identificação de áreas potenciais e a delimitação de
parques aquícolas, levando-se em consideração os múltiplos usos
da região costeira e as necessidades biológicas fundamentais para o
desenvolvimento dos organismos a serem cultivados.
Buscando estabelecer bases sustentáveis para a correta escolha
de locais para a implantação de unidades aquícolas, faz-se necessá-
rio o entendimento da relação entre o comportamento dos diferen-
tes recursos pesqueiros frente à variabilidade ambiental (SALLES,
2006). Desta forma, é possível melhorar a eficiência do cultivo, de
modo a ser possível produzir uma máxima quantidade de biomassa
a um menor custo.

21
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Nesse sentido, o uso de técnicas de geoprocessamento possibi-


lita o desenvolvimento de estudos considerando as peculiaridades
de cada ambiente, otimizando as tarefas de análise de um volumo-
so e intricado conjunto de parâmetros ambientais (SZUSTER; AL-
BASRI, 2010). Assim, é possível gerar informações que subsidiam
o gerenciamento das áreas de cultivo, disponibilizando informações
às comunidades produtoras e aos órgãos de fomento competentes
(TOVAR et al., 2000).
O presente capítulo tem como objetivo fornecer elementos fun-
damentais que propiciem o entendimento básico acerca do uso in-
tegrado de dados ambientais num SIG, enfatizando a importância
que estes possuem na escolha de sítios adequados para o desenvol-
vimento da maricultura. Adicionalmente, este trabalho se propõe a
estimular o interesse de instituições, pesquisadores e profissionais
ligados a área de recursos pesqueiros e engenharia de pesca, a faze-
rem uso de dados geoespaciais como ferramenta para o desenvolvi-
mento sustentável da aquicultura nacional.

2 Geoprocessamento e aquicultura

Definições e considerações pertinentes

A distribuição geográfica de parâmetros ambientais sempre


possuiu papel fundamental na tomada de decisões das atividades
das sociedades organizadas (CÂMARA et al., 2003). Contudo, até a
primeira metade do século XX, isto era feito apenas em documentos
e mapas em papel, o que impedia uma análise integrada a partir
da combinação de diferentes fontes de dados. Entretanto, a partir
de meados de 1960, em virtude do desenvolvimento da informáti-
ca, tornou-se possível representar o meio físico em um ambiente
computacional, o que favoreceu o surgimento do geoprocessamento
(CÂMARA et al., 2003).

22
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Geoprocessamento, é o termo adotado pela comunidade aca-


dêmica para destacar o uso de técnicas matemáticas e computa-
cionais para o tratamento integrado de informação geográfica (RO-
CHA, 2000). Este conjunto de ferramentas vêm influenciando de
sobremaneira as áreas de cartografia, análise de recursos naturais,
transportes, comunicações, energia e planejamento urbano. As fer-
ramentas computacionais para geoprocessamento são chamadas de
sistemas de informação geográfica (SIG). Em ambiente SIG, é pos-
sível efetuar análises numéricas e integrar dados de diversas fontes
e criar bancos de dados, tornando possível automatizar a produção
de documentos cartográficos (ROCHA, 2000).
Considerando que a região costeira brasileira (Zona Econômica
Ecológica - ZEE) ocupa cerca de 3,5 milhões de quilômetros qua-
drados, estendendo-se por mais de 400 municípios distribuídos do
norte equatorial ao sul temperado do País e, em virtude da escassez
de informações adequadas para a tomada de decisões no que tange
a gestão aquícola nacional, o geoprocessamento apresenta um enor-
me potencial, principalmente por se tratar de uma em tecnologia de
custo relativamente baixo.
A utilização de um SIG implica na escolha das representações
computacionais mais adequadas para a descrição de objetos do
mundo real. Assim, é possível oferecer um conjunto de estruturas
de dados capazes de representar a variabilidade do meio físico. De
maneira generalista, usualmente associam-se grandezas numéricas
do mundo real a objetos representados em ambiente computacional
(RUHOFF, 2004).

Tipos e representação de dados em geoprocessamento

De acordo com Câmara et al. (2003), podemos definir os princi-


pais tipos de dados utilizados em geoprocessamento, como:
• Temáticos: Descrevem a distribuição espacial de uma grandeza
geográfica expressa de forma qualitativa. Estes dados podem
ser obtidos a partir de levantamento de campo ou derivados

23
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

a partir de produtos de sensoriamento remoto. Exemplo: Ca-


racterização granulométrica do solo de uma determinada
área de manguezal.
• Cadastral: Descrevem feições com atributos que podem estar
associados a diferentes representações gráficas. Exemplo:
Os lotes de um empreendimento aquícola são elementos do
espaço geográfico que possuem atributos (dono, localização,
carga tributária, etc.) e, que podem possuir representações
gráficas distintas.
• Redes: Cada objeto geográfico possui uma localização geográ-
fica exata e está sempre associado a atributos descritivos.
Exemplo: Uma bacia hidrográfica.
• Modelos numéricos de terreno (MNT): Comumente utilizados
para denotar a representação quantitativa de uma grandeza
que apresenta variação no espaço. Pode ser definido como um
modelo matemático que reproduz uma superfície real a partir
de algoritmos e de um conjunto de pontos (lon, lat), em um re-
ferencial qualquer, com atributos z, sendo este último, respon-
sável por descrever a variação contínua da superfície. Exem-
plo: O levantamento batimétrico de uma lagoa (Figura 1).
• Imagens: Obtidas por satélites orbitais ou a partir de sen-
sores aerotransportados, as imagens são formas de captura
indireta de informação espacial oriunda da radiação eletro-
magnética refletida ou emitida por um alvo terrestre. Não
será o foco do presente documento explicar acerca dos prin-
cípios físicos do sensoriamento remoto. Maiores informações
sobre o tema podem ser encontradas em Jensen (2007).
Num ambiente SIG, os tipos de dados a serem inseridos (temá-
tico, cadastral, redes, MNT e imagens) carecem de representação
computacional (ROCHA, 2000). Nesse âmbito, definem-se as possí-
veis formas geométricas que podem estar associadas às classes do
universo real. Embora hajam diferentes representações na litera-
tura, iremos considerar neste documento, apenas as duas grandes

24
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

classes de representações geométricas: a representação vetorial e a


representação matricial (ROCHA, 2000).
Na representação vetorial, elementos ou feições geográficas se-
rão simplificados numa tentativa de reproduzi-los o mais próximo
do mundo real (CÂMARA et al., 2003). Qualquer entidade ou ele-
mento gráfico de um mapa é reduzido a três formas básicas: pontos,
linhas, áreas ou polígonos (CÂMARA et al., 2003). Por exemplo, a
forma mais simples de se representar uma estrada num mapa é
através de uma linha ou ainda, podemos representar viveiros des-
tinados ao cultivo de um dado recurso pesqueiro, através de um
conjunto de polígonos.

Figura 1: Mapa batimétrico tridimensional da lagoa Comprida – Restinga de


Jurubatiba (RJ).
Fonte: Farias e Molisani (2011).

De maneira distinta, a representação matricial consiste no uso


de uma malha quadriculada regular sobre a qual se constrói, célula
a célula, o elemento que está sendo representado (CÂMARA et al.,

25
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

2003). A cada célula, atribui-se um valor referente ao atributo estu-


dado, de tal forma que o computador saiba a que elemento ou objeto
pertence determinada célula (Exemplo: Mapa batimétrico).

Inferência geográfica

A principal proposta dos projetos desenvolvidos em SIG para


aquicultura é a combinação de dados geográficos visando descre-
ver, analisar e modelar possíveis cenários de expansão da atividade
aquícola. Desse modo, o geoprocessamento fornece suporte nas de-
cisões tomadas. A combinação de diferentes bases de dados, permite
uma redução na ambiguidade das interpretações que, comumente
ocorrem quando analisamos informações geográficas separadamen-
te (CHO et al., 2012).
Quando tratamos de projetos em aquicultura, é comum a to-
mada de decisões ser baseada inicialmente nas condições ambien-
tais favoráveis para o desenvolvimento da atividade (FAO, 2007).
De fato, a descrição física da área requerida para a atividade é um
critério de grande importância e por isso, deve ser calculado. Adi-
cionalmente, o custo operacional deverá ser considerado.
Dependendo do recurso que se deseja cultivar, a dificuldade de aces-
so ao sítio de cultivo e a distância do empreendimento em relação
às vias de acesso responsáveis pelo escoamento da produção, podem
inviabilizar o início da atividade. É importante destacar que estes
critérios, podem ser mais ou menos importantes entre si.
Os fatores ou critérios desejáveis em uma decisão complexa va-
riam de acordo com o problema. A necessidade de ter mais de um
critério de avaliação na tomada de decisão, com unidades de medida
diferentes ou mesmo sem unidade de medida é a grande motivação
dos estudos na área de inferência geográfica (WOLFF, 2008).
As técnicas de inferência geográfica produzem novos mapas
a partir de dados coletados previamente. Os resultados obtidos vi-
sam descrever a vocação de uma determinada região para a imple-
mentação de projetos em aquicultura. A literatura sugere diferentes

26
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

métodos de inferência que expressam a vocação de uma dada região


para a maricultura (FAO, 2007). Dentre os diferentes métodos de
inferência geográfica, podemos destacar: a lógica Fuzzy, a Média
Ponderada, a Análise Bayesiana, o Processo Analítico Hierárquico
(AHP) e as Redes Neurais. Em nosso estudo de caso (a ser mostrado
a seguir), nos dedicaremos exclusivamente a explicar os conceitos
básicos do método AHP, enfatizando como este pode ser implemen-
tado para identificação de áreas potenciais destinadas ao cultivo de
macroalgas marinhas.
Os critérios de favorabilidade por inferência geográfica podem
ser definidos segundo regras determinísticas, onde o modelo produz
mapas binários (isto é, 0 e 1) a partir dos dados de entrada (FARIAS
et al., 2009). Essa técnica, descreve a co-ocorrência aditiva na qual
as informações são simplesmente sobrepostas. Nesses casos, as re-
giões de maior potencialidade aquícola são aquelas que apresentam
o maior número de intersecções favoráveis avaliadas pelo modelo.
Embora útil, esta abordagem metodológica excluí critérios de pro-
babilidade, reduzindo drasticamente a identificação de regiões pas-
síveis à expansão da aquicultura marinha (FARIAS et al., 2010).
É possível também avaliar o grau de favorabilidade de uma
região à prática aquícola através de critérios ponderados. Essa
abordagem resulta em um patamar de escalas de potencialidade
(BONHAM-CARTER, 1994). Segundo Harris (1989), esta técnica
pode ser definida como co-ocorrência ponderada. A vantagem des-
sa abordagem é a possibilidade de avaliar graus de potencialidade
distintos ao invés de analisarmos apenas a presença ou ausência de
potencialidade de uma localidade.
Na abordagem ponderada, a favorabilidade será calculada a
partir da combinação de evidências de fontes múltiplas. Entretanto,
a distribuição de pesos a serem atribuídos a um conjunto de da-
dos, dependerá da análise da importância da evidência em relação
a uma ocorrência conhecida ou, na maioria dos casos, através da
análise supervisionada de um especialista (WOLFF, 2008). O nosso

27
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

estudo de caso servirá de exemplo para ilustrar como isso deverá ser
implementado.

3 Estudo de caso – Uso do método AHP para a identificação


de áreas favoráveis ao cultivo de macroalgas marinhas
O presente estudo de caso, tem por objetivo apresentar um
exemplo de análise por inferência geográfica AHP sobre os parâme-
tros ambientais relacionados à identificação de áreas propícias para
o cultivo de macroalgas marinhas do gênero Gracilaria sp. Os resul-
tados aqui apresentados foram publicados em Farias et al (2010).
A região do nosso estudo de caso é o litoral do município de
Amontada, município costeiro localizado no estado do Ceará, nor-
deste do Brasil (longitudes 039o33’08’’W e 039o42’14’’W e latitudes
02o58’52’’S e 03o04’40’’S). A cidade encontra-se distante aproxima-
damente 155 km da capital Fortaleza. Esta localidade foi escolhida
devido sua ampla linha de costa e em virtude do seu grande poten-
cial pesqueiro.
As variáveis de entrada do modelo AHP foram: batimetria, gra-
nulometria dos sedimentos e correntes marinhas. Todos os parâ-
metros ambientais foram coletados in situ, durante atividades de
campo transcorridas entre os dias 19 a 22 de maio de 2009, período
este correspondente ao de quadratura da maré.

3.1 Requisitos ambientais necessários para o cultivo de macroalgas


marinhas

Segundo MPA (2003), as condições ambientais necessárias para


a implementação de uma unidade de cultivo de macroalgas mari-
nhas em sistema long-line (Figura 2) são: o fluxo de correntes ma-
rinhas, a salinidade, a temperatura da água, a profundidade local
e a granulometria do sedimento. Neste estudo, desconsideramos as

28
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

análises de temperatura e salinidade, uma vez que a região apre-


senta temperatura constante (por volta de 25 graus Celsius) e au-
sência de variações significativas da salinidade.
As correntes marinhas possuem atuação relevante num am-
biente de cultivo de algas, sendo responsáveis por carrear nutrientes
e movimentar as plantas na coluna d'água, favorecendo o processo
de fotossíntese. No entanto, regimes de correntes intensos podem
ser um limitante para o crescimento das plantas, além de produzir
o rompimento dos indivíduos no sistema de cultivo, obrigando os
técnicos a adotarem colheitas frequentes. Assim, recomenda-se que
o local escolhido não deva apresentar fluxos inferiores a 0,1 ms-1 ou
superiores a 0,5 ms-1.
A granulometria dos sedimentos está associada ao regime de
correntes do local do empreendimento, podendo ser utilizada como
um indicativo da quantidade de material em suspensão na coluna
d'água, sendo este, um fator determinante na escolha da estrutura
para fixação da unidade cultivo. Os fundos de lama são apropriados
para fixar as estruturas de cultivo, porém, indicam que possivel-
mente haverá grande deposição de partículas finas sobre as algas,
o que implicará numa pior performance de crescimento das plantas
cultivadas. Substratos com areia muito grossa e/ou rochas, indicam
que água possui baixa concentração de material fino em suspensão.
Entretanto, sedimentos muito grosseiros implicam numa possível
dificuldade de fixação das unidades de cultivo, uma vez que, são
indicativos de correntes intensas e/ou presença de ondas, o que difi-
cultará o trabalho de manejo.
Com relação à batimetria, quanto maior a profundidade, maior
será a dificuldade de executar as operações de instalação e manejo
das estruturas de cultivo. Contudo, é importante salientar que a
profundidade local, mesmo na baixa-mar de sizígia não poderá dei-
xar as algas emersas.

29
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 2: Layout básico para a disposição das algas em estruturas de cultivo


long-line. As macroalgas ficam dispostas nos substratos artificiais
localizados nas linhas secundárias da armação.
Fonte: Extraído de Masih-Neto (2009).

3.2 Coleta e processamento de dados ambientais in situ

Foi utilizado um ecobatímetro conjugado a um GPS, mode-


lo GPSMAP 238 Sounder GARMIN, transdutor de resolução de
0,01metros de profundidade e sensor de temperatura, antena ex-
terna, recepção para 12 canais e receptor diferencial. O ecobatíme-
tro implementa um sistema de aquisição de dados de profundidade,
hora e coordenadas, acoplado a um laptop (Figura 3). Para alimen-
tação de força na embarcação foi usado um conversor de 12 volts
para 110 volts. Este por sua vez, estava ligado a uma bateria de 12
volts com amperagem de 42 A alimentada por um gerador de 6 volts
localizado no motor de popa. Os dados de profundidade foram cor-
rigidos ao nível reduzido da Diretoria de Hidrografia e Navegação
da Marinha do Brasil (DHN), com o objetivo de eliminar o efeito da
maré, visando dar suporte à correta modelagem do mapa batimé-
trico. A partir da obtenção de uma grade regular, foi então gerado
o modelo batimétrico, utilizando-se para tal, um interpolador por
média ponderada.

30
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 3: Sistema de coleta de dados batimétricos.


Fonte: Extraído de Farias (2006).

Foram realizados 9 perfis de amostragem de correntes, com


comprimento médio de 900 metros (Figura 4), regularmente espa-
çados em nossa área de estudo, utilizando um correntômetro ADCP
com sensor acústico de frequência 1,5 MHz, produzido pela SON-
TEK/YSI. O equipamento é composto por uma sonda, onde os sinais
são filtrados e transmitidos para um laptop com um software espe-
cífico que coordena as ações de todo o sistema, recebendo os dados e
os disponibilizando em forma de gráficos, tabelas etc.
O princípio de funcionamento do equipamento é o efeito Do-
ppler, que se refere à mudança de frequência do sinal transmitido
pelo sensor, causada pelo movimento relativo entre o aparelho e o
material em suspensão da água sob a ação do feixe das ondas sono-

31
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

ras. Como o material em suspensão se desloca com a mesma inten-


sidade das correntes marinhas, a magnitude do efeito Doppler será
diretamente proporcional ao deslocamento da coluna d'água. Desse
modo, medindo-se a frequência dos ecos que retornam do material
em suspensão e comparando-a com a frequência do som emitido, o
ADCP determina a velocidade da partícula que, neste caso, equivale
à intensidade dos regimes de correntes marinhas.

Figura 4: Funcionamento do perfilador de correntes ADCP, utilizado para


medir a direção e a intensidade das correntes marinhas ao longo dos
9 perfis coletados. A estimativa do regime de correntes é realizada
considerando a intensidade de retorno do sinal Doppler provocado
pela movimentação do material em suspensão na coluna d'água para
os transdutores do equipamento.
Fonte: Extraído de Monteiro (2011).

Por fim, foram coletadas 22 amostras de sedimentos regular-


mente espaçadas em nossa região de estudo com o auxílio de uma
draga pontual do tipo van Veen. Essas amostras foram posterior-

32
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

mente levadas a laboratório onde foram submetidas à análise gra-


nulométrica, visando estabelecer a distribuição do diâmetro dos
grãos presentes nas amostras adquiridas.

3.3 Processo Analítico Hierárquico (AHP)

AHP é uma teoria matemática que permite organizar e avaliar


a importância relativa entre critérios distintos relacionáveis (SAA-
TY, 1986). A teoria requer a estruturação de um modelo hierárquico,
o qual geralmente é composto por meta, critérios, sub-critérios e
alternativas (SAATY, 1986).
A meta é o elemento que se deseja solucionar. Este parâmetro
fica no topo da estrutura hierárquica AHP (SAATY, 1990). Em nosso
caso, a meta será identificar áreas favoráveis ao desenvolvimento
da aquicultura marinha.
Os critérios são definidos pelos tomadores de decisão, como os
fatores que influenciam diretamente a meta. No nosso estudo de
caso, os critérios representam os parâmetros ambientais desejáveis
para o desenvolvimento da aquicultura. A denominação sub-crité-
rio, é adotada para identificar separadamente as variáveis físicas
toleráveis ou impróprias para a maricultura.
A etapa seguinte consiste em estabelecer parametrizações am-
bientais ótimas para a área de cultivo. São feitas comparações pa-
ritárias entre os n critérios entre si, dois a dois, em relação à con-
tribuição de cada um para a meta desejada. Fazer uma comparação
neste método, significa atribuir um valor da escala de 1 a 9, que
represente o par em questão (Tabela 2). Segundo Saaty (1990), a
escala de 1 a 9 é suficiente e ainda mantém a possibilidade de dis-
tinguir a intensidade das relações entre os elementos.

33
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Tabela 2: Ponderação AHP.


Pesos Importância AHP
1 Igual importância
3 Moderadamente mais importante
5 Fortemente mais importante
7 Muito fortemente mais importante
9 Extremamente mais importante
2, 4, 6, 8 Valores intermediários
Fonte: Saaty (1990).

Em nosso estudo de caso, foram consideradas como regiões óti-


mas para o cultivo de macroalgas marinhas, os setores que apre-
sentassem profundidades variando entre 1,5 a 3 metros, com areia
grossa e fluxo de correntes entre 0.2 e 0.35 ms-1, sendo conferido a
essas variáveis nas faixas indicadas, os maiores pesos nas análises
geográficas e pesos menores na medida em que os parâmetros se
afastassem das condições ótimas de cultivo.
O passo seguinte, consiste em comparar as n alternativas pos-
síveis entre si, obtidas a partir das nossas variáveis ambientais
ponderadas segundo o método AHP. Nesse ponto, o objetivo será
identificar os locais que apresentam maior aptidão para a imple-
mentação de projetos em aquicultura (SAATY, 1990).
A comparação pareada gera uma matriz de avaliação n x n. Para
preencher a matriz, o tomador de decisão age por linhas (WOLFF,
2008). A diagonal principal da matriz é preenchida com o valor 1,
por se tratar da comparação de um elemento com ele mesmo. Após
preencher a diagonal principal, na linha 1 é necessário identificar
qual é a importância do elemento desta linha em relação a cada
elemento de todas as colunas. Cada um dos julgamentos represen-
ta a dominância do elemento da linha sobre o elemento da coluna.
Se o elemento Ai (da linha) for igualmente importante ao elemento
Aj (da coluna), o valor aij atribuído a esse par é 1. Se ele for mais
importante do que o elemento Aj, algum valor de 2 a 9 é escolhido.
Contudo, se o elemento Ai for menos importante do que o elemento

34
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Aj, um número inverso aos valores 2 a 9 será dado, dependendo da


ponderação com que foi avaliado.
Vale salientar que é possível calcular a consistência matemá-
tica da distribuição dos pesos AHP entre as variáveis analisadas. A
razão de consistência varia entre zero e um, com zero indicando a
completa consistência do processo de julgamento (SAATY; NIEMI-
RA, 2006). Nesse capítulo, não nos dedicaremos a discorrer sobre
o formalismo matemático para o cálculo da razão de consistência.
Maiores detalhes sobre este tópico no idioma português, poderão ser
encontrados em Wolff (2008).
O diagrama básico de execução do nosso estudo de caso, encon-
tra-se na figura 5, o qual será brevemente descrito. Inicialmente, os
dados de intensidade de correntes, sedimentos e batimetria foram
coletadas em campo. O passo seguinte, consistiu em transformar os
produtos coletados em MNT, visando a geração de planos de infor-
mação (PI's) para a alocação dos dados. Os PI's de correntes, sedi-
mentos e batimetria foram convertidos em matrizes com as mesmas
dimensões, com o objetivo de favorecer a entrada dos dados no mo-
delo AHP. As matrizes recém obtidas, foram fatiadas em diferentes
níveis ou camadas (ex: a profundidade foi particionada a cada 50
cm). Na sequência, foi realizada a ponderação AHP entre as classes
temáticas. O resultado do modelo é um MNT ponderado que deverá
ser dividido em subclasses (ou fatias) que facilitarão a compreensão
do mapa final. Estas fatias foram nomeadas de acordo com a favora-
bilidade regional à implementação de projetos aquícolas.

35
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 5: Modelo esquemático de processamento dos dados.


Fonte: Extraído de Farias et al., (2010).

36
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

3.4 Resultados e discussões

O levantamento batimétrico mostrou que a conformação do re-


levo submerso da região apresentou cotas máximas de -9 metros,
com isobatimétricas apresentando variação suave do gradiente de
declividade do fundo. Os maiores gradientes batimétricos estão si-
tuados próximos à costa, com aumento gradativo da profundidade
em direção a mar aberto. As cotas são em geral paralelas à costa,
sendo esse padrão interrompido em alguns pontos por algumas de-
pressões.
Os resultados obtidos através do monitoramento do fluxo de
correntes, mostraram um escoamento paralelo à costa, predomi-
nante de SE para NW, com a direção de fluxo variando entre 330 a
350 graus, indicando uma significativa homogeneidade. Os perfis
apresentaram maiores intensidades de correntes marinhas nas re-
giões mais distantes da linha de costa. Este efeito é esperado, sendo
causado pela condição lateral de não deslizamento da corrente na
costa.
Através da análise sedimentar, foi possível evidenciar a exis-
tência de quatro classes granulométricas distintas ao longo de
toda a região em estudo, sendo estas: granulo, areia muito grossa,
areia grossa e silte médio. Houve predominância de areia grossa
nas praias de Moitas e Caetano, enquanto em Icaraí de Amontada
foi possível observar a presença de areia muito grossa. Silte mé-
dio pode ser encontrado em menor proporção na enseada entre as
praias de Moitas e Icaraí de Amontada. Esta mesma afirmativa é
válida para a presença de granulos na região.
O processo analítico hierárquico possibilitou associar, em um
único produto, todas as variáveis utilizadas na determinação de
áreas propícias ao desenvolvimento da maricultura. O mapa obtido
através do modelo mostra-se coerente, em virtude da menor favora-
bilidade indicada para as regiões mais distantes da praia, portanto
mais profundas (acima de 4 metros), e de regiões com granulome-

37
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

tria mais grosseira, impróprias para o desenvolvimento do cultivo


de Gracilaria sp.
Seguramente, a maior dificuldade em relação à aplicação do
modelo analítico hierárquico, está relacionada à determinação dos
pesos das variáveis e das suas classes, problema comumente des-
tacado em outros trabalhos que utilizaram este método (THIRU-
MALAIVASAN et al., 2003). Assim, pode-se constatar que o método
utilizado é muito dependente do analista e do problema. Esta tem
sido a principal crítica ao modelo analítico hierárquico, pois permite
gerar uma escala de razão de preferências por parte do especialista
(BARROS et al., 2007).
O mapa de grau de favorabilidade gerado para o cultivo de al-
gas na região, encontra-se apresentado na Figura 6. Os resultados
obtidos corroboram com as informações da literatura (MPA, 2003),
uma vez que, o modelo mostrou que os locais de ótima implantação
de projetos dessa natureza na região em estudo, devem se localizar
onde as cotas batimétricas encontram-se entre 1,5 a 3 m de pro-
fundidade e velocidade de fluxo de correntes em torno de 0,2 a 0,3
ms-1. A região não apresentou pontos com areia fina e areia muito
fina (condições ótimas de cultivo). Desse modo, optou-se para fins
demonstrativos, aplicar o maior peso AHP sobre os sedimentos que
foram classificados como areia grossa.

38
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 6: Mapa AHP de favorabilidade ao cultivo de macroalgas marinhas para


a região costeira do município de Amontada-CE.
Fonte: Extraído de Farias et al. (2010).

4 Conclusões
O presente capítulo apresentou as principais potencialidades
do uso de técnicas de geoprocessamento como suporte ao desenvol-
vimento da aquicultura marinha. Nesse âmbito, a adoção de técni-
cas de inferência geográfica vêm apresentando papel de destaque,
podendo contribuir de modo singular com a expansão sustentável
da atividade aquícola, integrando diferentes componentes ambien-
tais, sociais e econômicos, que possuem estreita relação com a iden-
tificação de áreas propícias ao cultivo de organismos aquáticos.

39
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Embora, o geoprocessamento seja amplamente aplicável na


aquicultura, observa-se uma escassez de trabalhos técnicos e aca-
dêmicos que fazem uso quantitativo de dados geoespaciais, o que
denota a necessidade de formação de recursos humanos aptos para
tratarem a atividade de maneira integrada, frente aos desafios ine-
rentes aos múltiplos usos da zona costeira. De fato, o acoplamento
de dados multi-paramétricos, embora essencial, ainda é um fator
problemático na gestão de recursos pesqueiros. No geral, ainda há
dificuldade na escolha da abordagem numérica a ser adotada, uma
vez que esta dependerá do problema a ser tratado e da decisão de-
sejada. Seguramente, o uso adequado de geotecnologias é um dos
principais desafios do cotidiano dos profissionais da área de recur-
sos pesqueiros e engenharia de pesca.
É importante salientar que a qualidade e confiabilidade dos
resultados obtidos por inferência geográfica é extremamente depen-
dente da existência de uma base de dados que represente adequa-
damente a variabilidade ambiental, os componentes sociais, legais
e econômicos, ligados à atividade aquícola.
O autor acredita que a abordagem integrada do geoprocessa-
mento possui papel estratégico na expansão da aquicultura bra-
sileira, uma vez que, a análise geográfica confere confiabilidade e
legitimidade ao setor, fatores estes, indispensáveis para a redução
de riscos ambientais e que, influenciam a aceitabilidade social da
atividade.

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43
CAPÍTULO II
Geoprocessamento: uma análise
dos dados coletados a campo
com o gps de precisão e de
navegação em comparação com
os dados obtidos o google earth,
relativamente à mesma área de
amostragem
Serleni Geni Sossmeier*
Jéssica Piroli**
Alcindo Neckel***

Introdução

A
tecnologia, em conjunto com ferramentas digitais,
é parte atuante do cotidiano da sociedade atual.
A internet em poucos anos invadiu a vida da so-
ciedade. Isso ocorreu em razão de a rede de informática

*
Acadêmica do Curso de Agronomia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul,
campus Sertão, RS. serleni.labjacui@yahoo.com.br
**
Acadêmica do Curso de Agronomia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul,
campus Sertão, RS. jehpiroli@hotmail.com
***
Geógrafo, Gestor Ambiental. Professor do Instituto Federal do Rio Grande
do Sul, campus Sertão, RS. Doutorando do Programa de Pós Graduação em
Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. alcindo-
neckel@yahoo.com.br
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

mundial ser o meio de comunicação mais eficaz para a obtenção de


informações das mais variadas áreas, para as mais diversas aplica-
bilidades em tempo real.
O Google Earth é uma aplicação Web interativa que mostra
uma representação virtual do Globo Terrestre, obtida por meio de
superposições de imagens de satélite que fotografam constantemen-
te diferentes pontos da superfície da Terra (GUENDA, 2009).
“O GPS (Global Positioning System) utiliza um sistema de refe-
rência tridimensional para a determinação da posição de um ponto
da superfície da Terra ou próximo a ela’’ (ALBUQUERQUE; SAN-
TOS, 2003, p. 6).
A pesquisa visa a, pela comparação dos mapas de uma mes-
ma área, processados a partir de dados do Google Earth, GPS de
navegação e de precisão, avaliar a variação matricial dos mapas,
estabelecendo qual possui maior confiabilidade. As informações ge-
ográficas extraídas dos objetos estudados foram geoprocessadas e
analisadas, verificando-se as que apresentam maior confiabilidade
nos dados, pois as técnicas do geoprocessamento são ferramentas
importantes que podem ser aplicadas na tomada de decisões do pla-
nejamento físico-territorial, uma vez que possibilitam a interliga-
ção de vários dados espaciais de natureza e fontes diversas (ALBU-
QUERQUE; SANTOS, 2003).
Assim, o presente capítulo objetiva comprovar que é possível
utilizar o Google Earth em levantamentos planialtimétricos das
áreas territoriais, possibilitando uma análise visual e territorial do
terreno. Isso possibilita que profissionais de diferentes áreas pos-
sam fazer uso das ferramentas objeto da demonstração, com ciência
acerca do nível de erro aproximado que elas propiciam.

Introdução ao sensoriamento remoto

As informações sobre divisão geográfica de fenômenos é essen-


cial para a vida em sociedade. No passado, essas informações eram
armazenadas em documentos de papel impresso. O progresso da

45
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

informática, na segunda metade do século XX, favoreceu o ato de


representar e de armazenar informações em sistemas informáticos.
Foi nesse contexto que o geoprocessamento teve seu início.
O geoprocessamento consiste no uso de tecnologias que contêm
diferentes fases de coleta, tratamento, manipulação e apresentação
de dados geográficos e que levam a uma determinada finalidade.
Esse conceito tem relação com a ideologia de Molin (2005), no senti-
do de que, a partir dos passos citados, o geoprocessamento deve ter
um retorno positivo no que se refere às informações.
Por sua vez, Câmara e Davis Junior (1999, p. 2) estabelecem
que os sistemas integrados de geoprocessamento (SIG) consistem
em “ferramentas computacionais para realizar análises complexas,
interligando dados de diversas fontes através da criação de banco de
dados georreferenciados”. Assim sendo, é possível perceber a ligação
entre as ferramentas SIG e um Banco de Dados Geográfico (BDG).
Uma das mais importantes contribuições dessa tecnologia está
no fato de poder-se utilizar e visualizar variadas espécies de cama-
das. Um exemplo disso são os layers, que mostram progressos des-
ses projetos. Por esse fato, o geoprocessamento tem um vasto campo
de possibilidades, obtendo espaço de pesquisa em diversas áreas e
no mercado (CÂMARA; DAVIS JUNIOR, 1999).
A periodicidade da imagem de satélite é baseada na sua atua-
lização, ou seja, podem haver, em uma mesma área, várias ilustra-
ções, referentes a épocas diferentes. Os sítios que oferecem imagens
com alta temporalidade são usualmente das agências relacionadas
com programas responsáveis por realizar a função dos satélites
(INPE, 2001).
O Quadro 1, abaixo, apresenta uma relação de sítios virtuais e
de instituições que disponibilizam imagens de satélite gratuitamen-
te, bem como as características das imagens disponíveis.

46
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Quadro 1: Relação de sítios que disponibilizam imagens de satélite gratuitamente


na internet.

Fonte: Adaptado de Motta, Santos e Silva (2009, p.2327).

A NASA (National Aeronauticsand Space Administration) é


uma agência norte-americana cujo dever é atender aos projetos de
exploração espacial, como as viagens que levaram o homem à Lua,
além de propiciar diferentes pesquisas interligadas ao espaço e à
análise do espaço. Fundada em 1958, com a aprovação do “National
Aeronauticsand Space Act”, a NASA deve incumbir-se de buscar so-
luções que tenham relação com problemas relativos à segurança de
vôos dentro ou fora da atmosfera terrestre, assegurar que as pes-
quisas espaciais norte-americanas seriam úteis para a sociedade e
ajudar departamentos do Governo Federal Norte-Americano, como
a Agência Central de Inteligência (CIA), a Fundação Nacional de
Ciência e a Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
Em verdade, a NASA consiste em uma agência espacial civil
independente. Entretanto, é o presidente dos EUA quem escolhe o
seu administrador, que deve ser aprovado pelo Senado.

47
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Diferentes artifícios de exploração espacial foram de incumbên-


cia da NASA, mas um dos acontecimentos mais consideráveis da
agência espacial americana foi á aventura de ter levado o homem
à Lua. Hoje, a área de atuação da NASA é mais ampla e abran-
gem pesquisas aeronáuticas, criação de tecnologias para sistemas
de análise, estudos científicos relacionado são sistema solar e a re-
giões distantes do universo e ações espaciais, como lançamentos de
aeronaves.
Apesar de algumas instituições deterem a tecnologia, espera-
se que o geoprocessamento esteja diluído em uma série de recursos
tecnológicos do mundo, permitindo que os benefícios dessas tecnolo-
gias possam atingir um número muito maior de pessoas.
Por outro lado, os avanços podem levar ao já anunciado fim
do SIG. Portanto, chegará um momento em que não existirá mais
a necessidade de se tratar os dados geográficos como um proble-
ma à parte, pois os conceitos necessários terão sido incorporados
ao raciocínio das pessoas. Essa é a medida mais precisa do sucesso
na incorporação do geoprocessamento à rotina de uma organização
(DARVIS JUNIOR, 2002).

Materiais e métodos

O experimento foi conduzido na área experimental localizada


no Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Sul, Câmpus Sertão, situado no Distrito Engenheiro Luiz Englert,
no Município de Sertão/RS.
A metodologia utilizada foi dividida em duas etapas, com a fina-
lidade de facilitar e agilizar o trabalho. A primeira etapa constituiu
no levantamento de dados a campo. Nessa fase, foram extraídas
coordenadas da área amostral, com auxílio do GPS de Precisão, que
apresenta erro máximo de até 50cm (cinquenta centímetros). Tam-
bém procedeu-se à coleta de pontos com o uso do GPS de navegação.
As coordenadas geográficas foram extraídas do mesmo local, para a
obtenção de detalhamento e conformidade nas análises.

48
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Na coleta das coordenadas foi observada a latitude, longitude


e altitude, a fim de construir um mapa planialtimétrico da área,
o mais próximo possível de sua conformação natural. Ainda nessa
fase foi realizado um estudo da bibliografia disponível, relacionada
ao geoprocessamento e à sua utilização no cotidiano dos profissio-
nais da área.
Na segunda etapa do trabalho foi realizado o levantamento de
gabinete. Nessa fase foram obtidas as coordenadas extraídas do
programa Google Earth (2013). Este software tem seu funcionamen-
to baseado em imagens de satélite, sendo possível observar o terre-
no amostrado de vários ângulos. Na coleta das coordenadas, foram
demarcados os mesmos pontos e considerados os mesmos limites,
para todos os métodos utilizados no estudo. Após a coleta de da-
dos foi realizado o tratamento dos mesmos. Com auxílio do software
TrasCord, as coordenadas foram convertidas em graus, para UTM.
Ainda nesta etapa foram gerados os mapas temáticos da área no
software SURFER 10. A análise de variação entre as coordenadas
foi realizada a partir de gráficos construídos no software SURFER
10. Esse programa leva em consideração a oscilação entre as coor-
denadas geográficas para o estudo geoestatístico.
A metodologia utilizada esta representada no Fluxograma, con-
forme a Figura 1.

49
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 1: Fluxograma da Pesquisa.

Resultados e discussões

Dados coletados no Google Earth

O Sistema de Informação Geográfica (SIG) é um instrumento


que possibilita agrupar, armazenar, manipular e retratar a infor-
mação referenciada geograficamente a começar da combinação do
hardware, do software, dos dados metodológicos e dos recursos hu-
manos que atuam de forma lógica para produzir e verificar as infor-
mações geográficas (HERRADA, 2010; CÂMARA, DAVIS JUNIOR,
1999).
Atualmente, o SIG constitui-se como um instrumento impor-
tante para o uso eficiente da informação geográfica, fato que pode
ser entendido como o início para compreender o mundo em que se
vive, estando presente no programa de muitas disciplinas (CÂMA-
RA; DAVIS, 2001).

50
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

O Google Earth permite visualizar, mapas, cidades, casas em


3D (três dimensões), além de identificar terrenos, rodovias, lugares,
paisagens, construções, tudo a partir de imagens obtidas de retratos
aéreos, satélites, GIS 3D. Entretanto, não é recomendado utilizar o
software para gerar mapas que necessitam de exatidão e confiabili-
dade (CÂMARA; DAVIS JUNIOR, 1999).
A partir dos dados coletados neste estudo, fazendo-se o uso do
software Google Earth, foi possível construir o mapa em 3D apre-
sentado na Figura 2. Apesar de os dados serem confiáveis, é visível
que há pouco detalhamento da conformidade do terreno. Assim sen-
do, é interessante a utilização do GPS para que se obtenha mais e
melhores características da área amostrada. Pois, através das cur-
vas de nível, é percebível que há uma declividade maior em uma das
extremidades do território amostrado. Segundo Amaral e Rosalen
(2009), isso é demonstrado pela proximidade entre as curvas, ou
seja, quanto mais próximas as curvas, mais acentuado é o terreno.
Com a análise da legenda, é possível verificar que a altitude dessa
área varia de 716 metros a 742 metros acima do nível do mar.

51
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 2: Mapa 3D da área, construído com dados coletados no Google


Earth.
Geração do Mapa no software SURFER 10.

A partir da avaliação do mapa gerado no Google Earth, foi possível per-


ceber um erro de detalhamento da forma do terreno. A Figura 3 representa as
variações estabelecidas nas coordenadas geográficas. Analisando essas varia-
ções identificou-se uma diferença de 34% entre as extremidades da reta, o que
representa a variação encontrada entre as coordenadas dos pontos coletados.
Segundo Molin (et al., 2005), isso pode ser explicado pelo fato de não existir
interferência de sinal durante a coleta de dados, tornando fixo o sistema de
coleta, mas com uma variação bem acentuada referente à precisão.

52
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 3: Gráfico da variação das coordenadas coletadas no Google Earth.


Geoestatística desenvolvida no software SURFER 10.

Coleta de dados com o GPS de navegação

Com o tratamento das coordenadas extraídas do GPS de na-


vegação, foi possível gerar o mapa em 3D, representado na Figura
4. Esse mapa apresenta mais setores declivosos presentes na área,
bem como maior altitude, entre 726 e 752 metros acima do nível
do mar. Se for comparados estes dados com os já apresentados no
mapa processado a partir do Google Earth, percebe-se que o mapa
construído com auxílio do GPS de navegação (Figura 4), é possível
perceber que apresenta um maior detalhamento na conformação do
terreno, o que traz maior confiabilidade para a realização de traba-
lhos e análises de área.

53
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 4: Mapa 3D da área, gerado a partir das coordenadas do GPS de


Navegação. Geração do Mapa no software SURFER 10.

Pela Figura 5, que apresenta dados extraídos a partir das co-


ordenadas do GPS de navegação, é possível verificar, pela análise
da reta, que há uma variação entre 10% e 35% aproximadamente,
o que totaliza uma variação de 25% entre os pontos coletados. Exis-
tem alguns pontos que se encontram a uma distância considerável
da reta. Isso pode ter ocorrido pela oscilação do sinal captado pelo
GPS. Segundo Angulo Filho, Vettorazzi e Sarries (2002), há diferen-
ciação entre a exatidão dos levantamentos planialtimétricos, que
podem ser atribuídos à presença de barreiras, como a cobertura ar-
bórea da área avaliada.

54
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 5: Gráfico da variação das coordenadas obtidas com o GPS de navegação.


Geoestatística desenvolvida no software SURFER 10.

Coleta de dados com GPS de precisão

A área processada com dados adquiridos pelo GPS de precisão,


apresentada na Figura 6, demonstra o maior detalhamento na con-
formação do terreno, se comparado aos mapas gerados a partir do
Google Earth e GPS de navegação. É possível verificar a presença
de picos e maior acentuação no terreno a partir da aproximação das
curvas de nível. Neste mapa, há também maior diferenciação de al-
titude em toda a extensão da área. O GPS de precisão é o mais reco-
mendado para realização de trabalhos que necessitem de confiabili-
dade e exatidão. Isso também é reforçado nos estudos de Corseuil e
Robaina (2003), quedefiniram que a utilização do GPS de precisão
possui maior confiabilidade nos levantamentos planialtimétricos.

55
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 6: Mapa 3D da área, obtido com as coordenadas do GPS de precisão.


Geração do Mapa no software SURFER 10.

O GPS de precisão mostrou-se mais confiável, pois apresenta


um erro máximo de 50 centímetros, conforme determina a Norma
do INCRA P/nº 954, indicada para uma medição adequada de área
(BRASIL, 2009). Entretanto, Segundo Molin (et al., 2005), o míni-
mo erro do GPS de Precisão pode ser aumentado devido a possíveis
interferências, podendo ser gerado pela cobertura vegetal que serve
de barreira para a captação do sinal de satélite.
A partir dos dados coletados com auxílio do GPS de precisão,
foi possível gerar o gráfico demonstrado na Figura 7. Ao analisá-lo,
é possível verificar que a reta encontra-se entre 20% e 32%, o que
representa uma variação de 12% entre os pontos. Ao compararem-

56
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

se esses dados, verifica-se que o GPS de precisão apresenta uma


menor variação entre as coordenadas, o que torna esse método mais
confiável e exato. Percebe-se, também, que alguns pontos encon-
tram-se distantes da reta. Isso se deve ao fato de que o GPS recebeu
a interferência pela presença de árvores ou pelo mau tempo. Segun-
do Costa (et al., 2012), há uma interferência nas estimativas das
estações devido às variações sazonais da crosta, o que pode afetar
os levantamentos planialtimétricos.

Figura 7: Gráfico da variação das coordenadas adquiridas com o GPS de


precisão. Geoestatística desenvolvida no software SURFER 10.

57
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Conclusão
Os receptores de GPS são classificados em categorias, divididos
em geodésico, topográfico e de navegação. Essas categorias diferem
entre si pela precisão, ou seja, a razão da igualdade entre o dado
real de posicionamento e o oferecido pelo equipamento. Por isso,
inclusive, há grande variação nos valores pagos para a aquisição
dos mesmos.
Atualmente, a categoria mais empregada é a de navegação, de-
vido ao menor custo para aquisição, pela gratuidade do sistema, por
não necessitar de qualificação técnica para o manuseio do equipa-
mento, por haver menor possibilidade de erros do operador, além de
ser um sistema estável com cobertura mundial que opera 24 horas
por dia. Porém, há desvantagens na sua utilização, como o fato de
apresentar uma menor precisão de posicionamento, ser susceptível
às interrupções nos sinais transmitidos pelos satélites devido a edi-
ficações ou à presença de árvores, necessita de equipamentos adicio-
nais para maior precisão. Além disso, o sistema pode ser desligado a
qualquer momento pelo Departamento de Defesa dos EUA.
Na revisão bibliográfica do estudo, foi observada carência de
material nessa área. Assim sendo, sugere-se a realização de traba-
lhos comparando os diversos softwares existentes no setor de geo-
processamento, da mesma forma que a utilização do Google Earth
no cotidiano da sociedade, tendo em vista que é uma ferramenta
gratuita ao alcance de toda a população.
Outro trabalho que seria recomendável ser desenvolvido refe-
re-se à utilização dos GPS de navegação e de precisão na agricultu-
ra, verificando qual é mais confiável para ser empregado na técnica
da agricultura de precisão.
O GPS de precisão, também conhecido como de levantamento,
geodésico ou DGPS, é recomendado para o levantamento de dados
para atividades profissionais, por apresentar maior precisão, se
comparado ao GPS de navegação. Essa precisão é proporcionada

58
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

pela forma de armazenamento de dados brutos para posterior pro-


cessamento e pela presença de filtros que garantem a qualidade dos
dados.
Com base na análise realizada, pode-se inferir que é possível
usar o software Google Earth e o GPS de navegação para a verifica-
ção planialtimétrica do território, pois, mesmo que haja erro entre
as imagens, os dados muitas vezes podem ser confiáveis, podendo
ser utilizados em ações que não necessitem de exatidão.
Os estudos de Amaral e Rosalen (2009, p. 7608) concluíram
que, “a determinação da declividade através do software Google
Earth é adequado para fins de classificação do relevo e da capacida-
de de uso da terra”. Contudo, o Google Earth e o GPS de navegação
não podem ser utilizados como base para determinação de divisas e
cálculos de áreas. Para essas atividades, o GPS de precisão torna-se
mais confiável, pois apresenta maior precisão e possui maior aplica-
bilidade, além de mostrar-se mais fiel quanto à representação real
do terreno, apresentando maior detalhamento da área. Segundo
Herrada (et al., 2010), o GPS tem bom desempenho apresentando
estabilidade e poucos erros em seu funcionamento diário, o que o
torna confiável.
A pesquisa permitiu uma maior precisão na visualização das
ondulações do terreno amostrado. Com base na análise gráfica, foi
possível perceber uma variação de 25% entre as coordenadas do
mapa proveniente de dados do GPS de Navegação. Já, o mapa pro-
cessado a partir de coordenadas do Google Earth apresentou uma
variação de 34% entre os pontos, enquanto o GPS de precisão obteve
apenas 12% de variação entre as coordenadas. Todavia, o tamanho
da área não variou de um mapa para outro, apenas percebeu-se
uma variação na caracterização do terreno amostrado.
O mapa gerado a partir do GPS de precisão apresenta maior
exatidão na determinação das ondulações do terreno, quando com-
parado ao Google Earth e ao GPS de navegação, o que torna este sis-
tema mais confiável. Porém, há uma grande possibilidade da utili-

59
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

zação do Google Earth e o GPS de navegação para o processamento


de mapas que não exijam tanta precisão e confiabilidade de dados,
quando georreferenciados a campo e geoprocessados em gabinete.

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INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Introdução ao Sensoria-
mento Remoto. 2001.Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABA-
AAAFZ4AJ/apostila-sensoriamento-remoto-inpe>. Acesso em: 13 mar. 2013.
MOLIN, José P.; et al. Análise comparativa de sensores de velocidade de des-
locamento em função da superfície.Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 25,
n. 3, p.768-773, set. 2005.
MOTTA, Luiz Pacheco; SANTOS, Paulo Marcos Coutinho Dos; SILVA, José
Itamada. Alta disponibilidade de imagens satélites georreferenciadas de alta
resolução para o monitoramento dos recursos naturais renováveis. In: SIM-
POSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 14, 2009, Natal.
Anais... São José Dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), 2009. v. 1, p. 2325 - 2332.

61
CAPÍTULO III

Técnicas de
geoprocessamento aplicado
ao planejamento
ambiental municipal
Pedro Roberto de A. Madruga*

1 Introdução

O
planejamento de uma unidade, seja ela natural,
ou artificial, prescinde de mapas base e temáti-
cos, confiáveis e atualizados. O município, como
uma unidade de planejamento artificial, para ser plane-
jado como um todo deve levar em consideração a questão
ambiental, considerando que o plano diretor é aplicado
à área urbana, rural e ambiental. Para que este plane-
jamento tenha sucesso, deve-se atentar para o que diz o
novo código florestal, Lei 12.651, de 25 de maio de 2012,
pois dela depreende todo o planejamento.
Entende-se que a maioria dos municípios do Brasil
carece de mapas em escala apropriada ao planejamento,

* Professor Titular, Dr. e-mail: pedromadruga@terra.com.br


Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

bem como ao que se refere a sua atualização, com limites confiáveis


e temas devidamente espacializados (uso da terra, rede de drena-
gem, rede viária, etc.), o que faz com que as técnicas de geoprocessa-
mento, como por exemplo, o sensoriamento remoto, a utilização de
sistemas de posicionamento global – GPS, os sistemas de informa-
ções geográficas – SIG, entre outras, sejam as ferramentas primor-
diais para a elaboração dos mapas base e temáticos necessários ao
planejamento municipal ambiental.
Como forma de apresentar e orientar os administradores pro-
pôs-se o presente trabalho, levando em consideração uma região ca-
racterística do Rio Grande do Sul, composta por 9 municípios, para
os quais, como forma de cumprir os objetivos, foram elaborados os
seguintes mapas: Mapa base político administrativo da área rural,
uso da terra, planialtimétrico, rede viária, hidrográfico, hipsométri-
co, classes de declividade, áreas de preservação permanente (APPs)
e conflitos de uso da terra. A região é denominada de Quarta Colô-
nia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul, e localiza-se na re-
gião Centro-Oeste do Estado, entre Santa Maria e Cachoeira do Sul.
De acordo com o exposto acima, determinou-se como objetivo
geral do presente trabalho desenvolver uma metodologia utilizan-
do técnicas de geoprocessamento como forma de facilitar o planeja-
mento ambiental em nível de município. Como objetivos específicos
definiram-se: Elaboração dos mapas base e temáticos necessários
ao planejamento ambiental, quais sejam: Mapa base político admi-
nistrativo da área rural, uso da terra, planialtimétrico, rede viária,
hidrográfico, hipsométrico, classes de declividade, áreas de preser-
vação permanente (APPs) e conflitos de uso da terra.
Os recursos utilizados para o presente trabalho foram obtidos
junto ao CNPq, através da Chamada Pública “Edital MCT/CNPq/
CT-Agronegócio/CT-Hidro nº 27/2008 - Conservação dos Recursos
Hídricos e o Aumento da Produção de Água em Unidades Rurais
de Base Familiar”. Integraram a equipe de elaboração do presente
trabalho, estudantes de graduação, pós-graduação em nível de espe-

63
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

cialização, mestrado e Doutorado do Centro de Ciências Rurais da


Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, bem como técnicos
e demais colaboradores, conforme relação apresentada no relatório
final.

2 Desenvolvimento do trabalho
2.1 Caracterização geral da área

A Região da Quarta Colônia de Imigração do Rio Grande do Sul


foi criada em 1877, na região Centro-Oeste do Estado do Rio Grande
do Sul, localizada entre Santa Maria e Cachoeira do Sul.
A Figura 01 apresenta a localização da região em relação ao Rio
Grande do Sul.

Figura 1: Localização da região da Quarta Colônia de Imigração

Esta região foi criada para receber as primeiras famílias de


imigrantes provenientes do norte da Itália. A região pertencente
ao atual município de Silveira Martins foi o quarto núcleo a ser
colonizado no Estado, depois de Caxias do Sul, Santa Isabel (Bento
Gonçalves) e Conde d’Edu (Garibaldi), sendo a primeira colônia fora
da Serra Gaúcha.
A região foi colonizada através da demarcação de lotes pelos
colonos, os quais possuíam um tamanho médio de 25 has, motivo
pelo qual ainda hoje essa região caracteriza-se como minifúndio
(pequena propriedade rural), bem como pelo baixo grau de indus-
trialização. Com a necessidade de produzir alimentos, foi iniciado
o processo de extração de madeira, iniciando então a fragmentação
das florestas ali existentes.

64
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

A economia apresenta-se pouco diversificada baseando-se fun-


damentalmente na agroindústria, orizicultura e produção de leite,
fazendo com que os produtores se encontrem endividados e mal es-
truturados. A agricultura familiar é predominante, prejudicada pela
dificuldade de escoamento da produção. A indústria da região está
ligada diretamente a agroindústria, prejudicada pela falta de mão
de obra, que em busca de melhores condições de trabalho e estudo,
migram para outras cidades, principalmente para Santa Maria.
Os municípios apresentam uma grande integração, possuindo
um consórcio, o CONDESUS – Consórcio de desenvolvimento Sus-
tentável da Quarta Colônia de Imigração, que possibilita politica-
mente uma união de forças na busca de melhorias para a região.
A região da quarta colônia de imigração possui grandes confli-
tos ambientais, ocasionando poluição das águas e assoreamento dos
cursos d’água. Estes conflitos são ocasionados pelo desmatamento
nas margens dos cursos d’água, seja para aumentar a pequena área
para pastagens e cultivos agrícolas, em especial a orizicultura, oca-
sionando um conflito também com a atual legislação ambiental.
O relevo da região apresenta-se ondulado a montanho-
so, limitando o cultivo agrícola, com topografia influenciando
negativamente no grau de desenvolvimento da região, dificultando
a conservação das estradas e consequentemente o escoamento da
produção.
O solo da região apresenta textura argilosa no relevo ondulado,
caracterizando-se por ser bem drenado, sendo que nas regiões pla-
nas da Depressão Central (Vale do Jacuí) apresenta-se favorável a
orizicultura. A Figura 02 apresenta aspectos do cultivo orizícola da
região.

65
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 2: Área de agricultura irrigada (arroz)

O clima é temperado úmido, apresentando precipitação média


anual que varia de 1500 a 1750 mm. A temperatura se mantém bai-
xa entre os meses de maio a agosto, sendo o inverno muito severo
devido às sucessivas e intensas frentes polares. De abril a setembro
ocorrem fortes chuvas e a formação de geadas, sendo frequente a
formação de nevoeiros e ventos predominantes do quadrante leste.
Quanto à vegetação, na região existe a predominância da Flo-
resta Estacional Decidual, com influencia da Mata Atlântica, cons-
tituindo parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no estado.
Por ser uma região com declividade acentuada, predominam
áreas de preservação permanente (APPs). A região é banhada pelos
rios Jacuí, Vacacaí e Soturno, os quais se apresentam bastante com-
prometidos ambientalmente pelo cultivo do arroz, como pode ser

66
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

observado na Figura 3. Este problema constitui-se na justificativa


da escolha da região para a implantação do presente projeto.

Figura 3: Conflitos ambientais (agricultura em APP).

Os diversos fatores (clima, solo, declividade, cultural, ambien-


tal, entre outros) fazem com que a região seja considerada de gran-
de fragilidade ambiental, exigindo cuidados especiais com relação
de abertura de novas áreas, seja para a pecuária, agricultura ou
industrial. A Figura 04 caracteriza esta fragilidade, mostrando fato
ocorrido com a queda de ponte da principal rodovia de ligação entre
Porto Alegre e Santa Maria (RS 287/Rio Jacuí), ocasionando mortes
na hora da queda.

67
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 4: Queda de ponte na rodovia RS 287.

2.2 Metodologia

2.2.1 Materiais

Para atender os objetivos propostos no presente trabalho, foi


necessário a utilização dos seguintes materiais:

- Materiais cartográficos
. Cartas da Diretoria de Serviços Geográfico (DSG) do Exér-
cito, escala 1:50.000, Datum horizontal Córrego Alegre, fuso 22S,
com as seguintes nomenclaturas: Agudo, folha SH. 22-V-C-V-2,
MI-2966/2; Arroio do Só, folha SH. 22-G-III-4; Cambuí, folha SH.
22-V-C-IV-2, MI-2965/2; Cascata do Ivaí, folha SH. 22-V-C-II-1, MI-
2949/1; Faxinal do Soturno, folha SH. 22-V-C-V-I, MI-2966/1; Jacuí,
folha SH. 22-G-IV-4; Nova Jacuí, folha SH. 22-V-C-II-2, MI-2949/2;
Nova Palma, folha SH. 22-V-C-II-3, MI-2949/3; Restinga Seca, folha
SH. 22-V-C-V-3, MI-2966/3; Sobradinho, folha SH. 22-V-C-II-4, MI-
2949/4; Val de Serra, folha SH. 22-V-C-I-4, MI-2948/4.
. Imagens de média resolução espacial do Satélite Landsat
5-TM, bandas 3, 4 e 5; Imagens de alta resolução espacial do Satéli-
te Quickbird, bandas 1, 2 e 3.

68
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

- Equipamentos
Sistema de posicionamento global (GPS) de navegação; Sistema
de posicionamento global (GPS) topográfico; Equipamentos compu-
tacionais: Notebook Toshiba L305-5 5908, impressora A3 jato de
tinta; Equipamentos agrícolas; Equipamento fotográfico: Câmara
digital Foston FS1360; câmara digital 7.2 W120 Sony; Equipamen-
tos para apresentação didática (apresentação e divulgação do pro-
jeto): Data Show Benq MP512 c/controle; Também foram utilizados
fertilizantes químicos e defensivos agrícolas na fase de adubação e
combate as formigas.
Foram utilizados aplicativos computacionais de sistemas de
informações geográfica, sensoriamento remoto e sistemas de posi-
cionamento global.

2.2.2 Métodos

De forma a cumprir com os objetivos proposto no presente tra-


balho, fez-se necessário desenvolver uma metodologia integrada
com técnicas de geoprocessamento, utilizando sistemas de informa-
ções geográficas (SIG), sensoriamento remoto e sistemas de posicio-
namento global (GPS).
Inicialmente foram necessários a elaboração dos mapas base e
temáticos da região, de forma a detectar as áreas de conflitos.
Os mapas necessários para o presente trabalho foram: Mapa
base político administrativo da área rural, uso da terra, planialti-
métrico, rede viária, hidrográfico, hipsométrico, classes de declivi-
dade, áreas de preservação permanente (APPs) e conflitos de uso da
terra. Estes mapas são descritos na metodologia a seguir e apresen-
tados nos resultados do projeto.

Mapa Base Político Administrativo da Área Rural

Este mapa é a representação espacial da área dos municípios,


com suas delimitações tais como distritos, comunidades, pontos no-

69
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

táveis, igrejas, pontes, bueiros e limites atualizados. Por estar ge-


orreferenciado, serve de base aos mapas temáticos, permitindo con-
sultar a localização imediata, através de coordenadas geográficas
dos pontos de interesse.
Para a elaboração do mapa base político administrativo da
área rural, foram georreferenciadas as cartas da DSG em esca-
la 1:50.000 que cobrem os 9 municípios integrantes da região da
Quarta Colônia de Imigração. Neste mapa constam os seguintes
planos de informação: limites dos municípios, em conformidade com
os limites disponibilizados pelo IBGE; limites das zonas urbanas;
estradas de rodagem pavimentadas e não pavimentadas, estradas
de ferro, constantes dos mapas da rede viária; redes de drenagem e
reservatórios, constantes dos mapas da hidrografia dos municípios.

Uso da terra

O mapa temático de uso da terra foi elaborado através da clas-


sificação digital supervisionada, utilizando-se imagens do sensor
LANDSAT – 5TM, bandas 3, 4 e 5, região do espectro eletromag-
nético correspondente ao vermelho, infravermelho próximo e infra-
vermelho médio, respectivamente. Foram classificados os seguintes
temas de uso da terra: água, agricultura, vegetação arbórea, agri-
cultura irrigada, campo, solo exposto campo/solo exposto.
As imagens são disponibilizadas através do endereço eletrônico
http://www.dgi.inpe.br. De forma a se ter uma melhor visualização e
elaborar a carta imagem, montou-se uma composição colorida RBG
(543).
O método de classificação utilizado foi à classificação supervi-
sionada, onde tendo em conta o conhecimento prévio das áreas em
estudo e adotando critérios de interpretação de imagens, tais como:
padrões de associação de objetos, textura, tonalidade, cor e forma,
assim procedendo-se a uma seleção de amostras confiáveis. Após foi
criada uma assinatura espectral para cada classe. Para a classifi-
cação automática utilizou-se o método de Máxima Verossimilhança

70
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

(MAXVER) que se baseia no cálculo da distância estatística entre


cada pixel e a probabilidade de cada pixel pertencer à determinada
classe, com a opção de igual probabilidade de ocorrência para cada
assinatura e uma proporção de exclusão dos pixels de 0% classifi-
cando, desta forma, todos os pixels da imagem.
Este mapa é indispensável ao planejamento ambiental, pois é
um dos melhores indicativos das propriedades do solo e, possibilita
um manejo eficiente dos recursos naturais renováveis.

Planialtimétrico

O mapa planialtimétrico permite o reconhecimento do rele-


vo, bem como a correta utilização dos temas de uso da terra, pois
enfatiza a rede de drenagem com as curvas de nível, muito usado
para o planejamento de barragens e levantamento das APPs. Mapa
importante que serve de instrumento para a Defesa Civil e para o
planejamento ambiental da região da Quarta Colônia de Imigração,
através da locação de áreas inundáveis.
Para a elaboração do mapa temático planialtimétrico, foram
digitalizadas as curvas de nível constantes nas cartas da DSG, em
escala 1:50.000, com equidistância das curvas de nível de 20 em 20
metros. Para uma melhor visualização, foi adicionada na edição a
rede de drenagem. É um importante mapa, pois serve de instru-
mento para a Defesa Civil e para o planejamento ambiental através
da locação de áreas inundáveis por meio do Modelo Numérico do
Terreno.

Rede viária

O mapa temático da rede viária foi elaborado através da digi-


talização da rede viária das cartas da DSG, levando-se em conside-
ração as estradas de rodagem pavimentadas e não pavimentadas.
Foram digitalizadas também as estradas de ferro. Considerando
que as cartas da DSG são desatualizadas, foi necessário realizar
a reambulação (levantamento de campo) utilizando-se GPS de na-

71
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

vegação. Em algumas áreas, a interpretação visual das imagens


LANDSAT – 5/TM, com resolução espacial de 30 metros e Quickbird
com resolução espacial de 60 centímetros, foram suficientes para a
atualização. Para uma melhor visualização dos mapas, foi adiciona-
do o plano de informação (layer) dos limites das áreas urbanas dos
municípios.
A rede viária desempenha importante papel para todo e qual-
quer planejamento, pois é dele que se obtém informações de uma
melhor rota para o escoamento da produção agrícola, planejamento
do transporte escolar, vias de acesso à cidade, entre outros. Serve
também para estudo e planejamentos de novas rodovias, estradas,
caminhos.

Hidrográfico

A hidrografia da região foi obtida através da digitalização da


rede de drenagem constante nas cartas da DSG. Considerando que
as cartas estão desatualizadas, foram digitalizados os reservatórios
constantes nas imagens dos sensores LANDSAT – 5TM e Quick-
bird. Deve-se levar em consideração as escalas das cartas da DSG,
1:50.000, e a resolução espacial dos sensores (pixel de 30 metros
para o sensor LANDSAT – 5/TM e 60 centímetros para o sensor
Quickbird), os quais possibilitam uma escala maior, ocasionando
em alguns casos a descontinuidade entre os reservatórios e a rede
de drenagem.
O mapa temático hidrográfico tem importância direta no pla-
nejamento ambiental, visto que fornece informações como: áreas
propícias ao reflorestamento das matas ciliares, nascentes e bar-
ragens, locação de pontes e bueiros, áreas com potencial hídrico e
exploração do turismo afim de um desenvolvimento local e regional.
Este mapa é fundamental na determinação das APPs.

72
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Hipsométrico

A hipsometria preocupa-se em estudar as relações existentes


em determinada unidade horizontal de espaço, no tocante à sua dis-
tribuição em relação às cotas altimétricas, indicando a proporção
ocupada por determinada área da superfície terrestre em relação às
variações altimétricas a partir de determinada base.
Permite o reconhecimento do relevo, bem como a correta uti-
lização dos temas de uso da terra, pois enfatiza principalmente a
declividade das vertentes. É importante ferramenta para planeja-
mento da rede viária, barragens, levantamento das APPs, e para a
identificação de impactos de uso. Importante instrumento para a
Defesa Civil e para o planejamento dos novos projetos de ocupação
do solo, pois possibilita a locação de áreas inundáveis através da
modelagem do terreno.
O mapa temático hipsométrico foi elaborado através da mode-
lagem numérica do terreno (DTM), levando-se em consideração as
curvas de nível com equidistância de 20 em 20 metros, digitalizadas
das cartas da DSG.

Classes de declividade

O mapa de declividade do terreno constitui-se em um impor-


tante instrumento de apoio a estudos de potencialidade de uso agrí-
cola de uma determinada região, pois representa a forma do relevo,
enfatizando as inclinações das vertentes. É indispensável nos le-
vantamentos de uso da terra. Permite indicar a correta e melhor
utilização do terreno, sendo fundamental para o planejamento de
técnicas conservacionistas no manejo de bacias hidrográficas. Fer-
ramenta importante para planejamento ambienta, como a definição
das APPs, áreas de exploração e outras atividades de impacto.
Para a elaboração do mapa temático das classes de declivi-
dade utilizou-se algoritmo que leva em consideração a modelagem
numérica do terreno (DTM), obtido pela interpolação das curvas de

73
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

nível das cartas da DSG. O mapa das classes de declividade é apre-


sentado em porcentagem (%), considerando-se as seguintes classes:
0 a 3%, 3 a 8 %, 8 a 13 %, 13 a 20 %, 20 a 45 %, 45 a 100 % e maior
que 100 %. Esta classificação facilita o planejamento rural e princi-
palmente a definição das áreas de preservação permanente (APPs).
Na representação dos mapas, é apresentada tabela contendo a clas-
se e a respectiva área em ha.
As classes de declividade indicam o grau de limitação do uso do
solo em função da susceptibilidade a erosão.

Áreas de preservação permanente

As áreas de preservação permanente da área rural da re-


gião foram mapeadas levando-se em consideração a atual legisla-
ção ambiental. Para a elaboração do mapa das APPs, utilizou-se a
digitalização da rede de drenagem, reservatórios, nascentes e de-
clividades superiores a 100 %. Os mapas são apresentados conten-
do a seguinte legenda: Limites municipais, limites urbanos, cursos
d’água/nascentes/reservatórios, topo de morro e declividade supe-
rior a 100%.
Os mapas de APPs são formas de preservar as matas ciliares
ao longo dos cursos d’água recursos hídricos. A largura da faixa de
mata ciliar a ser preservada esta relacionada com a distância de
margem a margem do curso d’água. A faixa mínima a ser preser-
vada é de 30 metros, em cada margem, porém, essa largura pode
variar.

Conflitos de uso da terra

Os conflitos de uso da terra foram mapeados levando-se em


consideração os mapas de uso da terra e os mapas das áreas de
preservação permanente. Para tanto, foram cruzados os planos de
informações de forma a apresentar as áreas onde deveriam ser pre-
servação permanente e na realidade a ocupação do solo apresenta,
por exemplo, agricultura. A legenda apresenta os temas de uso da

74
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

terra em áreas de preservação permanente (Água, agricultura, ve-


getação arbórea, agricultura irrigada, campo e solo exposto), sendo
que somente os temas agricultura, agricultura irrigada, campo e
solo exposto, são considerados conflitos.

2.3 Apresentação, análise e discussão dos resultados

A seguir serão apresentados os resultados referentes aos ma-


pas elaborados no presente projeto: Mapa base político administra-
tivo da área rural, uso da terra, planialtimétrico, rede viária, hidro-
gráfico, hipsométrico, classes de declividade, áreas de preservação
permanente (APPs) e conflitos de uso da terra. Estes mapas são
apresentados a seguir, como resultados do trabalho.

Mapa base político administrativo da área rural

Os municípios componentes da região e apresentados nos ma-


pas são: Ivorá, São João do Polêsine, Nova Palma, Faxinal do So-
turno, Pinhal Grande, Dona Francisca, Agudo, Restinga Seca e Sil-
veira Martins.
A Figura 05 apresenta a espacialização dos municípios compo-
nentes da região da Quarta Colônia de Imigração, bem como as to-
ponímias, estradas, rede de drenagem, municípios lindeiros, entre
outros temas de interesse.
Durante a elaboração do presente mapa observou-se que al-
guns dos municípios pertencentes à região possuíam problemas nos
limites, áreas que teoricamente pertenciam a um determinado mu-
nicípio, na realidade pertenciam a outro. Portanto, a elaboração do
presente mapa veio a dirimir estas dúvidas. Este problema é uma
constante no Rio Grande do Sul, talvez seja motivado pela escala de
representação dos limites dos mapas apresentados pelo IBGE (Es-
cala de 1:250.000). Mesmo os municípios que tem os seus limites por
rede de drenagem apresentam algum tipo de problema, pois muitas
vezes esta drenagem já foi alterada, em função das cartas da DSG
terem sido elaboradas na década de 70.

75
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 5: Mapa político administrativo.

Uso da terra

A Figura 06 apresenta a espacialização e quantificação dos te-


mas de uso da terra da região, a saber: Água, agricultura, agricul-
tura irrigada, vegetação nativa, campo, solo exposto, campo/solo ex-
posto e área urbana. Conforme Tabela 01, o tema com maior repre-
sentatividade é agricultura (agricultura irrigada), sendo o de menor
representatividade o tema área urbana, com 0,74 % da área total.

76
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Tabela 1: Quantificação dos temas de uso da terra.

Pela tabela acima se pode observar que a área mapeada é de


290.405,28 hectares.

Figura 6: Mapa de uso da terra.

77
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Rede viária

Conforme Tabela 02, pode-se observar que a região apresenta
na sua maioria (1.980,26 quilômetros) de estradas não pavimenta-
das, e 132,14 quilômetros de estradas pavimentadas.

Tabela 2: Quantificação da rede viária da região.

Existem ainda na região 53,62 quilômetros de ferrovia, sendo


que esta é de uso somente para o transporte de cargas.
A Figura 07 apresenta a espacialização da rede viária da região
da Quarta Colônia de Imigração. Pode-se verificar que a maior con-
centração de rodovias ocorre na área central da região.

78
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 7: Mapa da rede viária.

Hidrográfico

A Figura 08 apresenta o mapa da hidrografia da região, onde


se pode verificar a sua espacialização. Este mapa é fundamental
para a determinação das áreas de preservação permanente - APPs,
considerando a legislação ambiental.
Com este mapa foi possível verificar em quais bacias hidrográ-
ficas os municípios estão inseridos.

79
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 8: Mapa hidrográfico.

Hipsométrico

O mapa apresentado pela Figura 09 mostra a espacialização


das variações das altitudes na região, podendo ser observado que a
área da metade sul apresenta menor altitude, atingindo um máxi-
mo na metade norte da região de 620 metros.

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Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 9: Mapa hipsométrico.

Classes de declividade

O mapa de classes de declividade indica as áreas com declivida-


de superior a 100 %, áreas consideradas de preservação permanen-
te. Indica também as áreas destinadas à agricultura e pastagens. A
Tabela 03 apresenta a quantificação de cada classe de declividade,
sendo que a classe que apresenta maior declividade (> 100 %) é a

81
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

que apresenta menor área (735,42 ha), área considerada de preser-


vação permanente.
A declividade que apresenta maior área é classe entre 0 e 3%
(138.105,70 ha).

Tabela 3: Quantificação das classes de declividade.

A Figura 10 apresenta a espacialização das classes de declivi-


dade da região. Como podem ser observadas, as áreas de maior de-
clividade estão situadas no centro da região, área onde se concentra
a vegetação nativa.

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Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 10: Mapa de classes de declividade.

As menores declividades se concentram na região sul, área com


grande presença de cultura irrigada. Na parte norte, as declivida-
des são médias, propícias a culturas não irrigadas.

83
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Áreas de preservação permanente

O mapa das áreas de preservação permanente foi elaborado le-


vando-se em consideração a legislação ambiental atual. Para tanto
foram cruzados os planos de informações (layers) classes de decli-
vidade (declividade superior a 100%) e hidrografia (rede de drena-
gem, nascentes e reservatórios). Neste procedimento empregou-se
a tecnologia SIG. A Figura 11 apresenta a espacialização das APPs
na região.

Figura 11: Mapa das áreas de preservação permanente – APPs.

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Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Conflitos de uso da terra

A Figura 12 apresenta a espacialização das áreas de conflito


da Região da Quarta Colônia da Imigração. Este mapa foi obtido
através de operações no SIG estruturado para o presente trabalho.
O mapa de conflitos é resultado do cruzamento dos planos de infor-
mações (layers) uso da terra X áreas de preservação permanente
(APPs).

Figura 12: Mapa de conflitos de uso da terra.

85
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

3 Conclusões
Pela análise dos dados, pode-se concluir que os resultados
obtidos cumpriram plenamente com os objetivos propostos no
presente trabalho, porém alguns pontos devem ser salienta-
dos, a saber:
– Nem todos os municípios da região da Quarta Colônia de
Imigração apoiaram integralmente o trabalho, caso do mu-
nicípio de Pinhal Grande. Possivelmente pela administração
entender que as áreas conflitantes que deverão ser recupe-
radas/reflorestadas iriam retira áreas destinadas à agricul-
tura. Convém salientar que este município encontra-se nas
nascentes das redes de drenagem que cobrem grande parte
da região.
– O projeto teve grande apoio dos ambientalistas, como era de
se esperar, bem como das secretarias de meio ambiente dos
municípios de Nova Palma, São João do Polêsine, Faxinal do
Soturno e Restinga Seca;
– Em algumas áreas identificadas como conflito, alguns agri-
cultores que possuem terras ao longo das margens de rios,
estão perdendo área de agricultura e pastagem, as quais es-
tão sofrendo erosão, necessitando de investimentos. Estes
investimentos são necessários para a construção de obras de
engenharia, os quais deverão ser buscados junto aos gover-
nos Estadual e/ou Federal, considerando os poucos recursos
dos governos municipais;
– Considerando que a região nos últimos anos vem alternando
períodos de grande estiagem e inundações, bem como a in-
tervenção dos órgãos de fiscalização ambiental e o Ministério
Público, os agricultores buscam uma forma de compatibili-
zar as suas atividades com a preservação ambiental. Para
tanto, algumas entidades procuram alternativas econômica
e ambientalmente sustentável. Estas alternativas em muitos

86
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

casos passam pela instalação de pequenas agroindústrias, o


que certamente necessita de no mínimo uma regularização
junto aos órgãos de fiscalização (Secretaria de saúde, Secre-
taria de Agricultura, etc.), o que dificulta a sua legalização.
Em alguns casos, os agricultores estão se reunindo em pe-
quenas cooperativas, o que pode ser uma boa alternativa.

Referências bibliográficas
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de áreas de preservação permanente. 2008. 70f. Monografia (Especiali-
zação em Geomática) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria,
2008.
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1998. 274p.
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São José dos Campos: Edgard Blücher,1999.
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Fora, MG : Ed. do Autor, 2000. 220 p.
SANTOS, R.F.dos. Planejamento Ambiental: teoria e prática, São Paulo,
oficina de textos, 2004.

87
CAPÍTULO IV

O uso do geoprocessamento:
uma análise de duas áreas no
instituto federal de educação,
ciência e tecnologia do
rio grande do sul - ifrs,
campus de sertão/rs
Daiane Tonet*
Serleni Geni Sossmeier**
Jéssica Piroli***
Alcindo Neckel****

Introdução

O
geógrafo, segundo Neckel et al. (2009), tem a ca-
pacidade de desenvolver uma visão ampla sobre o
ambiente degradado, uma visão geral do espaço e,

*
Acadêmica do Curso de Agronomia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul,
campus Sertão, RS. daiane.dtonet.tonet@gmail.com
***
Acadêmica do Curso de Agronomia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul,
campus Sertão, RS. serleni.labjacui@yahoo.com.br
***
Acadêmica do Curso de Agronomia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul,
campus Sertão, RS. jehpiroli@hotmail.com
****
Geógrafo, Gestor Ambiental. Professor do Instituto Federal do Rio Grande
do Sul, campus Sertão, RS. Doutorando do Programa de Pós Graduação em
Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. alcindo-
neckel@yahoo.com.br
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

assim, é capaz de recuperá-lo para o bem comum da sociedade. Mas,


para isso, torna-se necessária a coleta de dados acerca do objeto de
estudo, o que resultará em análise precisa, para uma possível con-
clusão sistêmica deste local (CAO, 2011).
O georreferenciamento torna-se uma ferramenta adequada
para a coleta de dados amostrados em uma determinada área. Para
a coleta desses dados, deve-se fazer uso do sistema de GPS. Isso
vem alterando os métodos geodésicos e encontrando aplicações nas
mais diversas áreas, tais como navegação, agricultura, controle am-
biental etc. Essas diferentes aplicações  decorrem da simplicidade
operacional na utilização do sistema. Assim, o uso do GPS, como
qualquer outro sistema de satélite, requer bases de referência bem
definidas, consistentes, globais e geocêntricas. Isso significa que
consideram toda a forma física do Globo Terrestre (PINA; SANTOS,
2000).
O uso impróprio das tecnologias voltadas ao geoprocessamento,
“sem as devidas observações de critérios técnicos quanto aos limites
de cada equipamento, tem levado a inúmeros erros em processos,
pareceres e projetos, muitas das vezes comprometendo o resultado
final dos trabalhos desenvolvidos” (SILVA, 2002, p.13). Faz-se, as-
sim, a compilação desses dados e a projeção de informação, o que se
dá, na maioria das vezes, na forma de mapas, gráficos, altimetria
do terreno e inúmeras outras formas de representação que venham
a retratar o terreno estudado.
Este estudo faz uma comparação, na utilização do GPS de Pre-
cisão e de Navegação, para a coleta de dados (Coordenadas Geográ-
ficas: latitude e longitude e altitude), em duas áreas do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
– IFRS, campus de Sertão/RS.
O processamento de informações nos programas Surfer 10 e Tra-
ck Maker facilitou a visualização de diferentes dimensões da área
estudada e possibilitou uma análise do plano altimétrico do terreno,

89
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

com suas derivações de curva de nível, sombreamento, morfologia


e direções hídricas. Essas informações coletadas a campo, por GPS,
poderão servir de modelo para a elaboração do plano de manejo, re-
presentações cartográficas. Esses dados de representação, quando
associados a uma proposta futura de zoneamento ambiental, pres-
tam-se também à elaboração de cartas temáticas (uso e ocupação do
solo) como um dos elementos fundamentais da paisagem urbana da
área representada.
Esta pesquisa objetiva trabalhar com análise de terreno, utili-
zando-se de diferentes dados geográficos que busquem uma repre-
sentação real do terreno.

Sistema de Posicionamento Global (GPS) e suas características

“Sistema Global de Posicionamento (GPS) é um sistema de po-


sicionamento contínuo e determinação de velocidade, baseado em
satélites e operado pelo Departamento de Defesa dos EUA”. O pro-
grama é composto por três segmentos (PINA; CRUZ; MOREIRA,
2000, p. 68-69):
[...] 1 - Segmento Espacial: Sistema NAVSTAR – GPS, com
as seguintes características: 24 satélites, 3 planos orbitais
com 8 satélites cada, altitude 20.000 km, órbita circular, pe-
ríodo de 12 horas e elipsoide – GRS-80, Datum World Geode-
tic System WGS-84.
2 - Segmento de Controle: Consiste em estações de con-
trole localizadas no EUA e que monitoram todos os satélites
GPS, fazendo as correções orbitais e determinando erros nos
relógios atômicos a bordo dos satélites.
3 - Segmento Receptor ou de Usuários: Envolve os re-
ceptores (aparelhos de GPS) e antenas que recebem as in-
formações dos satélites e calculam a sua posição precisa e a
velocidade.

90
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

O uso do Sistema de Posicionamento Global permite “que de


qualquer lugar da superfície da Terra, em qualquer hora do dia seja
possível determinar a posição de um ponto foi estabelecido um es-
quema orbital, de tal forma que sempre exista um mínimo de seis
satélites eletronicamente visíveis” (PINA; CRUZ; MOREIRA, 2000,
p. 68). Isso é feito por satélites que estão orbitando ao redor do Pla-
neta Terra, conforme os três segmentos que compõem o sistema NA-
VSTAR-GPS, representados pela Figura 1.

Figura 1: Representação dos três segmentos que compõem o sistema


NAVSTAR-GPS.
Fonte: Silva (2002, p. 16).

A vantagem do GPS de Navegação está na gratuidade do sis-


tema. Levantamentos feitos com o mesmo não implicam aumento
da equipe de campo e a qualificação dos usuários não exige conhe-
cimentos específicos, como nos casos das técnicas convencionais.
Além disso, a interferência do operador é minimizada. A quase to-

91
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

talidade das informações é obtida e armazenada eletronicamente e


há implantação de pontos de apoio e de georreferenciamento para
fotogrametria e o sensoriamento remoto. Deve-se registrar que o
sistema é extremamente preciso, tem cobertura mundial por 24h,
em qualquer condição de tempo, sistema estável, devido à órbita
elevada. E a hora é precisa, pois o receptor corrige-a constantemen-
te, baseado no relógio atômico dos satélites.
Segundo Harbuck (et al., 2006), assim como existem inúme-
ras facilidades com o GPS de Navegação também existem algumas
desvantagens como a susceptibilidade às interrupções nos sinais
transmitidos pelos satélites, sobretudo em áreas próximas a edifi-
cações muito altas ou de densa cobertura arbórea; o sistema pode
ser desligado a qualquer momento pelo Departamento de Defesa
dos EUA, requer equipamentos adicionais para maior precisão: An-
tenas, DGPS, WAAS, entre outros; há necessidade de, no mínimo,
três satélites, pois necessita de perfeita visibilidade com os satéli-
tes acima do horizonte (sem ocultações) e interferências com o sinal
(opera por radiofrequência).
O GPS de Precisão, também conhecido como de levantamento,
geodésico ou DGPS, é o recomendado para o levantamento de dados
para atividades profissionais. A precisão desses aparelhos é ampla-
mente superior à dos GPS de navegação, e é proporcionada pela
forma de armazenamento de dados, brutos para posterior processa-
mento, e da presença de filtros, que garantem a qualidade dos dados
(HARBUCK, et al., 2006).
Atualmente, cada vez mais se torna mais ampla a magnitude de
aplicações do sistema GPS. Dentre as utilizações está a navegação
de todos os tipos (aérea, marítima, terrestre, espacial, nos portos,
fluvial etc.) (TERRACE, 2011). Segundo Pinto (2010), o estabeleci-
mento de redes nacionais e regionais de apoio geodésico serve para
aplicação em geodinâmica para detecção de movimentos da crosta
terrestre, na fotogrametria, sem necessidade de pontos de contro-
le do terreno, em levantamentos topográficos, no gerenciamento de

92
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

rotas de transportes, em estações geodésicas ativas e na coleta de


dados para Sistemas de Informações Geográficas (SIG).
Segundo Bernardi e Landim (2002, p. 5), “os satélites que com-
põem o segmento espacial do sistema GPS orbitam ao redor da Ter-
ra distribuídos em seis órbitas distintas, a uma altitude de 20.200
km, distribuídos em seis planos orbitais com uma inclinação de 55º
em relação ao equador”, somando, assim, “um período de resolução
de 12 horas siderais. Isso vem acarretar uma repetição na configu-
ração dos satélites com uma reprodução de quatro minutos mais
cedo diariamente em um mesmo local”. Nesse sentido, a função do
segmento espacial que se encontra em órbita (Figura 2), consiste em
transmitir os sinais para o GPS, o que pode ser chamado de códigos,
portadoras e mensagens de navegação.

Figura 2: Planos orbitais dos satélites da constelação GPS.


Fonte: Adaptado de Bernardi e Landim (2002, p. 6).

93
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

O segmento de controle é responsável pelo sistema de operação


do GPS. Conforme Brilis (et al., 2006), a sua função é atualizar a
mensagem de navegação transmitida pelos satélites. Esse segmen-
to é formado por estações de monitoramento estrategicamente espa-
lhadas pelo mundo e refere-se a tudo o que se relaciona com a comu-
nidade usuária para determinação de posição, velocidade ou tempo.
Os receptores GPS são constituídos basicamente de uma ante-
na, um pré-amplificador e uma unidade na qual estão integrados
todos os elementos eletrônicos necessários ao controle, ao registro e
à visualização dos dados (BRILIS et al., 2006). Por isso, são objetos
de suma importância para a localização em um determinado ponto
na Terra.

O Sistema de Informação Geográficas (SIG) e sua


aplicabilidade técnica

O Sistema de Informações Geográficas (SIG), conforme Miran-


da (2010), vem evoluindo nos últimos. Sua evolução científica e as
mudanças no sistema são sentidas à medidas que essas ferramen-
tas necessitam de modernização. Isso tudo depende muito dos avan-
ços e dos investimentos em tecnologia voltada ao SIG e de um maior
número de satélites que permitam identificar, localizar e visualizar
alvos em diferentes locais da Terra (GOODCHILD, 2000).
Segundo Câmara e Davis (2001, p.2), “as primeiras tentativas
de automatizar parte do processamento de dados com característi-
cas espaciais aconteceram na Inglaterra e nos Estados Unidos, nos
anos 50, do século XX, com o objetivo principal de reduzir os custos
de produção e manutenção de mapas”.
A partir da década de 60 (século XX), surgiram os primeiros
SIG, “no Canadá, como parte de um esforço governamental para
criar um inventário de recursos naturais”. Em relação ao sistema
utilizado, “eram muito difíceis de usar: não existiam monitores
gráficos de alta resolução, os computadores necessários eram ex-
cessivamente onerosos, e a mão de obra tinha que ser altamente

94
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

especializada e, portanto também muito onerosa”. Além disso, ha-


via pouca capacidade de armazenar informações nos computadores,
que tinham a velocidade de processamento muito baixa (CÂMARA;
DAVIS, 2001, p. 2).
A respeito da evolução da informática, “esta definição tem gran-
de influência de uma linguagem comum da área de computação.
Isto pode levar o leitor a pensar que um SIG só passou a existir com
o advento do computador” (MIRANDA, 2010, p. 19).
Sendo assim,
[...] a evolução do conceito de SIG se relaciona com as diferentes áreas de
pesquisa que contribuíram para o seu desenvolvimento como informáti-
ca, que enfatiza a ferramenta banco de dados ou linguagem de programa-
ção; geografia, que o relacionam a mapas, e outros que ainda enfatizam
aplicações como suporte à decisão. Nos próximos itens um breve histórico
da evolução de SIG, suas definições e conseqüentes contradições e, por
último, o surgimento do SIG como uma nova disciplina, vista como uma
verdadeira ciência da informação, e seu potencial ainda não totalmente
exaurido (MIRANDA, 2010, p. 19).

Ao considerar esda evolução do SIG, a partir dos anos 1970,


segundo Bergamaschi (2010, p. 31), “foram desenvolvidos novos e
mais acessíveis recursos computacionais, tornando viável o desen-
volvimento de sistemas comerciais”. A expressão Sistema de Infor-
mações Geográficas foi criada e “começaram a surgir os primeiros
sistemas comerciais de CAD (Computer Aided Design, ou Projeto
Assistido por Computador), que melhoraram em muito as condições
para aprodução de desenhos e plantas para engenharia”. Isso possi-
bilitou o avanço cartográfico na época. Entretanto, devido aos cus-
tos altos dos computadores em 1970 e ao “fato destes sistemas ainda
utilizarem exclusivamente computadores de grande porte, apenas
grandes organizações tinham acesso à esta tecnologia” (BERGA-
MASCHI, 2010, p. 32).
Já, em 1980, em razão da facilidade no armazenamento de in-
formações ocorreu, um crescimento em escala mundial em se tra-
tando da manipulação das informações geográficas por computador.

95
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Pode-se afirmar que


[...] A informação geográfica se relaciona a locais específicos, possuindo
um sistema de referência ou localização espacial através de um sistema
de coordenadas. Este processo resultou no desenvolvimento e evolução de
sistemas que ficaram conhecidos como SIG. Enfatiza-se que o uso das in-
formações na forma digital (legível por computador) não representa fato
novo, mas o uso do termo no dia-a-dia desenvolveu-se naquela década.
O SIG não evoluiu de forma isolada, mas do esforço conjunto de outras
tecnologias e áreas de aplicação. A tecnologia de SIG representa uma con-
vergência entre diferentes disciplinas que têm a localização geográfica
como seu objeto de estudo (MIRANDA, 2010, p. 19).

No decorrer dos anos 80 do século XX, com a grande populariza-


ção e com o barateamento das estações de trabalho gráficas, além do
surgimento e da evolução dos computadores pessoais e dos sistemas
gerenciadores de bancos de dados relacionais, ocorreu uma gran-
de difusão do uso do SIG (CÂMARA, DAVIS 2001; GOODCHILD,
2009).
No final da década de 90 e no início do século XXI, os SIG come-
çam a se tornar corporativos e orientados à sociedade, com a utiliza-
ção da Internet, de bancos de dados geográficos distribuídos e com
os esforços realizados em relação à interoperabilidade dos sistemas
(CÂMARA, DAVIS 2001; BRILIS et al., 2006; HARBUCK, et al.,
2006; FERNANDES, 2007; FREIRE, 2009; MIRANDA, 2010; CAO,
2011; GOODCHILD, 2011).
Durante o ano de 1992, a Internet teve um efeito dramático
sobre SIG, quando foram lançados os primeiros navegadores. As
primeiras aplicações oportunizaram a divulgação de dados e muitos
governantes do mundo todo investiram no SIG. “Uma das primeiras
delas foi a Alexandria Biblioteca Digital da Universidade da Cali-
fórnia, Santa Barbara, início desenvolvido em 1993, como um meca-
nismo on-line para acessar os mapas na biblioteca da universidade”.
O conceito evoluiu para o Geoportal, um único ponto de entrada
para as participações de muitos usuários, em bibliotecas digitais.
“O Governo dos EUA Geoespacial One-Stop é típico deste gênero”
(GOODCHILD, 2011, p. 1).

96
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Conforme Goodchild (2011, p. 1), o Google Earth e Google Maps,


em 2005, permitiram a muitos usuários suas primeiras experiên-
cias com o uso do SIG, “para gerenciar e exibir informação geográ-
fica, e para executar funções simples. Além disso, a publicação das
interfaces de programação de aplicativos desses serviços permitiu
que os usuários a desenvolver suas próprias aplicações avançadas”.
Esse fato possibilitou que as tecnologias pudessem ser utilizadas de
forma gratuita e eficaz pela população em geral.
Segundo Câmara e Davis (2001), Fernandes (2007), Freire
(2009) e Goodchild (2011), os SIG permitem a coleta, a informação,
a manipulação, a análise e a representação de informações sobre a
espacialidade do terreno a ser analisado. Para que isso aconteça, o
primeiro passo consiste no desenvolvimento de uma base de dados.
Com isso, dá-se início ao processo de implementação de um siste-
ma, sobre o qual os especialistas e técnicos do geoprocessamento
desenvolvem bases geográficas, que funcionarão como sustentação
na representação de um plano real (MIRANDA, 2010).
Para Davis e Câmara (2001), a captação de dados que permite
o desenvolvimento de mapas representativos para a sua digitaliza-
ção, que é feita com a criação de feições (pontos, cujo conjunto geram
linhas e polígonos) que acompanham o contorno da área digitaliza-
da, ou seja, os mapas nada mais são do que conjuntos de pontos,
linhas e polígonos. Esses elementos são sobrepostos em camadas
ou layers, isto é, uma camada ou mais de pontos sobrepostos sobre
uma ou mais camadas de linhas e assim por diante. Na realidade,
as linhas e os polígonos são os principais elementos dentro de uma
base geográfica (PINTO, 2010).
Atualmente, já é possível elaborar bases de dados geográficos
de SIG, apenas com o aparelho de GPS. Isso dispensa o uso de anti-
gos aparelhos de topografia (Estação Total), pois, o georreferencia-
mento permite a coleta de dados a campo e, posteriormente, o ge-
oprocessamento desses dados permite a elaboração de mapas, com
confiabilidade. Isso só é possível se o aparelho de GPS for de preci-

97
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

são, conforme prevê a Norma Técnica para Georreferenciamento de


Imóveis Rurais, em sua 2º edição, que permite um erro de até 50 cm
em cada ponto (BRASIL, 2010).
Por meio do SIG, torna-se possível trabalhar com uma grande
quantidade de informações, tomar decisões em tempo real, tornan-
do-se fácil a gestão e o armazenamento de dados geográficos e rapi-
dez na atualização dessas informações.

Metodologia

O município de Sertão (Figura 3) localiza-se ao norte do Estado


do Rio Grande do Sul (RS), é constituído por 6.294 habitantes e tem
uma área de 439 km², já tendo sido distrito de Passo Fundo. Con-
forme o Instituto Brasileiro de Florestas, o município possui esse
nome graças ao bioma que o constitui, um bioma de Mata Atlân-
tica, caracterizado por um diversificado conjunto de ecossistemas
florestais com estrutura e composições florísticas bastante diversi-
ficadas, conforme o IBGE (2012). Sua origem deve-se à construção
da estrada de ferro na região. A divisão territorial datada em 2001
determina que o município é constituído por dois distritos: Sertão e
Engenheiro Luiz Englert.
O campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecno-
logia do Rio Grande do Sul – IFRS localiza-se na Rodovia RS 135,
km 25, no Distrito Engenheiro Luiz Englert, e possui área total de
237 hectares.

98
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 3: Mapa de localização do município de Sertão (RS).

A pesquisa constituiu-se por ações que contemplaram o esta-


belecimento de diretrizes para a elaboração de representações do
terreno amostrado, com as seguintes ações metodológicas:
a) embasamento científico: para isso buscaram-se autores que
tratam a respeito do tema proposto. Analisaram-se também
relatórios técnicos e ferramentas computacionais cadastra-
das em órgãos competentes que possibilitaram o uso do Sis-
tema Integrado de Georeferenciamento e o Sistema de Infor-
mações Geográficas (SIG);
b) análise do ambiente físico e geoprocessamento dos dados: ela-
borou-se um banco de dados georreferenciados de elementos
estruturais da paisagem e um diagnóstico ambiental identi-
ficando os riscos e as ameaças que comprometem a qualidade
ambiental da área. Para isso, foram utilizados dois GPSs. O
GPS de navegação e outro GPS de precisão, para analisar a
diferença de ambos ao marcar o mesmo ponto. Para a prá-
tica, foi escolhida a área localizada em frente ao Centro de

99
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Ensino Superior do Instituto Federal de Educação, Ciência


e Tecnologia do Rio Grande do Sul, campus Sertão, RS. Essa
área foi denominada Área 1. O levantamento foi iniciado nas
proximidades do pórtico, onde o primeiro ponto e o Norte geo-
gráfico foram marcados. Em todos os pontos, foram anotadas
a longitude, a latitude e a altitude, a fim de se processar um
mapa planialtimétrico das áreas.
A marcação dos pontos foi feita em torno da Área 1, nas pro-
ximidades da cerca, que segue fielmente o marco da divisa do Ins-
tituto. Depois, foram coletadas as coordenadas no final do campo
de futebol, que se encontra nessa área, e finalizou-se marcando o
contorno superior da área à beira da rua que dá acesso ao Centro
de Ensino Superior, chegando ao ponto de partida para completar o
mapa. Feito, o contorno da Área 1, realizou-se a marcação de pontos
de interno, para a aquisição do mapa 3D do local. Após a verificação
das coordenadas de todos os pontos, efetuou-se a conversão de graus
para UTM (Universal Transverse Mercato), para a elaboração de
mapas no programas SURFER 10 e TRACKMAKER.
A segunda área amostrada, denominada Área 2, encontra-se
nas proximidades do Centro de Ensino Superior e do silo. O mé-
todo de levantamento foi o mesmo utilizado na Área 1: coleta de
coordenas em torno da área, com base nas divisas, levando-se em
conta as longitudes, as latitudes e a altitude de cada ponto. Porém,
nessa área, não se fez necessária a coleta de pontos internos, sen-
do, portanto, levantados somente os pontos de contorno externo. Da
mesma forma, realizou-se a conversão das coordenadas para UTM e
geraram-se os mapas no SURFER 10 e no TRACKMAKER.
Após essas etapas, realizou-se união das Áreas 1 e 2, o que pos-
sibilitou analisar o seu tridimensionamento (3D).
Segundo Santos, Pina e Carvalho (2000, p. 25), num mapea-
mento utilizando os SIG, alguns importantes passos podem ser
enfatizados: especificação do problema – em que a definição clara
dos problemas espera seja solucionada com o SIG –, a causa do de-

100
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

senvolvimento e o tipo de conhecimentos a serem originados pelo


sistema. Com a demarcação da base de dados, pode-se apresentar
uma listagem de elementos necessários para atingir as finalidades
propostas e a forma de obtenção dos mesmos. Logo, a geração das
bases de dados é a parte indispensável na implementação; é a ela
que se deve maior zelo para garantir a qualidade da aquisição de
informações para aperfeiçoar os diagnósticos do sistema.
Fazendo-se a manipulação das bases armazenadas e a aquisi-
ção das bases metodológicas, foi possível desenvolver o fluxograma,
representado pela Figura 4.

Figura 4: Fluxograma da pesquisa.

101
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Resultados e discussão

Levantamentos e projeções da Área 1

O estudo foi realizado na área em frente ao Centro de Ensino


Superior do IFRS, campus Sertão, que foi denominada Área 1. Essa
área contempla um campo de futebol, um campo nativo e uma pe-
quena faixa de reflorestamento. As margens do mapeamento con-
sistem na cerca, que marca o limite do Instituto; o final do campo de
futebol, onde se encontram alguns arbustos; e a rua que dá acesso
ao Centro de Ensino.
O mapa do uso do solo da Área 1 foi elaborado a partir de ima-
gens do Google Earth e processado no TRACK MAKER. O mapa re-
presenta, por meio de cores, a utilização da área. Sendo, nesse caso,
o campo de futebol, uma pequena proporção de reflorestamento e
um campo nativo (Figura 5).

Figura 5: área delimitando campo de futebol, área florestada e de campo nativo


encontrado em frente ao prédio B de Ensino Superior do IFRS.

As coordenadas coletadas na Área 1, com o uso do GPS de Pre-


cisão, foram geoprocessadas minuciosamente e reconferidas. Aten-
dendo às exigências referidas por Santos, Pina e Carvalho (2000,
p. 26), no sentido de que “é preciso que haja um pré-processamento

102
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

dos dados contraídos de sistemas de projeções distintas, com diver-


sas fontes em escalas diferentes que, após serem compatibilizados é
possível a efetivação das análises, as quais tornam os dados úteis”.
A partir da utilização do software SURFER 10, obteve-se o mapa
apresentado na Figura 6. As curvas de nível representam a declivi-
dade do terreno, e, quanto mais próximas elas estão, mais acentuada
é a área. Pelas setas, é possível verificar para onde se desloca o esco-
amento superficial da água das chuvas. A legenda de cores demons-
tra a variação de altitudes, podendo ser observados três picos com
altitudes superiores a 750 metros acima do nível do mar.

Figura 6: Área 1, representada pelo programa Surfer gerado a partir de dados


coletados por GPS de precisão.

A Figura 7 apresenta um gráfico construído a partir da varia-


ção entre as coordenadas. Analisando o gráfico, verifica-se que a
reta que representa a variação é constante, ou seja, estatisticamen-
te, há pouca variação significativa entre as coordenadas.

Figura 7: gráfico demonstrando a variação entre coordenadas da Área 1,


coletadas com GPS de Precisão.

103
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

A partir das coordenadas coletadas a campo com o GPS de Na-


vegação, foi possível gerar o mapa da Área 1, apresentado na Figura
8. Se comparado ao mapa processado a partir do GPS de Precisão
(Figura 8), verifica-se a menor conformação do terreno, ou seja, o
GPS de Precisão apresenta mais detalhes da superfície terrestre.
Há então, uma grande diferenciação entre os dados apresentados
pelos dois GPS, levando-se em consideração que os pontos foram
coletados exatamente nos mesmos locais e horas do dia.

Figura 8: gráfico da Área 1, representada pelo programa Surfer, gerado a partir


de dados coletados por GPS de Navegação.

O gráfico apresentado na Figura 9, refere-se à variação entre as


coordenadas coletadas pelo GPS de Navegação relacionadas à Área
1. A reta de variação apresenta uma inclinação considerável, haven-
do uma oscilação de 11% aproximadamente. Pela análise anterior,
o gráfico de variação do GPS de Precisão é muito mais eficiente e
confiável.

104
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 9: gráfico demonstrando a variação entre coordenadas da Área 1,


coletadas com GPS de Navegação.

Levantamentos e Projeções da Área 2

A Área 2 situa-se entre o prédio B e o Silo do Centro de Ensino


Superior do IFRS, campus Sertão. Essa área contempla uma lavou-
ra, totalmente agriculturável. As margens do mapeamento consis-
tem na cerca, que marca o limite do Instituto, a rua que dá acesso
ao silo e o campo de futebol.
O mapa do uso do solo da Área 2 foi elaborado a partir de ima-
gens do Google Earth, processadas no TRACK MAKER (Figura 10).
Esse mapa representa, por meio de cores, a utilização da área, nesse
caso, toda agriculturável.

105
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 10: área situada entre o prédio B e o silo do Centro Superior do IFRS.

Os dados coletados a campo, na Área 2, foram processados no


software SURFER 10. A Figura 11 apresenta o mapa gerado a par-
tir do GPS de Precisão. A proximidade entre as curvas de nível de-
monstra a declividade presente na área, sendo possível distinguir
zonas bem acentuadas no terreno.

Figura 11: Área 2, demonstrando a área cultivável entre o prédio B e o silo do


Centro Superior, gerado pelo programa Surfer, com dados do GPS de
Precisão.

106
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

A variação entre as coordenadas da Área 2 extraídas a campo,


com auxílio do GPS de Precisão, está representada na Figura 12. É
possível observar uma alteração de 15%, aproximadamente, entre
as coordenadas. Esse gráfico apresenta maior variação entre coor-
denadas se comparado ao gráfico da Área 1. Isso pode ser explicado
devido à presença arbórea no local.

Figura 12: gráfico demonstrando a variação entre coordenadas da área 2,


coletadas com GPS de Precisão.

Com as coordenadas coletadas na Área 2, com auxílio do GPS


de Navegação, foi possível construir o mapa disposto na Figura 13.

107
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 13: Área 2, demonstrando a área cultivável entre o prédio B e o silo do


Centro Superior, gerado pelo programa Surfer com dados do GPS de
Navegação

As coordenadas obtidas com o uso do GPS de Navegação apre-


sentam maior oscilação.
Na Figura 14, observa-se uma variação superior a 50%. O que
demonstra que o GPS de Navegação não pode ser utilizado para
levantamentos que necessitam confiabilidade e exatidão em seus
N
resultados. Segundo os estudos de Tonello (et al., 2011), o GPS de
Navegação apresentou incompatibilidade de exatidão para a práti-
ca de amostragem de solos. Todavia, essa variação, que é conside-
rada alta, pode ter sido afetada devido a erros na coleta dos dados,
como interferência no sinal do satélite, tornando bem comum a fa-
lha humana.

108
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 14: gráfico demonstrando a variação entre coordenadas da Área 2,


coletadas com GPS de Navegação.

Análise do Agrupamento da Área 1 com a Área 2


Os dados das duas áreas, quando geoprocessados de maneira
uniforme, gerou um mapa que apresenta o detalhamento da área
total, unindo as Áreas 1 e 2. O mapa da Figura 15 foi construído
a partir de dados do GPS de Precisão. A representação demonstra
uma grande oscilação na declividade do terreno, sendo possível dis-
tinguir picos e várzeas na mesma área.

109
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 15: união das áreas 1 e 2, com dados extraídos do GPS de Precisão.

Há uma variação entre os pontos coletados pelo GPS de Pre-


cisão. Essa variação é apresentada no gráfico da Figura 16, sendo
uma oscilação consideravelmente baixa, se comparada aos mapas
gerados a partir do GPS de Navegação.

Figura 16: gráfico demonstrando a variação entre coordenadas da união das


Áreas 1 e 2, coletadas pelo GPS de Precisão.

110
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

A partir dos dados do GPS de Navegação, foi realizada a união


das Áreas 1 e 2. O mapa dessa união é apresentado na Figura 17, no
qual se observa pouco detalhamento da conformidade do terreno. O
GPS de Navegação é pouco eficiente no que diz respeito a detalhes
de declividade do terreno, o que é visível na comparação com o GPS
de Precisão.

Figura 17: União das áreas 1 e 2, com dados extraídos do GPS de Navegação.

A Figura 18 apresenta um gráfico com a variação entre coorde-


nadas da área total, coletados com ajuda do GPS de Navegação. A
representação estatística apresenta grande variação entre os pon-
tos, pois a maior parte está disperso longe da reta que representa a
mediana da variação.

111
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 18: gráfico demonstrando a variação entre coordenadas da união das


Áreas 1 e 2, coletadas pelo GPS de Navegação.

Segundo Cintra (et al., 2011), a precisão alcançada é depen-


dente do receptor utilizado no trabalho e da atividade ionosférica,
pois cada fabricante utiliza programas e estratégias diferentes para
calcular as coordenadas e resolver a ambiguidade.

Conclusão
Os levantamentos feitos a campo por GPS (Global Positioning
System) requerem alguns cuidados do usuário, em razão das limi-
tações de uso, das precisões requeridas e das variáveis que influen-
ciam para a imprecisão da medida. Já para a navegação, os resulta-
dos do GPS são excelentes.

112
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

O sistema GPS inicialmente utilizado para operações militares


e dirigido à navegação pode ser definido como sistema de rádiona-
vegação. O sistema de GPS fornece as coordenadas bi ou tridimen-
sionais de pontos no terreno, além da direção e da velocidade do
deslocamento entre os pontos.
As condições meteorológicas podem interferir na precisão do
resultado. Isso não ocorreu durante os levantamentos de campo de-
senvolvidos no presente trabalho
O levantamento planialtimétrico com GPS de Precisão e GPS
de Navegação das duas áreas mostraram uma representação do re-
levo da superfície terrestre do local (3D) em que a variação da área
amostrada apresentou-se diferenciada (mais acentuada em curta
distância).

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115
CAPÍTULO V

Geoprocessamento aplicado
à fiscalização de áreas de
proteção permanente – a
prática na área de proteção
ambiental “Mestre álvaro” –
serra - ES
Caroline Araujo Costa Nardoto*
João Pinto Nardoto**
Rodrigo Bettim Bergamaschi***

1 Introdução

A
o se tratar de América Latina, composta por paí-
ses ditos em desenvolvimento, é notória a neces-
sidade de conservar e, principalmente, fiscalizar
as áreas de proteção ambiental e permanente, em espe-

*
Licenciada em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória
(ES). e-mail: carolinearaujoc@gmail.com
**
Licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória
(ES). e-mail: joaonardoto@gmail.com
***
Especialista em Geoprocessamento aplicado ao Planejamento Urbano e Ru-
ral pela Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo (SP). e-mail: rodrigo.siges@
gmail.com
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

cial dos ecossistemas urbanos, já que, de acordo com Silva e Zaidan


(2007), a porção insular da América é marcada por uma dinâmica
própria de crescimento na qual impera desajustes estruturais que
influenciam decisivamente na qualidade de vida da população.
Um dos reflexos desses desajustes consiste na invasão de áreas
de especial valor ambiental pela expansão urbana, o que é agravado
pelo fato de muitas vezes serem estabelecidas moradias em áreas
que oferecerem riscos (como de deslizamentos, enchentes) devido
à falta de planejamento territorial. Além disso, é cada vez mais rá-
pido o ritmo de consumo dos recursos naturais disponíveis, o que
tem como consequência a aceleração exponencial da degradação
ambiental, passível de gerar colapsos com a falta de recursos para
o desenvolvimento.
A tal problemática, uma das soluções palpáveis difundidas atu-
almente é o planejamento ambiental. De acordo com Franco (2001,
p.34) pode-se entender planejamento ambiental como “todo o esfor-
ço da civilização na direção da preservação e conservação dos recur-
sos ambientais de um território, com vistas a sua própria sobrevi-
vência”.
Devido ao exposto, o presente trabalho justifica-se pela necessi-
dade de identificação das áreas em desacordo com a lei de proteção
permanente, sobretudo nas áreas urbanas e, logo, de esclarecimen-
to de seu quadro urbano-ambiental, como uma das maneiras de au-
xiliar a institucionalização de tal forma de desenvolvimento.
Por meio dos resultados de identificação das áreas de proteção
permanente, dar-se respaldo aos órgãos competentes à adminis-
tração de tais para que promovam penalidades aos transgressores,
como o impedimento dos usos indevidos por meio de multas finan-
ceiras ou aplicações de modelos de recuperação das áreas culpada-
mente degradadas. Além disso, as análises descritas e as bases de
dados geradas poderão servir de suporte a outros estudos ambien-
tais, como o monitoramento das infrações (SILVA; ZAIDAN, 2007).

117
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Assim, objetiva-se contribuir para os estudos ambientais apli-


cados ao planejamento territorial no município de Serra (ES), com
aplicação metodológica na Área de Preservação Ambiental Mestre
Álvaro, por meio da análise da situação ambiental de infrações de
Áreas de Proteção Permanente (APP) da área. Para tanto será utili-
zada tecnologia associada aos Sistemas de Informações Geográficas
(SIG's), cujo crescente avanço é de grande utilidade ao suporte de
políticas públicas, devido à facilidade e eficiência de seu uso.
É válido ressaltar aqui, também, que os softwares de geopro-
cessamento funcionam tão somente como suporte aos profissionais
competentes a sua utilização, e que o conhecimento pertinente à
elaboração e interpretação de dados gerados a partir destes softwa-
res é intrínseco a estes profissionais.

2 Desenvolvimento do trabalho

Área de estudo

A Área de Proteção Ambiental (APA) Mestre Álvaro está


localizada no município da Serra, estado do Espírito Santo,
sob os pontos de coordenadas geográficas 40°10’49,47” W e
20°10’2, 41” S.

118
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 1: Mapa de localização da APA Mestre Álvaro.


Fonte: Elaboração dos autores.

O maciço que empresta nome a APA é uma feição granítica que


faz parte do conjunto da Serra do Mar, e se destaca na paisagem
dos tabuleiros litorâneos e das planícies flúvio-marinhas, cujo ponto
mais alto possui 833 metros de altitude. Sua vegetação é constituí-
da de Mata Atlântica de encosta com diversos córregos e nascentes
(SEMMA, 2008).
Devido ao seu valor e importância, não apenas para o Municí-
pio como também para o Estado, o Mestre Álvaro foi transformado
em Reserva Biológica e Parque Florestal pela Lei Estadual nº 3.075
de 09 de agosto de 1976 com uma área de 3.470 hectares. Teve sua
categoria de manejo alterada para Área de Proteção Ambiental pela
Lei Estadual nº 4.507 de 08 de janeiro de 1991, sendo o IDAF o ór-
gão gestor desta unidade de conservação.

119
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Por se tratar de uma Área de Proteção Ambiental Estadual do


grupo uso sustentável, a categoria permite “a exploração do meio
ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambien-
tais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversida-
de e os demais atributos ecológicos de forma socialmente justa e eco-
nomicamente viável” (Lei Federal nº 9.985/2000 – Sistema Nacional
de Unidades de Conservação) (PMS, 2008).
Esta APA está localizada próxima à área urbana – a quatro
quilômetros da sede municipal e a 11, 6 quilômetros do litoral – cir-
cunscrita por diversos bairros (SEMMA, 2008), e devido a tal proxi-
midade a área sofre forte pressão urbana. Por meio da visualização
de mapas do uso do solo da região se precebe facilmente o retalha-
mento da cobertura do solo local.

Figura 2: APA Mestre Álvaro – Vista dos bairros periféricos.


Fonte: Google Earth.

120
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Metodologia

As etapas metodológicas foram divididas em: levantamento de


dados, geoprocessamento e análise de conflitos. A primeira faz men-
ção à aquisição e estabelecimento das doutrinas legislativas e dos
planos de informações. A segunda equivale à manipulação de dados
georeferenciados de forma a gerar mapas temáticos que servirão
aos objetivos traçados. A última objetiva o agrupamento e a análise
espacial dos dados. A seguir cada uma destas etapas será explanada
individualmente.

2.2.1 Levantamento de dados

A esta etapa coube a adoção de doutrinas legislativas e levan-


tamento de planos de informação de acordo com as necessidades
dos objetivos propostos, bem como o estabelecimento das diretrizes
básicas pertinentes a posterior geração dos mapas temáticos (proje-
ção, datum, escala e equidistância das curvas de nível).

Quanto a legislação

A metodologia geral utilizada está calcada nas diretrizes legis-


lativas instituídas pelo Artigo 3º da Resolução CONAMA nº 303, de
20 de março de 2002 que, estabelece, dentre outras, as seguintes
classes de áreas de proteção permanente:
- trinta metros no entorno de cursos d`água com menos de dez
metros de largura;
- em encosta ou parte desta, com declividade superior a cem
por cento ou quarenta e cinco graus na linha de maior decli-
ve;
- no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a par-
tir da curva de nível correspondente a dois terços da altura
mínima da elevação em relação à base (MMA, 2009).
É válido ressaltar que as três classes de APP's aqui tratadas
estão contidas dentro de uma unidade de conservação - Área de Pre-

121
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

servação Ambiental (APA) Mestre Álvaro. As APA's, como já dito,


estão inseridas dentro do grupo das Unidades de Uso Sustentável,
cujo objetivo é compatibilizar a conservação da natureza com o uso
sustentável dos recursos naturais, sendo permitida a ocupação hu-
mana controlada no seu interior (IEMA, 2008).
Então, mesmo que não haja proibição de habitação e atividades
produtivas nas APA's, estas devem ser orientadas e supervisionadas
pela entidade ambiental encarregada de assegurar o atendimento
das finalidades da legislação instituidora (ANTUNES, 1990). Este
encargo é próprio da SEMAM-ES (Secretaria de Meio Ambiente do
Espírito Santo), órgão competente designado, a nível estadual, para
a fiscalização dessas áreas e, em caráter nacional, independente de
leis municipais ou estaduais, quem desempenha esse papel é o CO-
NAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), podendo alterar e
criar suas resoluções. Quanto a APA Mestre Álvaro, o órgão gestor é
o IDAF (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal) (PMS, 2008).

Quanto aos planos de informações:

Foram utilizados diferentes planos de informações, na qual, de


forma a facilitar o acesso e manuseio, estão no formato do arquivo
vetorial padrão do ArcMAP, a extensão .shp (shapefile).
Os planos de informações trabalhados foram cedidos pelo Ins-
tituto Jones dos Santos Neves (IJSN), instituição responsável por
pesquisas e informações estatísticas do Estado do Espírito Santo.
Tais planos de informações pertencem ao GEOBASES - banco de
dados georeferenciados do estado do Espírito Santo - na qual o IJSN
é um dos associados. São eles: cursos de água, curvas de nível, uso
do solo, áreas de conservação, vias urbanas e vias interurbanas,
pertencentes ao município de Serra, ES.
Estes estão configurados em projeção UTM e foram convertidos
para o datum SIRGAS 2000. Objetivam-se os produtos finais em
escala de, aproximadamente, 1:40.000. As curvas de nível possuem
eqüidistância de 20 metros.

122
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

O cruzamento desses dados, devidamente georeferenciados,


servirá a investigação e representação de suas ações conjuntas, com
base nos objetivos propostos, na forma de mapas temáticos, na qual:
um será a cerca da espacialização e visualização geral da área, três
específicos a cerca de cada uma das classes de APP's presentes no
local de estudo, um que demonstre o uso do solo local, bem como os
equipamentos viários contidos em seu entorno e um que sobrepõe as
informações dos anteriores. Assim a análise dos mapas dar-se-á do
geral ao específico e, após, do singular ao conjunto.

2.2.2 Geoprocessamento dos dados

Esta fase equivale à confecção da base de dados georeferencia-


dos em formato digital que visem sua manipulação para a posterior
geração dos mapas temáticos que servirão aos objetivos traçados.
Pelo fato da realização de estudos de cunhos ambientais exi-
girem a manipulação de uma significativa gama de dados, que ne-
cessitam estar devidamente georeferenciados de forma a permitir o
trabalho técnico a partir de planos de informações, o uso de Siste-
mas de Informações Geográficas (SIG's) tornou-se de prima valia.
Portanto, tal sistema será aqui empregado, por meio do apli-
cativo ArcMAP, o módulo central e fundamental do ArcGIS, versão
9.1. Isto porque tal SIG possui ferramentas que conferem maneiras
práticas e intuitivas para o manejo de dados espaciais de forma a
adquirir, manipular, analisar e exibir uma expressiva quantidade
de dados geográficos. Os procedimentos adotados para a confecção
de cada um dos mapas pré-estabelecidos estão detalhados a seguir.

Mapa do perfil topográfico

Este mapa visa espacializar os contornos gerais da área de es-


tudo. De posse do plano de informação da delimitação APA Mestre
Álvaro, bem como de suas curvas de nível, as últimas foram inter-
poladas (equidistância de 20 metros) com o intuito de gerar um TIN

123
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

(do inglês Triangular Irregular Network), ou grade triangular, que


nada mais é do que “uma estrutura do vetorial com topologia do tipo
nó-arco que representa uma superfície por meio de um conjunto de
faces triangulares interligadas” (SANTOS, 2007). Este TIN permite
uma visualização 3D da área. De posse deste pode-se, então, traçar
o perfil topográfico do local por meio do comando Interpolate Line
contido na opção 3d Analyst que irá demonstrar com a amplitude
altimétrica local. Esta base de dados digital gerada será novamen-
te empregada para o mapa de delimitação das APP's em topos de
morro.

Mapa de delimitação das APP's ao longo dos cursos d´água

Este mapa visa delimitar as áreas de proteção permanen-


tes no entorno de cursos d’água da área de estudo. Para tanto foi
utilizado o plano de informação correspondente à rede hidrográfica
orientada no sentido da foz. Em conformidade com os itens do art.
3º da Resolução CONAMA (Lei n.º 303 de 20 de março de 2002) a
delimitação desta classe de APP foi realizada por meio do comando
Create Buffer, contido na barra de ferramentas Editor, na qual se
delimitou faixas de 30 metros para ambas as margens dos cursos
d´água com largura inferior a 10 metros.

Mapa de delimitação das APPs em vertentes

Este mapa visa delimitar as áreas de proteção permanentes


em vertentes da área de estudo. Para tanto, reconheceu-se as áreas
de vertente de inclinação superior a 45º, conforme itens do art. 3º
da Resolução CONAMA (Lei n.º 303 de 20 de março de 2002). Os
planos de informação utilizados foram o de delimitação da APA e
suas curvas de nível na qual, a partir da ferramenta topo to raster,
transformou-se tal plano de informação para uma imagem do tipo
raster. A partir dessa imagem foi utilizado o comando slope contido
na opção Spatial Analyst para gerar a declividade local. A base de
dados digital gerada, representativa da declividade, foi reclassifica-

124
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

da em: 0 a 45º e acima de 45º, ou seja, declividade não considerada


APP e considerada APP, respectivamente.

Mapa de delimitação das APPs em topos de morro

Este mapa visa delimitar as áreas de proteção permanentes em


topos de morro da área de estudo. Para tanto, baseou-se no artigo
3º da Resolução CONAMA (Lei nº 303, de 20 de março de 2002) que
considera área de proteção permanente: no topo de morros e mon-
tanhas, em áreas delimitadas a partir da curva de nível correspon-
dente a dois terços da altura mínima da elevação em relação à base.
Assim sendo, tem-se que para a APA Mestre Álvaro é considerado
topo de morro as elevações acima da cota de 520 metros, já que se
identificou que sua base corresponde à cota de valor 40 m e seu
cume de 820 m. Estabelecido tal parâmetro, valeu-se do TIN gerado
para o mapa do Perfil Topográfico, na qual foi reclassificado confor-
me o parâmetro acima, ou seja, acima de 520 metros classificou-se
como área de proteção permanente.

Mapa de uso do solo

Mapa de fundamental importância, pois é a partir dele que se


terá base para cotejar as ocupações territoriais com as áreas que
devem ser preservadas por lei. As classes de uso do solo foram clas-
sificadas de acordo com o plano de informação “uso do solo” para a
área da APA Mestre Álvaro As categorias levantadas na área foram:
afloramento/solo exposto, floresta natural primária ou secundária
avançada ou média, pastagens, vegetação natural secundária e áre-
as alagadas. Neste mapa estão também contidos as vias urbanas
presentes no entorno da APA, de forma a demonstrar a pressão ur-
bana presente no local.

125
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

2.2.3 Análise de conflitos

Nesta etapa os resultados obtidos nas anteriores serão sobre-


postos de forma a facilitar o cotejamento das ações territoriais com
as áreas que deveriam ser preservadas por lei, de forma a identifi-
car as áreas de maior inadequação da ação antrópica. Ou seja, serão
cruzadas as bases de dados obtidas a partir dos mapas temáticos
correspondentes às três classes de APP's presentes no local de estu-
do com a base de dados do uso do solo local.
Este mapa temático, denominado “Cotejamento entre Uso do
Solo e Áreas de Proteção Permanente na área da APA Mestre Álva-
ro, Serra, ES”, servirá de base de apoio a decisões. De acordo com
Silva e Zaidan (2007) a partir das classes registradas neste tipo
de mapa avaliativo, poderão ser definidas as unidades e normas
de manejo ambiental, o que poderá contribuir significativamente
na elaboração ou na atualização do plano diretor do município em
questão, no que tange a esta área de conservação.

Apresentação, análise e discussão dos resultados

Prossegue então a apresentação dos mapas confeccionados.

126
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Mapa do perfil topográfico:

Figura 3: Mapa de Perfil Topográfico referente ao Maciço Mestre Álvaro.


Fonte: Elaboração dos autores.

Mapa de delimitação das APP's ao longo dos cursos d’água:

Figura 4: Mapa de delimitação de APPs ao longo de cursos d’água da APA Mestre


Álvaro.
Fonte: Elaboração dos autores.

127
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Mapa de delimitação das APP's em vertentes:

Figura 5: Mapa de delimitação de APPs em vertentes do Maciço Mestre Álvaro.


Fonte: Elaboração dos autores.

Mapa de delimitação de APP's em topos de morro:

Figura 6: Mapa de delimitação de APPs em topos de morro do maciço Mestre


Álvaro.
Fonte: Elaboração dos autores.

128
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Mapa do uso do solo:

Figura 7: Mapa do uso do solo correspondente à APA Mestre Álvaro.


Fonte: Elaboração dos autores.

Mapa de cotejamento do uso do solo com as APP's:

Figura 8: Mapa de Cotejamento do uso do solo com as APPs referentes à APA


Mestre Álvaro.
Fonte: Elaboração dos autores.

129
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

A partir do mapa denominado “Cotejamento entre Uso do Solo


e Áreas de Proteção Permanente na área da APA Mestre Álvaro,
Serra, ES”, mapa que agrega os resultados anteriores, podendo
então ser considerado um resultado final, foi possível identificar a
localização dos tipos de infrações legais associadas às áreas de pro-
teção permanente. Para isso, primeiramente mensurou-se a área
total correspondente a cada classe de uso do solo presentes no local
de estudo. O resultado é demonstrado abaixo na forma de tabela e
gráfico:

Tabela 1: Expressões territoriais em km² e % das classes de uso do solo


referentes à APA Mestre Álvaro:

Área em
Classes de uso do solo Área em km²
porcentagem
Afloramento / Solo Exposto 0,9552 3,7
Floresta Natural Primária ou Secundária
12,2651 48,4
Avançada ou Média
Pastagens 10,2128 40,3
Vegetação Natural Secundária 0,3614 1,4
Áreas Alagadas 1,5677 6,2
Total 25,3622 100

Fonte: Elaboração dos autores.

130
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 9: Percentual gráfico das classes de uso do solo pertencentes à APA


Mestre Álvaro.
Fonte: Elaboração dos autores.

É fácil inferir a partir desses dados que grande parte da área


de estudo encontra-se bem preservada, já que 48,4% da área total
constituem-se de “floresta natural primária ou secundária avança-
da ou média”. Contudo, outra grande parcela é constituída de “pas-
tagens”, classe predominante em 40,3 % da área total.
Esta observação tornou-se bastante preocupante quando na
análise deste mesmo mapa se notou que tal área de pastagem está
bastante próxima dos núcleos urbanos, e em alguns locais as vias
urbanas já invadem esta área de proteção. Isso porque a expressiva
participação dessa classe na composição da paisagem demonstra o
intenso processo de antropização a que a área tem sido submetida,
o que não ocorre na vertente oposta, onde a pressão urbana é pouco
significativa.
Além disso, apenas as classes pertencentes a este sistema an-
trópico caracterizam conflitos de uso na área, resultantes da inter-

131
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

venção humana. As encostas com declividade superior a 45º e os


topos de morros encontram-se bem preservados, sendo os cursos
d’água os mais atingidos pela ação humana.
Então, admiti-se que nesta área de pastagem se faz necessário
maior acompanhamento por parte dos órgãos fiscalizadores, pois no
perímetro urbano as APP's, em função do processo de uso e ocupa-
ção do solo, sejam residenciais, industrial, etc., ao longo do tempo
são descaracterizadas por supressão de vegetação, por aterros e,
principalmente, por ocupações irregulares, que tendem a apresen-
tar quadros, na maioria das vezes, irreversíveis.

3 Conclusões
O presente estudo objetivou elaborar um mapa que correlacio-
nasse o uso do solo com a ocorrência de conflitos com a legislação de
APP na APA Mestre Álvaro, de acordo com o Artigo 3º da Resolução
CONAMA (Lei n.º 303 de 20 de março de 2002) e valendo-se de téc-
nicas relacionadas aos Sistemas de Informação Geográficas (SIGs).
Com base nos resultados obtidos, concluiu-se que:
A adoção do SIG permitiu a identificação automática das APP's
e identificação de conflito de uso das classes presentes na área de
estudo.
A área total da APA Mestre Álvaro é de 25,3622 km² , dos quais
48,4% por fragmentos florestais, 40,3% são cobertos por  pastagem,
6,2% de áreas alagadas, 3,7% de afloramentos/solos expostos e ape-
nas 1,4% de vegetação natural secundária.
A metodologia de delimitação automática das APP's mostrou-se
bastante eficiente, por produzir de maneira automática informações
sobre as suas dimensões e distribuição espacial na paisagem.
As áreas mais atingidas pelas infrações estão situadas ao longo
de cursos d’águas localizados em áreas de pastagens, principalmen-
te próximas às áreas urbanas, denotando a pressão urbana existen-
te no local.

132
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

A identificação da localização das áreas de ocorrência de con-


flitos com a legislação de APP's, assim como das áreas que se apre-
sentam bem preservadas, permitirá aos órgãos responsáveis pela
fiscalização e manutenção local buscar meios eficientes que visem
repreender os agressores e restabelecer as áreas culpadamente de-
gradadas.

Referências bibliográficas
ANTUNES, P. B. Curso de Direito Ambiental. São Paulo: Editora Renovar,
1990. 398 p.
CONSELHO NACIONAL o
DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. 2002. Reso-
lução Conama, n 303. Disponível em:< www.mma.conama.gov.br/conama>
Acesso em 13/12/2008.
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2ª Edição. São Paulo: Editora Annablume. FAPESP, 2001. 296 p.
SANTOS, A.R. ArcGIS 9.1 total: aplicações para dados espaciais. Vitória:
Fundagres, 2007. 226 p.
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tal: Aplicações. 2ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 368 p.
INSTITUTO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE – IEMA. Unidades de Con-
servação. Disponível em: <www.iema.es.gov.br> Acesso em: 13/06/2008.
SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE – SEMMA – PREFEITURA MU-
NICIPAL DA SERRA. APA Estadual do Mestre Álvaro (Lei Estadual
nº. 4.507/1991). Disponível em: <app.serra.es.gov.br/semma> Acesso em:
13/12/2008.

133
CAPÍTULO VI

Aplicabilidade do
geoprocessamento no
cemitério central da cidade
de Marau/rs - brasil
Fábio Remedi Trindade*
Alcindo Neckel**
Felipe Pesini***

Introdução
A cada dia, novas tecnologias tornam-se instrumen-
tos indispensáveis, pois possibilitam a especialização
das informações, maior acessibilidade ao conhecimento,
alta velocidade de obtenção de dados e o processamento
dos dados necessários para análise com o uso do geopro-
cessamento (VEIGA, 2003).

*
Gestor Ambiental. Especialista em Gestão Ambiental com diversos reconheci-
mentos da área ambiental. fabioremedi@hotmail.com
**
Geógrafo, Gestor Ambiental. Professor do Instituto Federal do Rio Grande
do Sul, campus Sertão, RS. Doutorando do Programa de Pós Graduação em
Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. alcindo-
neckel@yahoo.com.br
***
Acadêmico do Curso de Agronomia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul,
campus Sertão, RS. felipepesini@gmail.com
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

O termo geoprocessamento denota a disciplina do conhecimen-


to que se utiliza de técnicas matemáticas e computacionais para
o tratamento de informações geográficas. Trata-se do conjunto de
todas as ciências, técnicas e tecnologias utilizadas para a aquisição,
o armazenamento, o gerenciamento, a manipulação, o processamen-
to, a exibição, a documentação e a disponibilização de informações
espaciais. O uso automatizado dessas informações está vinculado a
um determinado lugar, seja por meio de simples endereços, seja por
coordenadas geográficas. Assim, consiste na representação espacial
de um objeto em um determinado lugar no espaço. Neste caso, o
cemitério central do município de Marau, no Estado do Rio Grande
do Sul.
Os cemitérios, antigamente, eram a solução para a guarda e
a visitação de corpos humanos após o seu falecimento. Atualmen-
te, diante do grande crescimento demográfico, observa-se a falta de
locais e de planejamento para sua armazenagem. Além disso, cada
vez mais há necessidade de pensar-se a manutenção e a aquisição
de hábitos para um forte e rígido controle de saneamento ambien-
tal, necessários para sejam reduzidos os riscos de contaminação do
meio ambiente (PACHECO, 1986).
O presente capítulo propõe-se a analisar dados captados com a
utilização do geoprocessamento no cemitério central do município
de Marau, tendo em vista a importância do tema para o planeja-
mento municipal. A utilização dessa tecnologia e seus aplicativos
permite coletar, armazenar, recuperar, transformar e representar
visual e graficamente as informações, além de usar a estatística
para tomada de decisões, tudo isso a partir de uma base de dados do
georreferenciamento.
Assim, foram analisadas as características do cemitério central,
no que diz respeito aos aspectos histórico, físico, químico e biológico,
para, com base nos estudos bibliográficos, proceder à sua apresenta-
ção individual e demonstrar, de modo geral, a situação atual quanto

135
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

a riscos já existentes ou futuros para o ambiente e a saúde pública,


em caso de aumento populacional.
As informações expostas neste capítulo poderão ser de funda-
mental importância para o município de Marau/RS, pois relata a
atual situação ambiental do cemitério central que, a partir do co-
nhecimento pelo Conselho e pelo Departamento de Meio Ambiente
do município, permitirão a tomada de providências e o desenvol-
vimento de um Plano de Saneamento Ambiental. Essas medidas
futuras, caso sejam postas em prática, poderão evitar riscos de con-
taminação para a população. Futuramente, algumas atitudes pode-
riam reduzir custos com a medicina curativa e evitar suspeitas de
contaminação por necrochorume,o que acarretaria sérios problemas
de saneamento ao Poder Público Municipal. Nesse sentido, aten-
deriam àquilo que fora determinado pela Resolução CONAMA n.
335/03, que impõe que os cemitérios deveriam estar de acordo co-
mas normas ambientais até o dia 31 de dezembro de 2010.
Este trabalho poderá servir de piloto para o estudo da situação
dos cemitérios de outros municípios, colocando-se como sugestão
para a análise dos riscos ambientais dispostos nesses locais, bem
como para auxiliar no enquadramento às normas vigentes, tudo
com a utilização das técnicas de geoprocessamento.

A importância do geoprocessamento de dados cemiteriais:


matriz de desenvolvimento
O geoprocessamento consiste na união de tecnologias para a
coleta e o tratamento de informações espaciais, com um objetivo
específico. Portanto, a execução do geoprocessamento implica de-
senvolvimento de sistemas específicos para cada aplicação. A esses
sistemas de operacionalização das informações geográficos dá-se o
nome de Sistemas de Informação Geográfica (SIG).

136
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Percebe-se, pela definição, que geoprocessamento não é uma


atividade isolada dentro de uma ciência, pois implica o uso de um
conjunto de tecnologias e é necessária para a localização espacial do
objeto de estudo. Em razão disso é que essa ciência, normalmente,
vem conjugada ao georreferenciamento. A tarefa de geoprocessar
exige o uso simultâneo de um conjunto de tecnologias. Portanto,
fez-se necessário criar um ambiente no qual essa integração fosse
realizada de forma rápida e confiável. Daí o surgimento dos SIGs.
A definição do SIG faz-se com o entendimento dos conceitos de
informação geográfica e sistema de informação. A informação geo-
gráfica é obtida quando os dados sobre um determinado fenômeno
físico ou social são armazenados com uma relação direta de locali-
zação em um ponto ou área da superfície terrestre (VEIGA, 2003).
Já, o Sistema de Informação, segundo Medeiros e Tomas (1994),
presta-se a organizar informações relacionadas de modo automáti-
co, ou não de formar um banco de dados, que pode estar relacionado
a outros bancos, para produzir novas informações. Enfim, Sistema
de Informação é o ambiente no qual se fazem entradas, armazena-
mentos, transformações e produção de novas informações.
Por outro lado, tem-se que é muito importante a visualização
de toda a malha de tarefas que cabe ao Poder Municipal dimensio-
nar para que se possa entender sua complexidade e a necessidade
de planejar os serviços, a infraestrutura, os equipamentos públicos
e as atividades administrativas em geral. Nesse caso, os cemitérios
poderiam tornar-se parte de um banco de dados georreferenciados
e, posteriormente, geoprocessados, podendo mostrar, assim, diver-
sas informações que venham a favorecer o planejamento urbano de
cada município. Isso inclusive pode ser feito para a questão dos ce-
mitérios, tanto no meio rural, quanto no urbano, pois, a maioria dos
municípios não sabe quantos cemitérios possuem em sua divisão
territorial.

137
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Esse planejamento visa a estabelecer a organização das tarefas


da Prefeitura, a partir de metas preestabelecidas, aquelas que nor-
malmente subsidiam a elaboração de Planos de Governo.
Para a elaboração do Plano de Governo e para o planejamento
das tarefas atinentes ao Poder Público Municipal, é fundamental a
disponibilidade de um sistema de informações que dê segurança e
parâmetros que permitam a tomada de decisões. Com isso, tem-se
um controle maior sobre o que está sendo feito e o que necessita ser
realizado, podendo-se economizar recursos humanos, financeiros e
materiais, fazendo a relação setorial, isto é, fazendo com que deter-
minadas ações possam repercutir em outras.
O geoprocessamento de dados cemiterial torna-se indispensá-
vel ao planejamento municipal pelo fato de ele ser capaz de criar,
fazer análises e também ajudar a definir a arrecadação de impostos
para o município. Por sua vez, um cadastro técnico municipal é es-
sencial para que outras aplicações de SIG possam existir, uma vez
que ele representa o mapa básico necessário ao georreferenciamen-
to de outras aplicações urbanas.

Metodologia
A pesquisa teve como objeto de estudo o cemitério central do
município de Marau, no Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil. O
referido município localiza-se na região norte do estado, conforme a
Figura 1.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), o município conta atualmente com uma população total
de 36.364 habitantes, residentes numa área de 649,30 km² (IBGE,
2012).

138
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 1: Localização geográfica do município de Marau/RS/Brasil.


Fonte: Câmara Municipal de Marau (2013).

O município possui um total de 44 (quarenta e quatro cemi-


térios), sendo um em área urbana e 43 (quarenta e três em área
rural), conforme pode ser visualizado na Figura 2. Desses quarenta
e três, um se encontra em construção e um é particular.

139
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 2. Localização dos cemitérios dentro do município de Marau/RS.


Fonte: Adaptado de IBGE (2010).

Métodos e técnicas utilizados

- Etapa I – Referencial teórico

Nesta etapa, foram levantadas informações sobre a situação


atual do cemitério na área urbana, junto ao Departamento de Meio
Ambiente da Prefeitura Municipal, adquirindo dados e ferramentas
necessários para a aplicação da pesquisa. Usaram-se, também, arti-
gos científicos, livros, dissertações e teses.

- Etapa II – Mapeamento do cemitério

Os pontos de coleta foram georreferenciados para facilitar a


localização e as buscas atualizadas de dados em sistemas de ma-
pas interligados a satélites. Após esses dados terem sido coletados

140
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

nos pontos com uso do Sistema de Posicionamento Global (GPS),


os mesmos serão inseridos em programas que permitirão o mapea-
mento dos locais, o que possibilita a exposição dos pontos georrefe-
renciados, e a confecção de mapas de permitiram o posicionamento
global.

- Amostragem de solo

As amostras de solos foram coletadas “in loco” no cemitério cen-


tral. Para essa coleta de amostras, obedeceu-se o padrão de 20-40
cm, com mistura de cada um dos cinco pontos, num raio de 2 metros.
Isso ocorreu em cada um dos cinco pontos amostrados. As leivas
retiradas foram homogeneizadas individualmente para garantir a
precisão da amostra de solo, conforme a EMBRAPA (2011) determi-
na. Essa metodologia pode ser visualizada pela Figura 3.
As amostras foram enviadas ao laboratório Pró-Ambiente, na
cidade de Porto Alegre/RS, com o apoio financeiro do Conselho Mu-
nicipal de Meio Ambiente.

Figura 3 - Representação de coleta e de um ponto de amostra.


Fonte: Interpretado e adaptado de Fiorin (2007) e Embrapa (2011).

141
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Foram escolhidos para amostragem 5 (cinco) locais conforme


o relevo, selecionando os pontos de menor e de maior altitude do
cemitério (Figura 4).

Figura 4 - Imagem de Satélite com os pontos de coleta.


Fonte: Google Maps. Com a utilização dos programas Trackmaker e Google
Earth Plus V5.

Cemitério Central
O município de Marau possui um cemitério urbano, que se lo-
caliza na área central. Esse espaço estudado tenta adaptar-se ao
crescimento populacional e possui, na atualidade, 740 gavetários,
608 túmulos, 99 covas e 554 capelas.
O cemitério possui 2001 locais de sepultamento para as famí-
lias, entre todos os tipos apurados, sendo que as capelas possuem
uma média de seis gavetas por unidade. Tais gavetas não foram
contabilizadas, pois as mesmas encontram-se à disposição de uma
ou duas famílias e não há como realizar um levantamento das que
se encontram ocupadas, tem em vista que muitas não possuem

142
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

identificação. Para uma maior precisão, dever-se-ia realizar pesqui-


sa com cada família proprietária de cada capela; só assim esse dado
seria extremamente preciso.
Segundo o responsável pelas obras no cemitério central, ain-
da existe uma previsão de construção de mais trinta capelas nos
próximos seis meses no local. Isso demonstra que existe uma preo-
cupação com a demografia cemiterial na cidade de Marau, já que o
município possui uma média de onze óbitos mensais, segundo dados
medidos no período compreendido entre 1995 e 2010(OFÍCIO DO
REGISTRO CIVIL E TABELIONATO DE NOTAS – TRENTIN DE
MARAU/RS, 2012), conforme mostra a Figura 12.

Figura 5: Grande disparidade entre óbitos e nascimentos (aumento populacional).


Fonte: Ofício do Registro Civil e Tabelionato de Notas – Trentin de Marau/RS
(2012).

Esse aumento populacional não é um dado tão agravante nos


dias de hoje, mas a média de nascimentos no mesmo período é de 40
nascimentos por mês, o que resulta em um crescimento demográ-

143
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

fico de 28 habitantes ao mês. Isso, futuramente poder-se-á tornar


um problema para a administração pública. Deve-se levar em conta,
também, os emigrantes que se instalam, pois o município encontra-
se em fase de crescimento, devido ao grande número de empresas
que ali se instalaram e, consequentemente, aos empregos oferecidos.
Constatou-se, também, a deficiência no controle de resíduos só-
lidos do cemitério, sendo necessária a montagem de um Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS). Atualmente, não exis-
tem dias estabelecidos para o recolhimento de lixo no cemitério, fi-
cando os resíduos acumulados no local, o que contraria a legislação
brasileira (Lei n. 12.305/2010, que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos). Essa situação, nos dias de chuva, poderia causar
lixiviações, pois, conforme pode ser visto na Figura 6, os terrenos do
cemitério têm um relevo em aclives e declives.

Figura 6: Representação da altitude e possível lixiviação de água.


Fonte: Mapa gerado pelo programa Surfer10 – Surface Mapping System.

144
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Análises de solo feitas no cemitério central

Os resultados obtidos pelas análises laboratoriais evidenciam


vários riscos de contaminação no cemitério em questão. Tais dados
devem ser tomados como um incentivo para que essas pesquisas
tenham continuidade em outros municípios do Brasil, colaborando,
assim, com a preservação meio ambiente.
Nessas análises, o que se repetiu para as quatro amostras,
quais sejam: a= Carbono Orgânico; b= pH; c=Coliformes Totais;
d=Bactérias Heterotróficas.
1) a: solos com teor de matéria orgânica expressiva (Figura 7).
Nesse item, percebe-se, por meio do Mapa do Carbono, uma gran-
de quantidade de matéria orgânica, o que resulta, na maioria das
vezes, num fator altamente positivo quando tal matéria não estiver
contaminada.

Figura 7: Nível de carbono orgânico representado nos 4 pontos do mapa.


Fonte: Amostras coletadas. Software utilizado: Surfer 10 – Surface Mapping
System.

145
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

2) b: valores de pH próximos à neutralidade (Figura 8). Esta


situação não apresentou dados relevantes, pois, apesar de ter varia-
do, a variação foi mínima, mantendo-se dentro da normalidade do
potencial hidrogeniônico.

Figura 8: pH do solo referente aos 4 pontos amostrados.


Fonte: Software Utilizado: Surfer 10 – Surface Mapping System.

3) c: intensa presença de bactérias, inclusive do gênero colifor-


mes (Figura 9). Observa-se que no ponto 2, uma área de declive,
houve uma grande disparidade em relação aos demais pontos de
coleta.

146
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 9: Coliformes totais representados no mapa.


Fonte: Amostras coletadas. Software utilizado: Surfer 10 – Surface Mapping
System.

4) d:a amostra apresentou contaminação de matéria orgânica


e bacteriana. O ponto 4, que estava muito próximo dos fundos de
túmulos, foi o que evidenciou uma notável contingência de bactérias
heterotróficas. Isso representa uma exorbitante quantidade de ma-
téria orgânica em um local que, na teoria, não apresentaria grandes
taxas, caso se tratasse de um gramado comum sem demais aloca-
ções (Figura 10).

147
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 10: Quantidade de bactérias heterotróficas.


Fonte: Amostras coletadas. Software utilizado: Surfer 10 – Surface Mapping
System.

A amostra apresentou contaminação de matéria orgânica e bac-


teriana (Figura 11), notando-se uma equivalência de DBO nos pon-
tos 1, 2 e 4, onde foram verificados níveis de 2 mg/l. Já no ponto 3,
esse nível de DBO ficou em 10 mg/l, havendo, portanto, uma maior
demanda neste em relação aos demais pontos. Desse modo, conclui-
se que há uma presença menor de microrganismos nesse local para
consumir a matéria orgânica ali disposta.

148
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

Figura 11: Demanda Bioquímica de Oxigênio.


Fonte: Amostras coletadas. Software utilizado: Surfer 10 – Surface Mapping
System.

Já na Figura 12 dispõe-se da menor DQO no ponto 3, que apre-


sentou o maior número de bactérias heterotróficas. Nos demais pon-
tos, nota-se uma menor DQO, o que não representa, porém, que
possa haver, nesse ponto, menores níveis de contaminação.

149
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Figura 12: Demanda química de oxigênio.


Fonte: Amostras coletadas. Software utilizado: Surfer 10 – Surface Mapping
System.

Já para coliformes fecais, totais e bactérias heterotróficas,


obteve-se o diagnóstico de intensa presença de bactérias o que se
mostra normal para um ambiente cemiterial. Porém, existe a pre-
sença de bactérias do gênero coliformes, o que já faz com que se
deva buscar prevenir essa situação quando houver o risco de colifor-
mes fecais. Contudo, não se pode garantir que tais coliformes sejam
provenientes de cadáveres, mas também de animais ou até mesmo
transeuntes no interior do cemitério. Pode-se observar que o Ponto
1 apresentou ausência de coliformes; em contrapartida, os Pontos
2 e 4 apresentaram os maiores níveis de contaminação, sendo que
se encontram em locais com maior altitude que os demais pontos

150
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

analisados e esses resultados não são ocasionados por prováveis li-


xiviações (Figura 13).

Figura 13: Coliformes fecais representados no mapa.


Fonte: Amostras coletadas. Software utilizado: Surfer 10 – Surface Mapping
System.

Como conclusão da análise, entende-se que há contaminação


das matérias orgânicas e contaminação bacteriana. Não ficou cons-
tatada uma relação de tais resultados com o relevo do local, já que
o programa também faz esses cálculos matemáticos para se aproxi-
mar dessas probabilidades, como, por exemplo, o acúmulo de maté-
ria orgânica, que foi praticamente uniforme em todo o terreno.

151
Geoprocessamento e suas diferentes aplicabilidades

Conclusão
A recuperação de solo analisado ainda é possível com biorreme-
diação e/ou fitorremediação, o que seria uma solução a ser cogita-
da, caso viesse a ser constatada a contaminação. A fitorremediação,
além de curar o solo, poderia trazer uma aparência mais agradá-
vel ao local, dependendo da vegetação que fosse utilizada, tornando
o ambiente mais verde e mitigando o problema (ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2004).
Também é importante mencionar os grandes riscos que a per-
colação de contaminantes poderia causar às águas subterrâneas, o
que seria passível de constatação mediante pesquisas mais específi-
cas com a utilização do geoprocessamento.
As várias obras de sepultamento também precisam receber
maior cuidado, pois muitas se encontravam abertas no momento da
pesquisa, o que se torna mais um fator negativo, tanto pela de falta
de estética, quanto por questões gerais de saneamento.
A arborização é outro fator de embelezamento que deveria ser
estudado, para que fossem dispostas algumas espécies nativas no
local, desde que acompanhadas por profissional da área técnica ha-
bilitada a isso.
Devem ser seguidas as recomendações da Fundação Estadual
de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM), que con-
siste no órgão licenciado do Estado do Rio Grande do Sul, contidas
no Formulário de Informações para Licenciamento de Cemitérios
(FILC), de Licença Prévia (LP) e Instalação (LI), que solicita a des-
crição geológica, hidrogeológica e testes de percolação no local do
empreendimento.
Uma medida, ainda que futura, para impedir esses riscos de
contaminação, é evitar superpopulações em cemitérios, que funcio-
nam como verdadeiros aterros sanitários classe I. Uma sugestão
seria a cremação ou a instalação de cemitérios verticais com os de-
vidos tratamentos para os resíduos dos cadáveres.

152
Alcindo Neckel, David Peres da Rosa (Org.)

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Brasília, DF: Senado, 1988.
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