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De acordo com o psicoterapeuta Robert Augustus Master, o escape espiritual faz nós
nos retirarmos de nós mesmos e de outros, a nos esconder atrás de um tipo de
máscara espiritual de crenças e práticas metafísicas.
Ele diz: “Não apenas nos distancia da nossa dor e nossos problemas pessoais, mas
também da nossa própria espiritualidade autêntica, nos prendendo em um limbo
metafísico, uma zona de gentileza exagerada, bondade e superficialidade”.
Percepções dolorosas: meu próprio escape
espiritual
Conforme continuei refletindo sobre o escape espiritual, eu percebi cada vez mais
aspectos inconscientes da espiritualidade, e percebi que eu estava, sem saber, colocando
em prática vários deles em determinados momentos.
Embora dolorosas, essas foram algumas das percepções mais importantes que eu já tive.
Elas me ajudaram a parar de usar uma forma distorcida de
“espiritualidade” como um levantador de ego e a começar e ter mais
responsabilidade para direcionar minhas necessidades psicológicas e os problemas que
surgem na minha vida.
Lembre-se: Você não precisa ter vergonha de admitir que alguns itens desta lista se
aplicam a você. Eu suspeito que alguns deles se aplicam a todos que já tiveram interesse
em espiritualidade.
Vamos lá.
Algumas pessoas se sentem superiores porque leem Alan Watts. Ou vão para o
trabalho de bicicleta. Ou abstêm-se de assistir TV. Ou consomem uma dieta
vegetariana. Ou usam cristais. Ou visitam templos. Ou praticam yoga ou meditação.
Ou usam drogas psicodélicas.
Perceba que eu não estou dizendo nada sobre o valor de participar destas atividades. Eu
adoro Alan Watts e acho que a meditação é bastante benéfica.
O que estou dizendo é que é perigosamente fácil permitir que suas ideias e práticas
espirituais se tornem uma armadilha do ego – acreditar que você é tão
melhor e mais iluminado do que todo aquele “povo-gado”, porque você está fazendo
todas essas coisas radicais.
Em última análise, esse tipo de atitude em direção à “espiritualidade” não é melhor que
acreditar que você é melhor que todo mundo porque você é um Democrata ou um fã dos
Lakers.
A essência deste ponto é que é muito fácil distorcer certos mantras ou ideias
espirituais em justificativas para ser irresponsável e não confiável.
“É o que é.” ou “O universo já é perfeito.” ou “Tudo acontece por uma razão.” Tudo
pode funcionar como excelentes justificativas para não fazer nada e nunca realmente
examinar o comportamento de alguém.
Seres humanos querem se encaixar em algum lugar. Nós temos profunda necessidade de
sentir que fazemos parte de algo.
Para muitas pessoas, “espiritualidade” é um pouco mais do que uma coisa hippie que
muitas pessoas parecem se importar.
Essas pessoas têm a ideia de que querem entrar nesse movimento espiritual, então
começam a praticar yoga, usar artigos da Nova Era, ir a festivais de música, beber
ayahuasca, etc, e dizem para si mesmos que essas coisas os fazem “espirituais”.
Esses “encenadores espirituais” atenuam a importância do aprofundamento
espiritual genuíno, da contemplação, da experiência e da percepção.
Eles também, na minha experiência, tendem a ser pessoas “espirituais” que usam a
“espiritualidade” como motivo para se sentirem superiores aos outros.
Este foi um dos primeiros padrões que eu percebi em mim após ser apresentado ao
escape espiritual.
Eu percebi que quando pessoas ficavam chateadas ou bravas comigo, minha reação era
dizer coisas como: “Ficar nervoso não resolve nada” ou “Eu acho que poderíamos ter
menos problemas se pudermos permanecer calmos”.
Internamente, eu silenciosamente julgaria a outra pessoa, pensando: “Se ela
fosse mais iluminada, poderíamos evitar esse drama”.
Em muitas situações, essa era a minha maneira de evitar problemas profundos que
precisavam ser direcionados.
Quando você se interessa pela espiritualidade, uma das primeiras citações que você
encontra provavelmente é: “guardar a raiva é como segurar um carvão em brasa com a
intenção de atirá-lo em alguém; é você que acaba se queimando.”
O ponto sutil desta citação é que nós não devemos guardar a raiva; nós
devemos senti-la, expressá-la se necessário, e então deixá-la para trás.
Porém, é muito comum para um leigo assumir que isso significa que raiva, em qualquer
forma, é um sinal de que a pessoa não é sábia nem espiritual. Isso não é verdade.
Até aí tudo bem, mas algumas pessoas levam essa percepção longe demais, usando-a
como uma forma de racionalizar padrões autodestrutivos de uso de drogas e para cegar a
si mesmas para o lado sombrio de várias substâncias.
Agora, a HighExistence tende a ser pró-psicodélicos, mas deixe-me ser direto com você:
drogas psicodélicas, incluindo cannabis, definitivamente possuem um lado
sombrio.
Da mesma forma que pareceria absurdo dizer a um viciado em heroína a frase “apenas
pense positivo!” como uma solução para o seu problema, é absurdo acreditar que
pensamento positivo oferece algum tipo de solução para grandes problemas globais
como mudança climática, pobreza, agricultura industrial e riscos existenciais.
Eu me deparei com esse problema quando me mudei para a Coreia do Sul para ser um
professor de inglês durante um ano.
Eu pensei que tinha cultivado uma tranquilidade imperturbável, uma capacidade de Lao
Tzu para apenas “seguir o fluxo” e flutuar, como uma boia, em cima das idas e vindas
das ondas do destino.
Então eu vivenciei choque cultural, solidão arrebatadora e uma aguda saudade de casa, e
tive que admitir para mim mesmo que, no final das contas, eu não era um tipo de Mestre
Zen.
Ou ainda, eu tive que perceber que a capacidade de “seguir o fluxo” e aceitar que o que
está acontecendo é eternamente valiosa, mas que às vezes isso significará aceitar que
você se sente como uma pilha de merda.
É fácil iludir-se e acreditar que a espiritualidade irá fazê-lo se sentir nas nuvens, mas na
prática, não é assim que funciona.
No meu caso, meu desejo de ser sempre “Zen”, de “seguir o fluxo” e de projetar uma
imagem de paz interior para mim e para outros me impediu de ver a verdade sobre
várias situações/experiências e de assumir a responsabilidade para lidar com elas.
Eu percebi isso em mim muito rápido, após aprender sobre escape espiritual.
Eu vi que minha imagem narcisista de mim mesmo como uma pessoa sábia, que
alcançou realizações “mais altas”, estava causando uma quantidade ridícula de
dissonância cognitiva.
Quando você se interessa pela espiritualidade, é fácil idolatrar pessoas como Buda
ou Dalai Lama e acreditar que essas pessoas são seres humanos perfeitos que sempre
agem com total consciência e compaixão. Na verdade, isso certamente não é o caso.
Mesmo que seja verdade que alguns humanos atingem um nível de percepção em que
fazem a “ação correta” em todas as circunstâncias, precisamos reconhecer que tal coisa
é reservada para poucos.
Na verdade, todos somos humanos falhos e todos vamos cometer erros. O jogo
está contra nós.
É praticamente impossível viver até mesmo algumas semanas de vida humana adulta
sem cometer alguns erros, muito menos os menores. Ao longo dos anos, haverá grandes
erros. Acontece com todos nós, e não tem problema. Perdoe-se.
Tudo o que você pode fazer é aprender com seus erros e se esforçar para fazer
melhor no futuro.
Esta é uma das principais razões pelas quais é tão comum que as pessoas espirituais
desviem a responsabilidade – porque ser honesto sobre suas falhas seria muito doloroso.
Ironicamente, devemos ser honestos com nós mesmos com relação aos nossos erros, a
fim de aprender com eles, crescer e nos tornamos versões mais autoconscientes e
compassivas de nós mesmos.
Lembre-se: Você é somente um ser humano. Tudo bem cometer erros. Sério, está tudo
bem.
Mas admita para si mesmo quando cometer um erro e aprenda com ele.
Eu não discordo dessa ideia hoje em dia, mas percebi que existem inúmeras situações
em que outras considerações devem temporariamente anular meu desejo de tratar todos
os outros seres humanos com compaixão.
Em vários países, eu me encontrei em situações de risco de morte porque confiava
demais nas pessoas, eu não sabia ou era gentil com pessoas que eu deveria ter
reconhecido suas características obscuras.
Por sorte, eu nunca me machuquei nessas situações, mas eu já fui roubado e enganado
várias vezes.
Em todos os casos, eu queria acreditar que as pessoas com quem eu estava interagindo
eram “boas” pessoas de coração e me tratariam bem se eu assim o fizesse.
O fato triste é que, embora você possa estar isolado disso, a luta pela sobrevivência
ainda é muito real para um grande número de pessoas neste planeta.
Muitas pessoas cresceram na pobreza, cercadas por crime, e aprenderam que a única
maneira de sobreviver é se aproveitando da fraqueza.
A maioria das pessoas em todo o mundo parece não ter essa mentalidade, mas se você
se encontra em uma cidade ou país em que a pobreza é bastante presente, você deve
tomar certas precauções, coisas básicas, como:
3. Não pare para interagir com pessoas que tentam vender coisas para você;
4. Faça distinções entre pessoas; deixe-se saber que não há problema em confiar no
mecanismo de correspondência de padrões altamente evoluído do seu cérebro,
quando ele diz que alguém parece drogado, perturbado, desesperado ou perigoso.
O método científico é uma das melhores ferramentas que temos para entender a
mecânica do universo observável; nos permitiu descobrir a verdade profunda da
evolução biológica, observar os confins do espaço, prolongar a nossa vida por décadas e
caminhar na lua, entre outras coisas.
Descartá-lo totalmente é perder uma das nossas lentes mais poderosas para entender a
realidade.
“Assim como nossas emoções na presença de uma grande arte, música ou literatura, ou
de atos exemplares de coragem altruísta, como os de Mohandas Gandhi ou Martin
Luther King Jr.”
O capitalismo é visto como uma engrenagem de desigualdade e corrupção que deve ser
desmantelada.
Eu costumava ter uma versão desta visão, então eu percebi o quanto ela é sedutora.
Sim, o capitalismo tem algumas desvantagens muito reais, mas, em muitos aspectos, o
capitalismo tem sido uma força tremenda para o bem, estimulando a inovação maciça e
tirando bilhões de pessoas da pobreza globalmente.
Em 1820, 94% das pessoas na Terra viviam na extrema pobreza. Em 2015, este número
caiu para meros 9,6%, muito graças ao crescimento econômico catalisado pelo
capitalismo.
Além disso, deixe-me ser direto com você novamente: não há nada de errado ao querer
ganhar dinheiro. O dinheiro é uma ferramenta incrível.
Bilionários como Elon Musk e Bill Gates, que estão usando suas riquezas para
ajudar o mundo de importantes maneiras, provam que o dinheiro pode ser usado para o
bem ou para o mal.
Por exemplo, eu acho que precisam haver regulações para proteger o meio ambiente,
para prevenir abusos como grupos de interesse e captura regulatória.
Não tenho a certeza da melhor maneira de atingir esses objetivos elevados, mas nossas
formas atuais de capitalismo estão fazendo um trabalho melhor do que muitas pessoas
parecem pensar, dada a imensidão do desafio.
Neste ensaio, tentei iluminar alguns dos pontos cegos que parecem prevalecer na
comunidade espiritual. Como eu disse, a maioria dos itens que discuti serviram para
mim em um ponto ou outro.
Pode ser profundamente difícil admitir que por um longo tempo a pessoa estava errada
ou mal orientada, mas a alternativa é muito pior.
A alternativa é uma espécie de morte espiritual e intelectual – um estado de estagnação
perpétua em que a pessoa se ilude sem parar, pensando que tem todas as respostas, que
alcançou a Forma Final.
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