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Universidade de Brasília – UnB

Instituto de Ciências Humanas


Departamento de História
Disciplina: Teoria da História
Professor: Arthur Oliveira Alfaix Assis
Turma: B
Aluna: Catarina Jaborandy Paim da Cunha (15/0121628)

SEGUNDA AVALIAÇÃO

Fazendo referência intensiva a pelo menos três textos da bibliografia obrigatória do curso, e
também tendo em consideração as exposições e discussões realizadas em sala de aula, redija um
pequeno ensaio sobre o problema da representação na teoria da historiografia nos últimos 45
anos.
A discussão dentro da área de teoria da história durante o século XIX foi extremamente
frutífera. Autores como Johann Gustav Droysen e Leopold van Ranke, figuras simbólicas dentro
destes debates na filosofia analítica da história, possuem perspectivas antagônicas no tocante
específico ao estilo de análise de fontes por historiadores, de maneira que suas oposições estruturavam
o raciocínio sobre o método histórico. O objeto real principal de tais questões, a do método histórico,
foi largamente discutida durante o dito período.

Aos primeiros anos do século XVIII, novas perspectivam chegaram à área da história de
maneira que as discussões se alargaram, trazendo novas perspectivas em relação a áreas
metodológicas, como as histórias cultuas e social, e a respeito das explicações da área histórica. Com
tais mudanças sobre o escopo da história, vieram discussões a respeito da explicação científica da
história, como o caso da análise levantada pelo historiador Carl Hempel, que, de maneira muito
simplificada, julgava que o modelo científico poderia cunhado por ele poderia ser útil em respeito à
explicação universal da história. Sua perspectiva não foi bem recebida, mas trouxe a questão a
respeito das leis gerais aplicadas à história e inaugurou o debate em vista à resposta da pergunta de
se a história não recorre à leis gerais para promover as suas explicações, de que forma elas seriam
feitas?

A partir dos anos 1960, a questão da escrita da história foi trazida para o centro das reflexões
teóricas da disciplina pela publicação de diversas obras. O livro Analythical Philosophy of History,
publicada originalmente no ano de 1965 pelo historiador estadunidense Arthur Coleman Danto, foi
uma das obras centrais que buscou de uma certa forma responder essa pergunta ao debutar um novo
foco acerca da discussão voltada à escrita da história. Tal nova perspectiva, cunhada de narrativismo,
visão teórica nascida no mundo pós-Segunda Guerra Mundial, trouxe uma nova tradição de reflexão
sobre a história, que nasceu trazendo uma mudança na dinâmica daquela discutida tão largamente no
século XIX. Apesar de já existirem outras percepções sobre a narração na escrita da histórica, foi
Danto que introduziu o narrativismo como termo chave na discussão.

A tese narrativista chega, explicada de maneira simplista, à conclusão que o historiador


explica quando narra. O narrativismo e a representação dentro da disciplina histórica andam juntas
pois, na sua forma mais simples, trazem a problematização tendo como ponto central a análise sobre
a ênfase da representação da história. É importante salientar que, apesar dessa aproximação, possuem
gradações importantes que trazem as diferenciações entre uma e outra.

O debate específico em relação à representação dos últimos 45 anos começa com o historiador
estadunidense Hayden White, com a publicação da obra Meta-história: a imaginação histórica do
século XX. Sua tese principal é a que, tendo em mente que a realização da prática historiográfica em
dois momentos – a pesquisa e a escrita, diferenciação essa estruturante – a situação dos autores não
depende da natureza dos dados ou das teorias que invocam em seus trabalhos, mas sim da
“consistência, coerência, e do poder iluminador de suas respectivas visões do campo histórico”
(WHITE, 1973). Afirma que montagem do enredo, por impor um exercício de generalização ao
historiador para imprimir uma unidade que não necessariamente existe, é um ato poético. É possível
perceber que, mesmo o autor não explicitando tais conclusões em seus trabalhos, que a representação
encontra-se em primeiro plano em relação à pesquisa.

Hayden White, também, em seu livro, ele busca determinar a estrutura ideal da escrita da
disciplina, traz os aspectos da obra histórica ou obra filósofo-histórica, expõe as mutações
fundamentais já ocorridas na estrutura e, por fim, caracteriza os diferentes pensadores da história do
período. A palavra central do título – meta-história – consiste em uma investigação que se propõe a
determinar das leis que regem os fatos históricos e o lugar de cada um desses numa visão explicativa
do nosso mundo.

Outro autor extremamente importante para o debate acerca da representação é o historiador


alemão Jörn Rüsen. Na obra História viva – Teoria da história III: formas e funções do conhecimento
histórico, publicada em 2007, Rüsen traz reflexões sobre a escrita da história, dando ênfase à sua
forma na historiografia após afirmar sobre a existência de uma complexidade inata ao exercício de
escrever história. A constituição de sentido ocorre através de uma tipologia da narrativa histórica,
que permite o ordenamento e a caracterização das múltiplas formas da historiografia; a partir da dita
tipologia, portanto, é possível identificar como a racionalidade se apresenta na historiografia.
Rüsen quer romper com o objetivismo tradicional da história ao transferir à interpretação uma
facticidade semelhante àquela aos fatos que são fornecidos pelas fontes utilizadas na pesquisa. A
passagem da simples crítica de fontes para a interpretação não significa na perda de formalidade, já
que a interpretação não deixa de ser uma operação cientifica.

Segundo o autor, a apresentação historiográfica, ou seja, a representação, é um modo da


constituição narrativa de sentido que necessita, também, ter sua estética levada em conta. A relevância
comunicativa da historiografia seria, portanto, um exercício de construção da mediação entre a
coerência estética e a coerência teórica com o objetivo de obter relevância comunicativa.

O último autor a ser apresentado neste ensaio é o historiador e filósofo neerlandês Frank
Ankersmith. Em seu livro publicado originalmente em 2012, Meaning, Truth, and Reference in
Historical Representation, chama atenção para o caráter da narrativa, do enredo, e até mesmo da arte
do conhecimento histórico. Um dos pontos principais da sua tese sobre a representação é a presença
do qualificativo importante aboutness, que traz o objeto da narração, ou seja, que seja sobre alguma
coisa, como eventos ou narrativas do passado, personagens, experiências etc.

O caráter construtivista de suas ideias tem realce nessa obra, já que o autor mantém que a
escrita da história tem características artísticas que a aproximam das artes visuais – diferentemente
de Hayden White, que preferia a comparação com os trabalhos literários. Assim como em retratos
artísticos não é possível diferenciar aquilo que foi atribuído pelo artista ao indivíduo daquilo que foi
representado, isso também acontece com a escrita da história. A indistinção entre referência e
atribuição de predicados também é uma característica da representação histórica, segundo
Ankersmith.

A partir da leitura dos autores citados, é possível perceber as nuances de cada um sobre a
representação. É preciso afirmar que, apesar de esses serem alguns dos mais relevantes, existem
numerosos outros pontos de vista, inclusive alguns que são de produção mais recente e atual. Porém,
não só na área da disciplina histórica, é sempre necessário retornar à gênese de uma discussão para
entender o seu estado e condição atuais.

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