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Apresentação
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C O O P E R AÇ ÃO E C O N F L I T O | R o n a l d o F i a n i ELSEVIER
Mas é importante destacar que essa escolha por deixar de lado, sempre que
possível, os aspectos técnicos mais complexos e secundários em favor das ideias
principais não se deve apenas à necessidade de tornar o livro mais acessível ao
estudante. Ela se deve também — e em alguns momentos até prioritariamente — à
crença do autor de que, na teoria econômica moderna, não raras vezes (infelizmente),
teses importantes acabam soterradas por questões formais, desviando o debate para
aspectos que nem sempre são os mais produtivos.
Escolhemos também apresentar definições mais ou menos consensuais, de forma
a não se desviar da discussão do problema do desenvolvimento. Abrimos espaço
para questões de definição de conceitos apenas quando as diferenças entre autores
pudessem ter algum tipo de implicação mais séria para o tema.
Também por ser o objetivo deste livro apresentar aos estudantes — assim como
a todos os leitores interessados no assunto — um panorama do debate acerca do
papel das instituições no desenvolvimento econômico, foram adotados alguns
critérios simplificadores na própria apresentação do texto.
Em primeiro lugar, optou-se por utilizar como referência as traduções de obras
estrangeiras (quando disponíveis), em vez dos originais. A razão disso é simples:
indicar ao leitor a existência de uma tradução publicada no país. Isso porque uma
das principais tarefas do professor é induzir o estudante a formar a sua biblioteca.
Faz parte do esforço educacional não apenas informar acerca das teorias e de seus
autores, mas estimular o estudante a lê-los. Assim, a utilização de traduções visa
a facilitar a identificação, por parte do estudante, de que existe uma edição em
português à qual ele pode ter acesso. Reconhecemos que nem todos os estudantes
têm os recursos, ou o domínio da língua inglesa, para abordar diretamente os
originais, daí esse esforço de identificação de traduções disponíveis.
Na ausência de uma obra traduzida disponível, todas as transcrições de trechos
de originais estrangeiros foram feitas pelo próprio autor. Nesse caso, não se seguiu
o procedimento padrão de reproduzir o trecho do original estrangeiro em notas
de rodapé, para evitar sobrecarregar o texto. Em uma obra na qual se discutem
diferentes teorias, optou-se por manter o texto o mais leve possível: uma vez que
o conteúdo já traz um volume significativo de informações, não há necessidade de
tornar a forma também enfadonha.
Pela mesma razão, com alguma frequência se emprega a segunda pessoa
do plural. Evitou-se sempre que possível uma excessiva impessoalidade. Uma
leitura do papel das instituições no desenvolvimento, especialmente em um
texto, em grande medida, orientado para o estudante, não precisa soar fria e
indiferente.
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Apresentação |
Também para proporcionar mais leveza, o livro recorreu a quadros com informa-
ção complementar ao texto, de forma a não tornar a leitura excessivamente densa;
o que não apenas poderia dificultar o acesso a um debate por si só complexo, mas,
o que seria ainda mais grave, acabaria por desviar a atenção das ideias centrais que
norteiam a discussão acerca do papel das instituições no desenvolvimento.
Por último, caso o autor mencionado já tenha falecido, o leitor encontrará o
período em que o autor viveu entre parênteses, quando o seu nome for mencio-
nado pela primeira vez. O objetivo aqui não é meramente informativo, mas o de
permitir ao leitor identificar a sequência em que esses autores produziram suas
contribuições, o que pode ser importante na discussão do desenvolvimento, em
que algumas ideias são periodicamente retomadas e atualizadas.
No entanto, o leitor vai perceber que este livro foge a uma abordagem que vem
se tornando comum, em que as várias teorias são apresentadas indiferentemente,
sem maiores comentários ou observações críticas, independentemente de quão
díspares sejam suas análises e resultados.
Este livro não compartilha desse tipo de abordagem. Isso está relacionado,
em primeiro lugar, ao fato de que boa parte das teorias do papel das institui-
ções no funcionamento do sistema econômico ainda se encontra em processo de
desenvolvimento e há controvérsias frequentemente. Desse modo, apresentar as
várias teorias sem uma perspectiva crítica significaria ensiná-las de uma forma
equivocada, sugerindo implicitamente um amadurecimento teórico que muitas
delas ainda não têm.
Em segundo lugar, um esforço foi feito ao longo deste livro com o objetivo de
oferecer uma interpretação articulada dos vários aspectos da atuação das institui-
ções no funcionamento do sistema econômico e no desenvolvimento. A vantagem
desse esforço é evitar a composição de um “mosaico” de teorias, uma coleção
desconexa e fragmentada de princípios e teorias sem relação aparente.
A apresentação de “mosaicos” de teorias não apenas desestimula o leitor, por
resultar em um aprendizado incoerente, como não faz justiça à preocupação
fundamental de todo teórico de instituições, que é a de compreender como elas
afetam o sistema econômico e, desse modo, como podem favorecer ou prejudicar o
desenvolvimento. Com sua natureza sistêmica, a própria preocupação que motiva
a estudar o papel das instituições no desenvolvimento demanda uma abordagem
mais integrada.
Contudo, é impossível uma apresentação integrada sem uma crítica sobre
os limites e a coerência entre as várias abordagens econômicas das instituições.
As teorias nesse campo nem sempre dialogam efetivamente entre si e ainda estão
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