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Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7

Cadernos PDE

II
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Título: A LEI DOS POBRES: um obstáculo ao desenvolvimento do mercado de
trabalho assalariado na Revolução Industrial Inglesa.
Autora: Miriam dos Santos Teodoro
Disciplina/Área: História
Escola de Implementação do Projeto Colégio Estadual Marechal Costa e
e sua localização: Silva – EFM – Rua Vasconcelos
Jardim, 1696 – Cidade Gaúcha – PR.
Município da escola: Cidade Gaúcha
Núcleo Regional de Educação: Cianorte
Professor Orientador: Dr. Roberto Leme Batista
Instituição de Ensino Superior: UNESPAR/ Paranavaí
Relação Interdisciplinar: História, Sociologia
Resumo: Esta Unidade Didática tem como
objetivo estudar a Lei dos Pobres e
sua adaptação na Revolução
Industrial inglesa. Trata-se, portanto,
de compreender como esta Lei se
constituiu num obstáculo ao
desenvolvimento do mercado de
trabalho assalariado. Faremos um
estudo sobre o campo inglês no final
do século XVIII e início do século XIX.
Analisaremos a grande onda de
enclosures – os cercamento –, a
crescente pressão sobre os direitos
comunais, o surgimento da
Speenhamland Law (Lei
Speenhamland – 1795). Interessa-nos
também compreender por que uma
nova Lei dos Pobres entrou em vigor
em 1834. A pesquisa terá como
referencial teórico as obras clássicas
de Marx e Engels e a historiografia,
principalmente os historiadores
marxistas britânicos entre outros.
Com isso, teremos suporte suficiente
para a produção de materiais
didáticos destinados ao ensino do
conteúdo temático, referentes às
turmas do segundo ano do Ensino
Médio no Colégio Estadual Marechal
Costa e Silva – E. F. M., de Cidade
Gaúcha - Paraná.
Palavras-chave: Lei dos Pobres; Revolução Industrial;
Speenhamland; Classe trabalhadora.
Formato do Material Didático: Unidade Didática
Público: 2º ano
Apresentação

Esta unidade didática foi elaborada a partir dos estudos desenvolvidos


no Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná – PDE – Turma
2014, intitulada A LEI DOS POBRES: um obstáculo ao desenvolvimento do
mercado de trabalho assalariado na Revolução Industrial Inglesa. Nesse
sentido, estudamos a aplicação dessa lei e as adaptações no período 1780 a
1850.

Construímos o material a partir de leituras, análises e interpretações da


historiografia. Nosso propósito é desenvolver a intervenção pedagógica por
meio de um trabalho didático utilizando diferentes fontes – textos impressos,
iconografias e audiovisuais – que permitam aos alunos compreenderem o
conteúdo, extraírem conhecimentos históricos significativos para atuarem de
forma crítica diante da realidade social, econômica e política no tempo
presente.
A Revolução Industrial indiscutivelmente transformou a história da
Inglaterra e, partir daí, espalhou-se para outros países e continentes, mudando
radicalmente a forma de viver, de pensar e agir da sociedade, pois o
capitalismo ganhou robustez e se consolidou como modo de produção até os
dias atuais. Foi na Inglaterra que várias coisas aconteceram de forma
sucessiva e simultânea, tornando possível que a revolução ali ocorresse. Ao
longo da Unidade Didática analisaremos as condições para que a Revolução
Industrial “explodisse” na Inglaterra.
A intervenção pedagógica será desenvolvida com alunos das turmas do
segundo ano do Ensino Médio, em contraturno, no Colégio Estadual Marechal
Costa e Silva – E. F. M., no município de Cidade Gaúcha- Paraná.

Professora Miriam dos Santos Teodoro


A LEI DOS POBRES: um obstáculo ao desenvolvimento
do mercado de trabalho assalariado na Revolução PENSE E
Industrial Inglesa RESPONDA:

Ao longo de sua
vida escolar você
já estudou a
respeito da
Revolução
Industrial. O que
guarda em sua
memória sobre o
conteúdo?

Em que disciplinas
figura 1 você estudou o
assunto?

Para você a
Revolução
Industrial constituiu
um fato importante
para a sociedade?
Por quê?
figura2
Para você o que é
ser pobre?

Figuras :

1- Representação
do Parlamento na
instituição da Lei
figura 3 dos Pobres.

2- Homem e as
Ilustrações: Cristiano Rosa
mudanças no
transporte.

3- Locomotiva.
1. A Revolução Industrial

Figura 4 ilustrações: Cristiano Rosa

A Revolução Industrial constitui o conjunto de transformações (sociais,


econômicas, culturais) que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX.
Efetivamente ela foi um processo que se desenvolveu a partir da década de
1780. Vários fatores contribuíram para que a Revolução Industrial ocorresse na
Inglaterra, entre os quais, a evolução da divisão social do trabalho e o aumento
da produtividade do trabalho. O desenvolvimento das indústrias e o
crescimento das cidades ocorreram de forma desigual e não combinado no
tempo e no espaço. O processo de transferência das ferramentas das mãos
dos trabalhadores para serem acopladas à máquina, também não foi
simultâneo. Com o desenvolvimento das fábricas e do sistema de motricidade,
os artesãos qualificados foram dispensados, pois suas aptidões e habilidades
passaram a ser desnecessárias. Entretanto, este foi um processo que demorou
décadas para se concretizar. Dessa forma, durante certo tempo, o trabalho
artesanal conviveu ao lado da vigilância e destreza dos operários das fábricas.
Durante o século XIX muitos estudiosos escreveram sobre a Revolução
Industrial, entre eles, destacam-se Karl Marx, Friedrich Engels. Outro autor
clássico que ajudou a difundir o conceito Revolução Industrial foi Paul Mantoux,
com a obra, A Revolução Industrial no Século XVIII – um clássico sobre o
tema, publicado 1906. Vejamos o que afirma Mantoux:

Foi na Inglaterra, na última terça parte do século XVIII, que nasceu a grande
indústria moderna. Desde o princípio, sua arrancada foi tão repentina, e teve tais
conseqüências, que pode ser comparada a uma revolução. [...] Mas, por mais rápida
que pareça ter sido a Revolução Industrial ligava-se a causas longínquas.
(MANTOUX, s/d, p.1).

Assim passou-se a conceituar a Revolução Industrial como o processo


histórico iniciado na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII,
responsável pela consolidação da produção inteiramente capitalista, que
fundou fábricas movidas a máquinas. Este processo exerceu uma profunda
transformação na vida dos homens.
Eric Hobsbawm define a Revolução Industrial:

A Revolução Industrial assinala a mais radical transformação da vida humana já


registrada em documentos escritos. Durante um breve período ela coincidiu com a
história de um único país, a Grã-Bretanha. Assim, toda uma economia mundial foi
edificada com base na Grã-Bretanha, ou antes, em torno desse país, que por isso
ascendeu temporariamente a uma posição de influência e poder mundiais sem
paralelo na história de qualquer país, que por isso ascendeu temporariamente a
uma posição de influência e poder mundiais sem paralelo na história de qualquer
país com as suas dimensões relativas, antes ou desde então, e que provavelmente
não será igualada por qualquer Estado no futuro previsível”. (HOBSBAWM, 1979,
p.13).
2. A Inglaterra pré-industrial e a Lei dos Pobres

A Revolução Industrial indiscutivelmente transformou a


história das sociedades humanas a partir do século XIX. De acordo VEJA MAIS
com Polanyi (2000), os acontecimentos vividos na esteira desse
acontecimento inglês influenciaram o cotidiano de todas as
sociedades, especificamente no que se refere à busca do lucro,
dando origem ao “sistema de mercado autorregulável”, tudo em um
Revolução
período de uma geração e numa intensidade somente comparável Industrial –
a uma “violenta erupção de fervor religioso na história”. (POLANYI, linha do
tempo
2000, p. 47).
Marx (2013) ao analisar a história da acumulação de capital,
no processo de transição do feudalismo para o capitalismo,
destaca-se que a evolução dos fatos levou à dissolução da
sociedade feudal, pois promoveu rupturas que transformou as
(duração
relações de produção, separando os trabalhadores e a propriedade 2:19).
das condições da realização do trabalho. Os meios de subsistência
https://www.y
e de produção foram transformados em capitalistas em que os outube.com/
produtores diretos foram transformados em trabalhadores watch?v=GE
yOUf7wNqo
assalariados.

O surgimento dos trabalhadores assalariados

O produtor direto, o trabalhador, só pôde dispor de sua pessoa depois que deixou
de estar acorrentado à gleba e de ser servo ou vassalo de outra pessoa. Para
converter-se em livre vendedor de força de trabalho, que leva sua mercadoria a
qualquer lugar onde haja mercado para ela, ele tinha, além disso, de emancipar-se
do jugo das corporações, de seus regulamentos relativos a aprendizes e oficiais e
das prescrições restritivas do trabalho. Com isso, o movimento histórico que
transforma os produtores em trabalhadores assalariados aparece, por um lado,
como a libertação desses trabalhadores da servidão e da coação corporativa, [...].
Por outro lado, no entanto, esses recém-libertados só se convertem em
vendedores de si mesmos depois de lhes terem sido roubados todos os seus
meios de produção, assim como todas as garantias de sua existência que as
velhas instituições feudais lhes ofereciam. E a história dessa expropriação está
gravada nos anais da humanidade com traços de sangue e fogo. [...] O ponto de
partida do desenvolvimento que deu origem tanto ao trabalhador assalariado como
ao capitalista foi a subjugação do trabalhador. O estágio seguinte consistiu numa
mudança de forma dessa subjugação, na transformação da exploração feudal em
exploração capitalista. (MARX, 2013, p. 786/787).
Portanto, a marcha da evolução capitalista produziu várias revoluções,
entre as quais, “[...] os momentos em que grandes massas humanas foram
despojadas súbita e violentamente de seus meios de subsistência e lançadas
no mercado de trabalho como proletários absolutamente livres”. A base de todo
o processo que lança os trabalhadores ao mercado é “[...] a expropriação da
terra que antes pertencia ao produtor rural, ao camponês, constitui a base de
todo o processo”. (MARX, 2013, p. 787).
Na Inglaterra, a servidão desapareceu no final do século XIV. Constituiu-
se ali uma população de maioria de “[...] camponeses livres, economicamente
autônomos, qualquer que fosse o rótulo feudal a encobrir sua propriedade.”
Formou-se então de uma classe de trabalhadores agrícolas que constituída em
parte, por camponeses “[...] que empregavam seu tempo livre trabalhando para
os grandes proprietários, em parte, numa classe de assalariados propriamente
ditos, classe essa independente e pouco numerosa, tanto em termos relativos
como absolutos.” De fato, “[...] o prelúdio da revolução que criou as bases do
modo de produção capitalista ocorreu no último terço do século XV e nas
primeiras décadas do século XVI.” Nesta época “[...] uma massa de proletários
absolutamente livres foi lançada no mercado de trabalho pela dissolução dos
séquitos feudais.” O poder real desenvolveu ações que acelerou violentamente
a dissolução dos séquitos feudais. Porém, o poder real não foi a causa
exclusiva dessa dissolução, pelo contrário foi a ação do grande proprietário
feudal. (MARX, 2013, p. 789-790).

A expropriação dos camponeses

[...] foi o grande senhor feudal que, na mais tenaz oposição à Coroa e ao
Parlamento, criou um proletariado incomparavelmente maior tanto ao expulsar
brutalmente os camponeses das terras onde viviam e sobre as quais possuíam os
mesmos títulos jurídicos feudais que ele quanto ao usurpar-lhes as terras
comunais. O impulso imediato para essas ações foi dado, na Inglaterra,
particularmente pelo florescimento da manufatura flamenga de lã e o consequente
aumento dos preços da lã. A velha nobreza feudal era aniquilada pelas grandes
guerras feudais; a nova nobreza era uma filha de sua época, para a qual o dinheiro
era o poder de todos os poderes. Sua divisa era, por isso, transformar as terras de
lavoura em pastagens de ovelhas. (MARX, 2013, p. 790).
O campo inglês foi arruinado pela expropriação das terras dos pequenos
camponeses, que tiveram suas habitações violentamente demolidas. O Estado
tentou uma série de legislação aterrorizante contra os grandes proprietários.
Isto se deu em decorrência do desenvolvimento do capital e a exploração e o
empobrecimento inescrupulosos das massas populares. Porém, destaca Marx
que “[...] as queixas populares e a legislação, que desde Henrique VII, e
durante 150 anos, condenou a expropriação dos pequenos arrendatários e
camponeses, foram igualmente infrutíferas.” Ou seja, a legislação não serviu
para nada, pois não impediu o avanço do capital e a destruição da pequena
propriedade camponesa. A legislação lutou em vão, pois não conseguiu manter
sequer a propriedade comunal. (MARX, 2013, p. 791).
No século XVI ocorreu mais um “[...] terrível impulso ao processo de
expropriação das massas populares”, devido à Reforma e, “[...] em
consequência dela, pelo roubo colossal dos bens da Igreja. Na época da
Reforma, a Igreja católica era a proprietária feudal de grande parte do solo
inglês.” O fim dos monastérios lançou os moradores de suas propriedades no
proletariado. Os bens da Igreja foram distribuídos aos favoritos do rei, ou,
simplesmente vendidos por um baixo preço a especuladores, que expulsaram
os antigos vassalos hereditários. Dessa forma, também “[...] a propriedade,
garantida por lei aos camponeses empobrecidos, de uma parte dos dízimos da
Igreja foi tacitamente confiscada.” (MARX, 2013, p. 792-793).
Foi diante desta realidade que a rainha Elizabeth I, após um giro pela
Inglaterra, no 43º ano de seu reinado, reconheceu oficialmente, em 1601, o
pauperismo das massas populares. Criou-se então a Lei dos Pobres, por meio
da introdução dos impostos de beneficência, que por vergonha veio ao mundo
sem nenhuma exposição de motivos. Em 1641, uma lei de Carlos I
“estabeleceu a perpetuidade desse imposto, somente em 1834 ela recebeu
uma nova forma, porém, mais rígida”. (MARX, 2013, p. 793).
Leia no quadro abaixo nota crítica de Karl Marx sobre este problema:
Os grandes proprietários rechaçam a Lei dos Pobres

O ‘espírito’ protestante pode ser reconhecido, entre outras coisas, no fato seguinte.
No sul da Inglaterra, vários proprietários fundiários e arrendatários abastados
congregaram suas inteligências e formularam dez perguntas acerca da correta
interpretação da Lei de Beneficência da rainha Elizabeth, submetendo-as em
seguida a um célebre jurista daquele tempo, [...] para que esse desse parecer.
Alguns dos arrendatários mais ricos da paróquia imaginaram um modo engenhoso
pelo qual todos os inconvenientes da aplicação dessa lei podem ser evitados. Eles
propuseram a construção de uma prisão na paróquia. A todo pobre que se negasse
a ser ali encarcerado seria negado o auxílio. Seria então anunciado à vizinhança
que aqueles que estivessem dispostos a arrendar os pobres dessa paróquia
deveriam apresentar ofertas lacradas, num determinado prazo, pelo preço mais
baixo pelo qual ele os retiraria de nosso estabelecimento. Os autores desse plano
supõem que nos condados vizinhos haja pessoas avessas ao trabalho e
desprovidas de fortuna ou crédito para obter um arrendamento ou um [negócio] de
modo a viver sem trabalho. Se um ou outro pobre morresse sob a tutela do
contratante, a culpa recairia sobre este último, pois a paróquia teria cumprido seu
dever para com esses mesmos pobres. Nosso receio, porém, é de que a atual lei
não admita qualquer medida prudencial (prudential measure) desse tipo; mas
podeis estar certo de que os demais freeholders [arrendatários] deste condado e
dos condados vizinhos se somarão a nós para incitar os representantes na Câmara
dos Comuns a propor uma lei que permita a reclusão e o trabalho forçado dos
pobres, de modo que seja vedado qualquer auxílio a toda pessoa que recuse seu
próprio encarceramento. Isso, esperamos, impedirá que pessoas em estado de
indigência requeiram ajuda [“...]” R. Blakey, The History of Political Literature from
the Earliest Times (Londres, 1855). (MARX, 2013, p. 793-794).

Para compreender algumas particularidades da Revolução Industrial do


ponto de vista econômico é necessário, de acordo com Polanyi (2000),
retornarmos ao período da dinastia Tudor, pois, foi nesta dinastia que se iniciou
o processo de cercamento dos campos, os chamados enclosures, ao substituir
as lavouras por pastagens para a produção de lã (matéria-prima para a
nascente indústria têxtil inglesa), conduziram os britânicos ao processo do
êxodo rural e elevação do valor da terra. Sendo a terra o principal meio de
produção – naquele contexto -, esta situação trouxe implicações à população
camponesa. O elo dos ingleses com o campo se mantém ao longo do tempo, a
sociedade pré-industrial continuava estreitamente ligada aos direitos sobre a
terra e dela dependente. Neste contexto, a legislação a respeito da pobreza
precisou adaptar as novas situações.
Dinastia Tudor

Formada pela família real inglesa (1485-1603). Fundada por Owen, o seu neto
Henrique VII foi proclamado rei depois de ter assassinado o seu tio Ricardo III.
Sucedeu-lhe o seu filho Henrique VIII, que em 1534 separou a Igreja da Inglaterra da
de Roma. Posteriormente foram coroados o seu filho Eduardo VI e as suas filhas
Maria I e Elizabeth I. A dinastia terminou com a morte desta, em 1603. (Enciclopédia
Barsa Universal, 2007, v. 18).

A Lei dos Pobres constitui uma ação genuinamente britânica criada para
lidar com a questão social. No principio de sua criação tinha uma finalidade. Ao
longo da sua existência foi preciso várias adaptações para atender a exigência
da relação entre patrões e trabalhadores. Para Mantoux a Lei dos Pobres
permite entender a situação das classes trabalhadoras na Inglaterra “constitui
um dos capítulos mais originais da legislação inglesa, e do reinado de
Elizabeth”. A finalidade original da lei era a repressão à mendicância e à
vagabundagem, bem como um alívio à pobreza existente. Dois sentimentos
brotavam no seio da lei, sendo um de “caridade cristã” e o outro de um
“violento preconceito social”. (MANTOUX, s/d, p. 442-443).

Quem foi Elizabeth I?

Elizabeth I (Greebwich 1533 – Richmond 1603), rainha da Inglaterra e da Irlanda


(1558-1603). Filha de Henrique VIII e de Ana Bolena. Viveu uma infância muito
agitada por causa das intrigas da corte. Após a morte de sua mãe, que tinha sido
acusada de adultério, Elizabeth foi declarada ilegítima e levada para a prisão da
Torre de Londres. Só subiu ao trono após a morte da meia-irmã, a rainha Maria
Tudor (1558). Elizabeth rodeou-se de um seleto e reduzido número de conselheiros.
[...] O enraizamento do protestantismo na Inglaterra conduziu à ruptura definitiva com
Roma e à excomunhão de Elizabeth (1570). Não menos complexa era a situação
econômica, caracterizada por uma forte crise agrária. (Enciclopédia Barsa Universal,
2007, v. 7).

Conforme já vimos a Lei dos Pobres foi implantada na Inglaterra pela


primeira vez em 1601, durante o reinado da Rainha Elizabeth I. Essa lei é
resultado da consolidação de leis anteriores que penalizava os pobres por
mendicância e vagabundagem, obrigando-os ao trabalho, num verdadeiro
ataque à pessoa corpórea.
Linebaugh (1984) salientou que estas leis provocavam um verdadeiro
terror aos pobres, já que:
Leia
[...] sob o próximo
Henrique quadro:
VIII, um vagabundo podia ser açoitado, ter as orelhas decepadas,
e ser enforcado; sob Eduardo VI, ter o peito marcado a ferro com letra “V” e
escravizado por dois anos; sob Elizabeth I, açoites e banimento para o serviço das
galés e a Casa de Correção. O código criminal elaborado sob Eduardo VI não era
muito menos violento contra os sem propriedade e o que Autolycus chamou de
“gatunos de ninharias sem importância”. Do mesmo modo, o Estatuto dos Artífices e
a Lei dos Pobres eram grandes esforços legais para impor o trabalho aos pobres.
(LINEBAUGH, 1984, p. 19).

Segundo Mantoux (s/d) a Lei dos Pobres foi aplicada por meio de
alternâncias entre a fraqueza e o rigor. Na intenção de acabar com os
mendigos profissionais, o que prevaleceu foi o rigor da lei, a obrigatoriedade do
trabalho e a internação nas “casas correcionais” as workhouses que se
assemelhavam a prisões. Essas “casas de correção” eram instituições
fundadas com o objetivo de “[...] atender e formar a camada alijada da
sociedade – homens, mulheres, enfermos, ociosos, criminosos e crianças - nos
padrões requisitados pelo sistema que se organizava, e com isso legitimar a
formação da nova sociedade.” (DORIGON, 2006, p. 10).
Mantoux descreve as razões das workhouses serem tão temidas:

A crueldade das workhouses

Uma das causas que mais contribuíram para dar a essa instituição de caridade
um caráter de dureza quase desumano, foi a base estreitamente local de sua
organização. Cada paróquia achava que só tinha que socorrer seus pobres,
excluindo os recém-chegados, que considerava intrusos: aliás, é provável que
algumas paróquias tenham tentado desembaraçar-se dos encargos de sua
competências às custas de outras paróquias, mais ricas ou menos avaras. Para
acabar com esse abuso, foi decretada, em 1662, a lei do domicílio (Act of
settement). Todo individuo que mudasse de local de residência podia ser
mandado de volta à paróquia onde tinha sido seu domicílio legal, independente
de sua vontade: a expulsão (removal) era pronunciada por dois juízes de paz, a
pedido dos administradores dos impostos dos pobres. E para justificar essa
decisão, não era preciso que a pessoa visada estivesse em estado de indigência
que requeresse ajuda imediata, tornando sua presença onerosa para a paróquia
onde viera se estabelecer: bastava que a eventualidade fosse considerada
provável. (MANTOUX, s/d, p. 443-444).

Hobsbawm (1982, p. 51) destaca o fato da Lei dos Pobres fluir de um


conjunto único de instituições “[...] que era por sua vez parte de um código
social mais amplo, formado basicamente sob os Tudors, apesar de modificado
substancialmente após a Restauração”. Nesse sentido, Hobsbawm salienta
que o código Tudor acreditava que os homens deveriam trabalhar e receber um
salário fixado por um juiz.

A lei torna o trabalho obrigatório

No fundo, o código Tudor acreditava que os homens deveriam trabalhar (e,


inclusive, serem forçados a isso, caso não quisessem) por salários fixados
localmente, todo ano, por Magistrados. Se por uma razão ou por outra não
pudessem trabalhar ou ganhar o seu sustento, aí então deveriam ser
sustentados, educados, ter atendimento médico e ser enterrados por sua
comunidade, isto é, por sua paróquia. Em outras palavras, o código social
provia, modernamente falando, tanto uma política de produtividade (trabalho
obrigatório), uma política de taxas e preços, com um sistema de assistência
social que, com exceção da primeira – tornar o trabalho obrigatório era tarefa
das autoridades encarregadas da Lei dos Pobres -, não se generalizaram. A Lei
dos Pobres lidava com aquele tipo de pessoas que não se encontravam sob o
outro grande instrumento da Lei, o Estatuto dos Artífices. O complemento mais
importante deste código era o Ato de Povoamento, de 1662, que restringia a
ajuda estritamente aos naturais da paróquia ou aqueles que ali se fixavam
permanentemente. (HOBSBAWM, 1982, p. 51).

Hobsbawm (1982) ressalta também que o código Tudor servia para livrar
os pagadores de impostos e taxas de ter um grande número de pobres ou
pobres em potencial para sustentar nas paróquias, além de garantir “[...] aos
empregadores da paróquia uma reserva local de força de trabalho”. Sendo
assim, o sistema no final do século XVII, era local e
paroquial, porém, antes disso, no reinado de Elizabeth I
Glossário e nos dos primeiros Stuarts houve esforços
Artífice (do lat. governamentais no sentido de estabelecer um controle
artificiale-) s. 2 gên. 1. nacional dos pobres, com coordenação estatal, até que
Pessoa que se dedica
“[...] novamente no século XVIII, se verificasse uma
a qualquer arte
mecânica; operário. 2. tendência de crescimento das unidades de
Fabricante de administração, através de combinação de paróquias e
artefato. 3. Indivíduo
seu agrupamento em ‘uniões’, tornando-as mais
que inventa. 4. Autor.
5. Obreiro, criador. flexíveis, permitindo a ajuda ocasional fora da casa dos

Enciclopédia Barsa
pobres da aldeia ou da união. (HOBSBAWM, 1982, p.
Universal, 2007, v.2. 51).
VEJA MAIS

ATIVIDADES

1- Com base na leitura e de suas reflexões sobre o que foi Dinastia


Tudor e a rainha
estudado até o presente, justifique a existência dos dois Elizabeth
sentidos atribuídos a Lei dos Pobres por Mantoux: “ caridade
cristã” e “violento preconceito social”?

2- Após assistir Dinastia de Tudor e a rainha Elizabeth, e


Elizabeth A Era de ouro comente a imagem retratada da (duração 7:54)
rainha Elizabeth, dando atenção para relação com os
https://www.youtube.c
monarcas da França e da Espanha. om/watch?v=xqrScQ
O91A8
3- Pesquise o que foi o governo de Cromwell.

Elizabeth A Era de
ouro
3. A Revolução Industrial

(duração 2:16)

https://www.youtube.c
om/watch?v=Zooxkgh
W0PE

PARA IR ALÉM

Assista o filme:
Elizabeth
Inglesa 5 figura - Fonte:

http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=485& O filme analisa a


Inglaterra absolutista
evento=3
de Elizabeth I (Isabel,
a Rainha Virgem),
que subiu ao trono
em 1558 para tornar-
se a mulher mais
poderosa do mundo.
5 - Ferro e carvão, de
William Bell Scott
(1855-60).

6 - Uma máquina
a vapor de
Watt. O motor a
vapor,
6 figura -
abastecido
Fonte:http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.ph
primeiramente
p?foto=485&evento=3#menu-galeria
com carvão,
impulsionou a
Revolução
Industrial no
Reino Unido.

7 vídeo
7 - Revolução
https://www.youtube.com/watch?v=U8YrlmfmMZo
Industrial
De acordo com a interpretação de Hobsbawm Inglesa

(1978, p. 37) na Inglaterra setecentista as pré-condições (documentário

para a industrialização já existiam ou eram facilmente completo)


Séries Filme
criadas. Sendo assim, em grande parte do território
Estudos
inglês não existia mais camponeses donos de terras por
Desenhos
volta de 1750. Ou seja, nessa época não havia mais
Animação.
agricultura de subsistência. “[...] Daí não ter havido
Duração: 25:23
maiores dificuldades para a transferência de homens de
atividades não industriais para as indústrias”. Um fator
determinante para que a Revolução Industrial de fato ocorresse na Inglaterra
foi a capacidade de superar obstáculos com facilidade, já que as condições
sociais e econômicas ali estavam desenvolvidos. A explosão da Revolução
Industrial só foi possível porque ali houve uma combinação de fatores
convergentes. É nesse sentido que Hobsbawm afirma que:
[...] o país acumulara capitais e tinha dimensões suficientes para permitir-se
investimentos nos equipamentos necessários à transformação econômica, não
muito dispendiosos antes de ferrovias. Uma razoável parcela desse equipamento
estava em mãos de homens dispostos a investir no progresso, ao passo que uma
parte relativamente dele estava nas mãos de homens inclinados a desviar recursos
para usos alternativos (e economicamente menos convenientes), como simples
ostentação. Não havia escassez de capital, relativa ou absoluta. O país não era
simplesmente uma economia de mercado – aquela em que a maior parte dos bens
e serviços fora do círculo familiar são comprados e vendidos –, mas em muitos
sentidos formava um único mercado nacional. E possuía um setor manufatureiro
extensivo e bastante desenvolvido, bem como uma estrutura comercial ainda mais
desenvolvida. [...] Os transportes e as comunicações eram baratos, uma vez que
nenhuma parte do país acha-se a mais de 112 km do mar e menos ainda de algum
curso de água navegável. Os problemas tecnológicos do começo da Revolução
Industrial eram bem simples. Não exigiam qualquer classe de homens com
qualificações científicas especializadas, mas simplesmente um número suficiente de
homens com escolaridade comum, familiarizados com dispositivos mecânicos
simples e com o trabalho em metal, e dotados de experiência prática e iniciativa. Os
dois séculos e meio passados desde 1500 haviam certamente proporcionado esse
lastro de mão-de-obra. A maioria das novas invenções técnicas e dos
estabelecimentos produtivos podiam começar economicamente em pequena escala
e expandir-se aos poucos, por adições sucessivas. Ou seja, exigiam pouco
investimento inicial e sua expansão podia ser financiada com a acumulação dos
lucros. O desenvolvimento industrial achava-se dentro das possibilidades de grande
número de pequenos empresários e artesãos tradicionais hábeis. Nenhum país do
séc. XIX que se disponha à industrialização tem, ou pode ter, qualquer uma dessas
vantagens. (HOBSBAWM, 1978, p. 37-38).

Ao longo do século XVIII ocorreram melhorias substanciais nos


transportes, por rios, canais e também por estradas de rodagem. Estas
melhorias reduziam os custos na movimentação de mercadorias. Além disso, o
desenvolvimento do mercado interno foi um estímulo para que a Revolução
Industrial “explodisse” em solo britânico, “[...] principalmente pela crescente
procura de alimentos e combustível nas cidades”.
Hobsbawm (1978) afirma que há três setores fundamentais na demanda
inicial do industrialismo. Quais sejam: 1. O crescimento do mercado interno; 2.
O mercado externo e 3. A ação do governo. O Mercado interno foi
impulsionado pelo crescimento da população no século XVIII, pois a população
duplicou em 50 ou 60 anos depois de 1780. Isso ocorreu porque houve uma
redução no índice de mortalidade, principalmente de recém-nascidos, de
crianças e adultos jovens. Além disso, houve um aumento na taxa de
natalidade entre 1740 e 1780. Uma dessas razões foi que as pessoas
passaram a casar e ter filhos mais cedo. Porém, não houve um prolongamento
da vida para mais de 70 anos. O aumento populacional significa mais gente
para trabalhar, mas também mão-de-obra mais barata, sendo importante
ressaltar que mais gente significa aumento de consumidores.
O mercado externo foi determinante para a “explosão” da Revolução
Industrial porque “[...] as atividades de exportação atuavam em condições
muito diferentes, e potencialmente muito mais revolucionárias.” Isto trazia a
possibilidade de comerciantes fazer fortunas. As atividades de exportação
cresceram 76% no período de 1700 a 1750 e, entre 1750 e 1770 cresceram
mais 80%. Estes índices são muito superiores aos do crescimento do mercado
interno. Portanto, a maior parte do lucro vinha das exportações, porque, “[...] a
procura interna aumentava a uma razão aritmética, mas a externa, a uma razão
geométrica.”
Qual a razão de tal sucesso com as exportações? Para Hobsbawm foi o
algodão. Nesse sentido, afirma que se havia a necessidade de uma centelha
para que a Revolução explodisse, ela surgiu nas atividades de exportações,
com o algodão.

A importância do algodão para a Revolução Industrial

A produção de algodão, a primeira a se industrializar, estava vinculada


essencialmente ao comércio ultramarino. Cada grama de sua matéria-prima tinha de
ser importada dos trópicos ou sub-trópicos, e, como veremos, seus produtos tinham
de ser vendidos basicamente no exterior. A partir do fim do séc. XVIII a indústria do
algodão já exportava a maior parte de sua produção total – talvez dois terços em
1805. A razão para esse extraordinário potencial de expansão estava no fato de que
as atividades de exportação não dependiam da modesta taxa de crescimento ‘natural’
da procura interna de qualquer país. Tais atividades podiam criar a ilusão de
crescimento rápido através de dois meios principais: a conquista dos mercados de
exportação a uma série de outros países, ou seja, pelos meios políticos ou semi-
políticos da guerra e da colonização. O país que conseguisse concentrar os mercados
de exportação de outros povos, ou mesmo monopolizar os mercados de exportação
de grande parte do mundo, durante um espaço de tempo suficiente, podia expandir
suas exportações a um ritmo que tornava a revolução industrial não só viável para
seus empresários, como às vezes praticamente automática. E foi isso o que a Grã-
Bretanha conseguiu fazer no século XVIII. (HOBSBAWM, 1978, p. 45-46).
O terceiro setor determinante para que a Revolução Industrial ocorresse
na Inglaterra foi o Estado. Afinal, a conquista de mercados por meio da guerra
e da colonização precisou de “[...] um governo disposto a empreender a guerra
e a colonização em benefício dos manufatureiros britânicos”. Foi isto o que o
governo britânico fez ao longo do século XVIII e XIX, por meio do Exército e da
Marinha. (HOBSBAWM, 1978, p. 46).
Henderson (1979) salienta que o progresso técnico serviu de estímulo
para o primeiro movimento das manufaturas inglesas. Os inúmeros inventos na
segunda metade do século XVIII permitiu a revolução nas indústrias têxteis,
nos metais e nos transportes, o que desencadeou a transformação da indústria
no campo da engenharia. Os conhecimentos técnicos não foram unicamente
da Inglaterra, muitos outros países europeus contribuíram para o processo de
inventos e aperfeiçoamento dos mesmos.
O desenvolvimento tecnológico reflete no transporte e nas
comunicações. Henderson (1979) distingue a era das invenções modernas em
duas fases distintas: a primeira; entre 1700 e 1850, tendo o carvão, o ferro e o
vapor como condutores e a segunda; a partir de 1850 até os dias atuais, os
responsáveis são o aço, a eletricidade, o motor de combustão interna e a
síntese de novas substâncias.
O desequilíbrio entre a eficiência da fiação e da tecelagem foi o que
determinou o rumo da industrialização. Isto porque os instrumentos como a
roca de fiar era menos produtivo do que o tear manual, sobretudo aquele
acelerado pela “lançadeira volante” [flying shuttle], que apesar de ser inventada
na década de 1730, só se disseminou na década de 1760, mas não conseguia
suprir os tecelões com a quantidade suficiente de fio. Hobsbawm (1978, p. 55)
destacou as seguintes invenções como determinantes para as transformações
produtivas:

As invenções técnicas

Três invenções conhecidas fizeram pender o prato da balança: o “filatório”


(spinning Jenny), na década de 1760, que permitia a um artesão trabalhar com
vários fios de uma só vez; o tear movido a força hidráulica (water frame), de 1768,
que pôs em prática a ideia original de fiar com uma combinação de rolos e fusos;
e a fusão dos dois, a ‘mula’ da década de 1780, a que logo foi aplicada a energia
do vapor. As duas últimas inovações implicavam produção fabril. As fábricas de
algodão da Revolução Industrial eram basicamente casas de fiação (e
estabelecimentos para cardar o algodão, antes de fiá-lo). Hobsbawm (1978, p.
55).
Com a introdução dessas tecnologias passou a ter mais tecidos do que
operários. A procura do produto de tecido que era grande, sofreu uma queda
devido ao baixo preço dos produtos e aumento da produtividade pelo uso da
máquina. Inicialmente isto obrigou o aumento do número de tecelões e também
do salário. Gradativamente o processo de transformações na produção levou
ao desaparecimento dos tecelões (artesãos) agricultores, que aos poucos
foram se integrando a uma nova categoria, a dos tecelões que viviam somente
de seu salário e não mais proprietário ou arrendatário de terra. Foi nesse
contexto, que, segundo Engels (1975) ocorreu o início da divisão do trabalho
entre a fiação e tecelagem.
As primeiras máquinas, com todas suas limitações, contribuíram para o
crescimento do proletariado industrial e viu nascer o proletariado rural. Os
avanços obrigaram os que estavam ligados às tradições sobre como lidar com
a terra, a adaptar-se ao modo que estavam trabalhando os demais, que
usavam os “princípios mais racionais”, lidando com grandes culturas e
investimento de capitais, para obter o melhoramento dos solos. Engels (1975),
ressalta que com a evolução a indústria passa a ganhar novos espaços com
alguns capitalistas instalando jennies em grande edifícios, acionadas com a
força hidráulica, diminuindo o numero de operários e passando a “vender o fio
mais barato que os fiandeiros isolados que moviam manualmente a sua
maquina”. (ENGELS, 1975, p. 21).
O aperfeiçoamento das invenções fez os trabalhadores manuais ficarem
desalojado, sendo substituídos cada vez mais pelas máquinas. Para Mantoux
(s/d) o homem, desde tempos imemoriais, cria suas ferramentas, e com elas
aumenta a produtividade do trabalho humano, de tal maneira que “[...] a mais
simples das ferramentas permite economizar uma soma considerável de
trabalho manual: um homem munido de uma enxada faz o trabalho de vinte
homens que só tenham suas unhas para cavar a terra”. Porém, “[...] a máquina
automática mais aperfeiçoada não elimina o trabalho humano de forma
absoluta”, ou seja, o homem precisa operá-la (MANTOUX, SD, p. 177).
ATIVIDADES

1- Assista ao vídeo: Revolução Industrial 41 (Documentário Completo


Dublado) Filmes Series Estudos - com base no vídeo e demais fontes de
informações que você obteve até o presente, registre como se deu o
desenvolvimento tecnológico.

https://www.youtube.com/watch?v=m8WDzFtd5hI

2- Construa uma linha do tempo dos principais inventos do período da


Revolução Industrial na Inglaterra, com informações sobre seus inventores,
para exposição em painel. ( Atividade em grupo).

3- Produza uma dissertação sobre o início da Revolução Industrial abordando o


pioneirismo inglês.

4- Descreva a importância do algodão nos primórdios da industrialização no


território inglês.

5- Registre os pontos importantes sobre a Revolução Industrial apresentados


nos vídeos assistidos ou sugeridos na Unidade Didática.
4. O sistema de Speenhamland

Em meio às transformações e rupturas vividas no século XVIII, a


sociedade, segundo Polanyi (2000) de modo “inconsciente" resistiu a todas as
iniciativas que visavam “transformá-la em mero apêndice do mercado”. Foi
dessa forma, que no auge da Revolução Industrial, entre 1795 a 1834, ocorreu
o impedimento da criação e desenvolvimento de um mercado de trabalho na
Inglaterra. Isso ocorreu em razão da adoção de um sistema que se tornou
conhecido como Speenhamland Law (Lei Speenhamland).
Na década de 1790, na região do Berkshire, na Inglaterra, ocorreu uma
crise que gerou profunda miséria às classes populares do campo, a pobreza e
a indigência se encontravam praticamente lado a lado. Foi assim que os
magistrados de Berkshire, numa conferência em Speenhamland, tomaram uma
decisão que, segundo Hobsbawm (1982, p. 49) “[...] resultou numa alternativa
desastrosa ao simples aumento do valor dos salários básicos.” Hobsbawm
acrescenta que os juízes, em Speenhamland, tomaram a decisão de subsidiar
os salários que estavam abaixo do valor local, “[...] nos casos em que a renda
da família do trabalhador caía abaixo do nível de subsistência, ou porque o
preço do pão estava bastante alto ou porque o número de crianças era muito
grande.” Entretanto, acrescenta que “[...] a escala ‘do pão e das crianças’,
apesar de nunca ter-se tornado lei, foi adotada praticamente sem exceção”.
(HOBSBAWM, 1984, p. 49).
Para Thompson (1987) a criação do sistema de Speenhamland se deu
por razões humanitárias e também por necessidade, porém os maiores
interessados na perpetuação daquele sistema eram os fazendeiros que
precisavam de grande número de trabalhadores ocasionais, assim como de
uma reserva de mão-de-obra barata. (THOMPSON, 1987, p. 53).
Para Mantoux (s/d, p. 449) os juízes que criaram a lei de Speenhamland
a fizeram apenas como medida circunstancial pelo simples “[...] medo de um
levante popular: o espetáculo da Revolução Francesa dava motivos de reflexão
à gentry. O que quer que tenha sido, o princípio estabelecido era singularmente
hábil.” Nesse sentido, afirma que “[...] todo homem, declaravam os magistrados
do Berkshire, tem direito a um mínimo para sua subsistência: se ele só pode
ganhar uma parte, com seu trabalho, a sociedade deve dar-lhe o resto”.
(MANTOUX, s/d, p. 449).
O oferecimento do abono era feito de acordo com uma tabela baseada
no preço do pão, tendo a população o mínimo para sua sobrevivência, o que
era denominado como “direito de viver”. A tabela sugerida pela Speenhamland
jamais foi promulgada, no entanto vigorou como lei, por quase quarenta anos,
na maior parte do campo e alcançou alguns distritos manufatureiros,
introduzindo inovação social e econômica, sendo um obstáculo no
estabelecimento de um mercado de trabalho competitivo. Esperava-se que por
meio do sistema de Speenhamland a Lei dos Pobres fosse administrada de
modo diferente do que vinha ocorrendo ao longo de sua existência, no entanto
não foi o que ocorreu.

Sob a lei elisabetana, os pobres eram forçados a trabalhar com qualquer salário que
pudessem conseguir e somente aqueles que não conseguiam trabalho tinham
direito a assistência sobre a forma de abono salarial. Durante a vigência da
Speenhamland Law, o individuo recebia assistência mesmo quando empregado, se
seu salário fosse menor do que a renda familiar estabelecida pela tabela.
(POLANYI, 2000, p.101).

Hobsbawm (1982) enfatiza que a vigência da Speenhamland tornou uma


carga gigantesca para todas as classes rurais do Sul da Inglaterra. De tal
maneira que “[...] a ‘Lei dos Pobres’ não era mais algo para se recorrer quando
um homem não conseguia garantir a sua subsistência, ela se tornou o quadro
geral, limite dentro do qual era possível a vida do trabalhador.” Isto fez com que
desaparecesse “[...] a distinção entre trabalhador e pobre”. Sendo assim:

Pelo sistema adotado pelos governantes do campo após a Conferência dos


magistrados de Berkshire em Speenhamland “[...] escolheram o que resultou
numa alternativa desastrosa ao simples aumento do valor de salários básicos.
Decidiram subsidiar os baixos salários além do valor local, nos casos em que a
renda da família do trabalhador caía abaixo do nível de subsistência, ou porque o
preço do pão estava bastante alto ou porque o número de crianças era muito
grande. A ‘escala do pão e das crianças’, apesar de nunca ter-se tornado lei, foi
adotada praticamente sem exceção.” (HOBSBAWM, 1982, p. 49).
Era muito raro haver um empregado com uma renda superior ao valor da
tabela, pois o empregador sempre tinha à sua disposição mão de obra com
baixo valor. No entanto, em pouco tempo ocorreu o declínio da produtividade
do trabalho nivelando o mesmo ao trabalho indigente, sendo isso uma razão a
mais para os empregadores não pagarem um salário superior ao determinado
pela tabela.
Mesmo o trabalho ainda sendo considerado obrigatório na prática, o
assistencialismo tornou-se geral. Mesmo quando ocorria dentro dos asilos de
indigentes raramente se poderia denominar trabalho a ocupação obrigatória
que era destinada aos seus internos.
Em consequência do sistema da Speenhamland as famílias não se viam
responsáveis pelos seus entes, os empregadores reduziam os salários
segundo suas vontades, os trabalhadores não passavam fome,
independentemente se fossem indigentes ou preguiçosos. Segundo Polanyi
(2000), os humanitaristas viam com bons olhos e tratavam como “gesto de
caridade e não de um ato liberal”. Até os contribuintes dos impostos levaram
algum tempo para perceber as consequências dos impostos que conclamava o
“direito de viver”, quer trabalhasse por um salário ou não.
Ao longo do tempo a situação chegou ao ponto de um homem comum
ter preferência à assistência aos pobres, do que ao salário. O salário que era
auxiliado pelos fundos públicos, chegou a uma condição tão baixa que foi
necessário recorrer à assistência dos impostos, e paulatinamente a população
do campo foi se tornando cada vez mais pobre.
O projeto de Reforma no ano de 1832 e a Emenda da Lei dos Pobres de
1834 são compreendidos como princípio do estabelecimento do capitalismo
moderno, por extinguirem o domínio do latifundiário benevolente e seu sistema
de abono. A sociedade se viu entre duas influências antagônicas, de um lado
“[...] emanava do paternalismo e que protegia a mão de obra dos perigos de um
sistema de mercado”, e de outro, organizava os elementos da produção, “[...]
inclusive a terra, sob um sistema de mercado, afastando a gente comum do
seu status anterior, compelindo-a a ganhar a vida oferecendo seu trabalho à
venda enquanto, ao mesmo tempo, privava esse trabalho do seu valor de
mercado”. (POLANYI, 2000, p.102-103).
Para Polanyi (2000), as condições vigentes
levaram ao surgimento de uma nova classe de
Glossário empregadores, em contrapartida, não havia por parte
dos empregados algo correspondente. Ocorreu
Ludistas. Grupos de novamente um grande movimento de cercamentos que
operários ingleses que no
início do século XIX mobilizava a terra e fazia surgir um proletariado rural,
destruíam as máquinas
introduzidas na indústria pela má gerência da Lei dos Pobres, esses proletariados
têxtil. O emprego da não tinham condição de sustentar-se por seu trabalho.
máquina no processo
produtivo provocou a ruína Os contemporâneos do período sentiam-se
de milhares de artesãos, que
incomodados ao constatar o aumento significativo da
se viram obrigados a vender
sua força de trabalho aos produção e a extrema pobreza das massas. Muitos no
empresários. Voltaram-se
então contra as máquinas ano de 1834 tinham plena consciência de que qualquer
que substituíam nas fábricas coisa era preferível à permanência da Speenhamland
seus instrumentos de
trabalho. A prática foi Law, ou seria necessária a destruição das máquinas
reprimida com a pena de
morte (lei de 1812) e a como sugeria os Ludistas em suas ações. A alternativa
deportação. A designação era a criação de um mercado de trabalho regular
veio do nome de King Ludd,
um dos líderes do (POLANYI, 2000, p.103).
movimento. Atualmente,
aqueles cidadãos, Certamente, a maneira que era gerida a
especialmente nos Estados Speenhamland, o “direito de viver” colocaria fim no
Unidos, que rejeitam a
utilização de computadores trabalho assalariado, tornando as paróquias
ou não reconhecem as
enormes vantagens
responsáveis pelo pagamento dos salários. Polanyi
oferecidas por esses (2000) ressalta que o aparecimento das Anti-
equipamentos, e não os têm
em suas casas, têm sido Combination Laws (Leis Anticombinação), de 1799-1800
denominados de neoluditas. foram motivadas pelo paternalismo da Speenhamland e
SANDRONI,1999, p.357. acredita que se não fosse por elas, “[...] a
Speenhamland poderia ter atuado no sentido de elevar
os salários em vez de rebaixá-los como realmente
aconteceu”. A atuação conjunta com Anti-Combination Laws resultou em um
desastre, a Speenhamland prejudicou as pessoas que pretendia socorrer por
meio do “direito de viver” financeiramente implementado (POLANYI, 2000,
p.104).
As gerações mais velhas tornaram-se cientes da incompatibilidade entre
as instituições, o sistema de salários e o “direito de viver”, ou seja, é impossível
o funcionamento de uma ordem capitalista, enquanto os salários contassem
com auxilio público. A complicada economia da Speenhamland era difícil de ser
compreendida até pelos observadores atentos da época, mas a conclusão que
chegaram foi que o abono prejudicava até mesmo os beneficiados por ele. De
fato, o sistema de Speenhamland “[...] se destinou a impedir a proletarização
do homem comum, ou pelo menos diminuir o seu ritmo o resultado foi apenas a
pauperização das massas, que quase perderam a sua forma humana no
decorrer do processo”. (POLANYI, 2000, p. 105).
O fato é que enquanto vigorou a Speenhamland, segundo Polanyi, o
cuidado com o povo era semelhante ao cuidado destinado aos animais, ou
seja, eram obrigados a viver na miséria. Após a abolição da Speenhamland era
necessário que este povo se cuidasse sozinho. Portanto, o homem se via
afastado do seu lar e da família, ficava sem referência. E para finalizar Polanyi
(2000), resume que se a Speenhamland significava a decomposição da
imobilidade, com a Lei dos Pobres de 1834 o perigo era o de ser exposto ao
risco de morte.
Hobsbawm (1982) define a realidade social durante os quarenta anos de
existência do sistema de Speenhamland afirmando que “[...] de uma forma ou
de outra, tornou-se uma enorme carga para todas as classes rurais do Sul da
Inglaterra”. Pois, de fato a Lei dos Pobres “[...] não era mais algo para se
recorrer quando um homem não conseguia garantir a sua subsistência, ela se
tornou o quadro geral, limite dentro do qual era possível a vida do trabalhador.
Assim, desaparecia a distinção entre trabalhador e pobre”. Isto porque a versão
da Lei dos Pobres, que vigorou durante a vigência do sistema de
Speenhamland foi “[...] na sua essência, uma tentativa de limitar o terceiro tipo
de mercado capitalista (aquele para os homens).” Ou seja, limitar o mercado de
trabalho. Nesse sentido, o sistema de Speenhamland foi “[...] uma alternativa
útil e eficaz para a garantia de escalas de salários mais elevadas.” Este
sistema foi “[...] no fundo, uma tentativa de manter o antigo ideal de uma
sociedade estável, porém desigual, combinando-o com aspectos do capitalismo
agrário vantajosos para os senhores de terra e sitiantes”. (HOBSBAWM, 1982,
p. 50).
Hobsbawm (1978) salientou que foi a decadência dos camponeses
pobres que tinha alcançado níveis alarmantes e catastróficos, principalmente
no sul e no leste da Inglaterra que levou à criação do sistema de
Speenhamland. Como cabia à Lei dos Pobres resolver o problema, diante de
uma situação que, embora, os proprietários de terra não fossem nada
altruístas, “[...] era-lhes difícil sequer conceber uma comunidade que não
proporcionasse um mínimo de salário até mesmo para seus membros mais
humildes, e algum meio de vida para os incapacitados pelo trabalho”.
(HOBSBAWM, 1982, p. 96).
Hobsbawm descreve a Speenhamland como:

A implantação do sistema de Speenhamland

Foi à luz dessas concepções vagamente definidas, mas defendidas com firmeza,
que os magistrados de Berkshire, reunidos em Speenhamland em 1795, tentaram
reformar a Lei dos Pobres, transformando-a, de uma instituição que suplementava
o funcionamento normal da economia, num mecanismo sistemático para garantir
aos trabalhadores um salário que desse para viver. Fixou-se um nível mínimo,
subordinado ao preço do trigo. Se os rendimentos fossem inferiores àquele mínimo,
deveriam ser suplementados pelos fundos dos pobres. Em suas formas mais
extremas o ‘Sistema Speenhamland’ não se generalizou como supunha no
passado, mas na forma mais moderada – e , para o período, extraordinariamente
gerosa – de uma sistemática pensão-família para homens com muitos filhos, o
sistema tornou-se quase universal em muitas partes do sul e do leste.
(HOBSBAWM, 1978, p. 97).

Hobsbawm afirma que este sistema se revelou desastroso


principalmente porque “[...] pauperizava, desmoralizava e imobilizava o
trabalhador, que podia confiar que não morreria de fome – em sua própria
paróquia ou em nenhuma outra parte do país”. Porém, o sistema discriminava
nitidamente o homem solteiro o que tivesse família pequena. A pobreza não
diminuiu, mas seu significado foi “[...] antes social que econômico. Foi uma
tentativa – uma última, ineficaz, mal planejada e malograda – de manter a
ordem rural tradicional em face de economia de mercado”. (HOBSBAWM,
1978, p. 97).
Thompson (1987, p. 57) o sistema de Speenhamland expressa bem uma
frase da economia política da época que afirma que ele “[...] destruiu os laços
de dependência mútua entre o mestre e seu empregado”.
Thompson faz uma análise crítica em relação as conseqüências do
sistema de Speenhamland :
As consequências do sistema de Speenhamland

[...] Na realidade, os trabalhadores, no sul, tinham sido reduzidos à total dependência


dos mestres enquanto classe. Mas o trabalho escravo ‘anti-econômico’,
especialmente quando é extraído de homens que nutrem ressentimentos pelos
direitos perdidos e apresentam as resistências inerentes ao ‘inglês que nasceu livre’.
Era anti-econômico supervisionar os grupos de trabalhadores (embora isso tenha
ocorrido durante muitos anos nos condados do leste), pois, durante a maior parte do
ano, eles precisavam trabalhar em grupos de dois ou três como o gado nos campos,
construindo cercas por sua própria iniciativa. Durante estes anos, a relação de
exploração foi intensificada a um ponto em que simplesmente se cortou o pagamento
– estes trabalhadores indigentes terminavam por se tornar ladrões de hortas e de
caça, parasitas de cervejarias e arruaceiros. Era mais fácil emigrar do que resistir,
pois, para reforçar a relação de exploração, havia a repressão política. O
analfabetismo, o esgotamento, a emigração dos mais ambiciosos, dos mais espertos
e dos Para
mais jovens
Thompson da vila, a sombra
(1987) doLei
a nova proprietário
dos Pobresruralalém
e dode
pároco,
negarasassistência
selvagens
punições aos furtos e aos motins por causa do pão e dos cercamentos – tudo se
ao tecelão e sua família, promoveu a permanência dos mesmos na profissão
conjugava para aumentar o fatalismo a inibir a articulação dos protestos. Cobbett,
por toda vida e ainda conduziu outros ao ofício, como o caso de alguns
principal tribuno dos trabalhadores, tinha diversos partidários entre os fazendeiros e
irlandeses
nas pequenas pobres. E ocorria
cidades de resistência á Lei dosÉPobres
feiras e mercados. poucopor meio deque
provável violência,
muitos
em muitos distritos têxteis.
trabalhadores conhecessem seu nome ou compreendessem suas intenções, antes
de 1830. [...] (THOMPSON, 1987, p. 58).

ATIVIDADES

1- Ao longo do texto sobre a Speenhamlad o que você define sobre está lei de
abono aos trabalhadores pobres? Ela atendeu a finalidade para qual foi criada?
Justifique sua resposta.

2- Pesquise a atuação dos ludistas no período da Revolução Industrial.


5. A reforma de 1834 e a criação da nova Lei dos Pobres

Polanyi destaca que o sistema de Speenhamland antecedeu a economia


de mercado, e que, a década de 1830 representou a transição para esta
economia. O ato legal que definiu este processo foi a Reforma da Lei dos
Pobres (Poor Law Reform Act) de 1834. De tal maneira que enquanto a
Speenhamland visava impedir a proletarização do homem comum, o que
acabou resultando numa pauperização das massas populares “[...] O resultado
foi apenas a pauperização das massas, que quase perderam a sua forma
humana no decorrer do processo.” Na década de 1830 a Poor Law Reform
aboliu a obstrução do mercado de trabalho e acabou com “direito de viver”.
Nesse sentido o autor salienta que “[...] a crueldade científica desse decreto foi
tão chocante para o sentimento público nos anos 1830-1840, que os protestos
veementes dos contemporâneos obscureceram o quadro aos olhos da
posteridade”. (POLANYI, 2000, p. 105).
Polanyi faz uma análise sobre os efeitos da Reforma da Lei dos Pobres
de 1834:

[...] É verdade que muitos dos pobres mais necessitados foram abandonados à sua
sorte quando se retirou a assistência externa, e entre aqueles que sofreram mais
amargamente estavam os “pobres merecedores”, orgulhosos demais para se
recolherem aos albergues, que se haviam tornado um abrigo vergonhoso. Em toda
a história moderna talvez jamais se tenha perpetrado um ato mais impiedoso de
reforma social. Ele esmagou multidões de vidas quando pretendia apenas criar um
critério de genuína indigência com a experiência dos albergues. Defendeu-se
friamente a tortura psicológica, e ela foi posta em prática por filantropos benignos
como meio de lubrificar as rodas do moinho de trabalho. O comum das queixas,
porém, relacionava-se realmente com a erradicação abrupta de uma instituição tão
antiga ao mesmo tempo que se efetuava uma transformação tão radical. Disraeli
denunciou essa “revolução inconcebível” na vida do povo. Entretanto, se levasse
em conta apenas a renda monetária, a condição do povo logo poderia ser
considerada como melhor. (POLANYI, 2000, p. 105).

Portanto, de acordo com Polanyi, os efeitos da Reforma da Lei dos


Pobres de 1834, foram terríveis nos anos seguintes a 1834, principalmente na
década de 1840, pois as autoridades do Estado, responsáveis por aplicar a
Nova Lei dos Pobres cometeram atrocidades contra os pobres, mas estas
foram esporádicas e “[...] quase nulas quando comparadas aos efeitos gerais
das mais potentes de todas as instituições modernas – o mercado de trabalho”.
Portanto, o mercado de trabalho – criado pela Nova Lei dos Pobres – se
revelou daninho à classe trabalhadora. (POLANYI, 2000, p. 105).
Mantoux se posiciona acerca do mercado de trabalho:

Quanto à extensão, era similar à ameaça representada pela Speenhamland, com a


diferença significativa de que a fonte de perigo era agora não a ausência mas a
presença de um mercado de trabalho competitivo. Se a Speenhamland impedira a
emergência de uma classe trabalhadora, agora os trabalhadores pobres estavam
sendo formados nessa classe pela pressão de um mecanismo insensível. Se
durante a vigência da Speenhamland cuidava-se do povo como de animais não
muito preciosos, agora esperava-se que ele se cuidasse sozinho, com todas as
desvantagens contra ele. Se a Speenhamland significava a miséria da degradação
abrigada, agora o trabalhador era um homem sem lar na sociedade. Se a
Speenhamland havia sobrecarregado os valores da comunidade, da família e do
ambiente rural, agora o homem estava afastado do lar e da família, arrancado das
suas raízes e de todo o ambiente de significado para ele. Resumindo, se a
Speenhamland significava a decomposição da imobilidade, agora o perigo era a
morte pela exposição. (POLANYI, 2000, p. 105).

Portanto, na Inglaterra só se desenvolveu um mercado de trabalho


competitivo após 1834. Nesse sentido, só foi a partir desta data que o
capitalismo industrial se firmou como sistema social, apesar da origem da
Revolução Industrial remontar às últimas décadas do século XVIII, até a
década de 1830 os artesãos se constituíam na maior parte dos trabalhadores.
Foi a partir da promulgação do Poor Law Reform Act de 1834, que liberou a
lógica do sistema de mercado para a contratação da força de trabalho, que se
instaurou definitivamente a contradição capital e trabalho. Foi nesse contexto
de pauperização, de miséria e todo o efeito deletério da Nova Lei dos Pobres
que se manifestou a autoproteção da sociedade, pois, quase que
imediatamente “[...] surgiram leis fabris e uma legislação social, assim
como a movimentação política e industrial da classe trabalhadora”. De
fato, segundo Polanyi, “[...] foi justamente com essa tentativa de evitar os
perigos totalmente novos do mecanismo de mercado que a ação protetora
entrou em conflito fatal com a autorregulação do sistema”. Esse autor afirma
que o ponto de partida da dinâmica social de se contrapor à forma cruel do
mercado foi a Speenhamland Law. (POLANYI, 2000, p. 106).
A seguir as posições de Polanyi sobre o antagonismo entre os
pressupostos da Speenhamland e da nova Lei dos Pobres (Poor Law Reform):

A contradição Speenhamland versus Nova Lei dos Pobres

[...] Se sugerimos que o estudo da Speenhamland é o estudo do nascimento da


civilização do século XIX, não temos em mente exclusivamente seus efeitos
econômicos e sociais, nem mesmo a influência determinante desses efeitos sobre a
moderna história política, mas o fato de que a nossa consciência social foi fundida
nesse molde, fato esse desconhecido da atual geração. A figura do indigente, quase
esquecida desde então, dominava uma discussão que deixou marcas tão profundas
como as dos acontecimentos mais espetaculares da história. [...] Durante as décadas
que se seguiram à Speenhamland e à Poor Law Reform foi que a mente do homem
se voltou para a sua própria comunidade com uma nova angústia e preocupação: a
revolução que os juízes de Berkshire em vão tentatam frear e que a Poor Law Reform
eventualmente liberou modificara a visão dos homens em relação a seu ser coletivo,
como se a sua presença tivesse sido esquecida até então. Descobriu-se um mundo
de presença insuspeitada, o das leis que governam uma sociedade complexa.
Embora a emergência da sociedade, neste sentido novo e característico, tenha
ocorrido no campo econômico, seu referencial foi muito mais abrangente, universal.
(POLANYI, 2000, p. 106).

Hobsbawm (1978) ao analisar da segurança social (políticas sociais)


salienta que na medida em que os trabalhadores dependiam dos governantes
para determinar “[...] a pouca assistência pública que existia, ela constituía
mais uma fonte de degradação e opressão do que um meio de socorro
material”. (HOBSBAWM, 1978, p. 83).
Nesse sentido, esse historiador é radicalmente crítico em relação à Lei
dos Pobres de 1834:

Os atos desumanos da Lei dos Pobres de 1834

Poucos estatutos foram mais desumanos que a Lei dos Pobres de 1834, que
tornava qualquer socorro social “menos elegível” que o mais baixo salário vigente,
confinava-o a centros de trabalho com características de penitenciária, separando
pela força maridos, mulheres e filhos, a fim de castigar os pobres por sua
indigência e desencorajá-los da perigosa tentação de procriar novos miseráveis. A
lei nunca foi inteiramente aplicável, pois onde os pobres tinham força resistiram a
seus extremos, e com o tempo ela se tornou um pouco menos rigorosa. No
entanto, ela constituiu a base para a previdência social inglesa até as vésperas da I
Guerra Mundial, e as experiências de infância de Charlie Chaplin atestam que ela
não havia mudado muito desde que Oliver Twist, de Dickens, exprimiu o horror
popular por aquela monstruosidade legal na década de 1830. E por essa época –
na verdade, até a década de 1850 – pelo menos 10% da população inglesa era
formada de indigentes. (HOBSBAWM, 1978, p. 83).
De fato, a Lei dos Pobres em sua versão de 1834 foi uma vitória da
burguesia industrial e urbana. Portanto, esta classe conseguiu impor a lei que
transformou a sociedade numa economia de mercado. A partir da revogação
do sistema de Speenhamland o mercado de trabalho foi ampliado, pois os
trabalhadores que perderam a assistência do “direito de viver” das paróquias,
para conseguir a subsistência da família, tiveram que passar a comparecer no
mercado para vender a única mercadoria que possuía: sua força de trabalho.
Nesse sentido, tiveram que se deparar com o capitalista comprador da força de
trabalho.
Polanyi (2000) salienta que a reforma da Lei dos Pobres começou de
fato em 1832 com a aprovação da Lei Parlamentar da Reforma. A primeira
ação importante da reforma foi à abolição da Speenhamland. Diante dos
métodos paternalistas e assistencialistas da Speenhamland “com a vida no
campo”, fez com que os defensores mais radicais da reforma não tivessem
coragem de propor um período de transição menor do que dez ou quinze anos.
Quando, na realidade, a Speenhamland foi extinta “[...] de forma tão abrupta
que desmascara a lenda do gradualismo inglês, adotada em época posterior,
quando se procurava argumentos contra a reforma radical”. Isto provocou um
choque brutal, cujo pesadelo marcou a consciência “[...] de inúmeras gerações
da classe trabalhadora britânica”. (POLANYI, 2000, p. 125-126).
Esse autor afirma enfaticamente que:
O sucesso dessa operação dilacerante, no entanto, foi
conseqüência da profunda convicção de amplos estratos da
população, inclusive os próprios trabalhadores, de que o
sistema que pretendia auxiliá-los, na aparência, estava de fato
espoliando-os, e que o “direito de viver” era uma enfermidade
que os levaria à morte. (POLANYI, 2000, p. 126).

A nova Lei dos Pobres de 1834 que, no futuro, nenhuma assistência


externa seria concedida ao trabalhador e sua família. A administração seria
centralizada e exercida nacionalmente. O sistema de salários foi abolido
naturalmente, para dar liberdade ao patronato de pagá-los de acordo com a
conveniência. “[...] Reintroduziu-se a experiência dos albergues, mas num novo
sentido”. (POLANYI, 2000, p. 126).
Polanyi descreve a desumanidade dos albergues:
A desumanidade dos albergues depois de 1834

Ficava agora a critério do candidato decidir se ele se considerava realmente tão


destruído de meios que iria voluntariamente procurar um abrigo que fora
transformado, deliberadamente, num antro de horror. O albergue se investira de um
estigma e permanecer nele se tornara uma tortura psicológica e moral, embora ele
atendesse às exigências de higiene e decência – requisitos estes engenhosamente
usados como pretexto para outras privações. Já não eram mais os juízes de paz ou
os inspetores locais que administravam a lei, e sim autoridades com um poder mais
amplo – os guardiães – sob uma supervisão central ditatorial. Até a cerimônia de
enterro de um indigente tornava-se um ato no qual os seus companheiros
renunciavam, mesmo na morte, à solidariedade que lhes era devida. (POLANYI, 2000,
p. 26).

Na visão de Polanyi a nova Lei dos Pobres de 1834 foi uma exigência do
capitalismo que impôs a revogação do sistema de Speenhamland, pois este
servia aos interesses da Inglaterra rural e também “[...] a população
trabalhadora em geral, contra o funcionamento total do mecanismo de
mercado”. O autor ressalta que, quando a Speenhamland foi revogada “[...]
grandes massas da população trabalhadora pareciam mais espectros de um
pesadelo do que seres humanos”, pois fisicamente estavam definhados e
desumanizados. Entretanto, por outro lado, “[...] as classes dominantes
estavam moralmente degradadas”. (POLANYI, 2000, p. 126-127).
Esta nova realidade consistiu na imposição do mecanismo de mercado.
O trabalho humano – para Polanyi – foi transformado em mercadoria, enquanto
que “[...] o paternalismo reacionário tentara em vão resistir a essa necessidade.
Fugindo aos horrores da Speenhamland, os homens correram cegamente para
o abrigo de uma utópica economia de mercado”. (POLANYI, 2000, p. 127).

ATIVIDADES

1- Leia o livro Oliver Twist, tradução de Machado de Assis e Ricardo Lísias, 1ª.
Ed., São Paulo Hedra, 2002 indicado no Veja Mais.
2- Assista o filme Oliver Twist, o mesmo é baseado no VEJA MAIS
romance de Charles Dickens que trata o fenômeno da
delinquência provocada pelas condições precárias da
sociedade inglesa no meado do século XIX. Filme Olver
Twist (duração
3- Após assistir o filme descreva a situação do personagem 1:31:30)
principal e demais quatro personagens que lhe chamou sua http://www.youtube.co
atenção. Em sua descrição destaque os aspectos sociais, m/watch?v=NJ2DQFFj
--0
econômicos de cada um e as perspectivas que tinham de
mudar a situação em que se encontravam na sociedade. O clássico da literatura
escrito por Charles
4- Durante o enredo do filme como se apresentam as ações Dickens ganha aqui
uma versão produzida
das instituições para o bem estar dos seres humanos? para televisão. A
Comente as ações e quem eram os representantes das história é situada na
Inglaterra do século
mesmas.
19, quando o jovem
Oliver Twist se vê
sozinho nas ruas de
Londres. Envolvido por
6. Os trabalhadores do campo no período da um bando de patifes e
ladrões, é preso por
Revolução Industrial
um crime que não
cometeu. Agora ele
precisa provar sua
inocência, escapar da
gangue, e achar a
família que sempre
desejou.

Dirigido por Tony Bill

Acesso ao
livro Oliver Twist em
pdf

http://machado.mec.go
v.br/images/stories/pdf/
Figura 8 ilustrações: Cristiano Rosa
traducao/matr03.pdf
No século XIX, na Inglaterra, ainda havia
camponeses que viviam arando o solo, pois tinham um
pequeno “pedaço de terra para uso próprio”, porém, quando
os políticos e panfletários se referiam ao campesinato, tratava-se dos
“trabalhadores assalariados agrícolas” (HOBSBAWM, 1982, p. 25).
Thompson (1987) destaca que, entre 1790 e 1830, os trabalhadores
agrícolas se constituem no maior grupo entre todos os trabalhadores. Esse
autor salienta que é necessário considerarmos no mínimo quatro formas
distintas entre patrões e empregados:

A situação das categorias de trabalhadores rurais

Na primeira categoria [os empregados da fazenda, contratados por um ano ou


uma estação], que declinou durante este período, havia uma maior segurança e
uma menor independência: baixos salários, muitas horas de trabalho, mas o direito
à alimentação e alojamento na propriedade do fazendeiro. Na segunda categoria
[uma força de trabalho regular – nas grandes fazendas – empregada durante a
totalidade do ano], coexistiam algumas das melhores e das piores condições: num
extremo, havia o lavrador ou o pastor que era mantido em segurança por um
fazendeiro sensato, que dava prioridade à sua mulher e aos seus filhos nos
trabalhos casuais, vendendo-lhes leite e cereais a preços baixos; no outro extremo,
viam-se jovens lavradores instalados e alimentados tão miseravelmente quanto
qualquer aprendiz pobre nas primeiras fábricas, morando em celeiros e sujeitos à
demissão a qualquer momento; entre estes dois casos , estavam ‘aqueles homens
infelizes compelidos por suas necessidades a se tornarem escravos de outro
homem’, que vivam em cabanas apertadas e eram ‘obrigados a trabalhar por baixos
salários, durante o ano inteiro’. Na terceira categoria [os trabalhadores casuais,
pagos por dia ou por tarefa], há uma imensa variedade: mão-de-obra miserável;
mulheres e crianças empregadas por salários aviltantes; trabalhadores irlandeses
imigrados (até mesmo trabalhadores de indústrias têxteis ou outros artesãos
urbanos que abandonavam seu trabalho, atraídos pelos maiores salários da época
da colheita); e os trabalhadores qualificados pagos por empreitada, como aqueles
que ceifavam campos de forragem de diferentes qualidades. Na quarta [categoria
especialistas de diferentes graus de qualificação, que podiam ser contratados por
empreitada], há tantas diferenças entre as práticas, além das subcontratações ou
salários familiares encobertos, que se torna inviável qualquer tentativa de
tratamento estatístico. (THOMPSON, 1987, p. 42-43).

Thompson salienta que acima de tudo está o efeito das Leis dos Pobres,
antes e depois de 1834, pois “[...] a ocorrência das diferentes injustiças podia
ser considerada de uma forma completamente distinta em diferentes épocas e
depois de 1834”. De fato, em algumas regiões a forma de pagamento podia até
indicar uma melhoria no padrão de vida, mas, de fato, geralmente, “‘[...] temos
de encarar essas concessões como ‘um sutil eufemismo para os baixos
pagamentos na agricultura’ – uma forma de manter os salários baixos ou, em
casos extremos, de eliminar totalmente o salário em moeda”. (THOMPSON,
1987, p. 43-44).
Thompson destaca o fato dos processos que estavam transcorrendo em
diversas partes do país se constituir num emaranhado de evidências
conflitantes, pois o desenvolvimento agrícola no século XVIII não tinha nenhum
desejo altruístico ou humanista de eliminar as terras improdutivas, muito menos
os pressupostos contidos na entediante frase de – “alimentar uma população
em crescimento”. O objeto era aumentar os rendimentos e os lucros. O fato é,
que a prática fundada nos argumentos de aumentar as rendas e a
produtividade da terra, fez com que “[...] de uma vila a outra, o cercamento
avançava, destruindo a economia de subsistência dos pobres que já era
precária”. Diante do violento processo dos cercamentos o indivíduo que não
conseguisse provar ter direitos legais sobre a terra, não recebia compensação.
Enquanto que “[...] aquele que conseguisse prová-los, recebia um pedaço de
terra impróprio, para prover a sua subsistência, sendo obrigado a arcar com
uma parcela desproporcional nos altos custos do cercamento”. Nesse sentido,
Thompson crava a seguinte sentença: “[...] os cercamentos [...] representaram
claramente um caso de roubo de classe, cometido de acordo com as
regulamentações sobre a propriedade baixadas por um Parlamento de
proprietários de advogados”. Tratava-se de uma “[...] redefinição da natureza
da propriedade agrária”. (THOMPSON, 1987, p. 44-45).
A organização nos moldes da organização da propriedade capitalista
significou uma “[...] ruptura na estrutura tradicional dos costumes e dos direitos
dos aldeões”. Isto implicou numa contundente violência contra os camponeses.
Thompson descreve a situação da violência do seguinte modo:

A violência e as injustiças sociais dos cercamentos

[...] a violência social dos cercamentos consistiu precisamente na imposição total e


drástic das definições de propriedade capitalista sobre as vilas. Naturalmente,
estas definições foram se infiltrando nas vilas antes dos cercamentos, durante
séculos, mas coexistiram com os costumes e com os elementos de autonomia
presentes na estrutura da comunidade pré-capitalista da vila, que embora
estivessem indubitavelmente se desintegrando sob a pressão do aumento
populacional – persistiram com um vigor notável em diversos locais. [...] Os direitos
triviais dos aldeões, como a respigadura, o uso de lenha e o confinamento do gado
no restolhal, considerados irrelevantes pelos historiadores do crescimento
econômico, podiam ter uma importância capital para a sobrevivência dos pobres.
Na verdade, os cercamentos representaram o ponto culminante de um longo
processo secular em que as relações consuetudinárias dos homens com os meios
de produção agrícolas foram corroídas. As conseqüências sociais foram profundas
porque o processo tornou visível, tanto em relação ao passado quanto ao futuro, a
destruição dos elementos tradicionais na sociedade camponesa inglesa. Se
examinássemos a agricultura inglesa no século 18, através das páginas dos
Annals of Agriculture, de Arthur Young, ou dos vários informes sobre os condados
preparados para o Conselho de Agricultura (no final do século), poderíamos supor
que as sanções consuetudinárias há muito tivessem perdido sua força. Mas se
observarmos a cena novamente, do ponto de vista do aldeão, encontraremos um
grande número de usos e prerrogativas, que abrangiam desde as terras comunais
até o mercado e que, tomados em conjunto, constituíam o universo econômico e
cultural dos pobres no campo. (THOMPSON, 1987, p. 46).

Thompson (1987, p. 49) ressalta que no final do século 18 ocorreu uma


pressão crescente contra os direitos comunais, ao mesmo tempo em que se
verifica para pastagens. Isto faz com que “[...] a linha divisória entre os
interesses dos pequenos proprietários e os aldeões pobres adquire uma
importância crítica”. (THOMPSON, 1987, p. 49).

1º O pequeno proprietário estava interessado na rigorosa limitação e regulamentação


dos direitos comunais; 2º O aldeão e o usucapiente queriam que prevalecesse uma
definição mais vaga. Os olhos do pequeno proprietário (como os de qualquer lavrador
em qualquer época ou nação) brilhavam diante da expectativa de obter imediatamente
o direito de propriedade mesmo que fossem apenas os quatro ou cinco acres que o
cercamento poderia lhe conferir. Mas o aldeão sem qualquer direito a propriedade
perdia tudo com o cercamento. No decorrer do processo, os ganhos dos pequenos
proprietários provaram ser ilusórios; porém, a ilusão conservou-se durante os anos das
guerras francesas, enquanto os preços se mantiveram elevados. (THOMPSON, 1987,
p. 49).
Para Thompson (1987, p. 51), os acontecimentos que ocorreram entre
1790 e 1810, seguiram novos rumos, pois foram de cunho político com o
objetivo de aumentar a dependência da reserva de mão de obra barata, de
acordo com as conveniências dos latifundiários e manufatureiros, o que levou à
necessidade da adoção de diversos sistemas de assistência aos que
precisavam, “[...] auxilio determinado pelo preço do pão e do número de filhos”.
(THOMPSON, 1987, p.52).
Na interpretação de Mantoux (s/d), a classe dos pequenos proprietários
camponeses livres e os arrendatários hereditários, enfim, aqueles que ainda se
encontravam vinculados à terra – os yeomanry – praticamente desapareceram
ao longo do século XVIII, pois, “[...] as pequenas propriedades absorvidas pelos
grandes domínios vizinhos, ou vendidas a compradores das cidades; e
mostram ainda os pequenos proprietários convertidos, parte em arrendatários,
parte em joalheiros”. Sendo que “[...] os mais empreendedores foram buscar
fortuna longe da terra que há séculos alimentava sua linhagem”. Porém, o
desaparecimento dos yeomanry não se deu simultaneamente em todos os
lugares, pois desapareciam rapidamente em alguns, mas se mantinham em
outros. (MANTOUX, s/d, p. 125-126). A descrição de Mantoux sobre esta
questão:

A extinção dos camponeses – yeomanry

[...] a prosperidade artificial da agricultura inglesa durante as guerras napoleônicas


permitiu-lhe uma espécie de reflorescimento. Mas a crise subsequente à conclusão
da paz infligiu-lhe um golpe do qual não deveria mais se recuperar: o relatório
parlamentar de 1833, sobre a situação da agricultura, registra sua morte em quase
todo o país. As montanhas do Cumberland preservaram por algum tempo a
existência dos últimos yeomen. [...] Se o enfraquecimento da yeomanry não
tivesse começado antes do fim do século XVIII, poderíamos, com muita
verossimilhança, considerar seu desaparecimento como uma das conseqüências
da revolução industrial. O declínio das indústrias a domicílio não arrebatou das
classes rurais seus meios de subsistências? Está foi, sem dúvida, uma das
causas. Mas foi uma causa tardia, cuja ação só pode fazer-se sentir quando a
yeomanry já perdera terreno. Há muito tempo sua diminuição era relatada, quando
a grande indústria e suas conseqüências lhe deram o golpe de misericórdia. Além
disso, a yeomanry não foi a única a sucumbir. Sua sorte foi um mero episódio de
um drama mais amplo, no qual todas as classes rurais da Inglaterra
desempenharam seu papel. (MANTOUX, s/d, p.127).
De fato, as terras comuns tinham pouco valor, e eram “abandonadas” ao
estado natural por uma negligência tradicional, mas seu usufruto proporcionava
várias vantagens aos camponeses que dela utilizavam. Em algumas paróquias
havia o direito a aqueles que viviam em uma casa, poderiam usar os pastos
para dois ou três animais na terra comum. Entretanto, “[...] era raro, de fato,
que um indivíduo pudesse enviar ao pasto comum um número ilimitado de
cabeças de gado”. De fato, isto era um privilégio exclusivo do senhor enquanto
proprietário das terras. Havia tolerância que permitiam quase todos
camponeses da Inglaterra usufruir, na maioria do tempo de quase todo o bem
comum. Além do que, os camponeses tinham o direito, caso houvesse árvores,
cortar madeira para usar a madeira. Os camponeses tinham direito de pescar
nos lagos ou rios, existentes nas terras comuns. Além disso, nos grandes
pântanos eles podiam abastecer-se de turfa e, ainda, “[...] havia outra
vantagem: certos direitos não se exerciam exclusivamente nas terras comuns,
mas se estendiam, às vezes, a outras partes da paróquia”. (MANTOUX, s/d, p.
135-136).
Não eram todos os habitantes que tinham direito às terras comuns
(common), até porque essas terras não eram sem donos. O common pertencia,
por princípio, ao senhor, pois este exercia uma espécie de direito sobre todo o
território da paróquia. O common, muitas vezes era chamado simplesmente de
terra do senhor.
Sobre esta questão Paul Mantoux, escreve:

O direito sobre as terras comuns

De fato, esse direito senhorial nada tinha de exclusivo: assim como nas terras do
open Field o senhor como que cedera uma parte de seus direitos territoriais aos
camponeses livres, também concedeu-lhes o usufruto dos bens dos bens ditos
comuns. Mas, no common, acontecia o mesmo que no open Field: terminada a
colheita, não eram todos os habitantes que podiam levar seus rebanhos ao campo
ceifado, mas apenas aqueles que tinham um ou vários lotes de terra na paróquia.
Após terem juntos cultivado o solo, eles o utilizavam juntos, como um pasto
comum: era a consequência natural da aliança, da associação costumeira que os
unia. O common estava submetido ao mesmo regime: ele era comum, não a
todos os proprietários. Apesar da aparência, não era terra livre, cujo uso não
estava submetido a restrição alguma: o acesso a ela era permitido em função de
títulos, e na proporção desses títulos. (MANTOUX, s/d, p. 136).
O direito de cada um era determinado de acordo com o tamanho da
propriedade, quanto mais lotes (parcelas) o camponês tivesse no open Field
(campo aberto), mais animais podia enviar à terra comum. Portanto, fica
evidente que “[...] o usufruto dessa terra chamada comum não somente não
cabia a todos, mas era destinado a cada um na proporção daquilo que já
possuía”. Desse modo, a verdade é que “[...] nada poderia estar mais distante
de uma igualdade ideal, cujo modelo deve ser buscado, não num passado mal
estudado ou mal compreendido, mas na especulação racional que, ajudada
pela experiência, prepara o futuro”. (MANTOUX, s/d, p. 137).
A posição de Mantoux sobre as terras comuns é expressa da seguinte
forma:

O direito de uso nas terras comuns

Por pouco igualitário que fosse o regime das terras comuns inglesas, ele oferecia
vantagens reais à população pobre. Independentemente dos direitos
proporcionais à superfície ou ao valor das propriedades, às vezes existiam outros
direitos, que eram os mesmos para todos os habitantes da paróquia. Em certos
distritos, qualquer família que ocupasse uma casa podia levar a pastar dois ou
três animais na terra comum: faculdade preciosa para quem toda fortuna se
resumia a uma vaca, algumas aves, um porco que se matava à aproximação do
inverno. E quando não era um direito reconhecido, o costume interferia, costume
sempre mais flexível e, em geral, mais humano do que as leis. Uma antiga
tolerância permitia a quase todos os camponeses da Inglaterra usufruir, ás vezes
em grande medida, o bem comum. As mulheres recolhiam lenha para
aquecimento. Em certas localidades do Yorkshire, era na terra comum que os
tecelões pobres estendiam suas peças de tecido, após o branqueamento ou a
tintura. Enfim, abrigos, cabanas, habitações humildes nela se erguiam: as terras
baldias tinham muito pouco valor para que se impedisse que alguns pobres nela
se instalassem e vivessem. Sem nenhum direito reconhecido, mas por uma
espécie de permissão tácita, multiplicavam-se as choças, construídas com
materiais leves retirados do próprio common: os cottagers e os squatters eram
muitos, e aquilo que lhes permitiam retirar naquele domínio que não lhes
pertencia, trazia algum alívio à sua vida rude e precária de assalariados rurais.
(MANTOUX, s/d, p. 137-138).

De forma concreta a maioria absoluta da população, não tinha direitos


efetivos às terras comuns, pois estava à margem da propriedade. De fato, “[...]
não tinha nenhum título legal ao usufruto das terras comuns”. Mas,
contraditoriamente, era a esta população que mais interessava a manutenção
dessas terras comuns. Porque a questão da terra era muito complexa e, se era
impossível fazer mudanças nos campos abertos “[...] sem modificar a condição
dos pequenos proprietários”, da mesma forma era impossível também mexer
nas terras comuns “sem que a própria existência dos operários agrícolas fosse
questionada”. Assim, “[...] podemos compreender toda a importância do
reordenamento territorial que transformou a Inglaterra rural no decorrer do
século XVIII”.
Nesse sentido, a transformação radical das relações sociais no campo
foi efetivada pelo enclosure. Segundo Mantoux esta “palavra é significativa”.
Porque de fato, as terras dos campos abertos (open field) e as terras comunais
(common) foram transformadas em propriedades fechadas. Portanto, “[...]
tratava-se de reunir parcelas dispersas e distribuir as terras indivisas em
domínios compactos, inteiramente independentes uns dos outros, cercados por
sebes, que seriam a garantia e o signo de sua autonomia”. Mantoux apresenta
uma posição crítica sobre o enclosure:

As conseqüências sociais do cercamentos (enclosure)

Os cercamentos do século XVI, que têm sido de inúmeros estudos e discussões,


foram apenas um dos incidentes do grande movimento econômico que marcou o
início dos tempos modernos. O imenso aumento da riqueza mobiliária reagira sobre o
estado da propriedade fundiária. Muitas terras já tinham passado a outras mãos
quando sobreveio a Reforma e a secularização dos bens da Igreja. Os grandes
proprietários foram os beneficiários. Entusiasmados com suas aquisições, queriam
completar sua fortuna, dividindo entre si as terras comuns. Essa divisão começou em
toda a Inglaterra e, em geral, foi realizada à força. No início do século, ouviu-se por
todas as partes queixas contra o cercamentos, sua injustiça e contra os sofrimentos
que causavam. Deploravam sobretudo sua conseqüência habitual, a conversão das
terras aráveis em pastos. Em muitas paróquias, o cultivo dos cereais foi abandonado
pela criação, e as cabanas foram demolidas ou caíram em ruínas. O pregador
Latimer exclamou: “Lá onde viviam, há pouco tempo, inúmeros camponeses, agora
não há mais do que um pastor e seu cachorro”. O chanceler Thomas Morus, ao traçar
o maravilhoso plano de sua cidade da Utopia tinha em mente o país de rapina e de
miséria onde os carneiros devoravam os homens. (MANTOUX, s/d, p. 139-140).
ATIVIDADES

1- Após a leitura da seção, como você descreve a condição dos trabalhadores


rurais na Inglaterra, no período da Revolução Industrial? A terra continuou
sendo importante para a economia inglesa? Justifique sua resposta.

2- Leia o trecho de uma carta anônima de 1799, endereçada a Oliver Cromwell,


proprietário rural de Cheshunt Park, depois responda as questões abaixo:

Escrevemos estas linhas ao senhor, somos os Associados da Paróquia de


Cheshunt em defesa de nossos direitos paroquiais de que o senhor quer
ilegalmente nos privar... Algumas resoluções foram tomadas pelos Associados
mencionados; se o senhor pretender cercar nossos campos comuns, Lammas,
Meads, Marshes, etc. , combinamos ... que esse ato sanguinário e ilegal vai
deixar seus corações sem sangue; se o senhor proceder a este ato sanguinário,
vamos urrar como relincham os cavalos, até derramarmos o sangue de todos os
que quiserem roubar os inocentes. Não está em seu poder afirmar, “eu estou
livre das mãos de meus inimigos”, porque estaremos à espreita, como aves de
rapina, para derramar o sangue dos indivíduos mencionados, cujos nomes e
casas são como chagas putrefatas para nossas narinas. Declaramos que o
senhor não poderá dizer, “estou seguro”, quando for para a cama; esteja alerta
para que, ao abrir os olhos, não se veja entre chamas. (THOMPSON, 1987, p.
47).

a) A qual grupo pertence os escritores da carta? Em sua opinião qual a razão


do anonimato?

b) Pelo tom apresentado, quais eram os sentimentos do autor ou autores da


carta?

c) Descreva a relação dos proprietários de terra com os pobres e os que


perderam as terras comunais explícita no texto.

3- Observe a imagem abaixo e faça um texto referente a questão que ela


retrata.
Figura 9 ilustrações: Cristiano Rosa

4- Leia algumas estrofes de um poema de Edward P. Mead, que fala dos


sentimentos dos operários. Após a leitura, responda as questões abaixo:

Ele é um rei, um rei impiedoso, Himmon;

Não a imagem sonhada pelos poetas, As suas entranhas são de fogo vivo

Mas um tirano cruel conhecidos dos E é de crianças que se alimenta.

escravos brancos.

Este rei impiedoso é o vapor. Um cortejo de sacerdotes desumanos,

Sedentos de sangue, orgulhosos,

Tem um braço, um braço de ferro, audazes,

E se bem que só tenha um, Conduzem a sua mão gigantesca

Nesse braço reside uma força mágica E transforma em ouro o sangue.

Que destroi milhões de homens.


Esmagam sob os pés os direitos

É como o cruel Moloch, seu naturais

antepassado, Por amor deste ouro vil, seu deus,

Que outrora se levantava no vale de E riem-se da dor das mulheres

E ficam cegos às lágrimas dos


homens. país

Nas suas orelhas, os suspiros e gritos Está destinado por ele a perecer.

Dos filhos do Trabalho são doce MEAD, E. P. apud ENGELS,


1975, p.252.
melodia;

Os esqueletos dos jovens e das virgens

Enchem os Infernos do Rei-Vapor.

Os infernos desde que nasceu o Rei-

Vapor

Propagam sobre a terra o desespero

Pois o espírito humano, feito para o a) Após a leitura do poema de


Paraíso, Edward P. Mead, quais são as suas
conclusões sobre a situação da vida
É assassinado juntamente com o operária?
corpo.

Abaixo pois o Rei-Vapor, esse Moloch


b) Quais são os sujeitos
impiedoso,
apresentados no poema? Comente
Vós, os milhares de trabalhadores, vós a situação de cada um, ou seja, o
todos,
papel que exercem na Revolução
Industrial.
Atai-lhe as mãos, ou então o nosso
5- Escreva o seu próprio poema sobre a situação operária e apresente aos
colegas. Após apresentação serão todos
expostos em um painel.

VEJA MAIS
6- Após assistir dois episódios da série The
Mill, relate como a série retratava a vida dos
operários.

Série The mill -


Links de acesso a Série The Mill Episodio 1 (Sub. Español –
duração: 47:32)
Episodio 1 (Sub. Español – duração:
47:32) http://www.youtube.com/watch
?v=cbIC0sVnRbU
http://www.youtube.com/watch?v=cbIC0s
VnRbU A mini-série é baseada na
história verídica de uma
The Mill – Episodio 2 (Sub. Español – multidão de trabalhadores,
duração 46:57) empregados da fábrica
Quarry Bank em Cheshire.
http://www.youtube.com/watch?v=AQk3Q O emprego de centenas de
B-Zrpo pessoas, pela Quarry Bank,
recrutando crianças de
orfanatos e casas de abrigo
The Mill – Episodio 3 (Sub. Español – como aprendizes não
duração 47:02) remunerados, os migrantes
de países distantes como,
http://www.youtube.com/watch?v=2tgrVka Irlanda e Escócia. A
qpLk verdadeira unidade dos
Gregs foi o lucro. Longas e
The Mill – Episodio 4 (Sub. Español – duras horas de trabalho em
duração 47:02) condições perigosas e
insalubres para muitos da
http://www.youtube.com/watch?v=uYuv2F classe trabalhadora
LHbxs emergente.

Para assistir a Série The Mill – 1º


Temporada online legendado acesse:

http://www.seriesvideobb.com/2013/08/as
sistir-the-mill-1-temporada-online.html

7- Em grupo, produza uma peça teatral para encenar em sala, retratando a vida
dos operários nas fábricas ou nas cidades industriais.
REFERÊNCIAS

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WORKHOUSES. nº de folhas (167 f.). Dissertação (Mestrado em Educação) –
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ENCICLOPÉDIA Barsa Universal. Espanha: Editora Planeta, 2007.


2,6,7,15,17,18 v.

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