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"De onde vem" é uma zine

mensal que conta com uma


mini biografia daqueles
caras que você achou que
eram legais demais pra ter
uma história de vida
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Um belo dia fui dar uma volta na galeria Ouro Velho e encontrei o Wlad, da THE STORY OF MY LIFE
Zona Punk que me propôs lançar um compacto em vinil do Blind Pigs. Porra, a
banda nem existia mais, mas eu como nerd de vinil que sou, adorei a ideia. Fui Anarchy In The UK
buscar nos arquivos da banda alguma musica inédita e a Zona Punk lançou o
compacto em cor de cerveja Tiros No Escuro, uma musica que gravamos para o CD Três anos antes de Johnny Rotten e seus comparsas chocarem o establishment na
Heróis ou Rebeldes, mas não entrou no disco. Gostei de mexer nos arquivos da terra da Rainha, nasci no Hospital da Marinha, no estado da Guanabara, a
banda e fazer as artes desses dois lançamentos. O Wlad então propôs um disco cidade maravilhosa. Filho de um jovem Capitão da Marinha fã de rock e
novo do Blind Pigs, para celebrar os vinte anos da banda em grande estilo. Eu colecionador de discos e de uma professora de Português. Moramos alguns anos
sentia falta de compor, mas pensava comigo mesmo: “será que alguém ainda se no Rio e logo meu pai foi enviado para a Inglaterra, onde teve contato com a
interessaria por um disco novo do Blind Pigs? Não lançamos nada novo há sete primeira onda do Punk Rock inglês. Ficamos lá um tempo, o suficiente para meu
anos, não subo num palco há cinco!” pai trazer na bagagem discos do Sex Pistols, The Clash, Boomtown Rats,
Generation X, Stranglers, Stiff Little Fingers,entre outras pérolas. Foi uma
Não teve jeito, o punk rock ainda escorria pelas veias. Liguei para o Gordo e época difícil para a minha mãe, terra difícil de fazer amizades e ainda por
voltamos a compor com um tesão que não tínhamos mais há tempos. Chamamos os cima o filho de três anos de idade só queria ir para a escola com tapa olho,
membros da ultima formação para essa nova empreitada Fabiano e Galindo estavam um chapéu da polícia, um coldre com um revolver na cintura e um par de botas
a bordo, mas o Buda estava em outras, queria se dedicar a sua família, não de chuva vermelhas, além de mijar em latas de biscoitos ingleses e dar para a
queria mais saber de banda. Entendi o cara, afinal, eu mesmo estava assim uns irmã de um ano brincar.
anos atrás. Chamamos o Paulo, que era do Lambrusco Kids, mas não deu certo.
Gravamos duas músicas demo com ele e vimos que apenas o Arnaldo nos salvaria,
só com ele conseguiríamos gravar um disco para não dar vexame nessa volta,
teria que ser um disco triunfal, mas o cara morava na Inglaterra!

Mandamos um pedido de socorro para o Tiger, como carinhosamente chamamos o


Arnaldo, e ficou decidido que ele viria para o Brasil de férias e gravaria o
disco com a banda! Durante meses ensaiamos sem baterista na minha casa em
Barueri. E o resultado de muito esforço é o LP Capitânia, lançado pela Zona
Punk e pela Sweet Fury Records. Abro um parênteses aqui para agradecer de
coração o Wlad, que me deu a oportunidade de lançar esses disco em vinil.

Depois da Inglaterra voltamos para o Brasil, em São Paulo, onde moramos alguns
anos. Sempre ouvia meu pai tocar os discos na sala. Rock anos 50, 60 e as
novidades que ele tinha trazido da Inglaterra. Minha casa sempre foi
preenchida com música, apesar de ninguém lá tocar um instrumento tinha sempre
rock tocando na vitrola.

Hardcore Attack

Logo após a traumatizante perda para a Itália na Copa de 1982, a Marinha do


2013 para mim foi um ano de conquistas. Um belo LP, o Capitânia, do qual me Brasil relocou minha família do Planalto Paulista direto para Ann Arbor,
orgulho muito, o single Sentinela dos Mares lançado apenas na gringa pela
Michigan, no extremo norte dos Estados Unidos Lá, meu pai foi à loucura nas
Pirates Press Records que relançou o Capitânia em vinil “picture disc”, a lojas de discos e acabou descobrindo o hardcore americano por meio de um
coleção de discos do Blind Pigs lançados em vinil pelo selo Hearts Bleed Blue, programa da rádio universitária intitulado Hardcore Attack que ia ao ar nas
um linda mulher que um ano depois virou minha esposa, uma turnê divertida e um madrugadas de sexta para sábado. Em 1983-84 eu pirava em Iron Maiden, Twisted
show glorioso no Cine Jóia em São Paulo. Não tenho como reclamar de 2013. Foi Sister e no disco Thriller do Michael Jackson. Meu pai achava aquilo meio
épico. Em 2014 casei com a mulher dos meus sonhos, montei o webzine Semper
esquisito, mas tudo bem, pelo menos o filho dele ouvia rock. Mas logo ele me
Adversus que logo virou um programa de radio na Antena Zero que apresento com
deu uma fita K7 com Forgotten Rebels, Stiff Little Fingers, Undertones e
meu amigo Kleber Forti. Fechei com a Hearts Bleed Blue o sub selo Semper outras bandas e assim que eu ouvi aquela fita eu soube que era aquilo que eu
Adversus para lançar a coletânea Para Incomodar – Street Punk Brasil Vol.1 que
queria músicas curtas e grossas, melódicas e cheias de energia, que faziam meu
montei durante este ano e ano que vem lançaremos algumas bandas nacionais.
corpo magricelo de 10 anos pular pelo quarto enquanto minha boombox incomodava
Nada mal para quem não queria saber de nada relacionado à cena uns anos atrás.
Morar nos Estados Unidos foi uma experiência singular que mudou muito minha
vida. Tive a oportunidade de aprender inglês e falar como um nativo, conhecer
O disco fez barulho na cena underground. Lançamos em CD digipack, até então a cultura americana e acabei me apaixonando pela terra do Tio Sam.
coisa inédita para uma banda independente e ainda por cima filmamos dois Infelizmente nada dura para sempre e quando meu pai terminou a faculdade de
clipes em 35mm para este disco: Amanhã Não Vai Mudar e O Idiota, ambos Engenharia Nuclear na University of Michigan tivemos que regressar para o
produzidos e dirigidos pelo Gordo e pelo Laranja. De banda quase moribunda, o terceiro mundo.
Blind Pigs virou a principal banda punk rock nacional. Os anos de 2002-2004
foram anos incríveis para a banda. Meu caçula Paulo nasceu, os shows eram
lotados, clipes na MTV e tudo sem puxar saco nem babar ovo de ninguém, tudo no
melhor espírito Faça Você Mesmo, 100% independente. O Hangar 110 em São Paulo
foi peça chave para o crescimento de muita banda daquela época e somos
eternamente gratos ao Hangar por isso. Na sequencia lançamos o CD ao vivo
Suor, Cerveja e Sangue (gravado no Hangar 110) e o CDEP Porcos Cegos, ambos
pelo nosso próprio selo, Sweet Fury Records e com o Fabiano, nosso ex--roadie,
na guitarra substituindo o Pablo que foi trabalhar como roadie do CPM22.

Porcos Cegos

Em 2005 deixei a banda, larguei tudo e fui morar na California, em San Diego,
onde conheci a cena skinhead local e acabei virando um apreciador da música
Oi!. Antes de eu partir para os Estados Unidos, gravamos um disco inteiro com
o Arnaldo na bateria e deixamos na geladeira. Voltei em 2006, a banda foi
reativada com o nome traduzido, Porcos Cegos, e lançamos o CD Heróis ou
G.I. JOE e Punk Rock
Rebeldes, que gravamos antes de eu ir para a gringa, com uma pegada bem street
punk e todas as músicas em português. A banda mais uma vez mudou de formação.
De volta ao Brasil, minha família foi morar no condomínio de alto padrão de
Por dois anos ralamos sem o apoio dos dois selos que lançaram o CD Heróis ou
Alphaville onde meu pai comprou uma casa. Foi difícil fazer novas amizades, eu
Rebeldes, um puta disco, em minha opinião. Não ter o apoio desses dois selos
sentia muita saudade dos meus amigos que ficaram para trás nos Estados Unidos
me deixou ainda mais desiludido com a tal “cena independente nacional”. Os
e me fechava cada vez mais no meu quarto, ouvindo os discos punk rock do meu
shows eram basicamente só roubadas, e quando pagaram a banda com balas de
pai, desenhando e lendo. Acabei fazendo uns amigos que iam para minha casa
revolver em um show em Americana, no final de 2008, senti que era hora de
brincar de G.I. Joe (Comandos em Ação). Eu tinha a coleção inteira, a molecada
pendurar as botas, me afastar da cena e cuidar da minha vida e dos meus
pirava, pois aqui não tinha porra nenhuma. Sempre que colavam em casa eu
filhos.
colocava uns LPs punks como trilha sonora da brincadeira. Todos reclamavam e
pediam para abaixar. Todos menos dois, um gordinho chamado Christian Targa,
apelidado de Gordo e um baixinho apelidado de Laranja.

A Origem dos Porcos Cegos

Os anos se passaram, nós três éramos praticamente os únicos em Alphaville que


ouvíamos punk rock, a molecada toda só ouvia metal ou A-Ha ou outras merdas
que as rádios rock nacionais empurravam goela abaixo como música boa. Como lá
não tinha muito que fazer, em 1993 decidimos montar uma banda de punk rock
para quebrar o tédio mesmo, sem pretensão alguma. O Gordo tocaria guitarra, já
que ele tinha uma banda que tocava uns covers anos 60 e 70. O Laranja seria o
Should I Stay Or Should I Go baterista, mas ele nunca tinha tocado antes, e eu seria o vocalista. Dei a
ideia de nomear a banda com o nome do bar que meu pai frequentava em Ann Arbor
Por cinco anos me afastei totalmente da cena, não queria nem ouvir falar de para ver algumas bandas, o Blind Pig. Recrutamos como baixista um vendedor de
Blind Pigs. Me dediquei aos meus filhos, ao meu trampo (Inglês para negócios sapatos que trabalhava em uma loja do shopping local, o Dirceu, alguns anos
nas empresas) e à minha coleção de discos. Eu estava muito desiludido com esse mais velhos que a gente e começamos a ensaiar.
lance de ter banda. Em 2011 me divorciei. Foi uma época difícil para mim, mas
eu não iria deixar o medo me dominar, então segui em frente ignorando opiniões Os ensaios aconteciam em Barueri, na cozinha da casa dos punks da banda Hard
alheias. Life. O Dirceu era de Barueri e foi ele que apresentou a gente, três moleques
de Alphaville, para a cena punk de Barueri, onde bandas como Narcose, GRITA! e o Blind Pigs era a banda brasileira que ele estava lançando.
Cidadãos Rejeitados e Hard Life já tinham montado uma cena bem ativa. Fomos Trabalhar com o cara foi muito foda, um aprendizado. Ele me convenceu a
muito bem acolhidos e logo começamos a compor musicas próprias como Prefab Boy escrever letras em português e escrevi Verão De 68 e Conformismo e Resistência
e Uncle Bruno. em questão de dias. O cara virou um grande amigo, fã das mulatas brasileiras,
a gente o levava nos puteiros da Augusta onde ele sumia dentro dos quartos e
Blind Pigs deixava a gente com uma grana na mão para beber nos bares, uma boa época.
Nosso CD foi lançado mundialmente e o Blind Pigs recebia cartas de fãs dos
Na época eu já dava algumas aulas de inglês. Um dos meus alunos era um moleque quatro cantos do planeta, foi uma época bacana, inocente e divertida.
de 15 anos chamado Mauro. Durante a aula, eu colocava uns sons punks para ele
tirar a letra, tipo Fuck Me Dead do Forgotten Rebels. O garoto se apaixonou
pelo punk rock, e como estávamos precisando de um guitarra base para encorpar
o som, o Gordo começou a ensinar guitarra pra ele. Pronto, tínhamos um
guitarra base.

Acabamos gravando nossa primeira fita demo, intitulada simplesmente Blind Pigs
no quintal de um cara em Barueri, embaixo de um sol escaldante, tudo ao vivo.
Bizarro, uma pena que não temos fotos desse dia. Gravamos vários covers e
algumas músicas próprias que você pode ouvir no CD DEMOS.

Com o CD lançado, fizemos uma turnê do Brasil durante um mês, a infame Brasil
Chaos Tour onde conhecemos e fizemos amizade com as principais bandas
independentes nacionais daquela época. Recrutamos o Kleber para a bateria e
como o Mauro tinha ido estudar no exterior, nosso amigo Luciano entrou em seu
lugar. Alguns anos mais tarde, o Luciano entrou para o CPM22. Foi uma turnê de
shows insanos onde fomos quase presos em duas ocasiões, mas deixamos nossa
marca na cena brasileira com nossos shows que transbordavam energia.

The Punks Are Alright


Sweet Fury
Mas a turnê acabou deixando sua marca na banda. Voltamos para casa depois de
No ano seguinte, em 1994, o Blind Pigs parecia estar com uma formação um mês na estrada de saco cheio um do outro e a banda se viu com apenas seus
estabilizada e com essa formação gravamos as fitas demo Sweet Fury e Lost dois membros originais, eu e o Gordo. Para não deixar o nome Blind Pigs sumir
Cause. As duas com capinhas coloridas e bem gravadas. Coisa difícil de depois de tanto esforço, pegamos o dinheiro que ganhamos com as vendas do São
encontrar na época. Com elas conseguimos mais shows e mais gente podia ouvir o Paulo Chaos e entramos no estúdio com o Arnaldo, baterista que tinha gravado o
som da banda. Nessa época eu só escrevia as letras em inglês. Trocávamos fitas SP Chaos. Gravamos uns sons inéditos e mais tarde alguns covers. Juntamos tudo
com outras bandas e íamos divulgando o Blind Pigs em zines. isso mais algumas faixas das fitas Sweet Fury e Lost Cause e lançamos o CD The
Punks Are Alright pelo selo Sweet Fury Records que montei só para lançar os
GRITA! CDs do Blind Pigs.

O ano de 1996 foi um ano complicado para mim. A banda tinha entrado no estúdio Amanhã Não Vai Mudar
para gravar o CD São Paulo Chaos, eu já estava pensando em largar a faculdade
para me dedicar à banda e meu filho Pedro nasceu. Minha vida estava mudando e Durante uns dois anos eu e o Gordo tentamos não deixar a peteca cair, mas foi
eu era muito novo para lidar com tudo isso, mas tudo acabou dando certo. O São difícil. Fizemos shows com uma série de baixistas, mas não havia aquela
Paulo Chaos foi bancado pela Paradoxx Music (que na época tinha Garotos química na formação. Finalmente conseguimos um time competente com o Mauro que
Poders, RDP e Inocentes) e produzido pelo Mingau e pelo Jay Ziskrout. O Jay tinha voltado para a banda, mas agora estava no baixo, o Pablo e o Gordo nas
era presidente da Epitaph Europe e foi o primeiro baterista do Bad Religion, guitarras e o Kleber mais uma . Entramos em estúdio e saímos de lá com o CD
na época minha banda favorita. O cara estava montando um selo novo chamado clássico Blind Pigs.

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