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ENTIDADES
Quando estamos em uma Gira, em um Terreiro e baixa ali dois, três Ogum Beira Mar, o
Ogum Megê, baixa o Caboclo Beira Mar e o Sete Ondas. É uma festa de Ogum, uma Gira
de Ogum. E volto a dizer, já que estamos falando sobre Beira Mar, Patakorê Ogum, ogu-
nhê meu Pai. Baixou dois, três Ogum Beira Mar no Terreiro, observe. Nós sabemos que
lá no plano espiritual existe hierarquia, porque em uma falange existem várias camadas
e níveis hierárquicos que são baseados em tempo, existência, falange, de atuação, ok, é
normal. Há uma hierarquia, eles sabem se reconhecer hierarquicamente, mas no Terreiro
não há hierarquia. Se tem quatro Caboclo Beira Mar, quatro Ogum Beira Mar incorporados
no Terreiro, todos são iguais, eles se comportam iguais. E sabe por que? Existe uma máxi-
ma além de tudo, a atuação deles por mais que hierarquicamente eles possam ter níveis
diferentes, lá na falange, lá no Maitá, no Terreiro tudo o que um pode fazer é igual o outro.
O máximo deles permitido aqui no nível é mínimo para eles. O máximo que eles podem
fazer na realidade humana, para eles já é mínimo, então, nesse máximo eles se igualam.
Não há hierarquia.
O máximo de gesto hierárquico que existe é quando se tem quatro Beira Mar incorpora-
dos e o chefe do Terreiro é um Beira Mar, eles se colocam como respeito a hierarquia no
Terreiro. Aqui ele é o chefe dessa Casa e como chefe, eu vou, cumprimento ele, coloco a
minha força a disposição da força dele, porque essa é a regra de ouro no ambiente de Ter-
reiro. Acho importante ter esse entendimento para não ficar esse discurso do “meu Ogum
Atlântida Beira Mar”, como se fosse ele alguém superior, além de ser uma invenção pois
não existe de fato essa falange, é a manifestação clara do ego daquele médium que gosta
muito das histórias sobre os Atlantis, que não tem a menor evidência e não vem ao caso.
Mas, na necessidade de crer que ele é muito apaixonado por seu Ogum, muito amor. E na
necessidade orgulhosa de colocar a Entidade em um pedestal maior que todos, é que se
cria nomes curiosos, vi muitos nomes. Ogum Atlântida Beira Mar é o mínimo.
Já vi nomes curiosos demais, Baiano Coquinho do Dendê. Quem tem mais de 25, 30 anos,
assistiu uma novela na rede Globo chamada Uga Uga e tenho que dizer, foi verdade, eu vi
acontecer. Não me lembro o nome do personagem, mas era a historia do Tarzan brasileiro,
mas diferente do Tarzan que foi criado pelos gorilas, ele foi criado pelos índios, foi perdido
e cresceu em uma tribo. E ele tinha um nome lá da tribo. Naquela época, eu vi por duas
vezes, em Terreiros distintos um Caboclo com aquele nome do personagem da novela
Uga Uga. Percebe o quanto a fertilidade criativa, anímica, pode interferir nas verdades dos
fundamentos, porque quando alguém diz que seu Caboclo é o Caboclo Atlante não sei
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do que, ele precisa ter uma base sólida para poder fundamentar isso, explicar esse nome
simbólico. “Ah , ele foi um Atlante”, como ele foi um Atlante? Porque a explicação básica é
essa. E quantos mais existem então? Porque se é uma falange precisa ter milhares, cente-
nas no mínimo.
E como explicar algo que não há evidência mínima, básica? Ele foi um atlante, o que ele
tem a dizer da Atlântida que ninguém tenha ainda dito? É problemático dar vazão a fan-
tasia, porque pela necessidade de querer se diferenciar é que vem a fantasia. Por que seu
Caboclo não pode ser simplesmente o Pena Branca? Só porque são milhares de Penas
Brancas? É uma das falanges mais antigas de agrupamento indígena e que transcende o
Brasil. Na Espanha, em Machu Pichu tem o Pluma Branca. É o Caboclo Pena Branca. E há a
versão dele norte americana e é o Caboclo Pena Branca manifestado lá na versão apache
de ser. É grande demais essa falange. Falange grande que é falange boa né, forte, expandi-
da, e não falange de uma Entidade. É preciso sabedoria para isso, porque pode acontecer
eventualmente de uma Entidade dar um nome particular e isso é uma particularidade sua
com ela, por exemplo.
Antes de eu escrever o livro Redenção, aconteceu uma experiência comigo onde fui em
uma reunião espírita e estava lá assistindo a reunião me pediram para sentar na mesa e eu
fui tomado por uma força, uma presença muito forte. Aquele espírito começou a falar em
um timbre de voz muito forte e eu não conhecia aquilo. Ele falou muito, falou das pessoas
e criou um problema, fez uma arruaça ali. Forte. Lá tinha uma clarividente que viu ele e
o descreveu. Tinha uma clariaudiente que ficou impressionado como a voz espiritual era
a voz ali materializada. Depois dele falar coisas dos outros e daquela situação enfim, o
dirigente da mesa perguntou: “Você veio aqui fez tudo isso, falou tudo isso, fale qual é o
seu nome?”. E ele respondeu: “Eu preciso dizer meu nome? O que estou falando aqui não
basta?”. E o dirigente disse: “não, você precisa dizer seu nome”. Quando ele perguntou
pela terceira vez ele responde: “Tudo bem, irei dar meu nome, estou indo embora. Para
você o meu nome é Jorge de La Ponte e nos Terreiros de Umbanda sou conhecido como
Tranca Ruas”. E foi embora.
Ele estava com uma energia diferente. É o Exu que me ampara, mas eu não o reconheci
em nenhum momento. Já pensou cantar para o Jorge de La Ponte? Não se trata disso, é
um caso específico. Depois escrevi o livro Redenção, que conta a história dele e aí eu en-
tendo o contexto desse Jorge de La Ponte. O que ele quis dizer é que ele tem um trabalho
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também em centro espírita e quando ele está no centro ele não vai como Tranca Ruas
obviamente, ele vai como o médico Jorge de La Ponte. É isso, coisas da espiritualidade.
Nem penso nisso, até esqueço disso. Não me interessa, não vou fazer no Terreiro sessão
espírita para ele vir como Jorge de La Ponte e também porque não virá. Isso aconteceu
uma única vez.
É muito pontual. E o Cacique Aruakaxi? “É uma Caboclo Araribóia”. Olha só, naquela me-
diunidade, naquele médium, história, naquele relacionamento entre esse médium e essas
Entidades, ocorreu deles trazerem o nome pessoal, da tribo, e permitirem que isso fosse
usado ou pedir que isso fosse usado. Seria essa a identidade dele. É uma particularidade.
Isso só significa que temos que respeitar particularidades e você identifica legitimidade
pela obra, com a maneira como as coisas vão fluindo. Aqui, meu objetivo é fazer você re-
fletir sobre os absurdos que se criam sobre os nomes. As pessoas criam nomes, adotam
nomes e já vi Terreiros com rituais para dar o nome das Entidades, batizam as Entidades e
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o nome assim como Coquinho do Dendê. E levam o nome que quiserem ali, sem nenhuma
conexão falangeira, nem simbólica. Isso é uma tradição forte em regiões do país.
Percebemos que há falanges mais famosas, menos conhecidas, mas conseguimos saber
quando é falange. Você pega o lastro que ela precisa trazer, você consegue fazer uma tra-
dução, baseado nesse campo de conhecimento que estamos falando. E quando o nome
não é tão facilmente, simbolicamente traduzível? Caboclo Sete Flechas é fácil nós tradu-
zirmos, mas Caboclo Aymoré não é. Pois Aymoré é o nome de uma tribo então precisa ir
na etimologia da palavra. O que significa Aymoré? Nós tivemos aqui na Umbanda EAD em
uma ocasião a tribo Fulni-Ó, de Pernambuco. Fulni-Ó significa índio da beira do rio, logo,
se surgisse uma falange dos Caboclo Fulni-Ó seriam Caboclos de Oxum, Caboclos da Beira
do Rio. Essa é a busca que temos que fazer, a etimologia. Pensemos sobre isso e no pró-
ximo vídeo começo a falar sobre outras formas de entendimento dos nomes de falanges.
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