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hipocondria, que também têm “mania de doença”, é que as primeiras têm mais
consciência de que suas preocupações são exageradas e, mesmo assim, não conse-
guem se livrar delas, além de se preocuparem não só com sua saúde, mas também
com a de outras pessoas queridas (ver Cap. 9).
ticiários de TV na certa não têm TOC e, na maioria das vezes, nem sequer são
doentes mentais.
Ao contrário, pessoas obsessivas costumam se preocupar demais com os ou-
tros, mais até do que consigo mesmas; não querem de jeito algum prejudicar al-
guém, e tal característica pode ser até exagerada. Um paciente evitava sair de casa,
pois se sentia sempre obrigado a recolher da rua cacos de vidro, pregos ou outros
objetos que visse e que pudessem machucar quem passasse por ali. Outro verificava
várias vezes se a torneira estava bem fechada, para não acabar com toda a água do
mundo! Muitos não toleram assistir a noticiários de TV ou ler jornais, pois ficam
penalizados demais com o sofrimento alheio, pensando inutilmente em meios de
ajudar e se culpando pela própria impotência. Há pacientes que se preocupam de
maneira exagerada com o que é certo e o que é errado ou com o medo de pecar.
Um rapaz, por exemplo, evitava responder a perguntas simples, como “que horas
são?”, por medo de mentir sem querer, por seu relógio estar errado. Caso respondes-
se, ficava se questionando se teria respondido certo ou “mentido”, atormentado
pela dúvida e pelo medo do possível castigo divino.
Esse senso exagerado de responsabilidade pessoal e o excesso de escrúpulo
ou de sentimento de culpa habitualmente perturbam a pessoa sem necessidade. É
preciso saber e aceitar o limite das capacidades e possibilidades reais. É claro que
é fundamental para o convívio humano que as pessoas se preocupem e se res-
ponsabilizem por seus atos, se solidarizem com os demais, procurem ajudar os
outros e se culpem pelo que não deveriam ter feito. No entanto, quando esses
sentimentos “passam da conta”, podem ser sintomas do TOC.
são palavras, frases ou músicas intrusivas que, mesmo quando têm conteúdo “neu-
tro”, vão se tornando, pela insistência, insuportáveis.
Outras vezes ainda, as obsessões têm conteúdo sexual. Nada parecido com
fantasias sexuais agradáveis e excitantes, muito pelo contrário: são pensamentos
ou impulsos proibidos que geram culpa e mal-estar. Podem ser pensamentos de
cunho sexual envolvendo figuras ou imagens religiosas, pessoas da família ou crian-
ças, dúvidas descabidas sobre a própria orientação sexual, ou impulsos proibidos,
que vão contra todos os valores morais e práticas do indivíduo. As obsessões tam-
bém podem envolver o tema do ciúme, em geral como uma desconfiança sem
justificativa do indivíduo de que possa estar sendo traído pelo parceiro ou parceira.
Quando vejo um copo sujo que seja na pia, eu sinto uma agonia tão
grande, que não passa até eu lavar, enxugar e guardar, mesmo sendo
tarde e eu estando exausta.
OBSESSÕES SEXUAIS
Às vezes, quando estou perto das minhas sobrinhas, me vem à cabeça
de repente a ideia de atacá-las sexualmente. Eu me sinto o mais sujo
dos seres humanos e morro de medo de um dia perder o controle.
Como posso pensar uma coisa dessas com crianças, e da minha famí-
lia?
Eu nunca tive atração por mulheres e sou feliz com o meu marido,
mas desde adolescente tenho um medo muito grande de ser homos-
sexual, evito até olhar para mulheres bonitas, porque essa dúvida
fica me atormentando.
OBSESSÕES RELIGIOSAS
Quase tudo que eu faço, por exemplo, fumar, ir a uma festa ou gostar
de alguma coisa dos outros, já penso que posso estar pecando ou
desagradando a Deus e que posso ir para o inferno. Por incrível que
pareça, minha consciência fica pesando.
OUTRAS OBSESSÕES
Não consigo confiar em mim mesmo para nada: qualquer coisa que
faço deixa uma interrogação na minha cabeça: será que eu fiz mesmo?
Será que eu fiz direito? Não tenho segurança, nem paz, é um inferno.
Quando vou jogar alguma coisa fora, como uma anotação superantiga,
me vem à cabeça a ideia de que posso precisar daquilo depois ou que
posso prejudicar alguém se eu jogar, e acabo guardando de novo.
Será descrito, a seguir, como as obsessões se relacionam (ou não) com as “ma-
nias”, o segundo componente central do TOC.