You are on page 1of 13

A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências

Reguladoras Independentes

A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os


Riscos De Captura Nas Agências Reguladoras
Independentes
Regiane Priscilla Monteiro Gonçalves

Resumo
Diante do modelo regulatório implementado no Brasil, agencias aqui criadas, assim como e outros
modelos, acabam por estarem mais suscetíveis aos riscos da captura. O conflito inelutável existente
entre os interesses dos regulados, dos agentes políticos cumulado aos interesses da coletividade,
findam na nutrição da possibilidade de direcionamento da atividade das agências regulatórias. O
presente texto propõe o estudo acerca da contribuição do judiciário, enquanto agente de combate
aos distúrbios causados pela captura.

Palavras-chave: judiciário, captura, agências reguladoras independentes.

Abstract
Given the regulatory model implemented in Brazil, agencies created here, as well as other models,
end up being more susceptible to the risks of capture. The ineluctable conflict between the interests
of the regulated, the political agents cumulated to the interests of the collective, end in nourishing
the possibility of directing the activity of the regulatory agencies. The present text proposes the study
about the contribution of the judiciary, as an agent to combat the disturbances caused by the
capture.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Judiciary, arrest, independent regulatory agencies.

1. INTRODUÇÃO

O controle jurisdicional dos atos administrativos constitui, juntamente com o


princípio da legalidade, um dos fundamentos do Estado de Direito. De fato, como
observa Maria Sylvia Zanella de Pietro , "de nada adiantaria sujeitar-se a Administração
Pública à lei se seus atos não pudessem ser controlados por um órgão dotado de
garantias de imparcialidade que permitam apreciar e invalidar os atos ilícitos por ela
praticados".

E justamente sobre este prisma, que justifica a criação das agências


reguladoras, no Brasil. Surgidas em um contexto de mudança, implementadas pela

72
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

reforma do Estado durante os anos 90, o extenso processo de privatizações e


desestatizações, tinha como foco a transmutação de um Estado paternalista para um
modelo de Estado mínimo com ênfase na atividade regulador.

Fortificado o modelo de Estado regulador, passam a surgir à necessidade e


estabilização da economia e proteção dos menos favorecidos, face as constantes
oscilações dos mercados desregulados, são criadas enfim as agencias reguladoras ,
instituídas sob regime de autarquia especial a fim de se desvencilhar da intervenção de
agentes políticos ou jurídicos, e não sofrer limitação em sua capacidade técnica de
atuação sobre o mercado.

A multiplicidade de regimes jurídicos das agências reguladoras brasileiras, dão


o tom de obtenção de um “tipo ideal” de agência reguladora independente e, assim, de
maneira a identificar com maior critério e precisão, e ainda equilibrar interesses dos
regulados e dos consumidores.

A garantia de isonomia da agência em produzir diretrizes da atividade


regulatória, sem sofrer interferência de qualquer agente externo, seja ele político, social
ou econômico e a ideia contraria preconizada na Teoria da Captura, que consiste em
uma análise sucinta em evitar o direcionamento do trabalho regulatório em favorecer
este ou aquele ente.

Partindo do pressuposto de que o sistema jurídico entenda oportuno, uma


intervenção mínima na atividade regulatória, tenta como último agente combativo
prevenir o risco e o seu perigo, adotando decisões coletivamente vinculantes que
implementem os mecanismos que possam abreviar os danos destes derivados.

Para obtenção da eficácia no presente estudo o artigo sobre o tema contará com
pesquisa empírica e teórica com a coleta de literatura, jurisprudência nos mais variados
sentidos como busca de soluções que possam erradicar a incidência da captura e seus
efeitos negativos refletivos na atividade regulatória.

73
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

2. CONTEXTO HISTÓRICO DE CRIAÇÃO DAS AGÊNCIAS


REGULATÓRIAS INDEPENDENTES

Com a decorrer da evolução humana, as necessidades sofreram as mais


variadas mudanças, que acabam por refletir no modelo de Estado a ser adotado pelas
civilizações. Restava notório que os modelos passados, já não mais eram suficientes a
satisfazer as necessidades da população.

O modelo paternalista já não era suficiente, pois não conseguia atender com
eficiência a sua proposta, e de modo oposta o estado liberal que segundo Marcelo
Catoni , que prometia uma liberdade contornada pela auto regulação dos entes privados
não conferia a segurança necessária aos consumidores e nem tampouco garantia a
estabilidade o mercado financeiro tão almejada.

Estampada estava à ineficiência que se deteriorou ainda mais na coexistência


com regime capitalista, o modelo de Estado de bem Estar Social agonizou e teve seu
momento finalizado, conforme leciona o professor Alexandre Santos Aragão :

A partir do Segundo Pós-Guerra, o Estado, diante de uma sociedade


crescentemente complexa e dinâmica, verificou a impotência dos seus instrumentos
tradicionais de atuação, o que impôs a adoção de mecanismos administrativos mais
ágeis e tecnicamente especializados.

O professor Luís Roberto Barroso ainda traduz este processo de transformação


no Brasil:

Após a constituição de 1988 e, sobretudo, ao longo da década de


90 o tamanho e o papel do Estado passaram para o centro do debate
institucional. E a verdade é o que intervencionismo estatal não resistiu à onda
mundial de esvaziamento do modelo do qual o Poder Público e as entidades
por ele controladas atuavam como protagonistas do processo econômico. Sem
embargos de outras cogitações mais complexas e polêmicas, e fora de duvida
que a sociedade brasileira exibia insatisfações com o Estado no qual se
inseria e não desejava vê-lo e um papel onipotente, arbitrário e ativo –
desastradamente ativo- no campo econômico.

As reformas do Estado decorrentes do modelo imposto nos anos 90, que


74
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

priorizava os processos de desestatização e privatização, a fim de excluir o Estado do


papel de protagonista na atividade econômica, para que este pudesse atuar de uma forma
mais perquiridora surgindo então o modelo de Estado regulador, assumindo papel de
fomento conforme ensina Richard Posner. Ao assumir o encargo de fiscal, estabelecido
na constituição de 1988 artigo 174:

Art.174. como agente normativo e regulador, da atividade


econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização
incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e
indicativo para o setor privado.

O Estado passa a se desvincular do papel de coadjuvante das relações


econômicas, passando para uma função mais diretiva/reguladora. As agencias
reguladoras enfim são criadas, para atender esta demanda, e sob o modelo de autarquia
de regime especial, já que a buscar era evitar a maculação deste órgão a quaisquer dos
poderes, para que esse pudesse ficar livre e desimpedido de aspectos políticos e pressões
sociais na tomada de decisões.

O Estado regulador passa então a busca um ponto de equilíbrio entre as


necessidades do mercado, a satisfações do mercado consumidor e os entes regulados, e é
exatamente neste contexto e que surgi uma dos principais imbróglios da atividade
regulatória, a incidência da captura, já que o papel da agencia e justamente este o de
evitar o desequilíbrio destas relações de forma tendenciosa a qualquer das partes.

3. CAPTURA DAS AGÊNCIAS REGULADORAS INDEPENDENTES

Diante do cenário de criação das agências reguladoras, que instituídas sob a


forma de autarquia, visavam a distanciamento de quaisquer influencias, sobretudo
políticas, haja vista que a independência e autonomia deste modelo e a receita para seu
sucesso, frisando-se que não se trata de uma desvinculação total da Administração
Central, mas sim de se manter um substancioso nível de autonomia.

E neste campo de fragilidade entre a necessidade de autonomia e dependência


política, que as agências reguladoras brasileiras passam, ao ser proceder à indicação dos
75
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

conselheiros pelo Presidente da República após submissão ao senado disposição no


artigo 52, f da Constituição Federal de 1988, pois inobstante estarem estes cargos livres
de exoneração cabendo extinção apenas por meio de renúncia, processo administrativo
ou processo criminal condenatório transitado em julgado disposição em lei nº 9.986/00 .

Estando neste ponto o cerne da questão, a vinculação política à que passa a


sofrer o indicado a ocupação do principal cargo da agencia reguladora, a pergunta que
fica e como este estaria destravado da ideologia política que o teria instituído? Essa
violação da autonomia dificulta o exercício da regulação, já que a imparcialidade fica
subjugada, sendo assim o ente capturado para adoção de uma fiscalização tendenciosa,
sem se prestar ao fim de sua criação:

(..) a competência para a produção de regulação propicia a


formação de grandes núcleos de poder politico. A função regulatória
reservada a determinados cargos torna-os especialmente relevantes no quadro
de partilha de poder politico-partidário. Como decorrência, incrementa-se a
disputa pela titularidade dos aludidos cargos e funções. O acesso aos cargos
públicos correspondentes e a permanência deixa de ser dependente de
virtudes ou qualidades pessoais do ocupante, para transformar-se em
vicissitude política .

E devido a estes desdobramentos existentes no processo regulatório, e partir de


experiências em países em que já se haviam adotado o referido sistema, foi que o Brasil
passou a voltar sua atenção para os problemas decorrentes da captura das agencias
regulatórias, sendo professor Alexandre Aragão precursor no tema:

Tendo as agências reguladoras sido criadas para propiciar uma


regulação mais eficiente de atividades de especial interesse e sensibilidade da
sociedade, não faria sentido que elas fossem neutralizadas em relação ao
poder político e deixadas livres as influências dos poderosos interesses
regulados. Trata-se da “captura”, sempre colocada, mormente nos EUA,
como um dos maiores riscos das agências reguladoras indepentes .

A justificativa para o presente trabalho estar em chamar atenção da sociedade


para enfoque e estudo, para coibir que mercados possam a agir em interesse de uma
minoria, eliminando concorrências e exacerbando seus lucros.

Cabendo ainda destacar, que as agências reguladoras, estão sujeitas a outros


tipos de captura a não a política, como por exemplo a econômica, no qual empresas com
76
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

maior poderio econômico tentam dominar o mercado anulando a concorrência contando


com a pressão que passam exercer sob os órgão regulados como por exemplo que
passem a não fiscalizar as falhas no processo de produção e consequente assimetria de
informações, contratação ou indicação de ex funcionários dos entes regulados .

Outra espécie de captura estaria alcançável na esfera judicial, com mudança de


normativas editadas pelo órgão regulador pelo judiciário, uma vez que prevista na
Constituição Federal 1988 esta possibilidade a revisão judicial de qualquer ato. Celso
Antônio Bandeira de Mello ensina sobre o tema:

O campo de apreciação meramente subjetiva – seja por conter-se


no interior das significações efetivamente possíveis de um conceito legal
fluído e impreciso, seja por dizer com a simples convivência ou oportunidade
de um ato – permanece exclusivo do administrador e indefensável pelo juiz,
sem o que haveria substituição de um pelo outro, a dizer, invasão de funções
que se poria as testilhas com o próprio princípio da independência dos
poderes, consagrados no art.2º da lei maior .
Sendo este então outro ponto de alerta para incidência de captura, já que ao
rever as decisões pode o judiciário ainda que de forma indireta e ou inconsciente em
produzir decisões que possam tendenciar o benefício de algum dos envolvidos, já que
sabido que muitas vezes os judiciários acabam atendendo ao clamor social, como no
ocorrido no caso Varig , sem se preocupar com todo o trabalho técnico desenvolvido
pelas agências para se chegar ao entendimento revisto judicialmente .

4. ATIVIDADE REGULATORIA E SEUS MECANISMOS DE CONTROLE

A atividade regulatória se resume estabelecimento e instauração de diretrizes


para realização da atividade econômica, a fim de proteger o mercado financeiro e os
consumidores das ocorrências das falhas nestes como monopólios naturais, assimetrias
de informação dentre outros.

Assim a atuação da agencia reguladora se subdividiu em três formas básicas:


edição de normas aos usuários e regulados, fiscalização de cumprimento das normas e
aplicação de sanções decorrentes destes descumprimentos. Muita embora a competência

77
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

legislativa das agências reguladoras estejam sempre sendo colocadas em cheque, e nesse
ponto e se valendo do juiz de autoridade e conveniência e que surgem como do
Professor Moreira Neto:

(..) essa competência normativa atribuídas ás agencias reguladoras


é a chave de uma desejada atuação célere e flexível para a solução em
abtrato, e em concreto, de questões em que predomine a escolha técnica,
distanciada e isolada das disputas partidarizadas e dos complexos debates
congressuais em que preponderam as escolhas abstratas político-
administrativas , que são a Arena de ação de parlamentos, e que depois se
prolongam nas escolhas administrativas discricionárias concretas e abstratas,
que prevalecem na ação dos órgãos burocráticos da Administração Direta.

Assim diante da amplitude conferida a atividade, muitas de suas decisões


findam para apreciação de sua legalidade e ou legitimidade junto ao judiciário, de forma
mais significativa no âmbito das concessionárias de serviços publico, no tocante a
legaligalidade e ou limitação das tarifas as serem utilizadas, nas palavras de Eduardo
Appio:

A intervenção judicial emerge, portanto, como verdadeira solução


jurídica ante a incapacidade dos governos em interferirem na execução de
contratos já em curso, formalizados por governos passados e sobre os quais
não tem um verdadeiro poder de controle, com exceção de detalhes técnicos
ligados a qualidade dos serviços.

Em suma tem-se que a revisão pelo judiciário apesar de ser uma das formas de
controle da atividade regulatória, passa a ser um ponto de revisão de decisões por
aqueles que a tenham julgados como desfavorável, a utilização do judiciário não pode
suprimir ou mesmo excluir as decisões das agencias, mas tão somente proceder de
forma a anular abusos ou atos que passem a ser contrários a que se destinam, sob pena
de desregular o mercado nas palavras de Sergio Guerra:

(...) se o julgador alterar um ato administrativo regulatório, que


envolve fundamentalmente, a eleição discricionária dos meios técnicos
necessários para o alcance dos fins e interesses setoriais – das pressões
politicas comumente sofridas pelos representantes escolhidos pelo sufrágio-,
e esse magistrado, na maioria das vezes, poderá, por uma decisão voltada a
apenas um dos aspectos em questão, danificar a harmonia e equilíbrio de um
sistema regulado.

78
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

5. ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO COMO MECÂNISMO DE


CONTROLE A CAPTURA;

Muito embora a teoria da captura, afirme que sua incidência quando do


corelacionamento entre as funções do ente regulado aos interesses dos órgãos regulados,
somando-se isso a multiplicidade de competências atribuídas a agências torna o
processo mais passível de ser corrompido.

E dentro do leque de possíveis formas de controles da atividade regulatória o


judiciário, passou a ser instituído com uma destas, sendo inclusive citada por
doutrinadores como Sergio Guerra , a proteção em sede pretoriana da atividade
regulatória. O papel do judiciário guarda relação estrita com à analise jurídica dos atos
administrativos ou ainda se estes guardam correlação com princípios constitucionais que
norteiam a Administração Pública.

Por consequência cabe ao judiciário a apreciação dos aspectos motivadores da


decisão que por ocasião for apresentada este pra reapreciação, poderá dentre outros
aspectos julgar a conveniência e oportunidade em que se deu o prolação da medida,
contudo e criterioso se distanciar de uma possível “usurpação de poder”, já que ao poder
revisionar de maneira tão difusa pode por acabar legislando ou tomando decisões de
competência exclusiva da agência reguladora.

Essa inversão inclusive pode gerar a captura por meio do judiciário, conforme
já adiantado no capitulo anterior. Os intensos números de ações que visam rever decisão
de órgãos administrativos por meio do judiciário refletem bem este pensamento.

A ideia de intervenção por meio do judiciário, deve se ater somente para


anulação de atos eivados de vícios, o que venham comprometer a parcialidade e lisura
do órgão regulado, conforme decisão brilhante promovida pelo Juiz Francisco
Cavalcanti no processo envolvendo a nomeação de entes para diretoria da ANATEL, no
qual através da analise abaixo e possível verificar que o juiz se limitou a promover tão
somente a anulação da nomeação que considerou tendenciosa e devolveu a agencia e aos
órgãos competentes a nomeação dos novos representantes:

(...)Por fim, no respeitante ao § 4º do art. 37 do Regulamento da

79
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

Agência Nacional de Telecomunicações, aprovado pelo Decreto nº 2.338, de


7 de outubro de 1997, é salutar destacar, a despeito do defendido pela União
e pelos apelantes, que, em não havendo indicações, a escolha do Presidente
da República será livre, desde que em obediência à lei, fulcrado nela e
visando o fiel cumprimento das finalidades previstas na lei e na Constituição.
Deveras, outra interpretação não pode sobressair do aludido § 4º do art. 37 do
Regulamento da ANATEL. Nesse sentido, advertiu a sabendas Celso Antônio
Bandeira de Mello, "os motivos e afinalidade indicados na lei, bem como a
causa do ato, fornecem as limitações ao exercício da discrição administrativa"
.16 Assim, não havendo indicação das entidades de classe dos usuários e das
entidades representativas da sociedade dentro do prazo fixado, fica ao
alvedrio do Presidente da República a indicação dos membros do Conselho
Consultivo, respeitada, evidentemente, a representação democrática, ou
melhor, a pluralidade representativa, assegurada pela Lei nQ 9.472/97, e
ainda obedecidos aos princípios constitucionais norte adores da administração
pública, sobretudo da moralidade e da legalidade, e considerada a
qualificação do indicado, isto é, a compatibilidade da sua qualificação com as
matérias afetas ao colegiado. É de se ressaltar, outrossim, ser prescindível
prova conclusiva de que os apelantes estariam a serviço de interesses
contrários à sociedade, a fim de caracterizar a ilegalidade, visto que, como
demonstrado às ensanchas, houve descumprimento do art. 34 da Lei nQ
9.427/97, além de inobservância dos princípios constitucionais da
Administração Pública, a exemplo do princípio da moralidade, legalidade e
razoabilidade. Quanto à condenação da TELEBRASIL, a fim de obstar a
designação de representantes dos usuários e da sociedade pela Associação
Brasileira de Telecomunicações - TELEBRASIL, ou por qualquer outra que
congregue em seus quadros empresas operadoras de serviços de
telecomunicações, não merece reproche, outrossim , a sentença vergastada. É
que, à vista do já esposado, inexiste compatibilidade entre os interesses da
referida associação com os anseios quer seja dos usuários dos serviços de
telecomunicações, quer seja da sociedade. Em face do exposto, nego
provimento à remessa oficial e às apelações, mantendo a sentença por seus
judiciosos termos. É o meu voto. JUIZ FRANCISCO CAVALCANTI -
Relator.
Assim com ilustração acima e possível dimensionar a responsabilidade e a
amplitude conferida ao judiciário pode caracterizar uma via de mão dupla, já que se de
um lado ao se permitir a revisão por parte deste órgão de forma indiscriminada sobre
todas as decisões tomadas pelas agências reguladoras, pode configurar uma captura
ainda que em muitos casos inconscientes, já que ao ser acionado por quaisquer das
partes que se sentiu desfavorecida pela decisão guerreada terem a oportunidade de ter
revista àquela decisão.

De outro lado, conforme disposição Constitucional cabe ao judiciário o


controle da discricionariedade conferida ao órgão em promover as referidas decisões, e
ainda das nomeações pelo agente politico como salvo guardar a agencia de qualquer
medida que possa vir a configurar a captura com a desvinculação do comprometimento

80
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

maior, que o de promover o equilíbrio do mercado assegurando a regulados e


consumidores um mercado justo e um produto com qualidade.

A medida destas revisões pelo judiciário devem ser pautadas pelos princípios
norteadores da administração publica, como a razoabilidade proporcionalidade,
moralidade e eficiência, deixando aspectos técnicos para competência exclusiva da
agência.

6. CONCLUSÃO

As formas de controle dos atos administrativos, conforme disciplinados na


constituição, garantem a intervenção do judiciário para promoção e controle dos atos
que forem tidos como contrário aos princípios norteadores da Administração Publica,
dentre estes principalmente o da moralidade.

A necessidade de intervenção do aparato Estatal no controle das atividades de


mercado, conforme já analisamos acima, se fez necessário face ao surgimento do
chamado Estado Regulador, defende uma nova posição deste, no atendimento das
necessidades de seus governados, e para isso o Estado teve que deixar a margem seu
papel paternalista. Sem perder o controle do mercado, o Estado passou a atuar de outras
forma, e para garantir imparcialidade e maior eficiência técnica na tomada de escolhas,
o processo de desestatizações e privatizações trouxe como solução a criação das
agências reguladoras, que dentre outras funções teriam a fiscalização do mercado como
um todo, intervindo quando necessário na proteção de interesses dos regulados dos
destinatários destes serviços, quais sejam os consumidores.

Não diferente do que ocorreu em outros países, como Estados Unidos, onde a
regulação por meio de agencia possui maior histórico de criação, estes órgãos passaram
a sofrer com influência e tendencialíssimos nas suas decisões, fazendo com que as
decisões passassem a favorecer determinados entes ou setores em prejuízo da
imparcialidade com que deveriam agir. A partir dessa corrupção do sistema, e que se
deu inicio e estudo da formação da chamada Teoria da Captura, que de forma suscita
aduz a desvio da imparcialidade do órgão na tomada de medidas na atividade
regulatória, com objetivo de favorecer este ou aquele.
81
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

Relevância deve ser dada ao assunto, uma vez que seus efeitos geraram
prejuízos de ordem econômica de grande monta ao Estado. Sendo o judiciário o único
órgão legitimado e previsto constitucionalmente, capaz de rever atos e decisões
administrativos, que possam auferir risco ou lesão a direitos, o referido passa a ser tido
como á verdadeira “ Guarda Pretoriana”

Essa relevância do papel do judiciário no papel da conservação impoluta da


atividade regulatória tem que se operar de forma medida, sem que haja apropriação por
este órgão da atividade estritamente conferida a agência. O judiciário deve sim intervir
punho de ferros na ocorrência de ofensas como a moralidade, razoabilidade entre outros
princípios, mas se limitando a julgar a licitude ou não do ato praticado.

A manutenção desta limitação de atuação do poder judiciário, já seria suficiente


para repreensão dos riscos da captura, bem como inviabilizaria que esse órgão passasse
a ser utilizado como instrumento daquela. Já que conforme visto acima, possibilitar
amplitude as revisões judiciais, além de causar o imenso numero de demandas, cria a
existência de mais uma forma de captura, qual seja, pelo judiciário, seja de forma
consciente ou inconsciente , já que aquele que se sentiu prejudicado com a medida
regulada poderia questiona-la e ser bem sucedido na sua alteração.

O proceder do judiciário deve ser pautado como à exemplo da decisão


proferida no caso da ANATEL, em que a nomeação para composição do conselho fora
anulada, já que restava evidente a parcialidade estaria comprometida, já que como além
de conselheiros da referida agencia, estes já atuavam na direção executiva de duas
grandes operadoras de telefonia reguladas por esta. A limitação do juiz, ao proferir a
nulidade da nomeação, com a devolução da indicação de novos a quem de fato
competia, se mostrou acertada e principalmente conservatória da tripartição dos poderes
instituída em nossa carta magna.

Ainda que sob a luz da mais irrestrita boa-fé deve o judiciário, respeitar as
decisões técnicas assumidas pela agencia, salvo claro na ocorrência de vicio a obtenção
do parecer técnico. As atividades da regulação estatal, foram delineadas quando da sua
constituição, restando claro que regulador deve “buscar o interesse publico”, mas,
sobretudo ponderando-a sobre os interesses em jogo para que não haja em hipótese
82
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

alguma prevalência desproporcional de um interesse ou classe especifica. O sucesso do


modelo regulatório implantado possui relação estrita com a imparcialidade,
independência e ate porque não autonomia da agência em relação a qualquer outro
poder, até mesmo o judiciário.

7. BIBLIOGRAFIA

APPIO, Eduardo. Controle Judicial das políticas Publicas no Brasil. Curitiba: Juruá
2006.

GUERRA, Sérgio. Atualidades Sobre o Controle Judicial dos Atos Regulátorios In


Regulação Jurídica do Setor Elétrico. LANDAU, Elena (Coord).Rio de Janeiro: Lumen
Juris.2006.

ARAGÃO, Alexandre Santos de . Agências reguladoras e a evolução do direito


administrativo econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

BAGATIN, Andreia Cristina. Captura Das Agências Reguladoras Independentes. São


Paulo: Saraiva. 2013.

BAROSSO, Luís Roberto, Agências reguladoras, Constituição e Transformação do


Estado e Legitimidade Democrática In Revista de Direito Administrativo.

BINENBOJM, Gustavo. Poder de polícia, ordenação, regulação. Belo Horizonte:


Fórum, 2016 Cap.4- Aspectos econômicos da transformação: a recepção lógica da
regulação econômica pelo poder de polícia.p.187-189.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Centro de


Documentação e Informação Coordenação de Publicações, 1996. APA.

CATTONI, Marcelo. Direito Constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002.

DE JANEIRO, Rio; SANTO, ESPIRÍTO. Tribunal Regional Federal da 2ª Região.


Processo 2006.02.01.010487-0. v. 340934, p. 01.016320-5.

83
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14
A Intervenção Do Judiciário Para Minimizar Os Riscos De Captura Nas Agências
Reguladoras Independentes

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 13. ed. São Paulo: Atlas,
2001.

GIBBON, Edward. (2003).Declínio e Queda do Império Romano. Rio de Janeiro.


EDIOURO.

GUERRA, Sérgio. Teoria da captura de agência reguladora em sede pretoriana. Revista


de Direito Administrativo, v. 244, p. 330-347, 2007.

JUSTTEN FILHO, Marçal, O Direito das Agências Reguladoras Independentes. São


Paulo. Dialética. 2002.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo :
Malheiros. 2002.

MORAES, Germana de Oliveira. Controle jurisdicional da administração pública. São


Paulo: Dialética, 1999.

MORAES, Germana de Oliveira. Controle jurisdicional da administração pública. São


Paulo: Dialética, 1999.

MOREIRA NETO, Diogo Figueiredo. A independência das Agências Reguladoras in


Boletim de Direito administrativo. Junho. São Paulo: 2000.

NETO, Diogo de Figueiredo Moreira. Mutações do Direito Administrativo. Rio de


Janeiro: Renovar 2000.

POSNER, Richard A. Teorias da Regulação Econômica. Traduzido por: Mariana Mota


Prado. MATTOS, Paulo; PRADO, Mariana Mota; ROCHA, Jean Paul Cabral Veiga da.

84
Revista da AMDE – ANO: 2015 – VOL. 14

You might also like