You are on page 1of 10

Teses CNGP - Oposição de Esquerda- Amanhã vai ser Maior

1) Quem Somos e Por que Somos

A ANPG é entidade nacional de representação dos pós graduandos e pós graduandas


no Brasil e deve representar de forma ampla e direta os mais diversos anseios de todos nós.

Quando pensamos no âmbito de pós-graduação é fundamental debater a produção de


conhecimento e o acesso e permanência, tais questões dialogam diretamente com a situação
do nosso país, assim como a forma com que nossa entidade atua.

Essa tese foi construída a partir do diálogo de estudantes de diferentes universidades


do nosso país, vários integrantes de APGs que, atuando em sua base, percebiam um
distanciamento e muitas vezes até desconhecimento da nossa entidade nacional.

O movimento de oposição cujos principais anseios estão reunidos neste documento,


tem sua origem no XXIV CNPG, em 2014, no Rio de Janeiro. Neste encontro, delegados de
vários lugares do país, sem prévia articulação, perceberam compartilhar de um mesmo
sentimento em relação a entidade: falta de representatividade, falta de combatividade,
aparelhamento; além dessa perspectiva crítica frente à diretoria da entidade, um
alinhamento da visão de conjuntura nacional e a perspectiva sobre a produção do
conhecimento e ciência e tecnologia.

No XXVI CNPG nosso movimento cresceu, agregando pessoas novas que aqui
chegando compartilham as mesmas inquietações. Acreditamos numa ANPG que seja
construída de baixo para cima, a partir das demandas das diversas APGs de nosso país, de
forma participativa e horizontal, prezando pela multiplicidade e diversidade de ideias,
lutando por uma universidade popular. Nosso programa foi construído nesse congresso a
partir de debates abertos e com ampla contribuição. É assim que acreditamos que uma
ANPG deve ser: aberta, participativa, horizontal e plural.

Dessa forma dividimos o nosso programa em concepção de entidade, conjuntura,


produção de conhecimento, acesso e permanência, trabalho e pós graduação e saúde mental.

2) ANPG pela base


As entidades nacionais de estudantes surgem como instrumento de organização em
momentos de acirramento político no país. A concepção organizativa que orientou a atuação
dessas entidades foi a de nacionalizar pautas que emergiam do movimento de base,
fomentando a organização de estudantes para intervir nas mais distintas realidades políticas.

A mobilização e politização dos estudantes em torno das problemáticas da política


nacional, bem como a defesa das pautas específicas dos estudantes orientadas por uma
perspectiva de independência de classe, forjou o caráter do movimento estudantil enquanto
sujeito histórico que protagonizou lutas fundamentais.
No entanto, o processo de reconhecimento institucional dessas entidades e o
estreitamento do diálogo com o Estado, que pretensamente agregariam vitórias ao
movimento, tem se mostrado um contra senso. Pois o investimento em uma cultura política
burocratizante tem prejudicado o avanço das lutas na medida em que a distância das reais
demandas e nega a pluralidade política do movimento estudantil.

No caso específico do movimento dos pós-graduandos os estudantes estão


organizados em diversos coletivos, movimentos sociais e partidos, com diferentes concepções
políticas. Os debates devem ocorrer levando em consideração a pluralidade de proposições e
análises, o que possibilita uma construção crítica de sínteses capazes de impulsionar uma
atuação que dialogue com a realidade concreta.

Nesse contexto, as APG’s têm se mostrado um dos principais agentes de mobilização


e construção política na pós-graduação, intervindo no cotidiano dos estudantes e da
universidade. No entanto estamos diante de desafios que vão além do universo acadêmico. É
momento de superar as pautas que se restringem aos pós-graduandos.

Tendo em vista que a ciência deve ser voltada às necessidades da sociedade e à


construção de políticas públicas de bem estar social. A produção de ciência e tecnologia deve
ser construída pela população e para a população. Assim as APG’s podem constituir um
importante instrumento de diálogo junto aos movimentos sociais, a fim de atender aos
interesses de setores marginalizados da sociedade.

Essa forma de atuação só pode se consolidar sob uma perspectiva autônoma em


relação ao Estado e suas agências, tendo em vista que o diálogo com essas instâncias deve
estar balizado pela atuação junto às bases, com transparência nas discussões. Não podemos
admitir que nossas pautas sejam cooptadas e negociadas, esvaziando os debates políticos que
são fundamentais para a defesa dos interesses de nossa categoria.

É momento de dialogar e construir uma entidade capaz de abranger as reais


necessidades dos pós-graduandos de todo o Brasil, levando em consideração suas diferenças
regionais. Na intenção de superar esse afastamento entre direção e base, fortalecendo a
construção de um movimento orgânico capaz de responder a um projeto de sociedade,
propomos:

● Articular as APG´s aos movimentos sociais locais intervindo politicamente na


comunidade onde estão inseridas;
● Maior transparência das contas da ANPG e da política de carterinhas;
● Dialogar com entidades de representação de diversas categorias de trabalhadores e
estudantes;
● Fomentar a criação e reconstrução de APG’s em todo país;
● Construir assembléias, com caráter deliberativo e plenárias estaduais que proponham
debates políticos para discussão de temas diretamente relacionados aos
pós-graduandos e a conjuntura nacional;
● A maior participação de vice-presidentes regionais na articulação e acompanhamento
do trabalho realizado por cada APG, por meio de reuniões periódicas, relatorias e
canais de comunicação diretos.;
● Sistematizar semestralmente balanços e demandas das APG’s de cada estado, sendo
centralizada em cada diretoria regional.
● Regionalizar a atuação das diretorias para incorporar as demandas e discussões
locais, bem como proporcionar que as diretrizes da gestão da ANPG alcancem sua
base
● Que conste no processo eleitoral de cada delegação carta proposta das chapas
inscritas, de modo a promover o debate junto aos estudantes e ampliar o processo de
politização e discussão sobre os temas pertinentes à pós-graduação. Esse processo
permite um nível mais qualificado de discussões em todo o CNPG.

3) Conjuntura

A conjuntura internacional ainda é marcada pela vigência da grave crise do


capitalismo, que eclodiu no ano de 2008. Como seu resultado, registra-se a degradação das
condições de vida dos trabalhadores em todo o mundo, que sofrem com medidas as quais
visam o aumento do desemprego, a retirada de direitos, a precarização das condições de vida.

A economia brasileira, embora seja a maior e mais diversificada economia


latino-americana, se insere de forma periférica e dependente no cenário internacional. Nos
13 anos em que esteve à frente do governo federal, o PT se aproveitou de um período de
relativa estabilidade econômica, impulsionado pelo “boom das commodities”, para promover
uma política pautada na construção de um amplo consenso, que mesclava uma política
“neodesenvolvimentista” com um amplo favorecimento ao capital monopolista nas suas
diferentes frações, principalmente, após 2008. Este favorecimento do capital monopolista
gestou a política de incentivo às chamadas campeãs nacionais, ou seja, megafusões nos
setores agroindustriais, petroquímicos, de construção civil, bancária e educacional, muitas
vezes através do financiamento estatal do BNDES, além de outros subsídios e isenções
fiscais. Ao mesmo tempo, o PT adquiria o apoio dos setores populares, com políticas
compensatórias, por meio da indução do consumo, por meio da liberação de crédito e
aumento real do salário mínimo.

Os governos petistas estabeleceram um amplo pacto entre setores do capital


monopolista e da burguesia política, construindo a aliança que consolidou um bloco de poder
apassivador, e que despolitizou a classe trabalhadora, sempre centrada na conciliação de
classes. Esse ​processo ​levou essas organizações a desmobilizarem os trabalhadores e
trabalhadoras para o enfrentamento dos interesses do grande capital.

O golpe de 2016 também representou a falência do modelo petista de crescimento


econômico associado ao pacto social até então vigente. De 2011 em diante, os preços das
principais mercadorias comercializadas pelo país entraram em colapso. E reagindo ao fim da
bonança do comércio exterior, o consumo doméstico também entrou em declínio. Durante
seu governo, a principal estratégia do PT foi expandir a demanda interna, ao aumentar o
poder de compra das classes populares, e o gasto público. E isso foi possível não apenas com
o aumento do salário mínimo e com transferência de renda para os pobres – com o “Bolsa
Família” –, mas também por uma massiva injeção de crédito aos consumidores.
Quando Dilma foi reeleita, em 2014, os pagamentos de juros no crédito imobiliário
estavam absorvendo mais de 1/5 da renda média disponível dos brasileiros e o déficit em
transações correntes chegou a 104,191 bilhões de dólares. Junto com a exaustão do boom das
commodities, a época de gastança também não era mais viável. Assim, os três principais
motores do crescimento tinham se inviabilizado.

Junto à crise econômica atual, temos uma crise política que coloca em xeque as
representações políticas tradicionais. Essa combinação de duas crises recolocou paras as
classes dominantes brasileiras a necessidade de reorganização de um novo bloco de poder
que rompesse com o consenso e o arranjo institucional anterior, criando uma nova
institucionalidade para operar as contrarreformas necessárias à acumulação capitalista no
país. Com a intensificação dos impactos da crise na economia nacional, dado o ritmo lento
com que o governo petista de Dilma vinha implementando as contrarreformas demandadas
pelo capital monopolista, ao mesmo tempo em que aumentavam os escândalos e as
denúncias de corrupção (prática sistêmica dos partidos da ordem), montou-se o cenário para
as frações da burguesia, que antes apoiavam o governo petista, romperem o acordo e
articularem a efetivação do golpe jurídico e parlamentar.

O golpe que interrompeu o mandato da presidente Dilma, se deu a partir de uma


trama repleta de manobras judiciais, ilegais e infundadas que, para se efetivar, contou com
um pacto espúrio que envolveu os imperialistas, os monopólios da mídia, o parlamento mais
conservador desde o fim da ditadura, o judiciário e a burguesia brasileira.

Com a queda do governo Dilma, através das manobras que culminaram no


impeachment, o ilegítimo governo de Temer assume o poder. Com o golpe
jurídico-parlamentar e a tomada do governo por Temer, temos um governo que apoia
explicita e irrestritamente os interesses da burguesia brasileira, pautado na hegemonia do
setor rentista que necessita do aprofundamento das políticas neoliberais.

Desse modo, constata-se que as frações burguesas precisavam de um governo


antipopular, que estivesse alinhado ao imperialismo e às políticas formuladas em
Washington, na União Europeia, no FMI, no Banco Mundial, etc, movimento intrínseco a um
país capitalista e dependente.

O ilegítimo governo Temer tem como base principal de sustentação, as grandes


empresas e o ​agronegócio, que utilizam do Estado burguês, inerentemente corrupto, criado e
mantido pela burguesia para dominar a classe trabalhadora. Tal utilização se expressa, por
exemplo, nos episódios absurdos de transações com o intuito de garantir a aprovação das as
medidas demandadas pelos capitalistas e a não abertura de processos contra o golpista
Temer.

​As medidas econômicas do governo têm como finalidade destruir as conquistas da


classe trabalhadora e aniquilar os seus direitos, favorecer os patrões, o agronegócio, as
grandes empresas e o setor financeiro. Com aprovação da Emenda Constitucional 95, foi
imposto a classe trabalhadora brasileira um ajuste fiscal por 20 anos, cujo objetivo é congelar
neste período os gastos públicos, reduzir as verbas para saúde e educação, de forma a
privatizar os hospitais e as escolas públicas, além de cortar os recursos para as áreas sociais​,
gerar uma taxa ‘razoável’ (para o Capital) de desemprego pela estagnação econômica e obter
uma justificativa para a reforma da previdência.

A aprovação da contrarreforma trabalhista que, na prática, revoga a CLT


(Consolidação das Leis do Trabalho), destrói os direitos da classe trabalhadora e se soma às
estratégias de flexibilização econômica implantadas nas economias centrais do sistema.

O governo golpista de Michel Temer se caracteriza por um governo de transição, que


tem como finalidade aprovar e implementar a agenda imperialista no Brasil. Mesmo
contando com uma popularidade que beira os 3%, fato que faz esse governo ser um dos mais
rejeitados da história recente, ele conseguiu aprovar quase toda a agenda capitalista no
Brasil, impondo um retrocesso brutal às condições de vida da classe trabalhadora e dos
segmentos populares.

Juntamente à crise política, também assistimos a adequação das representação


burguesas ao novo ciclo do capital, caracterizado pela intensificação dos ataques aos direitos
trabalhistas. A extrema direita profundamente antidemocrática, racista e antipopular cresce
como uma alternativa para administração da crise capitalista, em especial em países
extremamente desiguais como o Brasil. Se, durante as últimas décadas, acompanhamos a
tentativa de se forjar alternativas capitalistas "humanistas" e reformistas, agora, no atual
estágio da crise e das disputas interimperialistas, crescem as alternativas de extrema-direita
ou fascistóides como perspectiva para o campo capitalista-imperialista.

Diante deste cenário de crise, se amplia a necessidade de uma ANPG autônoma a


governos e reitorias que articule a combatividade das e dos estudantes de pós-graduação e
funcione como efetivo instrumento de resistência e para conquistas de direitos que também
aprofunde as lutas numa perspectiva de um novo modelo de educação e sociedade.

4) Produção de Conhecimento - Ciência e Tecnologia

A ciência e tecnologia é fundamental para o desenvolvimento da soberania nacional e


superação dos problemas sociais, econômicos e ambientais do país. Isso só é possível
colocando a C&T à serviço dos interesses sociais e específicos da classe trabalhadora.
O Brasil está colocado de maneira periférica na composição produtiva do capital
internacional, o que reflete diretamente sua posição na produção científica internacional. A
superação dessa posição ocorre quando o país projeta sua produção científica e tecnológica
direcionada para os interesses da sociedade, buscando dialogar com as diversas classes e
movimentos sociais.
O Estado continua sendo o maior investidor de Ciência e Tecnologia do país (0,63%
do PIB contra 0,52% de investimento não-governamental), entretanto, muito desse
conhecimento é produzido para os interesses de instituições privadas. As políticas
neoliberais, iniciadas pelo governo FHC e pouco combatidas pelo governo do PT, não foram
contra essas políticas privatizantes no âmbito da ciência, falham em construir pesquisadores
e profissionais especializados voltados os reais problemas que o país enfrenta.
Visto que na conjuntura atual, os investimentos na educação e ciência, tem sofrido
diversos cortes, tanto nos investimentos como na desvalorização da a produção científica
nacional, marcado pela união do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação,
demonstrando a ausência de prioridade nesta temática.
A produção científica tem caminhado na direção da internacionalização de sua
produção, caracterizados pelas publicações em periódicos internacionais, majoritariamente
em língua inglesa, sediados em países centrais do capitalismo.
Dentro dessa lógica o País tem exportado conhecimento científico e cientistas
formados, muitas vezes, nas instituições públicas nacionais. Nesta perspectiva os países
estrangeiros se apropriam dessas tecnologias, criando patentes que nos mantém dependente.
O sistema produtivo prioriza uma produção científica construída no idioma inglês, que
demonstra a desvalorização em repercutir as pesquisas nacionais para a América Latina.
fortalecendo a Internacionalização Sul-Sul, atualmente pouco valorizada pelo MEC.
A CAPES tem papel central nesta política, visto sua responsabilidade em definir os
critérios que definem o financiamento público nos programas de pós graduação, acabando
por incentivar essas ações de internacionalização da produção de conhecimento nacional e
ampliar nossa dependência tecnológica dos países centrais.
Com a aprovação do Marco Legal de CT&I, apoiada pela direção majoritária da
ANPG, aprofundou esse cenário privatizante do ensino público: estimula a produção de
patentes, legaliza a entrada das empresas privadas nas instituições públicas e permite que
professores com dedicação exclusiva trabalhem por 8h semanais para empresas privadas.
Desloca, com isso, o foco da pesquisa científica para a produção de patentes, por meio das
incubadoras, colocando o pós-graduando à lógica do mercado.
Associado a isso, houve uma expansão do número de fundações de apoio a pesquisa
que facilitam a entrada do capital privado nas instituições públicas. Parasitando os recursos
públicos (estruturas físicas dos laboratórios, horas de trabalho que estão sendo pagas por
instituições públicas, projetos de pesquisa e bolsas) voltados para os interesses privados.
A aproximação do capital privado nas universidades públicas estimula a lógica
liberal, diretamente relacionada a concorrência, reforçando a lógica produtivista dos critérios
da CAPES. Os critérios de avaliação pressionam para uma enorme quantidade das
publicações internacionais, com poucos indicadores qualitativos, que acarretam na
desvalorização do pensamento crítico, comprometendo a qualidade das pesquisas geradas.
Os programas que não atendem a estes critérios da lógica produtivista, sofrem com a
queda dos investimentos, o que acarreta no sucateamento do programa, que acaba por se
enfraquecer ainda mais, levando até ao descadastramento dos programas. O que claramente
demonstra a ausência de uma postura propositiva de melhoria dos programas, através de
Políticas Públicas.
No Conselho Superior da CAPES, responsável por analisar os critérios de nota dos
programas, a ANPG possui uma cadeira deliberativa que pode, e deveria, ser utilizada para
pressionar o órgão no sentido de uma pesquisa não-quantitativa, mas qualitativa,
não-subordinada aos interesses internacionais, mas em consonância com os interesses da
classe trabalhadora.
Atualmente o regimento da CAPES estabelece que as comissões de bolsas sejam
paritárias. No entanto, deixa facultativo aos programas de pós-graduação se os processos de
atribuição de bolsas devem ser feitos via comissão de bolsas ou via comissão coordenadora
de programa. A ANPG, distanciada das APGs, não atua concretamente para que isso ocorra,
por consequência existem pouquíssimos processos que ocorrem em comissões paritárias.
Precisamos construir um movimento de pós-graduandos que lute a favor dos
investimentos públicos em C&TI! Contra os interesses privados e privatizantes, pois eles não
resolvem os problemas sociais, econômicos e ambientais do Brasil! É preciso colocar a
pesquisa voltada para o objetivo que lhe cabe: resolver os interesses nacionais e atender as
demandas populares!

PROPOSTAS
● Revogação do Marco Legal à Ciência, Tecnologia e Inovação;
● Pressionar e agir diretamente de modo a garantir o investimento público;
● Fortalecer a Mostra Científica da ANPG;
● Luta para que a Pesquisa e Extensão estejam vinculados aos interesses da ampla
maioria da população e dos movimentos sociais, um modelo de ensino superior com e
para os trabalhadores e setores populares, a Universidade Popular;
● Valorizar e incentivar as publicações em Revistas Nacionais e na América Latina
● Pressionar a CAPES para que as comissões de bolsas paritárias sejam obrigatórias em
todos os programas de pós graduação;
● Participar do conselho superior da CAPES, de forma ativa para disputar por critérios
não-produtivistas que atendam as ​demandas​ da sociedade;
● Incentivar a aplicação de recursos para pesquisas que estejam de acordo com a
produção e aplicação de conhecimento socialmente comprometido e que esteja
distribuído de maneira equânime.

5) Acesso, Ações afirmativas e Assistência Estudantil

A formação social brasileira é marcada por um processo histórico de desigualdade


que se revela na situação de múltiplas opressões sobre os segmentos mais desassistidos da
população. Este cenário que se mantém na atualidade vem sendo aprofundado no marco das
vigentes políticas de austeridade fiscal e restrição de direitos humanos em curso no Brasil.
Tal processo incide fortemente sobre nós, pós-graduandos e pós-graduandas, especialmente,
nos grupos sociais mais afetados pela atual dinâmica do capitalismo global: mulheres, negras
e negros, pessoas com deficiência, LGBTQI+, estrangeiros e estrangeiras, indígenas,
quilombolas, ribeirinhos e demais povos tradicionais.

Apesar dos avanços alcançados nas últimas décadas com a ampliação do acesso à
pós-graduação, tais conquistas não foram suficientes para reparar os danos históricos e
promover a participação igualitária dos diferentes grupos supracitados. A reestruturação dos
meios de acesso e permanência à pós-graduação é uma das transformações fundamentais
para modificar a dinâmica do poder da produção intelectual. Nesse sentido, o Movimento
Nacional de Pós-Graduandas e Pós-Graduandos deve ter como bandeira central de luta a
defesa das políticas afirmativas e de assistência estudantil.

Apresentamos o seguinte conjunto de ações propositivas para ANPG:

● Criação de uma comissão permanente da ANPG sobre ações afirmativas e assistência


estudantil;
● Realização de seminário nacional em parcerias com as APGs para discussão e
deliberação de ações para políticas afirmativas e assistência estudantil interseccionais
voltadas às mulheres, negras e negros, pessoas com deficiência, LGBTQI+,
estrangeiros e estrangeiras, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e demais povos
tradicionais;
● Reestruturação do PNAES e inserção dos pós-graduandos e pós-graduandas no como
público-chave do Programa;
● Lutar pela implementação, junto à CAPES, CNPq e agências de fomento, de bolsas
para todos os pós-graduandos e todas as pós-graduandas contempladas com as
políticas de ações afirmativas.

6)Pós graduação é trabalho

O pós-graduando possui duplo caráter na nossa sociedade: sob a ótica do Estado,


somos considerados estudantes, porém sem a garantia dos mesmos direitos, e somos
cobrados como trabalhadores pelas nossas instituições sem os mesmos direitos da classe
trabalhadora.

No primeiro aspecto, podemos ressaltar que o Plano Nacional de Assistência


Estudantil (PNAES) não incluí o pós-graduando em suas políticas de permanência nas
instituições, assim como são raros ou sub representados os espaços de participação e decisão
nas unidades de ensino.

Por sua vez, o dispêndio de energia na produção do conhecimento científico o


caracteriza também como trabalhador, que igualmente é perceptível pelas cobranças: prazos
cada vez mais curtos na produção de teses e dissertações que exigem jornadas exaustivas de
trabalho intelectual para o desenvolvimento da pesquisa a fim de manter elevado os índices
de produtividade estipulados pelas instituições de fomento à pesquisa.

Em geral, este processo é garantido por via de ameaças, como o corte de bolsas, e por
carga horária indefinida e extensiva, no caso da ​stricto sensu, ou extenuante como na
residência ​lato sensu (60 horas ​versus 44 horas de um trabalhador comum).

Tendo em vista todos os deveres exigidos sobre nós, ressaltamos que não são dados,
em contrapartida, os mesmos direitos que o restante da classe trabalhadora possui: vale
transporte; refeição e alimentação; material de trabalho; licença saúde; 13º; férias;
recolhimento previdenciário.

Em destaque, a nossa remuneração é entendida como um benefício e não um salário.


Desta forma, ao longo dos últimos anos o valor real de nossas bolsas sofreu constante
desvalorização devido à falta de reajuste nas bolsas de mestrado e doutorado. Além disso, a
interpretação do pagamento pelo nosso trabalho ser um auxílio, ele é irrisório para as nossas
necessidades.

Propostas:

● Pelos direitos à assistência estudantil;


● Pelos direitos trabalhistas e previdenciários;
● Pelo ajuste anual das bolsas;
● Pela taxa de bancada para todos.

7) ​PRODUTIVISMO E SAÚDE MENTAL


O cotidiano e as relações de trabalho no contexto da pós-graduação hoje são
marcados por um crescente produtivismo acadêmico que, cada vez mais, impera sobre a
produção do conhecimento. O incentivo à produção científica em massa e ao seu aumento
quantitativo em detrimento da qualidade e da relevância do conhecimento tornam-se eixos
centrais no cenário acadêmico e configuram um amplo esvaziamento do caráter crítico das
pesquisas realizadas nas universidades brasileiras.

Nesse contexto a pressão por produção e publicação, somadas à precarização das


condições de trabalho na pós-graduação passam a compor uma difícil realidade, fonte de
sofrimento e adoecimento de milhares de pesquisadores e pesquisadoras. O individualismo e
o forte ideário da meritocracia mais do que nunca se fazem presentes no contexto acadêmico
e sustentam um forte clima de competição. Isolamento e solidão são marcas frequentes da
trajetória de produção científica.

O produtivismo é parte fundante do Sistema de financiamento à pesquisa no Brasil,


sendo regulado pelas agências de fomento criadas na década de 70, durante a ditadura
militar, como instrumento de controle da produção de conhecimento. É preciso compreender
que o marco produtivista presente na academia e todos os aspectos a ele relacionados estão
intrinsecamente ligados à lógica capitalista.

Compreender o produtivismo acadêmico e o adoecimento dos pós-graduandos nesse


contexto implica compreender que lógica de produção científica vem sendo colocada a
serviço do capital. Isto acaba isolando os pesquisadores e pesquisadoras, que se transformam
em rivais, competindo por números e por acúmulo de capital acadêmico. Em outras palavras
a lógica do sistema de pesquisa é uma manifestação direta do sistema produtivo em que
vivemos. Assim, acabamos reproduzindo uma lógica que não fomenta o trabalho/pesquisa de
forma coletiva, solidária e socialmente referenciada.

Essa lógica tem levado ao agravamento do sofrimento psíquico, a exemplo do


aumento da ansiedade e depressão, frente a instabilidade e precariedade das condições de
trabalho que impõem os pesquisadores um constante sentimento de fracasso. Um estudo da
Universidade Federal de Goiás concluiu que aproximadamente 10% dos estudantes de
pós-graduação pensam em suicídio com frequência diária ou uma vez por semana. Cabe
frisar que as causas do sofrimento psíquico são sociais e têm sua gênese nas relações
concretas, nos determinantes materiais da sociedade.

Lutar por uma sociedade justa e igualitária não é uma questão apenas política e
econômica, mas também de saúde mental. O sistema produtivista e competitivo impõe
obstáculos à organização política dos estudantes de pós-graduação. A luta contra o
adoecimento nas universidades é indissociável da luta anticapitalista.

Propostas:

● Pela construção de uma campanha nacional de combate a todos os tipos de assédio na


pós-graduação, com a produção de um material explicativo sobre os variados tipos de
assédio, violência e opressões relacionadas às minorias;
● Formação de uma comissão nacional de direitos humanos e combate a todas as
formas de violência e opressão no ambiente universitário, que tenha o papel de
receber denúncias e realizar acolhimento das vítimas e que fomente a criação e o
funcionamento de comissões em âmbito local com esse mesmo caráter, que sejam
autônomas e respaldadas pela instituição;
● Realização de Fóruns, organizados a partir da comissão acima, que tenham o objetivo
de debater de forma ampla com todos os coletivos, movimentos sociais e comunidade
universitária, com o intuito de formular horizontalmente as políticas de prevenção e
combate a todas as formas de assédio, violência e opressão no ambiente universitário;
● Incentivo à produção de relatórios em cada APG, a partir da criação da comissão
acima apresentando dados de forma a colocar a questão do assédio de forma
contextualizada, protegendo a identidade das vítimas e apresentando soluções que
priorizem modelos de justiça restaurativa, com incentivo ao uso de plataformas
independentes que garantam o anonimato de quem denuncia;
● Articulação da luta junto as demais entidades nacionais representativas das
categorias que compõem o universo acadêmico na problematização da lógica
produtivista e do modo de funcionamento das instituições de fomento à pesquisa do
Brasil e pela construção coletiva de novos marcos regulatórios, de avaliação e de
financiamento à produção de conhecimento na academia.

You might also like