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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000407267

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1090856-


96.2014.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante/apelado
MITTERMAYER DE PAIVA CHEQUETTI, é apelado/apelante MARCOS ANTÔNIO
MARTINS DA SILVA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 2ª Câmara Reservada de Direito


Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso principal e não conheceram do recurso adesivo. V.U., de
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MAURÍCIO PESSOA


(Presidente) e CLAUDIO GODOY.

São Paulo, 30 de maio de 2018.

Ricardo Negrão
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº : 35.601 (EMP-DIG-V)


APEL. Nº : 1090856-96.2014.8.26.0100
COMARCA : SÃO PAULO
APTE. : MITTERMAYER DE PAIVA CHEQUETTI
APTE. : MARCOS ANTONIO MARTINS DA SILVA E OUTRO
APDO. : OS MESMOS

RECURSO ADESIVO Apelante não beneficiário da


gratuidade de justiça Determinação de recolhimento do
preparo Prazo transcorrido in albis Recurso deserto
Recurso não conhecido.

DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE LIMITADA Dissolução


parcial de sociedade limitada composta por dois sócios
Possibilidade Hipótese prevista nos arts. 1.033 e 1.034 do CC
Quebra da affectio societatis Sentença de dissolução parcial
APURAÇÃO DE HAVERES Laudo pericial Validade
Ausência de impugnação técnica Sentença mantida Apelo
improvido.

Dispositivo: negaram provimento ao recurso principal e não


conheceram do recurso adesivo.

Recursos de apelação e adesivo interpostos pelo Sr.


Mittermayer de Paiva Chequetti e pelo Sr. Marcos Antonio Martins da Silva,
dirigidos à r. sentença proferida pelo Dr. Fábio de Souza Pimenta, MM. Juiz de
Direito da E. 32ª Vara Cível da Capital (fl. 684-690), que julgou parcialmente
procedente a denominada “ação de dissolução de sociedade cumulada com
pedido de tutela antecipada” ajuizada por Mittermayer de Paiva Chequetti
contra Marcos Antonio Martins da Silva e Goodway Cargo Transportes
Internacionais Ltda. (fl. 1-4).

Opostos embargos de declaração pelo autor (fl. 692-696), e


pelo requerido (fl. 699-700), foram rejeitados pela decisão de fl. 697 e fl. 701,
respectivamente.

Aplicando o princípio da conservação da empresa o i.


Magistrado singular declarou a dissolução parcial da sociedade, ante a perda
da affectio societatis, ainda que o pedido inicial seja de dissolução total.
Entendeu não haver impedimento para que o sócio remanescente recomponha
a pluralidade de sócios nos termos do artigo 1.033, IV, do Código Civil.

Outrossim, consignou que o laudo pericial contábil avaliou


os haveres devidos do autor (R$ 81.131,96), tendo sido acolhido integralmente
em razão de ter sido realizado por perito de confiança do Juízo e por ausência
de impugnação técnica profissional.

Apelação nº 1090856-96.2014.8.26.0100 -Voto nº 35.601 2


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Em razões recursais, o apelante (Mittermayer) sustenta


violação ao artigo 1.017 do código Civil, em relação aos investimentos que o
apelado, então atuando na área administrativa, realizou sem o seu
consentimento ou conhecimento, no valor de R$ 255.000,00 na empresa
Petroimport Comércio e Representações Ltda.-ME.

Postula assim, a reforma da r. sentença para que o valor de


R$ 255.286,71 seja restituído à sociedade com juros e correção monetária para
efeito de apuração de valores, bem como ser declarada a dissolução total da
sociedade em razão da perda da affectio socitatis, impossibilitando a
continuação de qualquer atividade, não podendo a empresa continuar, ainda
mais com apenas um sócio, reconhecendo-se ainda a ocorrência de
sucumbência mínima do apelante (fl. 703-708).

Preparo em fl. 709-711.

Contrarrazões em fl. 719-722, pelo improvimento.

Adesivamente recorre o requerido, pretendendo a reforma


da r. sentença para que seja incluída na condenação a compensação de crédito
a ser pago, na proporção de 50%, com referência aos Autos de Infração e
Imposição de Multa da Receita Federal, em período anterior a 18/9/2014, não
inclusos no laudo pericial, além de valores relativos aos móveis e computadores
em posse do apelado e 50% dos valores pagos na apólice de seguro saúde da
empresa no montante de R$ 19.500,00 (fl. 723-727).

Sem preparo.

O julgamento foi convertido em diligência, determinado que


o recorrente Marcos Antonio Martins da Silva recolhesse o preparo no prazo de
cinco dias, sob pena de deserção (fl. 734), disponibilizado no DJE no dia 28 de
março de 2018 (fl. 735), tendo prazo transcorrido in albis (fl. 736).

Contrarrazões em fl. 730-732.

Tempestividade anotada. A r. sentença foi disponibilizada


no Diário de Justiça Eletrônico no dia 5 de dezembro de 2017 (fl. 691),
sobrevindo embargos de declaração do autor em 8 de dezembro de 2017 (fl.
692), rejeitados pela r. decisão disponibilizada no DJE no dia 13 de dezembro
de 2017 (fl. 698), e embargos de declaração do requerido em 13 de dezembro de
2017 (fl. 699), igualmente rejeitados pela r. decisão disponibilizada no DJE no
dia 18 de dezembro de 2017 (fl. 702). O recurso do autor foi interposto no dia
19 de janeiro de 2018 (fl. 703). O despacho que abriu vista à parte para
contrarrazões foi disponibilizado no DJE no dia 29 de janeiro de 2018 (fl. 718) e
o recurso adesivo foi interposto no dia 9 de fevereiro de 2018 (fl. 723).

É o relatório do necessário.

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Os recursos serão analisados em conjunto.

I. DO RECURSO ADESIVO

O recurso adesivo não será conhecido.

Busca o apelante em seu recurso adesivo a reforma da r.


sentença para incluir na condenação compensação de créditos e de valores de
bens em poder do apelante.

O recorrente não é beneficiário da gratuidade de justiça,


tendo sido determinado o recolhimento do preparo no prazo de cinco dias sob
pena de deserção (fl. 734) e, todavia, esse prazo transcorreu sem qualquer
manifestação da parte recorrente (fl. 736).

Assim, por ausência de recolhimento do preparo, o recurso é


declarado deserto, não podendo ser conhecido.

Nesse sentido a posição da Turma Julgadora no precedente


(Apelação n° 0000067-20.2008.8.26.0572, da Comarca de São Joaquim da
Barra, julgado em 28 de fevereiro de 2011, de relatoria do Des. João Camillo
Prado de Almeida Costa):

Não se conhece do recurso.

E isto porque, ao interpor o recurso de apelação (fls. 127/132),


não efetuaram os advogados da autora o recolhimento do
preparo em seu importe devido, como lhes incumbia (artigo 511,
do Código de Processo Civil), de sorte que se ressente a
insurgência da falta de requisito de admissibilidade recursal, o
que está obstar possa o Tribunal dele tomar conhecimento.

Ora, dispõe o artigo 23, da Lei n° 8.906, de 04 de julho de 1994,


que "os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou
sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito
autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo
requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em
seu favor", razão pela qual, inexiste, tecnicamente, interesse
recursal da parte beneficiária da gratuidade processual, que teve
seu pedido integralmente atendido pelo recorrido, tanto que
sobreveio sentença de extinção do processo, sem resolução do
mérito, em razão da ausência superveniente de interesse
processual.

E não há se olvidar que o benefício da gratuidade processual é


concedido exclusivamente à parte hipossuficiente, que declara,
sob as penas da lei, não dispor de recursos para arcar com as
custas e despesas processuais, sem prejuízo do próprio sustento
ou de sua família, dúvida alguma remanescendo no sentido de

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que "o advogado não é parte, é o instrumento necessário e


fundamental, constitucionalmente elencado, para os
demandantes ingressarem em juízo" (STJ, RMS 12331/RS, Rel.
Min. José Delgado, j . 13/03/2007).

Aliás, como os honorários sucumbenciais pertencem ao advogado


por direito autônomo e ainda que se tenha por mera
irregularidade a circunstância de ter constado da peça recursal
que o apelante era a autora (fls. 127), inolvidável que, no
particular [arbitramento dos honorários advocatícios
sucumbenciais - tema único do apelo, fls. 129/132] o interesse
recursal é exclusivo dos causídicos, que, não podendo se valer de
benefício próprio da parte [gratuidade processual], deveriam ter
efetuado o preparo recursal devido.

Deveras, já proclamou o C. Superior Tribunal de Justi^ que "a


falta de preparo, em sede recursal, no devido prazo, gera a
deserção do recurso (art. 511 do CPC)" (ROMS 9692/ES, Rei.
Min. Laurita Vaz, j . 31/10/2002), pois "conforme o disposto no
art. 511, do CPC, no ato da interposição recursal, deve o
recorrente comprovar o pagamento do preparo" (REsp
141947/RS, Rei. Min. Waldemar Zveiter, j . 03/02/1998), razão
pela qual "o preparo da apelação deve ser comprovado no ato da
interposição do recurso; se motivo superveniente à sentença
autoriza o benefício da justiça gratuita, a parte nele interessada
deve providenciar para que o deferimento do respectivo pedido
se dê antes da interposição do recurso" (AgRg no Ag
678948-0/RJ, Rei. Min. Ari Pargendler, j . 03/04/2006).

Sobre o tema, preleciona Luiz Orione Neto que "a falta de


preparo acarreta consequência drástica: a deserção do recurso.
(...) A deserção implica, assim, o abandono do recurso,
inviabilizando o julgamento do pedido de reexame da decisão
impugnada" (Recursos Cíveis, Luiz Orione Neto, Editora
Saraiva, 2002, págs. 115/116).

No mesmo sentido, escólio de Moacyr Amaral dos Santos ao


preconizar que "preparo do recurso significa o pagamento prévio
das despesas com o seu processamento. Trata-se, propriamente,
de um pressuposto de admissibilidade do recurso, pois este não
poderá ser recebido se não for preparado no prazo estabelecido
pela lei. É o que se extrai do disposto no art. 511 do Código de
Processo Civil: 'No ato de interposição do recurso, o recorrente
comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o
respectivo preparo, inclusive porte de retorno, sob pena de
deserção'. Logo, a ausência de preparo acarreta a deserção do
recurso, que equivale a uma pena ao recorrente desidioso."
(Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Moacyr Amaral
Santos, Editora Saraiva, 3º volume, 17a edição, pág. 87).

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Em remate, oportuno é mencionar a lição de J. C. Barbosa


Moreira acerca da questão sub examine: "A falta de preparo,
como a não interposição do recurso no prazo devido, são causas
puramente objetivas de inadmissibilidade e prescindem de
qualquer indagação sobre a vontade do omisso. Pouco importa
que a omissão haja sido intencional, ou tenha decorrido de
negligência ou descuido." (Comentários ao Código de Processo
Civil, Editora Forense, 5a edição, V Volume, pág. 381).

Logo, como não eram os advogados da autora beneficiários da


assistência judiciária gratuita, de rigor era na espécie o
recolhimento do preparo recursal e do porte de remessa e de
retorno dos autos, de sorte que o descumprimento deste encargo
acarretou a deserção, que está a impedir possa o Tribunal
conhecer do recurso interposto, sendo absolutamente irrelevante
na hipótese em apreço a mera circunstância de ter sido o apelo
interposto pela autora recebido pelo juízo singular, haja vista
que tal decisão não vincula o Tribunal, que tem ampla liberdade
para reapreciar os pressupostos de admissibilidade, dentre os
quais aquele em que consubstanciada a necessidade de correto
preparo recursal, sob pena de deserção.

Como remate, a consideração de que constitui dever do


magistrado exercer assídua fiscalização sobre o recolhimento de
custas e emolumentos, ainda que não haja reclamação das
partes (o artigo 35, inciso VII, da Lei Complementar n° 35, de 14
de março de 1979).

Recurso adesivo não conhecido.

II. DOS CONTORNOS DE FUNDO

Cuida-se de pedido de dissolução parcial de sociedade com


apuração de haveres ajuizado pelo Sr. Mittermayer de Paiva Chequetti contra
o Sr. Marcos Antonio Martins da Silva e a sociedade Goodway Cargo
Transportes Internacionais Ltda.

Do relato inicial extrai-se que o autor e o réu possuíam 50%


das quotas de Goodway Cargo Transportes Internacionais Ltda. Deixando de
existir a affectio societatis em razão de realização de operações financeiras sem
consentimento do autor, fato que acarretou a apuração da prática de crime de
apropriação indébita.

Alegou ainda que o requerido constituiu outra sociedade


empresarial com o mesmo objeto da Goodway, praticando concorrência desleal.

O Juízo deferiu o pedido de tutela antecipada fixando a

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data da propositura da ação como sendo a data da efetiva saída do autor da


sociedade para fins de encerramento e apuração de haveres.

Citado, o requerido apresentou contestação (fl. 44-55) com


preliminar de possibilidade de retirada do autor e continuidade da empresa,
podendo admitir novos sócios ou transformação para empresa individual.

No mérito, o réu sustentou ausência de obstáculo à retirada


do autor, exigindo-se apenas que o passivo da empresa fosse sanado em razão
da existência de dívidas. Sustentou ainda, que a administração da empresa era
exercida por ambos os sócios, e que todos os investimentos realizados eram de
pleno conhecimento do autor. Impugnou a alegação de concorrência desleal ao
argumento de que a empresa que constituiu em 2011 jamais operou no
mercado encontrando-se inativa.

Réplica do autor em fl. 94-124.

Incidente de falsidade apresentado pelo autor em fl.


151/154 sobre os documentos juntados às fl. 74-76, que foi contestado pelo
requerido (fl. 166-172) e replicado pelo autor (fl. 197-198).

Em decisão saneadora, o Juízo indeferiu o pedido de perícia


grafotécnica, decisão esta que sofreu embargos de declaração (fl. 206-210),
rejeitados pela decisão de fl. 211, e agravado de instrumento (fl. 213-224) com
provimento parcial determinado pelo v. acórdão de fl. 585-592.

Houve impugnação ao perito nomeado (fl. 236-237) com


decisão de rejeição da impugnação (fl. 258) tendo o requerido interposto agravo
de instrumento (fl. 262-273) o que ensejou a reconsideração e nomeação de
novo perito (fl. 277).

Laudo pericial apresentado em fl. 386-451, com


esclarecimentos (fl. 509-541), com manifestação das partes (fl. 467-472,
548-555 e 556-557) bem como de seus assistentes (fl. 475-486 e 492-503).

Contestação da requerida Goodway Cargo Transportes


Ltda. (fl. 624-636), com alegação de possibilidade de retirada do autor e
continuidade da empresa. Sustentou que os haveres das cotas sociais do autor
devem ser pagos conforme previsão do contrato social, isto é, em 50 parcelas.
No mais repetiu os argumentos da defesa do requerido Sr. Marcos Antônio.

Réplica em fl. 643-651.

Audiência de conciliação infrutífera (fl. 664).

Memoriais pelas partes em fl. 667-670 e 671-682.

A r. sentença julgou parcialmente procedente a ação,

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determinado a retirada do autor dos quadros da sociedade a partir de


18/9/2014, com apuração de haveres de R$ 81.131,96, corrigidos desde a data
do laudo pericial com juros de mora desde a citação, com sucumbência
recíproca, fixando os honorários dos advogados em 10% sobre o valor da
condenação.

III. DO MÉRITO RECURSAL

No tocante ao pedido de dissolução total da sociedade pelo


autor apelante, sua pretensão não vinga.

O fato de a r. sentença ter julgado procedente em parte o


pedido do autor, declarando parcialmente dissolvida a sociedade não afronta
princípio de direito, sendo admitida a continuação da empresa desde o
julgamento no RE 104.596, DJU 21 de junho de 1985, de relatoria do Ministro
Cordeiro Guerra.

A dissolução parcial decretada não extingue a pessoa


jurídica de imediato, mas apenas garante o exercício do direito de retirada do
sócio nos moldes do artigo 1.029 do Código Civil, representando ainda um
direito de liberdade do sócio de se associar ou não, equivale dizer, que a
dissolução parcial da sociedade representa um direito que decorre da liberdade
de se associar (art. 5º, inciso XX, da CF). É possível, com isso, preservar-se o
exercício empresarial pelo sócio remanescente, se este assim o desejar, com a
recomposição da pluralidade de sócios nos termos do art. 1.033, IV do Código
Civil.

Absolutamente desimportante o fato de a inicial apresentar


ares de dissolução total ao requerer a dissolução da sociedade para fins de sua
liquidação ao mesmo tempo em que se pretende o reconhecimento da perda da
affectio societatis. A liquidação que se pretende é das cotas do retirante,
ausente ao autor interesse na continuidade ou não da sociedade.

Assim, proferida decisão de dissolução parcial do sócio pela


perda da affectio societatis, a sociedade continuará existindo, apenas com
alteração no seu quadro societário.

Neste sentido o C. Superior Tribunal de Justiça já se


posicionou:

DIREITO SOCIETÁRIO E EMPRESARIAL. SOCIEDADE


ANÔNIMA DE CAPITAL FECHADO EM QUE PREPONDERA
A AFFECTIO SOCIETATIS. DISSOLUÇÃO PARCIAL.
EXCLUSÃO DE ACIONISTAS. CONFIGURAÇÃO DE JUSTA
CAUSA. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO DIREITO À
ESPÉCIE. ART. 257 DO RISTJ E SÚMULA 456 DO STF. 1. O

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instituto da dissolução parcial erigiu-se baseado nas sociedades


contratuais e personalistas, como alternativa à dissolução total
e, portanto, como medida mais consentânea ao princípio da
preservação da sociedade e sua função social, contudo a
complexa realidade das relações negociais hodiernas
potencializa a extensão do referido instituto às sociedades
“circunstancialmente” anônimas, ou seja, àquelas que, em
virtude de cláusulas estatutárias restritivas à livre circulação
das ações, ostentam caráter familiar ou fechado, onde as
qualidades pessoais dos sócios adquirem relevância para o
desenvolvimento das atividades sociais (”affectio societatis”).
(Precedente: EREsp 111.294/PR, Segunda Seção, Rel. Ministro
Castro Filho, DJ 10/09/2007) 2. É bem de ver que a dissolução
parcial e a exclusão de sócio são fenômenos diversos, cabendo
destacar, no caso vertente, o seguinte aspecto: na primeira,
pretende o sócio dissidente a sua retirada da sociedade,
bastando-lhe a comprovação da quebra da “affectio societatis”;
na segunda, a pretensão é de excluir outros sócios, em
decorrência de grave inadimplemento dos deveres essenciais,
colocando em risco a continuidade da própria atividade social. 3.
Em outras palavras, a exclusão é medida extrema que visa à
eficiência da atividade empresarial, para o que se torna
necessário expurgar o sócio que gera prejuízo ou a possibilidade
de prejuízo grave ao exercício da empresa, sendo imprescindível
a comprovação do justo motivo. 4. No caso em julgamento, a
sentença, com ampla cognição fático-probatória, consignando a
quebra da “bona fides societatis”, salientou uma série de fatos
tendentes a ensejar a exclusão dos ora recorridos da companhia,
porquanto configuradores da justa causa, tais como: (i) o
recorrente Leon, conquanto reeleito pela Assembleia Geral para
o cargo de diretor, não pôde até agora nem exercê-lo nem
conferir os livros e documentos sociais, em virtude de óbice
imposto pelos recorridos; (ii) os recorridos, perceber
rendimentos mensais, não distribuindo dividendos aos
recorrentes. 5. Caracterizada a sociedade anônima como fechada
e personalista, o que tem o condão de propiciar a sua dissolução
parcial - fenômeno até recentemente vinculado às sociedades de
pessoas -, é de se entender também pela possibilidade de
aplicação das regras atinentes à exclusão de sócios das
sociedades regidas pelo Código Civil, máxime diante da previsão
contida no art. 1.089 do CC: “A sociedade anônima rege-se por
lei especial, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições
deste Código.” 6. Superado o juízo de admissibilidade, o recurso
especial comporta efeito devolutivo amplo, porquanto cumpre ao
Tribunal julgar a causa, aplicando o direito à espécie (art. 257 do
RISTJ; Súmula 456 do STF). Precedentes. 7. Recurso especial
provido, restaurando-se integralmente a sentença, inclusive
quanto aos ônus sucumbenciais. (REsp 917.531/RS, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 17/11/2011, DJe 01/02/2012). (Negritamos)
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Quanto ao pedido de inclusão dos investimentos feitos pelo


apelado no valor de R$ 255.000,00 a r. sentença bem decidiu essa questão com
os seguintes fundamentos adotados (fl. 688-689):

[..]

Como consequência, visando a liquidação das quotas sociais do


requerente, foi determinada a realização de prova pericial
contábil, por profissional de confiança deste Juízo que, após
análise do balanço e dos registros da sociedade, constatou que o
patrimônio liquido da sociedade era de R$ 199.341,94 quando da
propositura da ação (18/09/2014), sendo devida ao autor, titular
de 50% das quotas, a quantia de R$ 99.670,97, que, atualizada
para 31/05/2016, perfaz a quantia de R$ 117.223,12 (fls. 395/397
e 450).

Em sede de esclarecimentos (fls. 509/541), o perito retificou


alguns pontos de seu entendimento inicial, afastando
parcialmente as impugnações apresentadas pelas partes.

O expert, com razão, ressaltou que seu trabalho era realizar a


apuração de haveres do sócio retirante na data da propositura
da ação, sendo “eventual exame nas movimentações financeiras
de 2010 a 2012, relativamente aos pagamentos efetuados pela
sociedade a pessoa física, sem que tais movimentos pertençam
aos compromissos relacionados ao objeto social da sociedade”
“corresponde a um trabalho de investigação de auditoria, de tal
forma que essa atividade não está relacionada a perícia contábil
de avaliação” (fls. 512).

Após minuciosa análise das impugnações apresentadas, o perito


retificou alguns valores por ele adotados na formulação da
apuração de haveres, avaliando novamente os ativos e passivos
da sociedade ré, e indicou a existência de patrimônio líquido da
empresa no valor de R$ 137.967,68, cabendo ao requerente a
quantia de R$ 81.131,96 (em 31/05/2016).

Deve o laudo pericial deve ser integralmente acolhido, pois


realizado por profissional de confiança deste Juízo, amplamente
capacitado para a produção do referido trabalho, sem
impugnação técnica de profissional da área, possibilitando
reconhecer como genéricas e parciais as alegações das partes.

Registre-se que a conclusão do laudo não é infirmada por


provas técnicas em sentido contrário nem capaz de abala-la por ausência de
crítica séria do autor apelante.

IV. DA SUCUMBENCIA

Apelação nº 1090856-96.2014.8.26.0100 -Voto nº 35.601 10


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No tocante à sucumbência, nada a reformar. De fato


ocorreu a sucumbência recíproca, de forma que a bem lançada sentença no
tocante à sucumbência recíproca deve ser mantida.

V. DISPOSITIVO

Pelo exposto, negam provimento ao recurso principal e não


conhecem o recurso adesivo.

RICARDO NEGRÃO
RELATOR

Apelação nº 1090856-96.2014.8.26.0100 -Voto nº 35.601 11

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