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CÁLCULO com várias variáveis

J. Adonai & A. Carlos

UFAL-2012
Conteúdo

1 Vetores e Funções Vetoriais 1


1.1 O Espaço Euclidiano n-Dimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.4 Operações com n-uplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.13 Interpretações Geométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Produto Interno e Norma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2.7 Interpretações Geométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.11 A Desigualdade de Cauchy-Schwarz . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3 Retas e Planos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3.12 Produto Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3.24 Distância de um Ponto a uma Reta . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.3.29 Distância de um Ponto a um Hiperplano . . . . . . . . . . . 26
1.4 Funções Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.4.6 Conjuntos Associados a Funções Vetoriais . . . . . . . . . . 30
1.5 Funções Vetoriais Especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.5.22 Superfı́cies de Revolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

2 Cálculo das Curvas Parametrizadas 58


2.1 Limite e Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2.2 Derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.2.3 Interpretação Geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.2.14 Derivadas de Ordem Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
2.2.19 Interpretação Fı́sica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
2.3 Geometria das Curvas Parametrizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
2.3.8 Curvatura e Torção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

i
ii Conteúdo

2.3.27 Curvas Planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78


2.3.31 Cı́rculos no Espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
2.3.36 Comprimento de Arco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

3 Funções Contı́nuas 91
3.1 Limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.1.15 Propriedades dos Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
3.2 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

4 Derivadas Parciais 115


4.1 Derivadas Parciais no Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
4.1.17 Interpretação Geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
4.2 Derivadas Parciais de Ordem Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
4.2.3 O Teorema de Schwarz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
4.3 Derivadas Parciais, Caso Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
4.4 Derivadas Parciais Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
4.4.10 Interpretação Geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
4.5 Derivadas Direcionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
4.5.3 Interpretação Geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148

5 Aplicações Diferenciáveis 153


5.1 A Derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
5.1.21 Aplicações Continuamente Diferenciáveis . . . . . . . . . . 166
5.1.30 Aproximação Afim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
5.2 Operações com Aplicações Diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . 174
5.2.6 A Regra da Cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
5.3 O Teorema do Valor Médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
5.4 Algumas Aplicações do Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
5.4.6 Superfı́cies Definidas Implicitamente . . . . . . . . . . . . . . 198
5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200
Conteúdo iii

6 Funções Inversa e Implı́cita 207


6.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
6.1.1 Sequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
6.1.24 Funções Contı́nuas em Conjuntos Compactos . . . . . . . . 215
6.1.39 Norma de Uma Aplicação Linear . . . . . . . . . . . . . . . . 218
6.2 Contrações, Pontos Fixos e Perturbações . . . . . . . . . . . . . . . 224
6.3 O Teorema da Função Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230
6.4 O Teorema da Função Implı́cita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
6.4.1 O Caso de Duas Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
6.4.9 O Caso Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241
6.5 Superfı́cies Regulares no Espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250
6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256

Sugestões e Respostas 266

Índice 287

Referências Bibliográficas 291


1
Vetores
e
Funções Vetoriais

r
z rrrrrrrrrrrrrr
r r r rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

r r r r r
sV  r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
6 
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr π = P + [{V, W }]

V rrrrrrrr r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr@
rrrrrrrrrrrrrrrrrrr rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
*
srrrrrrrrrrrrrrr rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
*
P r
r r r r r r
@rrrX rrrrrrrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrrrP
r− rrr@ rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrXrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
X
@ rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr@
rr r r r r r rrrrrrrrrrrrrsrrrrrrX rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr- rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
z
X
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrryrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
Os W @ r r r
r r rrrr rr r r r r r r r rr r r
R r r rrrrrrrrrr rrrrrrr r rrr rrrrrrrrrr rrrrrrrrrrr rrr rr rrrrrrrr r r r r r r
tW @rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
@ 
r rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
@rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
@rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
x
@rrrrrrr

por
J. Adonai & A. Carlos
1.1
O Espaço Euclidiano Rn

Nesta seção, introduziremos a noção de espaço euclidiano Rn , estabelecendo suas propri-


edades algébricas e geométricas básicas. Começamos com sua definição.

1.1.1
Definição Dado n ∈ N, o espaço euclidiano Rn é definido como sendo o conjunto de todas
as n-uplas de números reais X = (x1 , x2 , . . . , xn ), isto é,
Rn = {X = (x1 , x2 , . . . , xn ); xi ∈ R, i = 1, 2, . . . n}.

1.1.2
Definição Dada uma n-upla X = (x1 , x2 , . . . , xn ), os números reais x1 , x2 , . . . , xn são
chamados coordenadas de X.

1.1.3
Definição Dadas n-uplas X = (x1 , x2 , . . . , xn ) e Y = (y1 , y2 , . . . , yn ), diremos que X = Y
se x1 = y1 , x2 = y2 , . . . , xn = yn .

1.1.4
Operações com n-uplas

As estruturas aditiva e multiplicativa do corpo R induzem, naturalmente, uma estrutura


de espaço vetorial sobre Rn . A adição de n-uplas e a multiplicação de uma n-upla por um
número real são definidas a seguir.

1.1.5
Definição Sejam X = (x1 , x2 , . . . , xn ) e Y = (y1 , y2 , . . . , yn ). A soma de X com Y , indicada
por X + Y , é a n-upla
X + Y = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn ).

1.1.6
Definição Sejam X = (x1 , x2 , . . . , xn ) e a ∈ R. O produto de X pelo número real a,
indicada por aX, é a n-upla
aX = (ax1 , ax2 , . . . , axn ).

1.1.7 √ √ √
Exemplo No espaço R4 , considere
√ X =
√ (1, 2, −π, 2),
√ √ Y = (2, √ 3, π, 1) e a = 2. Então,
X + Y = (3, 2 + 3, 0, 1 + 2) e aX = ( 2, 2 2, −π 2, 2).

2
Vetores e Funções Vetoriais 3

1.1.8 √ √ √ √
Exemplo Em R7 , considere X =√ (0, 1, 2, −1, 0, 2,√ 3) e Y = (2, 3, π, 1, 0, 2, − 3).
Então, X + Y = (2, 1 + 3, 2 + π, 0, 0, 2 + 2, 0).
As proposições que seguem mostram que as operações com n-uplas recém-definidas satis-
fazem os axiomas de espaço vetorial. Tal fato justifica a terminologia que consiste em chamar
uma n-upla, de vetor no Rn .

1.1.9
Proposição Se X, Y, Z ∈ Rn , então valem as seguintes propriedades:
(i) [Comutatividade] X + Y = Y + X;
(ii) [Associatividade] (X + Y ) + Z = X + (Y + Z);
(iii) [Elemento Neutro] a n-upla O = (0, 0, . . . , 0), chamada n-upla nula (ou zero), é a única
n-upla tal que X + O = X;
(iv) [Simétrico] a n-upla −X = (−x1 , −x2 , . . . , −xn ), chamada simétrico da n-upla X, é a
única n-upla tal que X + (−X) = O.
Demonstração: Vejamos a demonstração de (ii). As demais são igualmente simples, e
serão deixadas como exercı́cio para o leitor. Temos que

(X + Y ) + Z = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn ) + (z1 , z2 , . . . , zn )
= ((x1 + y1 ) + z1 , (x2 + y2 ) + z2 , . . . , (xn + yn ) + zn ))
= (x1 + (y1 + z1 ), x2 + (y2 + z2 ), . . . , xn + (yn + zn ))
= X + (Y + Z),

onde, na passagem da segunda para a terceira equação, foi usada a propriedade associativa dos
números reais. Os demais pontos envolvem apenas a definição 1.1.5. pppppppppppppppppppppp

1.1.10
Proposição Se X, Y ∈ Rn e a, b ∈ R, então valem as seguintes propriedades:
(i) [Distributividade] a(X + Y ) = aX + aY ;
(ii) [Distributividade] (a + b)X = aX + bX;
(iii) [Associatividade] (ab)X = a(bX);
(iv) 1 X = X.
Demonstração: Sejam X = (x1 , x2 , . . . , xn ) e Y = (y1 , y2 , . . . , yn ). Temos que

a(X + Y ) = a(x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn )
= (a(x1 + y1 ), a(x2 + y2 ), . . . , a(xn + yn ))
= (ax1 , ax2 , . . . , axn ) + (ay1 , ay2 , . . . , ayn ) = aX + aY,
4 O Espaço Euclidiano Rn
onde usamos a propriedade distributiva de R junto com a definição 1.1.5, e obtemos (i). Para (ii),
a propriedade distributiva de R e a definição 1.1.6 são usadas:

(a + b)X = ((a + b)x1 , (a + b)x2 , . . . , (a + b)xn )


= (ax1 + bx1 , ax2 + bx2 , . . . , axn + bxn )
= aX + bX,

como querı́amos. ppppppppppppppppppppppp

1.1.11
Corolário Rn é um espaço vetorial de dimensão n.
Demonstração: As proposições 1.1.9 e 1.1.10 mostram que Rn é uma espaço vetorial.
Falta mostrar que dim Rn = n. Para isto, sejam e1 , e2 , . . . , en , definidos por

e1 = (1, 0, 0, . . . , 0)
e2 = (0, 1, 0, . . . , 0)
.. .. ..
. . .
en = (0, 0, . . . , 0, 1).

Note que se X = (x1 , x2 , . . . , xn ), então

X = x1 e1 + x2 e2 + · · · + xn en .

Logo, {e1 , e2 , . . . , en } gera Rn . Agora se c1 , c2 , . . ., cn são números reais tais que

c1 e1 + c2 e2 + · · · + cn en = (0, 0, . . . , 0),

vem que c1 = c2 = · · · = cn = 0, o que completa a prova. ppppppppppppppppppp

1.1.12
Definição A base {e1 , e2 , . . . , en } construı́da acima é chamada base canônica do espaço Rn .

1.1.13
Interpretações Geométricas

A interpretação geométrica que descreve R como uma reta orientada, sobre a qual se esco-
lhe um ponto O, o qual corresponde ao número zero, uma unidade de medida, que corresponde
ao número 1, pode ser estendida a uma interpretação geométrica dos espaços euclidianos R2 e
R3 . Para Rn , n ≥ 4, fica por conta da imaginação de cada um.
Vetores e Funções Vetoriais 5

r
√ r r √r r
−∞ − 2 0 1 3 π +∞

Figura 1: Os Números Reais R

Para visualizar o R2 , tomamos duas cópias de R, as quais chamamos de eixos coordenados.


Estes eixos são denotados por eixo-x e eixo-y. O passo seguinte consiste em dispor os eixos
coordenados em um plano euclidiano de modo que eles se interceptem ortogonalmente ao longo
de suas origens, o que produz o ponto O, que será associado à dupla (2-upla) nula (0, 0),
conforme figura 2. Feito isso, uma dupla de R2 , digamos X = (x1 , x2 ), é olhada como aquele
ponto do plano, também indicado por X, que se projeta ortogonalmente sobre eixo-x e eixo-y
naqueles pontos que correspondem a x1 e x2 , respectivamente. Isto é feito traçando-se por x1 ,
uma reta perpendicular ao eixo-x, e por x2 , uma reta perpendicular ao eixo-y. A interseção
destas perpendiculares é exatamente o ponto do plano que representará X. Deste modo, fica
estabelecida uma bijeção entre o plano euclidiano que fixamos e o espaço R2 .
Há situações em que é conveniente representar uma dupla X como um segmento orientado
localizado em O. A figura 2 exibe duas duplas X = (x1 , x2 ) e Y = (y1 , y2 ), de modo que cada
uma delas aparece ora como ponto, ora como segmento orientado. Neste ponto, observamos
que a noção geométrica de ângulo entre X e Y é mais adequada à figura 2-(c), onde ambas são
olhadas como segmentos orientados localizados em O. Já a figura 2-(b) é perfeita para motivar
a noção de reta que passa por Y e é paralela a X, conforme definição 1.3.1.

y y y
6 6 6

y2 r Y
s y2 r Y
s y2 r Y

x2 r X
s x2 r X x2 r 
 X
*
 *

  
  
  
s r r - s r
 r - sr r -
O y1 x1 x O y1 x1 x O y1 x1 x

Figura 2-(a) Figura 2-(b) Figura 2-(c)

Analogamente, para fazermos geometria em R3 , recorremos a três retas, que formarão os


eixos coordenados, indicados, respectivamente, por eixo-x, eixo-y e eixo-z, e as colocamos no
espaço euclidiano tridimensional de modo que elas se interceptem ortogonalmente em suas ori-
gens, produzindo o ponto O, que corresponderá à tripla (3-upla) nula (0, 0, 0). Feito isso, temos
em mãos três planos especiais, chamados coordenados, e denotados por plano-xy, plano-xz e
plano-yz. Agora a uma tripla X = (x1 , x2 , x3 ) fazemos corresponder o ponto do espaço cujas
projeções ortogonais sobre os eixos coordenados eixo-x, eixo-y e eixo-z coincidem, respectiva-
mente, com os pontos destes eixos que estão associados aos números reais x1 , x2 , x3 . A figura 3
mostra como isso é feito: inicialmente, marcamos x1 no eixo-x, x2 no eixo-y e x3 no eixo-z.
Depois, a partir de x1 , caminhamos paralelamente ao eixo-y até atingir a medida x2 , onde en-
contramos o ponto que representa a projeção de X no plano-xy, que corresponde a (x1 , x2 , 0).
6 O Espaço Euclidiano Rn
Pronto, agora é só subir (se x3 > 0), ou descer (se x3 < 0), paralelamente ao eixo-z até atingir
uma altura x3 , e encontramos o ponto do espaço que representará X. Note que na figura 3-(b),
a tripla X é mostrada como um segmento orientado localizado na origem.

z z
6 6
(0, x2 , x3 ) (0, x2 , x3 )
x3 r s x3 r s
@ @
@ @
@ @
(x1 , 0, x3 ) s @s (x1 , 0, x3 ) s @
6X *X
 6

Os 6 rx2- Os  6 rx2-
@ y @ y
6 6
@ @
@ 6 @ 6
r- - - - - - @
-6s(x , x , 0) r- - - - - - @ s(x , x , 0)
-6
x1 1 2 x1 1 2

x
x

Figura 3-(a) Figura 3-(b)

y y
6 X +Y 6 X +Y
x2 + y2 r s x2 + y2 r
*

  


Y Y

y2 r s y2 r

 
X 
x2 r s x2 r 
*

X
  
  
 
s r r r - sr r r -
O y1 x1 x1 + y1 x O y1 x1 x1 + y1 x

Figura 4-(a) Figura 4-(b)

y
6 X +Y
x2 + y2 r s
*




y2 r Y
s



x2 r X
s
*




sr r r -
O y1 x1 x1 + y1 x

Figura 4-(c)
Vetores e Funções Vetoriais 7

Agora podemos descrever geometricamente a adição de n-uplas e a multiplicação de uma n-upla


por um número real. Para isso, usamos a figura 4, onde marcamos as duplas X = (x1 , x2 ) e
Y = (y1 , y2 ) juntamente com sua soma.
Olhando atentamente o conjunto de figuras 4, observamos que a (b), que mostra X e Y
como segmentos orientados localizados em O, nos dá uma regra geométrica evidente: o segmento
orientado X + Y é a diagonal do paralelogramo com arestas X e Y . Portanto, a dupla X + Y
é o ponto final deste segmento. A regra geométrica contida na figura 4-(c) é a mais simples:
localizamos em Y , o segmento orientado X. O ponto final obtido é a dupla X + Y . Fácil, não?
Para finalizar, consideremos a figura abaixo que ilustra geometricamente como funciona
a multiplicação de uma n-upla por um escalar: a n-upla aX, a ∈ R, tem comprimento igual ao
comprimento de X multiplicado pelo valor absoluto de a. Seu sentido é o mesmo de X, quando
a > 0, e lhe é contrário, quando a < 0.

y
6

aX (a > 1)
ax2 r

*
x2 r X

 *


* aX (0 < a < 1)


s
 r r -
O
 x1 ax1 x


 Figura 5


−X

1.2
Produto Interno e Norma

Vimos, recentemente, que o espaço Rn possui uma estrutura de espaço vetorial. Em


várias situações, precisamos das noções de comprimento, ângulo, ortogonalidade, não presentes
nas operações de espaço vetorial. Estas noções são obtidas a partir de um produto escalar (ou
interno), que introduziremos agora.

1.2.1
Definição Sejam X = (x1 , x2 , . . . , xn ) e Y = (y1 , y2 , . . . , yn ). O produto escalar (ou in-
terno) de X por Y , indicado por X · Y , é o número real dado por

X · Y = x1 y1 + x2 y2 + · · · + xn yn .
8 Produto Interno e Norma

A seguinte proposição descreve as propriedades deste produto.

1.2.2
Proposição Se X, Y, Z ∈ Rn e a ∈ R são arbitrários, então valem as seguintes proprieda-
des:

(i) [Positividade] X · X ≥ 0, e X · X = 0 se, e somente se, X = O = (0, 0, . . . , 0);


(ii) [Comutatividade] X · Y = Y · X;
(iii) [Distributividade] X · (Y + Z) = X · Y + X · Z;
(iv) [Homogeneidade] (aX) · Y = X · (aY ) = a(X · Y ).
Demonstração: Com X = (x1 , x2 , . . . , xn ), Y = (y1 , y2 , . . . , yn ) e Z = (z1 , z2 , . . . , zn ),
temos que

X · (Y + Z) = x1 (y1 + z1 ) + x2 (y2 + z2 ) + · · · + xn (yn + zn )


= x1 y1 + x1 z1 + x2 y2 + x2 z2 + · · · + xn yn + xn zn
= (x1 y1 + x2 y2 + · · · + xn yn ) + (x1 z1 + x2 z2 + · · · + xn zn )
= X · Y + X · Z.

Assim, fica provado (iii). pppppppppppppppppppppp

A proposição 1.2.2, em seu item (i), permite-nos dar a seguinte definição.

1.2.3
Definição Seja X = (x1 , x2 , . . . , xn ). A norma (ou comprimento) de X é dada por
√ q
kXk = X · X = x21 + x22 + · · · + x2n .

1.2.4
Definição X ∈ Rn é dito unitário se kXk = 1.

1.2.5 √ √
Exemplo Se X =√(1, 2, −1, 0) e Y = (3, 1, 0, − 2), então X · Y = 5, kXk = 6 e
kY k = 2 3.

1.2.6
Proposição Dados X, Y ∈ Rn e a ∈ R, temos que
(i) kXk ≥ 0, e kXk = 0 se, e somente se, X = O;
(ii) kaXk = |a| kXk, onde |a| é o valor absoluto de a;
(iii) se X 6= O, o vetor uX = X/ kXk é unitário (uX é conhecido como vetor unitário na direção
de X);
(iv) kX + Y k2 = kXk2 + 2X · Y + kY k2 ;
Vetores e Funções Vetoriais 9

(v) kX − Y k2 = kXk2 − 2X · Y + kY k2 .
Demonstração: Temos que
p p
kaXk = (aX) · (aX) = a2 (X · X) = |a| kXk ,
o que prova (ii). Agora, usando (ii), vem que

X 1
kuX k = kXk = kXk kXk = 1,

e segue-se (iii). Para (iv), simplesmente expandimos kX + Y k2 , usando a distributividade e a


comutatividade do produto escalar.
kX + Y k2 = (X + Y ) · (X + Y )
=X ·X +X ·Y +Y ·X +Y ·Y
= kXk2 + 2X · Y + kY k2 .
Os demais itens são, também, de prova simples. ppppppppppppppppppppp

1.2.7
Interpretações Geométricas

Estudaremos agora os aspectos geométricos envolvidos pelo produto escalar e pela norma.
Consideremos a figura 6 que segue. Note que o triângulop de vértices O, X e (x1 , x2 , 0) é
2 2
p no vértice (x1 , x2 , 0) e seus catetos medem x1 + x2 e x3 . Logo, sua hipotenusa
retângulo
mede x21 + x22 + x23 , o que coincide com kXk.

z
6
x3 r
@
@
@
@rrrr X
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
*

rrr rrrr r r r r
r r
r

rrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrqqrrrqqrrrqqrrrqqrrrqqrrrqqrrrqq

O sqqrrqrqqrqqrqqrqq rx2-
@ qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq x
q q q q q q q y
@qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq 3
p @qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
x21 + x22 @ qq@ qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqq
r @qqs(x , x , 0)
x1 1 2

x

Figura 6

Deste modo, podemos visualizar kXk como o comprimento (euclidiano) do segmento orientado
X. Isto também acontece no R2 , como o leitor pode verificar facilmente.
10 Produto Interno e Norma

Tomemos agora X, Y dois vetores em R2 (ou R3 ) que fazem entre si um ângulo θ, como
mostra a figura 7. (Note a interpretação geométri- y
ca para a diferença Y − X: o segmento orientado, 6
localizado em X, que representa Y − X termina Y
y2 r
em Y .) Aplicando a lei dos cossenos ao triângulo 
i
PP
P P
4OXY , obtemos que x2 r  P X
*

Y −X y2 − x2 r 
 
2 2 2
kY − Xk = kXk + kY k − 2 kXk kY k cos θ, ppppppppθpp 
iP
P 
PP
r P Ps r r -
o que comparado com (v) da proposição 1.2.6 dá y1 − x1 O y1 x1 x
que Figura 7
X · Y = kXk kY k cos θ.
Assim vemos que a noção de produto interno está bem ligada à noção de ângulo entre vetores,
e colhemos a seguinte proposição, onde ∠(X, Y ) indica o ângulo, no intervalo [0, π], entre os
vetores X e Y .

1.2.8
Proposição Se X, Y ∈ Rn (n = 2, 3) e θ = ∠(X, Y ), então X · Y = kXk kY k cos θ. Em
particular, vale a desigualdade de Cauchy-Schwarz: |X · Y | ≤ kXk kY k , a
igualdade ocorrendo apenas quando X e Y são linearmente dependentes.

1.2.9
Exemplo A proposição 1.2.8 mostra que dois vetores X e Y em Rn , n = 2, 3, são perpen-
diculares se, e somente se, X · Y = 0. De fato, X e Y são perpendiculares se, e
somente se, ∠(X, Y ) = π/2. Como caso particular disto, note que dado X = (x1 , x2 ), o vetor
Y = (−x2 , x1 ) é perpendicular a X. O vetor Y é obtido de X por uma rotação em torno de O
no sentido anti-horário. Como exercı́cio, o leitor deve esboçar X e Y , para se convencer deste
fato.
Continuando com a nossa discussão geomé-
trica construiremos, agora, o que chamamos de Y
projeção ortogonal de um vetor na direção de ou- AKA
tro não-nulo dado. Sejam, então, X 6= O e Y  AY − PX Y 
*X
como na figura 8, onde uX = X/ kXk é o vetor 

A
A 
unitário na direção de X, θ = ∠(X, Y ) e PX Y é ppppppppθ 
 *P Y
A
X
p

o vetor obtido pela projeção ortogonal de Y sobre  p *
s uX A
X. Assim PX Y = auX , onde O a

A
X ·Y
a = kY k cos θ = uX · Y = . Figura 8: Projeção de Y sobre X
kXk
X ·Y
Logo, PX Y = X. Da construção de PX Y decorre facilmente que o vetor Y − PX Y é
kXk2
ortogonal a X, o que pode ser verificado, também, analiticamente:

X ·Y
X · (Y − PX Y ) = X · (Y − X) = X · Y − X · Y = 0.
kXk2
Vetores e Funções Vetoriais 11

É conveniente notar aqui que a expressão que define PX Y pode muito bem ser usada para
o espaço Rn , visto que ela não contém nenhum apelo geométrico explı́cito. Isto será parte do
conteúdo da próxima subseção.

1.2.10
Exemplo Considere, em R2 , o triângulo 4ABC, onde
y
A = (1, 1), B = (3, 2) e C = (0, 4). Os veto- 6
res X = C − B e Y = A − B aparecem na figura 9 localiza- 4 sC
dos em B. Temos que X = (−3, 2) e Y = (−2, −1). Assim, BQ
k
QX
B Q P Y
X · Y = 4, kXk2 = 13 e B Q X
2 r B hBC
Q
k B
s
Q
4 4 B

PX Y = X = (−3, 2). 1 r B
s

 Y
13 13 A
s r r -
Agora fica fácil calcular a altura relativa ao lado BC, hBC , O 1 3 x
do triângulo 4ABC. De fato, temos
√ Figura 9
14 21 13
hBC = kY − PX Y k = (− 13 , − 13 ) = 7 13 .

1.2.11
A Desigualdade de Cauchy-Schwarz

Inicialmente, nos inspiramos nas noções geométricas que usamos há pouco, para definir
ortogonalidade entre n-uplas e construir a projeção ortogonal de uma n-upla sobre outra.

1.2.12
Definição Dados X, Y ∈ Rn , diremos que X é ortogonal (perpendicular) a Y se X · Y = 0.

1.2.13
Definição Um subconjunto {v1 , v2 , . . . , vk } ⊂ Rn é dito ortogonal se vi · vj = 0, para
1 ≤ i, j ≤ k, i 6= j. {v1 , v2 , . . . , vk } é ortonormal se é ortogonal e seus elementos
são vetores unitários.

1.2.14
Exemplo Seja {e1 , e2 , . . . , en } a base canônica do espaço Rn (veja definição 1.1.12). É claro
que ke1 k = ke2 k = · · · = ken k = 1. Além disto, dados i, j ∈ {1, 2, . . . , n}, i 6= j,
temos que ei · ej = 0. Logo, a base canônica é uma base ortonormal do espaço Rn .

1.2.15
Definição Dados dois vetores X, Y ∈ Rn , X 6= O, o vetor
X ·Y
PX Y = X
kXk2
12 Produto Interno e Norma

é chamado projeção de Y sobre X.

1.2.16
Proposição Sejam X, Y ∈ Rn com X 6= O. Então, Y − PX Y é perpendicular a X.
Portanto, é também perpendicular a PX Y .
X ·Y pppppppppppppp
Demonstração: X · (Y − PX Y ) = X · (Y − 2 X) = X · Y − X · Y = 0. pppppppp
kXk

Agora podemos estender o teorema de Pitágoras para o Rn .

1.2.17 [Pitágoras]
Proposição Sejam X, Y ∈ Rn com X 6= O. Então, X é perpendicular a Y se, e
2 2 2
somente se, kX + Y k = kXk + kY k .
Demonstração: Resulta imediatamente de kX + Y k2 = kXk2 + kY k2 + 2X · Y , como
indica a proposição 1.2.6, item (iv). pppppppppppppppppppppp

Enfim a desigualdade de Cauchy-Schwarz, já obtida via argumento geométricos para os


espaços R2 e R3 .

1.2.18 [Cauchy-Schwarz]
Teorema Sejam X, Y ∈ Rn . Então, |X · Y | ≤ kXk kY k, e a igual-
dade é atingida se, e somente se, X e Y são linearmente
dependentes.
Demonstração: Inicialmente notamos que se X = O, a desigualdade é facilmente
verificada. Portanto, podemos supor X 6= O. Seja PX Y a projeção ortogonal de Y sobre X.
Segue-se da proposição 1.2.16 que Y − PX Y é perpendicular a PX Y . Usando a proposição 1.2.17,
obtemos que

kY k2 = k(Y − PX Y ) + PX Y k2 = k(Y − PX Y )k2 + kPX Y k2 ≥ kPX Y k2 , (¶1 )


X ·Y
e a igualdade ocorre se, e somente se, Y = PX Y = X. Mas
kXk2

X · Y 2 (X · Y )2

2
kPX Y k =
kXk2 X = kXk2 ,

o que combinado com a desigualdade (¶1 ) dá (X · Y )2 ≤ kXk2 kY k2 , como querı́amos. pppppppppppppppppppppp

Como corolário da desigualdade de Cauchy-Schwarz, obtemos as propriedades da norma


que faltavam ser apresentadas: as desigualdades triangulares.

1.2.19
Corolário Se X, Y ∈ Rn e a ∈ R, então
(i) kXk ≥ 0, e kXk = 0 se, e somente se, X = O;
Vetores e Funções Vetoriais 13

(ii) kaXk = |a| kXk;


(iii) [Desigualdade triangular] kX + Y k ≤ kXk + kY k;
(iv) [Desigualdade triangular] | kXk − kY k | ≤ kX − Y k.
Demonstração: Note que (i) e (ii) aparecem na proposição 1.2.6. Daremos uma prova
para (iii) e (iv). Temos que

kX + Y k2 = kXk2 + 2X · Y + kY k2
≤ kXk2 + 2|X · Y | + kY k2
≤ kXk2 + 2 kXk kY k + kY k2 = (kXk + kY k)2 ,

o que implica (iii). A segunda desigualdade triangular resulta da primeira. De fato,


kXk = k(X − Y ) + Y k ≤ kX − Y k + kY k .
Logo,
kXk − kY k ≤ kX − Y k . (¶2 )
Trocando X por Y , vem que
kY k − kXk ≤ kY − Xk = kX − Y k . (¶3 )
Agora, juntando (¶2 ) e (¶3 ), segue-se que
− kX − Y k ≤ kXk − kY k ≤ kX − Y k ,
o que é equivalente a
| kXk − kY k | ≤ kX − Y k ,
e está pronto o corolário. pppppppppppppppppppp

Neste ponto, tomamos duas n-uplas não-nulas X e Y . Da desigualdade de Cauchy-


Schwarz, obtemos que
X ·Y
−1 ≤ ≤ 1.
kXk kY k
Logo, existe um único número real θ ∈ [0, π] tal que
X ·Y
cos θ = .
kXk kY k
Posto isto, temos a seguinte definição.

1.2.20
Definição Dadas as n-uplas não-nulas X e Y , o número real
X ·Y
∠(X, Y ) = arccos .
kXk kY k
é chamado ângulo entre X e Y .
14 Produto Interno e Norma

1.2.21 √
Exemplo Sejam X = (1, 2, 1, 0) e Y = (1, 1, 3, 1) dois elementos do R4 . Então,
√ kXk = 6,
√ 6 2 π
kY k = 2 3 e X · Y = 6. Logo, ∠(X, Y ) = arccos √ = arccos = .
2 18 2 4

Observação Seja V um espaço vetorial qualquer sobre R, de dimensão finita ou não. Um


produto interno em V é definido como sendo uma forma bilinear simétrica e
positiva definida, que indicamos por h , i. Isto significa que se X, Y, Z ∈ V e a ∈ R, então
devem valer:

(i) hX, Xi ≥ 0, e hX, Xi = 0 se, e somente se, X é o vetor nulo de V;


(ii) hX, Y i = hY, Xi;
(iii) hX, Y + Zi = hX, Y i + hX, Zi;
(iv) ahX, Y i = haX, Y i = hX, aY i.

Note que o produto escalar · que definimos para o Rn satisfaz estas propriedades, como indica a
proposição 1.2.2. O que queremos chamar a atenção aqui é que todo o conteúdo desta subseção
poderia ser aplicado para o espaço V, com apenas uma mudança, a saber: a troca do produto
escalar · por h , i. Em particular, terı́amos a desigualdade de Cauchy-Schwarz:

|hX, Y i| ≤ kXk kY k,
p
onde, é claro, kXk = hX, Xi. Esta norma também satisfaz as propriedades do corolário 1.2.19.

Para finalizar esta subseção, consideraremos em Rn a distância induzida por sua norma.

1.2.22
Definição A distância entre as n-uplas X e Y , indicada por d(X, Y ), é o número real
p
d(X, Y ) = kY − Xk = (y1 − x1 )2 + (y2 − x2 )2 + · · · + (yn − xn )2 .

(A figura 7 sugere, também, esta definição.)

1.2.23
Exemplo Se X = (1, 2, 3, −1, 2), Y = (1, 1, 2, 0, 1), então d(X, Y ) = 2.

1.2.24
Proposição Sejam X, Y, Z ∈ Rn . A distância tem as seguintes propriedades.
(i) d(X, Y ) ≥ 0, e d(X, Y ) = 0 se, e somente se, X = Y ;
(ii) d(X, Y ) = d(Y, X);
Vetores e Funções Vetoriais 15

(iii) d(X, Z) ≤ d(X, Y ) + d(Y, Z).


Demonstração: Para (ii) basta observar que kY − Xk = kX − Y k. Vejamos (iii).

d(X, Z) = kZ − Xk
= k(Z − Y ) + (Y − X)k
≤ kZ − Y k + kY − Xk
≤ d(X, Y ) + d(Y, Z),

onde a desigualdade obtida vem do corolário 1.2.19, item (iii). pppppppppppppppppppppp

1.3
Retas e Planos

Como vimos fazendo até aqui, para definirmos reta e plano no Rn , usaremos alguns argu-
mentos geométricos no espaço euclidiano R2 .
l = P + [V ]
A figura 10 ao lado mostra a dupla P , os 
vetores V 6= O e N (perpendicular a V ) e a reta y 

l que passa por P e é paralela a V . Se X é um 6 s
 
X − P*X
ponto qualquer de l, então o vetor X − P deve ser
s [V ]

um múltiplo de V , isto é, existe t ∈ R tal que  P 
 
 
X − P = tV, N AK 

A *V
ou s
A -
X = P + tV, O  x

equação que descreve os pontos de l, e motiva a
Figura 10: Reta passando por P
seguinte definição.
e paralela a V

1.3.1
Definição Dados P, V ∈ Rn , V 6= O, o subconjunto l = P + [V ], onde [V ] indica o
subespaço gerado por V , é chamado reta que passa por P e é paralela ao vetor V .
Assim,
l = {X ∈ Rn ; X = P + tV, t ∈ R}.
A equação X = P + tV é a equação paramétrica de l.

1.3.2
Exemplo Dados P, Q ∈ Rn , P 6= Q, a reta que passa por P (ou Q) e é paralela ao vetor
Q − P é a reta lP Q = P + [Q − P ]. Para t = 1, obtemos X = P + t(Q − P ) = Q.
16 Retas e Planos

Logo, Q ∈ l, o que implica que l é a reta que passa por P e Q. Deixando t percorrer o intervalo
fechado [0, 1], obtemos o subconjunto [P, Q] ⊂ lP Q , o qual
chamaremos de segmento de reta ligando P a Q. Assim,

[P, Q] = {X = P + t(Q − P ); 0 ≤ t ≤ 1}. s


M  Q
s

Para t = 1/2, obtemos P s

1 P +Q Figura 11: Segmento [P, Q]


M = P + (Q − P ) = ∈ [P, Q],
2 2

o ponto médio de [P, Q]. Observe que d(M, P ) = d(M, Q) = kM − P k = kM − Qk = d(P, Q)/2.

1.3.3
Exemplo Tomemos, em R2 , P = (x0 , y0 ) e V = (v1 , v2 ) 6= (0, 0). Se
X = (x, y) ∈ l = P + [V ] = {X = (x, y) = (x0 , y0 ) + t(v1 , v2 ), t ∈ R}

é um ponto qualquer de l, então x = x0 + tv1 e y = y0 + tv2 , t ∈ R. Donde

v2 x = v2 x0 + tv2 v1 e v1 y = v1 y0 + tv1 v2

e, portanto,
ax + by = c,
onde a = −v2 , b = v1 e c = ax0 + by0 . Esta é a equação cartesiana de l, forma usual nos textos
elementares de Geometria Analı́tica, e que pode ser reescrita como

(X − P ) · N = 0,

onde N = (a, b) = (−v2 , v1 ) é perpendicular a V e, portanto, a l (veja o exemplo 1.2.9).

Observação Uma reta l = P + [V ] não determina unicamente P e V . De fato, se Q ∈ l é


um ponto qualquer de l e W = λV , λ 6= 0, então l = Q + [W ].

1.3.4
Definição Duas retas no Rn , l1 = P + [V ] e l2 = Q + [W ], são ditas paralelas se V e W
são linearmente dependentes.

1.3.5
Exemplo Sejam l1 = P + [V ] e l2 = Q + [W ] duas retas no R2 que não são paralelas.
Logo, como nossa intuição espera, l1 e l2 devem se tocar num único ponto (o
que pode não ocorrer em dimensões maiores que 2, como mostra o exemplo 1.3.6). Com efeito,
{V, W } é uma base do R2 (por quê?) e, portanto, devem existir únicos t1 , t2 ∈ R tais que
Q − P = t1 V + t2 W . Donde, Q − t2 W = P + t1 V . Mas P + t1 V ∈ l1 e Q − t2 W ∈ l2 . Logo, l1
e l2 se interceptam em R = Q − t2 W = P + t1 V .
Vetores e Funções Vetoriais 17

1.3.6
Exemplo Sejam l1 = P + [V ] e l2 = Q + [W ], onde P = (1, 0, 0), Q = (0, 1, 0), V = (1, 1, 1)
e W = (1, 1, 0). Os vetores V e W são linearmente independentes, o que resulta
de uma simples observação de suas terceiras coordenadas. Assim, l1 e l2 não são paralelas.
Entretanto, ao contrário do que ocorre no plano (exemplo 1.3.5), l1 e l2 não se interceptam. De
fato, se R é um ponto onde estas retas se interceptam, então

R = P + t1 V = (1 + t1 , t1 , t1 ) e R = Q + t2 W = (t2 , 1 + t2 , 0),

para alguns t1 , t2 ∈ R. Isto implica que t2 = 1 = −1, um absurdo. Portanto, devemos mesmo
ter l1 ∩ l2 = ∅.

Nosso objetivo agora é construir planos no Rn . Começaremos trabalhando em R3 .


Sejam V e W dois vetores linearmente independentes em R3 , localizados em P , como
mostra a figura 12.
q
z
qqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q
sV qqqqq q qqq qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
q q q q q q q qq q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq π = P + [{V, W }]
6 
q q q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
V qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq@
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq

*
qqqqqqqqqqqq
*
P
sX q
qqqqqqqqqqqqqqqqX q
qqqqqqqqqqX q
qqqqqqqqqqqqqqqqqq− qqqqqqqqqqqqqqqqP qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
@qqX qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq@ q q q q q q q q
qqqqqqqqqqqqX q q q qX q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
@qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX qqqqqqqqqqqqX qqqqqqqqqqqqqqqsX qqq qqq qq q q q qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
Rqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq- qq qq q qq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqyqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
z
@
Os W @ q q
q q q q q q q q q q qq q q q qq qq q q qq qq qq q
q q qq q qq qq qq
R q q q q q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
@
tW @
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
@qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
@qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
x
@qqqqqqqq

Figura 12: Plano que passa por P e é paralelo a V e W

Seja π = P + [{V, W }] o plano que passa por P e é paralelo aos vetores V e W . Dado X ∈ π, o
vetor X − P está no subespaço gerado pelos vetores V e W . Logo, existem escalares s e t tais
que X − P = sV + tW , donde X = P + sV + tW .

1.3.7
Definição Dados P, V, W ∈ Rn com {V, W } linearmente independente, o subconjunto
π = P + [{V, W }], onde [{V, W }] é o subespaço gerado por {V, W }, é chamado
plano que passa por P e é paralelo aos vetores V e W . Em outras palavras,

π = {X ∈ Rn ; X = P + sV + tW, s, t ∈ R}.

A equação X = P + sV + tW é a equação paramétrica de π.

1.3.8
Exemplo Sejam P, Q, R ∈ Rn três pontos tais que o triângulo 4P QR seja não-degenerado,
isto é, os vetores V = Q − P e W = R − P são linearmente independentes. Então,
o plano

π = P + [{V, W }] = {X ∈ Rn ; X = P + s(Q − P ) + t(R − P ), s, t ∈ R}


18 Retas e Planos

contém os pontos Q e R. Para ver isto, ponha s = 1 e t = 0, para obter Q, e s = 0 e t = 1, para


encontrar R. Este é o plano que passa pelos pontos P, Q, R, que indicaremos por πP QR . Como
caso particular, tomemos, em R3 , os pontos P = (0, 0, 2), Q = (4, 1, 0) e R = (1, 1, 1). Então,
V = (4, 1, −2) e W = (1, 1, −1), e πP QR fica
πP QR = {(x, y, z) = (0, 0, 2) + s(4, 1, −2) + t(1, 1, −1), s, t ∈ R}
= {(x, y, z) = (4s + t, s + t, 2 − 2s − t), s, t ∈ R},
Eliminando s e t na equação paramétrica obtida, obtemos que
πP QR = {(x, y, z); x + 2y + 3z = 6},
que é a forma cartesiana de πP QR . Note que os coeficientes desta última equação, a saber, 1,
2 e 3, dão origem ao vetor N = (1, 2, 3) que, como é fácil de ver, é perpendicular aos vetores
V e W . Portanto, N é também perpendicular a πP QR . A seguinte proposição generaliza esta
situação.

1.3.9
Proposição Seja π = P + [{V, W }] um plano do R3 . Então existe N = (a, b, c), não-nulo,
perpendicular a V e W (e portanto perpendicular a π) tal que
π = {X ∈ R3 ; (X − P ) · N = 0} = {(x, y, z); ax + by + cz = d},
onde d = N · P .
Demonstração: Sejam P = (p1 , p2 , p3 ), V = (v1 , v2 , v3 ) e W = (w1 , w2 , w3 ). Assim,
π = {(x, y, z) = (p1 + sv1 + tw1 , p2 + sv2 + tw2 , p3 + sv3 + tw3 ), s, t ∈ R}. (¶4 )
Como V e W são linearmente independentes, a matriz
 
v1 w 1
v2 w2 
v3 w 3
tem posto 2. Resulta daı́, que pelo menos uma das matrizes
     
v1 w1 v1 w 1 v2 w2
, e
v2 w2 v3 w 3 v3 w3
tem determinante não-nulo. Logo, podemos supor, sem perda de generalidade, que a primeira
destas matrizes tem inversa, a qual é dada por
 −1  
v1 w1 1 w2 −w1
= .
v2 w2 v1 w2 − v2 w1 −v2 v1
Seja X = (x, y, z) ∈ π um ponto qualquer. De (¶4 ) vem que
! ! !
x − p1 v1 w1 s
=
y − p2 v2 w2 t
!
s
z − p3 = (v3 w3 ) .
t
Vetores e Funções Vetoriais 19

Logo,
 −1     
v1 w 1 x − p1 1 w2 −w1 x − p1
z − p3 = (v3 w3 ) = (v3 w3 ) .
v2 w2 y − p2 v1 w2 − v2 w1 −v2 v1 y − p2
Donde,

(v2 w3 − v3 w2 )(x − p1 ) + (v3 w1 − v1 w3 )(y − p2 ) + (v1 w2 − v2 w1 )(z − p3 ) = 0,

ou (X − P ) · N = 0, onde

N = (v2 w3 − v3 w2 , v3 w1 − v1 w3 , v1 w2 − v2 w1 ).

A equação (X − P ) · N = 0 implica, em particular, que N é perpendicular aos vetores V e W .


De fato, tomando X = P + V ∈ π, temos que (X − P ) · N = V · N = 0. Da mesma forma,
vemos que W · N = 0. pppppppppppppppppppppp

A equação (X −P )·N = 0, obtida para planos no R3 , serve, como vimos no exemplo 1.3.3,
também para retas em R2 . Isto sugere a seguinte definição.

1.3.10
Definição Sejam P, N ∈ Rn , onde N é um vetor não-nulo. O subconjunto
H = {X ∈ Rn ; (X − P ) · N = 0}

é chamado hiperplano que passa por P e é perpendicular a N .

Observação Os hiperplanos de R2 são retas; os do R3 são os planos. Por analogia a estes


casos é de se esperar que a “dimensão” destes objetos dependa do ambiente no
qual eles habitam. Um hiperplano H ⊂ Rn deve ter dimensão n − 1.

1.3.11
Exemplo Seja H = {X = (x1 , x2 , x3 , x4 ) ∈ R4 ; x1 + x2 − 2x3 − x4 = 1}. Temos que H é o
hiperplano do R4 que é perpendicular a N = (1, 1, −2, −1) e passa, por exemplo,
por P = (0, 0, 0, −1). Agora observe que X ∈ H se, e somente se,

X = (x1 , x2 , x3 , x1 + x2 − 2x3 − 1) = P + x1 (1, 0, 0, 1) + x2 (0, 1, 0, 1) + x3 (0, 0, 1, −2),

o que mostra que os pontos de H são descritos por uma equação paramétrica a três parâmetros.
Isto basta para sentir que a dimensão de H é 3.

1.3.12
Produto Vetorial
Devido ao seu valor geométrico, o vetor N construı́do na proposição 1.3.9 merece destaque
especial. Nesta subseção colocaremos as propriedades básicas deste vetor.
20 Retas e Planos

1.3.13
Definição Sejam X = (x1 , x2 , x3 ) e Y = (y1 , y2 , y3 ) duas triplas em R3 . O produto vetorial
de X por Y , denotado por X × Y (ou X ∧ Y ), é definido por

X × Y = (x2 y3 − x3 y2 , x3 y1 − x1 y3 , x1 y2 − x2 y1 ),

que pode ser facilmente lembrado expandindo o determinante abaixo ao longo da primeira linha:

e1 e2 e3

X × Y = x1 x2 x3 = (x2 y3 − x3 y2 )e1 + (x3 y1 − x1 y3 )e2 + (x1 y2 − x2 y1 )e3 ,


y1 y2 y3

onde {e1 , e2 , e3 } é a base canônica do R3 .

1.3.14
Exemplo Sejam X = (1, 1, 2) e Y = (3, −1, 1). O produto vetorial de X por Y é o vetor

e1 e2 e3

X × Y = 1 1 2 = 3e1 + 5e2 − 4e3 = (3, 5, −4).


3 −1 1

Note que (X × Y ) · X = (3, 5, −4) · (1, 1, 2) = 0. Também (X × Y ) · Y = 0, o que diz que X × Y


é perpendicular a X e a Y . Esta propriedade é verdadeira em geral, como veremos a seguir.

1.3.15
Proposição Sejam X, Y, Z ∈ R3 e a ∈ R. As seguintes propriedades são verificadas.
(i) X × Y = −Y × X;
(ii) a(X × Y ) = (aX) × Y = X × (aY );
(iii) X × (Y + Z) = X × Y + X × Z;
(iv) (X × Y ) · Z = det (X, Y, Z);
(v) kX × Y k2 = kXk2 kY k2 − (X · Y )2 ,

onde (X, Y, Z) indica a matriz cujas colunas (ou linhas) são as triplas X, Y e Z, olhadas como
matrizes 3 × 1. Assim,

x1 y1 z1 x1 x2 x3

det (X, Y, Z) = x2 y2 z2 = y1 y2 y3 .
x3 y3 z3 z1 z2 z3

Demonstração: A demonstração destas propriedades é feita via computação direta,


usando a definição 1.3.13. pppppppppppppppppppppp
Vetores e Funções Vetoriais 21

1.3.16
Corolário Se X, Y ∈ R3 , então
kX × Y k = kXk kY k sen ∠(X, Y ).
(Geometricamente, isto significa que a área do paralelogramo gerado por X e Y é kX × Y k.)
Demonstração: O item (v) da proposição 1.3.15,
rrrrrrrr
junto com a equação da proposição 1.2.8, implica que rrrrrrr rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
*

r r r rr rr r r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
r r r r r r r r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

r r

r r
rrrrrrrrrr r r r r r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
q 
kX × Y k = kXk2 kY k2 − (X · Y )2 r

r r r rr rr r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

Y 
rrArrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

q 
 r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
r
= kXk2 kY k2 (1 − cos2 ∠(X, Y )), rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrArrrrrrrrrrrrrrArrrrrrrrh
rr r r rrrrrrrrrrrrrrkY
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr= rr rr rr rr rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrθrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrkrrrrrrrrrrrrrrrrrsen rrrrrrrrrrrrrrrrr rrrrrrr
r r r r r r r r r r r r r r r r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrArrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
r r r r r r r rrrrrrrrrrrrrrrrrrrr rrrrrrr * X
r r r r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr r r r r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr r r rrrrrrrr r
r
rrrrrrrrArrrrrrrrr r r r r r
rrrrrrrArrrr r r rr r r r
= kXk kY k sen ∠(X, Y ) rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prprrprrprrrprrprrrprrrprrθrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr rrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrpprrr
rrrrrrrrr
s
o que querı́amos. pppppppppppppppppppppp O

Figura 13: Paralelogramo gerado por X e Y

1.3.17
Corolário Os vetores X, Y ∈ R3 são linearmente dependentes se, e somente se, X×Y = O.
Demonstração: X e Y são linearmente dependentes se, e somente se, sen ∠(X, Y ) = 0.
Agora é só aplicar o corolário 1.3.17. pppppppppppppppppppppp

1.3.18
Corolário Se X, Y ∈ R3 , então det (X, Y, X × Y ) = kX × Y k2 . Em particular, se X e Y
são linearmente independentes, então {X, Y, X × Y } é uma base com a mesma
orientação da base canônica.
Demonstração: Usando o item (iv) da proposição 1.3.15, vem que
det (X, Y, X × Y ) = (X × Y ) · (X × Y ) = kX × Y k2 .
Agora, como X e Y são linearmente inde-
pendentes, temos que X × Y 6= O, o que X × Y CO
vem do corolário 1.3.17. Portanto, e
C
C3
2 6 C
det (X, Y, X × Y ) = kX × Y k > 0, C
C  1

e obtemos que (X, Y, X × Y ), que é a ma- C@ CC  Y
s - CsC
triz de passagem da base {X, Y, X × Y } e2 @C
para a base canônica, tem determinante @
@
positivo, isto é, tem a mesma orientação
e1 @
que a base canônica. Geometricamente, R
@
X
isto significa que {X, Y, X × Y } está posi-
cionada no espaço de modo análogo à base Figura 14: Produto Vetorial
{e1 , e2 , e3 }, como mostra a figura 14. pppppppppppppppppppp
22 Retas e Planos

1.3.19
Corolário Se X, Y ∈ R3 são ortonormais (unitários e ortogonais), então {X, Y, X × Y } é
uma base ortonormal do R3 .
Demonstração: Falta verificar que X × Y é também unitário. Isto segue-se facilmente
de (v) da proposição 1.3.15. Com efeito,

kX × Y k2 = kXk2 kY k2 − (X · Y )2 = 1 − 0 = 1. ppppppppppppppppppp

1.3.20 [Duplo Produto Vetorial]


Corolário Se X, Y, Z ∈ R3 , então vale a fórmula do duplo
produto vetorial:

(X × Y ) × Z = (X · Z) Y − (Y · Z) X.
Demonstração: Suponhamos, inicialmente, que X e Y sejam ortonormais. Logo,
{X, Y, X × Y } é uma base ortonormal do R3 , e isto implica que existem (e são únicos) números
reais c1 , c2 e c3 tais que Z = c1 X + c2 Y + c3 X × Y . Na realidade, c1 = X · Z, c2 = Y · Z e
c3 = (X × Y ) · Z. Como (X × Y ) × Z é perpendicular a X × Y , vem que ele deve ser combinação
linear de X e Y . Portanto,
(X × Y ) × Z = aX + bY,
onde a = ((X × Y ) × Z) · X e b = ((X × Y ) × Z) · Y . Mas

((X × Y ) × Z) · X = det (X × Y, Z, X)
= det (X × Y, c1 X + c2 Y + c3 X × Y, X)
= c2 det (X × Y, Y, X)
= −c2 det (X, Y, X × Y )
= −c2 kX × Y k2 = −c2 = −Y · Z.

Analogamente, vemos que ((X × Y ) × Z) · Y = c1 = X · Z. Logo, a = −Y · Z e b = X · Z, o


que prova a fórmula do duplo produto vetorial para o caso onde X e Y são ortonormais. Para
estendê-la para o caso onde X e Y são apenas ortogonais, tomamos os unitários uX e uY . Logo

(uX × uY ) × Z = (uX · Z) uY − (uY · Z) uX ,

ou, equivalentemente,
1 1 1
(X × Y ) × Z = (X · Z) Y − (Y · Z) X,
kXk kY k kXk kY k kXk kY k

que simplificada dá


(X × Y ) × Z = (X · Z) Y − (Y · Z) Y,
e a fórmula do duplo produto vetorial funciona também quando X e Y são ortogonais. Para o
caso geral, onde X e Y são linearmente independentes, recorremos à projeção de Y sobre X,
Vetores e Funções Vetoriais 23

PX Y . Da proposição 1.2.16 vem que PX Y = λX, onde λ = (X · Y )/ kXk2 , e que Y − PX Y é


perpendicular a X. Logo,

(X × (Y − PX Y )) × Z = (X · Z) (Y − PX Y ) − ((Y − PX Y ) · Z) X. (¶5 )

Mas
X × (Y − PX Y ) = X × Y − X × PX Y = X × Y,

visto que PX Y é paralelo a X, e

(X · Z)(Y − PX Y ) − ((Y − PX Y ) · Z)X = (X · Z)Y − (X · Z)PX Y − (Y · Z)X + (PX Y · Z)X

= (X · Z)Y − (Y · Z)X − λ((X · Z)X − (X · Z)X)

= (X · Z)Y − (Y · Z)X.

Assim, (¶5 ) fica:


(X × Y ) × Z = (X · Z) Y − (Y · Z) X.

A fórmula do duplo produto vetorial agora vale sempre que X e Y são linearmente independentes.
O caso onde X e Y são linearmente dependente (Y = kX) é trivial: a fórmula tem ambos os
membros nulos, como pode ser facilmente verificado pelo leitor. ppppppppppppppppppppp

1.3.21
Corolário Sejam T e N dois vetores ortonormais do R3 . Se B = T ×N , então B × T = N
e N × B = T.
Demonstração: A fórmula do duplo produto vetorial dá que

B × T = (T × N ) × T = (T · T )N − (N · T )T = N,

visto que kT k = 1 e T · N = 0. Agora convidamos o leitor a provar que N × B = T . pppppppppppppppppppp

1.3.22
Exemplo Sejam e1 = (1, 0, 0), e2 = (0, 1, 0), e3 = (0, 0, 1). Um cálculo direto mostra que
e1 × e2 = e3 . Logo, e2 × e3 = e1 e e3 × e1 = e2 . Em particular,

(e1 × e2 ) × e2 = e3 × e2 = −e1
e1 × (e2 × e2 ) = e1 × O = O,

o que implica que (e1 × e2 ) × e2 6= e1 × (e2 × e2 ) e mostra que o produto vetorial, em geral, não
é associativo. O próximo corolário mostra quando o produto vetorial é associativo.
24 Retas e Planos

1.3.23
Corolário Dados vetores X, Y e Z em R3 , então X × (Y × Z) = (X × Y ) × Z se, e
somente se, (X · Y ) Z = (Y · Z) X.
Demonstração: Usando o corolário 1.3.20 temos que
X × (Y × Z) = −(Y × Z) × X = −((X · Y ) Z − (X · Z) Y ) = (X · Z) Y − (X · Y ) Z,
que comparado com
(X × Y ) × Z = (X · Z) Y − (Y · Z) X,
mostra que X × (Y × Z) = (X × Y ) × Z se, e somente se, (X · Y ) Z = (Y · Z) X. ppppppppppppppppppppp

1.3.24
Distância de um Ponto a uma Reta
Seja l = P + [V ] uma reta no Rn . Dado
Q ∈ Rn um ponto qualquer, seja Y = Q − P ,
como mostra a figura 15. A projeção de Y sobre Q
s l = P + [V ]
V é dada por AK

AY − PV Y 
A
 *
Y ·V Y =Q−P  V
PV Y = λV, onde λ = . A  0

kV k2 s Q
 A
 *P Y

V
 
Como a figura 15 mostra é bastante razoável se s 
esperar que a distância de Q a l, que indicaremos  P

por d(Q, l), definida como sendo o mı́nimo das Figura 15
distâncias de Q a pontos de l, isto é,

d(Q, l) = min{d(Q, X), X ∈ l},

seja atingida no ponto Q0 ∈ l, a projeção ortogonal de Q sobre l, dado por


(Q − P ) · V
Q0 = P + PV Y = P + λV = P + V.
kV k2
Portanto,

(d(Q, l))2 = kY − PV Y k2
2
(Q − P ) · V
= (Q − P ) − V
kV k2
(Q − P ) · V ((Q − P ) · V )2
= kQ − P k2 − 2(Q − P ) · ( 2 V ) + 4 kV k2
kV k kV k
2 2 2
kQ − P k kV k − ((Q − P ) · V )
= ,
kV k2
o que produz o seguinte resultado.
Vetores e Funções Vetoriais 25

1.3.25
Proposição Seja l = P + [V ] a reta do Rn que passa por P e é paralela a V . Dado Q ∈ Rn
a distância de Q a l é dada por
q
kQ − P k2 kV k2 − ((Q − P ) · V )2
d(Q, l) = .
kV k
Além disto, o ponto Q0 ∈ l onde esta distância é atingida é dado por
(Q − P ) · V
Q0 = P + V.
kV k2

A partir desta proposição obtemos as fórmulas usuais da distância de um ponto a uma


reta, em R3 e R2 , como mostram os corolários 1.3.27 e 1.3.28.

1.3.26
Exemplo Sejam P = (1, 0, −2, 3), Q = (1, 1, , 0, 2) e V = (1, 1, −1, 1), e consideremos a
reta l = P + [V ]. Temos que kQ − P k2 = 6, (Q − P ) · V = −2 e kV k = 2. Logo,
usando a proposição 1.3.25, a distância de Q a l é
q
kQ − P k2 kV k2 − ((Q − P ) · V )2 √
d(Q, l) = = 5.
kV k
O ponto Q0 ∈ l onde d(Q, l) é atingida é dado por
(Q − P ) · V 1 1
Q0 = P + 2 V = (1, 0, −2, 3) − (1, 1, −1, 1) = (1, −1, −3, 5).
kV k 2 2

Sugerimos ao leitor o cálculo de d(Q, Q0 ) que, claro, deve produzir 5.

1.3.27
Corolário Seja l = P + [V ] a reta do R3 que passa por P e é paralela a V . Dado Q ∈ R3
a distância de Q a l é dada por
k(Q − P ) × V k
d(Q, l) = .
kV k

Demonstração: Resulta de (v), proposição 1.3.15, junto com a proposição 1.3.25. pppppppppppppppppppp

1.3.28
Corolário Seja l = P + [V ] a reta do R2 que passa por P = (x1 , x2 ) e é paralela a
V = (v1 , v2 ). Dado Q = (x0 , y0 ) a distância de Q a l é dada por
|ax0 + by0 − c|
d(Q, l) = √ ,
a2 + b 2
26 Retas e Planos

onde N = (a, b) = (−v2 , v1 ) é normal a l e c = ax1 + bx2 . (Neste caso, a equação cartesiana de
l é: ax + by = c.)
Demonstração: Visando utilizar o corolário 1.3.27, mergulharemos R2 em R3 , isto é,
olharemos uma dupla X = (x1 , x2 ), como sendo a tripla X = (x1 , x2 , 0). Assim,

k(x0 − x1 , y0 − y1 , 0) × (v1 , v2 , 0)k


d(Q, l) = ,
k(v1 , v2 , 0)k
que expressa em termos de a = −v2 , b = v1 e c = ax1 + bx2 fica:
k(0, 0, −ax0 − by0 + c)k |ax0 + by0 − c| pppppppppppp
d(Q, l) = = √ . ppppppppp p
k(b, −a, 0)k a2 + b 2

1.3.29
Distância de um Ponto a um Hiperplano
Seja π o plano do R3 que é perpendicular a N e passa por P , conforme mostra a figura 16.
Dado Q ∈ R3 , a distância de Q a π, d(Q, π), é definida como sendo o mı́nimo das distâncias de
Q a pontos de π, isto é,
d(Q, π) = min{d(Q, X); X ∈ π}.
Seja l a reta que passa por Q e é paralela a N . Temos que l intercepta (ortogonalmente) π no
ponto
(Q − P ) · N
Q0 = Q − PN (Q − P ) = Q − N,
kN k2
onde PN (Q − P ) é a projeção de Q − P sobre N .

Fixemos X ∈ π um ponto arbitrário. Como Q − Q0 é perpendicular a π, ele é perpendicular a


X − Q0 . Usando o teorema de Pitágoras (veja proposição 1.2.17), vem que

kX − Qk2 = kX − Q − Q0 + Q0 k2 Q
r r r r

r rr rr rrrrrrrrrCrrrrrrrrrr
r
rr rrr r rCr rr r
= kX − Q0 k2 + kQ − Q0 k2
r rrrrrrrrrrrrrr r rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrCrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrr
r r r rr r r
r rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrCrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
r r r
N r r r r r r r r r r
rrrr− rr rrrrrrrrP

≥ kQ − Q0 k2 Q r r r r rr
r r r r r r r r r r r r r
rrr rrr rrr rr r rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrd(Q,
6 
r r r r rr rrrrrrrrrrrrrrrrrrrπ) rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrCrrrrd(Q, rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrX) rrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrCrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
r r r 
r r r r r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
e, portanto, obtemos rrrrrrrrrrrrrrr

rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrCrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
r rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrPrrrrrrsrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrCrrrsX rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

rr rrrrrrrrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrπ rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
@rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrX r r
@
kQ − Q0 k ≤ kX − Qk , ∀X ∈ π. r r r r r r r r r r r r
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrX r r r r r
rrrrrrrrrrrrrX r
rrrrrrrrrrrrrrrX rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr0rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
r r r
r
r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r
@ rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrX r r r r r rr r r r r r r r r r
r r rrrrrr rrr rrrrrrrrrrr rrrrrrrrrrrr rrrrrrr
r r r
rrr rsrr Q
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
0 rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
@rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
Segue-se, então, que d(Q, π) é atingida em Q e @
@rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
@rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

(Q − P ) · N |(Q − P ) · N |
d(Q, π) = kQ − Q0 k =

N @rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
= .
kN k2 kN k rrrrr

Isto prova a seguinte proposição. Figura 16


Vetores e Funções Vetoriais 27

1.3.30
Proposição Seja H o hiperplano do Rn que é perpendicular a N e passa por P . Dado
Q ∈ Rn , a distância de Q a H é dada por

|(Q − P ) · N |
d(Q, H) = .
kN k

Mais ainda, d(Q, H) é atingida no ponto de H

(Q − P ) · N
Q0 = Q − N.
kN k2

Em particular, para n = 3, Q = (x0 , y0 , z0 ), N = (a, b, c) e d = N · P , a distância de Q ao plano


H fica:
|ax0 + by0 + cz0 − d|
d(Q, H) = √ .
a2 + b2 + c2
1.3.31
Exemplo A distância de Q = (3, −2, 1) ao plano π de equação cartesiana 2x − 2y − z = −9
vale
|(3, −2, 1) · (2, −2, −1) + 9|
d(Q, π) = = 6.
3
Agora se X = (x, y, z) é um ponto qualquer de π, então

X = (x, y, 2x − 2y + 9) = (0, 0, 9) + x(1, 0, 2) + y(0, 1, −2) = P + xV + yW,

onde P = (0, 0, 9), V = (1, 0, 2) e W = (0, 1, −2). Logo, π = P + [{V, W }], e obtemos uma
representação paramétrica para π.

1.3.32
Exemplo Sejam l1 = P + [V ] e l2 = Q + [W ] duas retas em Rn . Se V e W são linearmente
independentes, há duas possibilidades para a interseção l1 ∩ l2 , a saber:

(i) l1 ∩ l2 é um ponto, digamos l1 ∩ l2 = {R};


(ii) l1 ∩ l2 é vazio.
No primeiro caso, o plano π = R + [{V, W }] contém l1 e l2 , e dizemos que l1 e l2 são retas
coplanares. Já em (ii), não existe um plano que contenha ambas as retas, e diremos que l1 e l2
são retas reversas. O leitor deve observar que as retas do exemplo 1.3.6 são retas reversas em
R3 . Suponhamos, agora, que os vetores V e W sejam linearmente dependentes. Obtemos, outra
vez, duas alternativas:

(iii) l1 e l2 são coincidentes, isto é, l1 = l2 ;


(iv) l1 e l2 são paralelas e l1 ∩ l2 = ∅.

Em (iv), l1 e l2 são coplanares, visto que o plano π = P + [{V, W }] = Q + [{V, W }], onde
W = Q − P , as contém.
28 Funções Vetoriais

1.4
Funções Vetoriais

Nesta seção, estudaremos as noções básicas relacionadas com aplicações entre espaços
euclidianos de dimensões quaisquer.

1.4.1
Definição Uma função vetorial é uma função com domı́nio D ⊂ Rn e contradomı́nio Rm ,
isto é, uma função do tipo

f : D ⊂ Rn −− − Rm
−→

X −−−−−→ f (X) = (f1 (X), f2 (X), . . . , fm (X)),

onde X = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ D. Quando m = 1, diremos que f é uma função real. Já quando
n = 1, f é dita uma função vetorial de uma variável real. A imagem de f , denotada por Im(f ),
ou por f (D), é o conjunto

Im(f ) = f (D) = {Y ∈ Rm ; Y = f (X), X ∈ D}.

Dizemos, também, que f parametriza o conjunto Im(f ), ou que Im(f ) é o conjunto parametri-
zado por f .

1.4.2
Definição Dada uma função vetorial
f : D ⊂ Rn −− − Rm
−→

X −−−−−→ f (X) = (f1 (X), f2 (X), . . . , fm (X)),

as m funções reais
f1 : D ⊂ Rn −− −→

− R
X −−−−−→f1 (X)
f2 : D ⊂ Rn −− −→

− R
X −−−−−→f2 (X)
..
.
fm : D ⊂ Rn −−
−→
−− R
X −−−−−→fm (X)
são as funções coordenadas de f .

1.4.3
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por f (x, y) = x2 + y2 . Temos que f é uma função real
(de duas variáveis) cuja imagem coincide com o intervalo [0, ∞).
Vetores e Funções Vetoriais 29

1.4.4
Exemplo Seja f (t) = (x0 + a cos t, y0 + b sen t), t ∈ [0, 2π], onde a > 0, b > 0, x0 e y0 são
números reais fixados. A imagem de f ,

Im(f ) = {(x, y) ∈ R2 ; x = x0 + a cos t, y = y0 + b sen t, t ∈ R}, (¶6 )

coincide com a elipse de semi-eixos a e b, centrada em C = (x0 , y0 ), que denotaremos por


E(C, a, b). De fato, se x e y são como em (¶6 ), então

(x − x0 )2 (y − y0 )2
+ = cos2 t + sen2 t = 1.
a2 b2

y
6
Pr1
P2 f (t)
f2 (t) r r r
b *

y0 q r
 t 

C a E(C, a, b)

f
r -
0 t 2π s q r -
O x0 f1 (t) x

(x − x0 )2 (y − y0 )2
Figura 17: Elipse 2 + =1
a b2

Assim f parametriza E(C, a, b). A figura 17 mostra, em particular, a construção geométrica


da função f : pelo ponto C = (x0 , y0 ) traçamos a semi-reta que faz o ângulo t com o eixo-x.
Esta semi-reta intercepta os cı́rculos, centrados em C e de raios a e b, nos pontos P1 e P2 ,
respectivamente. Agora, por P1 traçamos uma
reta paralela ao eixo-y, e por P2 traçamos uma
reta paralela ao eixo-x. A interseção destas retas y
ppppppppppppp ppppppppppppppppppppppppppppppppppp
pp pppppp
é exatamente o ponto da elipse 6
fp (t)
ppp ppppprp
f2 (t) r pp ppp ppp
(x − x0 ) 2
(y − y0 ) 2 ppp p p  pppppp
+ =1 pp pp
pp pp
pppp ppp t pp
2
a b2 p ppp
y0 q pp r p
pp a p
p pp S 1 (C, a)
que indicamos por f (t). Em particular, se b = a, ppp C
pp
ppp p
pppp ppp
obtemos que f parametriza o cı́rculo de centro ppppp p p p pp p
ppppppp pp
C = (x0 , y0 ) e raio a, denotado por S 1 (C, a). Ob- ppppppppppp ppppp pp
pppppppppppppppppppppppppppppp pppppppp
serve que, neste caso, as funções coordenadas de s q r -
f ficam assim: O x0 f1 (t) x

f1 (t) = x(t) = x0 + a cos t Figura 18: (x − x0 )2 + (y − y0 )2 = a2


f2 (t) = y(t) = y0 + a sen t,

onde t ∈ [0, 2π].


30 Funções Vetoriais

1.4.5
Exemplo A função vetorial
g : R2 −− − R3
−→

(u, v) −−−−−→ g(u, v) = (1 + u, 2 + v, u + v)
tem funções coordenadas
g1 (u, v) = x(u, v) = 1 + u
g2 (u, v) = y(u, v) = 2 + v
g3 (u, v) = z(u, v) = u + v,
(u, v) ∈ R2 , e sua imagem coincide com o plano que passa por (1, 2, 0) e é paralelo aos vetores
(1, 0, 1) e (0, 1, 1).

1.4.6
Conjuntos Associados a Funções Vetoriais

Estudaremos, agora, alguns subconjuntos do espaço euclidiano que desempenham papel


de grande relevância na descrição das funções vetoriais.

1.4.7 [Gráficos]
Definição Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm , f (X) = (f1 (X), f2 (X), . . . , fm (X)), uma função
vetorial. O gráfico de f , indicado por G(f ), é definido por
G(f ) = {(X, Y ) ∈ Rn+m ; Y = f (X), X ∈ D}
= {(x1 , x2 , . . . , xn , f1 (X), f2 (X), . . . , fm (X)); X = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ D}.
Diremos, também, que G(f ) é o conjunto definido explicitamente por f .

Observação Na definição acima, introduzimos uma nova notação, que será útil em outras
situações: dados X = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn e Y = (y1 , y2 , . . . , yn ) ∈ Rm , escre-
vemos (X, Y ) para representar a (n + m)-upla (x1 , x2 , . . . , xn , y1 , y2 , . . . , ym ).
y
6
1.4.8
Exemplo Seja f : [−1, 1] −→ R definida por
f (x) = x2 . Temos que f é uma
função real de uma variável real cuja imagem coin-
cide com o intervalo [0, 1], e cujo gráfico é o sub-
conjunto do R2 dado por
s -
G(f ) = {(x, y); y = x2 , x ∈ [−1, 1]}, −1 O 1 x

que coincide com o arco da parábola y = x2 que


se projeta sobre o intervalo [−1, 1]. Figura 19: Parábola y = x2
Vetores e Funções Vetoriais 31

1.4.9 [Parabolóide de Revolução]


Exemplo Seja f : R2 −→ R, f (x, y) = x2 + y 2 , a qual
já usamos no exemplo 1.4.3. O seu gráfico,
que chamamos parabolóide de revolução (ou rotação), é dado por
G(f ) = {(x, y, z); z = x2 + y 2 }.
Para fazer um esboço deste conjunto usamos o método dos cortes por planos da forma z = c, isto
é, planos paralelos ao plano-xy. Neste caso, quando cortamos G(f ) pelo plano z = 4, obtemos,
neste plano, o cı́rculo de raio 2 e centro (0, 0, 4):
z
{(x, y, z); x2 + y 2 = 4, z = 4}. 6

Mais geralmente, se cortamos G(f ) com √ planos


z = a > 0, obtemos aı́ o cı́rculo de raio a e centro
(0, 0, a). Note que, quando a < 0, a interseção é
vazia, e coincide com a origem, quando a = 0. Isto
sugere que G(f ) é um subconjunto de R3 obtido
pela rotação em torno do eixo-z de alguma curva -
y
plana, por exemplo, do plano-xz. Esta curva é
facilmente obtida, interceptando-se G(f ) com o
plano y = 0, isto é, com o plano-xz, o que produz x

a parábola z = x2 . Como resultado, obtemos a Figura 20: Parabolóide z = x2 + y2


figura 20.

1.4.10 [Sela]
Exemplo A sela ou parabolóide hiperbólico é o gráfico da função f (x, y) = y 2 − x2 ,
(x, y) ∈ R2 . Por não ser um subconjunto obtido por rotações, o seu esboço é
um pouco mais trabalhoso. Começando com cortes por planos z = a ≥ 0, obtemos as hipérboles
{(x, y, z); y 2 − x2 = a, z = a},
que se degeneram no par de retas y = ±x, quando a = 0, como mostra a figura 21-(a).

z z z
6 6 6

- - -
y y y

x
x
x

Figura 21-(a) Figura 21-(b) Figura 21-(c): A sela z = y2 − x2


32 Funções Vetoriais

Procedimento análogo, agora usando planos a ≤ 0, dá a figura 21-(b). Os cortes de G(f ) por
planos y = c produz parábolas z = c2 − y 2 , que o leitor deverá esboçar. Finalmente, obtemos a
sela, como na figura 21-(c).

1.4.11 [Hélice Circular]


Exemplo Consideremos, ago-
ra, a função de uma
z
variável 6

f : R −− − R2
−→

t −−−−−→ f (t) = (a cos t, a sen t),

onde a > 0 é uma constante. O seu gráfico, -


y
G(f ) = {(t, f (t)) = (t, a cos t, a sen t); t ∈ R},
x

é a hélice circular de raio a, cujo eixo coincide com eixo-x,
como mostra a figura 22. Observe que a projeção de
G(f ) no plano-yz é o cı́rculo de raio a. Suas projeções
Figura 22: Hélice Circular
no plano-xy e plano-xz são os gráficos das funções reais
de uma variável real y = a cos x e z = a sen x, respecti-
vamente.

Observação O fato de coincidir com um gráfico impõe restrições à forma de um subconjunto.


Pensando com uma função f : D ⊂ R2 −→ R, vem que

G(f ) = {(x, y, z); z = f (x, y), (x, y) ∈ D}.

Isto significa que para cada (x, y) ∈ D, existe um único ponto em G(f ), a saber (x, y, f (x, y)).
Geometricamente, isto diz que a reta que passa por (x, y, 0) e é perpendicular ao plano-xy
intercepta G(f ) em um único ponto. Por exemplo, a esfera

S 2 (a) = {(x, y, z); x2 + y 2 + z 2 = a2 } ⊂ R3 z


6
não pode ser gráfico de nenhuma função do tipo que es- s
tamos considerando. De fato, há retas perpendiculares
ao plano-xy que interceptam esta esfera em dois pontos. r
Entretanto, parte dela, digamos seu hemisfério superior, s -
é o conjunto definido explicitamente por s y

f : D[a] ⊂ R2 −−−→
−− R
r
x
p
(x, y) −−−−−→ f (x, y) = a2 − x2 − y 2 ,

onde D[a] = {(x, y); x2 + y 2 ≤ a2 } é o disco fechado de Figura 23


raio a. Já o hemisfério inferior é o gráfico de g = −f ,
isto é, g(x, y) = −f (x, y), (x, y) ∈ D[a].
Vetores e Funções Vetoriais 33
v

Observação É muito comum na prática nos referirmos a uma equação Y = f (x1 , x2 , . . . , xn ),


onde o lado direito indica uma m-upla envolvendo os sı́mbolos x1 , x2 , . . ., xn ,
como uma função. O que estamos pensando, na realidade, é na função f : D −→ Rm , onde D é g
o maior subconjunto de Rn , onde tal expressão faz sentido. u

1.4.12
Exemplo A expressão
p
z= 4 − x2 − y 2 log (x2 + y 2 − 1)

define uma função f no anel de R2 dado por

D = {(x, y); 1 < x2 + y 2 ≤ 4}.

De fato, se x2 +y 2 ≤ 1, então não existe


p log (x2 + y 2 − 1),
e se x2 + y 2 > 4 não tem sentido 4 − x2 − y 2 .

1.4.13 [Conjuntos de Nı́vel]


Definição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm uma função vetorial e K
um vetor em Rm fixado. O conjunto de nı́vel K de f
é o subconjunto de D definido por

f −1 (K) = {X ∈ D; f (X) = K}.

Isto é, se f1 , f2 , . . ., fm são as funções coordenadas de f , e K = (k1 , k2 , . . . , km ), então f −1 (K)


é o conjuntos das soluções em D do sistema de m-equações e n-incógnitas:


 f1 (x1 , x2 , . . . , xn ) = k1

 f2 (x1 , x2 , . . . , xn ) = k2

.. .. ..


 . . .

f (x , x , . . . , x ) = k .
m 1 2 n m

Os conjuntos de nı́vel f −1 (K) são, também, denominados conjuntos definidos implicitamente


por f .

Observação f −1 (K) 6= ∅ se, e somente se, K ∈ Im(f ).

1.4.14
Exemplo Os conjuntos de nı́vel f −1 (a), a ∈ R, de z = f (x, y) = x2 + y2 , (x, y) ∈ R2 , são
os seguintes:

(i) f −1 (a) = ∅, se a < 0, pois Im(f ) = [0, +∞);


(ii) f −1 (0) = {(0, 0)};
34 Funções Vetoriais


(iii) f −1 (a) = S 1 ( a) = {(x, y); x2 + y 2 = a}, se a > 0.

Na figura 25, temos o gráfico de f e alguns conjuntos de nı́vel, que podem ser obtidos via
projeção no plano-xy das interseções de G(f ) com planos z = a ≥ 0.
z
6

-
y

x
Figura 25: Parabolóide de Revolução
1.4.15
Exemplo Estudemos agora os conjuntos definidos
y
implicitamente por 6

z = f (x, y) = y 2 − x2 , (x, y) ∈ R2 . k<0

Os conjuntos de nı́vel f −1 (k), k>0 k>0


√ k> 0, são as hipérboles r
k=0
r
√ √
-
equiláteras de semi-eixos k: y − x2 = k. Quando
2
k k
x
k < 0, temos√ as hipérboles, também equiláteras e com
semi-eixos −k, x − y = −k. Já f −1 (0) coincide com
2 2 k<0
o par de retas y = ±x. Estes conjuntos definidos impli-
citamente aparecem quando cortamos a sela por planos
paralelos ao plano-xy, como mostra a figura 21. Figura 26

1.4.16
Exemplo Seja f (x, y, z) = x2 + y2 + z 2 , (x, y, z) ∈ R3 . Os conjuntos de nı́vel desta função
√ são ou o conjunto vazio, ou {(0, 0, 0)}, ou as esferas do R3 centradas na origem e
de raio a: √
S 2 ( a) = {(x, y, z); x2 + y 2 + z 2 = a} = f −1 (a), a > 0. (¶7 )

1.4.17
Exemplo Seja
f : R3 −− − R2
−→

(x, y, z) −−−−−→ f (x, y, z) = (x2 + y 2 + z 2 , x + y + z).

Dada K = (a, b) o conjunto de nı́vel f −1 (K) é o conjunto de soluções do sistema


(
x2 + y 2 + z 2 = a
x + y + z = b.
Vetores e Funções Vetoriais 35


que, claro, não tem soluções, se a < 0. Se a ≥ 0, f −1 (a, b) é a interseção de S 2 ( a) (veja (¶ √7 ))
com o plano πb de equação x+y+z = b. Logo, √ f −1 (a, b) pode ser vazio, se πb está longe de S 2 ( a);
coincidir com um ponto, se πb tangencia S 2 ( a); ou, fi-
nalmente, ser um cı́rculo contido em πb . Por exemplo,
z
os pontos P1 = (1, 0, 0) e P2 = (0, 1, 0) pertencem a 6
f −1 (1, 1). Logo, este conjunto de nı́vel deve coincidir P
s 3
com um cı́rculo no plano x + y + z = 1. Observando
que P3 = (0, 0, 1) também pertence ao cı́rculo f −1 (1, 1),
vemos que o seu centro deve coincidir com o baricentro
do triângulo (equilátero) de vértices P1 , P2 e P3 , que é o s -
s P y
ponto 2

P1
P1 + P 2 + P3
C= = (1/3, 1/3, 1/3).
3 x

Para obter
√ o raio, é só calcular a distância de C a P1 , que
é r = 6/3. Figura 27

Vejamos mais três belos conjuntos definidos implicitamente.

1.4.18
Exemplo Seja f : R3 −→ R definida por f (x, y, z) = x2 + y2 − z 2 . Observe que a imagem
de f coincide com todo R, isto é, f é sobrejetiva. De fato, f (0, 0, z) = −z 2 , o que
mostra que f transforma o eixo-z em (−∞, 0]. Agora é só calcular, por exemplo, f (x, 0, 0) = x2 ,
x ∈ R, para cobrir [0, +∞). Neste exemplo, esbo-
z
çaremos três conjuntos de nı́vel de f , a saber: 6
f −1 (0), f −1 (1) e f −1 (−1). Os demais possuem
a mesma forma que f −1 (1) ou f −1 (−1), como o
leitor pode facilmente verificar. Temos que z=x
f −1 (0) = {(x, y, z); z 2 = x2 + y 2 }, -
y
z = −x
que produz o cone de duas folhas, como mostra a
figura 28-(a) ao lado. A técnica para obtenção x
desta figura é aquela que temos usado: corta-
mos o conjunto com planos z = a, o que produz,
Figura 28-(a): Cone de Duas Folhas
neste plano, o cı́rculo de raio |a| centrado no ponto x2 + y2 − z2 = 0
(0, 0, a). Quando a = 0, obtemos apenas um ponto,
ponto, a origem. Isto mostra que f −1 (0) é de revolução. A curva perfil, a geratriz do conjunto,
é obtida fazendo, por exemplo, a interseção com o plano y = 0, o que dá origem ao par de retas
z = ±x. Donde podemos concluir que, de fato, f −1 (0) é o cone de duas folhas. Para o esboço
dos outros dois nı́veis, a mesma técnica mostra que eles também são de revolução: o conjunto
f −1 (1), mostrado na figura 28-(b), tem como geratriz a hipérbole
H1 = {(x, 0, z); x2 − z 2 = 1}.
A hipérbole
H2 = {(x, 0, z); z 2 − x2 = 1}
36 Funções Vetoriais Especiais

é a geratriz de f −1 (−1), que, por isso, tem duas folhas, como mostramos na figura 28-(c).
z z
6 6

x2 − z 2 = 1

z 2 − x2 = 1 - -
y y

x x

Figura 28-(b): Hiperbolóide de Uma Folha Figura 28-(c): Hiperbolóide de Duas Folhas
x2 + y2 − z2 = 1 x2 + y2 − z2 = −1

1.5
Funções Vetoriais Especiais

Reservamos esta seção para destacar algumas funções vetoriais que são de grande inte-
resse prático, para o Cálculo e para a Geometria. Inicialmente, faremos uma breve exposição
das funções lineares, que, certamente, constituem a pedra fundamental das funções do Cálculo
Diferencial.

1.5.1 [Funções Lineares]


Definição Uma função (ou aplicação, ou transformação) linear é uma
função vetorial do tipo

T : Rn −− − Rm
−→

X −−−−−→ T (X) = (T1 (X), T2 (X), . . . , Tn (X)),

satisfazendo as seguintes propriedades:

(i) T (X + Y ) = T (X) + T (Y ), ∀X, Y ∈ Rn ;

(ii) T (aX) = aT (X), ∀a ∈ R e ∀X ∈ Rn .

1.5.2
Exemplo Consideremos a seguinte função T : R2 −→ R2 dada por T (x, y) = (x + y, y − x).
Vetores e Funções Vetoriais 37

Sejam X = (x1 , x2 ) e Y = (y1 , y2 ). Temos que


T (X + Y ) = T (x1 + y1 , x2 + y2 )
= ((x1 + y1 ) + (x2 + y2 ), (x2 + y2 ) − (x1 + y1 ))
= ((x1 + x2 ) + (y1 + y2 ), (x2 − x1 ) + (y2 − y1 ))
= (x1 + x2 , x2 − x1 ) + (y1 + y2 , y2 − y1 )
= T (X) + T (Y ).
Agora, se a ∈ R, vem que
T (aX) = T (ax1 , ax2 )
= (ax1 + ax2 , ax2 − ax1 )
= a(x1 + x2 , x2 − x1 )
= aT (X).
Logo, T é linear. Um modo eficiente de ver que T é linear, é introduzindo aseguinte
 identificação:
x1
uma dupla X = (x1 , x2 ) passará a ser olhada como a matriz-coluna X = . Isto posto, vem
x2
que     
x1 + x2 1 1 x1
T (X) = T (x1 , x2 ) = = ,
x2 − x1 −1 1 x2
ou T (X) = M (T )X, onde  
1 1
M (T ) = .
−1 1
Agora, usando propriedades da multiplicação de matrizes, segue-se facilmente a linearidade de T .
De fato,

T (X + Y ) = M (T )(X + Y ) = M (T )X + M (T )Y = T (X) + T (Y )
e
T (aX) = M (T )(aX) = aM (T )X = aT (X).

A identificação feita no exemplo anterior pode ser usada com uma k-upla qualquer, o que
facilitará a compreensão das funções lineares definidas em Rn . Dado X = (x1 , x2 , . . . , xk ) ∈ Rk ,
identificaremos, sempre que for preciso, X com a matriz-coluna (vetor-coluna)
 
x1
 x2 
 
X=  .. .

.
xk
Assim sendo, sejam T : Rn −→ Rm uma aplicação linear, e X ∈ Rn . Temos que
       
x1 1 0 0
 x2  0 1 0
       
X = (x1 , x2 , . . . , xn ) = 
 .. 
 = x 1  .. 
  + x 2  .. 
  + · · · + x n
 . .
.
. . . .
xn 0 0 1
38 Funções Vetoriais Especiais

Logo,
     
1 0 0
0 1 0
     
T (X) = x1 T (e1 ) + x2 T (e2 ) + · · · + xn T (en ) = x1 T  .
.
 + x2 T  .  + · · · + xn T  .  .
. . (¶8 )
. . .
0 0 1

Como Im(T ) ⊂ Rm , vem que


     
a11 a12 a1n
 a21   a22   a2n 
     
T (e1 ) =  . , T (e2 ) =  . , . . . , T (en ) =  . 
    
,
 ..   ..   .. 
am1 am2 amn

para alguns números reais aij , 1 ≤ i ≤ m e 1 ≤ j ≤ n, o que posto em (¶8 ) dá que

     
a11 a12 a1n
 a21   a22   a2n 
     
 ..  + x2  ..  + · · · + xn  .. 
T (X) = x1      
 .   .   . 
am1 am2 amn
     
x1 a11 x2 a12 xn a1n
 x1 a21   x2 a22   xn a2n 
     
 ..  +  ..  + · · · +  .. 
=     
 .   .   . 
x1 am1 x2 am2 xn amn
 
a11 x1 + a12 x2 + · · · + a1n xn
 a21 x1 + a22 x2 + · · · + a2n xn 
 
=
 .. 
.

 
am1 x1 + am2 x2 + · · · + amn xn
  
a11 a12 . . . a1n x1
 a21 a22 . . . a2n   x2 
  
=
 .. .. ..   .. .
 
 . . .  . 
am1 am2 . . . amn xn

Isto prova o seguinte teorema.

1.5.3
Teorema Sejam T : Rn −→ Rm uma aplicação linear, e M (T ) a matriz de ordem m × n
cujas colunas são os vetores T (e1 ), T (e2 ), . . ., T (en ), nesta ordem. Temos que
Vetores e Funções Vetoriais 39

(i) T (X) = M (T )X;


(ii) Im(T ) é gerado pelas colunas de M (T );
(iii) posto T = posto M (T ),

onde posto T indica a dimensão de Im(T ), e posto M (T ) indica o posto da matriz M (T ), isto
é, o número máximo de colunas linearmente independentes que ela possui.

1.5.4
Definição A matriz M (T ) = (aij ) é conhecida como a matriz de T com relação às bases
canônicas do Rn e Rm . Por simplicidade, chamaremos M (T ) de matriz de T .

Um conjunto de nı́vel especial de uma função linear T : Rn −→ Rm é o seu núcleo,

N (T ) = T −1 (0, 0, . . . , 0) = {X ∈ Rn ; T (X) = (0, 0, . . . , 0)}.

Os outros conjuntos definidos implicitamente por T , quando não-vazios, são determinados a


partir dele, como mostra seguinte proposição.

1.5.5
Proposição Seja T : Rn −→ Rm uma aplicação linear. Se K = T (P ), P ∈ Rn , então
T −1 (K) = P + N (T ) = {X ∈ Rn ; X = P + V, V ∈ N (T )}.

Demonstração: Seja X ∈ T −1 (K). Logo, T (X) = K = T (P ). Como T é linear,


vem que T (X − P ) = O, isto é, V = X − P ∈ N (T ). Assim, X = P + V , o que prova
que T −1 (K) ⊂ P + N (T ). Por outro lado, se X = P + V , para algum V ∈ N (T ), então
T (X) = T (P ) + T (V ) = T (P ) = K. Donde, P + N (T ) ⊂ T −1 (K)). ppppppppppppppppppppp

1.5.6
Exemplo Seja
T : R3 −− − R3
−→

(x, y, z) −−−−−→ T (x, y, z) = (x + y, x + 2y + z, −x + 3y + 4z).

Temos que T (e1 ) = (1, 1, −1), T (e2 ) = (1, 2, 3) e T (e3 ) = (0, 1, 4). Logo, a matriz de T é
 
110
M (T ) =  1 2 1  ,
 

−1 3 4

e, usando o teorema 1.5.3, obtemos


    
x 110 x
T  y  =  1 2 1   y .
    

z −1 3 4 z
40 Funções Vetoriais Especiais

Sugerimos ao leitor que verifique diretamente esta identidade. Como det M (T ) = 0, segue-se
que posto M (T ) ≤ 2. Como, por exemplo, as duas primeiras colunas de M (T ) são linearmente
independentes, devemos ter posto T = 2. (Convém observar, que esta informação pode ser
obtida, também, usando operações elementares sobre as linhas (colunas) de M (T ), o que é mais
conveniente para matrizes de ordem alta.) Logo, Im(T ) tem dimensão dois e é gerado pelos
vetores T (e1 ) = (1, 1 − 1) e T (e2 ) = (1, 2, 3). Portanto, Im(T ) é um plano, o plano que passa
por (0, 0, 0) e é paralelo aos vetores T (e1 ) = (1, 1 − 1) e T (e2 ) = (1, 2, 3). Logo,
Im(T ) = {X = (u, v, w); X = s(1, 1, −1) + t(1, 2, 3), s, t ∈ R}
(¶9 )
= {X = (u, v, w); 5u − 4v + w = 0},
e o vetor N = T (e1 ) × T (e2 ) = (5, −4, 1) é perpendicular ao plano Im(T ). Para obtermos o
núcleo de T , começamos notando que este subespaço deve ter dimensão 1, visto que posto T = 2
e
dim N (T ) + posto T = 3,
o que vem de um clássico teorema da Álgebra Linear. Agora é só achar um vetor não-nulo
qualquer de N (T ), digamos V , o que implicará N (T ) = [V ] = {X = tV, t ∈ R}. Para isto
procuramos uma solução não-trivial de

x + y = 0

x + 2y + z = 0

−x + 3y + 4z = 0,

que tem V = (1, −1, 1) como uma tal solução. Logo, N (T ) é a reta que passa por (0, 0, 0)
e é paralela ao vetor V . Mais ainda, se K = (k1 , k2 , k3 ) ∈ Im(T ), o que pode ser testado
simplesmente verificando que 5k1 − 4k2 + k3 = 0 (por quê?), o conjunto de soluções do sistema

x + y = k1

x + 2y + z = k2

−x + 3y + 4z = k3 ,

que é o conjunto de nı́vel K = (k1 , k2 , k3 ), coincide com P + N (T ), onde P é uma solução


particular deste último sistema, isto é, T (P ) = K.
z z
6 6

r1 Im(T )
P
r = (1, 1, 1)
1 T −1 (2, 4, 6) T
r r - - -
1 r y y

N (T )
x
x

Figura 29-(a) Figura 29-(b)


Vetores e Funções Vetoriais 41

Como caso particular desta situação, se K = T (1, 1, 1) = (2, 4, 6), as soluções do sistema

x + y = 2

x + 2y + z = 4

−x + 3y + 4z = 6

são os elementos da reta T −1 (2, 4, 6) = (1, 1, 1) + N (T ) = (1, 1, 1) + [(1, −1, 1)], ou de outra
forma, são as triplas (x, y, z) tais que x = 1 + t, y = 1 − t e z = 1 + t, t ∈ R. Para encerrar
nossa discussão com relação a T , consideremos o seguinte sistema linear:

x + y = 1

x + 2y + z = 2

−x + 3y + 4z = −3.

A existência de uma solução deste sistema implicaria que (1, 2, −3) ∈ Im(T ). Logo, u = 1,
v = 2 e w = −3 seria solução de 5u − 4v + w = 0, conforme (¶9 ), o que é falso. Portanto, o
sistema dado não tem solução.

1.5.7 [Rotações no R2 ]
Exemplo Dado θ ∈ R, seja Tθ : R2 −→ R2 a aplicação linear que associa
o vetor X ao vetor Y obtido por uma rotação de X em torno
da origem no sentido anti-horário.
y y
6 6

Y = Tθ (X) e2
 Tθ (e2 ) 6 Tθ (e1 )
pppppp θ * X θpppp pppppppp
kppppp  cos θ p pppp sen θ
I
@ 
@+ pθ
 - @ Kppp - -
x e1 x
− sen θ cos θ

Figura 30-(a) Figura 30-(b)

Para o cálculo de Y = Tθ (X) é bastante conhecermos o efeito desta aplicação na base canônica,
isto é, basta termos em mãos a matriz M (Tθ ), que pode ser obtida facilmente via figura 30-(b),
que mostra que
Tθ (e1 ) = (cos θ, sen θ) e Tθ (e2 ) = (− sen θ, cos θ).
Logo,       
x cos θ − sen θ x x cos θ − y sen θ
Tθ = = ,
y sen θ cos θ y x sen θ + y cos θ
ou
Tθ (x, y) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ).
Em particular, para obtermos um vetor perpendicular a X = (x, y), usamos a rotação Tπ/2 , isto
é, basta calcular Tπ/2 (x, y) = (−y, x), que é o vetor que introduzimos no exemplo 1.2.9.
42 Funções Vetoriais Especiais

1.5.8 [Rotações no R3 ]
Exemplo A idéia de rotação que acabamos de estudar pode ser adaptada
facilmente para o espaço tridimensional R3 . Faremos isto para
o caso de rotações em torno do eixo-z. Inicialmente observamos que o resultado de uma tal
rotação aplicada a um vetor X = (x, y, z) ∈ R3 é o vetor que tem a mesma terceira coordenada
que X, e sua projeção no plano-xy é o vetor obtido aplicando esta rotação a (x, y, 0), como vemos
na figura 31. Assim sendo, se indicamos por Tθz a
rotação em torno do eixo-z, cuja restrição aos ve- z
tores do plano-xy tenha a orientação anti-horária, 6
ppppppppppppppppppppppppppppppppppp T z (X)
devemos ter ppp p pppppp pppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp θ
p p p p p p p p p p p p p p p p p p*
ppp θ p ppp
p p3
ppp
p p p p p p p ppppp pp
pp pp pppp
 
cos θ − sen θ 0 X ppp pp
p p p p p p p pppp ppp
z
pp ppppp
ppp pp ppppp
M (Tθ ) =  sen θ cos θ 0  . 
 
ppp ppppppppppppp pp
0 0 1 pppppppppppppppppppppppppppppppppp
ppp pppp pp
ppppppp pp pppppppppppppppppppppppppppppppppz
-
p p p p p p p p p p p p p p p p* ppppppp y
ppppp
A terceira coluna de M (Tθz )
indica que o vetor e3 ppp θ
ppp z
Tθ (x, y, 0)
z
é fixado por Tθ , o que deve estar muito claro para Upp
x

(x, y, 0)
o leitor. Portanto,
Figura 31: Rotação em Torno do eixo-z
Tθz (x, y, z) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ, z).

Como caso particular, se θ = π/4, temos a rotação de 45◦ em torno do eixo-z:


√ √ √ √
z 2 2 2 2
Tπ/4 (x, y, z) = ( x− y, x+ y, z).
2 2 2 2
Destacaremos agora, uma outra famı́lia de funções vetoriais, as de uma variável real,
que serão chamadas curvas parametrizadas, que são objetos de uso freqüente em Geometria
Diferencial e na Cinemática.

1.5.9 [Curvas Parametrizadas]


Definição Uma curva parametrizada é uma função vetorial
do tipo
α : I ⊂ R −−− Rn
−→

t −−−−−→ α(t) = (α1 (t), α2 (t), . . . , αn (t)),
onde I é um intervalo, que pode ser aberto, fechado, limitado ou não. (Devido à tradição em
Geometria Diferencial, usaremos quase sempre letras gregas α, β, γ, . . . , para representar uma
curva parametrizada.)

1.5.10
Definição A imagem de uma curva parametrizada α : I −→ Rn é chamada traço de α, o
que indicaremos por tr α, isto é,
tr α = {X ∈ Rn ; X = α(t), t ∈ I}.
A variável t é dita parâmetro de α.
Vetores e Funções Vetoriais 43

1.5.11
Definição Um conjunto γ ⊂ Rn é dito parametrizado por α : I ⊂ R −→ R3 se γ = tr α,
isto é, γ coincide com a imagem de α. Dizemos, também, que α parametriza γ.

1.5.12 [Retas]
Exemplo Dados P, V ∈ Rn , V 6= O, a curva parametrizada

α : R −− − Rn
−→

t −−−−−→ α(t) = P + tV

tem como traço a reta que passa por P e é paralela ao vetor V , conforme a definição 1.3.1. Logo,
a reta l = P + [V ] está parametrizada por α. Por abuso de linguagem, costuma-se chamar a
função α de reta.

1.5.13
Exemplo Seja
α : [0, 2π] −−− R2
−→

t −−−−−→ α(t) = (a cos t, b sen t),

onde a > 0, b > 0 são números reais fixados (veja o exemplo 1.4.4). Temos que α parametriza
a elipse de centro (0, 0) e semi-eixos a e b dada por

x2 y 2 2
E(a, b) = {(x, y) ∈ R ; 2 + 2 = 1}.
a b
y y
6 6
Tπ/4 (E(a, pppppppppp b))
p p p p p p p ppp pppppppp pp ppppppppp
pppppppppppppppppppppppppppppppppppppppE(a, p pp pp p pp
p pp p p p p p p p p pp p pppppppppppp b) ppp ppp
p
pp
pppp pppp ppp b p pp p p p p
p pp pppp pp p a p p
p pp @
pppp pp -
p
Tπ/4
p pp
b
pp p
pp
ppp ppp ppp pp p p
- @ -
p p pp p p a
p p p p p x @ pp ppp x
p p p p p p pp p pp p p p pp p
pppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp ppppppppppppppppppp pppp p
@
p p pppp p
pppp pppp p
p p ppppppppppp p p pp ppppppp ppppppp p
I
@ α β 
@

0 2π
Figura 32

Se aplicamos a rotação Tπ/4 em E(a.b) obtemos a elipse Tπ/4 (E(a, b)) que tem centro (0, 0) e
eixos ao longo das retas y = ±x, como mostra a figura 32. Para parametrizar esta nova elipse,
simplesmente compomos a rotação com α. Mais precisamente, definimos

β : [0, 2π] −−− R2


−→

t −−−−−→ β(t) = (Tπ/4 ◦ α)(t) = Tπ/4 (α(t)).
44 Funções Vetoriais Especiais

Desta forma, temos que

√
√ 
2 2 ! √
−  a cos t 2
√2 √2 

β(t) =  = (a cos t − b sen t, a cos t + b sen t)
 2 2  b sen t 2
2 2

parametriza a elipse Tπ/4 (E(a, b)).

1.5.14 [Ciclóide]
Exemplo A ciclóide é o subconjunto γ do plano R2 percorrido por um ponto P
preso a um cı́rculo que rola sem deslizar sobre uma reta. Na figura 33,
consideramos a ciclóide descrita por P = O = (0, 0), que está preso ao cı́rculo centrado em
(0, a) e de raio a. Uma parametrização para a ciclóide pode ser obtida usando como parâmetro
o ângulo que o segmento [C, Q], que liga o centro do cı́rculo em movimento ao ponto de contato
deste cı́rculo com o eixo-x, faz com o segmento [C, P ], que liga C ao ponto móvel P .

y
6 6
γ γ

@a
@
@ C
r = (at, a)
Pr a cos t
I
t
Pr rQ - -
at x x
a sen t
Figura 33: Ciclóide
O fato que o cı́rculo rola sem deslizar é usado para garantir que o comprimento do segmento
[P, Q] é igual ao comprimento do arco de cı́rculo que liga P a Q, que é at, como indica a
figura. Portanto, a primeira coordenada de P , no instante t, vale x = at − a sen t, e a segunda
é y = a − a cos t. Logo,

α : R −− − R2
−→

t −−−−−→ α(t) = (at − a sen t, a − a cos t)

é uma parametrização da ciclóide.


Vetores e Funções Vetoriais 45

z
1.5.15 [Hélice Circular] 6
Exemplo Sejam a, b ∈ R, com
a > 0 e b 6= 0. O
traço da curva parametrizada

α : R −− − R3
−→
− 2πb
t −−−−−→ α(t) = (a cos t, a sen t, bt),
rbt
rα(t)
é chamado hélice circular de raio a e passo 2πb. A escolha a r1 r
-
y
t
deste nome se deve ao fato de que o tr α está contido no (a cos t, a sen t, 0)
cilindro circular reto x2 + y 2 = a2 . Neste ponto o leitor
deve retornar ao exemplo 1.4.11, onde temos uma hélice
x
ao longo do cilindro y 2 + z 2 = a2 . Figura 34: Hélice Circular

Para encerrar esta seção, estudaremos algumas noções elementares associadas às su-
perfı́cies parametrizadas, que são as funções vetoriais básicas para o estudo das superfı́cies
regulares da Geometria Diferencial.

1.5.16 [Superfı́cies Parametrizadas]


Definição Uma superfı́cie parametrizada é uma função
vetorial do tipo

g : D ⊂ R2 −− − R3
−→

(u, v) −−−−−→ g(u, v) = (g1 (u, v), g2 (u, v), g3 (u, v)).

1.5.17
Definição A imagem de uma superfı́cie parametrizada g : D −→ R3 é chamada traço de g,
o que indicaremos por tr g, isto é

tr g = {X ∈ R3 ; X = g(u, v), (u, v) ∈ D}.

As variáveis u, v são chamadas parâmetros de g.


46 Funções Vetoriais Especiais

v z
6 6

qqq qqqqq
qqqqqqqqqq
qqqqqqq
qqqqqqqq qqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
g3 (u0 , v0 ) rqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqq S
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqq
qqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqq
0 qqqqqqqqqqq
@
qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
g(u , v ) qqqqqqqqqqqq
@0r qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqq
D g- qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqq qqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
v0 r r qqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq qqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqq
qqqqqqqqqqqq
(u0 , v0 ) qqqqqqqqqqqqqqq qqqq qqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqq
qqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqq
r r qqqqqqqqqqqqqqqq
g
qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqq2 qqqqqqqqqq
(u
qqqqqqqqq r v-
0 , 0)
qqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqq qqqqqqqqqqq
qqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
-
u0 u qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqq y
qqqqqqqqqq
qqqqqqqqq
qqqqqqqq
qqqqqqq
qqqqqq
qqqqqqqq
g1 (u0 , v0 ) r r
x

Figura 35

1.5.18
Definição Um conjunto S ⊂ R3 é dito parametrizado por g : D ⊂ R2 −→ R3 se S = tr g,
isto é, S coincide com a imagem de g. Dizemos, também, que g parametriza o
conjunto S.

1.5.19
Definição Dada uma superfı́cie parametrizada g : D −→ R3 , e fixado (u0 , v0 ) ∈ D, as
curvas parametrizadas obtidas a partir de g fixando-se um dos parâmetros e
deixando o outro variar são chamadas curvas coordenadas de g. Mais precisamente,

αv0 (u) = g(u, v0 ) = (g1 (u, v0 ), g2 (u, v0 ), g3 (u, v0 )), (u, v0 ) ∈ D,


αu0 (v) = g(u0 , v) = (g1 (u0 , v), g2 (u0 , v), g3 (u0 , v)), (u0 , v) ∈ D

são as curvas coordenadas de g passando por g(u0 , v0 ).

Observação Vale observar que o traço de uma superfı́cie parametrizada coincide com a união
dos traços de suas curvas coordenadas. Na prática, é o esboço de algumas destas
curvas que nos permite visualizar a superfı́cie descrita por g. Esta é uma das estratégias básicas
da Computação Gráfica, no que tange ao esboço de superfı́cies.

1.5.20
Exemplo Dados P, V, W ∈ R3 com V, W linearmente independentes, a superfı́cie parame-
trizada g(u, v) = P + uV + vW , (u, v) ∈ R2 , tem como traço o plano que passa
por P e é paralelo aos vetores V e W , conforme definição 1.3.7. Fixado (u0 , v0 ) as curvas
coordenadas de g por g(u0 , v0 ) são as retas

αv0 (u) = g(u, v0 ) = (P + v0 W ) + uV, u ∈ R,


αu0 (v) = g(u0 , v) = (P + u0 V ) + vW, v ∈ R.
Vetores e Funções Vetoriais 47

z
v 6
p
pqpqpqqqpqqqqpqqqppqqpqpqpqpqpqppp
6
ppqqqqqqpqqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqqpqqqpqqqpqqpqqpqqpqpqpqqpqqpqpqppppqppp
p p
qq
pqqpqpqqppqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqqpqqqqqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqpppqpqpqpqpqpqpqppqpp
ppqpqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqpqqpqpqqpqqpqqqpqqqpqqpqqqpqqqpqqqpqqqpqqqp+ q q q qqp qqqqqqqqqqqqpqqqpqqqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqpqqpqpqpqppqpp
ppqpppqqpqqqpqqqpqqqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqP qqqqqqqqqqqqpqqqpqqqqppqqqqqpqqqpqqqqqppqpqqqvrpqqpqqpppqqqqqqqpp0pqqqqpqqqqqqqW
D
qqqqqqpqqqqpqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqp
pppqqqqppqqpqqqqqqq pppppppqpqqqqqqq
qqqqqqq
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qqqqqqqq
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qqqqqqqq
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qqqqqqqq
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qqqqqqqqq
pppppp
qqqqqqq ppqpqqpqqqqqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqqpqqqqqpqqpqqpqqpqqqpqqpqqpqqpqqpqqqqqpqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqpqqqqqqpqqqqqqpqqpqqqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqpqqppqqqqqppqqppqqqqpppqqqqqpqqqqpqpqqqpqqqqpqqpqqqqpqqpqqqpqqpqqqpqqqpqqqpqqqpqqpqqqqpqqqqqqqqqpqqqpqpqqqpqpqp p
pppqqqqqqppqqqpqqqqqqq
qqqqqqq
pppppppqqqpqqqqqqq
qqqqqqq
pppppppqqqpqqqqqqq
qqqqqqq
ppppppqqqpqqqqqqq
qqqqqqq
pppppppqqqpqqqqqqq
qqqqqqq
ppp qqqqqqqqq pppp pppprpqqqp(u
qqqqqqq qqqqqqq
ppppppqqqpqqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqq ppvpp pppp 0 )
pp0ppppp,pqqqpqqqqqq
qqqqqq pq
ppqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqqqpP
qpp qpqqqqqpqpprpqppqppqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqpqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqpp
p pp p p
ppqqqqppqqpqqqqqqq
qqqqqqq q qqqqqqq
qqqqqqq q qqqqqqq
qqqqqqq q qqqqqqq
qqqqqqq q qqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqq
qqqqqqq p q qqqqqqq
qqqqqqq q qqqqqqqq
qqqqqqqq q qqqqqq
qqqqqq
pppp ppp g- Wpqqpqqp qqqpqpqqqpqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqrpqqqqqpqqqqqpqqqqpqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqqqppqqqppqqqqqppqqqpqqqqqrqqpqqqqqpqqqpqqpqpqqqqqpqqqqpqqqpqqqpqqpqqqqqqppqqqpqqqqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqpqqqppqpqp -
ppqqqqqqqqqqqqqqqq
pppppppqqqpqqqqqqq
qqqqqqq
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pppp pppqqqpqqqqqqq
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qqqqqqqq q
qqqqqq
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ppppqpqppqpqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqpqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqpqqpqppp
qqqqqqqqpqqqpqpqqpqqqqqqqqqpq+ pqqqqqqqqqqqqqu qqqqqqqq0qqqqqqqVqqqqqqqqqpqppppp
q
ppqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqq qqqqqqqqq qqqqqqqqq qqqqqqqqq
pp qqqqqqqqq ppqqqqqqqqq qqqqqqqqqq qqqqqqqq u j ppppqpqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqp y
ppqqqqqqppqqqpqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqq
qqqqqqq
p q qqqqqqq
qqqqqqq p q qqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqq
qqqqqqqq qqqqqqq
qqqqqq
pppp pp
p
V ppppppqpppqqqqpppqqpqqpqqpqqppqqqqppqqpqqqpqqppqqqqqpqqqqqpqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqqqppqqqp ppp
H
qqqqqqq
pppppppqqpqqqqqqq
qqqqqqq
pppppppqqpqqqqqqq
qqqqqqq
ppppppqqpqqqqqqq
qqqqqqq
pppppppqqpqqqqqqq
qqqqqqq
ppppppqqpqqqqqqq
qqqqqqq
pppp ppqqpqqqqqqq
qqqqqqq
ppppppqqpqqqqqqqq
qqqqqqqq
ppppppppqqpqqqqqq
qqqqqq
H
qqqqqqq pppqqppqpqqpqpqqppqqqqpqqqqqqqqpqqpqpqp
ppppp
x

Figura 36

A primeira delas, αv0 é a reta que passa por P + v0 W e é paralela ao vetor V . A outra, αu0 é a
reta que passa por P + u0 V e é paralela ao vetor W .

1.5.21 [Gráfico]
Exemplo Seja f : D ⊂ R2 −→ R uma função real de duas variáveis reais. O seu
gráfico, como vimos na definição 1.4.7, é o subconjunto de R3 dado por

G(f ) = {(x, y, f (x, y)); (x, y) ∈ D},

isto é, G(f ) é o subconjunto do R3 constituı́do das triplas (x, y, f (x, y)), onde (x, y) ∈ D. Isto
sugere a seguinte parametrização (canônica) de G(f ):

g:D −− − R3
−→

(u, v) −−−−−→ g(u, v) = (u, v, f (u, v)).

Neste caso, os traços das curvas coordenadas de g,

αv0 (u) = (u, v0 , f (u, v0 )), (u, v0 ) ∈ D


αu0 (v) = (u0 , v, f (u0 , v)), (u0 , v) ∈ D,

são facilmente obtidos: são dadas pelas interseções dos planos x = u0 e y = v0 com G(f ), res-
pectivamente, como na figura 37. z
v
f (u0 , v0 ) r
6
prrr
p
ppppppppppppppppppppppppppppppppp
ppprrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrr
6
prrrrrrrrrrrrrrrrrrr
D pppppppppppppp prpppg(u
rprrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p pppprrrrrr
pppp pppppppp, v ) = (u0 , v0 , f (u0 , v0 ))
ppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp pprrrrrrrrrrrrr
G(f ) ppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr ppppp pppppppppppppppprrrrrrrrrrrr
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr ppppppppppppp0pppppppppppppppp0
ppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr ppp p pppp pppppp ppp
pppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr ppppppppppppppp ppp ppppppppppppppp pppppppppp ppppppppppppppp
ppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
v0 r pppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppppppppppppppprppppppppppppppppppppppppp
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p pppppppppp pp pppppppppppp pppp pp pp
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppppppppppppppppppppppppppppppppppp
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr pppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppppp ppppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr p pppppppppp ppp ppppppppppppppp ppp
p pppppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp pp pp pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr pp ppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p prrrrrrrrrrrrr
pprrrrrrrrrrrrrrrrr pppppppp pp p p
p
r g- pp ppr pp pp ppppppppp rrrrrrrrrrrrrr pp ppppppppprp vppp0 ppp -
pprrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrr
ppppppprrrrrrrrr
p
pp pp pp pp pp pp prrrrrrrr prrrrrrr p p p y
-
prrrrr
pppppppppppppppppppppppppppprrrr pppprrppppppppppppppppppppppp
u0 u prrr
pp pp prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr p p
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppppppppppppp prrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
u0 r pp prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr prrrrrrrrrr pppppppppppp pppppppppppp D
pppppppppppppppppppppppppppppppprpppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
x

Figura 37: Parametrizando G(f)


48 Funções Vetoriais Especiais

Como caso particular desta situação, temos que z


pppprp
prrr
p prrrrpppp ppppppp pp
6 prrrrrr z = x2 + y 2
rrrrrrrr
prrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrr
ppprrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p p p
g(u, v) = (u, v, u2 + v 2 ), (u, v) ∈ [0, 1] × [0, 1], p pppppp pppp pp pppppppppppppppppppppppprrpppppprpppp
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppp p ppp ppp pp pppp pp
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppp p pp pp pppppppppppppprrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppp rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p rrrrrrrrrrrrrrrrr pp ppppppppppppp p
p p p p p ppp p ppppp pp ppp ppp p pppppppppppppppppprrppp ppp
p p p
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p p
parametriza a porção do parabolóide z = x2 + y 2 que se p p p p p p
p rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr p p
ppp pppppppppp ppp ppppppppppppppppppppp p p p p p p p p p p p p pp
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr p p p pp
projeta sobre o quadrado [0, 1] × [0, 1]. ppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp
pp pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr pp 1
pp prrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppprpppprrrrrrr ppppppppppp ppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp rp -
pppppppppppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pp ppppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p p
ppppppppppppp pppppppp pppppppppppppppppp
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pp ppppppppppppppppppppp ppppppppppppp pppppppppppppppppppppppppppp ppp
pppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
y
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppppp pppppppppp ppppppppppp ppppppppppppppppppppppp pp
p
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppp pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr p
pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
pppppppppppppppppp ppppppppppppppppppppppppppp
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
p pprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
ppppppppppppppppppp ppppppppppp ppppppppppp pppppppppppp ppp
1 prprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
x
1.5.22
Figura 38
Superfı́cies de Revolução

Seja
α : I ⊂ R −−− R3
−→

v −−−−−→ α(v) = (α1 (v), 0, α2 (v))

uma curva parametrizada com traço contido no plano-xz, como indica a figura 39. Fixados v ∈ I
e u um ângulo entre 0 e 2π, seja Tuz a rotação de ângulo
u em torno do eixo-z, como no exemplo 1.5.8. Aplicando z
p
p p
q p
ppqqqqqqqqqqpqqqppqqpqqpqpqppp
z 6
esta rotação ao ponto α(v) obtemos o ponto Tu (α(v)), o
ppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqpqpqppp
qual está no plano πu perpendicular ao plano-xy e que faz ppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqppqpqpqpqp
pqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqppqp
um ângulo u com o eixo-x. Portanto, se v varia em I, ob- pppppppqqpqppqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqπqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpp
ppp pppqqqqqqqqqqqqqqqqppqqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqquqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppp
temos uma cópia de α neste plano. A idéia agora é deixar qq
pp ppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppp qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpp
u variar no intervalo [0, 2π], o que produz o conjunto pp p pppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpppqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqzqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppp
qqqqqqqqqqp qqqqqqqqqqqqqqq α(v) prp ppppqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqrppqqqqpqqqqqqTqqqqqquqqqqqqqqqq(α(v)) qqqqqqqqqqppp
p
pp p ppppqpppqpqqppqpqppqqqppqqpqpqqqppqpqqqpqqqqqqpqqqqqpqppqqqqqpqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppp
-
Sα = {X ∈ R ; X = 3
Tuz (α(v)), 0 ≤ u ≤ 2π, v ∈ I}, ppppppppppppppp ppppqqppqpqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpp y
ppppppppppppppppppppppp: pppp pqqppqqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqpp
u pqqppqqqpqqqpqqqpqqqqqqqqp
pqqpppqpp
que será chamado superfı́cie de revolução (ou rotação)
gerada por α. À curva parametrizada α, chamamos ge- x

ratriz de Sα . Usando a expressão que define Tuz , vem que Figura 39


Sα pode ser reescrita assim:

Sα = {X ∈ R3 ; X = (α1 (v) cos u, α1 (v) sen u, α2 (v)), 0 ≤ u ≤ 2π, v ∈ I}.

Desta forma Sα está naturalmente parametrizada por

g : [0, 2π] × I −−− R3


−→

(u, v) −−−−−→ g(u, v) = (α1 (v) cos u, α1 (v) sen u, α2 (v)).

Como resultado, obtemos a seguinte figura.


Vetores e Funções Vetoriais 49

v z
6 6
[0, 2π] × I
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq Sα
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
g
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
I qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
-
q q qqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqq
q q qq qq q q
q
qqqqq q qqqqq
qq qqq q qqq q qq qqqqqqq qqqqqqqqqq qq qq qqqqqqq qqq qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq q qq
qqq
q qqq
q qqqqq q q q q q q q qq q q q q q q q q q q q q q q q q q q q qq q qqqq q q q
q q q qq q q qqqq qq
qq q
q qq qqq
qq
qqqqq
qqq qqq
qq q
qqqqq
r- qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq
qqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
-
2π u y

Figura 40: Superfı́cie de Revolução

Para v fixo, a curva coordenada correspondente é o cı́rculo de raio α1 (v) e centro (0, 0, α2 (v))
do plano z = α2 (v). Para u fixo, obtemos uma cópia de α no plano que faz o ângulo u com o
plano-xz. Assim, as curvas coordenadas de g, ou são cı́rculos, os quais chamamos de paralelos
ou são cópias de α, que são chamadas meridianos. Nos exemplos que seguem, veremos alguns
casos particulares de superfı́cies de revolução.

1.5.23 [Parabolóide]
Exemplo Neste exemplo, a geratriz é o arco de parábola parametrizado
por α(v) = (v, 0, v 2 ), v ∈ [0, +∞). Logo, α1 (v) = v, α2 (v) = v 2 .
Portanto,
g(u, v) = (v cos u, v sen u, v 2 ), 0 ≤ u ≤ 2π, 0 ≤ v < +∞,
é uma parametrização do parabolóide de revolução z = x2 + y 2 cujas curvas coordenadas são
cı́rculos (v constante) e arcos de parábolas (u constante), conforme figura 41.
v z
6 [0, 2π] × [0, +∞) 6
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqq
q q q qq
q q
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqS
qqqqqqqqqqqqqqqαqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
g- qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
r- y
2π u

Figura 41: Parabolóide de Revolução

1.5.24 [Esfera]
Exemplo Para parametrizar a esfera S 2 (a), começamos parametrizando sua gera-
triz, o semi-cı́rculo de raio a e centro (0, 0, 0) do plano-xz, com

α(v) = (a sen v, 0, a cos v), v ∈ [0, π],


50 Funções Vetoriais Especiais

que a descreve a partir do ponto (0, 0, a) terminando em (0, 0, −a). Isto significa que o parâmetro
v é o ângulo entre o eixo-z e o vetor α(v). Assim, α1 (v) = a sen v e α2 (v) = a cos v, e obtemos
a seguinte parametrização para S 2 (a).

g(u, v) = (a sen v cos u, a sen v sen u, a cos v), 0 ≤ u ≤ 2π, 0 ≤ v < π.

v z
6 6

qqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
2
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqS (a)
[0, 2π] × [0, π] qq q q
qqq qqqq q q
qq
q q qqq qqqq q q q q q q q q qqq
q qq q q qq q q q qq q q q q q q qqq
qqqq q
qq qq q qqqq qq
q q q qqq q qq q
qqqqqqqqqq qqqqq qqqqqq q q qq q q q qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
qqq q q q q qq q q q q q q q q q q q q q q q qqq q q q q q q q q q q qq
q q
πr g qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqq qq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
-
qqq q q q q q q q qqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq qqqqqqqqqq
qqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq qqq q q q q qqqq q q q q q q q q
qqq
q q q qqq q q q q q q q qqq
q q q -
r- qqqq y
2π u qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
x qqqqqqq qqq qqq

Figura 42: Esfera S2 (a)

1.5.25 [Toro] z
Exemplo Seja α : [0, 2π] −→ R3 a cur- 6

va parametrizada dada por


T 2 (a, b)
qqqqqqq qq qq q q q qq q q q q q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q
α(v) = (b + a cos v, 0, a sen v), 0 ≤ v ≤ 2π, q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q q qqq
q q q
qqqqq q q qqqqqqqq q qq
qq q q
qq q qqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
onde 0 < a < b são constantes. Temos que o qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqq
-
traço de α é o cı́rculo de raio a e centro (b, 0, 0) do qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq y
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
plano-xz. A superfı́cie de revolução gerada por α qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
é chamada toro de revolução, e será indicada por
T 2 (a, b). Uma parametrização de T 2 (a, b) é dada x
por Figura 43: Toro de Revolução

g : [0, 2π] × [0, 2π] −− − R3


−→

(u, v) −−−−−→ g(u, v) = ((b + a cos v) cos u, (b + a cos v) sen u, a sen v),

cujas curvas coordenadas são cı́rculos. T 2 (a, b) pode ser definido implicitamente. De fato, como
o leitor pode verificar, temos que
p
T 2 (a, b) = {(x, y, z); ( x2 + y 2 − b)2 + z 2 = a2 }.
1
Exercı́cios
52 Vetores e Funções Vetoriais – Exercı́cios

1-1 Dado o triângulo 4ABC, A = (3, −1, −1), B = (1, 2, −7) e C = (−5, 14, −3), encontre
α : R −→ R3 cujo traço coincida com
(a) a mediana que passa por A;
(b) a bissetriz do ângulo interno B;
(c) a altura traçada por A.
1-2 Seja 4ABC um triângulo escaleno tal que a altura relativa ao lado BC, hBC , tenha com-
primento igual à metade do comprimento de BC. Mostre que o ângulo interno A b é agudo.
O que ocorre se 4ABC é isósceles, com AB e AC sendo seus lados iguais?
1-3 Sejam P e Q dois pontos de R3 , com P 6= Q. Seja M = (P + Q)/2 o ponto médio do
segmento de reta [P, Q]. O plano que passa por M e é perpendicular ao vetor Q − P é
chamado plano mediador de [P, Q], e será denotado por Π[P,Q] .
(a) Mostre que
1
Π[P,Q] = {X ∈ R3 ; X · (Q − P ) = (kQk2 − kP k2 )};
(b) Conclua que X ∈ Π[P,Q] se, e somente se, kX − P k =2 kX − Qk;
(c) Mostre que a distância de um ponto Y ∈ R3 a Π[P,Q] é dada por
|2Y · (Q − P ) − (kQk2 − kP k2 )|
d(Y, Π[P,Q] ) = .
2 kQ − P k
1-4 Sejam P1 = (2, 2, 3), P2 = (1, 3, 3), P3 = (1, 2, 4) e P4 = (1, 1, 3) quatro pontos em R3 .
(a) Encontre o plano mediador Π[P1 ,P2 ] ;
(b) Encontre o plano mediador Π[P1 ,P3 ] ;
(c) Encontre o plano mediador de Π[P1 ,P4 ] ;
(d) Calcule a interseção Π[P1 ,P2 ] ∩ Π[P1 ,P3 ] ∩ Π[P1 ,P4 ] ;
(e) Obtenha a esfera que contém os pontos P1 , P2 , P3 e P4 .
1-5 Seja T : R4 −→ R3 a aplicação linear cuja matriz com relação às bases canônicas é
 
1 −3 4 −2
A=  1 −1 9 −1  .
2 −5 11 −4
(a) Mostre que T é sobrejetiva;
(b) Conclua que o núcleo de T , N (T ), tem dimensão 1. Encontre uma base para N (T );
(c) Dado Y0 ∈ R3 , seja X0 ∈ R4 tal que T (X0 ) = Y0 (Por que existe X0 ?). Mostre que
T −1 (Y0 ) é a reta de R4 que passa por X0 e é paralela a V = (−11, −3, 1, 1);
(d) Parametrize a reta T −1 (5, 7, 14);
(e) Resolva o sistema linear 
 x − 3y + 4z − 2w = 5
x − y + 9z − w = 7 ;
2x − 5y + 11z − 4w = 14

(f) Encontre um funcional linear f : R4 −→ R cujo núcleo coincida com N (T )⊥ ;


(g) Encontre a equação do hiperplano perpendicular ao vetor (−11, −3, 1, 1) e que passa
pelo ponto (1, 1, 1, 1).
Vetores e Funções Vetoriais – Exercı́cios 53

1-6 Considere a matriz


 
1 2 −3
A= 2 6 −11  .
1 −2 7
(a) Verifique que A tem posto 2;
(b) Conclua que Im(T ), a imagem de

T : R3 −− − R3
−→

X −−−−−→ T (X) = AX,

é um plano, e N (T ) é uma reta;


(c) Encontre uma equação para Im(T ) e parametrize a reta N (T );
(d) Encontre uma condição necessária e suficiente sobre a tripla (a, b, c) para que o sistema
linear 
 x + 2y − 3z = a

2x + 6y − 11z = b ;

x − 2y + 7z = c

seja compatı́vel, isto é, tenha solução.


1-7 Sejam P = (2, −2, 1) e α a reta α(t) = (1 + 2t, 2 − 3t, −3 + 2t), t ∈ R. Seja Π o plano que
contém {P } ∪ tr α;
(a) Encontre g : R2 −→ R3 que parametrize Π;
(b) Encontre uma definição implicita para Π;
(c) Encontre f : R2 −→ R tal que o plano Π coincida com o seu gráfico.
1-8 Sejam Q = (−3, 4, −2, 11), P = (5, −3, 2, 6) e A = (2, −1, 0, 1) pontos do R4 e L a reta que
passa por P e é paralela a A.

(a) Se X = P + tA ∈ L, mostre que d(Q, X) = 6t2 + 36t + 154;
(b) Mostre que existe um único ponto M ∈ L tal que a distância d(Q, X) é mı́nima (esse
mı́nimo vale d = 10 e M = (−1, 0, 2, 3));
(c) Mostre que o vetor M − Q é ortogonal à reta L;
(d) Considere o hiperplano H ortogonal a L e que passa por Q.
(i) X = (x, y, z, t) ∈ H ⇐⇒ 2x − y + t − 1 = 0;
(ii) H ∩ L = {M };
(iii) Calcule a distância de P a H;
(e) Encontre funções g : R3 −→ R4 , f : R3 −→ R e h : R4 −→ R para as quais o hiperplano
H é imagem, gráfico e superfı́cie de nı́vel, respectivamente.

1-9 Mostre que α(t) = (t, 8 + 2t − t2 , t+4), −2 ≤ t ≤ 4, é uma curva plana contida no cilindro
(x − 1)2 + y 2 = 9. Esboce o traço de α.
54 Vetores e Funções Vetoriais – Exercı́cios

1-10 Esboce o traço das seguintes curvas parametrizadas.


(a) α(t) = (c + a cos t, d + b sen t), t ∈ R, a, b > 0;
(b) α(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R, a > 0, b 6= 0;
(c) α(t) = (1 + cos t, sen t, 2 sen(t/2)), t ∈ R;
1-11 Identifique e esboce o traço de cada superfı́cie parametrizada, indicando as respectivas curvas
coordenadas.
(a) f (u, v) = (cos u sen v, sen u sen v, cos v), 0 ≤ u ≤ 2π, 0 ≤ v ≤ π2 ;
(b) g(u, v) = (cos u, sen u, v), 0 < u < 2π e v ∈ R;
(c) g(u, v) = (v cos u, v sen u, v), 0 < u < 2π e v > 0;
(d) g(u, v) = (v cos u, v sen u, v 2 ), 0 < u < 2π e v > 0;
(e) g(u, v) = (2 cos v cos u, 2 cos v sen u, sen v), 0 < u < 2π e v ∈ R;

(f) f (u, v) = (u, v, u2 + v 2 ), u, v ∈ R;
(g) g(u, v) = (cosh v cos u, cosh v sen u, v), 0 < u < 2π e v ∈ R. [Catenóide]
1-12 Seja f : D ⊂ R2 −→ R, onde D = {(x, y) ∈ R2 ; x > 0}. Suponha que a curva parametrizada
α : I −→ D, α(v) = (α1 (v), α2 (v)), seja tal que seu traço coincida γ = f −1 (0). Defina

F : R3 −−−→
−− R
p .
(x, y, z) −−−−−→ F (x, y, z) = f ( x2 + y 2 , z)
(a) Mostre que a superfı́cie de revolução gerada por α, Sα , é definida implicitamente por F ,
isto é, p
Sα = F −1 (0) = {(x, y, z); F (x, y, z) = f ( x2 + y 2 , z) = 0}.

(b) Considere, agora, o toro T 2 (a, b) dado no exemplo 1.5.25. Observando que f : R2 −→ R,
f (x, y) = (x − b)2 + y 2 − a2 , define implicitamente o cı́rculo gerador de T 2 (a, b), verifique
que p
T 2 (a, b) = {(x, y, z); ( x2 + y 2 − b)2 + z 2 = a2 }.

1-13 Determine e esboce o maior subconjunto Ω (Ω ⊂ R2 , de (a) a (g), e Ω ⊂ R3 em (h) e (i)) de


modo que f : Ω −→ R esteja bem definida.
p
(a) f (x, y) = x2 (x − 1);

(b) f (x, y) = arcsen(x/2) + xy;
√ p
(c) f (x, y) = 1 − x2 + 4 − y 2 ;
(d) f (x, y) = log(x log(y − x));

(e) f (x, y) = |x| x − 1;
(f) f (x, y) = 1/ (x2 + y 2 );
p √
(g) f (x, y) = x − y;
z
(h) f (x, y, z) = x(y ) ;
p 1
(i) f (x, y, z) = a2 − x2 − y 2 − z 2 + p , a2 ≥ b 2 .
x 2 + y 2 + z 2 − b2
Vetores e Funções Vetoriais – Exercı́cios 55

1-14 Em cada caso, esboce o gráfico G(f ) da função f : D ⊂ R2 −→ R dada.

(a) z = f (x, y) = 4 − x2 − y 2 , D = R2 ;
p
(b) z = f (x, y) = x2 + 4y 2 , D = R2 ;
(c) z = f (x, y) = 2 − y 2 , D = R2 ;
(
1, |x| < |y|
(d) z = f (x, y) = , D = R2 ;
0, |x| ≥ |y|

(e) z = f (x, y) = sen x, D = R2 ;


p
(f) z = f (x, y) = 16 − x2 − y 2 , D = B[4] − {(0, 0)};
(g) z = f (x, y) = 1/ (x2 + y 2 ), D = R2 − {(0, 0)};
(h) z = f (x, y) = sen(y − x), D = R2 ;
(i) z = f (x, y) = (2x + y)3 , D = R2 ;
(
0, xy = 0
(j) z = f (x, y) = , D = R2 .
1, xy 6= 0

1-15 Esboce os seguintes conjuntos definidos implicitamente pela função f dada.

(a) f (x, y) = x2 y = 1;
(b) f (x, y) = (x2 + y 2 + 1)2 − 4x2 = 0;
(c) f (x, y) = x2 − 2x + y 2 = 0;
(d) f (x, y) = x2 + 4y 2 = 4;
(e) f (x, y, z) = (x − 1)2 + y 2 + z 2 = 1;
(f) f (x, y, z) = x2 − y 2 + z 2 = 0;
(g) f (x, y, z) = x2 + y 2 = 4;
(h) f (x, y, z) = (xyz, x + y) = (0, 1);
(i) f (x, y, z) = (x2 + y 2 + z 2 , y + z) = (1, 1).

1-16 A temperatura T (x, y) do ponto (x, y) de uma chapa metálica é dada pela função real
T (x, y) = 2x2 + 3y 2 + 15. Encontre a equação da isoterma (curva de temperatura constante)
que passa pelo ponto (1, 3) e esboce tal curva de nı́vel.
2 2
√ linear T : R −→ R , T (x, y) = (x − y, x + y), é a composta da
1-17 Mostre que a aplicação
homotetia de razão 2 com a rotação de ângulo π/4.

1-18 Seja A = (aij )m×n uma matriz real de ordem m × n. Indique sua transposta por tA. Se · é
o produto interno canônico de Rn , X ∈ Rn e Y ∈ Rm , mostre que (A X) · Y = X · ( tA Y ).
56 Vetores e Funções Vetoriais – Exercı́cios

1-19 [Matrizes Ortogonais] Uma matriz A = (aij )n×n é dita ortogonal se A tA = tAA = I, onde
I é a matriz identidade, e tA indica a transposta de A. Uma aplicação linear T : Rn −→ Rn
é ortogonal se sua matriz (com relação a base canônica) é ortogonal.
(a) Seja A = (aij )n×n ortogonal.
(i) A−1 = tA;
(ii) Mostre que as linhas (colunas) de A formam uma base ortonormal de Rn ;
(iii) Se A é ortogonal, então (det A)2 = 1;
(iv) Se T é o operador linear de matriz A, então T preserva o produto interno, isto é,
X · Y = T (X) · T (Y ), X, Y ∈ Rn .
Em particular, T preserva comprimentos: kT (X)k = kXk;
(b) Dado θ ∈ R, as matrizes
! !
cos θ − sen θ − cos θ sen θ
A1 (θ) = e A2 (θ) =
sen θ cos θ sen θ cos θ
são ortogonais.
(c) Se A é uma matriz ortogonal de ordem 2 × 2 e det A = 1, então existe θ ∈ R tal que
A = A1 (θ), como em (b);
(d) Seja T : Rn −→ Rn (não necessariamente linear) tal que
X · Y = T (X) · T (Y ), ∀X, Y ∈ Rn .
(i) Mostre que {T (e1 ), T (e2 ), . . . , T (en )} é uma base ortonormal, onde {e1 , e2 , . . . , en } é
a base canônica;
(ii) Conclua que T (X) = (X · e1 )T (e1 ) + (X · e2 )T (e2 ) + · · · + (X · en )T (en );
(iii) Conclua que T é uma aplicação linear ortogonal.
1-20 [Isometrias] Uma isometria de Rn é uma aplicação S : Rn −→ Rn que preserva distâncias:
kY − Xk = kS(Y ) − S(X)k . (¶10 )
(a) Toda isometria S é injetiva;
(b) Se S é uma isometria e S(0) = 0, então S preserva o produto interno;
(c) Se S é uma isometria e S(0) = 0, então S é uma aplicação linear ortogonal;
(d) Conclua que toda isometria S é da forma S(X) = T (X) + B, onde T é (linear) ortogonal
e B é uma vetor constante.
1-21 Seja T : Rn −→ Rn uma aplicação linear ortogonal.
(a) Se W ⊂ Rn é um subespaço invariante sob T , isto é, T (W ) ⊂ W , então T (W ) = W e
T (W ⊥ ) = W ⊥ ;
(b) Conclua que se n = 3, T (e3 ) = e3 e det T = 1, então T é uma rotação em torno do
eixo-z;
√ √
(c) Mostre que T : R3 −→ R3 dada por T (x, y, z) = (( 3x − y)/2, (x + 3y)/2, z) é uma
rotação em torno do eixo-z, e identifique o ângulo de rotação.
Vetores e Funções Vetoriais – Exercı́cios 57

1-22 [Aplicações Auto-adjuntas]1 Uma aplicação linear T : Rn −→ Rn é auto-adjunta se

T (X) · Y = X · T (Y ), ∀X, Y ∈ Rn .

(a) T é auto-adjunta ⇐⇒ A, a matriz de T , é simétrica (i.e., tA = A). Aproveite isto para


construir exemplos de aplicações auto-adjuntas em R2 e R3 ;
(b) Se T é auto-adjunta e W ⊂ Rn é um subespaço invariante sob T , então W ⊥ é invariante
sob T ;
(c) É um fato verdadeiro que os autovalores de T são reais. Prove diretamente isto para
n = 2 e n = 3;
(d) Se λ1 6= λ2 são autovalores de uma aplicação auto-adjunta T , então autovetores corres-
pondentes a λ1 e λ2 são ortogonais.

1
Este exercı́cio é opcional, e exige um pouco mais de Álgebra Linear.
2
Cálculo
das
Curvas Parametrizadas
z
6

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqs(1,
qq q qqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqq pqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq1,
qq 1)
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqq qqqqqqq qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqpqqqqq p
p qqqqqqqqqqqq qq qqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq qqqqqqqqq
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq p qqp qpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qpqpqqqqq
qqq
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqp pqpqqqqqq p p pqpqpqqppqpqqqpqqpqqqp qqqp qqq
qqp p pqqqpqpqqqp pqqqqpqqqpqqqp pqqqqqqqq qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq qpqpqqp pqqqpqqqqqqpqqqqq
qq qqqqqqqqqqq
qqq
qqq qq qqqqqqqqqqqqpqqpqqp qqpqqpqqp pqqpqqqqqqqqqqqqqqq qq qq qqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqq
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqq
q q q qqq qq qqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqpqqpqqpqqqpqqq qqqq qqq qqqqqqqq y
qqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqp pqqqqqqqqp qqp pqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq
qqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q q q q q q q q q q q q q q q q q q qqqq q p q
qqq
p q q
p qpqpqqq qqq q
qqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqq qqqqqqpqqqq
qqqqqqqqpqqpqqqpqqqps(−1, 1, −1)
qqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq q q q
qqqqqq qqqqqqqqq q q
q qqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q q q q q q q q q q q q q q q q qqqq q qqqqq
q q q

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq q
x qqq

por
A. Carlos & J. Adonai
2.1
Limite e Continuidade

O objetivo aqui é estender os conceitos de limite e continuidade que conhecemos para


funções reais de uma variável real, às funções vetoriais de uma variável real.

2.1.1
Definição Sejam α : D ⊂ R −→ Rn uma função vetorial com funções coordenadas α1 , α2 ,
α3 , . . . , αn , e t0 ∈ R. Se existem
l1 = lim α1 (t), l2 = lim α2 (t), . . . , ln = lim αn (t),
t→t0 t→t0 t→t0

diremos que α possui limite em t0 , e a n-upla


lim α(t) = (l1 , l2 , . . . , ln )
t→t0

será chamada limite de α em t0 .

2.1.2
Exemplo Seja α(t) = (cos t, sen t, t2 + 2, sen t ), t 6= 0. Como
t
sen t
lim cos t = 1, lim sen t = 0, lim(t2 + 2) = 2, e lim = 1,
t→0 t→0 t→0 t→0 t
segue-se que
lim α(t) = (1, 0, 2, 1).
t→0

2.1.3
Exemplo A função β(t) = (t, sen 2π ), definida em R − {0}, não tem limite em t0 = 0, visto
t

que β2 (t) = sen , sua segunda função coordenada não tem limite neste ponto.
t
Um bom modo de ver isso é estudar o comportamento de β2 ao longo de dois subconjuntos
especiais (duas sequências) do seu domı́nio, a saber:
1
X1 = {x ∈ R; x = , k ∈ N}
k
e
4
X2 = {y ∈ R; y = , k ∈ N},
4k + 1
onde N = {1, 2, 3, . . .} é o conjunto dos números naturais. Note que tanto os elementos de X1
quanto os de X2 ficam bem próximos de t0 = 0 à medida que o valor de k cresce. Agora, se
x = 1/k é um elemento de X1 , então β2 (x) = sen(2π/x) = sen 2kπ = 0. Por outro lado, se
y ∈ X2 , então, β2 (y) = 1. Logo, β2 (t) não pode se aproximar de um valor bem definido quando
o parâmetro t tende a zero, isto é, β2 não tem limite em t0 = 0.

59
60 Derivadas

2.1.4
Definição Sejam α : D ⊂ R −→ Rn uma função vetorial com funções coordenadas α1 , α2 ,
α3 , . . . , αn , e t0 ∈ D. Se α1 , α2 , α3 , . . . , αn são contı́nuas em t0 , diremos que
α é contı́nua em t0 . Quando α é contı́nua em todos os pontos de D, dizemos que α é contı́nua
em D.

2.1.5
Exemplo A curva parametrizada no R3 , α(t) = (et , cos t + sen t, 1 + t + t2 ), t ∈ R, é contı́nua
em R, pois suas funções coordenadas são contı́nuas aı́.
A seguinte proposição decorre facilmente das propriedades do limite para funções reais de
uma variável real.

2.1.6 [Operações com Limites]


Proposição Sejam α, β : D ⊂ R −→ Rn duas funções vetoriais
que têm limite em t0 ∈ R, h : D −→ R também
tendo limite em t0 , e a ∈ R. Então, valem as seguintes propriedades do limite:

(i) lim (α + β)(t) = lim α(t) + lim β(t);


t→t0 t→t0 t→t0

(ii) lim (hα)(t) = lim h(t) lim α(t);


t→t0 t→t0 t→t0

(iii) lim (aα)(t) = a lim α(t);


t→t0 t→t0

(iv) lim (α · β)(t) = lim α(t) · lim β(t);


t→t0 t→t0 t→t0

(v) lim (α × β)(t) = lim α(t) × lim β(t). (Aqui, estamos supondo n = 3.)
t→t0 t→t0 t→t0

2.2
Derivadas

Já que dispomos da noção de limite, torna-se bastante natural o conceito de derivada para
curvas parametrizadas no Rn . A idéia é trazer esta noção do cálculo das funções reais de uma
variável real, como já fizemos com limite. Mais precisamente, temos a seguinte definição.

2.2.1
Definição Seja α : I −→ Rn uma curva parametrizada. Diremos que α é derivável em
t ∈ I se existir o limite
α(t + h) − α(t)
lim .
h→0 h
Este limite, quando existe, é chamado derivada de α em t, e é denotado por α0 (t). Se esta
derivada existe em todo ponto de I, diremos que α é derivável em I.
Cálculo das Curvas Parametrizadas 61

Dados uma curva parametrizada α : I −→ Rn , e t ∈ I, temos usando as definições 1.1.5


e 1.1.6, dadas no capı́tulo 1, que

α(t + h) − α(t) 1
= (α1 (t + h) − α1 (t), α2 (t + h) − α2 (t), . . . , αn (t + h) − αn (t))
h h
α1 (t + h) − α1 (t) α2 (t + h) − α2 (t) αn (t + h) − αn (t)
=( , ,..., ),
h h h
o que, diante da definição 2.1.1, prova a seguinte proposição, bastante útil nos exercı́cios.

2.2.2
Proposição Uma curva parametrizada α : I −→ Rn é derivável em t ∈ I se, e somente se,
suas funções coordenadas são deriváveis em t, e vale a identidade:

α0 (t) = (α10 (t), α20 (t), . . . , αn0 (t)).

2.2.3
Interpretação Geométrica

Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada derivável em t ∈ I. Introduzimos aqui o


quociente de Newton de α em t, o qual indicaremos por Q, e é definido por
α(t + h) − α(t)
Q(h) = , h 6= 0, e t + h ∈ I.
h
Portanto, α0 (t) = lim Q(h), o que sugere que a visualização de Q(h), para alguns valores
h→0

lt α

z α0 (t) Q(h) 


1

p p p p p p p p p p p p pr
 
p p p p p p
6
p p p p   pppppp 
p p p p p  α(t +p ph) pppp
1
α(t)p pr
p p p p p pp
p p
p pp
 

pp p p p
I pp
r tr + h α-
pp p -
p
t pp p pp y
pp p
p
pppp
p p p p p p p p p p p p
pppp
x
Figura 44: O Vetor Tangente α0 (≈)

de h próximos do zero, facilitará a visualização do vetor α0 (t). Com efeito, na figura 44 temos o
vetor α(t+h)−α(t) e seu múltiplo Q(h). Agora é só deixar a nossa intuição trabalhar, pensando
nos valores de h se aproximando de zero. Isto ocorrendo, as retas que passam por α(t) e α(t + h)
62 Derivadas

se aproximam da reta tangente ao traço de α em α(t). Portanto, os vetores Q(h) se aproximam


de um vetor tangente, também neste ponto. Posto isto, podemos interpretar geometricamente
o vetor α0 (t) como um vetor tangente ao traço de α em α(t). Isto motiva a seguinte definição.

2.2.4
Definição Seja α : I −→ Rn uma curva parametrizada derivável em t. A derivada α0 (t) é
chamado vetor tangente de α em t. Se α0 (t) 6= 0, a reta que passa pelo ponto
α(t) e é paralela ao vetor α0 (t) é conhecida por reta tangente de α em t. Indicaremos esta reta
por lt α. Assim,

lt α = α(t) + [α0 (t)] = {X ∈ Rn ; X = α(t) + uα0 (t), u ∈ R},

conforme definição 1.3.1.

Observação O leitor com pouca experiência deve ficar atento com relação à forma como
foram indicados os pontos da reta lt α: o parâmetro que descreve seus pontos
está sendo indicado por u. O parâmetro t, da curva α, está fixo e determina um ponto e a
direção da reta.

y
2.2.5 @ 6
Exemplo Consideremos a curva parametrizada lπ/4 α @
@ I α0 (π/4)
p p p p p p p p p p pppp ppp@
p p p p p pp p p p pp
@
p p pp p p p p p p
α(t) = (a cos t, a sen t), t ∈ [0, 2π], p pp p p p p p pp p pp p
pppp pp p @ prpppα(π/4)
ppp p
p a ppp @pppp
cujo traço é o cı́rculo x2 + y 2 = a2 . Temos que ppp pp p ppp
p ppp π/4@
pppp I pp ppp @ -
pppp pp pp
α0 (t) = (−a sen t, a cos t), ppp pp @ x
pppp pp
p p p pp p p p
p pp p p
@
p p pp p p p p p p p p p
e, fixado t, a reta tangente a α em t é dada por p p p p pp p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p
p ppp ppp
Figura 45
lt α = {X = (a cos t, a sen t)+u(−a sen t, a cos t), u ∈ R}.
pppp ppppp pppp ppp pp ppp pp p p pp pp p
pp p p p p pp p p
Em particular, a reta tangente de α em t = π/4 é p p p pp p p p
ppppp
√ √ √ √ ppppp
pppp
2 2 2 2 ppp
lπ/4 α = {X = (a ,a ) + u(−a ,a ), u ∈ R}. y ppp
ppp
2 2 2 2 pp p
ppp
6
A curva parametrizada ppp β 0 (t)
α(t) ppp
pp p p p pp pp pp pppppp pppp pp pp ppppspp ppp pp 
pppppp


Hp−tα pp pp (t) pppp
0
pp H
β(t) = (a cos t + at sen t, a sen t − at cos t), t ∈ [0, 2π], ppp p p p p
pp p p p p t ppp pH
a pp 

jppsp β(t)
pp p Y pp pp H
ppsp ppppp p
pppp
é a evolvente de α. Seu vetor tangente em ponto ar- pp  p p
pp pppP
-
bitrário t é β 0 (t) = t(a cos t, a sen t), vetor que é perpen- pp
p pp pp p
x
pppp pp p
dicular a α0 (t), visto que α0 (t)·β 0 (t) = 0. Observando que ppppp pp p p p
p p pp p p p pp ppp pppppp ppp ppp ppp p p ppp p pp
kα(t) − β(t)k = at, o que coincide com o comprimento do
arco do cı́rculo ligando P a α(t), como mostra a figura 46, Figura 46: Evolvente
podemos interpretar geometricamente a evolvente da se-
guinte forma: enrole sobre o cı́rculo um cordão de modo que a extremidade livre coincida com P .
Cálculo das Curvas Parametrizadas 63

A seguir, segure P e desenrole o cordão, mantendo-o sempre esticado. A trajetória descrita por
P é exatamente o traço da evolvente. O exemplo que segue exibe um modo surpreendente de
se construir a evolvente β.

2.2.6
Exemplo A hélice circular λ(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R, é uma curva parametrizada
derivável em R, visto que suas funções coordenadas são deriváveis. A derivada
de λ em t é
pp pppppp
λ0 (t) = (−a sen t, a cos t, b), pppp pppp z
pppp pppppppp
ppppppppp lt λ
ppppppppppp
6
pppppppppp
de acordo com a proposição 2.2.2. Portanto, a reta tan- pppppppp
pppppp
gente de λ em t é pppp
pp
ppp
p
ppp pp  λ (t)
0
lt λ = {(a cos t−ua sen t, a sen t+ua cos t, bt+ub), u ∈ R}. λ(t)ppp prpp
pppp
pp ppppp
ppppppppppprpppppppppppppppppppprpppppppα(t) ppp pp
ppppppppppppppppp ppppppppppppp y
-
A terceira coordenada de cada ponto de lt λ é da forma
z = bt + ub, a qual é nula se, e somente se, u = −t. Logo, β(t)
lt λ intercepta o plano-xy no ponto
x
(a cos t + at sen t, a sen t − at cos t, 0), Figura 47
cujas duas primeiras coordenadas são as coordenadas da evolvente β do exemplo 2.2.5, e obtemos,
portanto, outro modo de descrever a evolvente do cı́rculo.

2.2.7 [Operações com Derivadas]


Proposição Sejam α, β : I ⊂ R −→ Rn duas curvas para-
metrizadas deriváveis em t ∈ I, e h : I −→ R
também derivável em t. Então, valem as seguintes propriedades:

(i) (α + β)0 (t) = α0 (t) + β 0 (t);


(ii) (hα)0 (t) = h0 (t)α(t) + h(t)α0 (t);
(iii) (α · β)0 (t) = α0 (t) · β(t) + α(t) · β 0 (t);
(iv) (α × β)0 (t) = α0 (t) × β(t) + α(t) × β 0 (t).
Demonstração: Veremos apenas a prova de (iii). As demais ficam como exercı́cio para
o leitor. Temos que
(α · β)0 (t) = (α1 β1 + α2 β2 + · · · + αn βn )0 (t)
= (α1 β1 )0 (t) + (α2 β2 )0 (t) + · · · + (αn βn )0 (t)
= (α10 (t)β1 (t) + α1 (t)β10 (t)) + · · · + (αn0 (t)βn (t) + αn (t)βn0 (t))
= (α10 (t)β1 (t) + · · · + αn0 (t)βn (t)) + (α1 (t)β10 (t) + · · · + αn (t)βn0 (t))
= α0 (t)β(t) + α(t)β 0 (t),
onde na passagem da segunda para a terceira equação, usamos a derivada do produto de funções
reais de uma variável real. ppppppppppppppppppppp
64 Derivadas

2.2.8 [Regra da Cadeia]


Proposição Sejam α : I ⊂ R −→ Rn e σ : J ⊂ R −→ R. Suponha que
σ(J) ⊂ I. Se σ é derivável em u ∈ J e α é derivável em
t = σ(u), então a composta β = α◦σ é derivável em u, e vale β 0 (u) = (α◦σ)0 (u) = σ 0 (u)α0 (σ(u)).
Demonstração: Se α(t) = (α1 (t), α2 (t), . . . , αn (t)), então

(α ◦ σ)(u) = α(σ(u)) = (α1 (σ(u)), α2 (σ(u)), . . . , αn (σ(u))).

Aplicando a regra da cadeia a cada função coordenada de α ◦ σ, obtemos que

β 0 (u) = (α10 (σ(u))σ 0 (u), α20 (σ(u))σ 0 (u), . . . , αn0 (σ(u))σ 0 (u))
= σ 0 (u)(α10 (σ(u)), α20 (σ(u)), . . . , αn0 (σ(u)))
= σ 0 (u)α0 (σ(u)),

o que completa a prova. ppppppppppppppppppppppp

β 0 (u)


z α0 (t)
ppppppppppppppppppppppp
6 
p p p p
pp ppppp
I
r α(t) p p prp p p ppp
pp β(u)
p p
t = σ(u) @ α pp p p
pp
pp
@
@
R pp p
pp
pp
6
σ pp p pp -
y
pp p
pp p p
p
β  pp p
p p p p p p p p p p p p p p
J r pppp
x
u

Figura 48

Até aqui, estamos obtendo com sucesso vários resultados que dizem respeito às curvas
parametrizadas, simplesmente usando os análogos do cálculo das funções reais de uma variável.
Infelizmente, isto nem sempre é possı́vel: simplesmente perdemos o Teorema do Valor Médio,
como mostra o (contra-) exemplo 2.2.10 a seguir.

2.2.9 [Teorema do Valor Médio]


Teorema Seja f : [a, b] −→ R uma função contı́nua no in-
tervalo fechado [a, b] e derivável no intervalo
aberto (a, b). Então, existe c ∈ (a, b) tal que

f (b) − f (a) = f 0 (c)(b − a).


Cálculo das Curvas Parametrizadas 65

2.2.10
Exemplo Seja α : [0, 2π] −→ R2 definida por α(t) = (cos t, sen t). Se o teorema do valor
médio funcionasse para α terı́amos a existência de c ∈ (0, 2π) tal que

α(2π) − α(0) = α0 (c)(2π − 0).

Em particular, tomando a norma em ambos os membros, terı́amos 2π = 0, um absurdo.


Na realidade, ainda pensando no teorema do valor médio, ele não está totalmente perdido.
Temos uma pequena variação sua, conhecida como primeira desigualdade do valor médio, que
vale para as curvas parametrizadas.

2.2.11 [Desigualdade do Valor Médio]


Teorema Seja α : [a, b] −→ Rn uma curva para-
metrizada contı́nua em [a, b] e derivável
em (a, b). Então, existe c ∈ (a, b) tal que

kα(b) − α(a)k ≤ (b − a) kα0 (c)k .

Demonstração: Visando usar o teorema do valor médio, introduziremos uma função


real auxiliar, a saber:
f (t) = (α(b) − α(a)) · α(t), a ≤ t ≤ b.
É claro que f satisfaz as hipóteses do teorema 2.2.9 e que f 0 (t) = (α(b) − α(a)) · α0 (t). Logo,
existe c ∈ (a, b) tal que f (b) − f (a) = f 0 (c)(b − a), isto é,

(α(b) − α(a)) · α(b) − (α(b) − α(a)) · α(a) = (α(b) − α(a)) · α0 (c)(b − a),

o que pode ser reescrito como

kα(b) − α(a)k2 = (α(b) − α(a)) · α0 (c)(b − a).

Agora, aplicando a desigualdade de Cauchy-Schwarz (teorema 1.2.18) ao segundo membro desta


equação, vem que

kα(b) − α(a)k2 = (α(b) − α(a)) · α0 (c)(b − a) ≤ kα(b) − α(a)k kα0 (c)k |b − a|.

Donde segue-se o teorema. ppppppppppppppppppppp

Como aplicação desta desigualdade, temos o seguinte corolário, bastante natural neste
ponto.

2.2.12
Corolário Seja α : I ⊂ R −→ Rn uma curva parametrizada derivável em I. Então, α é
constante se, e somente se, α0 (t) = (0, 0, . . . , 0), para todo t ∈ I.
Demonstração: É claro que se α é constante, então sua derivada é nula sempre. Veja-
mos a parte que falta. Para isto, sejam a < b dois pontos de I. A desigualdade do valor médio
dá c, a < c < b, tal que
kα(b) − α(a)k ≤ (b − a) kα0 (c)k .
66 Derivadas

Como α0 é sempre nulo, vem, em particular, que kα0 (c)k = 0. Logo, kα(b) − α(a)k ≤ 0, o
que implica que kα(b) − α(a)k = 0 e, portanto, α(b) = α(a). Como a e b foram escolhidos
arbitrariamente, resulta que α é constante. pppppppppppppppppppppp

Este corolário e a proposição que segue desempenham papel fundamental no estudo da


geometria das curvas parametrizadas, como veremos na próxima seção.

2.2.13
Proposição Seja α : I ⊂ R −→ Rn uma curva parametrizada derivável em I. Então, α
tem norma constante se, e somente se, α0 (t) é perpendicular a α(t), para
todo t ∈ I. (Geometricamente, isto significa que se o traço de α está contido em uma esfera,
então o vetor tangente de α também é tangente à esfera.)
Demonstração: Suponhamos, inicialmente, que kα(t)k = c, para todo t ∈ I (isto
significa que tr α ⊂ S n−1 (c), onde S n−1 (c) = {X ∈ Rn ; kXk = c} é a esfera de raio c centrada
na origem do Rn ). Logo, kα(t)k2 = c2 . Usando o item (iii) da proposição 2.2.7, obtemos que
2α(t) · α0 (t) = 0, o que prova que α0 (t) é perpendicular a α(t).
Reciprocamente, se α0 (t) é perpendicular a α(t), então
d kα(t)k2
= 2α0 (t) · α(t) = 0.
dt
Isto implica que kα(t)k2 é constante, visto que estamos trabalhando em um intervalo. ppppppppppppppppppppp

2.2.14
Derivadas de Ordem Superior
Seja α : I ⊂ R −→ Rn uma curva parametrizada derivável no intervalo I. Posto isto,
temos uma nova curva parametrizada definida em I, a primeira derivada de α:
α0 : I −− − Rn
−→

t −−−−−→ α0 (t) = (α10 (t), α20 (t), . . . , αn0 (t)).

2.2.15
Definição Se α0 é derivável em t ∈ I, diremos que α é duas vezes derivável em t, e o vetor
α00 (t) = (α0 )0 (t) = (α100 (t), α200 (t), . . . , αn00 (t))
será chamado segunda derivada (ou vetor aceleração) de α em t. Se α00 (t) existe em todo t ∈ I,
diremos que α é duas vezes derivável em I.

As derivadas de ordem mais alta são definidas indutivamente, de modo análogo ao que se
faz para as funções reais de uma variável, isto é, a segunda derivada é a derivada da primeira
(como já definimos); a terceira derivada é a derivada da segunda... Mais precisamente, temos a
seguinte definição.
Cálculo das Curvas Parametrizadas 67

2.2.16
Definição Seja α : I ⊂ R −→ Rn uma curva parametrizada p vezes derivável em I, p ∈ N.
Se α(p) , a p-ésima derivada de α, é derivável em t, dizemos que α é (p + 1) vezes
derivável em t, e o vetor
d(p+1) α1 d(p+1) α2 d(p+1) αn
α(p+1) (t) = (α(p) )0 (t) = (
(t), (t), . . . , (t)), t ∈ I
dt(p+1) dt(p+1) dt(p+1)
é a (p + 1)-ésima derivada de α em t.

2.2.17
Exemplo Seja λ(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R a hélice circular. É claro que λ tem derivadas
de todas as ordens em R. Suas quatro primeiras derivadas, calculadas em um
ponto arbitrário t, são:
λ0 (t) = (−a sen t, a cos t, b)
λ00 (t) = λ(2) (t) = (λ0 )0 (t) = (−a cos t, −a sen t, 0)
λ000 (t) = λ(3) (t) = (λ00 )0 (t) = (a sen t, −a cos t, 0)
λ0000 (t) = λ(4) (t) = (λ000 )0 (t) = (a cos t, a sen t, 0).

2.2.18
Exemplo Se β(u) = (u, u2 , u3 ), u ∈ R, então β 0 (u) = (1, 2u, 3u2 ), β 00 (u) = (0, 2, 6u),
β 000 (u) = (0, 0, 6), e β (p) (u) = (0, 0, 0), para todo p > 3.

2.2.19
Interpretação Fı́sica

Seja α : I ⊂ R −→ R3 , α(t) = (α1 (t), α2 (t), α3 (t)), uma curva parametrizada, duas vezes
derivável no intervalo I. Neste ponto, passare-
mos a olhar o parâmetro de α como o tempo e o z
6
vetor α(t) como o vetor-posição de uma determi-
α0 (t)
nada partı́cula P , que se move no espaço. Neste 
p p p p p p p p p ppppppppppppppp
pp pppppp
pp ppp
0 00
caso, os vetores α (t) e α (t) recebem nomes espe- P pppprP ppp
0
ciais, a saber: o vetor tangente de α em t, α (t), é pp
3
 p p p P PP p
p

 ppp pp
q
P
chamado vetor velocidade de P no tempo t, e a se-  ppp -α (t)
00
00 p
gunda derivada de α em t, α (t), é chamada vetor pp y
p p pp p
aceleração de P em t. As normas destes vetores pp
p p p p pp
são conhecidas por velocidade escalar e aceleração p p
pppp pp
x ppp pppppppp

escalar de α (ou P ) em t, respectivamente. A ve-
locidade escalar de α em t é indicada por v(t), e
Figura 49: Movimento de uma Partı́cula
aceleração é indicada por a(t). Assim,

v(t) = kα0 (t)k e a(t) = kα00 (t)k , t ∈ I.


68 Derivadas

2.2.20 [Movimento Circular Uniforme]


Exemplo Suponha que uma partı́cula P se mova
ao longo do cı́rculo x2 + y 2 = a2 , a
partir de (a, 0), no sentido anti-horário, a uma velocidade angular constante ω rd/seg. Então,
decorridos t seg, seu vetor-posição α(t) deve fazer um
ângulo θ(t) = ωt com o eixo-x. Logo,
y
α(t) = (a cos θ(t), a sen θ(t)) = (a cos ωt, a sen ωt), t ≥ 0. 6
α0 (t)
pp p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p ppppppppp
ppppppp
I
@
Portanto, a velocidade e aceleração de P são pppppp
ppp pp pp
@
prppP
pppp
ppp p
@
00 ppp
α0 (t) = (−aω sen ωt, aω cos ωt) ppp p a α (t)pppp ppp
pp p p ωt pp
ppp pp I p ppppr(a, 0)-
α00 (t) = (−aω 2 cos ωt, −aω 2 sen ωt). pp p
pp
6
ppp x
ppp p p
pppp p p
Donde segue-se que o movimento é central, isto é, α00 (t) p pp
ppppp
ppppppp p p p p ppp p
aponta para o centro do cı́rculo. Além disto, ppppppppppppppppppppppppppppppppppp ppppp

v(t) = kα0 (t)k = ωa


Figura 50: Movimento Circular
a(t) = kα00 (t)k = ω 2 a,

que são as conhecidas expressões da velocidade escalar e da aceleração escalar de uma partı́cula
em movimento circular uniforme.

2.2.21 [Movimento Uniforme]


Exemplo Suponhamos que uma partı́cula P , partindo do pon-
to Q = (q1 , q2 , q3 ), se mova com aceleração constante
A = (a1 , a2 , a3 ) e que, no momento de sua partida (t = 0), sua velocidade seja V = (v1 , v2 , v3 ).
O nosso objetivo agora é, a partir destas informações,
z
determinar a posição de P num instante t qualquer. In- 6
diquemos, então, por α(t) a posição de P no tempo t.
qq
Logo, qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
α(0) = Q = (q1 , q2 , q3 ) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqrpqqqqqqqqqqqqqqQ qq q q qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq q q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqqqpqqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqV
qqq qq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
α0 (0) = V = (v1 , v2 , v3 ) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqrP qqpqqqqpqqqpqqqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqprqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq-
qqqqqqqqqqqqqqpqqqqpqqqpqqqpqqqqqpP
q
qq
q q qq qq qq qq qq qq q
q q qq q
q qq q
q qq q
q q q qq q q q q q q q q q q q q q q q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqpqqqqqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
 q
α00 (t) = A = (a1 , a2 , a3 ), ∀t ≥ 0. qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqA qqqqqqqqqqqqqUqqqqqqp qα(t) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq y
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqrpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
Integrando duas vezes a terceira equação acima, vem que qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq qqqqqqq q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q qqqqp qqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
x qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqqqqqqqqqqqqq
t2 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
α(t) = C1 + tC2 + A, t ≥ 0, qqq
2
onde C1 = α(0) e C2 = α0 (0). Logo, Figura 51: Movimento Uniforme

t2 t2 t2 t2
α(t) = Q + tV + A = (q1 + tv1 + a1 , q2 + tv2 + a2 , q3 + tv3 + a3 ), t ≥ 0.
2 2 2 2
Em particular, se V e A são linearmente independentes, resulta que a trajetória de P (ou o
tr α) é plana. Mais precisamente, ela é uma parábola no plano que passa por Q e é paralelo aos
vetores V e A. (O que ocorre com tal trajetória se V e A são linearmente dependentes?)
Cálculo das Curvas Parametrizadas 69

2.3
Geometria das Curvas Parametrizadas

Nesta seção, estaremos particularmente interessados em curvas parametrizadas do R3 , isto


é, em curvas parametrizadas do tipo
α : I ⊂ R −−− R3
−→

t −−−−−→ α(t) = (α1 (t), α2 (t), α3 (t)).
As curvas parametrizadas do R2 serão consideradas, de modo natural, imersas em R3 : uma
dupla β(t) = (β1 (t), β2 (t)) será identificada com a tripla (β1 (t), β2 (t), 0).

2.3.1 [Curva Regular]


Definição Uma curva parametrizada derivável α : I −→ Rn é dita regular
se sua derivada é sempre não-nula, isto é, α0 (t) 6= (0, 0, . . . , 0),
para todo t ∈ I. (Note que isto é o mesmo que pedir que v(t) > 0, para todo t ∈ I.)

2.3.2
Definição Seja α : I −→ Rn derivável. Se t ∈ I é tal que α0 (t) = (0, 0, . . . , 0), dizemos que
t é um ponto singular de α.

2.3.3
Exemplo A curva parametrizada (cı́rculo) α(t) = (a cos t, a sen t), t ∈ R e a > 0, é regular,
posto que sua velocidade escalar v(t) = kα0 (t)k = a > 0, para todo t ∈ R.

2.3.4
= (a cos t, a sen t, bt), t ∈ I, a > 0 e b 6= 0, é regular. De
Exemplo A hélice circular λ(t) √
0 2 2
fato, v(t) = kλ (t)k = a + b , para todo t ∈ R.

2.3.5
Exemplo A ciclóide
y
α(t) = (at − a sen t, a − a cos t), t ∈ R, 6

onde a > 0, não é regular. Com efeito, sua deri-


vada em t é dada por α0 (t) = (a − a cos t, a sen t), ppppppppppppppppp ppppppppppppppppp ppppppppppppppppp ppppppppppppppppp
p ppp ppp pp ppp ppp ppp ppp ppp ppp ppp ppp
a qual se anula para t = 2kπ, onde k é um in- ppp p ppp pp pp p pp p pp
pp ppppp p pppppp
ppp
ppppp p ppp
teiro qualquer. Os pontos que correspondem a pprp prpp prp -
estes valores de t são α(2kπ) = (2kπa, 0), que (−2πa, 0) (2πa, 0) (4πa, 0) x
são exatamente os bicos (ou as cúspides) do traço
Figura 52: Pontos Singulares da Ciclóide
de α. Convém, entretanto, observar que a res-
trição de α a qualquer intervalo aberto da forma
(2kπ, 2(k + 1)π) é regular.
70 Geometria das Curvas Parametrizadas

2.3.6 y
6
Exemplo A parábola semi-cúbica ppppppp pp ppp
pppppp
pppppp p p p p pppp pp
pppppp p
α(t) = (t3 , t2 ), t ∈ R, ppppp
ppppp
ppppp p p p ppp pp
pppp pp
pppp ppppppp
tem apenas um ponto singular, a saber t = 0, ppp pppp
ppppp
visto que sua derivada, α0 (t) = (2t, 3t2 ) se anula pr -
(0, 0) x
apenas aı́. Isto indica a presença de uma cúspide
no ponto α(0) = (0, 0), como mostra a figura 53. Figura 53: Parábola Semi-cúbica

2.3.7
Exemplo A curva parametrizada
α : R −− − R3
−→
− z
t −−−−−→ α(t) = (t, t2 , t3 )
6

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
é regular, o que resulta de uma simples observação
qppqr(1,
qqqqqqqqqqq1, 1)
da primeira coordenada de: α0 (t) = (1, 2t, 3t2 ). qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqpqqqqqqqqpqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqq qqqpqqqp qqqqqqqqqqqqqqq
A figura 54 mostra o traço de α para t variando qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqpqpqqqqqpqqqqppqqqqpqqqqqq p qqppqqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qpqqqqq
qqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppppqqqppqqqqppqqqpqppqpqqq qpqpqqpqqqqqqpqqpqqqqqqqqppqqqppqqqppqqqqqqp qqqpqqqqpqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
no intervalo [−1, 1]. Os cubos esboçados servem qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqpqqqqpqqpqqqqqppqqqqqpqqqqqpqqqqqpqqqqqpqqqqqpqqqqqqqqpqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq y
qqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqqqqqqqqqq qqppqppqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqpqqqpqqqqqqqppqqqpqqqpqqqqpqqqqqqq
para destacar um pouco mais a beleza da curva.
Como exercı́cio, o leitor está convidado a esboçar qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpr(−1, 1, −1)
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq

x qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
as projeções de α nos planos coordenados: no
plano-xy, temos a parábola y = x2 ; no plano-xz Figura 54
aparece a cúbica z = x3 ; e no plano-yz, re-obte-
mos a parábola semi-cúbica do exemplo 2.3.6.

2.3.8
Curvatura e Torção

Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada regular, três vezes derivável em I. Como α


é regular, seu vetor tangente, em qualquer ponto, é não-nulo. Logo, podemos tomar o vetor
unitário em sua direção (veja proposição 1.2.6, item (iii)), o que produz a seguinte definição.

2.3.9
Definição Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada regular. Dado t ∈ I, o vetor

α0 (t) α0 (t)
T (t) = =
kα0 (t)k v(t)

é chamado vetor tangente unitário de α em t.


Cálculo das Curvas Parametrizadas 71

Visando motivar a noção de curvatura de uma curva parametrizada regular, consideremos


a reta que passa pelo ponto P e é paralela ao vetor V , parametrizada por
γ(t) = P + tV, t ∈ R.
É claro que γ 0 (t) é constante e coincide com V . Logo, seu vetor tangente unitário também
é constante: T (t) = V / kV k. Portanto, T 0 é um vetor identicamente nulo. Em particular,
kT 0 (t)k = 0, ao longo de R. Geometricamente, isto significa que γ não se curva, o que já
sabı́amos, pois γ descreve uma reta. Portanto, se α é uma curva parametrizada regular qualquer,
é razoável se esperar que o número kT 0 (t)k indique o quanto o seu traço deixa de ser retilı́neo
perto de α(t). De fato, como T tem norma constante, o vetor T 0 indica apenas a mudança
de direção de T . Portanto, kT 0 k serve para medir esta variação. Por razões teóricas, o bom
número para fazer esta medida é kT 0 (t)k /v(t), que para a reta γ é identicamente nulo. Mais
precisamente, temos a noção de curvatura, definida como segue.

2.3.10
Definição Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada regular. Dado t ∈ I, o número
kT 0 (t)k kT 0 (t)k
κ(t) = =
kα0 (t)k v(t)
é chamado curvatura de α em t.

2.3.11
Exemplo Consideremos o cı́rculo α(t) = (x0 + a cos t, y0 + a sen t), t ∈ R, de raio a e
centro C = (x0 , y0 ), como no exemplo 1.4.4. Temos que α0 (t) = (−a sen t, a cos t)
e v(t) = a. Logo,
α0 (t) (−a sen t, a cos t)
T (t) = = = (− sen t, cos t), t ∈ R.
v(t) a
Donde T 0 (t) = (− cos t, − sen t) e, portanto,
kT 0 (t)k k(− sen t, − cos t)k 1
κ(t) = = = ,
v(t) a a
resultado que fortalece o conteúdo geométrico da noção de curvatura: um cı́rculo se curva
igualmente, de modo inversamente proporcional ao seu raio, em todos os seus pontos, devido a
homogeneidade de sua forma geométrica.

2.3.12
Exemplo Calculemos, agora, a curvatura da hélice circular λ(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R.
Uma computação direta dá que
λ0 (t) = (−a sen t, a cos t, b)

v(t) = kλ0 (t)k = a2 + b2
a sen t a cos t b
T (t) = (− √ ,√ ,√ )
2
a +b 2 2
a +b 2 a + b2
2

a cos t a sen t
T 0 (t) = (− √ , −√ , 0).
a2 + b 2 a2 + b 2
72 Geometria das Curvas Parametrizadas

Logo,
a
√ 0
kT (t)k 2 2 a
κ(t) = = √a + b = 2 .
v(t) a2 + b 2 a + b2
Portanto, a hélice circular também tem curvatura constante. Entretanto, os nosso olhos (veja
a figura 1.5.15 ou a figura 47) percebem uma grande diferença entre a hélice e o cı́rculo. Esta
diferença será detectada por um novo elemento geométrico das curvas parametrizadas, a torção,
que será definida posteriormente. Antecipamos que esta nova noção servirá para indicar o quanto
o traço da curva deixa de ser plano.

2.3.13
Exemplo Retomemos a curva parametrizada do √exemplo 2.3.7: α(t) = (t, t2 , t3 ), t ∈ R.
0 2 2 4
Temos que α (t) = (1, 2t, 3t ) e v(t) = 1 + 4t + 9t . Portanto,

1 2t 3t2
T (t) = ( √ ,√ ,√ ).
1 + 4t2 + 9t4 1 + 4t2 + 9t4 1 + 4t2 + 9t4
Este exemplo mostra que nem sempre o cálculo da curvatura é tão simples como nos dois
exemplos anteriores. A dificuldade aqui é que o cálculo (com as mãos) de T 0 (t) é relativamente
trabalhoso (não impossı́vel). De qualquer forma, ele motiva a busca de um modo mais suave para
o cálculo de κ, notadamente nos casos onde a tarefa para o cálculo de T 0 é árdua. Felizmente,
existe um modo de evitar esta dificuldade, como veremos na proposição 2.3.23. O cálculo de κ
para α será, portanto, transferido para um momento oportuno.
A partir deste ponto, nesta seção, a menos que
se diga explicitamente o contrário, trabalharemos com z
3
uma curva parametrizada regular α : I ⊂ R −→ R três 6
B
vezes derivável no intervalo I. Admitiremos, também,
α(t)pppprppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp

que a curvatura de α, κ, é sempre positiva em I ou, T  ppp
pp pppp
pppp p
p p
0
equivalentemente, que o vetor T (t) é sempre não-nulo p

p p
)
 p J
ppp
0
α (t) 
p
p
)

ao longo de I. A primeira construção relevante que re- p p p J^ J N
ppp p pp J -
p
sulta destes fatos é o vetor normal unitário de α. De pp pp pp J y
J^
fato, como T (t) · T (t) = 1, para todo t ∈ I, obtemos, p p T 0 (t)
usando a proposição 2.2.13, que T 0 (t) · T (t) = 0. Como
T 0 (t) 6= (0, 0, 0), vem que T 0 (t) é um vetor não-nulo per- x
pendicular a T (t), t ∈ I. O vetor normal unitário de α Figura 55: Triedro de Frenet
surge agora. {T, N, B}

2.3.14
Definição Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada regular com κ(t) > 0, para todo
t ∈ I. Dado t ∈ I, o vetor

T 0 (t)
N (t) =
kT 0 (t)k

é chamado vetor normal unitário de α em t.


Cálculo das Curvas Parametrizadas 73

De posse de T e N , é bastante natural a construção de B, o vetor binormal de α, o qual


é definido como segue.

2.3.15
Definição Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada regular com v(t) > 0, para todo
t ∈ I. Dado t ∈ I, o vetor unitário
B(t) = T (t) × N (t)
é chamado vetor binormal de α em t.

Agora temos uma base ortonormal, variando com t, ao longo de α, a saber:


{T (t), N (t), B(t)}, t ∈ I.
Esta famı́lia de bases é conhecida como triedro (ou referencial) de Frenet de α.

2.3.16
Exemplo No exemplo 2.3.11 vimos que, para o cı́rculo α(t) = (x0 + a cos t, y0 + a sen t),
t ∈ R, valem
v(t) = a
T (t) = (− sen t, cos t)
κ(t) = 1/a.
Logo, T 0 (t) = (− cos t, − sen t) e, portanto, N (t) = T 0 (t) = (− cos t, − sen t), visto que T 0 (t) é
unitário. Considerando α imergindo no R3 , com a terceira coordenada nula, teremos

e1 e 2 e3


B(t) = T (t) × N (t) = − sen t cos t 0 = (0, 0, 1) = e3 .
− cos t − sen t 0

2.3.17
Exemplo O vetor tangente unitário da hélice circular λ(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R, é,
conforme exemplo 2.3.12, dado por
a sen t a cos t b
T (t) = (− √ ,√ ,√ ),
a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2
Portanto,
a cos t a sen t
0 (− √ , −√ , 0)
T (t) a2 + b 2 a2 + b 2
N (t) = = a = (− cos t, − sen t, 0)
kT 0 (t)k √
a2 + b2
e
e1 e 2 e 3

1 −a sen t a cos t b = √ 1

B(t) = T (t) × N (t) = √ (b sen t, −b cos t, a).
a2 + b2 − cos t − sen t 0 a2 + b 2
74 Geometria das Curvas Parametrizadas

Vale notar aqui que derivando o vetor binormal, obtemos como resultado um múltiplo de N .
De fato,

1 b b
B 0 (t) = √ (b cos t, b sen t, 0) = − √ (− cos t, − sen t, 0) = − √ N (t). (¶11 )
a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2

No exemplo anterior percebemos que o vetor B 0 era um múltiplo do vetor N . Esta propri-
edade, que traz consigo outra propriedade geométrica das curvas parametrizadas –a torção–, não
é uma simples coincidência daquele exemplo. Na realidade, ela deve ser satisfeita por qualquer
curva parametrizada que cumpra a condição que estamos admitindo até aqui: κ sempre positiva.

2.3.18
Proposição Se α : I −→ R3 é uma curva parametrizada com κ > 0 e triedro de Frenet
{T, N, B}, então B 0 (t) = η(t)N (t), para alguma η : I −→ R derivável em I.
Demonstração: Começamos observando que B 0
é perpendicular a T . Com efeito, derivando B · T = 0,
B(t)
vem que 6
B 0 · T + B · T 0 = 0. (¶12 )
B 0 (t) r
Mas T 0 é paralelo a N . Logo, B ·T 0 = 0, o que substituı́do -
em (¶12 ) dá que B 0 · T = 0. Para finalizar a prova, α(t) N (t)
basta observar que B 0 é perpendicular a B, posto que B T (t)
tem norma constante, de acordo com a proposição 2.2.13.
Figura 56
Portanto, só resta para B 0 ser paralelo ao vetor N , isto é,
B 0 (t) = η(t)N (t). Que η é derivável, segue-se de η(t) =
B 0 (t) · N (t). pppppppppppppppppppppp

Agora podemos definir a torção de uma curva parametrizada com curvatura positiva.

2.3.19
Definição Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada regular com κ(t) > 0 em I. Dado
t ∈ I, o número

η(t) η(t)
τ (t) = 0 = ,
kα (t)k v(t)

onde η é a função construı́da na proposição 2.3.18, é chamado torção de α em t.

2.3.20
Exemplo Retornando ao exemplo 2.3.16, onde calculamos o triedro de Frenet do cı́rculo
α(t) = (x0 + a cos t, y0 + a sen t, 0), t ∈ R, vemos que o vetor binormal desta
curva parametrizada é constante: B(t) = (0, 0, 1), vetor normal ao plano-xy, plano que contém
o tr α. Logo, B 0 (t) = (0, 0, 0), para todo t ∈ R. Portanto, η(t) = 0, o que implica que
τ (t) = η(t)/v(t) = 0/a = 0.
Cálculo das Curvas Parametrizadas 75

2.3.21
Exemplo Para calcular a torção da hélice circular λ(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R, simples-
mente usamos a equação (¶11 ) do exemplo 2.3.17:
b
B 0 (t) = − √ N (t), t ∈ R.
a2 + b2

Esta equação mostra que η(t) = −b/ a2 + b2 . Logo,
b
−√
2 2 b
τ (t) = η(t)/v(t) = √ a + b = − 2 .
a2 + b 2 a + b2

A seguir apresentaremos um teorema fundamental para o estudo das curvas parametriza-


das, o qual contém as três equações conhecidas como equações de Frenet.

2.3.22 [Equações de Frenet]


Teorema Seja α : I ⊂ R −→ R3 uma curva parametrizada re-
gular com curvatura κ(t) > 0, para todo t ∈ I. Se
{T,N,B} é o triedro de Frenet de α e τ é a torção de α, então valem as seguintes equações:

(i) T 0 (t) = κ(t)v(t)N (t), t ∈ R;


(ii) N 0 (t) = − κ(t)v(t)T (t) − τ (t)v(t)B(t), t ∈ R;
(iii) B 0 (t) = τ (t)v(t)N (t), t ∈ R;
Demonstração: As primeira e terceira equações decorrem diretamente das definições
de curvatura e torção, respectivamente. A equação (ii) merece uma atenção especial. Vejamos
sua prova.
De kN k = 1 vem que N 0 é perpendicular a N .
Logo, N 0 deve ser uma combinação linear dos vetores
ortonormais T e B. Isto posto, resulta que N (t)
T (t)
N 0 (t) = a(t)T (t) + b(t)B(t), t ∈ I,
6


onde a(t) = N 0 (t) · T (t) e b(t) = N 0 (t) · B(t). Derivando α(t) r -B(t)
HH
N · T = 0 e N · B = 0, obtemos, respectivamente, que H a(t)
HH
N 0 · T = −N · T 0 e N 0 · B = −N · B 0 . Logo,
j
b(t) N 0 (t)
a = N 0 · T = −N · T 0 = −N · κ vN = − κ v
Figura 57
e
b = N 0 · B = −N · B 0 = −N · τ vN = −τ v,
onde foram usadas as equações (i) e (iii). Donde segue-se a segunda equação de Frenet, e termina
o teorema. ppppppppppppppppppppp

Pronto! Agora já temos condições de obter uma fórmula que permite o cálculo da curva-
tura, para os casos onde o cálculo de T 0 não é simples, conforme comentamos no exemplo 2.3.13.
76 Geometria das Curvas Parametrizadas

Na realidade, temos um pouco mais do que isto: temos um conjunto de fórmulas que dão um
modo alternativo eficiente para o cálculo do aparato de Frenet, {κ, τ, T, N, B}, de uma curva
parametrizada regular α.

2.3.23
Teorema Seja α : I ⊂ R −→ R3 uma curva parametrizada regular com aparato de Frenet
{κ, τ, T, N, B} . Temos as seguintes fórmulas:

Fórmulas Úteis

α0 (t)
v(t) = kα0 (t)k (1) T (t) = (2)
v(t)

α0 (t) × α00 (t)


B(t) = (3) N (t) = B(t) × T (t) (4)
kα0 (t) × α00 (t)k

kα0 (t) × α00 (t)k (α0 (t) × α00 (t)) · α000 (t)
κ(t) = (5) τ (t) = − (6).
v 3 (t) kα0 (t) × α00 (t)k2

Demonstração: Tudo começa com α0 (t) = v(t)T (t), ou α0 = vT . Derivando esta


expressão, e usando a primeira equação de Frenet, temos que
dv dv
α00 = T + vT 0 = T + κ v 2 N, (¶13 )
dt dt
a qual, quando derivada, produz
d2 v
000 dv 0 d(κ v 2 )
α = 2T + T + N + κ v2N 0.
dt dt dt
Agora, usando a segunda equação de Frenet, esta última equação fica:
d2 v dv d(κ v 2 )
α000 = ( − κ2 3
v )T + (κ v + )N − κ τ v 3 B. (¶14 )
dt2 dt dt
Das equações (¶13 ) e (¶14 ) resultam, naturalmente, as fórmulas de (1) a (6). De fato,
dv
α0 × α00 = vT × (
T + κ v 2 N ) = κ v 3 B,
dt
pois T × T = O e T × N = B. Donde, kα0 × α00 k = κ v 3 ,
α0 × α00 α0 × α00
B(t) = = ,
κ v3 kα0 × α00 k
e as fórmulas (3) e (5) vêm. Para obter a fórmula (6), calculamos o produto misto (α0 × α00 ) · α000 .
Temos
d2 v dv d(κ v 2 )
(α0 × α00 ) · α000 = κ v 3 B · ( 2 T − κ2 v 3 )T + (κ v + )N − κ τ v 3 B) = − κ2 τ v 6 = −(κ v 3 )2 τ.
dt dt dt
Portanto,
(α0 × α00 ) · α000 (α0 × α00 ) · α000 pppppppppp
p p
τ =− = − 2 . pppppppppp
(κ v 3 )2 kα0 × α00 k
Cálculo das Curvas Parametrizadas 77

2.3.24
Exemplo Usaremos as fórmulas úteis para calcular o aparato de Frenet da curva parame-
trizada do exemplo 2.3.13: α(t) = (t, t2 , t3 ), t ∈ R. Cálculos simples mostram
que
α0 (t) = (1, 2t, 3t2 ), α00 (t) = (0, 2, 6t) e α000 (t) = (0, 0, 6).
Segue-se, então, que

v(t) = 1 + 4t2 + 9t4
α0 (t) × α00 (t) = 2(3t2 , −3t, 1)

kα0 (t) × α00 (t)k = 2 1 + 9t2 + 9t4 .
Portanto,
1
T (t) = √ (1, 2t, 3t2 )
2
1 + 4t + 9t4

1
B(t) = √ (3t2 , −3t, 1)
2
1 + 9t + 9t4

1
N (t) = √ √ (−9t3 − 2t, 1 − 9t4 , 6t3 + 3t)
2 4 2
1 + 4t + 9t 1 + 9t + 9t4


1 + 9t2 + 9t4
κ(t) = 2
(1 + 4t2 + 9t4 )3/2
3
τ (t) = − .
1 + 9t2 + 9t4
As coordenadas do vetor α00 com relação aos vetores T e N que aparecem na equação (¶13 )
recebem nomes especiais na Fı́sica.

2.3.25
Definição Dada uma curva parametrizada α : I −→ R3 com κ(t) > 0, as funções
dv
(t) e aN (t) = κ(t)v 2 (t)
aT (t) =
dt
são chamadas componente tangencial e componente normal da aceleração de α, respectivamente.

2.3.26
Exemplo Para a hélice circular λ(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R, temos que
√ a
v(t) = a2 + b2 e κ(t) = .
a + b2 2

Logo, as componentes tangencial e normal da aceleração de λ são



dv d a2 +b2
aT (t) = dt
(t) = dt
(t) =0
a
aN (t) = κ(t)v 2 (t) = (a2 + b2 ) = a.
a + b2
2
78 Geometria das Curvas Parametrizadas

2.3.27
Curvas Planas

Seja π ⊂ R3 o plano passando pelo ponto P = (x0 , y0 , z0 ), tendo como vetor normal o
vetor Nπ = (a, b, c). Portanto, sua equação cartesiana é:

π = {X ∈ R3 ; (X − P ) · Nπ = 0},

ou, usando coordenadas,

π = {X = (x, y, z); ax + by + cz = d}, (¶15 )

onde d = ax0 + by0 + cz0 . Em resumo, um ponto X do R3 pertence ao plano π se, e somente se,
(X − P ) · Nπ = 0.

2.3.28
Definição Uma curva parametrizada α : I −→ R3 é dita plana se o seu traço está contido
em algum plano do R3 . Em outras palavras, existem um ponto P e um vetor
não-nulo Nπ tais que (α(t) − P ) · Nπ = 0.

2.3.29
Exemplo A curva parametrizada α(t) = (t, t2 + 1, 1 − t), t ∈ R, é plana. A idéia para
perceber isto é tentar descobrir uma equação similar à equação (¶15 ), onde

x = t, y = t2 + 1, e z = 1 − t.

Assim, por uma simples inspeção das coordenadas de α,


z
vemos que x + z = 1, isto é, 6

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqqpqqqqqqpqpqqpqqpqqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
α1 (t) + α3 (t) = 1 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqpqqqqqpqqqqpqqqpqqqqpqqqqqqqqpqqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
e, portanto, o traço de α está contido no plano π dado Nπ qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
AK qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
por A qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqpqpqqqqqqqpqqqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
π = {X = (x, y, z); x + z = 1} Arqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqqqpqqqqqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq y
P
que passa, por exemplo, por P = (1, 0, 0) e é perpendicu-

lar ao vetor Nπ = (1, 0, 1). Para visualizar o traço de α, x
note que ele também está contido no cilindro parabólico Figura 58
2
y = x + 1. Como mais uma aplicação do teorema 2.3.23,
calcularemos o aparato de Frenet para esta curva para-
metrizada, que é regular, visto que α10 (t) = 1, t ∈ R.
Temos que
α0 (t) = (1, 2t, −1), α00 (t) = (0, 2, 0), e α000 (t) = (0, 0, 0).
Logo, √
v(t) = 2 + 4t2 , α0 (t) × α00 (t) = (2, 0, 2), e (α0 (t) × α00 (t)) · α000 (t) = 0.
Cálculo das Curvas Parametrizadas 79

Donde
α0 (t) 1
T (t) = =√ √ (1, 2t, −1)
v(t) 2 1 + 2t2

α0 (t) × α00 (t) 2
B(t) = 0 00 = (1, 0, 1)
kα (t) × α (t)k 2
1
N (t) = B(t) × T (t) = √ (−t, 1, t)
1 + 2t2
kα0 (t) × α00 (t)k 1
κ(t) = 3 =
v (t) (1 + 2t2 )3/2
(α0 (t) × α00 (t)) · α000
τ (t) = − 2 = 0.
kα0 (t) × α00 (t)k
Vale notar, neste exemplo, que o vetor binormal de α é paralelo ao vetor normal do plano π:
Nπ = (1, 0, 1). Este fato, poderia, também, ser usado para o cálculo da torção de α. De fato,
como B é um vetor constante, vem que B 0 (t) = (0, 0, 0). Logo, τ (t) = 0, de acordo com a terceira
equação de Frenet (teorema 2.3.22). O teorema que segue generaliza os fatos aqui observados
para uma curva parametrizada regular plana com κ > 0.

2.3.30
Teorema Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada regular com κ(t) > 0 ao longo de I.
α é plana se, e somente se, sua torção é identicamente nula em I.
Demonstração: Temos duas coisas para fazer: se α é plana, então τ (t) = 0, sempre;
reciprocamente, se τ (t) = 0, para todo t ∈ I, então a α é plana. Vejamos a primeira tarefa.
Temos que existem P e Nπ 6= (0, 0, 0) tais que
z
(α(t) − P ) · Nπ = 0, ∀t ∈ I. 6 Nπ
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqπ
Donde, por derivação com relação a t, obtemos qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqB qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q 

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
α0 · Nπ = 0. qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqrqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq q q q q q q q q q q q q qq q q q q pqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqP qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqqpqqpqqpqqpqqqpqpqpqqqpqqpqqqpqqpqqpqqpqqpqqpqpqqpqqqqpqqqqpqqqpqqpqqqpqqqqqqrP pppp q qqqqqqqqqqqqqqqqT
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqqqqpqqqqqqpP qqqqpqpqpqpqpqqqqqP q q
Mas α0 = vT e v > 0. Logo, qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqα(t) qqqqqqqqqqqqqqqqqppqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqqpqqpqqqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq y
q q q q q q q q q q q q q q q q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq

T · Nπ = 0, qqN qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqqqqqqqqqqq p
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqq
qqqqqqqq

que produz, também por derivação, x
Figura 59
T 0 · Nπ = κ vN · Nπ = 0.

Portanto, T e N são perpendiculares ao vetor Nπ . Como {T, N, B} é, para cada t, uma base
ortonormal do R3 , vem que B(t) deve ser paralelo a Nπ . Portanto, B é um vetor constante, o que
implica τ (t) = 0, ∀t ∈ I, pela terceira equação de Frenet. Reciprocamente, se τ é identicamente
nula, vem da terceira equação de Frenet que B 0 (t) = (0, 0, 0), para todo t ∈ I. Logo, B é um
vetor constante, de acordo com o corolário 2.2.12. Agora, construı́mos a seguinte função real
80 Geometria das Curvas Parametrizadas

auxiliar:
f (t) = (α(t) − α(t0 )) · B, t ∈ I,
onde t0 ∈ I está fixo. Temos que

f 0 (t) = α0 · B = v(t)T (t) · B(t) = 0.

Isto implica que f é constante. Como f (t0 ) = 0, devemos ter f (t) = 0, para todo t, isto é,

(α(t) − α(t0 )) · B = 0, ∀t ∈ I.

Isto significa que tr α está contido no plano que passa pelo ponto P = α(t0 ) e é perpendicular
ao vetor constante B. ppppppppppppppppppppp

Como já havı́amos antecipado, de posse deste teorema, vemos que, de fato, a torção de
uma curva parametrizada serve para indicar o quanto ela deixa de ser plana.

2.3.31
Cı́rculos no Espaço

Sejam π um plano do R3 , C um ponto de π, e a um número real positivo. O subconjunto


de π dado por
S 1 (C, a) = {X ∈ π; kX − Ck = a}
é chamado cı́rculo de centro C e raio a do plano π. Fazendo um pequeno abuso de linguagem,
uma curva parametrizada α cujo traço esteja contido em S 1 (C, a) também será chamada cı́rculo,
se tr α coincide com S 1 (C, a), ou arco de cı́rculo, caso contrário.
O nosso objetivo aqui é encontrar uma descrição completa das curvas parametrizadas que
são cı́rculos (ou parte deles), a partir de sua curvatura. Observe que a torção de um cı́rculo,
como definimos acima, é nula (por quê?).
Para entender as construções que faremos no teo-
rema 2.3.34, retomamos os cálculos que fizemos para o y T (t)
cı́rculo α(t) = (x0 + a cos t, y0 + a sen t), t ∈ R. Sabe- p p p p p p pppppppppppppppppppppp@
pppppppppppp
pppppp
p
ppppp
6 I
rpppp α(t)
mos que sua curvatura é constante k(t) = 1/a e, claro, ppp p p ppp
@
p N (t) ppp
sua torção é nula. Outro fato geométrico notável neste pp ppp
pp ppp

C r
caso é que o vetor normal N (t) = (− cos t, − sen t) aponta pp a p
ppp p
ppp pp
sempre para o centro C = (x0 , y0 ). Em outras palavras, ppppp p p pp p
ppppppp pp
a reta que passa por α(t) e é paralela a N (t) contém C. pppppppppppppppppppppppppppppppp ppppp pp
Na realidade, como kα(t) − Ck = a, temos que -
x
1
C = α(t) + aN (t) = α(t) + N (t). Figura 60
κ(t)

Esta propriedade motiva a seguinte definição, para uma curva parametrizada arbitrária.
Cálculo das Curvas Parametrizadas 81

2.3.32
Definição Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada com curvatura κ positiva e vetor
normal unitário N . Dado t ∈ I, o ponto
1
C(t) = α(t) + N (t)
κ(t)

1
é chamado centro de curvatura de α em t. O número positivo ρ(t) = é chamado raio de
κ(t)
curvatura de α em t.

2.3.33
Exemplo Para a hélice λ(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R, temos que
a
κ(t) = e N (t) = (− cos t, − sen t, 0).
a + b2
2

Logo, ρ(t) = (a2 + b2 )/a e

a2 + b 2 b2 b2
C(t) = (a cos t, a sen t, bt) + (− cos t, − sen t, 0) = (− cos t, − sen t, bt),
a a a
que descreve outra hélice. Fica como exercı́cio para o leitor esboçar λ junto com seus centros
de curvatura.
O seguinte teorema classifica completamente as curvas parametrizadas que são cı́rculos.

2.3.34
Teorema Uma curva parametrizada plana é um cı́rculo se, e somente se, sua curvatura é
uma constante positiva.
Demonstração: Inicialmente, suponhamos que α seja um cı́rculo. Logo, sua torção τ é
nula e existem C ∈ R3 e a > 0 tais que

kα(t) − Ck2 = (α(t) − C) · (α(t) − C) = a2 , ∀t ∈ I.

Derivando (e omitindo o parâmetro t), obtemos

2α0 · (α − C) = 2vT · (α − C) = 0.

Donde T · (α − C) = 0, o que implica que N é paralelo a α − C, e

T 0 · (α − C) + T · α0 = κ vN · (α − C) + T · vT = v(κ N · (α − C) + 1) = 0.

Logo, κ N · (α − C) = −1. Usando a proposição 1.2.8, vem que

| κ N · (α − C)| = κ kN k kα − Ck | cos ∠(N, α − C)| = κ a| cos ∠(N, α − C)| = 1.

Como N é paralelo a α − C, segue-se que | cos ∠(N, α − C)| = 1, e vale κ a = 1, isto é, κ = 1/a.
82 Geometria das Curvas Parametrizadas

Reciprocamente, suponhamos que α é plana e tem curvatura constante, digamos κ = κ0 .


Verificaremos, então, que α é um cı́rculo. Isto será feito, estudando seus centros de curvatura.
Mais precisamente, provaremos que α tem centro de curvatura constante. De fato, seja
1 1
C(t) = α(t) + N (t) = α(t) + N (t).
κ(t) κ0
Temos que
1 0 1
C 0 = α0 +
N = vT + (− κ0 vT − τ vB),
κ0 κ0
onde foi usada a segunda equação de Frenet. Como α é plana, vem que τ = 0. Logo,

C 0 = vT − vT = (0, 0, 0)

e, portanto, C é constante. De

1
= 1,

kα(t) − Ck =
κ0 N (t) κ0

resulta que C é o centro de α e que a = 1/ κ0 é o seu raio. ppppppppppppppppppp

2.3.35
Exemplo Seja α(t) = (5 − 5 sen t, 4 + 4 cos t, −3 cos t), t ∈ R. Uma simples observação
das segunda e terceira funções coordenadas de α mostra que α é uma curva
plana. De fato, o plano π = {(x, y, z); 3y + 4z = 12} contém o traço de α, como é fácil
ver. Logo, sua torção é identicamente nula, de acordo com o teorema 2.3.30. Temos que
α0 (t) = (−5 cos t, −4 sen t, 3 sen t). Logo, v(t) = 5 e
4 3
T (t) = (− cos t, − sen t, sen t).
5 5 z
0 6
Como o cálculo de T é bastante simples, usaremos a
definição 2.3.10 para calcular a curvatura de α:
qqqqq
qq q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqrqqqqqqqqqqqqq(0,
qqqq 0, 3)
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqqpqqpqqpqqpqqqpqqqpqqpqqqpqqqpqpqqpqqqpqqqpqqqqpqqqqpqqqpqqqpqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq q q

4 3 qq q q q q p
qqqqqqqqqqqqqqpqqqqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqpqpqqpqppqqqqqq

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqpqpqqqpqqqprqqqqq (0, 4, 0) -
(sen t, − cos t, cos t)
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqqpqqqqqpqqqqqqpqqqqpqqqqqpqqqqqqqqqqqq
0
kT (t)k 5 5 1
κ(t) = = = . qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqrC qp q q y
v(t) 5 5 qqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqpqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqpqpqqqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
p
qqqqqqqqqqqqqqqpqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq p
qqqqqqqqqqqpqpqqpqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqaqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqpqqpqqpqqpqqqpqqqpqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqppqqqqqqqqqqqqqqqq
O teorema 2.3.34, agora, garante que α deve ser um qqqqqqqqqqqpqqpqqpqqpqpqpqqqqqpqpqqpqqpqqpqqpqqpqqpqqpqqpqqqpqqpqqpqqpqqqpqqpqqqpqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
cı́rculo do plano π. O seu raio mede a = 1/ κ = 5. Para x qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqq
calcular o seu centro, recorremos ao centro de curvatura Figura 61
C(t), que deve independer do parâmetro t. Com efeito,

C(t) = α(t) + ρ(t)N (t)


4 3
= (5 − 5 sen t, 4 + 4 cos t, −3 cos t) + 5(sen t, − cos t, cos t)
5 5
= (5, 4, 0).
Cálculo das Curvas Parametrizadas 83

2.3.36
Comprimento de Arco

Seja α : I ⊂ R −→ R3 uma curva parametrizada com α0 contı́nua no intervalo I. Fixados


a, b ∈ I, seja
P = {a = t0 < t1 < · · · < tn−1 < tn = b}
uma partição do intervalo fechado [a, b]. Esta partição dá origem à linha poligonal

p = [α(t0 ), α(t1 )] ∪ [α(t1 ), α(t2 )] ∪ [α(t2 ), α(t3 )] ∪ · · · ∪ [α(tn−1 ), α(tn )],

z p p ppp pppppp pppp ppp r α(b)


6 α(tn−1 ) prpp pppppppp pppppp pp ppppp ppp pppp pppp
p pp
pp pp
pp
pp
ppprpp α(t2 )
p
ppppp
pp ppp pp
pp
I r r tr 2 tr n−1 r α- p ppp
pp pppp
p
-
ppp p p pp p p pp pp ppppppppppr α(t1 )
a = t0 t1 b = tn y
p prppp ppp pp pp pp p pp
pp pppp
α(a) p pppppppp p

x
Figura 62

onde [α(ti ), α(ti−1 )] indica o segmento de reta que liga α(ti ) a α(ti−1 ), para 1 ≤ i ≤ n. O
comprimento de p, que indicaremos por s(p), é dado por
n
X
s(p) = kα(t1 ) − α(t0 )k + kα(t2 ) − α(t1 )k + · · · + kα(tn ) − α(tn−1 )k = kα(ti ) − α(ti−1 )k
i=1

Para cada i, 0 ≤ i ≤ n. Aplicando o teorema 2.2.11 a cada parcela de s(p), obtemos que
n
X n
X
l(p) = kα(ti ) − α(ti−1 )k ≤ kα0 (ci )k (ti − ti−1 ),
i=1 i=1

para alguns ci , ti−1 < ci < ti , 1 ≤ i ≤ n. Agora, se tomamos P suficientemente fina, esta última
desigualdade mostra que a soma de Riemann da função real v = kα0 k, dada por
n
X
kα0 (ci )k (ti − ti−1 ),
i=1

dá uma boa aproximação para l(p) e, portanto, é também uma boa aproximação para o com-
primento de arco de α entre t = a e t = b. Diante desta exposição intuitiva, torna-se razoável a
seguinte definição.
84 Geometria das Curvas Parametrizadas

2.3.37
Definição Seja α : I −→ Rn uma curva parametrizada com α0 contı́nua no intervalo I.
Dados a, t ∈ I, o comprimento de arco de α entre a e t é definido por
Z t Z t
0
l[a,t] α = kα (u)k du = kv(u)k du .
a a

2.3.38
Exemplo O comprimento de arco do cı́rculo α : R −→ R2 , α(t) = (a cos t, a sen t), entre 0
e t é dado por
Z t Z t
l[0,t] α = v(u) du = a du = at.
0 0
Em particular, o comprimento de α entre 0 e 2π é 2πa, resultado bastante conhecido.

2.3.39
Exemplo O comprimento de arco da hélice circular λ : R −→ R3 , λ(t) = (a cos t, a sen t, bt),
entre 0 e t é dado por
Z t Z t√ √
l[0,t] λ = v(u) du = a2 + b2 du = a2 + b2 t.
0 0

Em particular, o comprimento de uma espira de λ é l[0,2π] λ = 2 a2 + b2 π.

2.3.40 [Evolvente]
Exemplo Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada regular duas vezes de-
rivável em I. Fixado t0 ∈ I, indiquemos por s(t) o comprimento de
arco de α entre t0 e t, isto é,
Z t Z t
s(t) = l[t0 ,t] α = v(t) dt = kα0 (t)k dt .
t0 t0

A curva parametrizada
s(t) 0
β(t) = α(t) − s(t)T (t) = α(t) − α (t), t ∈ I,
v(t)
onde T é o vetor tangente unitário de α, é chamada evolvente de α. No caso em que α é o
cı́rculo α(t) = (a cos t, a sen t), t ∈ R, e t0 = 0, temos que v(t) = a e s(t) = at. Logo,
s(t) 0
β(t) = α(t) − α (t)
v(t)
= (a cos t, a sen t) − t(−a sen t, a cos t)
= (a cos t + at sen t, a sen t − at cos t),
conforme o exemplo 2.2.5. Observe que s0 (t) = v(t). Logo,
β 0 (t) = α0 (t) − v(t)T (t) − s(t) κ(t)v(t)N (t) = −s(t) κ(t)v(t)N (t).
O que indica que as retas tangentes da evolvente são paralelas às retas normais da curva original.
2
Exercı́cios
86 Curvas Parametrizadas – Exercı́cios

2-1 Ache os pontos em que a curva parametrizada α(t) = (2t2 , 1 − t, 3 + t2 ), t ∈ R, intercepta o


plano dado por 3x − 14y + z = 10.

2-2 Verifique se α(t) = (t, 8 + 2t − t2 , t + 4), −2 ≤ t ≤ 4, é uma curva regular.

2-3 Dada α(t) = (et , t, 1), t ∈ R, esboce o traço de α no R3 juntamente com os vetores tangentes
α0 (0) e α0 (1).

2-4 Encontre a reta tangente de α em α(t0 ).

(a) α(t) = (2 cos t, 2 sen t, t), t0 = 0;


(b) α(t) = t(cos t, sen t, 1), t0 = 0;
(c) α(t) = (t, t2 , t3 ), t0 = 1;
(d) α(t) = (2t, t2 , t3 /3), t0 = 1.

2-5 Mostre que as curvas

α(t) = (et , e2t , 1 − et ) e β(t) = (sen t, 1 + cos t, 2 cos t)

interceptam-se no ponto (1, 1, 0). Ache, também, o ângulo entre suas tangentes nesse
ponto.

2-6 Seja γ = tr α, onde α(t) = (sen 2t, 2 sen2 t, 2 cos t), 0 ≤ t ≤ 2π.

(a) Mostre que γ está contida em uma esfera centrada na origem;


(b) Represente graficamente as projeções de γ sobre os planos coordenados e conclua que γ
é a interseção de um cilindro circular e de um cilindro parabólico;
(c) Calcule o vetor velocidade α0 (t) e a velocidade escalar v(t) e mostre que γ é uma curva
regular;
(d) Verifique que a projeção de α0 (t) sobre o plano z = 0 possui norma constante.

2-7 Seja α : R −→ R3 a curva dada por α(t) = (t, t2 , t3 ), t ∈ R.

(a) Se possı́vel, ache P = α(t) onde a tangente à curva dada é paralela a A = (4, 4, 3);
(b) Idem, para que a tangente seja ortogonal ao vetor A;
(c) Sendo L a reta tangente à curva dada em um ponto qualquer Q 6= α(0), considere o
ponto M (t) em que L intercepta o plano z = 0. Mostre que M (t) = (2t/3, t2 /3, 0), t 6= 0,
e que tais pontos descrevem a parábola definida por 4y = 3x2 e z = 0.

2-8 Seja λ(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R, a > 0, b > 0. Se θ3 (t) é o ângulo entre α0 (t) e o eixo-z,
b
mostre que cos θ3 (t) = √ . Donde θ3 (t) é constante;
a2 + b 2
Curvas Parametrizadas – Exercı́cios 87

2-9 Considere a ciclóide α(t) = (at − a sen t, a − a cos t), t ∈ R. Se P = α(t) é um ponto regular
qualquer de tr α, seja Q(t) = (at, 0) o correspondente ponto de contato do cı́rculo móvel com
o eixo-x e M = (at, 2a) o ponto do cı́rculo diametralmente oposto a Q (cf. figura abaixo).
(a) Mostre que a tangente ao tr α em P passa pelo ponto M ;
(b) Conclua, usando o fato, conhecido da Geometria Euclidiana, que todo triângulo inscrito
em um semicı́rculo é retângulo, que a normal ao tr α em P passa pelo ponto Q;
(c) Calcule o comprimento do arco de cı́rculo P M .
y
6 Mq tr α
P q

t
a
q -
Q x

2-10 Seja α : I −→ Rn duas vezes derivável no intervalo I de R. Mostre que:


(a) α é constante ⇐⇒ α0 (t) = 0 em I ⇐⇒ v(t) = 0 em I;
(b) α00 (t) ⊥ α0 (t) em I ⇐⇒ v(t) é constante em I;
(c) α00 (t) = 0 em I ⇐⇒ α é uma reta do Rn .
2-11 Sejam f, g : R −→ R duas funções de classe C ∞ , com f > 0. Defina α : R −→ R3 por
Z t Z t Z t
α(t) = ( f (u) sen(u) du, f (u) cos(u) du, f (u)g(u) du).
a a a

(a) Mostre que a curvatura e a torção de α são dadas por:


s
2
1 1 + g 2 (t) + g 0 (t) 1 g(t) + g 00 (t)
κ(t) = e τ (t) = .
f (t) (1 + g 2 (t))3 f (t) 1 + g 2 (t) + g 0 2 (t)

(b) Obtenha uma condição necessária e suficiente para que α seja uma curva plana;
(c) Exiba uma tal α que seja plana.
2-12 Determine o triedro de Frenet, a curvatura, o raio de curvatura, o centro de curvatura, a
torção e as componentes tangencial e normal da aceleração em um ponto qualquer das curvas
abaixo.
(a)α(t) = (2t, t2 , t3 /3);
(b)α(t) = (3t − t3 , 3t2 , 3t + t3 );
(c)α(t) = et (cos t, sen t, 1);

(d)α(t) = (et , e−t , t 2).
4 3
2-13 Seja α(t) = ( cos 5t, − sen 5t, − cos 5t), t ∈ R. Mostre que o traço de α é um cı́rculo.
5 5
Ache seu centro, seu raio e o plano que o contém.
88 Curvas Parametrizadas – Exercı́cios

2-14 Seja α(t) = (cos t, sen t, 1 − sen t), t ∈ R.


(a) Mostre que o traço de α está contido no cilindro x2 + y 2 = 1;
(b) Obtenha o triedro de Frenet, a curvatura e a torção de α;
(c) Conclua que α é uma curva plana e determine o plano que a contém;
(d) Segue-se de (a) e (c) que α é uma elipse. Ache o centro, os semi-eixos e os focos de α;
(e) Em que pontos de α a curvatura é máxima? mı́nima?
2-15 A posição de um ponto móvel do plano é dada por α(t) = (t, a cos ωt), t ≥ 0, onde a e
ω = 2π/L são constantes positivas. Encontre, no ponto α(L/2), as componentes tangencial
e normal da aceleração.
2-16 Um ponto material desloca-se ao longo da trajetória elı́tica parametrizada por
~r = ~r(t) = (a cos ωt)~ı − (b sen ωt)~, t ∈ R.
Mostre que a aceleração desse movimento é central e que seu módulo é proporcional à
distância da origem ao ponto móvel.
2-17 Um automóvel viaja com velocidade (escalar) constante numa curva de raio 1km de uma
auto-estrada. Se a componente normal da aceleração não pode exceder 1, 2m/s2 , determine
a máxima velocidade possı́vel.
2-18 Suponha que um alvo se desloca com velocidade escalar constante v > 0 ao longo da cir-
cunferência x2 + y 2 = a2 , partindo de (a, 0) no sentido anti-horário. Ao mesmo tempo, um
mı́ssil, também com velocidade escalar v, persegue o alvo, partindo do centro C = (0, 0),
mantendo-se sempre entre o centro e o alvo.
(a) Seja A(t) a posição do alvo no tempo t ≥ 0. Mostre que A(t) = (a cos ωt, a sen ωt),
ω = v/a;
(b) Observando que e a posição do mı́ssil é dada por M (t) = λ(t)A(t), com 0 ≤ λ(t) ≤ 1, e
que kM 0 (t)k = v, mostre que o mı́ssil atingirá o alvo no ponto (0, a);
(c) O que ocorrerá se a velocidade do mı́ssil é menor (maior) do que v?
2-19 (Mantenha as notações do exemplo 2.2.21.) Supondo desprezı́vel a resistência do ar e cons-
tante a aceleração ð da gravidade, seja A = (0, −g) = α00 (t), em relação ao referencial plano
indicado abaixo.
(a) Se Q = α(0) = (0, h), h > 0, e V = α0 (0) = (0, v0 ), v0 > 0, então
1
α(t) = (0, h + v0 t − gt2 ), t ≥ 0,
2
descreve a posição de uma partı́cula lançada verticalmente, de baixo para cima, com
velocidade escalar inicial v0 ;
y
6
y
6
V ppppppp ppppppppppppppppppppppppppppp
v2 pppppp ppppppp
p p p ppppp
p p p
 pppp ppppp
pppp
ð p p p p pppp
qQ
6
p pp p
pp p p p ppppp θ pppp
ppp -
h pp p
?
-
x v1 x
Curvas Parametrizadas – Exercı́cios 89

(b) Se Q = α(0) = (0, 0) e V = α0 (0) = (v1 , v2 ), v1 6= 0, v2 6= 0, então

1
α(t) = (v1 t, v2 t − gt2 ), t ≥ 0,
2
é a equação da posição de um projétil no plano-xy, lançado da origem com velocidade
V . Seja θ o ângulo entre V e o x-eixo, e v0 = kV k. Temos v1 = v0 cos θ e v2 = v0 sen θ.
Donde
1
α(t) = ((v0 cos θ)t, (v0 sen θ)t − gt2 ), t ≥ 0;
2
2
(c) Se a trajetória de um ponto é a parábola y = ax + bx + c, na qual o vetor velocidade
V (t) = (vx , vy ) possui a componente horizontal vx constante, mostre que a aceleração é
constante.
2-20 Como no exemplo 2.2.21, sejam Q = α(0) = (−4, −4, 0), V = α0 (0) = (1, −1, −1) e
A = (2, 2, 0).
(a) Mostre que α(t) = (−4 + t + t2 , −4 − t + t2 , −t), t ≥ 0;
(b) Considere a base ortogonal B1 = {u1 , u2 , u3 } do R3 , onde

u1 = (1, −1, −1), u2 = (−1, −1, 0) e u3 = (−1, 1, −2).

Seja P a matriz de passagem de B1 para a base canônica. Use a relação X1 = P X,


com X1 = (x1 , y1 , z1 ) e X = (x, y, z), para mostrar que, na base B1 , α(t) se escreve
X1 (t) = (t, 4 − t2 , 0), t ≥ 0. Conclua que α é um arco de parábola contido no plano
x − y + 2z = 0.
2-21 Considere o movimento do projétil do exercı́cio 2-19 (b). Mostre que:
(a) O raio de curvatura de α na origem vale ρ0 = v02 /(g cos θ);
(b) O raio de curvatura de α é mı́nimo no ponto mais alto da trajetória parabólica e vale
ρmin = v02 cos2 θ/g;
(c) Em um ponto qualquer, onde φ é o ângulo entre a tangente e o x-eixo, o raio de curvatura
é igual a ρ = ρmin / cos3 φ.
2-22 Seja α : I ⊂ R −→ R3 uma curva regular com κ > 0. A curva parametrizada α∗ (t) = C(t),
t ∈ I, onde C(t) é centro de curvatura de α em t, é chamada curva central de α.
(a) Dados a, b ∈ R, a > 0, ponha

αab : R −− − R3
−→

t −−−−−→ αab (t) = (a cos t, a sen t, bt).

Mostre que αab = αab , onde a = −b2 /a;
∗ ∗
(b) Conclua que (αab ) = αab ;
(c) Interprete geometricamente o caso b = 0;
(d) A curva central de curva α com κ > 0 é constante se, e somente se, o traço de α está
contido em um cı́rculo.
90 Curvas Parametrizadas – Exercı́cios

2-23 Calcule o comprimento de arco de α entre a e b, onde α, a e b são como abaixo.


(a) α(t) = (cos t, sen t, t), a = 0 e b = π;
(b) α(t) = (t − sen t, 1 − cos t), a = 0 e b = 2π;
(c) α(t) = et (cos t, sen t, 1), a = 0 e b = log 3;
(d) α(t) = (2t, t2 , t3 /3), a = 0 e b = 1;
2-24 Em um plano vertical, considere um trilho de forma cicloidal,

x = aθ(t) − a sen θ(t), e y = a − a cos θ(t),

sobre o qual pode deslizar uma pequena esfera de massa m, sem atrito apreciável, abando-
nada da origem com velocidade inicial nula.
(a) Numa posição genérica P , usando a conservação da energia mecânica, mostre p que
mg2a = mgh + 21 mv 2 , onde h = 2a − y. Conclua que θ0 (t)2 = g/a, donde θ(t) = g/at.
p
Segue que o perı́odo T das oscilações da esfera ao longo do trilho é T = 2π a/g.

ppp x
r πa
r 2πa
ppp p ppr -x
p pp p
p pp p p pp
pp p p y pp p p p
p pp p p p p pp p
ppp p p p
ppppp p p p p p p p p ppp
prp pP
ppppppp pppppp
ppppppppp
p p p p p p p p p p ppppppp
2a h p p p p p p p p p ppppppppppppppppppp
r pppppppp p
? y B

Observe que nenhuma aproximação angular foi usada. O mesmo argumento anterior
mostra que T não depende da posição inicial da esfera sobre a ciclóide.
(b) Considere, a seguir, um trilho retilı́neo, ligando os pontos O e B, no qual a mesma esfera
desliza sem atrito. Mostre
p que o tempo T1 usado no percurso retilı́neo OB é maior do
que o tempo T2 = π a/g ao longo da ciclóide, verificando que

T22 π
2 =
√ < 1.
T1 2
π +4
(Mais precisamente, pode ser provado que, dentre as curvas regulares que ligam O a B,
é a ciclóide que realiza o tempo mı́nimo de percurso, nas condições do enunciado. Isto
posto, qual o melhor perfil para um tobogã?)
3
Funções Contı́nuas

xn R n x m Rm
6 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqrqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqaqqqqqqqqqqqqq
6
D f (X)
q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q qq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqaqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqX qqqqrqqqqqrqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqL qqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq - f
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq - -
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq x1 xm−1
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq x1

qqqqqqq

∀ > 0, ∃δ > 0 : X ∈ D, 0 < ||X − X0 || < δ =⇒ ||f(X) − L|| < 

por
J. Adonai & A. Carlo
3.1
Limite

O significado intuitivo da notação limX→X0 f (X) = L, onde f : D ⊂ Rn −→ Rm , X0 ∈ Rn


e L ∈ Rm , é o de proximidade arbitrária entre f (X) e a m-upla L, para X ∈ D suficientemente
próximo de X0 . Indicando a noção de proximidade entre dois pontos pela ordem de grandeza
de sua distância, podemos reformular a interpretação inicial: damos uma medida arbitrária de
proximidade entre f (X) e L, representada por  > 0, e exigimos que
kf (X) − Lk < , se X ∈ D, e 0 < kX − X0 k < δ,
para algum número positivo δ. A condição 0 < kX − X0 k < δ indica que estamos preocupados
com o comportamento de f perto de X0 , mesmo que este ponto não pertença a D. O que é
preciso, isto sim, é que existam pontos de D suficientemente próximos de X0 ou, em outras
palavras, que os pontos de D se acumulem em torno de X0 . A seguir, formalizaremos todas
estas noções.

3.1.1 [Bolas]
Definição Sejam X0 ∈ Rn e a > 0.

(i) O conjunto
B(X0 , a) = {X ∈ Rn ; kX − X0 k < a}
é chamado bola aberta de centro X0 e raio a.
(ii) O conjunto
B[X0 , a] = {X ∈ Rn ; kX − X0 k ≤ a}
é chamado bola fechada de centro X0 e raio a.

Observação As bolas abertas de R são intervalos abertos. Mais precisamente, se x0 ∈ R e


a > 0, então
B(x0 , a) = {x ∈ R; |x − x0 | < a} = (x0 − a, x0 + a).
Analogamente, B[x0 , a] coincide com o intervalo fechado [x0 − a, x0 + a]. No R2 , a bola aberta
B(X0 , a), que também chamamos de disco aberto, coincide com a região delimitada pelo cı́rculo
centrado em X0 e de raio a, mas que não contém esta. Se unimos esta região com o cı́rculo
S 1 (X0 , a), obtemos a bola fechada B[X0 , a], ou, alternativamente, o disco fechado B[X0 , a].
y z
6 pqqpqpqqpqqpqqpqqqpqqqpqqpqqpqqqpqqpqqqpqqpqqpqqpqqqpqpqp 6 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
pqq qq qqqqqqqqqqqqqq qq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqaqqqqqqqqqqqq
pqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqaqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqp qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqaqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
R2 qqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqrqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpppp R3 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
R pqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqp qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX qqqqqqqqqqq qqq
qpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX
pppqqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq0pqqqqqqqpqqqpqqqpqqpqqpp
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
pp qqppqqpp pp p qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
a q a - -
x0 − a x0 x0 + a x y

x
Figura 63: Bolas Abertas em R, R2 e R3

92
Funções Contı́nuas 93

Os mesmos comentários podem ser feitos para as bolas do R3 , onde uma bola aberta deve ser
olhada como a região envolvida por uma esfera, a esfera de mesmos centro e raio que a bola.

3.1.2
Definição Um ponto X0 ∈ Rn é dito ponto de acumulação do conjunto D ⊂ Rn se toda
bola aberta centrada em X0 contém algum ponto X ∈ D, X 6= X0 . Em outras
palavras, dado qualquer número real positivo δ, existe X ∈ B(X0 , δ) ∩ D tal que X 6= X0 . Um
ponto P ∈ D que não é de acumulação é chamado ponto isolado de D.

3.1.3
Definição É usual, também, usar o sı́mbolo D0 para indicar o conjunto dos pontos de
acumulação do conjunto D. D0 é chamado derivado de D.

3.1.4
Exemplo Em R, consideremos o seguinte subconjunto

D = {x; x = 1/n, n ∈ N} = {1, 1/2, 1/3, . . .}.

O número real x0 = 0 não pertence a D. Temos que 0 é ponto de acumulação de D. De fato,


seja δ > 0 um número real positivo qualquer. Agora escolhemos um n0 ∈ N tal que n0 > 1/δ.
Logo, 1/n0 < δ, isto é, o ponto x = 1/n0 de D pertence ao intervalo (−δ, δ). Na realidade, 0 é
o único ponto de acumulação de D, e os pontos de D são todos isolados.
v
3.1.5
Exemplo Se D = B(X0 , a) é uma bola aberta do Rn , então seu derivado D0 coincide com a
bola fechada B[X0 , a]. O derivado de uma bola fechada coincide com ela mesma.
g
u
3.1.6
Exemplo Seja D o subconjunto do plano R2 definido
por

D = {X = (x, y); 1 < kXk ≤ 2} ∪ {(3, 0)},

conforme figura 64. Os pontos de acumulação de D é


formado pelo anel 1 ≤ kXk ≤ 2, que contém o cı́rculo
x2 + y 2 = 1, o qual não está contido em D. O ponto
(3, 0), claro, é o único ponto isolado de D. Assim,

D0 = {X = (x, y); 1 ≤ kXk ≤ 2}.

3.1.7
Exemplo Se D = {X = (x, y, z); z < 1} é a região situada abaixo do plano z = 1, então
seu derivado D0 coincide com D unido a este plano: D0 = D ∪ {(x, y, z); z = 1}.
94 Limite

3.1.8 [Limite]
Definição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e X0 ∈ Rn um ponto de acumulação de D. Uma
m-upla L é dita limite de f em X0 (ou quando X tende a X0 ) quando para
cada  > 0, dado arbitrariamente, for possı́vel obter δ > 0 —o qual pode depender de  e X0 —
tal que
se X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ, então kf (X) − Lk < .
Em outras palavras,
∀ > 0, ∃δ > 0 : X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − Lk < . (¶16 )
Uma m-upla L que satisfaz esta condição, quando existe, é única (proposição 3.1.9) e, portanto,
será indicada por lim f (X).
X→X0

x n Rn x m Rm
6 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
6
q qD q q q q q q q q q q q q q q q q q
f (X) qqqqqqqqqqqqqqrqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqaqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX
qqqq q q q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqrqqqqqqqqqqqqqqqqqrqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqL qqq qq qq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX q qqq qqqqq q q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq f - qqqqq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq x
-
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq 1 xm−1
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqq x1

Figura 65: lim f (X) = L


X−→X0

3.1.9 [Unicidade do Limite]


Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm , X0 ∈ D0 e L1 e L2 limites
de f em X0 , como na definição 3.1.8. Então, L1 = L2 .
Demonstração: Começamos tomando  > 0 arbitrário e aplicando a definição 3.1.8
para L1 e L2 . Relativamente a L1 , obtemos δ1 tal que
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ1 =⇒ kf (X) − L1 k < .
Para L2 existe δ2 > 0 tal que
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ2 =⇒ kf (X) − L2 k < .
Agora escolhemos δ = min{δ1 , δ2 }. Para este δ vale
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − L1 k <  e kf (X) − L2 k < .
Fixado uma n-upla X nestas condições, temos
kL2 − L1 k = kL2 − L1 + f (X) − f (X)k ≤ kf (X) − L1 k + kf (X) − L2 k <  +  = 2.
Portanto, kL2 − L1 k < 2 para todo número real positivo . Isto implica que kL2 − L1 k = 0,
isto é, L2 = L1 . ppppppppppppppppppppppp

Observação A definição de limite em nenhum momento indica como calcular limites. O


que ela faz é estabelecer se uma m-upla L, determinada geralmente por nossa
sensibilidade aritmética, é ou não o limite de f .
Funções Contı́nuas 95

O seguinte lema dá mais algumas propriedades da norma que são úteis na tarefa de
computar limites.

3.1.10
Lema Se X = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn , então valem as seguintes desigualdades.
(i) |xi | ≤ kXk, para i = 1, 2, . . . , n;

(ii) kXk ≤ n max{|x1 |, |x2 |, . . . , |xn |};
(iii) kXk ≤ |x1 | + |x2 | + · · · + |xn |.
Demonstração: Fixando 1 ≤ i ≤ n, e definindo m = max{|x1 |, |x2 |, . . . , |xn |}, temos
que q q √ √
|xi | = x2i ≤ x21 + x22 + · · · + x2n = kXk ≤ m2 + m2 + · · · + m2 = n m,
e estão prontos (i) e (ii). Para verificar (iii), escrevemos X = x1 e1 + x2 e2 + · · · + xn en , e usamos
a primeira desigualdade triangular da norma, dada no corolário 1.2.19. Temos que
kXk = kx1 e1 + x2 e2 + · · · + xn en k ≤ |x1 | ke1 k+|x2 | ke2 k+· · ·+|xn | ken k = |x1 |+|x2 |+· · ·+|xn |,
pois e1 , e2 , . . . , en são vetores unitários. pppppppppppppppppppp

3.1.11
Exemplo Sejam f : R2 −→ R, f (x, y) = 2x + y, e X0 = (2, 1) que, é claro, é ponto de
acumulação do domı́nio de f . O nosso bom senso sugere que tomemos como
candidato a limite de f em X0 , o número l = 5, posto que 2x + y se aproxima de 5, quando x
está perto de 2, e y perto de 1. Inicialmente observamos que

|f (x, y) − 5| = |2x + y − 5| = |2(x − 2) + (y − 1)| ≤ 2|x − 2| + |y − 1|.

Nesta desigualdade, usando o lema 3.1.10, fazemos surgir kX − X0 k, onde X = (x, y). De fato,
como X − X0 = (x − 2, y − 1), segue-se que |x − 2| ≤ kX − X0 k e |y − 1| ≤ kX − X0 k . Logo,
|f (x, y) − 5| ≤ 2|x − 2| + |y − 1| ≤ 3 kX − X0 k ,
que é menor do que , se kX − X0 k < δ, onde δ = /3. Logo, lim (2x + y) = 5.
(x,y)→(2,1)

y
6 r5 + 

1 + /3 r
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqqqq
1r qqqqqqqqqqqqqqX q qrq q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqrqqqqqqqqqqqq r5
r
1 − /3 r X f (X)
f
r r r2 +- /3 -
2 − /3 2 x
5−
r

Figura 66: lim 2x + y = 5


(x,y)−→(2,1)
96 Limite

3.1.12
Exemplo Seja f (x, y) = xy, (x, y) ∈ R2 . Verificaremos que o limite de f em X0 = (2, 1) é,
como a nossa sensibilidade indica, 2. Como no exemplo anterior, a idéia é fazer
aparecer em |xy − 2| as expressões |x − 2| e |y − 1|, e depois, via lema 3.1.10, fazer aparecer
kX − X0 k, o que permitirá a escolha de um δ conveniente, para um  > 0 dado. Isto é feito
assim:

|xy − 2| = |(x − 2 + 2)(y − 1 + 1) − 2|


= |(x − 2)(y − 1) + (x − 2) + 2(y − 1)|
≤ |(x − 2)||(y − 1)| + |(x − 2)| + 2|(y − 1)|
≤ kX − X0 k2 + kX − X0 k + 2 kX − X0 k = kX − X0 k2 + 3 kX − X0 k .

Isto implica que


|xy − 2| ≤ 4 kX − X0 k ,
se kX − X0 k ≤ 1, pois, neste caso, kX − X0 k2 ≤ kX − X0 k. Portanto, dado  > 0, somos
levados a considerar δ = min{/4, 1}. Com esta escolha, se kX − X0 k < δ, obtemos

 kX − X0 k ≤ 1


e =⇒ |xy − 2| ≤ kX − X 2
0 k + 3 kX − X0 k ≤ 4 kX − X0 k < 4 = .
 kX − X0 k ≤ 
 4
4
Portanto, lim xy = 2.
(x,y)→(2,1)

3.1.13
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por
xy


p , se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2 + y 2

0, se (x, y) = (0, 0).

Estudaremos o limite de f em (0, 0). Tal limite, se existir, deve ser zero, porque f se anula, por
exemplo, ao longo do eixo-x. Logo, devemos estudar o comportamento de |f (x, y)|, para valores
de (x, y) próximos de (0, 0). Se X = (x, y) 6= (0, 0), então

xy |x| |y| kXk kXk
|f (X)| = p = ≤ = kXk .

x2 + y 2 kXk kXk

Logo, dado  > 0, escolhemos δ = . Para este δ, temos que

X = (x, y) ∈ R2 , 0 < kXk < δ =⇒ |f (X)| ≤ kXk < δ = .

Donde lim(x,y)→(0,0) f (x, y) = 0.


Funções Contı́nuas 97

3.1.14
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por

xy
2 , se (x, y) 6= (0, 0)

 2
f (x, y) = x + y
0,

se (x, y) = (0, 0).

Como no exemplo anterior, se f tem limite em (0, 0), este deve ser zero. Se X = (x, y) 6= (0, 0),
então
xy |x| |y| kXk kXk
|f (X)| = 2 2 =

2 ≤ = 1,
x +y kXk kXk2
o que só diz que f é limitada por 1 (veja a definição 3.1.17). Isto é o bastante para levantar
suspeita de que f não possui limite em (0, 0). Para confirmar isto, estudaremos o comportamento
de f ao longo da reta y = x, que, claro, passa pela origem. Ao longo desta reta, para x 6= 0,
temos que
xx x2 1
f (x, y) = f (x, x) = 2 2 = 2 = .
x +x 2x 2
Logo, toda bola aberta centrada em (0, 0) contém pontos (da forma (x, x)) onde f vale 1/2. Isto
implica que f não pode ter limite em (0, 0), pois, agora, temos outro candidato a limite de f
em (0, 0), a saber 1/2.

3.1.15
Propriedades dos Limites
O emprego direto da definição pode ser extremamente duro para o cálculo do limite.
Felizmente, dispomos de vários resultados intermediários que facilitam esta tarefa.

3.1.16
Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm , X0 ∈ D0 e L = (l1 , l2 , . . . , lm ) ∈ Rm . Então,
lim f (X) = L se, e somente se, lim kf (X) − Lk = 0.
X→X0 X→X0

Demonstração: Fica como exercı́cio para o leitor, que deve apenas reescrever a definição
de limite. ppppppppppppppppppppp

3.1.17
Definição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e X0 ∈ D0 . Dizemos que f limitada perto de X0 se
existem δ > 0 e K ≥ 0 tais que
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X)k ≤ K.
(Isto significa que as n-uplas de D que estão na bola aberta B(X0 , δ) são transformadas por f
em m-uplas da bola fechada B[O, K].) Se kF (X)k ≤ K, para todo X ∈ D, dizemos que f é
limitada.
98 Limite

3.1.18
Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm , X0 ∈ D0 e L = (l1 , l2 , . . . , lm ) ∈ Rm . Se f tem
limite em X0 , então f é limitada perto de X0 .
Demonstração: Seja L o limite de f em X0 . Logo, pensando com  = 1, existe δ0 > 0
tal que
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ0 =⇒ kf (X) − Lk < 1.

Mas
kf (X)k − kLk ≤ | kf (X)k − kLk | ≤ kf (X) − Lk ,

como mostra o corolário 1.2.19. Logo,

kf (X)k < 1 + kLk , se X ∈ D, e 0 < kX − X0 k < δ0 .

Portanto, f é limitada por K = 1 + kLk, na bola B(X0 , δ0 ). ppppppppppppppppppppp

Observação O exemplo 3.1.14 mostra que uma função limitada perto de um ponto pode não
ter limite aı́.

3.1.19 [Limite de Desigualdades]


Proposição Sejam f, g : D ⊂ Rn −→ R funções reais tendo
limite em X0 ∈ D0 . Se f (X) ≤ g(X), para todo
X ∈ D − {X0 }, então lim f (X) ≤ lim g(X).
X→X0 X→X0

Demonstração: Sejam L1 = limX→X0 f (X) e L2 = limX→X0 g(X). Suponhamos, por


absurdo, que L1 > L2 . Logo,  = (L1 − L2 )/2 > 0. Para este  podemos encontrar δ > 0 tal que

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ |f (X) − L1 | <  e |g(X) − L2 | < .

Fixemos, então, algum X nestas condições. Assim,

f (X) ∈ (L1 − , L1 + ) e g(X) ∈ (L2 − , L2 + ),

isto é,
L1 + L2 3L1 − L2 3L2 − L1 L1 + L2
f (X) ∈ ( , ) e g(X) ∈ ( , ).
2 2 2 2
Em particular, g(X) < (L1 + L2 )/2 < f (X), uma contradição ao fato f (X) ≤ g(X). pppppppppppppppppppppp

Observação Um fato simples, e que deve ser observado aqui, é que pode não ocorrer a desi-
gualdade estrita entre os limites de f e g, mesmo que entre f e g a desigualdade
seja estrita. De fato, o par de funções reais f (x) = x, x > 0, e g(x) = 0, x > 0, serve como
exemplo, pois f (x) > g(x), para todo x > 0, mas seus limites em x0 = 0 coincidem com 0.
Funções Contı́nuas 99

3.1.20 [Sanduı́che]
Proposição Sejam f, g, h : D ⊂ Rn −→ R funções reais tais que
f (X) ≤ g(X) ≤ h(X), ∀X ∈ D − {X0 }.
Se f e h têm o mesmo limite L em X0 ∈ D0 , então L também é o limite de g em X0 . (Nas
aplicações, este resultado será usado na forma do seguinte diagrama:
f ≤ g ≤ h
X −→ X0 .)
? ?
L L
?
L
Demonstração: Seja  > 0. Temos que existe δ > 0 tal que
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ |f (X) − L| <  e |h(X) − L| < ,
o que pode ser reescrito como
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ f (X) ∈ (L − , L + ) e h(X) ∈ (L − , L + ).
Como f (X) ≤ g(X) ≤ h(X), para todo X ∈ D − {X0 }, vem que
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ g(X) ∈ (L − , L + ).
Logo, limX→X0 g(X) = L. pppppppppppppppppppppp

3.1.21
Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm , g : D ⊂ Rn −→ R e X0 ∈ D0 . Se
lim f (X) = (0, 0, . . . , 0)
X→X0

e g é limitada perto de X0 , então


lim g(X)f (X) = (0, 0, . . . , 0).
X→X0

Demonstração: Seja B(X0 , δ1 ) um bola aberta onde |g(X)| ≤ K, para algum K > 0.
Dado  > 0, existe δ2 > 0 tal que
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ2 =⇒ kf (X)k < /K,
onde aplicamos a definição 3.1.8 para f com o número positivo /K. Fazendo δ = min{δ1 , δ2 },
vem que
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X)k < /K e |g(X)| ≤ K.
Logo,

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kg(X)f (X)k = |g(X)| kf (X)k < K = ,
K
e está completa a prova. pppppppppppppppppp
100 Limite

3.1.22
Exemplo A função
xy


p sen(x + arctg(x2 + y 2 )), se (x, y) 6= (0, 0)
2
x +y 2
f (x, y) =

0, se (x, y) = (0, 0)

tem limite zero em X0 = (0, 0), visto que é o produto de uma função que tem limite zero,
conforme exemplo 3.1.13, por outra limitada, a saber g(x, y) = sen(x + arctg(x2 + y 2 )).
A proposição seguinte mostra que o cálculo do limite de uma função vetorial se reduz ao
cálculo dos limites de suas funções coordenadas. Em particular, ela mostra que a definição de
limite dada em 2.1.1, para funções vetoriais de uma variável real, é compatı́vel com a definição
geral, isto é, com a definição 3.1.8.

3.1.23
Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e L = (l1 , l2 , . . . , lm ) ∈ Rm . L é limite de f em X0
se, e somente se, li é limite de fi em X0 , para 1 ≤ i ≤ m. Portanto,

lim f (X) = ( lim f1 (X), lim f2 (X), . . . , lim fm (X)),


X→X0 X→X0 X→X0 X→X0

desde que os limites existam.


Demonstração: Suponhamos inicialmente que L = limX→X0 f (X). Seja  > 0. Logo,
existe δ > 0 tal que

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − Lk < .

Mas |fi (X) − li | ≤ kf (X) − Lk, o que vem de (i), lema 3.1.10. Logo,

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ |fi (X) − li | ≤ kf (X) − Lk < , 1 ≤ i ≤ m.

Resulta daı́ que limX→X0 fi (X) = li . Reciprocamente, suponhamos que limX→X0 fi (X) = li ,
para 1 ≤ i ≤ m. Logo, dado  > 0, existem δ1 , δ2 , . . . , δm tais que

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δi =⇒ |fi (X) − li | < /m, 1 ≤ i ≤ m.

Tomando δ = min{δ1 , δ2 , . . . , δm }, vem que

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ |fi (X) − li | < /m, 1 ≤ i ≤ m.

Logo,
m
X 
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − Lk ≤ |fi (X) − li | < m = ,
i=1
m
o que termina a demonstração. pppppppppppppppppppppp
Funções Contı́nuas 101

3.1.24
Exemplo Seja f : R2 −→ R2 definida por f (x, y) = (2x+y, xy). Usando a proposição 3.1.23
e os resultados dos exemplos 3.1.11 e 3.1.12, vemos que lim f (x, y) = (5, 2).
(x,y)→(2,1)

3.1.25 [Operações com Limites]


Teorema Sejam f, g : D ⊂ Rn −→ Rm e φ : D −→ R. Se-
jam X0 ∈ D0 , L1 , L2 ∈ Rm e l ∈ R tais que
lim f (X) = L1 , lim g(X) = L2 e lim φ(X) = l. Então,
X→X0 X→X0 X→X0

(i) lim (f (X) + g(X)) = L1 + L2 ;


X→X0

(ii) lim φ(X)f (X) = lL1 ;


X→X0

(iii) lim f (X) · g(X) = L1 · L2 ;


X→X0

(iv) lim f (X) × g(X) = L1 × L2 (quando m = 3);


X→X0

1 1
(v) lim = , se l 6= 0 e φ(X) 6= 0, para todo X em alguma bola aberta com centro X0 .
X→X0 φ(X) l
Demonstração: Faremos apenas as provas de (i) e (ii). As demonstrações de (iii) e (iv)
seguem-se de (i) e (ii). O exercı́cio 3-5 indica como obter (v).
Seja  > 0. Temos que existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ1 =⇒ kf (X) − L1 k < ,
2
e

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ2 =⇒ kg(X) − L2 k < .
2
(Note que aplicamos simplesmente a definição de limite para f e g, obtendo δ1 e δ2 , a partir de
/2.) Tomando δ = min{δ1 , δ2 } as duas implicações obtidas ocorrem simultaneamente, isto é,
 
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − L1 k < e kg(X) − L2 k < .
2 2
Logo, se X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ, então
 
kf (X) + g(X) − (L1 + L2 )k ≤ kf (X) − L1 k + kg(X) − L2 k < + = .
2 2
Isto significa que limX→X0 (f (X) + g(X)) = L1 + L2 . Para provar (ii), começamos observando
que
kφ(X)f (X) − lL1 k = kφ(X)f (X) − lL1 + φ(X)L1 − φ(X)L1 k
≤ |φ(X)| kf (X) − L1 k + kL1 k |φ(X) − l|.
Como φ tem limite em X0 , vem da proposição 3.1.18 que existem K ≥ 0 e δ0 > 0 tais que
φ(X) ≤ K, para todo X ∈ B(X0 , δ0 ). Logo,

lim |φ(X)| kf (X) − L1 k = 0 e lim kL1 k |φ(X) − l| = 0,


X→X0 X→X0
102 Limite

e, por (i),
lim (|φ(X)| kf (X) − L1 k + kL1 k |φ(X) − l|) = 0.
X→X0

Agora recorremos à proposição 3.1.20, para obter

0 ≤ kφ(X)f (X) − lL1 k ≤ |φ(X)| kf (X) − L1 k + kL1 k |φ(X) − l|


X −→ X0
? ? ,
0 0
?
0

o que implica lim φ(X)f (X) = lL1 . pppppppppppppppppp


X→X 0

3.1.26 [Limite da Composta]


Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e g : E ⊂ Rm −→ Rp tais
que f (D) ⊂ E. Sejam X0 ∈ D0 e Y0 ∈ E 0 . Se

f (X) 6= Y0 , ∀X 6= X0 , lim f (X) = Y0 e lim g(Y ) = L,


X→X0 Y →Y0

então a função composta g ◦ f , definida por (g ◦ f )(X) = g(f (X)), tem limite em X0 e vale
lim (g ◦ f )(X) = L.
X→X0

Demonstração: Dado  > 0, existe δ1 > 0 tal que

Y ∈ E, 0 < kY − Y0 k < δ1 =⇒ kg(Y ) − Lk < , (¶17 )

isto porque limY →Y0 g(Y ) = L. Por outro lado, como limX→X0 f (X) = Y0 , vem que existe δ > 0
tal que
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − Y0 k < δ1 .
Mas f (X) 6= Y0 , sempre que X 6= X0 . Logo,

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ 0 < kf (X) − Y0 k < δ1 ,

e, portanto, podemos usar (¶17 ) com Y = f (X) para obter

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kg(f (X)) − Lk < ,

como querı́amos. ppppppppppppppppppp

O exemplo que segue mostra que a hipótese f (X) 6= Y0 , X ∈ D, é essencial na pro-


posição 3.1.26.
Funções Contı́nuas 103

y
3.1.27 6
Exemplo Seja f : R −→ R definida por
1q

0, se x 6= 0
f (x) =
1, se x = 0, ppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppappppppppyppppppp=
pppppppppfppppp(x)
ppppppppppppppppppp -
x
cujo gráfico é mostrado ao lado. Agora ponha
g = f . Temos que y
 6
1, se x 6= 0
(g ◦ f )(x) = pppppppppppppppppppppppppppppppppppppppppp1ppppppappppppppyppppppp= ppppppppp◦ppppppfppppp)(x)
ppppppppp(g pppp
0, se x = 0,

limx→0 f (x) = 0 e limy→0 g(y) = 0. Entretanto, q -


x
lim (g ◦ f )(x) = 1.
x→0
Figura 67

Note que se a proposição 3.1.26 funcionasse neste caso, deverı́amos ter limx→0 (g ◦ f )(x) = 0.
Tudo se deve ao fato de f (x) coincidir com seu limite em x0 = 0, para x 6= x0 .

3.1.28
Corolário Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm uma função vetorial e α, β : I ⊂ R −→ Rn duas cur-
vas parametrizadas passando pelo ponto X0 ∈ D0 , isto é α(t0 ) = β(t0 ) = X0 ,
para algum t0 ∈ I. Suponha também que

X0 = lim α(t) = lim β(t), e α(t) 6= X0 , β(t) 6= X0 , ∀t 6= t0 .


t→t0 t→t0

Se lim (f ◦ α)(t) 6= lim (f ◦ β)(t), então f não tem limite em X0 .


t→t0 t→t0

Demonstração: Se f tivesse limite, digamos L, em X0 , da proposição 3.1.26 resultaria


que
lim (f ◦ α)(t) = lim (f ◦ β)(t) = L.
t→t0 t→t0

Logo, só resta a f não ter limite em X0 . ppppppppppppppppppppp

3.1.29
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por
 2
 x y , se (x, y) 6= (0, 0)

4 2
f (x, y) = x + y

0, se (x, y) = (0, 0).

Temos que f não pode ter limite na origem X0 = (0, 0). Com efeito, consideremos as curvas
parametrizadas α e β definidas por α(t) = (t, 0) e β(t) = (t, t2 ), t ∈ R. Os traços destas curvas
são o eixo-x e a parábola y = x2 . É claro que α(0) = (0, 0) e β(0) = (0, 0). Além disto, se t 6= 0,
104 Continuidade

então α(t) 6= (0, 0) 6= β(t). Também temos que limt→0 α(t) = limt→0 β(t) = (0, 0). Entretanto,
limt→t0 (f ◦ α)(t) = 0 e
t2 t2 1
lim(f ◦ β)(t) = lim 4 2 2 = .
t→0 t→0 t + (t ) 2

Segue-se do corolário 3.1.28 que f não tem limite em (0, 0), como dissemos.

3.2
Continuidade

Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm um função vetorial e X0 ∈ D. No estudo que faremos agora,


além de nossa preocupação com o comportamento de f em pontos próximos de X0 , teremos,
também, nossa atenção voltada para o valor que ela assume neste ponto.

3.2.1 [Função Contı́nua]


Definição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e X0 ∈ D. Dizemos que f é
contı́nua em X0 se uma das seguintes alternativas ocorrer:

(i) X0 é ponto isolado de D;


(ii) X0 é ponto de acumulação de D e lim f (X) = f (X0 ).
X→X0

(A condição (i) não é de grande interesse. Ela é posta aı́ para que a noção de continuidade faça
sentido em qualquer ponto de D, mesmo naqueles isolados.) Dizemos que f é contı́nua em D se
ela for contı́nua em todos os pontos de D.

3.2.2
Exemplo Seja f : D ⊂ R2 −→ R uma função qualquer, onde D é como no exemplo 3.1.6.
Como X0 = (3, 0) é ponto isolado de D, vem que f é contı́nua em X0 .

3.2.3
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por
xy


p , se (x, y) 6= (0, 0)
x 2 + y2
f (x, y) =

0, se (x, y) = (0, 0).

Como vimos no exemplo 3.1.13, lim f (x, y) = 0. Logo, f é contı́nua em X0 = (0, 0).
(x,y)→(0,0)
Funções Contı́nuas 105

3.2.4
Exemplo Façamos uma pequena modificação na função f do exemplo anterior, alterando
o seu valor em (0, 0). Seja g : R2 −→ R definida por
xy


p , se (x, y) 6= (0, 0)
g(x, y) = x2 + y 2

1, se (x, y) = (0, 0).

Como lim(x,y)→(0,0) g(x, y) = 0 e g(0, 0) = 1, vem que g não é contı́nua em X0 = (0, 0).

3.2.5
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por

xy
2 , se (x, y) 6= (0, 0)

 2
f (x, y) = x + y
0,

se (x, y) = (0, 0).

Como vimos no exemplo 3.1.14, f não tem limite em X0 = (0, 0). Logo, não é contı́nua aı́.
As condições (i) e (ii) na definição de continuidade (definição 3.2.1) podem ser agrupadas
em uma só condição, na linguagem de ’s e δ’s, como mostra a seguinte proposição, a qual
contém a forma que alguns textos adotam para definir continuidade.

3.2.6
Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e X0 ∈ D. f é contı́nua em X0 se, e somente se,
para cada  > 0, dado arbitrariamente, for possı́vel obter δ > 0 —o qual pode
depender de  e X0 — tal que

X ∈ D, kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − f (X0 )k < .

Em outras palavras,

∀ > 0, ∃δ > 0 : X ∈ D, kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − f (X0 )k < . (¶18 )

(Trocando f (X0 ) por L, há apenas uma pequena diferença entre esta implicação e aquela da
definição 3.1.8: lá é exigido que 0 < kX − X0 k < δ.)
Demonstração: Suponhamos, inicialmente, que f é contı́nua em X0 . Temos dois casos
a considerar: (i) X0 é ponto isolado de D; (ii) X0 ∈ D0 e limX→X0 f (X) = f (X0 ). Seja  > 0,
arbitrário. Se X0 é ponto isolado de D, vem que existe δ > 0 tal que D ∩ B(X0 , δ) = {X0 }.
Logo,

X ∈ D, kX − X0 k < δ =⇒ X = X0 =⇒ kf (X) − f (X0 )k = kf (X0 ) − f (X0 )k = 0 < ,

e (¶18 ) é satisfeita trivialmente. Se ocorre (ii), usamos a definição 3.1.8 para obter δ > 0 tal que

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − f (X0 )k < .


106 Continuidade

Mas para X = X0 , kf (X) − f (X0 )k = 0 < . Logo,


X ∈ D, kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − f (X0 )k < ,
e obtemos outra vez (¶18 ).
Suponhamos, agora, que (¶18 ) seja verificada. Se X0 é ponto isolado, f é contı́nua em X0 ,
por definição. Suponhamos, então, que X0 ∈ D0 , e seja  > 0 um número positivo arbitrário.
Como (¶18 ) está valendo, existe δ > 0 tal que
X ∈ D, kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − f (X0 )k < .
Por maior razão,
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − f (X0 )k < ,
isto é, lim f (X) = f (X0 ). pppppppppppppppppppp
X→X 0

No estudo das funções vetoriais contı́nuas, merecem destaque especial as funções lipschit-
zianas.

3.2.7
Definição Uma função vetorial f : D ⊂ Rn −→ Rm é dita lipschitziana se existe M ≥ 0
tal que
kf (Y ) − f (X)k ≤ M kY − Xk , ∀Y, X ∈ D.
M é conhecida por constante de Lipschitz de f .

3.2.8
Exemplo Os exemplos mais simples de funções lipschitzianas são as funções constantes. Se
f (X) = C ∈ Rm , X ∈ Rn , então
kf (Y ) − f (X)k = kC − Ck = 0 ≤ M kY − Xk ,
para qualquer constante M .

3.2.9
Exemplo Seja f (x) = x2 , x ∈ [0, 1]. Temos que,
|f (y) − f (x)| = |y + x||y − x| ≤ 2|y − x|, ∀x, y ∈ [0, 1].
Logo, f é lipschitziana.

3.2.10
Exemplo Seja f (x) = x2 , x ∈ R. Se f fosse lipschitziana, terı́amos, para alguma constante
M ≥ 0, que
|y 2 − x2 | ≤ M |y − x|, ∀x, y ∈ R.
Em particular, para x = 0, |y| ≤ M , para todo y ∈ R, o que é um absurdo. Logo, f não é
lipschitziana.
Uma grande fonte de funções lipschitzianas são as aplicações lineares, como mostra o
seguinte teorema.
Funções Contı́nuas 107

3.2.11
Teorema Se T : Rn −→ Rm é linear, então existe M ≥ 0 tal que
(i) kT (X)k ≤ M kXk, ∀X ∈ Rn ;
(ii) kT (Y ) − T (X)k ≤ M kY − Xk, ∀Y, X ∈ Rn .
Demonstração: Seja X = (x1 , x2 , . . . , xn ). Logo, X = x1 e1 + x2 e2 + · · · + xn en e,
portanto,
kT (X)k = kx1 T (e1 ) + x2 T (e2 ) + · · · + xn T (en )k
≤ |x1 | kT (e1 )k + |x2 | kT (e2 )k + · · · + |xn | kT (en )k
≤ kXk kT (e1 )k + kXk kT (e2 )k + · · · + kXk kT (en )k
= (kT (e1 )k + kT (e2 )k + · · · + kT (en )k) kXk ,
onde na passagem da segunda para a terceira desigualdade foi usado o fato |xi | ≤ kXk, para
1 ≤ i ≤ n, conforme lema 3.1.10. Tomando M = kT (e1 )k + kT (e2 )k + · · · + kT (en )k, segue-se o
resultado em (i). A prova de (ii) agora segue-se facilmente. De fato,

kT (Y ) − T (X)k = kT (Y − X)k ≤ M kY − Xk ,

onde usamos (i) para o vetor Y − X. ppppppppppppppppppppp

3.2.12
Exemplo Consideremos a aplicação linear T : R3 −→ R2 dada por
  
1 1 0 x
T (x, y, z) = (x + y, x − y + z) =  .
1 −1 1 y 
z
√ √ √
Temos que kT (e1 )k = 2, kT (e2 )k = 2 e kT (e3 )k = 1. Logo, kT (X)k ≤ (2 2 + 1) kXk, para
todo X ∈ R3 .

3.2.13
Teorema Se f : D ⊂ Rn −→ Rm é lipschitziana, então f é contı́nua em D.

Demonstração: Usando a proposição 3.1.20 (sanduı́che), temos que


0 ≤ kf (X) − f (X0 )k ≤ M kX − X0 k
X −→ X0 .
? ?
0 0
?
0
Logo, lim f (X) = f (X0 ). pppppppppppppppppppppp
X→X 0
108 Continuidade

O próximo corolário destaca uma propriedade fundamental das aplicações lineares entre
espaços euclidianos: sua continuidade.

3.2.14
Corolário Se T : Rn −→ Rm é linear, então T é contı́nua em Rn .
Demonstração: Segue-se do fato que T é lipschitziana, como mostra o teorema 3.2.11,
junto com o teorema 3.2.13. ppppppppppppppppppppp

3.2.15 [Continuidade da Norma]


Corolário A norma euclidiana é uma função real contı́nua,
isto é, a função

η : Rn −−−→
−− R
X −−−−−→ η(X) = kXk

é contı́nua em Rn .
Demonstração: A desigualdade triangular | kY k − kXk | ≤ kY − Xk mostra que η é
lipschitziana. Logo, contı́nua. ppppppppppppppppppppp

3.2.16
Exemplo Seja T : R4 −→ R3 definida por
T (x1 , x2 , x3 , x4 ) = (x1 + x2 , x2 + x3 , x1 + x2 − x4 ).

Como T é linear, vem que T é contı́nua em R4 . Em particular,

lim T (x1 , x2 , x3 , x4 ) = T (0, 0, 0, 0) = (0, 0, 0)


(x1 ,x2 ,x3 ,x4 )→(0,0,0,0)
lim T (x1 , x2 , x3 , x4 ) = T (1, 0, 1, 0) = (1, 1, 1)
(x1 ,x2 ,x3 ,x4 )→(1,0,1,0)

3.2.17 [Projeções]
Exemplo Dado j ∈ N, 1 ≤ j ≤ n, a j-ésima projeção do Rn é aplicação linear

pj : Rn −−−→
−− R
(x1 , x2 , . . . , xn ) −−−−−→ pj (x1 , x2 , . . . , xn ) = xj .

Como caso particular, temos as três projeções do R3 :

p1 (x, y, z) = x, p2 (x, y, z) = y e p3 (x, y, z) = z.

As n projeções pj , 1 ≤ j ≤ n, são aplicações contı́nuas em Rn , visto que são lineares.


Funções Contı́nuas 109

3.2.18 [Operações com Funções Contı́nuas]


Teorema Seja D ⊂ Rn . Se

f : D −→ Rm , g : D −→ Rm e φ : D −→ R

são funções contı́nuas no ponto X0 ∈ D, então as seguintes aplicações são contı́nuas em X0 .

(i) [Soma]
f + g : D −− − Rm
−→

X −−−−−→ (f + g)(X) = f (X) + g(X);

(ii) [Produto]
φf : D −− − Rm
−→

X −−−−−→ (φf )(X) = φ(X)f (X);

(iii) [Produto Escalar]

f · g : D −− −→
−− R
X −−−−−→ (f · g)(X) = f (X) · g(X);

(iv) [Produto Vetorial]

f × g : D −− − Rm
−→

X −−−−−→ (f × g)(X) = f (X) × g(X).

Neste caso, claro, estamos supondo m = 3;


(v)
1
: D −− −→
−− R
φ
1 1
X −−−−−→ (X) = ,
φ φ(X)
se φ(X) 6= 0, para todo X ∈ D.

Demonstração: Se X0 é isolado, não há o que fazer. Suponhamos, então, X0 ∈ D0 .


Como f e g são contı́nuas em X0 , vem que limX→X0 f (X) = f (X0 ) e limX→X0 g(X) = g(X0 ).
Usando o item (i) do teorema 3.1.25, obtemos que

lim (f + g)(X) = lim f (X) + lim g(X) = f (X0 ) + g(X0 ) = (f + g)(X0 ),


X→X0 X→X0 X→X0

donde segue-se a continuidade de f + g em X0 . Fazendo uso dos demais itens do citado teorema,
resultam (ii), (iii) e (iv). pppppppppppppppppppppp
110 Continuidade

3.2.19
Exemplo Seja f (x, y) = xy − x − 2y + 2
. Temos que
x + y 2 − 4x − 2y + 5
2

(x − 2 + 2)(y − 1 + 1) − (x − 2 + 2) − 2(y − 1 + 1) + 2
f (x, y) =
(x − 2)2 − 4 + (y − 1)2 − 1 + 5
(x − 2)(y − 1)
=
(x − 2)2 + (y − 1)2

Logo, f está bem definida em todo R2 , exceto no ponto (2, 1). Impondo f (2, 1) = 0, f fica
bem definida em todo R2 . Como x2 + y 2 − 4x − 2y + 5 > 0, se (x, y) 6= (2, 1), resulta do teo-
rema 3.2.18 que f é contı́nua em R2 − {(2, 1)}. Tendo em mente o corolário 3.1.28, estudaremos
o comportamento de f ao longo de duas curvas (no caso, retas) que passam por (2, 1). Ao longo
de x = 2, f se anula, e ao longo da reta y = x − 1,

(x − 2)(x − 2) (x − 2)2 1
f (x, y) = f (x, x − 1) = 2 2 = 2 = .
(x − 2) + (x − 2) 2(x − 2) 2

Logo, f não tem limite em (2, 1) e, portanto, não é contı́nua aı́.

3.2.20 [Funções Polinomiais]


Exemplo Uma função polinomial em R2 é uma função real do
tipo

p(x, y) = a00 + a10 x + a01 y + a20 x2 + a11 xy + a02 y 2 + · · · + ad0 xd + · · · + a0d y d , (x, y) ∈ R2 ,

para algumas constantes aij ∈ R e 1 ≤ i, j ≤ d, com i, j, d ∈ N. Abreviadamente, p pode ser


posto sob a seguinte forma:
d
!
X X
p(x, y) = aij xi y j , (x, y) ∈ R2 .
k=1 i+j=k

Usando as duas projeções do R2 , dadas por p1 (x, y) = x e p2 (x, y) = y, podemos reescrever p


como !
Xd X
p(x, y) = aij (p1 (x, y))i (p2 (x, y))j .
k=1 i+j=k

Esta forma de olhar p mostra que p é uma soma de produtos envolvendo as projeções p1 e
p2 , que são funções contı́nuas em todo R2 , como vimos no exemplo 3.2.17. Logo, p também é
contı́nuo em R2 , o que resulta de uma aplicação direta (e cuidadosa) dos resultados contidos no
teorema 3.2.18. Mais geralmente, uma função polinomial em Rn é dada por
d
!
X X
p(x1 , x2 , . . . , xn ) = ai1 i2 ...in xi11 xi22 . . . xinn , (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn ,
k=1 i1 +i2 +···+in =k
Funções Contı́nuas 111

para algumas constantes ai1 i2 ...in ∈ R e 1 ≤ i1 , i2 , . . . , in ≤ d, com i1 , i2 , . . . , in , d ∈ N. Usando


argumentos análogos àqueles que usamos para as funções polinomiais em R2 , segue-se que p é
contı́nua em todo Rn .
Vejamos mais uma peça útil para a verificação da continuidade de certas funções, a partir
do conhecimento da continuidade de outras.

3.2.21
Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e g : E ⊂ Rm −→ Rp tais que f (D) ⊂ E. Sejam
X0 ∈ D e Y0 = f (X0 ) ∈ E. Se f é contı́nua em X0 e g é contı́nua em Y0 ,
então g ◦ f é contı́nua em X0 .
Demonstração: Usaremos a caracterização de continuidade dada pela proposição 3.2.6.
Para isto, seja  > 0. Como g é contı́nua em Y0 = f (X0 ), existe δ1 > 0 tal que
Y ∈ E, kY − Y0 k < δ1 =⇒ kg(Y ) − g(Y0 )k < . (¶19 )
Já a continuidade de f em X0 produz δ > 0 tal que
X ∈ D, kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − f (X0 )k = kf (X) − Y0 k < δ1 .
Logo, se Y = f (X), para X ∈ D e kX − X0 k < δ, vale kY − Y0 k = kf (X) − f (X0 )k < δ1 , o
que, via (¶19 ), implica que
kg(Y ) − g(Y0 )k = kg(f (X)) − g(f (X0 ))k = k(g ◦ f )(X) − (g ◦ f )(X0 )k < .
Em resumo, temos que
∀ > 0, ∃δ > 0 : X ∈ D, kX − X0 k < δ =⇒ k(g ◦ f )(X) − (g ◦ f )(X0 )k < ,
isto é, g ◦ f é contı́nua em X0 . ppppppppppppppppppppp

3.2.22
Exemplo A função
xy


p , se (x, y) 6= (0, 0)
x 2 + y2
f (x, y) =

0, se (x, y) = (0, 0),
cuja continuidade na origem já foi estabelecida no exemplo 3.2.3, é contı́nua em R2 . De fato,
fora da origem f é o quociente (com denominador não-nulo) de duas funções contı́nuas, a saber:
a função polinomial p(x, y) = xy e a norma η(x, y) = k(x, y)k, que são contı́nuas, o que vem
de 3.2.20 e 3.2.15, respectivamente.

3.2.23 p
z) ∈ R3 . Note que h = g ◦ p, onde
Exemplo Seja h(x, y, z) = 1 + x2 + y2 + z 2 , (x, y, √
3
g : [0, +∞) −→ [0, +∞) é dada por g(t) = t, e p : R −→ R é a função polino-
mial p(x, y, z) = 1 + x2 + y 2 + z 2 > 0. Como g e p são contı́nuas, segue-se que h é contı́nua, de
acordo com a proposição 3.2.21. A continuidade de g é obtida no exercı́cio 3-7, o qual o leitor
não terá dificuldades para resolver.
3
Exercı́cios
Funções Contı́nuas – Exercı́cios 113

3-1 Em cada caso determine o domı́nio de f e discuta a definição de limite da função dada nos
pontos dados.
p
(a) f (x) = x2 (x − 1); X0 = 0, X1 = 1, X2 = 2;
p
(b) f (x, y) = [x2 + (y − 1)2 ](x − y); X0 = (0, 1), X1 = (1, 1), X2 = (1, 0).
3-2 Verifique os limites abaixo, usando ’s e δ’s.
(a) lim 2x + y − z = 1;
(x,y,z)→(1,2,3)

(b) lim x2 = 0;
(x,y)→(0,2)

(c) lim 2x2 + 2y 2 − 4x + 8y = −10.


(x,y)→(1,−2)

3-3 Verifique os seguintes limites:


x2 − y 2
(a) lim xy = 0;
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
2x2 + xy 2 + 2y 2
(b) lim = 2;
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
x+y
(c) lim = −1;
(x,y)→(0,2) x − y

x2 − y 2
(d) lim 2 2 = 0;
(x,y)→(1,1) x + y

(x − 1)2 (y + 1)2
(e) lim 4 2 = 0;
(x,y)→(1,a) (x − 1) + (y + 1)
xy − x − 2y + 2
(f) lim p = 0.
(x,y)→(2,1) x2 + y 2 − 4x − 2y + 5
x sen y
(g) lim p = 0;
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
ex cos y − 1 − x
(h) lim p = 0.
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
3-4 Se lim f (X) = L, mostre que lim kf (X)k = kLk. É verdadeira a recı́proca? Em
X→X0 X→X0
particular, mostre que se α : I ⊂ R −→ Rn é uma curva parametrizada, cuja velocidade
escalar é v(t), então
kα(t + h) − α(t)k
v(t) = kα0 (t)k = lim .
h→0 |h|

3-5 Sejam f : D ⊂ Rn −→ R, X0 ∈ Rn ponto de acumulação de D e lim f (X) = l 6= 0.


X→X0

(a) Mostre que existem uma constante k > 0 e uma bola aberta centrada em X0 , B ⊂ D,
tais que, para todo X ∈ B − {X0 }, vale |f (X)| > k;

1 1 |f (X) − l| 1 1
(b) Conclua que, em B − {X0 }, − ≤ . Donde lim = ;
f (X) l k|l| X→X0 f (X) l
(c) Se l > 0, então existe δ > 0 tal que f permanece positiva em B(X0 , δ) − {X0 }.
114 Funções Contı́nuas – Exercı́cios

3-6 [Permanência do Sinal] Mostre que se f : D ⊂ Rn −→ R é contı́nua em X0 e f (X0 ) > 0,


então existe δ > 0 tal que f (X) > 0, para todo X ∈ B(X0 , δ).

3-7 Seja g : [0, +∞) −→ [0, +∞) definida por g(x) = x.

(a) Se  > 0 e 0 ≤ x < 2 , então x < ;
(b) Conclua de (a) que g é contı́nua em x0 = 0;
√ √ 1
(c) Se x, x0 ∈ (0, +∞), então | x − x0 | = √ √ |x − x0 |;
x + x0
√ √ 1
(d) Deduza de (c) que | x − x0 | ≤ √ |x − x0 |;
x0
(e) Conclua que g é contı́nua em [0, +∞).
3-8 Discuta a continuidade das funções dadas a seguir.
(a) f (X) = kXk4 , X ∈ Rn ;
(b) f (x, y, z) = (x, y, x + z);

0, se xy 6= 0
(c) f (x, y) = ;
1, se xy = 0
( sen x
+ y, se x 6= 0
(d) f (x, y) = x ;
1 + y, se x = 0

x sen(1/y), se y 6= 0
(e) f (x, y) = ;
0, se y = 0
 2
x , se y 6= 0
(f) f (x, y) = .
1, se y = 0
3-9 Mostre que se α : I −→ Rn é derivável em t, então α é contı́nua aı́. Dê um exemplo mos-
trando que a recı́proca não é verdadeira.
3-10 Seja
f : R2 −−
−→
−− R
2

 xy , se (x, y) 6= (0, 0)

2 4
(x, y) −−−−−→ f (x, y) = x + y

0, se (x, y) = (0, 0).
Mostre que f é contı́nua ao longo de toda reta passando pela origem. Entretanto, f não é
contı́nua (na origem).
3-11 Uma aplicação A : Rn −→ Rm é dita afim se A(X) = T (X) + B, onde T é linear e B é uma
m-upla constante. Use o teorema 3.2.11 para mostrar que toda aplicação afim é lipschitziana.
3-12 Seja α : I −→ Rn uma curva parametrizada com derivada limitada em I, isto é, existe M ≥ 0
tal que kα0 (t)k ≤ M , para todo t ∈ I. Use a desigualdade do valor médio obtida no
teorema 2.2.11 para mostrar que α é lipschitziana, conforme definição 3.2.7. Reciprocamente,
se uma curva parametrizada derivável α : I −→ Rn é lipschitziana, então α0 é limitada.
3-13 Mostre que α(t) = (t, t2 ), t ∈ R, não é lipschitziana. Entretanto, sua restrição ao intervalo
[0, 1] o é. Mais geralmente, mostre que a restrição de α a qualquer intervalo limitado é
lipschitziana.
4
Derivadas Parciais

z
6 l1
l
x=a qqqqq 2
qqq
qqqq qqqq qq
NP (f ) T2 qqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqq
Hy = b qqqqqqqqqqqqqq
qq qqqqq qqqq qq q
q
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq qqq
q qq
qq
Y
H
HH
q q qq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q qqq q qqq
qqqqq qqqq qq qqqqqqq qqqq qq q q
H
H q
Hqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqq qq q q q q q
qqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq
H
qqqqq qqqqqq qqqqqqqqqq qqqqqqqqq
qqqqqqqq qqq qqq
qq  T1
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
-
q qqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqX qqqqq0qqqqqqqqqqqqqq q qqqqq y
β qqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q
α

x

por
J. Adonai & A. Carlos
4.1
Derivadas Parciais em R2

Seja g : I ⊂ R −→ R uma função real de uma variável real definida no intervalo I. A


derivada de g em a ∈ I é definida por
g(a + h) − g(a)
g 0 (a) = lim ,
h→0 h
quando o limite existe. Nesta definição, supomos que o acréscimo h é tal que a + h ∈ I.
Satisfeita esta hipótese, h é arbitrário, podendo ser positivo ou negativo, a menos que a seja
uma das extremidades de I.
Para estender este quadro para as funções
xn
vetoriais f : D ⊂ Rn −→ Rm , n > 1, (vale no- 6
tar que para n = 1, a noção de derivada foi es- qqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqq D
tendida sem qualquer esforço adicional, conforme q q q q qq
q qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqbqqqqqqqqq+ qqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
capı́tulo 2), além de uma reformulação adequada qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq qqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqbqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX qqqqqqqqqq0qqqqqqqqq q
do quociente de Newton —pois não dispomos da qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq@ qqqqqqqqqqqqqqX qqqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqq+qqqqq qHqqq
bqqq− qqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q
R
operação de divisão por um vetor—, é natural que qqq qqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
façamos algumas exigências sobre o domı́nio D: qqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqaqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
por exemplo, exigir que dado X0 ∈ D, os pontos aqqqqq− qqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqaqqqqq+ δ q x1
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
X = X0 + H ainda pertençam a D para kHk sufi- q qqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
cientemente pequeno. Um bom modo de fazer isto q qqqqqqqqqqqqqqq
é garantir a existência de um número real δ > 0
tal que a bola aberta B(X0 , δ) ainda esteja contida Figura 68: Conjunto Aberto
em D, o que motiva a definição de conjunto aberto
(veja definição 4.1.1 a seguir). Satisfeita esta condição, podemos, em particular, considerar
acréscimos vetoriais paralelos aos eixos coordenados, obtendo as derivadas parciais de f em X0 .
Mais geralmente, se os acréscimos são tomados paralelos a uma direção fixa, obtemos a noção
de derivada direcional, que veremos na seção 4.5.

4.1.1 [Conjunto Aberto]


Definição Um conjunto D ⊂ Rn é dito aberto se D = ∅ ou dado
X ∈ D existe δ > 0, que pode depender de X, tal que
B(X, δ) ⊂ D.

4.1.2
Exemplo No espaço R2 são abertos os seguintes subconjuntos:
(i) o próprio R2 ;
(ii) o disco x2 + y 2 < 1 (veja exemplo 4.1.4);
(iii) o espaço R2 menos um número finito de pontos;
(iv) o espaço R2 menos o cı́rculo x2 + y 2 = 1.

116
Derivadas Parciais 117

4.1.3
Exemplo O espaço Rn é aberto em Rn . Se retiramos do Rn um número finito de pontos, o
conjunto resultante ainda é aberto de Rn .
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q qqq q q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqYqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
4.1.4 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX qqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
Exemplo Se  > 0 e X0 ∈ Rn , então a bola aberta qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq
B(X0 , ) é um conjunto aberto do Rn . De qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
fato, dado X ∈ B(X0 , ), escolhemos δ =  − kX − X0 k . qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
É claro que δ > 0 e que se Y ∈ B(X, δ), então qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
kY − X0 k = kY − X0 + X − Xk qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
≤ kY − Xk + kX − X0 k < δ +  − δ = . Figura 69

Isto implica B(X, δ) ⊂ B(X0 , ). Em particular, os intervalos abertos são abertos de R e os
discos abertos são abertos de R2 .

4.1.5
Exemplo Vejamos alguns exemplos de conjuntos que não são abertos em R2 .
(i) Qualquer conjunto finito;
(ii) o semi-plano y ≥ 0;
(iii) o disco fechado x2 + y 2 ≤ 1;
(iv) o intervalo aberto {(x, y); 0 < x < 1 e y = 0}.
A seguinte proposição mostra como construir novos conjuntos abertos a partir de outros
já conhecidos.

4.1.6
Proposição Se D1 e D2 são abertos do Rn , então D1 ∩ D2 e D1 ∪ D2 são abertos do Rn .
Demonstração: Podemos supor que D1 ∩ D2 6= ∅. Seja X ∈ D1 ∩ D2 . Então, X ∈ D1
e X ∈ D2 . Como D1 e D2 são abertos, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que B(X, δ1 ) ⊂ D1 e
B(X, δ2 ) ⊂ D2 . Tomando δ = min{δ1 , δ2 }, vem que B(X, δ) ⊂ D1 ∩ D2 . Logo, D1 ∩ D2 é aberto.
Seja, agora, X ∈ D1 ∪ D2 . Logo, ou X ∈ D1 ou X ∈ D2 . Em qualquer caso, deve
existir δ > 0 tal que B(X, δ) está contida em algum destes conjuntos, pois ambos são abertos.
Portanto, B(X, δ) ⊂ D1 ∪ D2 , e D1 ∪ D2 é aberto. pppppppppppppppppppppp

Visando obter uma interpretação geométrica precisa do que significa derivada parcial,
introduziremos este conceito no ambiente R2 . Feito isso, a passagem para o caso vetorial, com
mais de duas variáveis, se dará naturalmente.
Seja f : D ⊂ R2 −→ R uma função definida no aberto D. Fixemos X0 = (a, b) ∈ D. Logo,
para algum δ > 0, B(X0 , δ) ⊂ D. Assim podemos escrever os quocientes de Newton de f ,
relativos a x e y, em X0 :
f (a + h, b) − f (a, b)
Q1 (h) = , 0 < |h| < δ,
h
118 Derivadas Parciais em R2

e
f (a, b + k) − f (a, b)
Q2 (k) = , 0 < |k| < δ.
k
Para ver Q1 e Q2 como quocientes de Newton de funções de uma variável, introduzimos duas
funções auxiliares, as quais indicaremos por g1 e g2 , definidas da seguinte forma:

g1 : (a − δ, a + δ) −−−→
−− R
(¶20 )
x −−−−−→ g1 (x) = f (x, b)
e
g2 : (b − δ, b + δ) −−−→
−− R
(¶21 )
y −−−−−→ g2 (y) = f (a, y).
Logo, Q1 é o quociente de Newton de g1 em a, e Q2 é o quociente de Newton de g2 em b. Isto
posto, podemos definir derivada parcial.

4.1.7
Definição Se Q1 tem limite quando h tende a zero, dizemos que f tem derivada parcial
com relação a x em X0 = (a, b). O valor do limite, indicado por ∂f ∂x
(a, b), por
fx (a, b), ou por D1 f (a, b), é chamado derivada parcial de f com relação a x em X0 . Em outras
palavras,
∂f f (a + h, b) − f (a, b)
(a, b) = lim ,
∂x h→0 h
quando o limite existe.

4.1.8
Definição Se Q2 tem limite quando k tende a zero, dizemos que f tem derivada parcial
com relação a y em X0 = (a, b). O valor do limite, indicado por ∂f ∂y
(a, b), por
fy (a, b), ou por D2 f (a, b), é chamado derivada parcial de f com relação a y em X0 . Em outras
palavras,
∂f f (a, b + k) − f (a, b)
(a, b) = lim ,
∂y k→0 k
quando o limite existe.

O cálculo explı́cito destes limites pode ser evitado com o uso de g1 e g2 , como mostra a
seguinte proposição.

4.1.9
Proposição Sejam f : D ⊂ R2 −→ R, D aberto, e X0 = (a, b) ∈ D. Se g1 e g2 são como
em (¶20 ) e (¶21 ), então

∂f ∂f
(a, b) = g10 (a) e (a, b) = g20 (b),
∂x ∂y
desde que as derivadas parciais de f existam em X0 .
Derivadas Parciais 119

Demonstração: De g1 (x) = f (x, b), x ∈ (a − δ, a + δ), vem que

g1 (a + h) − g1 (a) f (a + h, b) − f (a, b)
= = Q1 (h),
h h
isto é, Q1 coincide com o quociente de Newton de g1 em x = a. Logo,

g1 (a + h) − g1 (a) f (a + h, b) − f (a, b) ∂f
g10 (a) = lim = lim = (a, b).
h→0 h h→0 h ∂x

A afirmação com respeito à derivada de f com relação a y será deixada como exercı́cio. ppppppppppppppppp

Portanto, tudo se passa como no cálculo de funções de uma variável: basta fixar uma das
variáveis, e estudar a função de uma variável resultante. Vejamos alguns exemplos, para fixar
estas idéias.

4.1.10
Exemplo Seja f (x, y) = xy2 + e2x+y +3, (x, y) ∈ R2 , e consideremos o ponto X0 = (2, −1).
As funções auxiliares g1 e g2 , neste caso, são:

g1 (x) = f (x, −1) = x + e2x−1 +3, x ∈ R, e g2 (y) = f (2, y) = 2y 2 + e4+y +3, y ∈ R.

Logo, g10 (2) = 1 + 2 e3 e g20 (−1) = −4 + e3 . Usando a proposições 4.1.9, segue-se que

∂f ∂f
(2, −1) = 1 + 2 e3 , e (2, −1) = −4 + e3 .
∂x ∂y

Mais geralmente, em um ponto arbitrário X = (x, y), obtemos

g1 (x) = f (x, y) = xy 2 + e2x+y +3, x ∈ R, e g2 (y) = f (x, y) = xy 2 + e2x+y +3, y ∈ R,

onde estamos olhando y como uma constante, na relação que define g1 , e, o mesmo se fazendo
com x, naquela que define g2 . Logo,

∂f ∂f
(x, y) = g10 (x) = y 2 + 2 e2x+y e (x, y) = g20 (y) = 2xy + e2x+y , (x, y) ∈ R2 .
∂x ∂y

4.1.11
Exemplo Se f (x, y) = xy , (x, y) ∈ (0, +∞) × R, então pensando em y como constante,
obtemos ∂f ∂x
(x, y) = yxy−1 . Agora, para x constante, vem que ∂f
∂y
(x, y) = xy log x.
Em particular, ∂f
∂x
(1, 2) = 2 e ∂f∂y
(1, 2) = 0.
O procedimento adotado no exemplo anterior, onde calculamos as derivadas parciais no
ponto (1, 2), a partir do cálculo destas derivadas em um ponto qualquer, pode não ser o mais
aconselhável, como vemos no exemplo a seguir.
120 Derivadas Parciais em R2

4.1.12
Exemplo Seja f : R × (0, +∞) −→ R definida por
arctg27 (x3 + y) + sen(x2 + y 2 )
 
2 2 xy+cos(x+y+2)
f (x, y) = x + y + +e log y.
x2 + y 2 + 1

Para calcular, por exemplo, ∂f ∂x


(3, 1), observamos que a função g1 associada a f , neste ponto,
toma uma forma bastante simples, a saber: g1 (x) = f (x, 1) = x2 + 1, x ∈ R, cuja derivada é
g10 (x) = 2x. Logo, ∂f
∂x
(3, 1) = 6. O leitor deve observar, entretanto, que este mesmo cálculo, a
partir da expressão geral de ∂f
∂x
, deve ser bem mais trabalhoso.

4.1.13 [Operações com Derivadas Parciais]


Proposição Se f, g : D ⊂ R2 −→ R têm de-
rivada com relação a x no ponto
X0 = (a, b) do aberto D, então f + g, f g e f /g, esta última se g(a, b) 6= 0, também têm derivada
parcial com relação a x em X0 , e valem as seguintes identidades:
∂(f + g) ∂f ∂g
(i) (a, b) = (a, b) + (a, b);
∂x ∂x ∂x
∂(f g) ∂f ∂g
(ii) (a, b) = (a, b)g(a, b) + f (a, b) (a, b);
∂x ∂x ∂x
 
f ∂f ∂g
∂ (a, b)g(a, b) − f (a, b) (a, b)
g
(iii) (a, b) = ∂x ∂x .
∂x g 2 (a, b)

Demonstração: Segue-se facilmente das propriedades da derivada das funções reais de


uma variável real. ppppppppppppppppppppp

4.1.14 p
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por f (x, y) = x2 + y2 . Se X = (x, y) 6= (0, 0), então
∂f x ∂f y
(x, y) = p e (x, y) = p .
∂x 2
x +y 2 ∂y x + y2
2

Entretanto, f não tem derivadas parciais com relação a x nem com relação a y em X0 = (0, 0).
De fato, √ 
f (h, 0) − f (0, 0) h2 |h| 1, se h > 0
Q1 (h) = = = = .
h h h −1, se h < 0

Logo, não existe limh→0 Q1 (h) e, portanto, não existe ∂f


∂x
(0, 0). Analogamente, não existe ∂f
∂y
(0, 0).
p
Note que o gráfico de f , a superfı́cie z = x2 + y 2 , coincide com a folha superior do cone de
duas folhas mostrado na figura 28, página 35. O vértice deste cone corresponde ao ponto (0, 0),
onde f não possui derivadas parciais.
Derivadas Parciais 121

4.1.15
Exemplo Consideremos, agora, f : R2 −→ R definida assim:
2 2

xy x − y , se (x, y) 6= (0, 0)

f (x, y) = x2 + y 2

0, se (x, y) = (0, 0).

Um cálculo direto, usando a proposição 4.1.13, mostra que em X = (x, y) 6= (0, 0) valem

∂f x2 − y 2 x2 y 3 ∂f x2 − y 2 x3 y 2
(x, y) = y 2 + 4 e (x, y) = x − 4 .
∂x x + y2 (x2 + y 2 )2 ∂y x2 + y 2 (x2 + y 2 )2

Para calcular as derivadas parciais de f em (0, 0), usaremos os quocientes de Newton de f aı́:

f (h, 0) − f (0, 0) 0−0 f (0, k) − f (0, 0) 0−0


Q1 (h) = = = 0 e Q2 (k) = = = 0.
h h k k
∂f ∂f
Logo, ∂x
(0, 0) = limh→0 Q1 (h) = 0 e ∂y
(0, 0) = limk→0 Q2 (k) = 0. Em resumo, temos que
 2
x − y2 x2 y 3
y + 4 , se (x, y) 6= (0, 0)

∂f 
(x, y) = x2 + y 2 (x2 + y 2 )2
∂x 
0, se (x, y) = (0, 0)
 2
x − y2 x3 y 2
x − 4 , se (x, y) 6= (0, 0)

∂f 
(x, y) = x2 + y 2 (x2 + y 2 )2 (¶22 )
∂y 
0, se (x, y) = (0, 0).

Observação Algumas palavras sobre as notações usadas para derivadas parciais. O sı́mbolo
∂f
∂x
(X0 ) (ou fx (X0 )) contém duas informações:

(i) calculamos o limite quando h tende a zero do quociente de Newton Q1 ;


(ii) estamos indicando a primeira variável de f por x.

Portanto, se indicamos por u e v as coordenadas de um ponto genérico do domı́nio de f , a


notação adequada para o limite limh→0 Q1 (h) é ∂f∂u
(X0 ), o que deve ser chamado de derivada
parcial de f com relação a u em X0 . Note, entretanto, que a notação D1 f (X0 ) não depende da
escolha da letra que usamos para indicar a primeira variável de f . O exemplo a seguir indica
os pontos do domı́nio de f por (s, t), e calcula, claro, as derivadas parciais de f com relação às
variáveis s e t.

4.1.16
Exemplo Se f (s, t) = A sen(ks − wt), (s, t) ∈ R2 e A, k, w constantes, então
∂f ∂f
(s, t) = kA cos(ks − wt) e (s, t) = −wA cos(ks − wt).
∂s ∂t
122 Derivadas Parciais em R2

4.1.17
Interpretação Geométrica

Seja f : D ⊂ R2 −→ R uma função real tendo derivadas parciais, com relação a x e com
relação a y, no ponto X0 ∈ D. Seja

S = G(f ) = {(x, y, z); z = f (x, y), (x, y) ∈ D} z


6 l1
o gráfico de f , conforme definição 1.4.7. A figura l
x=a qqqqqq 2
qqq
ao lado mostra G(f ), os planos x = a e y = b. qqqq qqqq
qqqqqq q q
qpqqpqqqqqq q q qq
Estes planos interceptam G(f ) no traço das se-
NP (f ) T2
qq
p p qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq
Hy = b pqqpqqqqqqqqqqqq qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qpqqqpqpqqqqqqqqqq qqqq qq
qq
qpqp pqqqpqqpqqqpqqpqqqqpqqqq
pqqpqqqp pqqq qqqq qqqq
Y
H HH
guintes curvas parametrizadas: ppqqqpqqpqpqqpqqqqpqqpqpqqpqqq q q q qq
Hqpqqqqppqppqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q qq
H
qqqqqqqqqq q qq q q
H
qqppqqqpqqqqqq
qqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
H
pqqqq qqqqqqqqqqq
α1 (x) = (x, b, g1 (x)), x ∈ (a − δ, a + δ), ppqqp pqqqqqpppqqqqqqqqqqq
q
qq T1 -
e qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
y
p pp β qqX qqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq qqq qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq q
qq q qqq
q q q
p
α2 (y) = (a, y, g2 (y)), y ∈ (b − δ, b + δ), α ppp p p

x Figura 70
onde g1 e g2 são as funções auxiliares que defi-
nimos em (¶20 ) e (¶21 ). A figura abaixo exibe os
traços de α1 e α2 , que são, respectivamente, os gráficos de g1 , posto no plano y = b, e de g2 ,
no plano x = a. Note, também, a presença das retas l1 e l2 : l1 é a reta do plano y = b que é
tangente
z z
l2 pp
6 6
@1
l
pp ppp
pp pp
T2
p ppppppp@
ppppppppppppp p p p p p p p p p p p p p p ppppppp p
pp ppp @pp pqppp p p p p

g1 (a) q
ppp p p
g2 (b) q pqp z = g (y)
z = g1 (x)@ppppp T1
p pppp
ppp p
2
p pp p
R
@ p
@
@
@ ppppppα
ppp ppp β
q @ ppp - p q -
a x y
b


0 ∂f
tg α = g1 (a) = (a, b)


∂x
Figura 71:
∂f
tg β = g20 (b) =

 (a, b)
∂y

a G(f ) no ponto (a, b, f (a, b)), enquanto que l2 é a reta do plano x = a que também é tangente
ao gráfico de f . A reta l1 faz um ângulo α com e1 , e l2 faz um ângulo β com e2 . Portanto,
g10 (a) = tg α e g20 (b) = tg β, que são as inclinações de l1 e l2 , respectivamente. Isto posto,
podemos interpretar ∂f ∂x
(X0 ) e ∂f
∂y
(X0 ) como inclinações de retas tangentes ao gráfico de f . Em
particular, estas derivadas indicam, respectivamente, a taxa de crescimento de f , a partir de
X0 , nas direções de e1 e e2 . As retas l1 e l2 sugerem a seguinte definição.
Derivadas Parciais 123

4.1.18
Definição O plano que contém as retas l1 e l2 , denotado por πP (f ), será chamado plano
tangente ao gráfico de f no ponto P = (a, b, f (a, b)).

Como l1 é tangente ao traço de α1 em x = a, vem que esta reta é paralela ao vetor


∂f
T1 = α10 (a) = (1, 0, g10 (a)) = (1, 0, (a, b)),
∂x
também mostrado nas figuras 70 e 71. Analogamente, o vetor
∂f
T2 = α20 (b) = (0, 1, g20 (b)) = (0, 1, (a, b))
∂y
é paralelo à reta l2 . Assim,
∂f ∂f
πP (f ) = {X ∈ R3 ; X = (a, b, f (a, b)) + u(1, 0, (a, b)) + v(0, 1, (a, b)), (u, v) ∈ R2 }
∂x ∂y
é uma representação paramétrica para o plano tangente a G(f ) em P .

4.1.19
Definição O vetor
∂f ∂f
NP (f ) = T1 × T2 = (− (a, b), − (a, b), 1)
∂x ∂y
será chamado vetor normal ao gráfico de f em P .

Observando que NP (f ) é perpendicular a πP (f ) obtemos, via proposição 1.3.9, uma


equação cartesiana para este plano:
∂f ∂f
πP (f ) = {(x, y, z) ∈ R3 ; z = f (a, b) + (a, b)(x − a) + (a, b)(y − b)}. (¶23 )
∂x ∂y
z
6
4.1.20
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
Exemplo Seja z = f (x, y) = 4−x2 −2y2 , (x, y) ∈ R2 , qq qqqqπ
qq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqP
q qqqqqqqqq1qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq
qq q
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqP q q q
qq qqqqq1qqqqqqqq(f
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqq)qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
cujo gráfico, q q q q qqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqq
qqqqqqqqqqqqqq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq qq qqqqqqqqqqqqqqqq
q
G(f ) = {(x, y, z); z = 4 − x2 − 2y 2 , (x, y) ∈ R2 }, qq
qqqqqq qq qqqqqqqqqqq2qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q q q q q q q q q qqq q q q q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqP
qqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqq qqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq
qqqq q q q q q qqq q q q qq q q q q q q q
-
é um parabolóide elı́ptico, como mostra a figura 72. O ve- qq qqq
qqqqqqq q q q qqq qqqq q q q q q q q q q q
y
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q q q q q q q q
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqPqqqqqqqq2qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
π (f )
tor normal de G(f ) em um ponto arbitrário (x, y, f (x, y)) qqqqqqq
qqqqq
qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
é dado por qqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqq

x qqqqq
∂f ∂f
N (f ) = (− (x, y), − (x, y), 1) = (2x, 4y, 1). Figura 72: z = 4 − x2 − 2y2
∂x ∂y
Para X0 = (0, 0), obtemos P1 = (0, 0, 4) ∈ G(f ), ponto no qual o plano tangente é
∂f ∂f
πP1 (f ) = {(x, y, z) ∈ R3 ; z = f (0, 0) + (0, 0)(x − 0) + (0, 0)(y − 0)}
∂x ∂y
= {(x, y, z); z = 4},
124 Derivadas Parciais de Ordem Superior

que é paralelo ao plano-xy, como podemos ver na figura 72. Se tomamos X0 = (1, 1), obtemos
P2 = (1, 1, 1) ∈ G(f ), onde o plano tangente é
∂f ∂f
πP2 (f ) = {(x, y, z) ∈ R3 ; z = f (1, 1) + (1, 1)(x − 1) + (1, 1)(y − 1)}
∂x ∂y
= {(x, y, z); 2x + 4y + z = 7}.

4.1.21
Exemplo Consideremos o elipsóide S = {(x, y, z); x2 + 2y2 + 3z 2 = 21}. Esta superfı́cie
definida implicitamente pode ser olhada como a união dos dois gráficos das funções
r r
21 − x2 − 2y 2 21 − x2 − 2y 2
f (x, y) = e g(x, y) = − ,
3 3
ambas definidas na região D envolvida pela elipse z
qq 6
q qq q
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
2 2
x + 2y = 21.
qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq q
O objetivo deste exemplo é determinar, caso existam, qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q qqqqq q qq q qq q q q q q q q q q q q q q q q qq q q qq q qq q qq q qq q q q q q q q q q q q q P
q q q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
1
pontos de S onde o plano tangente é paralelo ao plano π qq q
qqqqq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq
qqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q
dado por x + 4y + 6z = 0. Vejamos se em G(f ) podemos qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq
qqqq
qqqq
qqqqqq
qqqqqqqqqqqqq qq qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
-
encontrar algum desses pontos, o qual indicaremos por qq
q qq q q qqq q q q q qqq q q q q q q q q q q q q q qqq q q q q q q q q q q q q q q q q
qq qq q qq q q q q q q y
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqq
q q q q
(x, y, f (x, y)). Neste ponto o vetor normal de G(f ) é qqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
N (f ) = (−fx (x, y), −fy (x, y), 1) x qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqq
x 2y
=( , , 1),
3f (x, y) 3f (x, y) Figura 73

se f (x, y) > 0. Logo, 3f (x, y)N (f ) = (x, 2y, 3f (x, y)) deve ser paralelo ao vetor (1, 4, 6), normal
ao plano π. Este paralelismo se dá quando x = 1, y = 2 e, portanto, f (x, y) = 2. Portanto,
o plano tangente a S em P1 = (1, 2, 2) é paralelo ao plano dado. O leitor pode agora verificar
que o outro plano tangente a S que é paralelo a π é o que passa por P2 = (−1, −2, −2). Como
resultado, temos os dois planos tangentes a S que são paralelos a π:
πP1 (f ) = {(x, y, z); x + 4y + 6z = 21} e πP2 (g) = {(x, y, z); x + 4y + 6z = −21}.

4.2
Derivadas Parciais de Ordem Superior

Seja f : D ⊂ R2 −→ R, D aberto. Suponhamos que as derivadas parciais de f , com relação


a x e a y, existam em D. Isto dá origem a duas novas funções definidas em D:
∂f ∂f
: D −→ R e : D −→ R.
∂x ∂y
Derivadas Parciais 125

Se estas funções têm derivadas parciais em X = (x, y), dizemos que f tem derivadas parciais de
segunda ordem em X. Usaremos as seguintes notações para indicar estas derivadas:
∂ ∂f ∂f
 
∂ 2f ∂x ∂ 2
f ∂ ∂x
(x, y) = (x, y), (x, y) = (x, y),
∂x2 ∂x ∂y∂x ∂y
   
∂f
∂ 2f ∂ ∂y ∂ 2f ∂ ∂f
∂y
(x, y) = (x, y) e 2
(x, y) = (x, y).
∂x∂y ∂x ∂y ∂y
Alternativamente, com a notação que indica a derivação parcial por um ı́ndice,
fxx (x, y) = (fx )x (x, y), fxy (x, y) = (fx )y (x, y),
fyx (x, y) = (fy )x (x, y) e fyy (x, y) = (fy )y (x, y).
∂2f
Observe que em ∂y∂x a ordem de derivação, indicada no “denominador”, se dá da direita para
esquerda: primeiro com relação a x, e depois com relação a y. Já na notação alternativa fxy
esta ordem, indicada no “ı́ndice”, se dá da esquerda para a direita. Em resumo,
∂ 2f
= fxy ,
∂y∂x
significando: derivar primeiro com relação a x, e depois com relação a y.
As derivadas parciais de terceira ordem são definidas a partir da existência daquelas de
segunda ordem. Caso existam em D as quatro derivadas parciais de segunda ordem, obtemos
oito derivadas parciais de terceira ordem, conforme tabela que segue.

∂ ∂
∂x ∂y
   
∂2f ∂2f
∂ 2f ∂ 3f ∂ ∂x2 ∂ 3f ∂ ∂x2
= =
∂x2 ∂x3 ∂x ∂y∂x2 ∂y
 2   2 
∂ f ∂ f
∂ 2f 3
∂ f ∂ ∂y∂x
3
∂ f ∂ ∂y∂x
= =
∂y∂x ∂x∂y∂x ∂x ∂y 2 ∂x ∂y
 2   2 
∂ f ∂ f
∂ 2f ∂ 3f ∂ ∂x∂y ∂ 3f ∂ ∂x∂y
= =
∂x∂y ∂x2 ∂y ∂x ∂y∂x∂y ∂y
 2   2 
∂ f ∂ f
∂ 2f ∂ f3 ∂ ∂y 2 ∂ f3 ∂ ∂y 2
= =
∂y 2 ∂x∂y 2 ∂x ∂y 3 ∂y

Mais geralmente, podemos definir as derivadas parciais de ordem k para f , a partir, é


claro, da informação de que f tenha, em D, aquelas de ordem k − 1. Neste caso, por exemplo,
126 Derivadas Parciais de Ordem Superior

se k1 , k2 , k3 ∈ N são tais que k1 + k2 + k3 = k, o sı́mbolo

∂f k
= fxk1 xk2 xk3
∂xk3 ∂y k2 ∂xk1

indicará que a k-ésima derivada parcial de f obtida derivando f , k1 vezes com relação a x, k2
vezes com relação a y e, por fim, k3 vezes com relação a x, outra vez.

4.2.1 y
Exemplo Seja f (x, y) = + x log y, onde y > 0 e x 6= 0. As derivadas parciais de f , até
x
terceira ordem, são mostradas na tabela abaixo.

∂f y ∂f x 1
= − 2 + log y = +
∂x x ∂y y x

∂ 2f 2y ∂ 2f 1 1
2
= 3 = − 2
∂x x ∂y∂x y x

∂ 2f 1 1 ∂ 2f x
= − 2 2
=− 2
∂x∂y y x ∂y y

∂ 3f 6y ∂ 3f 2
3
=− 4 2
= 3
∂x x ∂y∂x x

∂ 3f 2 ∂ 3f 1
= 3 = −
∂x∂y∂x x ∂y 2 ∂x y2

∂ 3f 2 ∂ 3f 1
2
= 3 =− 2
∂x ∂y x ∂y∂x∂y y

∂ 3f 1 ∂ 3f 2x
= − =
∂x∂y 2 y2 ∂y 3 y3

Note, nesta tabela, as seguintes coincidências:


∂ 2f ∂ 2f 1 1
(i) = = − 2;
∂y∂x ∂x∂y y x

∂ 3f ∂ 3f ∂ 3f 2
(ii) 2
= = 2
= 3;
∂x ∂y ∂x∂y∂x ∂y∂x x

∂ 3f ∂ 3f ∂ 3f 1
(iii) = = = − ,
∂y 2 ∂x ∂y∂x∂y ∂x∂y 2 y2
Derivadas Parciais 127

que mostra, neste caso, que o resultado não depende da ordem que executamos a derivação
parcial mista: as derivadas segundas mistas coincidem; as terceiras, obtidas derivando f duas
vezes com relação a x coincidem; e as terceiras obtidas derivando f duas vezes com relação a y
também são iguais. Infelizmente, em geral, isto não é verdadeiro, como verificaremos no próximo
exemplo.

4.2.2
Exemplo Retomemos o exemplo 4.1.15, página 121, a saber:
2 2

xy x − y , se (x, y) 6= (0, 0)

f (x, y) = x2 + y 2

0, se (x, y) = (0, 0),

cujas primeiras derivadas parciais são, conforme (¶22 ),


 2
x − y2 x2 y 3
y + 4 , se (x, y) 6= (0, 0)

∂f 
(x, y) = x2 + y 2 (x2 + y 2 )2
∂x 
0, se (x, y) = (0, 0)
 2
x − y2 x3 y 2
x − 4 , se (x, y) 6= (0, 0)

∂f 
(x, y) = x2 + y 2 (x2 + y 2 )2
∂y 
0, se (x, y) = (0, 0).

Temos que
∂f ∂f ∂f ∂f
∂ 2f (0, 0 + k) − (0, 0) (0, k) − (0, 0) k
= lim ∂x ∂x = lim ∂x ∂x = − lim = −1
∂y∂x k→0 k k→0 k k→0 k

e
∂f ∂f ∂f ∂f
2 (0 + h, 0) − (0, 0) (h, 0) − (0, 0)
∂ f ∂y ∂y ∂y ∂y h
= lim = lim = lim = 1,
∂x∂y h→0 h h→0 h h→0 h

Resulta daı́ que fxy (0, 0) 6= fyx (0, 0). Entretanto, fora da origem estas derivadas parciais coinci-
dem, como podemos verificar diretamente, usando a proposição 4.1.13. O resultado é o seguinte:
 2
x − y2 2
2 2 x −y
2
2
2 + 8x y , se (x, y) 6= (0, 0)

∂ f 
2
(x, y) = x + y (x2 + y 2 )3
∂x∂y 
1, se (x, y) = (0, 0)
 2 2 2 2
∂ 2f  x − y + 8x2 y 2 x − y , se (x, y) 6= (0, 0)

2 2
(x, y) = x + y (x2 + y 2 )3
∂y∂x 
−1, se (x, y) = (0, 0).

∂2f
Estudando o comportamento de ∂x∂y
ao longo de eixo-y − {(0, 0)}, vemos que aı́ esta derivada é
∂2f
constante e vale −1, o que, em particular, mostra que ∂x∂y
não é contı́nua na origem. O mesmo
128 Derivadas Parciais de Ordem Superior

∂2f
argumento, agora considerando o eixo-x, mostra que ∂y∂x
também não é contı́nua em (0, 0).
É exatamente este o defeito de f que é responsável pela não-coincidência destas derivadas em
(0, 0). Pensando na situação geral, isto sugere que devemos pedir pelo menos a continuidade das
derivadas parciais até ordem dois, para obter uma possı́vel igualdade entre fxy e fyx . A próxima
seção se encarregará desta tarefa.

4.2.3
O Teorema de Schwarz

Seja f : D ⊂ R2 −→ R, definida no aberto D, com derivadas parciais até a ordem dois


definidas em D. Fixado X0 = (a, b), uma tentativa natural de se obter uma prova da igualdade

∂ 2f ∂ 2f
(a, b) = (a, b),
∂y∂x ∂x∂y

seria aplicando diretamente a definição de derivada parcial. Primeiro escreverı́amos:

∂f ∂f
∂ 2f (a, b + k) − (a, b)
(a, b) = lim ∂x ∂x
∂y∂x k→0 k
 
f (a + h, b + k) − f (a, b + k) − f (a + h, b) + f (a, b)
= lim lim .
k→0 h→0 hk

Depois escreverı́amos:

∂f ∂f
(a + h, b) − (a, b)
∂ 2f ∂y ∂y
(a, b) = lim
∂x∂y h→0 k
 
f (a + h, b + k) − f (a, b + k) − f (a + h, b) + f (a, b)
= lim lim .
h→0 k→0 hk

Agora, se definimos

φ(h, k) = f (a + h, b + k) − f (a, b + k) − f (a + h, b) + f (a, b),

a desejada demonstração resultaria da igualdade


   
φ(h, k) φ(h, k)
lim lim = lim lim ,
k→0 h→0 hk h→0 k→0 hk

se tivéssemos em mãos algum resultado que garantisse igualdade de limites iterados, como é o
nosso caso. Infelizmente, isto nem sempre é verdadeiro, como mostra o próximo exemplo. Logo,
devemos trabalhar um pouco mais, para achar uma prova da igualdade proposta.
Derivadas Parciais 129

4.2.4 2 2
Exemplo Seja g(h, k) = h − k , (h, k) 6= (0, 0). Temos que
2 2
h +k
  k2
lim lim g(h, k) = − lim 2 = −1
k→0 h→0 k→0 k

e
  h2
lim lim g(h, k) = lim 2 = 1,
h→0 k→0 h→0 h

o que mostra que a inversão da ordem no cálculo de limites iterados pode produzir resultados
diferentes.
Obteremos a seguir uma seqüência de resultados que culminarão no teorema de Schwarz.
Iniciamos fazendo uma adaptação do teorema do valor médio (teorema 2.2.9) para funções de
duas variáveis, via derivadas parciais.

4.2.5
Proposição Sejam f : D ⊂ R2 −→ R e X = (u, v) ∈ D. Se f tem derivadas parciais até
segunda ordem na bola aberta B(X, δ) ⊂ D e k(h, k)k < δ, então valem as
seguintes identidades:
∂f
(i) f (u + h, v) = f (u, v) + (u + θ1 h, v)h, para algum θ1 , 0 < θ1 < 1;
∂x
∂f
(ii) f (u, v + k) = f (u, v) + (u, v + θ2 k)k, para algum θ2 , 0 < θ2 < 1;
∂y
∂f ∂f ∂ 2f
(iii) (u, v + k) = (u, v) + (u, v + θ21 k)k, para algum θ21 , 0 < θ21 < 1;
∂x ∂x ∂y∂x
∂f ∂f ∂ 2f
(iv) (u + h, v) = (u, v) + (u + θ12 h, v)h, para algum θ12 , 0 < θ12 < 1.
∂y ∂y ∂x∂y

Demonstração: Seja g1 (x) = f (x, v), v fixo. O qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq


q qq qq qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
teorema 2.2.9 aplicado a g1 no intervalo [u, u + h] (se qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqvqqqqqqqqqqqqqq+ qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqk)
q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq(u
qqq q + h, v + k)
qqqqqqqqq(u, q qq
h > 0, claro) produz c ∈ (u, u + h) tal que qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqvqqqqqqqqqqqqqqqqq+ qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqq(u, q q q qq q q q qqqqqqqqqqqqqqθqqqqqq2qqqqqqk) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
g1 (u + h) − g1 (u) = g10 (c)(u + h − u) = g10 (c)h. qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq(u, qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqv) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq(u qqqqqqqqqqqqqqqq+ qqqqqq h, v)
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq(u qqqqqqqqq+ qqqqqqqθqqq1qqqh, qqq v)
Como c está entre u e u+h, vem que existe θ1 , 0 < θ1 < 1, qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
tal que c = u + θ1 h. Logo, qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
g1 (u + h) = g1 (u) + g10 (u + θ1 h)h, qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q

que escrito em termos de f é o mesmo que Figura 74

∂f
f (u + h, v) = f (u, v) + (u + θ1 h, v)h,
∂x
130 Derivadas Parciais de Ordem Superior

visto que g10 (x) = ∂f


∂x
(x, v). Segue-se, portanto, (i). Para (ii), basta ter em conta g2 (y) = f (u, y),
u fixo. Vejamos, agora, (iii). Para isto, seja
∂f
F (x, y) = (x, y), (x, y) ∈ D.
∂x
Usando (ii) para F , temos que existe θ21 = θ2 , 0 < θ21 < 1, tal que
∂F
F (u, v + k) = F (u, v) + (u, v + θ2 k)k.
∂y
Logo,

∂ ∂f

∂f ∂f ∂x ∂f ∂ 2f
(u, v + k) = (u, v) + (u, v + θ21 k)k = (u, v) + (u, v + θ21 k)k.
∂x ∂x ∂y ∂x ∂y∂x
Não é difı́cil ver que (i) implica (iv). ppppppppppppppppppppp

4.2.6
Corolário Sejam f : D ⊂ R2 −→ R e X0 = (a, b) ∈ D. Suponhamos que f tem derivadas
parciais até segunda ordem na bola aberta B(X0 , δ) ⊂ D. Defina

φ(h, k) = f (a + h, b + k) − f (a, b + k) − f (a + h, b) + f (a, b), h2 + k 2 < δ 2 .

Então, existem números reais a1 , a2 , a3 , a4 ∈ (0, 1) tais que


∂ 2f ∂ 2f
φ(h, k) = hk (a + a1 h, b + a2 k) = hk (a + a3 h, b + a4 k).
∂y∂x ∂x∂y

Demonstração: Temos que

φ(h, k) = (f (a + h, b + k) − f (a + h, b)) − (f (a, b + k) − f (a, b))


= (f (a + h, b + k) − f (a, b + k)) − (f (a + h, b) − f (a, b)).

Logo, podemos escrever

φ(h, k) = G(a + h) − G(a) = H(b + k) − H(b),

onde G e H são as funções auxiliares definidas por

G(x) = f (x, b + k) − f (x, b) e H(y) = f (a + h, y) − f (a, y).

O teorema do valor médio aplicado a G no intervalo [a, a + h] implica que

G(a + h) − G(a) = G0 (a + a1 h)h,

para algum a1 tal que 0 < a1 < 1. Donde,


∂f ∂f
φ(h, k) = G0 (a + a1 h)h = h( (a + a1 h, b + k) − (a + a1 h, b)), 0 < a1 < 1,
∂x ∂x
Derivadas Parciais 131

que, via (iii) da proposição 4.2.5, fica

∂ 2f
φ(h, k) = hk (a + a1 h, b + a2 k), 0 < a1 , a2 < 1.
∂y∂x
De modo inteiramente análogo, agora usando H e o item (iv) da proposição 4.2.5, obtemos que

∂ 2f
φ(h, k) = hk (a + a3 h, b + a4 k), 0 < a3 , a4 < 1,
∂x∂y
o que termina a demonstração. pppppppppppppppppppppp

4.2.7 [H. A. Schwarz]


Teorema Sejam f : D ⊂ R2 −→ R e X0 = (a, b) ∈ D. Suponhamos que
f tem derivadas parciais até segunda ordem na bola aberta
∂2f ∂2f
B(X0 , δ) ⊂ D. Se as derivadas parciais mistas ∂y∂x e ∂x∂y são contı́nuas em X0 , então elas
coincidem neste ponto.
Demonstração: Seja  > 0 um número positivo arbitrário. Mostraremos que
2 2

∂ f ∂ f

∂y∂x (a, b) − (a, b) < ,
∂x∂y

que por sua vez implica na igualdade procurada. Da continuidade em X0 destas derivadas
segue-se a existência de δ0 > 0, o qual podemos supor menor do que δ, tal que
 2
∂ 2f

∂ f 
(X) − (X0 ) <


 ∂y∂x ∂y∂x 2



X ∈ D, kX − X0 k < δ0 =⇒ e . (¶24 )
 2
∂ 2f


 ∂ f 
(X) − (X0 ) <



∂x∂y ∂x∂y 2
Fixemos (h, k), h 6= 0, k 6= 0, tal que 0 < k(h, k)k < δ0 < δ. Para este par, o corolário anterior
produz a1 , a2 , a3 , a4 ∈ (0, 1) tais que

∂ 2f ∂ 2f
(a + a1 h, b + a2 k) = (a + a3 h, b + a4 k).
∂y∂x ∂x∂y
Escrevendo X1 = (a + a1 h, b + a2 k) e X2 = (a + a3 h, b + a4 k), vem que

kX1 − X0 k < δ0 e kX2 − X0 k < δ0 .

De fato,
kX1 − X0 k = k(a1 h, a2 k)k < k(h, k)k < δ0 ,
pois 0 < a1 , a2 < 1. Portanto, podemos aplicar (¶24 ) a X1 e X2 , para obter
2 2
2 2

∂ f ∂ f  ∂ f ∂ f 
∂y∂x (X1 ) − ∂y∂x (X0 ) < 2 e ∂x∂y (X2 ) − ∂x∂y (X0 ) < 2 .

132 Derivadas Parciais de Ordem Superior

Agora,
2
∂ 2f
2
∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f

∂ f ∂ f
∂y∂x (X0 ) − ∂x∂y (X0 ) = ∂y∂x (X0 ) − (X1 ) + (X1 ) − (X0 )

∂y∂x ∂y∂x ∂x∂y
2
∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f

∂ f
= (X0 ) − (X1 ) + (X2 ) − (X0 )
∂y∂x ∂y∂x ∂x∂y ∂x∂y
2
∂ 2f ∂ 2f 2

∂ f ∂ f
≤ (X1 ) − (X0 ) + (X2 ) − (X0 )
∂y∂x ∂y∂x ∂x∂y ∂x∂y
 
< + = ,
2 2
o que prova o teorema. pppppppppppppppppppppp

Observação O teorema de Schwarz pode ser provado com condições menos restritivas sobre
a aplicação f : basta exigir a existência de fx , fy e fxy numa vizinhança de (a, b),
e a continuidade de fxy em (a, b). Isto implica que existe fyx (a, b), e vale fxy (X0 ) = fyx (a, b).
Uma prova deste fato pode ser encontrada em [Rudin], teorema 9.40.

4.2.8
Definição Uma função f : D ⊂ R2 −→ R é dita de classe C k em D se as derivadas parciais
de f até a ordem k são funções contı́nuas em D. Se f é de classe C k , para todo
k ∈ N, dizemos que f é de classe C ∞ .

4.2.9
Exemplo Seja f : D ⊂ R2 −→ R de classe C 3 , e consideremos as derivadas parciais de or-
dem 3 de f que contêm exatamente duas derivações com relação a x. Elas são
dadas por:
∂ 3f ∂ 3f ∂ 3f
, e .
∂x2 ∂y ∂x∂y∂x ∂y∂x2
Usando o teorema de Schwarz podemos provar que estas derivadas parciais coincidem. De fato,
 2   2 
∂ f ∂ f
∂ 3f ∂ ∂x∂y ∂ ∂y∂x ∂ 3f
= = = ,
∂x2 ∂y ∂x ∂x ∂x∂y∂x
onde, na segunda igualdade, usamos o teorema de Schwarz. Por outro lado, aplicando o teorema
de Schwarz à função ∂f
∂x
, obtemos

∂ 2 ∂f 2 ∂f
 
∂ 3f ∂x
∂ ∂x ∂ 3f
= = = ,
∂x∂y∂x ∂x∂y ∂y∂x ∂y∂x2
o que completa nossa afirmação.
Este último exemplo pode ser facilmente generalizado, e obtemos o seguinte corolário, cuja
prova, que segue as mesmas idéias usadas no exemplo, será deixada como exercı́cio.
Derivadas Parciais 133

4.2.10
Corolário Seja f : D ⊂ R2 −→ R uma função de classe C ∞ em D. Se duas derivadas
parciais de ordem k de f são obtidas com o mesmo número de derivações com
relação a x, então elas coincidem.

4.3
Derivadas Parciais em Rn

Nesta seção estenderemos o conceito de derivada parcial para funções reais definidas em
subconjuntos do Rn . Para isto, seja f : D ⊂ Rn −→ R, definida no aberto D, e fixemos uma
n-upla X = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ D. Como D é aberto, vem que existe δ > 0 tal que a bola aberta
B(X, δ) está contida em D.

4.3.1
Definição Dado j ∈ {1, 2, . . . , n}, o j-ésimo quociente de Newton de f em X é definido
por
f (x1 , x2 , . . . , xj + t, xj+1 , . . . , xn ) − f (x1 , x2 , . . . , xn )
Qj (t) = , 0 < |t| < δ,
t
ou, equivalentemente,
f (X + tej ) − f (X)
Qj (t) = , 0 < |t| < δ,
t
onde ej = (0, 0, . . . , 1, . . . , 0) é o j-ésimo elemento da base canônica do Rn .

De modo análogo ao que fizemos para o caso com duas variáveis, estes quocientes de
Newton podem ser olhados como quocientes de Newton de funções reais de uma variável. De
fato, basta definir, para cada j = 1, 2, . . . n, a função auxiliar
gj : (xj − δ, xj + δ) −−−→
−− R
(¶25 )
u −−−−−→ gj (u) = f (x1 , x2 , . . . , u, . . . , xn ).
Desta forma, Qj é exatamente o quociente de Newton de gj em u = xj .

4.3.2
Definição Se Qj tem limite quando t tende a zero, dizemos que f tem derivada parcial
∂f
com relação a xj em X. O valor do limite, indicado por ∂xj
(X), por fxj (X), ou
por Dj f (X), é chamado derivada parcial de f com relação a xj em X. Em outras palavras,
∂f f (X + tej ) − f (X)
(X) = lim .
∂xj t→0 t
quando o limite existe.
134 Derivadas Parciais em Rn

4.3.3
Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ R e X = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ D, D aberto. Se gj é como
em (¶25 ), então
∂f
(X) = gj0 (xj ),
∂xj
desde que esta derivada parcial exista.
Demonstração: Basta imitar a prova da proposição 4.1.9. ppppppppppppppppp

4.3.4
∂f
Exemplo Seja f (x, y, z) = x3 y2 z + sen(x2 + y + z), (x, y, z) ∈ R3 . Para calcular ∂x
em
X = (x, y, z), consideramos a função auxiliar
g1 (u) = f (u, y, z) = u3 y 2 z + sen(u2 + y + z), u ∈ R,
cuja derivada, em u arbitrário, é g10 (u) = 3u2 y 2 z + 2u cos(u2 + y + z). Logo,
∂f
(x, y, z) = g10 (x) = 3x2 y 2 z + 2x cos(x2 + y + z).
∂x
O mesmo tipo de raciocı́nio mostra que
∂f ∂f
(x, y, z) = 2x3 yz + cos(x2 + y + z) e (x, y, z) = x3 y 2 + cos(x2 + y + z).
∂y ∂z

4.3.5
Exemplo Seja f (x1 , x2 , . . . , xn ) = x21 + x22 + · · · + x2n , (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn . A função
gj (u) = f (x1 , x2 , . . . , xj , . . . , xn ) = x21 + x22 + · · · + u2 + · · · + x2n , u ∈ R,
tem derivada gj0 (u) = 2u. Logo,
∂f
(x1 , x2 , . . . , xn ) = gj0 (xj ) = 2xj .
∂xj

4.3.6 p
Exemplo Se f (x1 , x2 , . . . , xn ) = x21 + x22 + · · · + x2n , (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn −{(0, 0, . . . , 0)},
então a sua j-ésima função auxiliar é dada por
q
gj (u) = f (x1 , x2 , . . . , u, . . . , xn ) = x21 + x22 + · · · + u2 + · · · + x2n .
Logo,
1 1 u
gj0 (u) = q 2u = q
2
x21 + x22 + · · · + u2 + · · · + x2n x21 + x22 + · · · + u2 + · · · + x2n
e, portanto,
∂f xj
(x1 , x2 , . . . , xn ) = gj0 (xj ) = q .
∂xj
x21 + x22 + · · · + x2n
Derivadas Parciais 135

4.3.7 [Gradiente]
Definição Seja f : D ⊂ Rn −→ R uma função real tendo todas as primeiras de-
rivadas parciais no aberto D. Dado X ∈ D, o vetor do Rn
∂f ∂f ∂f
grad f (X) = ( (X), (X), . . . , (X))
∂x1 ∂x2 ∂xn
é chamado gradiente de f em X. Este vetor também é indicado por ∇f (X).

4.3.8
∂f ∂f
Exemplo Se f (x, y) = x2 + y2 , (x, y) ∈ R2 , então ∂x
(x, y) = 2x e ∂y
(x, y) = 2y. Logo,
grad f (x, y) = (2x, 2y).

4.3.9
Exemplo Seja V (x, y, z) = p k
, (x, y, z) 6= (0, 0, 0), onde k é uma constante.
x2 + y 2 + z 2
Temos que
∂V x
(x, y, z) = −k p ,
∂x ( x + y 2 + z 2 )3
2

∂V y
(x, y, z) = −k p ,
∂y ( x2 + y 2 + z 2 ) 3
∂V z
(x, y, z) = −k p .
∂z ( x + y 2 + z 2 )3
2
Logo,
k
grad f (X) = ∇f (X) = − p (x, y, z).
( x2 + y 2 + z 2 ) 3

4.3.10
Exemplo Se f (x1 , x2 , . . . , xn ) = x21 + x22 + · · · + x2n , (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn , então
grad f (X) = (2x1 , 2x2 , . . . , 2xn ) = 2(x1 , x2 , . . . , xn ) = 2X.

4.3.11
Proposição Sejam f, g : D ⊂ Rn −→ R tendo derivadas parciais de primeira ordem no
aberto D. Se X ∈ D, então

(i) grad(f + g)(X) = grad f (X) + grad g(X);


(ii) grad(af )(X) = a grad f (X) (a ∈ R, constante);
(iii) grad(f g)(X) = f (X) grad g(X) + g(X) grad f (X).

Demonstração: Faremos apenas a prova de (iii). As outras são mais simples e serão
deixadas como exercı́cio. Para cada j = 1, 2, . . . n, temos que
∂(f g) ∂g ∂f
(X) = f (X) (X) + g(X) (X).
∂xj ∂xj ∂xj
136 Derivadas Parciais Vetoriais

Logo,

∂(f g) ∂(f g) ∂(f g)


grad(f g)(X) = ( (X), (X), . . . , (X))
∂x1 ∂x2 ∂xn
∂g ∂f ∂g ∂f
= (f (X) (X) + g(X) (X), . . . , f (X) (X) + g(X) (X))
∂x1 ∂x1 ∂xn ∂xn
∂g ∂g ∂g ∂f ∂f ∂f
= f (X)( (X), (X), . . . , (X)) + g(X)( (X), (X), . . . , (X))
∂x1 ∂x2 ∂xn ∂x1 ∂x2 ∂xn
= f (X) grad g(X) + g(X) grad f (X). ppppppppppppppppppppp

4.4
Derivadas Parciais Vetoriais

O nosso objetivo agora é estender a noção de derivada parcial para funções vetoriais.

4.4.1
Definição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm uma função vetorial definida no aberto D, e X ∈ D.
Dado j ∈ {1, 2, . . . , n}, a derivada parcial de f com relação a xj em X é definida
por
∂f f (X + tej ) − f (X)
(X) = lim ,
∂xj t→0 t
caso o limite exista.

A seguinte proposição resulta facilmente da proposição 3.1.23.

4.4.2
Proposição Se f : D ⊂ Rn −→ Rm tem funções coordenadas f1 , f2 , . . ., fm , e 1 ≤ j ≤ m,
então
∂f ∂f1 ∂f2 ∂fm
(X) = ( (X), (X), . . . , (X)),
∂xj ∂xj ∂xj ∂xj
desde que as derivadas parciais indicadas existam.

Observação No que diz respeito às derivadas parciais de ordem superior de uma função ve-
torial, tudo se passa exatamente como na seção 4.2, onde tais derivadas foram
estudadas. Portanto, achamos não ser necessário reintroduzi-las aqui. Quanto ao teorema de
Schwarz, ele continua verdadeiro, também neste contexto. Nos exemplos que seguem, calcula-
remos algumas derivadas parciais de ordem superior, sem maiores comentários.
Derivadas Parciais 137

4.4.3
Exemplo Se f : R2 −→ R3 é dada por f (u, v) = (u, v, u2 + v2 ), então
∂f ∂f
(u, v) = (1, 0, 2u) e (u, v) = (0, 1, 2v).
∂u ∂v
As derivadas de ordem dois são:
∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
(u, v) = (0, 0, 2), (u, v) = (0, 0, 2) e (u, v) = (u, v) = (0, 0, 0).
∂u2 ∂v 2 ∂v∂u ∂u∂v
É claro que as derivadas de ordem superior a dois de f são todas nulas.

4.4.4
Exemplo Se f (r, θ) = (r cos θ, r sen θ), (r, θ) ∈ R2 , então
∂f ∂f
(r, θ) = (cos θ, sen θ) e (r, θ) = (−r sen θ, r cos θ).
∂r ∂θ
As derivadas parciais de segunda ordem são:
∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
(r, θ) = (0, 0), (r, θ) = r(− cos θ, − sen θ) e (r, θ) = (r, θ) = (− sen θ, cos θ).
∂r2 ∂θ2 ∂θ∂r ∂r∂θ

4.4.5
Exemplo Seja f : Rn −→ Rn , f (x1 , x2 , . . . , xn ) = (x1 , x2 , . . . , xn ). Então,
∂f
(x1 , x2 , . . . , xn ) = (0, 0, . . . , 1, . . . , 0) = ej , j = 1, 2, . . . , n
∂xj
e qualquer derivada de ordem maior do que 1 é a n-upla O = (0, 0, 0 . . . , 0).

4.4.6
Exemplo Para f : R3 −→ R3 , definida por
f (r, θ, φ) = (r sen φ cos θ, r sen φ sen θ, r cos φ),

obtemos que
     
sen φ cos θ −r sen φ sen θ r cos φ cos θ
∂f  ∂f ∂f
(r, θ, φ) = sen φ sen θ, (r, θ, φ) =  r sen φ cos θ  e (r, θ, φ) = r cos φ sen θ.
    
∂r ∂θ ∂φ
cos φ 0 −r sen φ

Agora, algumas derivadas de segunda ordem.


     
2
0 2
− sen φ sen θ 2
−r cos φ sen θ
∂ f ∂ f ∂ f
(r, θ, φ) = 0 , (r, θ, φ) = sen φ cos θ e (r, θ, φ) =  r cos φ cos θ .
     
∂r 2  
∂r∂θ
 
∂θ∂φ
0 0 0
138 Derivadas Parciais Vetoriais

4.4.7 [Laplaciano]
Definição Seja f : D ⊂ Rn −→ R uma função real tendo derivadas parciais até
ordem dois no aberto D. Dado X ∈ D, o número real

∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
∆f (X) = (X) + (X) + · · · +
∂x21 ∂x22 ∂x2n

é chamado laplaciano de f em X.

4.4.8 p
Exemplo Seja f (x, y, z) = 1/ x2 + y2 + z 2 , (x, y, z) 6= (0, 0, 0). Para facilitar o cálculo
pdas derivadas parciais de f , escreveremos f (X) = 1/r(X), onde X = (x, y, z) e
r(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 . Temos que fx = −rx /r2 . Como rx = x/r, vem que fx = −x/r3 .
Donde,
−r3 + x3r2 rx 3x2 − r2
fxx = = .
r6 r5
Analogamente, obtemos que

3y 2 − r2 3z 2 − r2
fyy = e fzz = .
r5 r5
Logo, o laplaciano de f em X = (x, y, z) 6= (0, 0, 0) é dado por

∆f (X) = fxx (X) + fyy (X) + fzz (X)

3x2 − r2 3y 2 − r2 3z 2 − r2
= + +
r5 r5 r5
3(x2 + y 2 + z 2 ) − 3r2 3r2 − 3r2
= = = 0.
r5 r5

Isto mostra que f é uma aplicação harmônica em R3 − {0, 0, 0}, conforme exercı́cio 4-9.
Finalizamos esta seção com algumas propriedades básicas do laplaciano.

4.4.9
Proposição Seja f : D ⊂ Rn −→ R uma função real tendo derivadas parciais até ordem
dois no aberto D. Dado X ∈ D, valem as identidades abaixo.

(i) ∆(f + g)(X) = ∆f (X) + ∆g(X);


(ii) ∆(f g)(X) = f (X)∆g(X) + g(X)∆f (X) + 2 grad f (X) · grad g(X).

Demonstração: Temos que

∂ 2 (f + g) ∂ 2f ∂ 2g
= + , i = 1, 2, . . . n.
∂x2j ∂x2j ∂x2j
Derivadas Parciais 139

Logo,
∂ 2 (f + g) ∂ 2 (f + g) ∂ 2 (f + g)
∆(f + g)(X) = (X) + (X) + · · · + = ∆f + ∆g.
∂x21 ∂x22 ∂x2n
De
∂(f g) ∂g ∂f
=f +g , i = 1, 2, . . . n,
∂xj ∂xj ∂xj
vem que
∂ 2 (f g) ∂ 2g ∂ 2f ∂f ∂g
2
= f 2
+g 2
+2 , i = 1, 2, . . . n.
∂xj ∂xj ∂xj ∂xj ∂xj
Logo,
n 
∂ 2g ∂ 2f

X ∂f ∂g
∆(f g) = f +g 2 +2
j=1
∂x2j ∂xj ∂xj ∂xj
n n n
X ∂ 2g X ∂ 2f X ∂f ∂g
=f +g +2
j=1
∂x2j j=1
2
∂xj j=1
∂xj ∂xj

= f ∆g + g∆f + 2 grad f · grad g.

4.4.10
Interpretação Geométrica

Podemos dar uma boa interpretação geométrica para derivadas parciais vetoriais, usando
as superfı́cies parametrizadas, que foram introduzidas em 1.5.16. Seja

g : D ⊂ R2 −− − R3
−→

(u, v) −−−−−→ g(u, v) = (g1 (u, v), g2 (u, v), g3 (u, v))
∂g ∂g
uma superfı́cie parametrizada com ∂u e ∂v definidas no conjunto aberto D. Fixado (u0 , v0 ),
consideramos as curvas coordenadas de g que passam por P = g(u0 , v0 ), que, como vimos
em 1.5.19, são as curvas parametrizadas

αv0 (u) = g(u, v0 ) = (g1 (u, v0 ), g2 (u, v0 ), g3 (u, v0 )), (u, v0 ) ∈ D

e
αu0 (v) = g(u0 , v) = (g1 (u0 , v), g2 (u0 , v), g3 (u0 , v)), (u0 , v) ∈ D.
Note que estas duas curvas parametrizadas são os análogos, para este caso, das funções auxiliares
que vimos usando para calcular derivadas parciais: elas são construı́das fixando um parâmetro
e deixando o outro como variável. Portanto,
∂g ∂g
αv0 0 (u0 ) = (u0 , v0 ) e αu0 0 (v0 ) = (u0 , v0 ),
∂u ∂v
140 Derivadas Parciais Vetoriais

∂g ∂g
o que mostra que os vetores ∂u (u0 , v0 ) e ∂v (u0 , v0 ) podem ser vistos como vetores tangentes
ao traço S = g(D) da superfı́cie parametrizada g, em P , pois eles são tangentes às curvas
coordenadas αv0 e αu0 , respectivamente.
z l2
6 
v Ng (u0 , v0 )  ∂v ∂g
(u0 , v0 )
6 D o qqqqqqqqqq qqq
qqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq 
qqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
S 
gH
3 (u 0 , v0 ) S qqqqqqqqqqqqqqqqq
rqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqq S = g(D)
qqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq
H H @ qqqqqqq
qq Sqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
Hqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
r qqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqq∂g
g(u qqqqqqqqqqqqqqqqqq
, v ) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
H
g- 0qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqq(u0 , v0 )
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
0
qqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
@
H S  ∂u
v0 r r qqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqq
H Hqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqq
(u0 , v0 ) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqq qqqq qqqqqqqqqqqq qqqqq Hqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq qqqqq
H
j
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqq
qqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
HH
l1
r r  qqqqqqqqqqqqqqqq g
qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqq
2 qqqqqqqqqq
(u
qqqqqqqqq
qqqqqqqq
qqqqqq r
0 , v- 0)
qqqqqqqqq qqq qqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqq
-
u0 u qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqq y
qqqqqqqqqq
qqqqqqqqq
qqqqqqqq
qqqqqqq

g1 (u0 , v0 ) r  r qqqqqq
qqqqqqqq
x

Figura 75
∂g ∂g
Supondo os vetores ∂u
(u0 , v0 )
e ∂v
(u0 , v0 )
linearmente independentes, o plano que passa por
P = g(u0 , v0 ) e é paralelo a estes vetores, será chamado plano tangente à S em P . Indicaremos
este plano por πg (u0 , v0 ). O vetor
∂g ∂g
Ng (u0 , v0 ) = (u0 , v0 ) × (u0 , v0 )
∂u ∂v
é chamado vetor normal de S em P e orienta a reta normal de S em P . Esta reta normal é
denotada por lg (u0 , v0 ). Em resumo, temos:
πg (u0 , v0 ) = {X ∈ R3 ; (X − g(u0 , v0 )) · Ng (u0 , v0 ) = 0}
e
lg (u0 , v0 ) = {X ∈ R3 ; X = g(u0 , v0 ) + tNg (u0 , v0 ), t ∈ R}.

4.4.11
Exemplo Seja f : D ⊂ R2 −→ R com derivadas parciais de primeira ordem no aberto D.
Como vimos no exemplo 1.5.21, página 47, um modo canônico de parametrizar o
gráfico de f , S = G(f ), é definindo
g(u, v) = (u, v, f (u, v)), (u, v) ∈ D.
É claro que
∂g ∂f ∂g ∂f
(u, v) = (1, 0, (u, v)) e (u, v) = (0, 1, (u, v)).
∂u ∂u ∂v ∂v
Logo,

e1 e2 e3



∂g ∂g
∂f
∂f ∂f
Ng (u, v) = (u, v) × (u, v) = 1 0 (u, v) = (− (u, v), − (u, v), 1).

∂u
∂u ∂v ∂u ∂v

∂f
0 1 ∂v
(u, v)
Derivadas Parciais 141

Em particular, se fixamos (u0 , v0 ) ∈ D, vem que

∂f ∂f
πg (u0 , v0 ) = {(x, y, z); ((x, y, z) − (u0 , v0 , f (u0 , v0 ))) · (−
(u0 , v0 ), − (u0 , v0 ), 1) = 0}
∂u ∂v
∂f ∂f
= {(x, y, z); z = f (u0 , v0 ) + (u0 , v0 )(x − u0 ) + (u0 , v0 )(y − v0 )},
∂u ∂v

plano que coincide com aquele em (¶23 ), página 123.

4.4.12
Exemplo Dada g(u, v) = (u + v, u − v, uv), temos
∂g ∂g
(u, v) = (1, 1, v) e (u, v) = (1, −1, u).
∂u ∂v
Em particular, para u = 2 e v = 1, obtemos que

∂g ∂g
(2, 1) = (1, 1, 1) e (2, 1) = (1, −1, 2).
∂u ∂v

O plano tangente ao traço de g em P = g(2, 1) = (3, 1, 2) tem equação paramétrica

πg (2, 1) = {X ∈ R3 ; X = (3, 1, 2) + u(1, 1, 1) + v(1, −1, 2), u, v ∈ R}


= {X ∈ R3 ; X = (3 + u + v, 1 + u − v, 2 + u + 2v), u, v ∈ R}.

Como Ng (2, 1) = (1, 1, 1) × (1, −1, 2) = (3, −1, −2), vem que πg (2, 1) tem equação cartesiana
dada por
πg (2, 1) = {(x, y, z); 3x − y − 2z = 4}.
A reta normal a S em P se escreve como

lg (2, 1) = {X ∈ R3 ; X = (3, 1, 2) + t(3, −1, −2), t ∈ R}.

Para encerrar este exemplo, sugerimos ao leitor que esboce a superfı́cie S = tr g. Como ajuda,
observe que se x = u+v, y = u−v e z = uv são as funções coordenadas de g, então 4z = x2 −y 2 ,
ou z = (x2 − y 2 )/4. Agora recorra ao exemplo 1.4.10, que se encontra na página 31.

4.4.13 [Matriz Jacobiana]


Definição Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm uma função vetorial com funções
coordenadas f1 , f2 , . . ., fm . Suponha que existam as mn
∂fi
derivadas parciais ∂xj
no aberto D. Dado X ∈ D, a matriz de ordem m × n,
 
∂fi
(X) ,
∂xj 1≤i≤m
1≤j≤n
142 Derivadas Parciais Vetoriais

∂f
cujas colunas são os vetores ∂xj
(X), é chamada matriz jacobiana de f em X, e é denotada por
Jf (X). Explicitamente,
 
∂f1 ∂f1 ∂f1
 (X) (X) . . . (X) 

 ∂x1 ∂x2 ∂xn 

 
 ∂f2 ∂f2 ∂f2 
 (X) (X) . . . (X) 

Jf (X) =  ∂x1 ∂x2 ∂xn 
.
 
 .. .. .. 

 . . . 

 
 
 ∂fm ∂fm ∂fm 
(X) (X) . . . (X)
∂x1 ∂x2 ∂xn
Quando m = n, o determinante
∂(f1 , f2 , . . . , fn )
det Jf (X) = (X),
∂(x1 , x2 , . . . , xn )
é chamado determinante jacobiano de f em X.

A matriz jacobiana desempenhará um papel fundamental no estudo das aplicações dife-


renciáveis, que faremos no capı́tulo 5.

4.4.14
Exemplo Neste exemplo listaremos algumas funções com suas respectivas matrizes jacobi-
anas, calculadas em um ponto arbitrário.

(i) f : R3 −→ R, f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 . Jf (x, y, z) = (2x 2y 2z);


!
2x 2y 2z
(ii) g : R3 −→ R2 , g(x, y, z) = (x2 + y 2 + z 2 , xyz). Jg(x, y, z) = ;
yz xz xy

(iii) h : R2 −→ R3 , h(u, v) = (u2 , u + v 2 , cos(u2 + v 2 )).


 
2u 0
Jh(u, v) =  1 2v ;
 

−2u sen (u2 + v 2 ) −2v sen (u2 + v 2 )

(iv) f : R3 −→ R3 , f (x1 , x2 , x3 ) = (x1 + x2 + x3 , x2 x1 , x1 − x22 + x33 ).


 
1 1 1
Jf (x1 , x2 , x3 ) =  x2 x1 0 ;
 

1 −2x2 3x23
Derivadas Parciais 143

(v) Id : Rn −→ Rn , Id(x1 , x2 , . . . , xn ) = (x1 , x2 , . . . , xn ).


 
1 0 ··· 0
0 1 ···
 
 
J(Id)(x1 , x2 , . . . , xn ) = In×n = .. ...
.
.
 
 
0 0 ··· 1

4.4.15 [Coordenadas Polares]


Exemplo Se f (r, θ) = (x, y) = (r cos θ, r sen θ), (r, θ) ∈ R2 ,
então
!
cos θ−r sen θ ∂(x, y)
Jf (r, θ) = e = det Jf (r, θ) = r.
sen θr cos θ ∂(r, θ)

4.4.16 [Coordenadas Cilı́ndricas]


Exemplo Se f (r, θ, z) = (x, y, z) = (r cos θ, r sen θ, z),
(r, θ, z) ∈ R3 , então
 
cos θ −r sen θ 0
∂(x, y, z)
Jf (r, θ) =  sen θ r cos θ 0  e = det Jf (r, θ) = r.
 
∂(r, θ, z)
0 0 1

4.4.17 [Coordenadas Esféricas]


Exemplo Seja f : R3 −→ R3 , definida por

f (ρ, θ, ϕ) = (ρ sen ϕ cos θ, ρ sen ϕ sen θ, ρ cos ϕ),

Temos que
 
sen ϕ cos θ −ρ sen ϕ sen θ ρ cos ϕ cos θ
Jf (ρ, θ, ϕ) =  sen ϕ sen θ ρ sen ϕ cos θ ρ cos ϕ sen θ 
 

cos ϕ 0 −ρ sen ϕ

e
∂(x, y, z)
= det Jf (ρ, θ, ϕ) = −ρ2 sen ϕ.
∂(ρ, θ, ϕ)
144 Derivadas Direcionais

4.5
Derivadas Direcionais

Nas seções anteriores, consideramos, para uma dada função f , as variações relativas

∂f f (X0 + tej ) − f (X0 )


(X0 ) = lim , 1 ≤ j ≤ n,
∂xj t→0 t

as quais foram denominadas derivadas parcias de f em X0 . Generalizando esta idéia, conside-


raremos acrécimos orientados por um vetor unitário qualquer U ∈ Rn , e obteremos o conceito
de derivada direcional.

4.5.1 [Derivada Direcional]


Definição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm uma função vetorial, X0
um ponto do aberto D e U ∈ Rn um vetor unitário.
A derivada direcional de f em X0 e na direção U é o vetor

∂f f (X0 + tU ) − f (X0 )
(X0 ) = lim ,
∂U t→0 t
caso este limite exista.

Observação Note que quando U = ej , j = 1, 2, . . . n, a derivada direcional de f em X0 e na


direção ej coincide com a derivada parcial de f com relação a xj em X0 , isto é,
∂f ∂f
∂ej
(X0 ) = ∂xj (X0 ).
∂f
Assim como fizemos para derivadas parciais, é possı́vel identificar ∂U (X0 ) como uma deri-
vada ordinária de alguma função de uma variável. Na realidade, de uma curva parametrizada,
se m > 1, como mostra a proposição a seguir.

4.5.2
Proposição Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm , defi-
nida no aberto D, tendo deri-
p p p p p p p pqp pqp p pqp pqp p pqp qp qp pqpqpqp p pqp p pqp pqp pqp p p p p pD pp
vada direcional no ponto X0 ∈ D e na direção U .
p p pqp p
q p
qq
q p
q p pqpqqpqqpqqpqqpqpqqpqqpqpqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqp qpqqqpqqpqqpqqpqqpqpqpqqqpqpqpqpqpqp pqpqp p p
q
p pqp qp
qqq q
q qq q q qqq qqqq qqqq q q q q
q q q
q q q
q q q
q q q q
q q q q
q q q q
q q q q
q qq qqq q qqq q qqq q qqq q qqq q q q q q q q q p q
p pqqqqp p pqqp pqp qpqqpqpqqqqpqqpqqqp qqqqqqqpqpqp pqqp p p
Então, p
p pqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqq qqqp pqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q q q qp p q q q qqq qp p qqapqqp qqX qqqqp p
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqp qqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpsqqqqqqpqqqqqpqqpqqpqqq qqqqqqqqqqqqq0qpqqp qp p p+ δU
∂f qqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqp qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqU qqqqqqqqqqqpqqqqp qqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqpqqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqpqqpqp p
(X0 ) = gU0 (0), qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q q q q q qqpqqp qpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqp p
qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qppqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqqqpsqqqqqqp qp q qqqqqqX qqq qq0qqqqqq +
qqq pp qqqtU qqqqqqqqqqpp
∂U qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqpqpqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpp
q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqq q p
qqqp q q q qqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpp
onde q qqqqqqqqqqqqqqqqqqp qpqppqqpqpqqqqpqpqqpqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqX qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q qpqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqp
qqqqqqqqqqqpaqqqqp qpqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqq p qpq qqpqqqpqqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppp
q
X0 − δU qqqqqqqqqqqqpqqpqqqpqpqqp qqpqpqqqpqpqpqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpp
qq q q p p q q q q
gU : (−δ, δ) −− − Rm
−→
− qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqp
qqq qqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqp
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqp
t −−−−−→ gU (t) = f (X0 + tU ), q qqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqpqp
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqp qp qp p
Figura 76 qqq qp qp qp p p
e δ > 0 é o raio de uma bola centrada em X0 e
contida em D.
Derivadas Parciais 145

Demonstração: Como D é aberto, existe δ > 0 tal que B(X0 , δ) ⊂ D. Se X = X0 + tU


e t ∈ (−δ, δ), então kX − X0 k = |t| kU k = |t| < δ, isto é, X ∈ D. Isto implica que

gU (t) = f (X0 + tU ), t ∈ (−δ, δ),

está bem definida. Além disto,

g(t) − g(0) f (X0 + tU ) − f (X0 ) ∂f


gU0 (0) = lim = lim = (X0 ),
t→0 t t→0 t ∂U
o que prova a proposição. pppppppppppppppppppppp

4.5.3
Interpretação Geométrica
∂f
Uma boa interpretação geométrica de ∂U (X0 ), e que generaliza aquela que obtivemos
∂f ∂f
para ∂x (X0 ) e ∂y (X0 ) em 4.1.17, é obtida quando consideramos f : D ⊂ R2 −→ R, junto com
∂f
seu gráfico, como mostra a figura 77. Neste caso, claro, ∂U (X0 ) é um número real. A figura
mostra S = G(f ), o plano πU , que passa por X0 = (a, b) ∈ D e é paralelo aos vetores U
e e3 , e a curva γ ⊂ S, obtida pela interseção de πU com a superfı́cie S. Em πU vemos a
reta tangente a γ (e, portanto, a S) no ponto P = (a, b, f (a, b)), indicada por lU . Agora
fixamos a atenção no ângulo α que esta reta faz com U . Logo, tg α é inclinação de lU . A
∂f ∂f
interpretação geométrica do número ∂U (X0 ) agora está pronta: ∂U (X0 ) = tg α. Para ver isto,

z z
pl
6
qqqq qqqqqqqqqqqqq p p p U
6
qqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
f (X0 ) q qqq qqqqqqq qqqq q q
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqpqqqqq q p q
qpqqqqqqq
pl
p pp U
πU
q qqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqq
qqqqqqqqqq q qqqqq qppqqpqqqpqpqqq
qqqqqqqqqqpppqqqqqqqqq
qqpqpqqqqq
qqpqγpqqq qpqpqqp pqp
πU f (X0 + tU ) ppppppppppppppppppppppppqpppppp
q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqppqpppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q p pppp p fpp(X
pppp 0 + tU ) − f (X0 )
qqqqqqqqqqpqp
qqqqqqqqqqp p f (X0 ) q pqpp pp β ppp
qqqqqq
qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqpqppqp qqqqqqP qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q qqq qqq qqq
qq ppppppppp p ppp
qqqqq qqqqqqqqqqqqqqqq qqqppqqqqppppqqqqqq qqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq ppp t p
qqqqqqqq q q p p pppp qqqqqqqq qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q qq e3 ppp
p qqqqqqqqqq qqqqqqqq
q qq
q 6 p pp p p γ
pp p qqqqqqqqqqqqqqqqq ppp pppppppp α
qqqqqqqqq
pp qqqq pp - p q q
pp p qqqq qqqq q qqqqqqqqqqqqq qqqqq
- -
y
e3p p p qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq U X0 X0 + tU t
6p pppp pp pα qqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
p  p
qp p 
p 1
U
X0
x
∂f
Figura 77: tg α = ∂U
(a, b)

consideramos em πU a reta secante a γ que passa pelos pontos (X0 , f (X0 )) e (X0 +tU, f (X0 +tU ))
(com t > 0), cuja inclinação é

f (X0 + tU ) − f (X0 ) f (X0 + tU ) − f (X0 )


tg β = = ,
kX0 + tU − X0 k t
146 Derivadas Direcionais

pois U é unitário. Quando t tende a zero, as secantes tendem para lU e, portanto,


∂f
(X0 ) = lim tg β = tg α,
∂U t→0

∂f
o que estabelece a interpretação geométrica procurada. Note, em particular, que ∂U
(X0 ) indica
como f cresce, a partir de X0 , na direção de U .

4.5.4
Exemplo Seja f (x, y) = 4x2 + y2 , (x, y) ∈ R2 , cujo gráfico é o parabolóide elı́ptico
S = G(f ) = {(x, y, z); z = 4x2 + y 2 },

mostrado na figura 78. Tomando X0 = (1, 0) e U = (−1/2, 3/2), calcularemos a derivada
direcional de f em X0 e na direção de U . Via definição, temos que

z
∂f f (X0 + tU ) − f (X0 ) 6
(1, 0) = lim lU q qp qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppp
∂U t→0 t√
t 3 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppp
f (1 − , t ) − f (1, 0) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpp
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpp
2 2 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqqqP qqqqqqqqqqqqqqqqqqpp
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppp
= lim
2 t qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqppγp
t→0
q q pp qq qq

πU qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpppqp
t 3
4 1− + t2 − 4 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqqp qqqqqqpqpqq
2 4 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqpqqqq
= lim qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
t→0 t qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpq
7 2
e3 qqqqqq ppppα pp q
(0, 2, 0)
−4t + t 6U q r -
4 y
= lim :
 X0 = (1, 0)
t→0 t
x
7
= lim(−4 + t) = −4. Figura 78: ∂f
(X0 ) = tg α = −4
t→0 4 ∂U

Um outro modo de obter esta derivada direcional é considerar


 2
t 3 7
gU (t) = f (X0 + tU ) = 4 1 − + t2 = 4 − 4t + t2 ,
2 4 4
e derivá-la em t = 0, conforme proposição 4.5.2. Como g 0 (t) = −4 + (7/2)t, vem que
∂f
(1, 0) = g 0 (0) = −4.
∂U
Seja πU o plano que passa por X0 é paralelo aos vetores U e e3 . Assim, -4 é a inclinação da reta
lU ⊂ πU que é tangente a S em P = (1, 0, 4). Logo, f (X) é decrescente perto de X0 , quando
X percorre a reta que passa por X0 e é paralela a U , no sentido de U , o que pode ser visto na
figura. A curva (parábola) γ obtida pela interseção de πU e S pode ser parametrizada por

t 3 7
α(t) = (X0 + tU, gU (t)) = (X0 + tU, f (X0 + tU )) = (1 − , t , 4 − 4t + t2 ), t ∈ R.
2 2 4
Derivadas Parciais 147

De α(0) = (1, 0, 4) = P , segue-se que o vetor



∂f 1 3
α0 (0) = (U, gU0 (0)) = (U, (X0 )) = (− , , −4),
∂U 2 2
que é tangente a γ em P , é paralelo a lU . Portanto,
√ √
1 3 t 3
lU = {X ∈ R3 ; X = (1, 0, 4) + t(− , , −4) = (1 − , t , 4 − 4t), t ∈ R},
2 2 2 2
a qual, claro, está contida no plano tangente a S em P , cuja equação cartesiana é z = 4 + 8x.

4.5.5
Exemplo Retomamos o exemplo anterior, agora com X0 = (1, 2) e U = (u1 , u2 ), um vetor
unitário qualquer. Neste caso,
gU (t) = f (X0 + tU ) = 4(1 + tu1 )2 + (2 + tu2 )2 = 8 + 8tu1 + 4t2 u21 + 4tu2 + t2 u22 , t ∈ R.
∂f
Logo, ∂U (1, 2) = gU0 (0) = 8u1 + 4u2 . Para determinar em que direção f cresce mais rapidamente
a partir de X0 , basta determinar u1 e u2 que tornam máximo 8u1 + 4u2 . Um modo de fazer
isto, é notar que u1 = cos θ e u2 = sen θ, pois U é unitário, e maximizar h(θ) = 8 cos θ + 4 sen θ,
θ ∈ [0, 2π]. Usando as ferramentas do cálculo de uma variável, é fácil ver que este máximo
ocorre para 0 < θ < π/2 tal que tg θ = 1/2. Logo, U = (u1 , u2 ) = (cos θ, sen θ) = ( √25 , √15 ) é o
∂f

vetor para o qual ∂U (1, 2) = 8u1 + 4u2 = 4 5 é máxima. Um outro modo de obter este mesmo
resultado, é observar que
∂f √
(1, 2) = 8u1 + 4u2 = (8, 4) · U ≤ kU k = k(8, 4)k = 4 5,
∂U
onde aplicamos a desigualdade de Cauchy-Schwarz (teorema 1.2.18) aos vetores X = (8, 4) e U .
Agora, se tomamos U = uX = ( √25 , √15 ), o vetor unitário na direção de X, vem que
∂f 2 1 √
(1, 2) = 8 √ + 4 √ = 4 5.
∂(uX ) 5 5
Portanto, U = uX , X = (8, 4), é a direção de crescimento máximo de f em X0 .

4.5.6
Exemplo Seja f : R3 −→ R2 definida por f (x, y, z) = (y2 − xz, x2 + y cos z). Calcularemos
∂f
∂U
(X0 ), onde X0 = (2, 1, 0) e U = (2/3, −2/3, 1/3). Temos que
 2    2  
2t 2t t 2t 2t t
gU (t) = f (X0 + tU ) = ( 1 − − 2+ , 2+ + 1− cos( ))
3 3 3 3 3 3
2 t2 8 t 4 t2 t 2t t
= (1 − 2 t + ,4 + + + cos( ) − cos( )).
9 3 9 3 3 3
Logo,
4t 8 8t 1 t 2 t 2t t
gU0 (t) = (−2 + , + − sen( ) − cos( ) + sen( )),
9 3 9 3 3 3 3 3 3
e, portanto,
∂f
(2, 1, 0) = gU0 (0) = (−2, 2).
∂U
4
Exercı́cios
Derivadas Parciais – Exercı́cios 149

4-1 Calcule as derivadas parciais das funções abaixo.


(a) f (x, y) = sen(y/x);
p
(b) f (x, y) = log(x + x2 + y 2 );
(c) f (x, y) = logx y;

(d) f (x, y) = ex y ;
z
(e) f (x, y, z) = x(y ) ;
(f) f (x, y, z) = xyz .
4-2 No Problema anterior, ache as derivadas parciais de segunda ordem e verifique a igualdade
das derivadas mistas.
y ∂f
4-3 Seja f (x, y) = y 2x + (log x)7 (arctg(arctg(sen(cos xy)))), x > 0. Calcule ∂y
(1, b), b ∈ R.
4-4 Uma fábrica produz, mensalmente, x unidades de um produto A e y unidades de um pro-
duto B, sendo o custo mensal da produção conjunta dado por
p
C(x, y) = 20.000 + x2 + 4y 2 , (C em real).

Em um certo mês, foram produzidas a = 3.000 unidades de A e b = 2.000 unidades de B.


Nesse mês, determine:
(a) o custo da produção C(a, b);
(b) ∂C
∂x
(a, b) e ∂C
∂y
(a, b);
(c) O que é mais conveniente: aumentar a produção de A mantendo fixa a de B, ou aumentar
a produção de B mantendo fixa a de A?
4-5 A temperatura do ponto (x, y) de uma chapa é dada por
p
T (x, y) = 50 + 6 28 − 2x2 − y 2 ,

onde T é dada em ◦ C, x e y em cm.


(a) Determine e esboce o domı́nio de T ;
(b) Esboce o gráfico de T ;
(c) Suponha que uma formiga caminhe, a partir do ponto (3, 1), paralelamente ao eixo-x,
no sentido positivo. A temperatura aumentará ou diminuirá? De quantos graus por
centı́metro, aproximadamente?
x2 + y 2
4-6 Ache o ângulo entre o eixo-x e a reta tangente à curva dada por z = e y = 4 no
4
ponto (2, 4, 5).
4-7 Discuta a existência das derivadas parciais das funções dadas abaixo.
(a) f (x, y) = |xy|, nos pontos (1, 0) e (0, 0);
 3 2
x /(x + y 2 ), se (x, y) 6= (0, 0)
(b) f (x, y) = , na origem;
0, se (x, y) = (0, 0)

x sen(1/y), se y 6= 0
(c) f (x, y) = , nos pontos (0, y) , y 6= 0, (1, 0) e (0, 0).
0, se y = 0
150 Derivadas Parciais – Exercı́cios

4-8 Em cada caso, verifique que a função f dada é solução da equação diferencial parcial (EDP)
dada ao lado, na tabela abaixo.

f EDP

∂f ∂f
log(x2 + xy + y 2 ) x +y =2
∂x ∂y

∂f ∂f
xy + x ey/x x +y = xy + f
∂x ∂y

∂ 2f 2
2 ∂ f 2 ω2
a sen(kx − ωt) = a , a =
∂t2 ∂x2 k2
1 −[(x−x0 )2 +(y−y0 )2 +(z−z0 )2 ] ∂f ∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
√ e 4a2 t = a2 ( 2 + 2 + 2 )
(2a πt)3 ∂t ∂x ∂y ∂z

∂f ∂f ∂f
ax + by + cz (a, b, c ∈ R) x +y +z =f
∂x ∂y ∂z

∂f ∂f
ax2 + 2bxy + cy 2 (a, b, c ∈ R) x +y = 2f
∂x ∂y

4-9 Seja f : D ⊂ Rn −→ R com derivadas parciais de segunda ordem em D. Seja ∆ o operador


laplaciano definido em 4.4.7. Se ∆f (X) = 0 para todo X ∈ D, a função f é dita harmônica
em D. A EDP ∆f (X) = 0 (em D) é a equação de Laplace (em D). Mostre que as seguintes
funções são harmônicas em D.
(a) f (x, y) = xy, D = R2 ;
(b) f (x, y) = x3 − 3xy 2 , D = R2 ;
p
(c) f (x, y) = log x2 + y 2 , D = R2 − {(0, 0)};
(d) f (x, y, z) = k/ kXk, D = R3 − {(0, 0, 0)}, e k constante.
4-10 Uma função φ : U ⊂ R2 −→ R2 , φ(u, v) = (φ1 (u, v), φ2 (u, v)), de classe C 1 satisfaz as condi-
ções de Cauchy-Riemann se
∂φ1 ∂φ2 ∂φ2 ∂φ1
= e =− , (¶26 )
∂u ∂v ∂u ∂v
no aberto U .
(a) Mostre que as funções abaixo satisfazem as condições de Cauchy-Riemann.
(i) φ(u, v) = (u2 − v 2 , 2uv), (u, v) ∈ R2 ;
(ii) φ(u, v) = (eu cos v, eu sen v), (u, v) ∈ R2 ;
√ v
(iii) φ(u, v) = (log u2 + v 2 , arctg ), u > 0 e v > 0.
u
(b) Se φ = (φ1 , φ2 ), de classe C 2 , satisfaz (¶26 ), então φ1 e φ2 são harmônicas.
Derivadas Parciais – Exercı́cios 151

4-11 Seja r = kXk =


6 0. Mostre que:
(a) ∆(rn ) = n2 rn−2 , onde ∆ é o laplaciano do R2 ;
(b) ∆(rn ) = n(n + 1)rn−2 , onde ∆ é o laplaciano do R3 .

xy/(x2 + y 2 )2 , se (x, y) 6= (0, 0)
4-12 Seja f (x, y) = . Mostre que f é uma função harmônica
0, se (x, y) = (0, 0)
em R2 , mas fxy (0, 0) e fyx (0, 0) não existem.
4-13 Seja f : D ⊂ R2 −→ R com derivadas parciais de primeira ordem em (a, b) ∈ D. A reta
que passa por P = (a, b, f (a, b)) e é paralela a NP (f ) (veja definição 4.1.19) é chamada reta
normal ao gráfico de f em P , e é indicada por lP (f ). Mostre que
∂f ∂f
lP (f ) = {X ∈ R3 ; X = (a, b, f (a, b)) + t(−
(a, b), − (a, b), 1), t ∈ R}.
∂x ∂y
4-14 Encontre o plano tangente e a reta normal ao gráfico de f no ponto P .
(a) f (x, y) = x3 + y 3 , P = (1, 2, 9);
(b) f (x, y) = xy, P = (1, 1, 1);
p
(c) f (x, y) = 4 − x2 − y 2 , P = (0, 0, 2).
4-15 Sabendo que o plano 2x + y − 2z − 4 = 0 é tangente ao parabolóide elı́tico dado por
4x2 + y 2 − 16z = 0, ache o ponto de tangência.
4-16 Ache o plano tangente à superfı́cie xyz = 1 (x > 0, y > 0, z > 0) que é paralelo ao plano
2x + 2y + 2z + 3 = 0.
4-17 Seja S o traço da superfı́cie parametrizada f (u, v) = (u + cos v, u − sen v, 2u). No ponto
P = f (1, π/2), encontre:
(a) a reta tangente l1 à curva α1 (u) = f (u, π/2);
(b) a reta tangente l2 à curva α2 (v) = f (1, v);
(c) o ângulo entre l1 e l2 ;
(d) o plano tangente e a reta normal a S em P .
4-18 Ache o plano tangente e a reta normal da superfı́cie parametrizada g em (u0 , v0 ).
(a) g(u, v) = (v cos u, v sen u, v), u0 = 0 e v0 = 1;
(b) g(u, v) = ((7 + 5 cos v) cos u, (7 + 5 cos v) sen u, 5 sen v), 0 < u0 , v0 < π/2, cos u0 = 4/5 e
cos v0 = 3/5.
4-19 Escreva a matriz jacobiana da função dada em um ponto arbitrário de seu domı́nio.
(a) f : R3 −→ R4 , f (x, y, z) = (x2 − y 2 , xy, xz, yz);
(b) f : R3 −→ R2 , f (x, y, z) = (x, y);
(c) f : R3 −→ R, f (x, y, z) = 2x − 3y + 4z;
(d) f : Rn −→ R, f (X) = A · X, A ∈ Rn dado;
(e) f : Rn −→ Rm , f (X) = AX, Am×n matriz dada;
(f) f : R −→ R3 , f (t) = (cos t, sen t, t);
(g) f : R2 −→ R3 , f (u, v) = (v cos u, v sen u, u).
152 Derivadas Parciais – Exercı́cios

4-20 Em cada caso, calcule grad f (X) = ∇f (X).


(a) f (x, y) = x2 y, X = (1, 1);
p
(b) f (x, y) = x2 − y 2 , X = (5, 3);
(c) f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 , X = (2, −2, 1).
4-21 Seja r = kXk, com X = (x, y, z) 6= (0, 0, 0).
X
(a) Mostre que ∇r = e ∇(rn ) = nrn−2 X;
r
X
(b) Ache f : D ⊂ R3 −→ R tal que: (i) ∇f (X) = X; (ii) ∇f (X) = − .
r3
4-22 Encontre f : R2 −→ R, tal que ∇f (X) = (ey , xey + 1) e f (0, 0) = 0.
4-23 Seja
f : R2 −−
−→
−− R (
x2 y/(x2 + y 2 ), se (x, y) 6= (0, 0) .
(x, y) −−−−−→ f (x, y) =
0, se (x, y) = (0, 0)
(a) Mostre que f é contı́nua;
(b) Mostre que ∂f
∂x
(0, 0) = ∂f
∂y
(0, 0) = 0.
∂2f ∂2f
4-24 Calcule, em um ponto arbitrário X = (x, y), ∂x2
e ∂y 2
, onde f é a função do exem-
plo 4.1.15.
4-25 Use o teorema de Schwarz para provar que se f : D ⊂ R4 −→ R é de classe C 4 , então

∂ 4f ∂ 4f ∂ 4f ∂ 4f
= = = .
∂x∂y∂z∂w ∂x∂z∂y∂w ∂z∂w∂x∂y ∂z∂x∂w∂y
5
Aplicações
Diferenciáveis
f é N
contı́nua em X0 ?
?
S f não é
diferenciável em X0 .
?
6
Existe a matriz N
Jf (X0 )?

? ?
f é de classe C 1 N r(H) N
- lim = 0?
H→O kHk
em X0 ?

S
- S

f é diferenciável em X0 .

por
J. Adonai & A. Carlos
5.1
A Derivada

Nesta seção, estenderemos o conceito de função diferenciável, conhecido para funções reais
de uma variável real, às funções vetoriais de várias variáveis.
Dada f : I ⊂ R −→ R, sua derivada em a ∈ I é o número real
f (a + h) − f (a) f (x) − f (a)
f 0 (a) = lim = lim ,
h→0 h x→a x−a
quando o limite indicado existe. De posse desta derivada, construı́mos a função polinomial

A(x) = f (a) + f 0 (a)(x − a), x ∈ R,


pp
a qual chamamos de aproximação afim de f em ppp
y y = f (x) p p
x = a. Note que o gráfico de A é a reta y = A(x), pp
pp p
6
que é a reta tangente à curva y = f (x) (gráfico de p
f (a + h) q paqp y = A(x)
f ) no ponto (a, f (a)), o que justifica a escolha do ppp p r(h)
A(a + h) q pp q 0
nome aproximação afim de f , para A. A palavra
p p ppp f (a)h
f (a) q (a, f (a)) p pqp
aproximação é, portanto, usada no sentido de que p p p p p pp
ppppppppppppppppp
A(x) dá uma boa aproximação para f (x), quando p pp α
x está perto de a. Esta boa aproximação significa a pp q q a -
que os valores de f (x) − A(x) tendem a zero mais a a+h x
rápido do que o acréscimo h = x − a, quando x
Figura 79: f 0 (a) = tg α
tende a a, o que pode ser estabelecido observando
que
f (x) − A(x) f (x) − f (a) − f 0 (a)(x − a) f (x) − f (a)
lim = lim = lim − f 0 (a) = 0,
x→a x−a x→a x−a x→a x−a
ou, equivalentemente,
f (a + h) − A(a + h)
lim = 0.
h→0 h
Definindo r(h) = f (a + h) − A(a + h), este último limite implica que
f (a + h) = A(a + h) + r(h) = f (a) + f 0 (a)h + r(h),
onde limh→0 r(h)/h = 0. Desta forma, a diferenciabilidade de f em x = a pode ser vista como
a possibilidade de aproximar f (a + h) − f (a) pela função linear (em h) f 0 (a)h, onde o erro
cometido em tal aproximação, r(h), é bem pequeno, no sentido de que
r(h)
lim = 0. (¶27 ).
h→0 h

Vale notar que esta condição é bem mais forte do que limh→0 r(h) = 0, que para ocorrer basta que
f seja contı́nua em x = a. Pronto, agora temos uma razoável motivação para definir derivada
de uma função vetorial qualquer.

154
Aplicações Diferenciáveis 155

Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm uma função vetorial definida no aberto D. Fixemos X0 ∈ D. A


idéia é tentar obter uma boa aproximação para os vetores f (X0 + H) − f (X0 ), usando alguma
função linear, que no momento indicaremos por T , o que é sugerido, como acabamos de ver,
pelo caso real. Assim, queremos que
f (X0 a+ H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + T (H) + r(H), (¶28 ) f (X0 + H) − f (X0 )  *
 
onde T : Rn −→ Rm é uma aplicação linear e a 
f (X0 ) 
 r(H)

@
r(H) T (H)@ 
lim = O, R
@
H→O kHk

Figura 80
que é a condição (¶27 ) adaptada ao Rn . Os exemplos a
seguir ilustram como obter a decomposição (¶28 ).

5.1.1
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por f (x, y) = x2 +y3 . Fixemos X0 = (2, 1). O objetivo
agora é escrever, para H = (h, k),

f (X0 + H) = f (2 + h, 1 + k) = f (2, 1) + T (h, k) + r(h, k),

r(h, k)
onde T : R2 −→ R é linear e lim √ = 0. Um cálculo direto mostra que
(h,k)→(0,0) h2 + k 2

f (2 + h, 1 + k) = (2 + h)2 + (1 + k)3
= 5 + 4h + h2 + 3k + 3k 2 + k 3
= 5 + (4h + 3k) + h2 + 3k 2 + k 3 .

A nossa experiência com funções lineares do R2 identifica, nesta última equação, sua parte linear
4h + 3k. Portanto, podemos escrever

f (2 + h, 1 + k) = f (2, 1) + T (h, k) + r(h, k),

onde T (h, k) = 4h + 3k, que é linear, e r(h, k) = h2 + 3k 2 + k 3 . Além disso,


2
h + 3k 2 + k 3 kHk2 + 3kHk2 + kHk3

0 ≤ ≤ = 4kHk + kHk2 ,
kHk kHk

o que implica, via proposição 3.1.20, que

r(h, k)
lim √ = 0.
(h,k)→(0,0) h2 + k 2

Portanto, a decomposição (¶28 ) funciona bem para f , em (2, 1). O próximo exemplo lida com
dimensões um pouco maiores.
156 A Derivada

5.1.2
Exemplo Seja f : R3 −→ R2 dada por f (x, y, z) = (x2 y + z, xyz). Neste exemplo trabalha-
remos no ponto X0 = (1, 2, 3), e tomaremos o acréscimo H = (h1 , h2 , h3 ). Temos
que

f (1 + h1 , 2 + h2 , 3 + h3 ) = ((1 + h1 )2 (2 + h2 ) + (3 + h3 ), (1 + h1 ) (2 + h2 ) (3 + h3 ))

= (5 + 4h1 + 2h1 2 + h2 + 2h1 h2 + h1 2 h2 + h3 , 6 + 6h1 + 3h2 + 3h1 h2 +

+ 2h3 + 2h1 h3 + h2 h3 + h1 h2 h3 )

= (5, 6) + (4h1 + h2 + h3 , 6h1 + 3h2 + 2h3 ) +

+ (2h1 2 + 2h1 h2 + h1 2 h2 , 3h1 h2 + 2h1 h3 + h2 h3 + h1 h2 h3 )

= f (1, 2, 3) + T (h1 , h2 , h3 ) + r(h1 , h2 , h3 ),

onde T : R3 −→ R2 é dada por


  
4 1 1 h1
T (h1 , h2 , h3 ) = (4h1 + h2 + h3 , 6h1 + 3h2 + 2h3 ) =  h2 
6 3 2
h3

e r : R3 −→ R2 é tal que

r(h1 , h2 , h3 ) = (2h1 2 + 2h1 h2 + h1 2 h2 , 3h1 h2 + 2h1 h3 + h2 h3 + h1 h2 h3 ) = (r1 (H), r2 (H)).

É claro que T é linear. Falta verificar que limH→(0,0,0) (r(H)/ kHk) = 0. Isto será feito conside-
rando as funções coordenadas de r. Temos que

r1 (H) |2h1 2 + 2h1 h2 + h1 2 h2 | 2kHk2 + 2kHk2 + kHk3



0≤
= ≤ = 4kHk + kHk2 ,
kHk kHk kHk
e que

r2 (H) |3h1 h2 + 2h1 h3 + h2 h3 + h1 h2 h3 |
0≤
=
kHk kHk
3kHk2 + 2kHk2 + kHk2 + kHk3
≤ = 6kHk + kHk2 .
kHk
Logo,
r(H) r1 (H) r2 (H)
lim = ( lim , lim ) = (0, 0),
H→(0,0,0) kHk H→(0,0,0) kHk H→(0,0,0) kHk

e obtemos (¶28 ) para f , em X0 = (1, 2, 3).


Aplicações Diferenciáveis 157

5.1.3 [Aplicação Diferenciável]


Definição Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm , onde D é um subcon-
junto aberto do Rn . Sejam X0 ∈ D e δ > 0 tal
que B(X0 , δ) ⊂ D. Diremos que f é diferenciável em X0 quando existir uma aplicação linear
T : Rn −→ Rm tal que

f (X0 + H) = f (X0 ) + T (H) + r(H), sempre que kHk < δ,

onde r : B(O, δ) −→ Rm satisfaz a condição de boa aproximação

r(H)
lim = O ∈ Rm .
H→O∈R
n kHk

Como veremos no teorema 5.1.10, uma aplicação linear T com esta propriedade, quando existe,
é única. Posto isto, a chamaremos de derivada de f em X0 , e a denotaremos por f 0 (X0 ), ou dfX0 .
A função vetorial r é denominada resto. Quando f é diferenciável em todo ponto do aberto D,
dizemos que f é diferenciável em D.

5.1.4
Exemplo Retomemos a função do exemplo 5.1.1, f (x, y) = x2 + y3 . Como vimos naquele
exemplo,

f (2 + h, 1 + k) = f (2, 1) + T (h, k) + r(h, k),

onde T (h, k) = 4h + 3k é linear e r(h, k) = h2 + 3k 2 + k 3 satisfaz

r(h, k)
lim √ = 0.
(h,k)→(0,0) h2 + k 2
Logo, f é diferenciável em (2, 1) e sua derivada aı́ é a função linear

f 0 (2, 1) : R2 −− −→
−− R
(h, k) −−−−−→ f 0 (2, 1)(h, k) = 4h + 3k.

Também escrevemos

f 0 (2, 1) 
: R2 −−−→
−− R  
h 0 h
−−−−−→ f (2, 1) = 4h + 3k,
k k

ou, mais simplesmente, f 0 (2, 1)(h, k) = 4h + 3k.

5.1.5
Exemplo No exemplo 5.1.2 trabalhamos com f (x, y, z) = (x2 y + z, xyz), X0 = (1, 2, 3) e
verificamos que, para H = (h1 , h2 , h3 ),

f (X0 + H) = f (X0 ) + T (H) + r(H),


158 A Derivada

onde T é a aplicação linear


  
4 1 1 h1
T (h1 , h2 , h3 ) = (4h1 + h2 + h3 , 6h1 + 3h2 + 2h3 ) =  h2 
6 3 2
h3

r(H)
e r é tal que lim = (0, 0). Portanto, f é diferenciável no ponto (1, 2, 3), e sua derivada
H→(0,0,0) kHk
f 0 (1, 2, 3) funciona assim:

f 0 (1, 2, 3) : R3 −− − R2
−→

   
x x     
0 4x + y + z 4 1 1 x
y  −−−−−→ f (1, 2, 3)y  = = .
   
6x + 3y + 2z 632  y
z z z

Note que a matriz de f 0 (X0 ) coincide com Jf (X0 ). Na realidade, isto é um fato verdadeiro
em geral, como será visto no corolário 5.1.13. Verifique, como exercı́cio, esta propriedade no
exemplo anterior.

5.1.6
Exemplo Seja f : Rn −→ R definida por f (X) = kXk2 . Dados X0 , H ∈ Rn , temos que

f (X0 + H) = kX0 + Hk2 = (X0 + H) · (X0 + H)


= kX0 k2 + 2X0 · H + kHk2
= f (X0 ) + T (H) + r(H),

onde T (H) = 2X0 · H é linear, e r(H) = kHk2 . Além disto,

r(H) kHk2
lim = lim = lim kHk = 0.
H→O kHk H→O kHk H→O

Logo, f é diferenciável em X0 e vale f 0 (X0 )(X) = 2X0 · X. Como X0 é arbitrário, segue-se que
f é diferenciável em todo Rn .

5.1.7
Exemplo Seja f : R −→ R dada por f (x) = x3 . Sabemos do cálculo elementar de uma
variável que f 0 (x) = 3x2 . O que isto tem a ver com função linear? Em outras
palavras, que relação há entre esta derivada e aquela que ora estamos introduzindo? Para
responder esta pergunta, fixaremos x0 ∈ R, e calcularemos a aplicação linear f 0 (x0 ) : R −→ R
(neste caso, n = 1 e m = 1) que cabe na definição 5.1.3. Como vimos fazendo até aqui,
expandimos f (x0 + h), e identificamos sua parte linear. Temos que

f (x0 + h) = (x0 + h)3 = x30 + 3x20 h + 3x0 h2 + h3 ,


Aplicações Diferenciáveis 159

cuja parte linear (em h) é 3x20 h. Logo,


f (x0 + h) = f (x0 ) + T (h) + r(h),
onde T (h) = 3x20 h, que é linear, e r(h) = 3x0 h2 + h3 . Mas
|r(h)| |3x0 h2 + h3 |
= ≤ 3|x0 ||h| + |h|2 .
|h| |h|
Logo, limh→0 (r(h)/|h|) = 0. Portanto, f 0 (x0 ) é a aplicação linear que trabalha assim:

f 0 (x0 ) : R −− −→
−− R
v −−−−−→ f 0 (x0 )(v) = 3x20 v,

a qual pode ser identificada (veja a observação que segue) com o valor que assume em v = 1,
a saber: f 0 (x0 )(1) = 3x20 . Estendendo este raciocı́nio a x ∈ R, obtemos que f 0 (x)(v) = 3x2 v, e
a identificamos seu valor em v = 1: f 0 (x)(1) = 3x2 , número real que coincide com a derivada
usual de f em x.

Observação Se T : R −→ R é linear, então T (x) = T (x · 1) = xT (1). Isto mostra que


T (1) determina T completamente, e permite identificar a função linear T com
o número real T (1). Para uma função f : I ⊂ R −→ R, é esta identificação que faz a “ponte”
entre a usual noção de derivada, dada por um número real, e a que ora estudamos, que é uma
função linear. De fato, dado x0 ∈ I, a existência da derivada ordinária f 0 (x0 ) implica, como
vimos na introdução desta seção, que
r(h)
f (x0 + h) = f (x0 ) + f 0 (x0 )h + r(h), onde lim = 0.
h→0 h

Portanto, a derivada de f em x0 , olhada como função linear, é dada por


T (v) = f 0 (x0 )v, v ∈ R,
que, diante da identificação que fizemos, é o mesmo que T (1) = f 0 (x0 ) · 1 = f 0 (x0 ). Mais geral-
mente, se T : R −→ Rn é linear, então T (v) = vT (1), onde, agora, T (1) é um vetor do Rn , com
o qual T pode ser identificada. Para uma curva parametrizada diferenciável α : I ⊂ R −→ Rn ,
identificamos o vetor α0 (t) com a função linear T (v) = vα0 (t), v ∈ R, o que permite, também
neste caso, estabelecer a ligação entre as antiga e atual noções de derivada de α em t ∈ I.

5.1.8
Exemplo Se f (x) = sen x, x ∈ R, então f 0 (x) = cos x, como é bem conhecido. Olhar
f 0 (x) como função linear é olhar f 0 (x)(v) = (cos x)v, v ∈ R. Analogamente, se
α(t) = (t, t2 , t3 ), t ∈ R, para olhar α0 (t) = (1, 2t, 3t2 ) sob o ponto de vista das aplicações lineares,
é só definir T : R −→ R3 por
T (v) = vα0 (t) = v(1, 2t, 3t2 ) = (v, (2t)v, (3t2 )v), v ∈ R.
Note que as coordenadas de T são as aplicações lineares de R em R que correspondem às
derivadas (ordinárias) das funções t, t2 e t3 , a saber: 1, 2t e 3t2 .
160 A Derivada

5.1.9 [Aplicação Afim]


Exemplo Uma função f : Rn −→ Rm da forma f (X) = T (X) + B,
onde T é linear e B é um vetor constante do Rm , é chamada
n
aplicação afim. Se X0 , H ∈ R , então

f (X0 + H) = T (X0 + H) + B = T (X0 ) + T (H) + B


= (T (X0 ) + B) + T (H)
= f (X0 ) + T (H) + r(H),

onde r(H) = O ∈ Rm , que trivialmente satisfaz limH→O r(H)/ kHk = O. Logo, f é diferenciável
em X0 e vale f 0 (X0 )(X) = T (X), X ∈ Rn . Isto implica que f é diferenciável em Rn , e sua
derivada, em qualquer ponto, coincide com T , isto é, f 0 é constante. Tomando B = O, vem que
a derivada de uma aplicação linear é constante e coincide com ela mesma. Agora escolhendo
T como sendo a aplicação linear nula, resulta que a derivada de uma aplicação constante é a
aplicação linear nula.
O próximo teorema mostra como a aplicação linear T da definição 5.1.3 deve atuar em
um vetor.

5.1.10
Teorema Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm diferenciável em X0 ∈ D. Se T satisfaz a definição 5.1.3,
e V ∈ Rn , então
f (X0 + tV ) − f (X0 )
T (V ) = lim . (¶29 )
t→0 t
Em particular, T é única.
Demonstração: Temos que
r(H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + T (H) + r(H), e lim = O.
H→O kHk

Tomando H = tV , vem que


f (X0 + tV ) = f (X0 ) + T (tV ) + r(tV ) = f (X0 ) + tT (V ) + r(tV ),
onde, na segunda igualdade, usamos a linearidade de T . Logo,
f (X0 + tV ) − f (X0 ) r(tV )
= T (V ) + .
t t
Como a identidade (¶29 ) é facilmente verificada para V = O, podemos supor que V 6= O. Desta
forma,
= lim kV k kr(tV )k = kV k lim kr(tV )k = 0,
r(tV )
lim
t→0 t t→0 ktV k t→0 ktV k

pois lim r(H)/ kHk = O. Agora,


H→O

f (X0 + tV ) − f (X0 ) r(tV )


lim = T (V ) + lim = T (V ).
t→0 t t→0 t
Aplicações Diferenciáveis 161

Quanto à unicidade, seja S outro operador linear satisfazendo a definição 5.1.3. O que fizemos
para T mostra que
f (X0 + tV ) − f (X0 )
S(V ) = lim = T (V ).
t→0 t
Logo, S = T , e está pronta a prova. ppppppppppppppppppppp

A seguir apresentaremos uma série de conseqüências do teorema 5.1.10 que permitem, de


um modo mais simples, a verificação da diferenciabilidade, ou não, de uma dada função f .

5.1.11
Corolário Se f : D ⊂ Rn −→ Rm é diferenciável em X0 ∈ D, então sua derivada funciona
assim:

f 0 (X0 ) : Rn −−− Rm
−→

f (X0 + tX) − f (X0 )
X −−−−−→ f 0 (X0 )(X) = lim .
t→0 t
(Note, em particular, que o limite indicado é linear em X.)
Demonstração: Decorre facilmente de (¶29 ), teorema 5.1.10. pppppppppppppppppppp

5.1.12
Corolário Se f : D ⊂ Rn −→ Rm é diferenciável em X0 ∈ D e U ∈ Rn é um vetor
∂f
unitário, então f 0 (X0 )(U ) = ∂U
(X0 ). Em particular, existem as derivadas
∂f
parciais ∂x j
(X0 ), para j = 1, 2, . . . , n.
Demonstração: Use o corolário anterior, com X = U , junto com a definição 4.5.1. pppppppppppppppppppp

5.1.13
Corolário Se f : D ⊂ Rn −→ Rm é diferenciável em X0 ∈ D, então a matriz (com relação
às bases canônicas) de f 0 (X0 ) coincide com a matriz jacobiana de f em X0 ,
isto é, M (f 0 (X0 )) = Jf (X0 ) (veja teorema 1.5.3, para a construção da matriz de um operador
linear). Portanto, se f tem funções coordenadas f1 , f2 , . . ., fm , então f 0 (X0 ) : Rn −→ Rm é tal
que f 0 (X0 )(X) = Jf (X0 )X, isto é,
 
∂f1 ∂f1 ∂f1
(X0 ) (X0 ) . . . (X0 )
   ∂x1 ∂x2 ∂xn
 
x1   x
1
 ∂f2 ∂f2 ∂f2

x2
   (X0 ) (X0 ) . . .  (X0 )
x2 
f 0 (X0 ) ∂x1 ∂x2 ∂xn
    
=
 ..  
 
  .. .
  
.  .. .. ..
 . 
 . .  .
xn 
 ∂f
 xn
m ∂fm ∂fm 
(X0 ) (X0 ) . . . (X0 )
∂x1 ∂x2 ∂xn
162 A Derivada

Demonstração: Do teorema 1.5.3, vem que f 0 (X0 )(X) = M (f 0 (X0 ))X, onde estamos
olhando X como uma matriz de ordem n × 1, e M (f 0 (X0 )) é a matriz de ordem m × n cuja
j-ésima coluna é o vetor f 0 (X0 )(ej ), para j = 1, 2, . . . n. Mas
∂f ∂f1 ∂f2 ∂fm
f 0 (X0 )(ej ) = (X0 ) = ( (X0 ), (X0 ), . . . , (X0 )),
∂xj ∂xj ∂xj ∂xj
o que segue-se do corolário 5.1.12. Logo, a j-ésima coluna da matriz M (f 0 (X0 )) coincide com a
∂f
derivada parcial ∂x j
(X0 ), a qual, por definição, é a j-ésima coluna de Jf (X0 ). Resulta daı́ que
M (f (X0 )) = Jf (X0 ). ppppppppppppppppppppp
0

5.1.14
Corolário Se f : D ⊂ Rn −→ R é diferenciável em X0 ∈ D, então
∂f ∂f ∂f
f 0 (X0 )(X) = grad f (X0 ) · X = x1 (X0 ) + x2 (X0 ) + · · · + xn (X0 ),
∂x1 ∂x2 ∂xn
onde X = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn .
Demonstração: É só observar que
∂f ∂f ∂f
Jf (X0 ) = ( (X0 ) (X0 ) · · · (X0 ))
∂x1 ∂x2 ∂xn
e usar o corolário anterior, expandindo Jf (X0 )X. pppppppppppppppppppppp

5.1.15 p
Exemplo Seja f (x, y) = x2 + y2 , (x, y) ∈ R2 . Vimos no exemplo 4.1.14 que não existem
as derivadas parciais de f no ponto (0, 0). Logo, f não pode ser diferenciável
neste ponto. De fato, a diferenciabilidade de f em (0, 0) implicaria na existência de Jf (0, 0), de
acordo com o corolário 5.1.13.

5.1.16
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por
 2
 x y , se (x, y) 6= (0, 0)

2 2
f (x, y) = x + y

0, se (x, y) = (0, 0).

Temos que Jf (0, 0) = (0 0). Com efeito,


∂f f (h, 0) − f (0, 0) ∂f f (0, k) − f (0, 0)
(0, 0) = lim =0 e (0, 0) = lim = 0.
∂x h→0 h ∂y k→0 k
Mais geralmente, se X = (x1 , x2 ) ∈ R2 ,
x21 x2
 
t
f (X0 + tX) − f (X0 ) f (tx1 , tx2 ) − f (0, 0) x21 + x22 x21 x2
lim = lim = lim = ,
t→0 t t→0 t t→0 t x21 + x22
Aplicações Diferenciáveis 163

que, claro, está longe de ser linear em X. Do corolário 5.1.11, vem que f não é diferenciável
em X0 = (0, 0), mesmo tendo matriz jacobiana aı́ (mais do que isso: tendo todas as derivadas
direcionais aı́).

5.1.17
Exemplo Retomemos a função f do exemplo 3.1.14:

xy
2 , se (x, y) 6= (0, 0)

 2
f (x, y) = x + y
0,

se (x, y) = (0, 0).

Naquele exemplo mostramos que f não é contı́nua em X0 = (0, 0). Na realidade, f não tem
limite neste ponto. Entretanto, isto não impede que exista Jf (0, 0), a qual, como é fácil de
ver, é a matriz nula. Um argumento análogo ao anterior mostraria que f não é diferenciável
em (0, 0). Entretanto, a descontinuidade de f aı́ já é o bastante para garantir isto, posto
que diferenciabilidade implica continuidade, fato bastante conhecido para funções reais de uma
variável real, o qual permanece válido para funções vetoriais, como mostra a seguinte proposição.

5.1.18
Proposição Se f : D ⊂ Rn −→ Rm é diferenciável em X0 ∈ D, então f é contı́nua em X0 .
Demonstração: Devemos mostrar que lim (f (X) − f (X0 )) = O. Temos que
X→X0

r(H)
f (X0 + H) − f (X0 ) = f 0 (X0 )(H) + r(H), onde lim = O,
H→O kHk

pois f é diferenciável em X0 . Logo,

f (X) − f (X0 ) = f ((X − X0 ) + X0 ) − f (X0 ) = f 0 (X0 )(X − X0 ) + r(X − X0 ). (¶30 )

De lim r(H)/ kHk = O, resulta que


H→O

r(X − X0 ) r(X − X0 )
lim r(X − X0 ) = lim kX − X0 k = lim kX − X0 k lim = O.
X→X0 X→X0 kX − X0 k X→X0 X→X0 kX − X0 k

Como f 0 (X0 ) é contı́nua, pois é linear (veja corolário 3.2.14), vem que

lim f 0 (X0 )(X − X0 ) = f 0 (X0 )(O) = O.


X→X0

Estas informações introduzidas em (¶30 ) produzem lim (f (X) − f (X0 )) = O. pppppppppppppppppppppp


X→X 0

Os exemplos 5.1.16 e 5.1.17 mostram funções f que têm matriz jacobiana em um certo
ponto X0 , mas que não são diferenciáveis nele, ora porque o limite
f (X0 + tX) − f (X0 )
lim
t→0 t
164 A Derivada

não é linear em X, ora porque a função dada não é contı́nua em X0 . Entretanto, é possı́vel
estabelecer a diferenciabilidade de uma função a partir da existência de sua matriz jacobiana,
como mostra o próximo teorema, o qual produz um bom critério de diferenciabilidade.

5.1.19
Teorema Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm , definida no aberto D, tendo Jf (X0 ), X0 ∈ D. Defina
r(H) = f (X0 + H) − f (X0 ) − Jf (X0 )H, (¶31 )
ou, quando m = 1,
r(H) = f (X0 + H) − f (X0 ) − grad f (X0 ) · H, (¶32 )
onde H ∈ Rn é suficientemente pequeno para que X0 + H ∈ D. Temos que
r(H)
(i) se f é diferenciável em X0 , então lim = O;
H→O kHk

r(H)
(ii) se lim = O, então f é diferenciável em X0 , e, dado X ∈ Rn ,
H→O kHk

f 0 (X0 )(X) = Jf (X0 )X, ou f 0 (X0 )(X) = grad f (X0 ) · X, quando m = 1.

Demonstração: Se f é diferenciável em X0 , temos, por definição, que


r(H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + f 0 (X0 )(H) + r(H), onde lim = O.
H→O kHk

Mas f 0 (X0 )(H) = Jf (X0 )H, de acordo com o corolário 5.1.13. Logo,
r(H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + Jf (X0 )H + r(H), onde lim = O.
H→O kHk

A equação
f (X0 + H) = f (X0 ) + Jf (X0 )H + r(H)
obriga que
r(H) = f (X0 + H) − f (X0 ) − Jf (X0 )H.
Portanto,
f (X0 + H) − f (X0 ) − Jf (X0 )H r(H)
lim = lim = O,
H→O kHk H→O kHk

o que prova (i). Para provar (ii), simplesmente introduzimos a função linear
T : Rn −− − Rm
−→

X −−−−−→ T (X) = Jf (X0 )X.
De posse desta T , a condição lim (r(H)/ kHk) = O (hipótese de (ii)) implica que
H→O

r(H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + T (H) + r(H), onde lim = O.
H→O kHk

Portanto, f é diferenciável em X0 , e vale f 0 (X0 )(H) = T (H) = Jf (X0 )H, H ∈ Rn . ppppppppppppppppppp


Aplicações Diferenciáveis 165

5.1.20
Exemplo Seja f : R2 −→ R definida por
 2
 p (x − 1) (y − 2) , se (x, y) 6= (1, 2)

f (x, y) = (x − 1)2 + (y − 2)2

0, se (x, y) = (1, 2).

Estudaremos a diferenciabilidade de f no ponto X0 = (1, 2). De inı́cio, observamos que f é


contı́nua neste ponto. De fato,

(x − 1)2 (y − 2) kX − X k3
0
≤ ≤ kX − X0 k2 .

p
(x − 1)2 + (y − 2)2 kX − X0 k

Logo,
lim f (x, y) = 0 = f (1, 2).
(x,y)→(1,2)

Portanto, devemos caminhar um pouco mais para decidir sobre a diferenciabilidade, ou não, de
f em X0 . Vejamos se existe Jf (X0 ) (ou grad f (X0 )). Temos que

f (X0 + he1 ) − f (X0 ) f (1 + h, 2) − f (1, 2) h2 0


= = √ = 0.
h h h2
Logo,
∂f f (1 + h, 2) − f (1, 2)
(1, 2) = lim = 0.
∂x h→0 h
Analogamente, obtemos que ∂f ∂y
(1, 2) = 0. Assim, f possui matriz jacobiana em X0 , e esta vale
Jf (1, 2) = (0 0). Visando usar o teorema 5.1.19, calcularemos r(H) e estudaremos o limite do
quociente r(H)/ kHk, H = (h, k) ∈ R2 . Temos que

r(H) = f (X0 + H) − f (X0 ) − Jf (X0 )H


= f (X0 + H) − f (X0 ) − grad f (X0 ) · H
= f (1 + h, 2 + k) − f (1, 2) − (0, 0) · (h, k)
h2 k h2 k
=√ = .
h2 + k 2 kHk
Portanto,
2

= h |k| ≤ kHk ,
r(H)
0 ≤
kHk kHk2
o que, via proposição 3.1.20, implica que limH→0 (r(H)/ kHk) = 0. Agora, o teorema 5.1.19, em
seu item (ii), pode ser usado para garantir que f é diferenciável em X0 = (1, 2) e sua derivada
aı́ é tal que, para X = (x, y) ∈ R2 ,

f 0 (1, 2)(X) = Jf (1, 2)X = grad f (1, 2) · X = (0, 0) · (x, y) = 0,

isto é a derivada de f em (1, 2) é nula (função linear nula).


166 A Derivada

5.1.21
Aplicações de Classe C 1

Até aqui, para estabelecer a diferenciabilidade de uma dada função vetorial f , sempre
recorremos ou à definição 5.1.3, ou ao teorema 5.1.19. Em qualquer caso, a tarefa mais difı́cil
consiste na verificação da condição de boa aproximação: limH→O r(H)/ kHk = O. Existiriam
hipóteses que adicionadas, por exemplo, às derivadas parciais de f permitissem concluir sua dife-
renciabilidade, eliminando esta tarefa? A resposta é afirmativa e está contida no teorema 5.1.23
a seguir. Antes, uma definição.

5.1.22
Definição Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm definida no aberto D. Dizemos que f é de classe C k
em um ponto X ∈ D se existe uma bola aberta B(X, δ) ⊂ D onde existem
todas as derivadas parciais até a ordem k de f e, além disto, elas são contı́nuas em X.

Observação É claro que se f é de classe C k em D (veja definição 4.2.8), então ela é de


classe C k em cada um dos pontos de D.

5.1.23
Teorema Se f : D ⊂ Rn −→ Rm , definida no aberto D, é de classe C 1 em X0 , então f é
diferenciável em X0 .
Demonstração: A prova será dada para o caso n = 2 e m = 1. Fixemos, então, a
notação. Poremos X0 = (a, b) e H = (h, k). Como f é de classe C 1 em X0 , vem que existe
B(X0 , δ0 ) ⊂ D, onde existem ∂f∂x
e ∂f
∂y
, que são contı́nuas em X0 . O nosso objetivo, agora, será
mostrar que
∂f ∂f
f (a + h, b + k) − f (a, b) − h (a, b) − k (a, b)
r(H) ∂x ∂y
lim = lim = 0,
H→O kHk (h,k)→(0,0) kHk
e obter a diferenciabilidade procurada, usando, é claro, o teorema 5.1.19. O item (i) da pro-
posição 4.2.5 dá que
∂f
f (a + h, b + k) − f (a, b + k) = (a + θ1 h, b + k)h, para algum 0 < θ1 < 1.
∂x
Logo,
∂f ∂f
r(H) = f (a + h, b + k) − f (a, b) − h (a, b) − k (a, b)
∂x ∂y
∂f ∂f
= (f (a + h, b + k) − f (a, b + k)) + (f (a, b + k) − f (a, b)) − h (a, b) − k (a, b)
∂x ∂y
∂f ∂f ∂f
= (a + θ1 h, b + k)h + (f (a, b + k) − f (a, b)) − h (a, b) − k (a, b)
∂x ∂x ∂y
   
∂f ∂f f (a, b + k) − f (a, b) ∂f
=h (a + θ1 h, b + k) − (a, b) + k − (a, b) ,
∂x ∂x k ∂y
Aplicações Diferenciáveis 167

para algum 0 < θ1 < 1. Isto implica que



∂f ∂f f (a, b + k) − f (a, b) ∂f
|r(H)| ≤ |h| (a + θ1 h, b + k) − (a, b) + |k| − (a, b)
∂x ∂x k ∂y
 
∂f ∂f f (a, b + k) − f (a, b) ∂f
≤ kHk (a + θ1 h, b + k) − (a, b) + − (a, b) .
∂x ∂x k ∂y
Donde obtemos que

|r(H)| ∂f ∂f f (a, b + k) − f (a, b) ∂f
0≤ ≤ (a + θ1 h, b + k) − (a, b) +
− (a, b) , (¶33 )
kHk ∂x ∂x k ∂y
onde 0 < θ1 < 1. É bastante razoável dizer que quando o acréscimo (h, k) tende a zero, os pares
(a + θ1 h, b + k) tendem para (a, b), pois θ1 é limitado. Logo, a primeira parcela do lado direito
de (¶33 ) deve tender para zero, diante da continuidade de ∂f ∂x
em (a, b). A outra parcela tende
∂f
a zero por uma razão mais simples: a existência de ∂y (a, b). Portanto, devemos ter, também,
limH→O (|r(H)|/ kHk) = 0. A formalização destes argumentos é feita assim: tomamos  > 0
arbitrário. A continuidade de ∂f
∂x
em X0 = (a, b) junto com existência de ∂f ∂y
(a, b) produzem um
δ > 0 tal que
∂f ∂f 
X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ (X) − (X0 ) <
∂x ∂x 2
e
f (a, b + k) − f (a, b) ∂f 
|k| < δ =⇒ − (a, b) < .
k ∂y 2
Logo, se kHk < δ, valem simultaneamente


k(a + θ h, b + k) − (a, b)k = k(θ h, k)k ≤ kHk < δ

1 1


|k| ≤ kHk < δ.

Portanto,

∂f ∂f  f (a, b + k) − f (a, b) ∂f 
(a + θ1 h, b + k) − (a, b) < e − (a, b) < .
∂x ∂x 2 k ∂y 2
Agora é só retomar (¶33 ) para concluir que

|r(H)| ∂f ∂f f (a, b + k) − f (a, b) ∂f  
≤ (a + θ1 h, b + k) − (a, b) + − (a, b) < + = ,
kHk ∂x ∂x k ∂y 2 2
r(H)
desde que kHk < δ. Isto é exatamente a definição de lim = 0. Agora podemos concluir
H→O kHk
que f é diferenciável em (a, b). ppppppppppppppppppppppp

Observação Na prova acima, não fizemos uso do fato de f ser de classe C 1 em X0 . Usamos
um pouco menos: a continuidade de uma das derivadas parciais ( ∂f ∂x
), e a mera
∂f
existência da outra ( ∂y ). No caso geral, precisamos da continuidade de (n−1) delas e da simples
existência da restante.
168 A Derivada

5.1.24
Corolário Se f : D ⊂ Rn −→ Rm é de classe C 1 no aberto D, então f é diferenciável
em D.
Neste ponto, dispomos de toda uma ferramenta básica, a qual podemos usar para detectar
a diferenciabilidade, ou não, de uma função vetorial dada. O que faremos, agora, é unir todo esse
material (corolário 5.1.11, corolário 5.1.13, proposição 5.1.18, teorema 5.1.19 e o teorema 5.1.23)
em um fluxograma, como mostramos a seguir.

f é N
contı́nua em X0 ?
?
S f não é
diferenciável em X0 .
?
6
Existe a matriz N
Jf (X0 )?

? ?
f é de classe C 1 N r(H) N
- lim = 0?
H→O kHk
em X0 ?

S
- S

f é diferenciável em X0 .

Fluxograma para Decidir a Diferenciabilidade de f : D ⊂ Rn −→ Rm em X0

5.1.25
Exemplo Seja f : Rn −→ R, f (x1 , x2 , . . . , xn ) = kXk2 = x21 + x22 + · · · + x2n . Temos que

Jf (x1 , x2 , . . . , xn ) = (2x1 2x2 . . . 2xn ) = 2(x1 x2 . . . xn ).

Logo, f é de classe C 1 em Rn (na realidade, C ∞ ). Logo, podemos sair rapidamente do


fluxograma, concluindo que f é diferenciável em qualquer ponto do Rn . Além disto, dado
A = (a1 , a2 , . . . , an ), a derivada de f em A é a aplicação linear

f 0 (A)(X) = grad f (A) · X = 2(a1 , a2 , . . . , an ) · (x1 , x2 , . . . , xn ) = 2a1 x1 + 2a2 x2 + · · · + 2an xn .


Aplicações Diferenciáveis 169

5.1.26 p
Exemplo Vimos no exemplo 5.1.15 que f (x, y) = x2 + y2 , (x, y) ∈ R2 não tem derivada
na origem, pois suas derivadas parciais não existem neste ponto. Entretanto, se
X = (x, y) 6= (0, 0), f tem derivadas parciais aı́ e, como é fácil ver,
x y
Jf (x, y) = ( p p ).
x2 + y 2 x2 + y 2

Isto implica que f é de classe C ∞ em R2 − {(0, 0)}. Em particular, se X0 = (a, b) 6= (0, 0), então
f é de classe C 1 em X0 , e podemos concluir que f é diferenciável em X0 = (a, b). Além disso
f 0 (a, b) é a função linear
a b au bv
f 0 (a, b)(u, v) = ( √ ,√ ) · (u, v) = √ +√ , (u, v) ∈ R2 .
a2 + b2 a2 + b2 a2 + b2 a2 + b2

5.1.27
Exemplo Seja f : R3 −→ R2 dada por f (x, y, z) = (x2 y +z, xyz). No exemplo 5.1.5 verifica-
mos a diferenciabilidade de f em (1, 2, 3). Para verificar a sua diferenciabilidade
em todo R3 , precisamos apenas estudar a sua matriz jacobiana em um ponto arbitrário:
!
2xy x2 1
Jf (x, y, z) = ,
yz xz xy

cujas entradas são todas contı́nuas em R3 . Logo, f é de classe C 1 em R3 e, portanto, é dife-


renciável em qualquer ponto do R3 . Se X0 = (a, b, c), então

f 0 (a, b, c) : R3 −− − R2
−→

   
x x !  
2ab a2 1 x

0 2abx + a2 y + z
y  −−−−−→ f (a, b, c)y  =  = .
   
bc ac ab y bcx + acy + abz
z z
z

O objetivo do próximo exemplo é exibir exemplos de aplicações diferenciáveis que não são
de classe C 1 .

5.1.28
Exemplo A função real de uma variável real

x2 sen 1 , se x 6= 0
g(x) = x
0, se x = 0

tem derivada dada por 


2x sen 1 − cos 1 , se x 6= 0
0
g (x) = x x .
0, se x = 0
170 A Derivada

A derivada de g em x = 0 é calculada via definição, assim:


1
g(x) − g(0) x2 sen
g 0 (0) = lim = lim x = lim x sen 1 = 0,
x→0 x x→0 x x→0 x
posto que sen(1/x) é limitada (veja proposição 3.1.21). Como cos(1/x) não tem limite em x = 0
(compare com o exemplo 2.1.3), vem que o mesmo ocorre com g 0 . Logo, g 0 não é contı́nua no
ponto x = 0 e, portanto, g é diferenciável, mas não é de classe C 1 , em x = 0. Este mesmo
exemplo serve para construir outro, com mais variáveis, tendo a mesma propriedade. De fato,
basta considerar f : R2 −→ R definida por

g(x), se x 6= 0
f (x, y) =
0, se x = 0.

Esta função é diferenciável em todo R2 , mas não é de classe C 1 nos pontos da forma (0, y), isto
é, ao longo do eixo-y. Para ver isto, calculemos Jf . Temos que

 (2x sen 1 − cos 1 0), se x 6= 0
0
Jf (x, y) = (g (x) 0) = x x
 (0 0), se x = 0,

que mostra que f não é de classe C 1 ao longo do eixo-y. A diferenciabilidade de f ao longo


deste eixo é obtida com o estudo do resto

r(H) = r(h, k) = f ((0, y) + (h, k)) − f (0, y) − grad f (0, y) · (h, k) = g(h), (h, k) 6= (0, 0),

que tem a propriedade limH→(0,0) r(h, k)/ k(h, k)k = 0, a qual resulta de

1

2
|g(h)| h sen h |h|

|r(H)| 1 |h|
0≤ = = = h sen
≤ |h|.
kHk kHk h kHk h kHk


A próxima proposição mostra que basta estudar a diferenciabilidade das funções coorde-
nadas de uma função vetorial, para decidir sobre sua diferenciabilidade.

5.1.29
Proposição Seja D ⊂ Rn aberto. Uma função vetorial f : D −→ Rm é diferenciável em
X0 ∈ D se, e somente se, suas funções coordenadas são diferenciáveis neste
ponto.
Demonstração: Suponhamos que f seja diferenciável em X0 , e indiquemos por fj ,
1 ≤ j ≤ m, suas funções coordenadas. Indicando por T a derivada f 0 (X0 ), temos que

r(H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + T (H) + r(H), onde lim = O.
H→O kHk
Aplicações Diferenciáveis 171

Isto implica que, para cada j, 1 ≤ j ≤ m,


rj (H)
fj (X0 + H) = fj (X0 ) + Tj (H) + rj (H), onde lim = 0,
H→O kHk
onde Tj e rj são as funções coordenadas de T e r, respectivamente. Segue-se, portanto, a
diferenciabilidade de fj , visto que Tj , por ser função coordenada de uma função linear, também
é linear.
Reciprocamente, suponhamos que as m funções fj , 1 ≤ j ≤ m, sejam diferenciáveis em
X0 . Então, para cada j, vale
rj (H)
fj (X0 + H) = fj (X0 ) + fj0 (X0 )(H) + rj (H), onde lim = 0. (¶34 )
H→O kHk

A partir das m funções lineares (reais), fj0 (X0 ), construı́mos a aplicação T : Rn −→ Rm ,

T (X) = (f10 (X0 )(X), f20 (X0 )(X), . . . , fn0 (X0 )(X)),

que, claro, é linear. Para T assim definida e r(X) = (r1 (X), r2 (X), . . . , rn (X)), a informação
contida em (¶34 ) se reescreve como

r(H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + T (X0 )(H) + r(H), onde lim = 0,
H→O kHk

o que significa que f é diferenciável em X0 . ppppppppppppppppppppp

Observação Em particular, a prova da proposição anterior mostra que

f 0 (X0 ) = (f10 (X0 ), f20 (X0 ), . . . , fm


0
(X0 )),

quando as aplicações envolvidas são diferenciáveis em X0 .

5.1.30
Aproximação Afim

Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm definida no aberto D e diferenciável em X0 ∈ D. Assim,


r(H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + f 0 (X0 )(H) + r(H), onde lim = O,
H→O kHk

que pode ser reescrito, se usamos X = X0 + H para representar um ponto arbitrário próximo
de X0 , como
r(X − X0 )
f (X) = f (X0 ) + f 0 (X0 )(X − X0 ) + r(X − X0 ), onde lim = O,
X→X0 kX − X0 k
172 A Derivada

ou
r(X − X0 )
f (X) = f (X0 ) + Jf (X0 )(X − X0 ) + r(X − X0 ), onde lim = O.
X→X0 kX − X0 k

A aplicação afim (veja exemplo 5.1.9)

A(X) = f (X0 ) + Jf (X0 )(X − X0 ), X ∈ Rn ,

ou, quando m = 1,

A(X) = f (X0 ) + grad f (X0 ) · (X − X0 ), X ∈ Rn

é chamada aproximação afim de f em X0 . Note que

f (X) = A(X) + r(X − X0 ),

onde o resto r(X − X0 ) tem norma bem pequena, se X é escolhido perto de X0 . Isto justifica a
escolha do nome aproximação para A.

5.1.31
Exemplo Seja f (x, y) = xy , definida no subconjunto aberto D = (0, +∞) × R. Temos que

grad f (x, y) = (yxy−1 , xy log x), (x, y) ∈ D.

Logo, f é de classe C 1 em D e, portanto, é diferenciável em D. Em particular, f é diferenciável


em X0 = (1, 3) e sua derivada aı́ é a função linear

f 0 (1, 3)(x, y) = grad f (1, 3) · (x, y) = (3, 0) · (x, y) = 3x, (x, y) ∈ R2 .

Logo, a aproximação afim de f em (1, 3) é a aplicação afim dada por

A(x, y) = f (1, 3) + f 0 (1, 3)(x − 1, y − 3) = 1 + 3(x − 1) = −2 + 3x, (x, y) ∈ R2 .

Como A(x, y) aproxima os valores de f (x, y) para (x, y) próximos de (1, 3), podemos dizer, por
exemplo, que f ((1, 02), (3, 01)) ∼
= A((1, 02), (3, 01)), isto é,

1, 023,01 ∼
= 1 + 3(1, 02 − 1) = 1 + 3 × 0, 02 = 1, 06.

O leitor pode verificar se o resultado está razoável, consultando uma máquina de calcular.
Temos a seguinte descrição geométrica para a aproximação afim de uma função real de
duas variáveis.
Aplicações Diferenciáveis 173

5.1.32
Proposição Seja f : D ⊂ R2 −→ R, D aberto, diferenciável em X0 = (a, b) ∈ D. Então
o gráfico da aproximação afim de f em X0 coincide com o plano tangente ao
gráfico de f no ponto P = (a, b, f (a, b)).
Demonstração: Temos que o gráfico de A é dado por

G(A) = {(x, y, z) ∈ R3 ; z = A(x, y) = f (a, b) + grad f (a, b) · (x − a, y − b)}


∂f ∂f
= {(x, y, z) ∈ R3 ; z = A(x, y) = f (a, b) + ( (a, b), (a, b)) · (x − a, y − b)}
∂x ∂y
∂f ∂f
= {(x, y, z) ∈ R3 ; z = A(x, y) = f (a, b) + (a, b)(x − a) + (a, b)(y − b)}.
∂x ∂y
Recorrendo a (¶23 ), página 123, vemos que o conjunto G(A) coincide com o plano tangente ao
gráfico de f em P , πP (f ). pppppppppppppppppppp
z
Em particular, esta proposição mos- q z = f (x, y)
f (X) r
6
tra porque usamos a terminologia plano qqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqq
A(X) r qqqqqqqqqq q
qqqqqqqqqqqqqq
qqqqq
tangente para o plano da definição 4.1.18. r qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
q q q qqq q qqq q q qqq
qqqq
q qqqq
q
qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq
qq
f (X0 ) = A(X0 ) qqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqq qqqqqq
No caso diferenciável, πP (f ) é o plano, que q
q q
q q
q q
q q qqq
q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqq
qq qqqqqqqq qqqqqqqq
q qqqqqq
q q
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
qqq
qqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq q qq q
qqqqq qqqqqqq zqqqqqq= A(x, y)
q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q
qqqq
q
contém o ponto q q q q q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq
qqqqqqqqq q q
qqqqqqqqqqqqqq qq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
qqqqqqqqqqrqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqq
q qq qqqqqP
q qq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq
qqqq q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqbqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
r(X − X0 )
q q q q q
q qqq
qqq
q q q q qqrqqqqqqqqqqqqqqq
qqq
P = (a, b, f (a, b)) ∈ G(f ), qqqqqqqqqqqqqqq q q qqqq q qqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
-
y
que melhor se aproxima da superfı́cie G(f ). r rX
X0
Também temos uma boa interpretação
geométrica para as aproximações afins que x
Figura 81: Aproximação Afim
são obtidas a partir das superfı́cies para-
metrizadas.

5.1.33
Proposição Seja g : D ⊂ R2 −→ R3 , D aberto, diferenciável em X0 = (u0 , v0 ) ∈ D. Então
a imagem da aproximação afim de g em X0 coincide com o plano tangente de
g em P = g(u0 , v0 ).
Demonstração: Neste caso, temos A : R2 −→ R3 é dada por

A(u, v) = g(u0 , v0 ) + g 0 (u0 , v0 )(u − u0 , v − v0 )


 
u − u0
= g(u0 , v0 ) + Jg(u0 , v0 )
v − v0
∂g ∂g
= g(u0 , v0 ) + (u − u0 ) (u0 , v0 ) + (v − v0 ) (u0 , v0 ).
∂u ∂v
∂g
Portanto, o traço de A é o plano que passa por P = g(u0 , v0 ) e é paralelo aos vetores ∂u (u0 , v0 )
∂g
e ∂v (u0 , v0 ), que é o plano tangente ao traço de g em P = g(u0 , v0 ), o qual definimos em 4.4.10,
página 140.
174 Operações com Aplicações Diferenciáveis

5.2
Operações com Aplicações Diferenciáveis

O objetivo principal desta seção é estabelecer a diferenciabilidade da soma, produto, e


composição de funções vetoriais diferenciáveis. Em particular, certamente, o leitor adquirirá um
pouco mais de habilidade com a definição de derivada.

5.2.1
Proposição Se f, g : D ⊂ Rn −→ Rm são diferenciáveis em X0 ∈ D, então
(i) a soma f + g é diferenciável em X0 e (f + g)0 (X0 ) = f 0 (X0 ) + g 0 (X0 ), isto é,

(f + g)0 (X0 )(V ) = f 0 (X0 )(V ) + g 0 (X0 )(V ), V ∈ Rn ;

(ii) o produto escalar f · g é diferenciável em X0 e

(f · g)0 (X0 )(V ) = g(X0 ) · f 0 (X0 )(V ) + f (X0 ) · g 0 (X0 )(V ), V ∈ Rn .

Em particular, quando m = 1, o produto f g é diferenciável em X0 e

(f g)0 (X0 )(V ) = g(X0 )f 0 (X0 )(V ) + f (X0 )g 0 (X0 )(V ), V ∈ Rn .

Demonstração: Para simplificar a exposição, usaremos T = f 0 (X0 ) e S = g 0 (X0 ).


Como f e g são diferenciáveis em X0 , vem que

r1 (H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + T (H) + r1 (H), onde lim =O


H→O kHk
r2 (H) (¶35 )
g(X + H) = g(X ) + S(H) + r (H), onde lim = O.

0 0 2

H→O kHk

Logo,
(f + g)(X0 + H) = f (X0 + H) + g(X0 + H)
= f (X0 ) + g(X0 ) + T (H) + S(H) + r1 (H) + r2 (H)
= (f + g)(X0 ) + (T + S)(H) + (r1 (H) + r2 (H)).
Isto mostra que (f + g)(X0 + H) − (f + g)(X0 ) se decompõe numa parte linear em H, a saber
T + S, mais o resto r(H) = r1 (H) + r2 (H). Além disto,

r(H) r1 (H) + r2 (H) r1 (H) r2 (H)


lim = lim = lim + lim = O.
H→O kHk H→O kHk H→O kHk H→O kHk

Portanto, (f + g) é diferenciável em X0 e sua derivada neste ponto vale

(f + g)0 (X0 ) = T + S = f 0 (X0 ) + g 0 (X0 ),


Aplicações Diferenciáveis 175

o que prova (i). Para (ii), expandimos f (X0 + H) · g(X0 + H), outra vez usando (¶35 ).

f (X0 + H) · g(X0 + H) = (f (X0 ) + T (H) + r1 (H)) · (g(X0 ) + S(H) + r2 (H))


= f (X0 ) · g(X0 ) + g(X0 ) · T (H) + f (X0 ) · S(H) + f (X0 ) · r2 (H) +
+ g(X0 ) · r1 (H) + T (H) · S(H) + T (H) · r2 (H) + S(H) · r1 (H) +
+ r1 (H) · r2 (H)
= (f · g)(X0 ) + L(H) + r(H),

onde L é a função linear L : Rn −→ R,

L(H) = g(X0 ) · T (H) + f (X0 ) · S(H),

e r é
r(H) = f (X0 ) · r2 (H) + g(X0 ) · r1 (H) + T (H) · S(H) +
+ T (H) · r2 (H) + S(H) · r1 (H) + r1 (H) · r2 (H).

Vejamos se r tem a propriedade limH→O r(H)/ kHk = 0, que é o que falta para a diferencia-
bilidade de f · g ficar estabelecida. Antes disto, vamos até o teorema 3.2.11, de onde tiramos
constantes M > 0 e N > 0 tais que

kT (X)k ≤ M kXk e kS(X)k ≤ N kXk ,

para todo X ∈ Rn . Agora,

|r(H)| 1
0≤ = |f (X0 ) · r2 (H) + g(X0 ) · r1 (H) + T (H) · S(H) +
kHk kHk
+ T (H) · r2 (H) + S(H) · r1 (H) + r1 (H) · r2 (H)|
1
≤ (|f (X0 ) · r2 (H)| + |g(X0 ) · r1 (H)| + |T (H) · S(H)| +
kHk
+ |T (H) · r2 (H)| + |S(H) · r1 (H)| + |r1 (H) · r2 (H)|)
r2 (H) r1 (H)
≤ kf (X0 )k + kg(X0 )k + M N kHk +
kHk kHk
r2 (H)
+ M kr2 (H)k + N kr1 (H)k + kr1 (H)k .
kHk

Logo,
lim r(H)/ kHk = 0,
H→O

e, portanto, f · g é diferenciável em X0 e (f · g)0 (X0 ) = L. ppppppppppppppppppppp


176 Operações com Aplicações Diferenciáveis

5.2.2
Proposição Se f : D ⊂ Rn −→ R é diferenciável em X0 e f (X0 ) 6= 0, então 1/f é dife-
renciável em X0 .
Demonstração: Agora faremos uso do teorema 5.1.19. Inicialmente, como f é dife-
renciável em X0 , podemos escrever
r1 (H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + grad f (X0 ) · H + r1 (H), onde lim = 0.
H→O kHk

Um cálculo direto usando derivadas parciais mostra que


1 1
grad (X0 ) = − grad f (X0 ).
f (f (X0 ))2
Assim, para verificar a diferenciabilidade de 1/f em X0 , devemos estudar o resto
1 1 1
r(H) = (X0 + H) − (X0 ) − grad (X0 ) · H
f f  f 
1 1 1
= − − − grad f (X0 ) · H
f (X0 + H) f (X0 ) (f (X0 ))2

f (X0 )(f (X0 ) − f (X0 + H)) + f (X0 + H) grad f (X0 ) · H


= .
f (X0 + H)(f (X0 ))2

Agora, não é difı́cil ver que


 
|r(h)| 1 |r1 (H)| 2
≤ |f (X0 )| + kgrad f (X0 )k |r1 (H)| + kgrad f (X0 )k kHk ,
kHk f (X0 + H)(f (X0 ))2 kHk
desigualdade que implica que lim r(H)/ kHk = 0. pppppppppppppppppppp
H→O

5.2.3
Proposição Se f, g : D ⊂ Rn −→ R são diferenciáveis em X0 e f (X0 ) 6= 0, então o quoci-
ente g/f é diferenciável em X0 .
Demonstração: Basta juntar a proposição 5.2.2 com (ii) da proposição 5.2.1. pppppppppppppppppppppp

5.2.4
Exemplo Como as aplicações lineares são diferenciáveis (veja exemplo 5.1.9), vem, em par-
ticular, que as projeções pj : Rn −→ R,
pj (x1 , x2 , . . . , xn ) = xj , 1 ≤ j ≤ n,
são diferenciáveis em Rn . Logo, as funções polinomiais
d
!
X X
p(x1 , x2 , . . . , xn ) = ai1 i2 ...in xi11 xi22 . . . xinn , (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn ,
k=1 i1 +i2 +···+in =k

são, também, diferenciáveis em Rn , de acordo com a proposição 5.2.1.


Aplicações Diferenciáveis 177

5.2.5
Exemplo A função h : B(O, 1) ⊂ R3 −→ R definida por
x + y + xyz + xy + z 2
h(x, y, z) =
1 − x2 − y 2 − z 2
é diferenciável em todo ponto da bola aberta B(O, 1), porque coincide com o quociente, f /g,
das funções polinomiais f (x, y, z) = x + y + xyz + xy + z 2 e g(x, y, z) = 1 − x2 − y 2 − z 2 , esta
última sempre positiva em B(O, 1). Um cálculo direto mostra que, para (x, y, z) ∈ B(O, 1),

∂h 1 + yz + y x + y + xyz + xy + z 2
(x, y, z) = +2 2 x
∂x 1 − x2 − y 2 − z 2 1 − x2 − y 2 − z 2
∂h 1 + xz + x x + y + xyz + xy + z 2
(x, y, z) = +2 2 y
∂y 1 − x2 − y 2 − z 2 1 − x2 − y 2 − z 2
∂h xy + 2z x + y + xyz + xy + z 2
(x, y, z) = + 2 2 z.
∂z 1 − x2 − y 2 − z 2 1 − x2 − y 2 − z 2
Em particular, grad h(0, 0, 0) = (1, 1, 0). A derivada de h em (0, 0, 0) é, portanto, a função linear
h0 (0, 0, 0) : R3 −→ R dada por
h0 (0, 0, 0)(x, y, z) = (1, 1, 0) · (x, y, z) = x + y.
Como f (0, 0, 0) = 0, a aproximação afim de h na origem coincide com h0 (0, 0, 0):
A(x, y, z) = f (0, 0, 0) + h0 (0, 0, 0)(x − 0, y − 0, z − 0) = x + y.

5.2.6
A Regra da Cadeia
Outra vez buscaremos inspiração no cálculo elementar de uma variável, agora recordando
a regra da cadeia, a qual já usamos na proposição 2.2.8. Para isto, sejam f : I ⊂ R −→ R e
g : J ⊂ R −→ R tais que

(i) f (I) ⊂ J, o que permite construir a composta g ◦ f : I ⊂ R −→ R;


(ii) f é diferenciável em a ∈ I;
(iii) g é diferenciável em b = f (a) ∈ J.

Nestas condições, g ◦ f é diferenciável em a, e vale a regra da cadeia:


(g ◦ f )0 (a) = g 0 (f (a))f 0 (a) = g 0 (b)f 0 (a).
Esta regra continua valendo para funções vetoriais, desde que troquemos o produto em seu lado
direito pela composição de aplicações lineares. Mais precisamente, temos o seguinte teorema,
ao qual nos referiremos, também, como regra da cadeia.
178 Operações com Aplicações Diferenciáveis

5.2.7 [Regra da Cadeia]


Teorema Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e g : E ⊂ Rm −→ Rp duas funções
vetoriais, definidas nos abertos D e E, que satisfazem as se-
guintes condições:
(g ◦ f )0 (X0 ) = g 0 (Y0 ) ◦ f 0 (X0 )
(i) f (D) ⊂ E, o que permite construir a com-
f 0 (X0 ) g 0 (Y0 )
posta g ◦ f : D ⊂ Rn −→ Rp ; n - Rm
?
- Rp
R

(ii) f é diferenciável em X0 ∈ D;

(iii) g é diferenciável em Y0 = f (X0 ) ∈ E.


f g
Então, g ◦ f é diferenciável em X0 , e vale a regra D - E - Rp
da cadeia: X0 - Y0 6

(g ◦f )0 (X0 ) = g 0 (f (X0 ))◦f 0 (X0 ) = g 0 (Y0 )◦f 0 (X0 ). g◦f

Demonstração: Como antes, usaremos T = f 0 (X0 ) e S = g 0 (Y0 ). Para H ∈ Rn e


K ∈ Rm , temos que

 r1 (H)
f (X0 + H) = f (X0 ) + T (H) + r1 (H), onde lim =O


H→O kHk
 r2 (K)
g(Y0 + K) = g(Y0 ) + S(K) + r2 (K), onde lim = O.


K→O kKk

Logo,
(g ◦ f )(X0 + H) = g(f (X0 + H)) = g(f (X0 ) + T (H) + r1 (H)) = g(Y0 + T (H) + r1 (H)),
ou, escrevendo K = T (H) + r1 (H),
(g ◦ f )(X0 + H) = g(Y0 + K) = g(Y0 ) + S(K) + r2 (K).
Como S é linear, vem que
S(K) = S(T (H) + r1 (H)) = S(T (H)) + S(r1 (H)) = (S ◦ T )(H) + S(r1 (H)).
Agora ficamos com
(g ◦ f )(X0 + H) = (g ◦ f )(X0 ) + (S ◦ T )(H) + r(H),
onde
r(H) = S(r1 (H)) + r2 (T (H) + r1 (H)),
o que mostra que a nossa preocupação deve se voltar para o resto r, visto que obtemos uma
parte linear para (g ◦ f )(X0 + H), a saber, S ◦ T . (A linearidade deste operador será verificada
no lema 5.2.8, a seguir.) Portanto, investigaremos o limite limH→O r(H)/ kHk. Temos que


S(r1 (H)),
 se K = T (H) + r1 (H) = O
r(H) =
r (K)
S(r1 (H)) + kT (H) + r1 (H)k 2 , se K = T (H) + r1 (H) 6= O.


kKk
Aplicações Diferenciáveis 179

Como T e S são lineares, existem constantes positivas M e N tais que

kT (X)k ≤ M kXk , X ∈ Rn e kS(Y )k ≤ N kY k , X ∈ Rm ,

o que vem do teorema 3.2.11. Logo,



N kr1 (H)k ,

 se K = T (H) + r1 (H) = O
0 ≤ kr(H)k ≤
r (K)
N kr1 (H)k + (M kHk + kr1 (H)k) 2 , se K = T (H) + r1 (H) 6= O,


kKk

o que produz


 kr1 (H)k
N , se K = T (H) + r1 (H) = O


kr(H)k 
kHk
0≤ ≤
kHk 
kr (H)k

kr (H)k

r2 (K)
1 1

N + M+ , se K = T (H) + r1 (H) 6= O,


kHk kHk kKk

Como
r1 (H) r2 (K)
lim =O e lim = O,
H→O kHk K→O kKk

resulta que
r(H)
lim = O,
H→O kHk

o que dá a diferenciabilidade de g ◦ f em X0 e

(g ◦ f )0 (X0 ) = S ◦ T = g 0 (f (X0 )) ◦ f 0 (X0 ),

como querı́amos. ppppppppppppppppppppppp

O seguinte lema de Álgebra Linear calcula a matriz de uma composta de aplicações lineares
e será útil para a versão da regra da cadeia que envolve matrizes jacobianas.

5.2.8
Lema Se T : Rn −→ Rm e S : Rm −→ Rp são lineares, então
(i) a composta S ◦ T : Rn −→ Rp é linear;
(ii) a matriz de S ◦ T coincide com o produto da matriz de S pela matriz de T , isto é,

M (S ◦ T ) = M (S)M (T ),

conforme definição 1.5.4.


Demonstração: Dados X, Y ∈ Rn e a ∈ R, vem que

(S ◦ T )(aX + Y ) = S(T (aX + Y )) = S(T (aX) + T (Y )) = S(aT (X) + T (Y )),


180 Operações com Aplicações Diferenciáveis

pois T é linear. Agora, usando a linearidade de S,

(S ◦ T )(aX + Y ) = S(aT (X) + T (Y )) = aS(T (X)) + S(T (Y )) = a(S ◦ T )(X) + (S ◦ T )(Y ).

Donde segue-se a linearidade de S ◦ T . Sabemos que as matrizes M (T ) e M (S) satisfazem

T (X) = M (T ) X, ∀X ∈ Rn e S(Y ) = M (S) Y, ∀Y ∈ Rm ,

onde X e Y estão sendo olhados como matrizes de uma coluna (veja o teorema 1.5.3). Logo,

(S ◦ T )(X) = S(T (X)) = S(M (T ) X) = M (S)(M (T ) X) = (M (S)M (T )) X, ∀X ∈ Rn .

Por outro lado, também devemos ter

(S ◦ T )(X) = M (S ◦ T ) X, ∀X ∈ Rn .

Portanto, M (S ◦ T ) = M (S)M (T ). pppppppppppppppppppp

5.2.9
Corolário Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e g : E ⊂ Rm −→ Rp duas funções vetoriais, defini-
das nos abertos D e E, tais que f (D) ⊂ E, f é diferenciável em X0 ∈ D e g é
diferenciável em Y0 = f (X0 ). Então,

J(g ◦ f )(X0 ) = Jg(f (X0 ))Jf (X0 ) = Jg(Y0 )Jf (X0 ).


Demonstração: Sabemos do corolário 5.1.13, que a matriz de (g ◦ f )0 (X0 ) é a matriz
jacobiana J(g ◦ f )(X0 ). Pela mesma razão, Jg(Y0 ) e Jf (X0 ) são, respectivamente, as matrizes
das aplicações lineares g 0 (Y0 ) e f 0 (X0 ), cuja composição, g 0 (Y0 )◦f 0 (X0 ), coincide com (g◦f )0 (X0 ),
agora pela regra da cadeia, ou seja, pelo teorema 5.2.7. O lema anterior agora implica que

J(g ◦ f )(X0 ) = M (g 0 (Y0 ) ◦ f 0 (X0 )) = M (g 0 (Y0 ))M (f 0 (X0 )) = Jg(Y0 )Jf (X0 ),

e está completo o corolário. ppppppppppppppppppppp

(g ◦ f )0 (1, 2) = g 0 (5, −3) ◦ f 0 (1, 2)


5.2.10 f 0 (1, 2) g 0 (5, −3) ?
Exemplo Sejam R 2 - R2 - R3

f (u, v) = (u2 + v 2 , u2 − v 2 ), (u, v) ∈ R2 ,
g(x, y) = (x + y, xy, x − y), (x, y) ∈ R2 .
f g
Calcularemos J(g ◦f )(1, 2) de duas maneiras: cal- R2 - R2 - R3
culando explicitamente a composta g ◦ f ; usando (1, 2) - (5, −3) 6
a regra da cadeia. É bom observar, que a com-
g◦f
posição f ◦ g não está definida: a imagem de g
não é subconjunto do domı́nio de f . Começamos
explicitando a função composta g ◦ f :
Aplicações Diferenciáveis 181

(g ◦ f )(u, v) = g(u2 + v 2 , u2 − v 2 ) = 2u2 , u2 + v 2 u2 − v 2 , 2v 2 = 2u2 , u4 − v 4 , 2v 2 .


   

Logo,  
4u 0
J(g ◦ f )(u, v) =  4u3 −4v 3 
0 4v
Donde obtemos  
4 0
J(g ◦ f )(1, 2) =  4 −32  .
0 8
Agora, visando usar a regra da cadeia, calculamos Jg(5, −3) e Jf (1, 2):
 
  1 1
2 4
Jf (1, 2) = e Jg(5, −3) =  −3 5  .
2 −4
1 −1
Portanto,
    
1 1 2 4 4 0
J(g ◦ f )(1, 2) = Jg(f (1, 2))Jf (1, 2) =  −3 5  2 −4 =  4 −32  ,
1 −1 0 8
que dá o mesmo resultado obtido pelo cálculo direto, o que era de se esperar, porque as funções
envolvidas são diferenciáveis. A derivada de g ◦ f em (1, 2) é a função linear
 
0 0 0 x
(g ◦ f ) (1, 2)(x, y) = (g (5, −3) ◦ f (1, 2))(x, y) = J(g ◦ f )(1, 2) = (4x, 4x − 32y, 8y).
y

Observação A igualdade J(g ◦ f )(X0 ) = Jg(f (X0 ))Jf (X0 ), dada pelo corolário 5.2.9, deve
ser usada com bastante cuidado, pois pode deixar de valer quando uma das
aplicações envolvidas deixa de ser diferenciável, como veremos a seguir.

5.2.11
Exemplo Sejam (g ◦ f )0 (0) = g 0 (0, 0) ◦ f 0 (0)

f 0 (0) g 0 (0, 0)
f (t) = (t, t), t ∈ R, 2
?
R - R - R

e
 2
 x y , se (x, y) 6= (0, 0)

2 2 f g
g(x, y) = x + y

0, R - R2 - R
se (x, y) = (0, 0).
0 - (0, 0) 6
Como no exemplo anterior, computaremos a ma- g◦f
triz J(g◦f )(0) de duas maneiras, e obteremos uma
(aparente) contradição. Temos que
182 Operações com Aplicações Diferenciáveis

 2
 t t = t , se t 6= 0

(g ◦ f )(t) = t2 + t2 2
0,

se t = 0,
que é o mesmo que (g ◦ f )(t) = t/2, t ∈ R. Logo, J(g ◦ f )(0) = (1/2). Não é difı́cil verificar que
 
1
Jf (0) = e Jg(0, 0) = (0 0).
1
Agora vamos usar a regra da cadeia, sem nenhuma preocupação com as hipóteses que ela carece.
Assim procedendo, obtemos que
 
J(g ◦ f )(0) = Jg(f (0))Jf (0) = Jg(0, 0)Jf (0) = (0 0) 1 = (0),
1
que não é o resultado que obtivemos diretamente, a partir da composta. Estaria errada a regra
da cadeia? Claro que não! O erro acontece, quando a usamos sem tomar os devidos cuidados.
Neste caso, não verificamos a diferenciabilidade de f e g nos pontos, 0 e (0, 0), respectivamente.
Ao fazer isto, vemos que g não é diferenciável em (0, 0) (recorra ao exemplo 5.1.16.) Convém
notar, entretanto, que g ◦ f é diferenciável e sua jacobiana em 0 é (1/2).

5.2.12
Exemplo Sejam √ √
(g ◦ f )0 (1, π4 ) = g 0 ( 2 2
2 , 2 ) ◦ f 0 (1, π4 )
f (r, θ) = (r cos θ, r sen θ), (r, θ) ∈ R2 , √ √
f 0 (1, π4 ) g0 ( 2 2
2 , 2 ) ?
2 - R2 - R
e R
2
g : R −→ R
diferenciável e tendo as seguintes propriedades:
√ √ √ √ f g
∂g 2 2 ∂g 2 2 R2 - R2 - R
( , )=2 e ( , ) = −3. √ √
∂x 2 2 ∂y 2 2 (1, π4 ) ( 2 2
2 , 2 )
- 6
Neste exemplo calcularemos as derivadas parciais g◦f

∂(g ◦ f ) π ∂(g ◦ f ) π
(1, ) e (1, ),
∂r 4 ∂θ 4
mesmo não conhecendo g. Neste caso, claro, devemos usar a regra da cadeia. Temos que
√ √
π π π 2 2 π
J(g ◦ f )(1, ) = Jg(f (1, ))Jf (1, ) = Jg( , )Jf (1, )
4 4 4 2√ 2 √ !4
√ √  2 5 2
= (2 − 3) 2 2 = − − .
 2 − 2  2 2
 
√ √ 
 2 2 
2 2
Aplicações Diferenciáveis 183

Logo, √ √
∂(g ◦ f ) π 2 ∂(g ◦ f ) π 5 2
(1, ) = − e (1, ) = − .
∂r 4 2 ∂θ 4 2

5.2.13
Corolário Sejam
(g ◦ f )0 (X0 ) = g 0 (Y0 ) ◦ f 0 (X0 )
f : D ⊂ Rn −→ Rm e g : E ⊂ Rm −→ R
f 0 (X0 ) g 0 (Y0 ) ?
tais que f (D) ⊂ E. Suponhamos que f seja di- R n - Rm - R
ferenciável em X0 , e que g seja diferenciável em
Y0 = f (X0 ). Indiquemos os elementos de D por

X = (x1 , x2 , . . . , xn ) f g
D - E - R
e aqueles de E por
X0 - Y0 6

Y = (y1 , y2 , . . . , ym ). g◦f

Então, para cada i, 1 ≤ i ≤ n, vale

∂(g ◦ f ) ∂g ∂f1 ∂g ∂f2 ∂g ∂fm


(X0 ) = (Y0 ) (X0 ) + (Y0 ) (X0 ) + · · · + (Y0 ) (X0 ). (¶36 )
∂xi ∂y1 ∂xi ∂y2 ∂xi ∂ym ∂xi

Demonstração: Temos que J(g ◦ f )(X0 ) = Jg(Y0 )Jf (X0 ), isto é,

 
∂(g ◦ f ) ∂(g ◦ f ) ∂(g ◦ f )
J(g ◦ f )(X0 ) = (X0 ) (X0 ) · · · (X0 )
∂x1 ∂x2 ∂xn
 
∂g ∂g ∂g

= (Y0 ) (Y0 ) · · · (Y0 ) ∂f1 ∂f1 ∂f1 .
∂y1 ∂y2 ∂ym (X0 ) (X0 ) . . . (X0 )

 ∂x1 ∂x2 ∂xn 

 ∂f2 ∂f2 ∂f2 
 (X0 ) (X0 ) . . . (X0 ) 
∂x1 ∂x2 ∂xn
 
 
 .. .. .. 
. . .
 
 
 
 ∂fm ∂fm ∂fm 
(X0 ) (X0 ) . . . (X0 )
∂x1 ∂x2 ∂xn

Para obter (¶36 ) é só multiplicar Jg(Y0 ) pela i-ésima coluna de Jf (X0 ). ppppppppppppppppppppp

Há um bom método de memorizar a equação (¶36 ), conhecido como a regra da cadeia
clássica, o qual é motivado pela notação usada nos textos clássicos de Cálculo Diferencial, e que
184 Operações com Aplicações Diferenciáveis

funciona assim: começamos considerando duas funções reais de uma variável real, digamos f e
g, como no diagrama
R R

f g
I - J - R

t - x = f (t) - y = g(x) ,

g◦f 6

onde indicamos os elementos do intervalo I por t, e os do intervalo J por x, os quais dependem


de t, através de f . A notação introduzida no diagrama também indica que y depende de t, via
g ◦ f , ou seja,
g ◦ f : I −− −→
−− R .
t −−−−−→ y = (g ◦ f )(t)
A partir daı́, escrevemos :

dx dy dy
f 0 (t) = (t), g 0 (x) = (x) e (g ◦ f )0 (t) = (t).
dt dx dt
Isto posto, a regra da cadeia em t = t0 e x = x0 = f (t0 ),

(g ◦ f )0 (t0 ) = g 0 (x0 )f 0 (t),

adquire a aparência:
dy dy dx
(t0 ) = (x0 ) (t0 ),
dt dx dt
ou, omitindo os pontos onde as derivadas são calculadas,

dy dy dx
= ,
dt dx dt
que é bastante mnemônica, se olhamos o lado direito (só olhamos!) com um produto de frações.
Para o caso de várias variáveis, procedemos de modo análogo: olhamos para o diagrama

Rn Rm

f g
D - E - R
X - Y = f (X) - z = g(Y ) ,

g◦f 6
Aplicações Diferenciáveis 185

onde X = (x1 , x2 , . . . , xn ), Y = (y1 , y2 , . . . , yn ) e f = (f1 , f2 , . . . , fm ). (Observe que o diagrama


também indica que f (D) ⊂ E, condição que precisamos para construir a composta.) A seguir,
escrevemos


 y1 = f1 (x1 , x2 , . . . , xn )

 y2 = f2 (x1 , x2 , . . . , xn )

.. .. .. , z = g(y1 , y2 , . . . , ym ) e z = (g ◦ f )(x1 , x2 , . . . , xn ),


 . . .

y = f (x , x , . . . , x )
m m 1 2 n

e introduzimos uma nova notação para as derivadas parciais envolvidas, a saber:


∂fj ∂yj ∂g ∂z ∂(g ◦ f ) ∂z
(X) = (X), (Y ) = (Y ) e (X) = (X),
∂xi ∂xi ∂yj ∂yj ∂xi ∂xi
∂z
onde 1 ≤ i ≤ n e 1 ≤ j ≤ m. Olhando para ∂xi
como uma “fração”, um modo de recuperá-la é
∂z ∂yj
fazer um produto do tipo ,
o que pode ser feito de m maneiras, para j = 1, j = 2,. . . , e
∂yj ∂xi
j = m. O que vamos fazer, portanto, é somar estas m possibilidades, o que produz
∂z ∂z ∂y1 ∂z ∂y2 ∂z ∂ym
= + + ··· + , (¶37 )
∂xi ∂y1 ∂xi ∂y2 ∂xi ∂ym ∂xi
onde as derivadas parciais com relação a xi são calculadas em X0 ∈ D, e aquelas com relação a
yj são calculadas em Y0 = f (X0 ). Está aı́ a equação (¶36 )! Na realidade, é a cadeia de “frações”
de (¶37 ) que motiva a expressão regra da cadeia. Tudo que fizemos funciona igualmente bem
para o caso em que g também é vetorial, isto é, g : E −→ Rp . É só aplicar o que foi exposto à
cada função coordenada de g, zk = gk (Y ), para 1 ≤ k ≤ p. Finalmente, obtemos

 ∂z1 ∂z1 ∂y1 ∂z1 ∂y2 ∂z1 ∂ym
= + + ··· +






 ∂xi ∂y1 ∂xi ∂y2 ∂xi ∂ym ∂xi
∂z ∂z2 ∂y1 ∂z2 ∂y2 ∂z2 ∂ym


 2 = + ··· +

 +
∂xi ∂y1 ∂xi ∂y2 ∂xi ∂ym ∂xi
 ... ... ..




 .


∂z ∂z ∂y ∂z ∂y ∂z ∂ym


 p = p 1 + p 2 + ··· + p

 ,
∂xi ∂y1 ∂xi ∂y2 ∂xi ∂ym ∂xi
o que fecha o caso geral, no que diz respeito à regra da cadeia clássica.

5.2.14
Exemplo Dadas
f (s, t) = (st + t2 , s2 t) e g(x, y) = x2 y,
f g
∂(g◦f ) R2 - R2 - R
vamos calcular ∂t
para s = 2 e t = −1, usando
,
(s, t) - (x, y) - z
a forma (¶37 ). Para isto, introduzimos a variável
z = g(x, y), olhando para g◦f 6

x = f1 (s, t) = st + t2 e y = f2 (s, t) = s2 t.
186 Operações com Aplicações Diferenciáveis

Portanto,
∂z ∂z ∂x ∂z ∂y
= + = 2xy(s + 2t) + x2 s2 .
∂t ∂x ∂t ∂y ∂t
Quando s = 2, t = −1, temos que x = −1 e y = −4. Logo,

∂(g ◦ f ) ∂z
(2, −1) = (2, −1) = 2(−1)(−4)(2 − 2) + (−1)2 (2)2 = 4.
∂t ∂t
Agora, usando a regra da cadeia do corolário 5.2.9:
 
J(g ◦ f )(2, −1) = Jg(f (2, −1))Jf (2, −1) = Jg(−1, −4)Jf (2, −1) = (8 1) −10 = (−12 4).
−44

5.2.15
Exemplo Sejam g : R2 −→ R uma função real de classe C 2 e f a aplicação coordenadas
polares dada por

f : R2 −− − R2
−→

(r, θ) −−−−−→ f (r, θ) = (r cos θ, r sen θ).

Neste exemplo obteremos as expressões para as derivadas parciais até a ordem 2 para a função
composta g ◦ f . Será útil olhar o diagrama
f g
R2 - R2 - R

(r, θ) - (x, y) - z = g(x, y) ,

g◦f 6

onde x = r cos θ e y = r sen θ. Temos que



 ∂z ∂z ∂x ∂z ∂y ∂z ∂z
= + = cos θ + sen θ,



∂r ∂x ∂r ∂y ∂r ∂x ∂y (¶38 )

 ∂z ∂z ∂x ∂z ∂y ∂z ∂z

 = + = (−r sen θ) + (r cos θ),
∂θ ∂x ∂θ ∂y ∂θ ∂x ∂y
ou, usando a linguagem da composta g ◦ f ,


 ∂(g ◦ f ) ∂g ∂x ∂g ∂y

 (r, θ) = (f (r, θ)) + (f (r, θ))
∂r ∂x ∂r ∂y ∂r





∂g ∂g


= (f (r, θ)) cos θ + (f (r, θ)) sen θ,



∂x ∂y (¶39 )

 ∂(g ◦ f ) ∂g ∂x ∂g ∂y

 (r, θ) = (f (r, θ)) + (f (r, θ))
∂θ ∂x ∂θ ∂y ∂θ






 ∂g ∂g
= (f (r, θ)) (−r sen θ) + (f (r, θ)) (r cos θ),



∂x ∂y
Aplicações Diferenciáveis 187

Agora, como g está sendo suposta de classe C 2 , podemos aplicar, outra vez, a regra da cadeia
para as compostas
∂g ∂g ∂g ∂g
( ◦ f )(r, θ) = (f (r, θ)) e ( ◦ f )(r, θ) = (f (r, θ)),
∂x ∂x ∂y ∂y
para obter
    
∂g ∂z
∂ ◦f ∂


∂ 2 g ∂x ∂ 2 g ∂y ∂ 2g ∂ 2g


 ∂x ∂x

 = = + = cos θ + sen θ,
 ∂r  ∂r  ∂x2 ∂r ∂y∂x ∂r ∂x2 ∂y∂x





 ∂g ∂z
∂ ◦f ∂


∂ 2 g ∂x ∂ 2 g ∂y ∂ 2g ∂ 2g


 ∂x ∂x

 = = + = (−r sen θ) + (r cos θ),

 ∂θ  ∂θ  ∂x2 ∂θ ∂y∂x ∂θ ∂x2 ∂y∂x
(¶40 )
∂g ∂z
∂ ◦f ∂


∂y ∂y ∂ 2 g ∂x ∂ 2 g ∂y ∂ 2g ∂ 2g




 = = + 2 = cos θ + 2 sen θ,
 ∂r  ∂r  ∂x∂y ∂r ∂y ∂r ∂x∂y ∂y





 ∂g ∂z
∂ ◦f ∂


∂y ∂y ∂ 2 g ∂x ∂ 2 g ∂y ∂ 2g ∂ 2g




 = = + 2 = (−r sen θ) + 2 (r cos θ),
 ∂θ ∂θ ∂x∂y ∂θ ∂y ∂θ ∂x∂y ∂y

onde, claro, as derivadas parciais de g são todas calculadas em x = r cos θ e y = r sen θ.


Voltaremos a (¶38 ) (ou (¶39 )) para calcular
∂ 2 (g ◦ f ) ∂ 2z ∂ 2 (g ◦ f ) ∂ 2z ∂ 2 (g ◦ f ) ∂ 2z
= , = e = .
∂r2 ∂r2 ∂r∂θ ∂r∂θ ∂θ2 ∂θ2
Derivando a primeira equação de (¶38 ) com relação a r e θ, vem que
 
∂z
∂z ∂

2 ∂ ∂x
∂ z ∂y
= cos θ + sen θ.
∂r2 ∂r ∂r
e
!   ∂z  
∂z ∂

2 ∂ ∂x
∂ z ∂z ∂y ∂z
= cos θ − sen θ +  sen θ + cos θ .
∂θ∂r ∂θ ∂x ∂θ ∂y

Usando (¶40 ) e o teorema de Schwarz (teorema 4.2.7), estas equações ficam


∂ 2z ∂ 2g 2 ∂ 2g ∂ 2g
2
= 2
cos θ + sen 2θ + 2
sen2 θ.
∂r ∂x ∂x∂y ∂y
e
∂ 2z ∂g ∂g ∂ 2g ∂ 2g ∂ 2g
= − sen θ + cos θ + r cos 2θ + ( 2 − 2 )r cos θ sen θ.
∂θ∂r ∂x ∂y ∂x∂y ∂y ∂x
O mesmo tipo de cálculo, agora a partir da segunda equação de (¶38 ), dá que
∂ 2z ∂g ∂g ∂ 2g 2 ∂ 2g 2 ∂ 2g 2
2
= − r cos θ − r sen θ − r cos 2θ + 2 r sen θ + 2 r cos2 θ.
2
∂θ ∂x ∂y ∂x∂y ∂x ∂y
188 O Teorema do Valor Médio

Em particular, se r 6= 0, obtemos a seguinte expressão para o laplaciano de g em coordenadas


polares:

∂ 2g ∂ 2g
∆g(r cos θ, r sen θ) = (r cos θ, r sen θ) + (r cos θ, r sen θ)
∂x2 ∂y 2 (¶41 )
1 ∂(g ◦ f ) 1 ∂ 2 (g ◦ f ) ∂ 2 (g ◦ f )
= (r, θ) + 2 (r, θ) + (r, θ),
r ∂r r ∂θ2 ∂r2
∂z ∂ 2 z ∂2z
o que vem das expressões que obtivemos para ,
∂r ∂r2
e ∂θ2
.

5.2.16 p
Exemplo Sejam D = R2 − {(0, 0)} e g : D −→ R definida por g(x, y) = log x2 + y2 . Se f
é a aplicação em coordenadas polares do exemplo anterior restrita a r > 0, então

(g ◦ f )(r, θ) = g(r cos θ, r sen θ) = log r2 cos2 θ + r2 sen2 θ = log r.

Logo,
1 ∂(g ◦ f ) 1 ∂ 2 (g ◦ f ) ∂ 2 (g ◦ f )
∆g(r cos θ, r sen θ) = (r, θ) + 2 (r, θ) + (r, θ)
r ∂r r ∂θ2 ∂r2
11 1
= − 2 = 0.
rr r
Isto implica que ∆g(x, y) = 0, para todo (x, y) ∈ D, pois todo elemento de D pode ser expresso
na forma x = r cos θ e y = r sen θ, para alguns r > 0 e θ ∈ [0, 2π]. Portanto, g é uma função
harmônica (veja o exercı́cio 4-9).

5.3
O Teorema do Valor Médio

No capı́tulo 2, mais precisamente na seção 2.2, fizemos uma breve discussão sobre o teo-
rema do valor médio para funções reais de uma variável real, o qual recolocamos aqui.

5.3.1
Teorema Seja f : [a, b] −→ R uma função contı́nua no intervalo fechado [a, b] e derivável
no intervalo aberto (a, b). Então, existe c ∈ (a, b) tal que

f (b) − f (a) = f 0 (c)(b − a).


Naquela discussão, observamos que este teorema não admite uma extensão para as curvas para-
metrizadas, caso no qual é possı́vel obter um novo teorema, um pouco mais fraco, pois contém
Aplicações Diferenciáveis 189

uma desigualdade, a qual chamamos de desigualdade do valor médio (teorema 2.2.11). Portanto,
o teorema do valor médio deixa de funcionar quando o contradomı́nio da função considerada
tem dimensão maior do que 1. Entretanto, existe um teorema do valor médio (teorema 5.3.7, a
seguir) para funções reais de várias variáveis, que generaliza o teorema acima. Tal generalização
é o objetivo principal desta seção. Antes dele, estabeleceremos alguns fatos preliminares. O
primeiro é mais um corolário da regra da cadeia, o qual envolve curvas parametrizadas e funções
reais.

5.3.2
Corolário Sejam α : I ⊂ R −→ D ⊂ Rn e f : D ⊂ Rn −→ R, diferenciáveis no intervalo
aberto I e no aberto D, com α(I) ⊂ D, como mostra o diagrama.
R Rn

α f
I - D - R
t - X = α(t) - z = f (X) ,

f ◦α 6

Se t ∈ I, então (f ◦ α)0 (t) = grad f (α(t)) · α0 (t).


Demonstração: É uma aplicação imediata do corolário 5.2.9. Com efeito, sejam α1 ,
α2 , . . ., αn as funções coordenadas de α, e X = (x1 , x2 , . . . , xn ). Então,
 
α10 (t)
 0 
 α2 (t) 
 
∂f ∂f ∂f
Jf (X) = (X) (X) · · · (X)  .. .
e Jα(t) =  
∂x1 ∂x2 ∂xn  . 
αn0 (t)

Do citado corolário, vem que


    0 
dz 0 ∂f ∂f ∂f α (t)
(t) = ((f ◦ α) (t)) = Jf (α(t))Jα(t) = (X) (X) · · · (X)  10 .
dt ∂x1 ∂x2 ∂xn  α2 (t) 
 . 
 . 
 . 
αn0 (t)

Logo,

∂f ∂f ∂f
(f ◦ α)0 (t) = (α(t))α10 (t) + (α(t))α20 (t) + · · · + (α(t))αn0 (t) = grad f (α(t)) · α0 (t),
∂x1 ∂x2 ∂xn

o que termina a prova. pppppppppppppppppppppp


190 O Teorema do Valor Médio

5.3.3
Definição Um conjunto D ⊂ Rn é dito convexo se para todos X e Y de D o segmento de
reta que liga X a Y está contido em D, isto é,
[X, Y ] = {Z ∈ Rn ; Z = X + t(Y − X), 0 ≤ t ≤ 1} ⊂ D.

pppppqqppqpqppqpqpqppqpqqppqpqqpqpqpqpqpqqpqpqqpqpqpqpqqppqpqppqppqqppp
pppqppqpqpqppqpqpqpqpqpqppqpqppp p p pqqpqqqpqqpqqqqpqqqpqqqpqqqqqpqqpqqqqpqpqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqqpqqqpqqpqpp
pqqpqqqppqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqpqpqpqpqpqpqppp p p pq p qp
qq qp qq q
q
pqppqqqppqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpp
ppqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqqpqqqpqqqpqqpqqpqppqp ppqpqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqpqpp
ppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqpqqpqp
ppqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqp pppqqqqqpqqqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqX
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqp p
pqpqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpp pqpqppqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqpqpqpp
ppqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqpqpqpp
pqppqqqpqqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqp pppqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqpqqpqqpqqqqpqqpqqppqpqp
XpqpqpqppqqqpqqpqqpqqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqY qqqqqqqqqqqqqqqqqqqp ppqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqpqqpqppqpqpppp p
ppqqpqpqpqpqpqqpqqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqqqpqqpqqpqqpqqppp pqqppqpqpqpqpqppqpqpqpqpqppqpqppppp
ppppppppppppppppp p Y
Figura 82-(a): Convexo Figura 82-(b): Não-convexo

5.3.4
Exemplo Temos alguns exemplos simples de conjuntos convexos.
(i) Os intervalos de R;
(ii) as retas do R2 ;
(iii) as retas e os planos do R3 ;
(iv) os subespaços do Rn .

5.3.5
Exemplo As bolas abertas e fechadas do Rn são conjuntos convexos. Consideremos a
bola aberta B(X0 , a), de centro X0 e raio a, e nela fixemos X e Y . Logo,
kX − X0 k < a e kY − X0 k < a. Seja Z ∈ [X, Y ] um ponto qualquer do segmento [X, Y ].
Então, Z = X + t(Y − X), para algum 0 ≤ t ≤ 1. Temos que
kZ − X0 k = k(1 − t)(X − X0 ) + t(Y − X0 )k ≤ (1−t) kX − X0 k+t kY − X0 k < (1−t)a+ta = a.
Isto implica que Z ∈ B(X0 , a). Como Z é arbitrário em [X, Y ], segue-se que [X, Y ] ⊂ B(X0 , a).
Para a bola fechada a solução é quase a mesma: basta trocar o < por ≤, em algumas passagens.

5.3.6
Exemplo Segue abaixo uma lista de conjuntos não-convexos.
(i) Qualquer reta ou plano do qual tiramos alguns pontos;
(ii) os cı́rculos do plano;
(iii) as esferas do R3 ;
(iv) a esfera de centro X0 e raio a do Rn ,
S n−1 (X0 , a) = {X ∈ Rn ; kX − X0 k = a},
não é um conjunto convexo. De fato, se X, Y ∈ S n−1 (X0 , a), então só as extremidades de
[X, Y ] pertencem a esta esfera.
Aplicações Diferenciáveis 191

Agora podemos enunciar o teorema do valor médio, cuja existência anunciamos na in-
trodução desta seção.

5.3.7 [Teorema do Valor Médio]


Teorema Seja f : D ⊂ Rn −→ R uma função diferenciável
no aberto convexo D. Então, dados X e Y em
D, existe X0 ∈ [X, Y ], X0 6= X e X0 6= Y , tais que

f (Y ) − f (X) = grad f (X0 ) · (Y − X).


Demonstração: Seja α(t) = X + t(Y − X), t ∈ [0, 1]. Como D é convexo, o traço de α
está contido em D e, portanto, podemos construir a composta h = f ◦ α, a qual é contı́nua em
[0, 1] e, pela regra da cadeia, diferenciável no intervalo aberto (0, 1). O teorema do valor médio
para funções reais de uma variável aplicado a h produz um c ∈ (0, 1) tal que

h(1) − h(0) = h0 (c)(1 − 0) = h0 (c).

Mas, h(1) = f (α(1)) = f (Y ), h(0) = f (α(0)) = f (X), α0 (t) = Y − X, e, pelo corolário 5.3.2,

h0 (c) = grad f (α(c)) · α0 (c) = grad f (X + c(Y − X)) · (Y − X).

Logo,
f (Y ) − f (X) = h(1) − h(0) = h0 (c) = grad f (X0 ) · (Y − X),
onde X0 = X + c(Y − X) e 0 < c < 1. pppppppppppppppppp

5.3.8
∂f
Corolário Seja f : D ⊂ R2 −→ R, diferenciável no aberto convexo D. Se = 0 em D, ∂x
então f não depende de x, isto é, f (x1 , y) = f (x2 , y), sempre que (x1 , y) e
(x2 , y) pertençam a D.
Demonstração: Fixemos X = (x1 , y) e Y = (x2 , y). Como estamos supondo D convexo
podemos usar o teorema do valor médio para achar X0 entre X e Y tais que
∂f
f (Y ) − f (X) = grad f (X0 ) · (Y − X) = (0, (X0 )) · (x2 − x1 , 0) = 0.
∂y
Logo, f (Y ) = f (X), como querı́amos. pppppppppppppppppppppp

5.3.9
∂f
Corolário Seja f : D ⊂ Rn −→ R, diferenciável no aberto convexo D. Se ∂xi
= 0 em D,
para algum i, i = 1, 2, . . . , n, então f não depende de xi .
Demonstração: Basta reproduzir a prova anterior, com as devidas adaptações. pppppppppppppppppp

Vimos, em parte do exemplo 5.1.9, que a derivada de uma função constante é, em todo
ponto, aplicação linear nula. O próximo corolário se encarrega da recı́proca deste fato, para o
caso que domı́nio da função dada é convexo.
192 O Teorema do Valor Médio

5.3.10
Corolário Seja f : D ⊂ Rn −→ R, diferenciável no aberto convexo D. Se f 0 (X) = 0 (ou
Jf (X) = 0, ou grad f (X) = O), para todo X ∈ D, então f é constante.
Demonstração: Como f 0 (X) é sempre nula, vem que sua matriz, a matriz Jf (X),
também é nula, para todo X ∈ D. Portanto, grad f (X) = O, ∀X ∈ D. Agora, fixemos dois
elementos quaisquer de D, digamos X e Y . Temos do teorema do valor médio que existe X0
entre X e Y tal que

f (Y ) − f (X) = grad f (X0 ) · (Y − X) = (0, 0, . . . , 0) · (Y − X) = 0.

Logo, f (X) = f (Y ), o que mostra que f é constante. pppppppppppppppppp

5.3.11
Corolário Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm , diferenciável no aberto convexo D. Se f 0 (X) é a
função linear nula (ou Jf (X) = 0), para todo X ∈ D, então f é constante.
Demonstração: Note que as funções coordenadas de f 0 (X) são todas nulas. Agora é
só aplicar o corolário anterior às funções coordenadas de f , para concluir que cada uma delas é
constante e, portanto, obter que o mesmo se passa com f . pppppppppppppppppppppp

Observação O resultado do corolário anterior pode ser obtido com uma exigência mais fraca
sobre a estrutura do conjunto D. Basta que D seja conexo: dados X e Y em D,
existe uma curva parametrizada diferenciável α : [0, 1] −→ D que liga X a Y , isto é, α(0) = X
e α(1) = Y . Se D é conexo, então dois pontos quaisquer de D podem ser ligados por uma linha
poligonal. O argumento usado na prova do corolário 5.3.10 mostra que f assume o mesmo valor
em cada vértice da poligonal. Portanto, f deve ser constante em D.

5.3.12
Exemplo É claro que os conjuntos convexos são conexos; as esferas são conexas, mas, como
vimos, não é convexa; os subconjuntos envolvidos por uma curva simples fechada
no plano são conexos; o hiperbolóide de duas folhas H = {(x, y, z); x2 + y 2 − z 2 = −1} não é
conexo. (Veja figura 28-(c), página 36.)

5.3.13
Exemplo Vejamos um contra-exemplo bastante simples para o corolário 5.3.10, quando
retiramos de D a condição de ser conexo. Definimos D como sendo a união das
bolas abertas B(O, 1) e B(X0 , 1), onde X0 = (3, 0). Agora construı́mos f : D −→ R do seguinte
modo: 
1, se (x, y) ∈ B(O, 1)
f (x, y) =
2, se (x, y) ∈ B(X , 1).
0

Então, f tem derivada nula em todo ponto do aberto D, mas f não é constante. Isto só é
possı́vel porque D não é conexo.
Aplicações Diferenciáveis 193

5.3.14 [A Equação da Onda]


Exemplo Considere a seguinte equação diferencial parcial (ou
EDP), conhecida como equação da onda.

∂ 2u ∂ 2u
c2 = , (¶42 )
∂x2 ∂t2
onde c 6= 0 é constante. Neste exemplo, estaremos preocupados com as soluções desta EDP que
estão definidas em todo R2 . Inicialmente, consideramos a função u : R2 −→ R definida por

u(x, t) = cos(x − ct) + sen(x + ct),

cujas derivadas parciais de primeira ordem são

∂u ∂u
(x, t) = − sen(x − ct) + cos(x + ct) e (x, t) = c sen(x − ct) + c cos(x + ct).
∂x ∂t
Donde
∂ 2u ∂ 2u
(x, t) = − cos(x − ct) − sen(x + ct) e (x, t) = −c2 cos(x − ct) − c2 sen(x + ct).
∂x2 ∂t2
Logo,
∂ 2u ∂ 2u
c2 (x, t) = (x, t), ∀(x, t) ∈ R2 ,
∂x2 ∂t2
isto é, u(x, t) = cos(x − ct) + sen(x + ct) é solução da equação da onda. Mais geralmente, se
f, g : R −→ R são duas vezes diferenciáveis, e u : R2 −→ R é definida por

u(x, t) = f (x − ct) + g(x + ct), (x, t) ∈ R2 , (¶43 )

então u é solução de (¶42 ). De fato, neste caso,

∂ 2u 00 00 ∂ 2u
(x, t) = f (x − ct) + g (x + ct) e (x, t) = c2 f 00 (x − ct) + c2 g 00 (x + ct).
∂x2 ∂t2
Logo,
∂ 2u ∂ 2u
c2 =
∂x2 ∂t2
e, portanto, temos uma famı́lia razoavelmente grande de soluções para a equação da onda. Neste
ponto, surge um problema natural, o qual consiste em saber se existem soluções de outro tipo,
além daquele em (¶43 ). Na exposição que faremos a seguir, mostraremos que toda solução da
equação da onda é do tipo descrito em (¶43 ), para algumas f e g. Para isto, seja u : R2 −→ R
uma solução (de classe C 2 ) qualquer da EDP (¶42 ). Agora introduzimos no problema, a aplicação
linear T definida por:
T : R2 −− − R2
−→

y+s s−y
(y, s) −−−−−→ T (y, s) = ( , ).
2 2c
194 O Teorema do Valor Médio

T transformará, num certo sentido, a equação da


onda numa equação mais simples. Portanto, fica- T u
mos com o diagrama ao lado. Indicaremos por u e R2 - R2 - R

a composta u ◦ T , isto é, (y, s) - (x, t) - z

y+s s−y u◦T 6


e(y, s) = (u ◦ T )(y, s) = u(
u , ).
2 2c
Aplicando a regra da cadeia a ue, obtemos
∂e
u ∂z ∂u ∂x ∂u ∂t ∂u 1 ∂u 1
= = + = − ,
∂y ∂y ∂x ∂y ∂t ∂y ∂x 2 ∂t 2c
expressão que derivada com relação a s produz

∂ 2u 1 ∂ 2u 1 ∂ 2u 1
 2
1 ∂ 2u 1
  
1 ∂ u

e
= 2
+ + 2
∂s∂y 2 ∂x 2 ∂t∂x 2c 2c ∂x∂t 2 ∂t 2c
1 ∂ u 1 ∂ 2u
 2 
= −
4 ∂x2 c2 ∂t2
1 ∂ 2u 1 2 ∂ 2u
 
= − (c ) = 0,
4 ∂x2 c2 ∂x2
onde, na passagem da segunda para a terceira linha, usamos o fato de u ser solução de (¶42 ).
Isto mostra que ∂∂yue não depende de s, de acordo com o corolário 5.3.8. Logo,
∂eu
(y, s) = h(y), (y, s) ∈ R2 ,
∂y
onde h : R −→ R. Fixando y0 ∈ R, obtemos que
Z y Z y
∂e
u
e(y, s) − u
u e(y0 , s) = (t, s) dt = h(t) dt .
y0 ∂y y0

Donde Z y
u
e(y, s) = h(t) dt +e
u(y0 , s),
y0
ou
u
e(y, s) = f (y) + g(s),
onde Z y
f (y) = h(t) dt e g(s) = u
e(y0 , s).
y0
Em resumo, temos que
y+s s−y
(u ◦ T )(y, s) = u( , ) = f (y) + g(s), ∀(y, s) ∈ R2 ,
2 2c
o que implica, fazendo y = x − ct e s = x + ct (isto significa que estamos invertendo a aplicação
linear T , obtendo T −1 (x, t) = (x − ct, x + ct)), que
y+s s−y
u( , ) = u(x, t) = f (x − ct) + g(x + ct).
2 2c
Portanto, u é da forma (¶43 ).
Aplicações Diferenciáveis 195

5.4
Algumas Aplicações do Gradiente

Na seção 4.5, introduzimos a noção de derivada direcional de f : D ⊂ Rn −→ Rm no ponto


X0 ∈ D e na direção do vetor unitário U ∈ Rn , como sendo o vetor do Rm

∂f f (X0 + tU ) − f (X0 )
(X0 ) = lim ,
∂U t→0 t
caso o limite indicado exista. Neste seção, teremos nossa atenção voltada para as funções reais,
∂f
isto é, m = 1, caso no qual a derivada direcional ∂U (X0 ), que é um número real, é também
chamada de taxa de crescimento de f em X0 na direção U .
Dados f : D ⊂ Rn −→ R e X0 ∈ D, uma questão natural, e de grande interesse na prática,
é determinar em qual direção f cresce mais rapidamente em X0 . Em outras palavras, determinar
∂f
U para o qual é máxima a taxa de crescimento ∂U (X0 ). No exemplo 4.5.5, indicamos uma
solução, usando as ferramentas do cálculo diferencial de uma variável, para um problema deste
tipo. Felizmente, quando a aplicação f é diferenciável, é possı́vel determinar a direção de
crescimento máximo para f . Esta direção é indicada pelo vetor gradiente, fato que justifica a
escolha do termo gradiente.

5.4.1 [Crescimento Máximo]


Teorema Seja f : D ⊂ Rn −→ R uma aplicação diferenciável no
ponto X0 do aberto D. O vetor grad f (X0 ) tem as
propriedades abaixo.

(i) Dado um vetor unitário U , vale


∂f
(X0 ) = grad f (X0 ) · U ;
∂U
(ii) se grad f (X0 ) 6= O, então a taxa de crescimento máxima de f em X0 é atingida no vetor
grad f (X0 )
U0 = ,
kgrad f (X0 )k
e o seu valor nesta direção é dado por
∂f
(X0 ) = kgrad f (X0 )k .
∂U0
Demonstração: Como f é diferenciável em X0 , vem, combinando os corolários 5.1.12
e 5.1.14, que
∂f
(X0 ) = f 0 (X0 )(U ) = grad f (X0 ) · U.
∂U
Usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz, temos que

∂f ∂f
(X0 ) ≤ (X0 ) = |grad f (X0 ) · U | ≤ kgrad f (X0 )k kU k = kgrad f (X0 )k ,
∂U ∂U
196 Algumas Aplicações do Gradiente

o que mostra que as taxas de crescimento de f em X0 são limitadas pelo número kgrad f (X0 )k.
Agora, se grad f (X0 ) 6= O, podemos construir o vetor unitário na sua direção, a saber:
grad f (X0 )
U0 = ,
kgrad f (X0 )k
segundo o qual a taxa de crescimento de f em X0 é
∂f grad f (X0 )
(X0 ) = grad f (X0 ) · U0 = grad f (X0 ) · = kgrad f (X0 )k ,
∂U0 kgrad f (X0 )k
e a prova está completa. pppppppppppppppppp

5.4.2
Exemplo Seja f (x, y) = 4x2 + y2 , (x, y) ∈ R2 , função com a qual trabalhamos no exem-
plo 4.5.5. Determinaremos, com o auxı́lio do teorema 5.4.1, a direção de cresci-
mento máximo e a taxa de crescimento máxima de f em X0 = (1, 2). Como f é diferenciável, e
grad f (X0 ) = (8, 4) 6= (0, 0), vem que
grad f (X0 ) 1 2 1
U0 = = √ (8, 4) = ( √ , √ )
kgrad f (X0 )k 4 5 5 5
é a direção de crescimento máximo de f em X0 . A taxa de crescimento máxima é
∂f √
(X0 ) = kgrad f (X0 )k = 4 5.
∂U0
Geometricamente, podemos olhar este número como a inclinação da reta tangente do parabolóide
elı́ptico z = 4x2 + y 2 em P = (1, 2, 8) que está mais inclinada. Tal reta é a que passa por P e é
paralela ao vetor
2 1 ∂f 2 1 √
V = (√ , √ , (X0 )) = ( √ , √ , 4 5).
5 5 ∂U0 5 5

5.4.3
Exemplo Seja f : R3 −→ R definida por√f (x, y,√z) = xy 2
√ + yz + z . Sejam X0 = (1, 0, 1)
e U o vetor unitário U = (1/ 6, 2/ 6, −1/ 6). Como f é diferenciável (f é
∂f
polinomial), podemos calcular a derivada direcional ∂U (X0 ) usando o item (i) do teorema 5.4.1.
Temos que grad f (x, y, z) = (y, x + z, y + 2z). Logo,

∂f 1 2 1 6
(X0 ) = grad f (X0 ) · U = (0, 2, 2) · ( √ , √ , − √ ) = .
∂U 6 6 6 3

Portanto, a taxa de crescimento de f em (1, 0, 1) na direção U é 6/3. Agora, em qual direção
f cresce mais rapidamente em X0 ? Qual a taxa de crescimento nesta direção? As respostas
para estas questões são facilmente obtidas via teorema 5.4.1. De fato, grad f (X0 ) = (0, 2, 2) é
um vetor não-nulo. Logo, a direção de crescimento máximo é dada pelo vetor unitário
√ √
grad f (X0 ) 1 2 2
U0 = = √ (0, 2, 2) = (0, , ),
kgrad f (X0 )k 2 2 2 2
Aplicações Diferenciáveis 197

e a taxa de crescimento máxima é

∂f √
(X0 ) = kgrad f (X0 )k = 2 2.
∂U0
√ √
(Como teste, compare as taxas de crescimento obtidas nas direções U e U0 : 6/3 e 2 2. A
primeira deve ser menor do que a segunda. Concorda?)

5.4.4
Exemplo Nos dois exemplos anteriores, procuramos sempre chamar a atenção para a di-
ferenciabilidade de f , antes de usar o teorema 5.4.1. Este exemplo tem como
objetivo mostrar que tal preocupação é, de fato, procedente: podemos incorrer em um erro, ao
não levar a diferenciabilidade em conta. Um bom exemplo, é considerar f definida em R2 por
 2
 x y , se (x, y) 6= (0, 0)

2 2
f (x, y) = x + y

0, se (x, y) = (0, 0),

X0 = (0, 0) e U = (u1 , u2 ) um vetor unitário tal que u1 u2 6= 0. Retomando os cálculos que


fizemos no exemplo 5.1.16, vemos que

∂f
grad f (0, 0) = (0, 0) e (0, 0) = u21 u2 ,
∂U

elementos calculados usando suas definições. Naquele exemplo, também verificamos que f não
∂f
é diferenciável em X0 . Agora, se calculamos ∂U (0, 0) através do item (i) do teorema 5.4.1, sem
preocupação alguma com suas hipóteses, vamos obter

∂f
(0, 0) = grad f (0, 0) · (u1 , u2 ) = 0,
∂U

o que contradiz o resultado acima. Note que a resposta correta para a derivada direcional
∂f
∂U
(0, 0) é o número u21 u2 .

5.4.5
Exemplo Consideremos f (x, y) = x2 + y2 , (x, y) ∈ R2 , cujo gráfico é o parabolóide de
revolução (figura 20, página 31). Fixando nossa atenção no ponto P = (0, 0, 0)
do parabolóide, vemos que f cresce “igualmente” em todas as direções a partir de (0, 0), pois
as curvas obtidas seccionando o parabolóide por planos que contêm P e são perpendiculares ao
plano-xy são cópias idênticas da parábola y = x2 . Portanto, não pode haver uma direção de
crescimento máximo privilegiada. Isto mostra, sem fazer cálculos, que o grad f (0, 0) deve ser
nulo, pois, caso contrário, deveria haver uma direção de crescimento máximo. Agora pegue a
sela z = g(x, y) = y 2 − x2 (figura 21-(c), página 31), e obtenha um argumento análogo para
justificar o fato que grad g(0, 0) = (0, 0).
198 Algumas Aplicações do Gradiente

5.4.6
Superfı́cies Definidas Implicitamente
Seja f : D ⊂ R3 −→ R uma aplicação diferenciável no aberto D. Dado k ∈ R, lembramos
que o conjunto de nı́vel k de f (definição 1.4.13) é o subconjunto de D definido por

f −1 (k) = {(x, y, z) ∈ D; f (x, y, z) = k},

isto é, f −1 (k) é o conjunto de soluções em D da equação f (x, y, z) = k. Sob certas condições, o
conjunto f −1 (k), quando não-vazio, coincide com o que chamamos, em Geometria Diferencial,
de superfı́cie regular. Intuitivamente, uma superfı́cie regular é um subconjunto do espaço R3
que pode ser construı́do através da colagem de gráficos de funções, ora de x e y, ora de x
e z, ora de y e z. Por exemplo, as esferas, os elipsóides, e os parabolóides são superfı́cies
regulares. As superfı́cies regulares que são conjuntos de nı́vel são chamadas superfı́cies definidas
implicitamente.
Seja S ⊂ R3 uma superfı́cie regular. A noção de plano tangente a S em um ponto P pode
ser introduzida como sendo o plano que contém P e é paralelo àquele plano (subespaço) que
contém todos os vetores tangentes em P das curvas de S que passam por P . Faz sentido, por-
tanto, falar no plano tangente a um conjunto de nı́vel S = f −1 (k) em um ponto P , o qual indica-
remos por πP (S). Para determinar este plano, tomamos uma curva parametrizada diferenciável

z
6 S = f −1 (k)
qq q
qqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqppqpppqqpp 
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq qqqqpqp
qqqqqqqqq
qqqqqqqqqqq
qqqqqqq qqqqqq qq qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqpqpqqpqpqpqqqqpqpqqqpqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqpppqqqqq
q  *
qqq qq q q q
qq qqq
q qq q
qqq q
q q
q q
q q q q
q qq q
qq q
qq
qqq p
q p
qqq q
pqq q
p
q q
p qq
pqpppppp q
qqqq
p q q ∇f (P )
qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q qqqqqqqqqpqqqqq
q qqqqq rqpqpqqpqqqqqqqqqq J


qq
qqqq
qqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqq qq q q q q q q q q qq q qq q q q qqqq p p q q q q
qqqqqqqqq qqqqqpqqqqqqqqqqqqpqqpqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqJ qqqqqqqpqppqq
qqq f- kr
qqqqq ppqqqqqpqqpqqqq
pqqqqqqpqqqqqqqq
R
qqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq q qqqqqqq qqqqq
qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqpqpqqqpqqpqqqqpqqqqqqqqqq qqqqqqqP qqqqqq q α0 (t0 )
qqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqq
qqqqqqqqq
q qq q q q qq qq q q qqqq
q
q qqqqqqqqqqqqqqq J
qqq q
qq q q
I α- qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq qqqqqqqqqqqqqqq q
r qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq
^
J
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqq
-
t0 y
qqq


x
Figura 83

qualquer, cujo traço esteja contido em S e contém P , isto é, α : I ⊂ R −→ S ⊂ R3 , α(t0 ) = P,


para algum t0 ∈ I. Como α(t) ∈ S, para todo t ∈ I, vem que f (α(t)) = k, para todo t ∈ I. Do
corolário 5.3.2, temos que
(f (α(t)))0 = grad f (α(t)) · α0 (t).
Logo, grad f (α(t)) · α0 (t) = 0, para todo t ∈ I. Em particular, para t = t0 , obtemos que

grad f (α(t0 )) · α0 (t0 ) = grad f (P ) · α0 (t) = 0,

o que mostra que o vetor grad f (P ), quando não-nulo, é um vetor perpendicular à superfı́cie S
no ponto P . Portanto,

πP (S) = {X = (x, y, z) ∈ R3 ; (X − P ) · grad f (P ) = 0}. (¶44 )


Aplicações Diferenciáveis 199

5.4.7
Exemplo Consideremos o elipsóide S = {(x, y, z); x2 + 2y2 + 3z 2 = 21}, veja o exem-
plo 4.1.21. Para determinar o plano tangente a esta superfı́cie definida im-
plicitamente no ponto P = (1, 2, 2), simplesmente calculamos o vetor grad f (1, 2, 2), onde
f (x, y, z) = x2 + 2y 2 + 3z 2 , (x, y, z) ∈ R3 . Temos que grad f (1, 2, 2) = (2, 8, 12). Portanto,

πP (S) = {X = (x, y, z); (X − P ) · grad f (P ) = 0} = {(x, y, z); x + 4y + 6z = 21}.

Para determinar outros planos tangentes de S, que são paralelos a este, devemos achar os pontos
(x, y, z) ∈ S, onde o grad f é paralelo ao vetor (2, 8, 12), isto é, devemos resolver o sistema em
x, y, z e λ: 
x2 + 2y 2 + 3z 2 = 21
(2x, 4y, 6z) = λ(2, 8, 12).

A segunda equação produz x = λ, y = z = 2λ, o que substituı́do na primeira obriga que λ seja
raiz de
λ2 + 2(2λ)2 + 3(2λ)2 = 21λ2 = 21.
Logo, λ = ±1. Para λ = 1, obtemos (x, y, z) = (1, 2, 2) = P , onde o plano tangente é, como
vimos, x + 4y + 6z = 21. Para λ = −1, obtemos (x, y, z) = (−1, −2, −2), onde o plano tangente
é x + 4y + 6z = −21.

5.4.8
Exemplo Seja f : D ⊂ R2 −→ R diferenciável em D. O gráfico de f ,
S = G(f ) = {(x, y, z); z = f (x, y), (x, y) ∈ D},

pode ser olhado como o conjunto de nı́vel F −1 (0), onde

F (x, y, z) = f (x, y) − z, (x, y, z) ∈ D × R.

Assim, para determinar o plano tangente a G(f ) em P = (a, b, f (a, b)), podemos usar as ferra-
mentas aprendidas nesta seção. Para isto, calculamos o vetor grad F (P ). Temos que

∂f ∂f
grad F (P ) = ( (a, b), (a, b), −1).
∂x ∂y
Logo,

∂f ∂f
πP (S) = {(x, y, z); (x − a, y − b, z − f (a, b)) · ( (a, b), (a, b), −1) = 0}
∂x ∂y
∂f ∂f
= {(x, y, z); z = f (a, b) + (a, b)(x − a) + (a, b)(y − b)},
∂x ∂y

o que reproduz o plano πP (f ) dado em (¶23 ), página 123.


5
Exercı́cios
Aplicações Diferenciáveis – Exercı́cios 201

5-1 Usando a definição, mostre que a função f é diferenciável no ponto X0 e calcule a função
linear f 0 (X0 ).
(a) f (x, y) = x2 + 1, X0 = (a, b);
(b) f (x, y) = xy 2 , X0 = (a, b);
(c) f (x, y) = |x + y|, X0 = (1, 2);
(d) f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 , X0 = (a, b, c);
 3
 x y , se (x, y) 6= (0, 0)

2 2
(e) f (x, y) = x + y , X0 = (0, 0);

0, se (x, y) = (0, 0)
(f) f (x, y) = (x2 + y 2 , x + y), X0 = (1, −1);
(g) f (x, y, z) = (x − y + z, y 2 + z 2 ), X0 = (a, b, c).
5-2 Mostre que as seguintes aplicações não são diferenciáveis na origem.
(a) f (x, y) = |x + y|;

xy
2 , se (x, y) 6= (0, 0)

 2
(b) f (x, y) = x + y ;
0,

se (x, y) = (0, 0)
p
(c) f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 .

5-3 Seja f (x, y) = 3 xy. Mostre que ∇f (0, 0) = (0, 0) e que f não possui derivada direcional
na origem segundo qualquer vetor unitário u 6= e1 , e2 . Em particular, conclua que f não é
diferenciável na origem.
3

 x
2 , se (x, y) 6= (0, 0)

2
5-4 Seja f (x, y) = x + y . Mostre que:

0, se (x, y) = (0, 0)
(a) f é contı́nua em R2 ;
(b) ∇f (0, 0) = (1, 0);
(c) Em (0, 0), f tem derivada direcional segundo qualquer vetor unitário U = (u1 , u2 ) e tal
∂f
derivada é dada por (0, 0) = u31 ;
∂U
(d) f não é diferenciável na origem.
5-5 Em cada caso, verifique que a função dada é de classe C 1 em seu domı́nio D. Conclua que
f é diferenciável em D e explicite a aplicação linear dfX , X ∈ D.
(a) f (x, y) = xy , x > 0;
(b) f (x, y) = log(x2 + y 2 ), D = R2 − {(0, 0)};
(c) f (x, y) = (x2 − y 2 , 2xy), D = R2 ;
(d) f (x, y, z) = xyz, D = R3 ;
(e) f (ρ, θ) = (ρ cos θ, ρ sen θ), D = R2 ;
(f) f (r, θ, φ) = (r sen φ cos θ, r sen φ sen θ, r cos φ), D = R3 ;
202 Aplicações Diferenciáveis – Exercı́cios

(g) f (u, v) = (v cos u, v sen u, v), D = R2 ;


(h) f (t) = (cos t, sen t, 2t), D = R.
5-6 Em cada caso, determine a função
A(X) = f (X0 ) + f 0 (X0 )(X − X0 ) = f (X0 ) + Jf (X0 )(X − X0 )
que melhor aproxima f no ponto X0 .
(a) f (x, y) = 4 − x2 − y 2 , X0 = (0, 1);
(b) f (x, y) = xy , x > 0, X0 = (1, 2);
p
(c) f (x, y) = x2 + y 2 , X0 = (4, 3);
(d) f (t) = (t, t2 , t3 ), t0 = 1;
(e) f (u, v) = (u + v, u − v, uv), X0 = (2, 1);
(f) f (x, y) = (x2 − y 2 , 2xy), X0 = (1, 1).
5-7 Verifique as propriedades abaixo.
(a) No exercı́cio 5-6, itens (a),(b) e (c), o gráfico da função afim
∂f ∂f
A(x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 )
∂x ∂y
é o plano tangente ao gráfico de f no ponto considerado;
(b) Em 5-6 (d), a imagem de A(t) = f (t0 ) + f 0 (t0 )(t − t0 ) é a reta tangente ao traço de f
em t0 = 1;
(c) Em 5-6 (e), a imagem de A(u, v) é o plano tangente ao traço de f em (3, 1, 2).
Conclua, ainda de 5-6, (b) e (c), respectivamente, um valor aproximado para (1, 02)2,01 e
5-8 p
(4, 05)2 + (2, 93)2 .
5-9 A potência consumida em um resistor elétrico vale P = E 2 /R, onde E = 200 V e R = 8 Ω
(P em W) em um dado instante. Se E diminui de 5 V , e R de 0, 2 Ω, use a aproximação
linear
∂P ∂P
∆P = P (E + ∆E, R + ∆R) − P (E, R) ≈ ∆E + ∆R
∂E ∂R
para estimar a correspondente variação da potência.
5-10 Na produção de 10.000 caixas de papelão, cada uma com dimensões 3 cm, 4 cm e 5 cm, o
custo do papelão é de 5 centavos/cm2 . As máquinas usadas para cortar o papelão têm um
possı́vel erro da ordem de 0,05 cm em cada dimensão. Estime o erro máximo do custo do
papelão.
5-11 Em cada caso, dadas as funções diferenciáveis f e g, calcule a matriz jacobiana da aplicação
composta F = g ◦ f , bem como a aplicação linear F 0 = (g ◦ f )0 no ponto considerado.
(a) f (x) = x2 + 1, g(x) = x5 , x ∈ R;
(b) f (x, y) = (x2 + xy + 1, 2y 2 + 2), g(u, v) = (u + v, 2u, v 2 ), (x, y) = (1, 1);
(c) f (u, v) = (u + v, u − v, u2 − v 2 ), g(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 , (u, v) = (a, b);
(d) f (t) = (t, t + 1, t2 ), g(x, y, z) = (x + 2y + z 2 , x − 2y), t ∈ R;
(e) f (t) = (t, t2 − 4, et−2 ), g é tal que ∇g(2, 0, 1) = (4, 2, 2), t = 2.
Aplicações Diferenciáveis – Exercı́cios 203

5-12 Se f : R3 −→ R é diferenciável, ∇f (0, 0, 0) = (4, 3, 5) e F (u, v) = f (u − v, u2 − 1, 3v − 3),


calcule ∇F (1, 1).
5-13 Sejam f (r, θ) = (r cos θ, r sen θ) e g : R2 −→ R3 diferenciável tais que
 
1 0
J(g ◦ f )(1, π/2) =  0 1  .
1 2
∂g ∂g
Ache os vetores ∂x
(0, 1) e ∂y
(0, 1).
5-14 Seja f : R2 −→ R de classe C 2 e tal que

∂f ∂f
(2, 1) = 3 (2, 1) = −2
∂x ∂y
.
∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
(2, 1) = 0 (2, 1) = 1 (2, 1) = 2
∂x2 ∂x∂y ∂y 2
∂ 2 (f ◦g)
Se g(u, v) = (u + v, uv), (u, v) ∈ R2 , calcule ∂u∂v
(1, 1).
5-15 Seja f : R2 −→ R uma aplicação diferenciável. Defina g(x) = f (x, x) e h(x) = f (x, f (x, x)),
x ∈ R.
∂f ∂f
(a) Mostre que g 0 (x) = ∂x
(x, x) + ∂y
(x, x);
0
(b) Obtenha uma expressão para h (x);
x
d(xx ) d(xx )
(c) Calcule e .
dx dx
α h g f
5-16 Sejam R −→ R2 −→ R3 −→ R −→ R, f diferenciável em todo R, g(x, y, z) = 3x − 2y − 8z,
h(x, y) = (x + y, y − 2x, x) e α(x) = (x, x2 + x + 1). Defina F = f ◦ g ◦ h ◦ α.
(a) Mostre que F (x) = f (x2 + 1), donde F 0 (x) = 2xf 0 (x2 + 1);
(b) Calcule F 0 (x) usando a regra da cadeia.
p
5-17 Sejam X = (x, y, z) ∈ R3 , r = kXk = x2 + y 2 + z 2 e g : R −→ R de classe C 2 . Defina

f : R3 − {0} −−−→
−− R
X −−−−−→ f (X) = g(r).

Para todo X 6= 0, mostre que:


g 0 (r)
(a) ∇f (X) = X;
r
(b) k∇f (X)k2 = [g 0 (r)]2 ;
2
(c) ∆f (X) = g 00 (r) + g 0 (r);
r
a
(d) Conclua que, se ∆f (X) = 0, então f (x, y, z) = + b, r 6= 0, a e b constantes.
r
204 Aplicações Diferenciáveis – Exercı́cios

5-18 Sejam g : R2 −→ R de classe C 2 , f : R2 −→ R2 , f (r, θ) = (r cos θ, r sen θ). Ponha F = g ◦ f .


Mostre que  2  2  2  2
∂F 1 ∂F ∂g ∂g
+ 2 = + ,
∂r r ∂θ ∂x ∂y
onde o segundo membro é calculado em (x, y) = (r cos θ, r sen θ).
5-19 [Laplaciano em Coordenadas Cilı́ndricas] Se f : R3 −→ R é de classe C 2 , e
F (r, θ, z) = f (r cos θ, r sen θ, z),
verifique a seguinte relação
∂ 2F 1 ∂F 1 ∂ 2F ∂ 2F ∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
+ + 2 2 + = + 2 + 2 , r 6= 0,
∂r2 r ∂r r ∂θ ∂z 2 ∂x2 ∂y ∂z
onde o segundo membro é calculado em (x, y, z) = (r cos θ, r sen θ, z).
5-20 Sejam g : R2 −→ R de classe C 2 , f : R2 −→ R2 , f (x, y) = 21 (x + y, x − y), e F = g ◦ f .
Verifique as seguintes relações, onde os segundos membros são calculados em (u, v) = f (x, y).
 
∂F 1 ∂g ∂g
(a) = + ;
∂x 2 ∂u ∂v
 
∂F 1 ∂g ∂g
(b) = − ;
∂y 2 ∂u ∂v
∂ 2F ∂ 2F ∂ 2g
(c) − = .
∂x2 ∂y 2 ∂u∂v
5-21 [Equação do Movimento] Considere a seguinte EDP
∂u ∂u
+c = 0, (¶45 )
∂t ∂x
onde c é constante.
(a) Mostre que u(x, t) = cos(x − ct) e u(x, t) = ex−ct são soluções da EDP (¶45 );
(b) Mais geralmente, se f : R −→ R é diferenciável, e u : R2 −→ R é tal que
u(x, t) = f (x − ct),
então u é solução de (¶45 );
(c) Reciprocamente, seja u : R2 −→ R uma aplicação de classe C 1 que verifica (¶45 ), isto é,
∂u ∂u
(x, t) + c (x, t) = 0, ∀(x, t) ∈ R2 .
∂t ∂x
Introduza agora a nova função (composta)
e(y, s) = u(y + cs, s), (y, s) ∈ R2 .
u
Verifique que
∂e
u ∂u ∂x ∂u ∂t ∂u ∂u
(y, s) = (y + cs, s) + (y + cs, s) = c (y + cs, s) + (y + cs, s) = 0,
∂s ∂x ∂s ∂t ∂s ∂x ∂t
de acordo com (¶45 );
(d) Conclua que u e(y, s) = f (y), onde f é diferenciável. Portanto, u é da forma considerada
em (b).
Aplicações Diferenciáveis – Exercı́cios 205

5-22 Ache a derivada direcional no ponto dado e na direção dada.


(a) f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 , X = (1, 0, 1), U = 13 (2, 1, 2);
(b) f (x, y, z) = xyz, X = (1, 0, 0), U = (cos θ sen φ, sen θ sen φ, cos φ);
(c) f (x, y, z) = x2 + 4xy 2 zez , X = (1, 0, 1), direção da reta tangente à curva parametrizada
α(t) = (4t2 + t, 2t, t3 ), em t = 0;
(d) f (x, y, z) = 4x2 y + y 2 z, X = (1, 0, 1), direção normal à superfı́cie x2 + y 2 + z 2 = 3 em
(1, 1, 1);
(e) f (x, y, z) = x3 +y 2 +z, X = (1, 0, −1), direção normal à superfı́cie g(u, v) = (u2 v, u+v, v)
em (1, 1).
5-23 Seja f (x, y, z) = x2 + 2y 2 + 3z 2 .
(a) No ponto X = (4, 1, 1), ache a direção U na qual é máxima a derivada direcional de f e
indique a taxa máxima de crescimento de f em X;
(b) Ache os pontos da superfı́cie de nı́vel f (x, y, z) = 6 nos quais os planos tangentes são
paralelos ao plano x + 2y + 3z = 0.
5-24 Ache as constantes a, b e c para que, no ponto (1, 2, −1), a derivada direcional da aplicação
f (x, y, z) = axy 2 + byz + cx3 z 2 tenha valor máximo 64 na direção do vetor U = (0, 0, 1).
5-25 Ache o plano tangente a cada superfı́cie no ponto dado.
(a) x2 + y 2 + 4z 2 = 2, X = (1, 1, 0);
(b) x2 + xy 2 + y 3 + z + 1 = 0, X = (2, −3, 4);
(c) z = f (x, y) = x2 + y 2 , X = (3, 4, 25);
(d) xyz = a3 , a 6= 0 constante, X = (x0 , y0 , z0 ) arbitrário.
5-26 Uma superfı́cie S contém o ponto (1, 2, 3). Num ponto arbitrário X0 = (x0 , y0 , z0 ) de S o
plano tangente a S é
(x0 + z0 )(x − x0 ) − (y0 + z0 )(y − y0 ) + (x0 − y0 )(z − z0 ) = 0.
Ache uma equação (implı́cita) de S.
√ √ √ √
5-27 Mostre que os planos tangentes à superfı́cie x + y + z = a, em X0 = (x0 , y0 , z0 ),
com x0 > 0, y0 > 0 e z0 > 0, interceptam os eixos coordenados em segmentos cuja soma é
constante.
5-28 Seja f : D ⊂ R2 −→ R uma função diferenciável em D e tal que grad f (X) 6= (0, 0), para
todo X = (x, y) no conjunto de nı́vel f −1 (k). Sob estas condições, o conjunto γ = f −1 (k)
é uma curva regular do R2 . Portanto, dado P = (a, b) ∈ γ, é possı́vel achar uma curva
parametrizada regular α : I ⊂ R −→ R2 que parametriza γ em torno de P , isto é tr α ⊂ γ
com α(t0 ) = P , para algum t0 ∈ I.
(a) Mostre que grad f (P ) · α0 (t0 ) = 0, e conclua que grad f (P ) é um vetor perpendicular a
γ = f −1 (k) em P ;
(b) A reta l = {X ∈ R2 ; X = (a, b) + t(− ∂f ∂y
(a, b), ∂f
∂x
(a, b))} é tangente a γ em P ;
(c) Encontre representações cartesianas para as retas normal e tangente γ em P ;
2
x2
(d) Mostre que a reta tangente à elipse a2
+ yb2 no ponto (x0 , y0 ) tem equação x0 x
a2
+ yb02y = 1.
206 Aplicações Diferenciáveis – Exercı́cios

*
5-29 Seja f : R2 −→ R de classe C 1 tal que

f (tx, ty) = tf (x, y), ∀t > 0, e ∀(x, y) ∈ R2 . (¶46 )

.
(a) Mostre que x ∂f
∂x
(tx, ty) + y ∂f
∂y
(tx, ty) = f (x, y), ∀t > 0 e ∀(x, y) ∈ R2 ;
(b) Conclua que existem a, b ∈ R tais que f (x, y) = ax + by, isto é, f é um funcional linear
de R2 ;
p
(c) A função f (x, y) = x2 + y 2 tem a propriedade (¶46 ), mas não é um funcional linear.
Estaria errada a conclusão em (b)?

5-30 Considere a seguinte EDP:
xux + yuy = u. (¶47 )

deu
(a) Se u é solução de (¶47 ), então =ue, onde u e(t) = u(c1 et , c2 et ). Donde, u
e(t) = C et ;
dt
(b) Supondo que u é uma solução global de (¶47 ), mostre que u(et x, et y) = et u(x, y), ∀t ∈ R
e ∀(x, y) ∈ R2 ;
(c) Ainda supondo que u é uma solução global, mostre que u(tx, ty) = tu(x, y), ∀t > 0 e
∀(x, y) ∈ R2 ;
(d) Conclua que as soluções globais de (¶47 ) são os funcionais lineares de R2 .

5-31 Seja f : R2 −→ R de classe C 2 tal que

f (tx, ty) = t2 f (x, y), ∀t > 0 e ∀(x, y) ∈ R2 (¶48 ).

(a) Mostre que

∂ 2f ∂ 2f 2
2 ∂ f
x2 2
(tx, ty) + 2xy (tx, ty) + y 2
(tx, ty) = 2f (x, y), ∀t > 0 e ∀(x, y) ∈ R2 ;
∂x ∂x∂y ∂y
(b) Conclua que existem a, b, c ∈ R tais que f (x, y) = ax2 + bxy + cy 2 , isto é, f é uma forma
quadrática de R2 ;
p
(c) A função f (x, y) = x4 + y 4 tem a propriedade (¶48 ), mas não é uma forma quadrática.
Estaria errada a conclusão em (b)?
(d) Verifique que as formas quadráticas u(x, y) = ax2 + bxy + cy 2 , onde a, b, c ∈ R são
constantes, são soluções da EDP xux + yuy = 2u;
(e) Reciprocamente, se u, definida em todo R2 , é solução da EDP xux + yuy = 2u, então
u(x, y) = ax2 + bxy + cy 2 , para alguns a, b, c ∈ R.

*
Estes exercı́cios são considerados opcionais, e podem ser deixados para uma segunda leitura.
6
Funções
Inversa e Implı́cita

y qqqqqqqqqq v
6 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq q q q qq qq q q q q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
6
b + δ1 q q
qqqqqqqqqqqqqqq q qq
q qq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq q q q q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq f (x, y) = c qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq2qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
h
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqq
b q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q q q qqq q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
c q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq W = h(R)
-
q q q q q q q qqq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q q q q q q q q q q q q q q
q q
qqq
q q q q q q
qq qqqq q
g(x) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqV
qq q q q q q q q q q q q
qqq q q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqlqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq q q qqqq q q q qqq q h−1 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
b − δ1 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q  qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqq qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
a − δ1 xq aq a + δ1 qqqqq
- q -
a − δ2 a + δ2 x a − δ1 a a + δ1 u

por
J. Adonai & A. Carlo
6.1
Preliminares

Veremos neste capı́tulo as provas de dois dos teoremas mais importantes do Cálculo, a
saber: o Teorema da Função Inversa e o Teorema da Função Implı́cita. Na realidade, tendo um
desses teoremas em mãos, é quase que automático a obtenção do outro. Em outras palavras,
eles constituem duas proposições equivalentes. O procedimento que adotaremos aqui é aquele
mais usado nos textos de Cálculo: será obtido inicialmente o teorema da função inversa.
Para simplificar a prova que apresentaremos, colocaremos nesta seção uma série de novos
conceitos e resultados, alguns deles de relevante valor individual.

6.1.1
Sequências no Rn

Como sabemos dos cursos mais elementares de Cálculo, uma sequência em R é uma função
do tipo
x : N −− −→
−− R
k −−−−−→ x(k) = xk .
Esta sequência é indicada por (xk ), (xk )k∈N , ou (x1 , x2 , . . . , xk , . . .). Este conceito é facilmente
estendido para o Rn , da seguinte forma.

6.1.2
Definição Uma sequência em Rn é uma função
X : N −− − Rn
−→

k −−−−−→ X(k) = Xk = (x1k , x2k , . . . , xnk ).

A sequência X será indicada por X = (Xk ), X = (Xk )k∈N , ou X = (X1 , X2 , . . . , Xk , . . .). O


termo geral de X é a n-upla Xk . As n sequências reais xi = (xik )k∈N , 1 ≤ i ≤ n, são chamadas
sequências coordenadas de X.
X1 x11 x21 x31 · · · xn1
Um bom modo de visualizar a sequência
X2 x12 x22 x32 · · · xn2
X = (Xk ) = ((x1k , x2k , . . . , xnk ))
X3 x13 x23 x33 · · · xn3
é dispor seus termos numa tabela com n colunas .. .. .. .. .. ..
e um número infinito de linhas, como vemos ao . . . . . .
lado. Desta forma, os termos de X são as linhas Xk x1k x2k x3k · · · xnk
da tabela, e as sequências coordenadas de X apa- .. .. .. .. .. ..
recem nas colunas da tabela. . . . . . .

208
Funções Inversa e Implı́cita 209

6.1.3  
Exemplo Considere a seguinte sequência X em R2 , cujo termo geral é Xk = 1 , k .
    k k+1
1 k
As sequências coordenadas de X são x1 = e x2 = . Observe que
k k+1
      
1 1 2 1 3
X= 1, , , , , ,... .
2 2 3 3 4

6.1.4
Definição Seja X = (Xk ) uma sequência em Rn . Uma n-upla L é um limite de X se para
cada  > 0 dado arbitrariamente, for possı́vel achar k0 ∈ N tal que

kXk − Lk < , sempre que k ≥ k0 .

Em outras palavras,

∀  > 0, ∃ k0 ∈ N : k ≥ k0 =⇒ kXk − Lk < .

A proposição 6.1.5 mostra que se uma n-upla é limite de uma sequência X, então ela é a
única com esta propriedade. Aceitando este fato, a n-upla L da definição 6.1.4 é chamada limite
de X, e escreveremos L = lim Xk , ou simplesmente L = lim Xk . Dizemos, também, que X é
k→∞
convergente e que converge para L. Um outro modo de dizer isto, é escrever Xk −
−→
− L, que se
lê X tende para L.

6.1.5
Proposição Sejam X = (Xk ) uma sequência em Rn , L1 e L2 limites de X, como na
definição 6.1.4. Então, L1 = L2 .
Demonstração: Começamos tomando  > 0 arbitrário e aplicando a definição 6.1.4
para L1 e L2 . Relativamente a L1 , obtemos k1 ∈ N tal que

k ∈ N, k ≥ k1 =⇒ kXk − L1 k < /2.

Para L2 existe k2 > 0 tal que

k ∈ N, k ≥ k2 =⇒ kXk − L2 k < /2.

Escolhendo k0 = max{k1 , k2 }, obtemos

k ∈ N, k ≥ k0 =⇒ kXk − L1 k < /2 e kXk − L2 k < /2.

Logo, para algum k ≥ k0 ,

kL2 − L1 k = kL2 − L1 + Xk − Xk k ≤ kXk − L1 k + kXk − L2 k < /2 + /2 = .

Como  > 0 é arbitrário, segue-se que kL2 − L1 k = 0, isto é, L2 = L1 . pppppppppppppppppppp


210 Preliminares

6.1.6
Definição Uma sequência X = (Xk ) é dita limitada se existe uma constante M > 0 tal
que kXk k ≤ M , para todo k ∈ N.

6.1.7  
Exemplo A sequência X = (Xk ) = 1 , k que introduzimos no exemplo 6.1.3 é
k k+1
limitada. De fato,
s
1 k2 √
kXk k = 2 + 2 ≤ 2.
k (k + 1)

Note que Y = (Yk ), Yk = (k 2 , sen k) não é limitada, visto que kYk k ≥ k.

6.1.8
Proposição Sejam X = (Xk ) e x = (xk ) duas sequências, a primeira em Rn e a segunda
em R. Se uma delas é limitada e a outra converge para zero, então o produto
xX = (xk Xk ) também converge para zero.
Demonstração: Suporemos que x é limitada e que Xk − −→
− O. Logo, existe M > 0 tal
que |xk | ≤ M , para todo k ∈ N, e, para  > 0 dado, podemos encontrar k0 tal que
k ≥ k0 =⇒ kXk − Ok = kXk k < /M.
Para este k0 , temos que
k ≥ k0 =⇒ kxk Xk k = |xk | kXk k ≤ M /M = ,
como querı́amos. ppppppppppppppppppppp

6.1.9
Proposição Sejam X = (Xk ) e Y = (Yk ) duas sequências em Rn , e x = (xk ) uma sequência
em R. Se Xk−→

− L, Yk−→

− S e xk−→

− l, então valem as seguintes propriedades:

(i) Xk + Yk −
−→
− L + S;
(ii) xk Xk −
−→
− lL;
(iii) Xk · Yk −
−→
− L · S;
− L × S (X e Y sequências em R3 ).
(iv) Xk × Yk −
−→
Demonstração: Seja  > 0. Então existem k1 , k2 ∈ N tais que
(
k ∈ N, k ≥ k1 =⇒ kXk − Lk < /2
k ∈ N, k ≥ k2 =⇒ kYk − Sk < /2.

Logo, se k ≥ k0 = max{k1 , k2 }, temos, simultaneamente,


kXk − Lk < /2 e kYk − Sk < /2.
Funções Inversa e Implı́cita 211

Isto implica que


k(Xk + Yk ) − (L + S)k ≤ kXk − Lk + kYk − Sk < ,
se k ≥ k0 , o que prova (i). Para obter (ii), escrevemos
kxk Xk − lLk = kxk Xk − lL + xk L − xk Lk ≤ |xk | kXk − Lk + kLk |xk − l|.
Usando a proposição 6.1.8 junto com as convergências de X e x, segue-se que xk Xk −
−→
− lL. Os
p p p
p p
p p
p
demais itens serão deixados como exercı́cios. ppppppppppp p p
p

A proposição que vem a seguir mostra que o conhecimento da convergência das sequências
coordenadas de uma dada sequência X em Rn basta para decidir se X converge ou não.

6.1.10
Proposição Seja X = (Xk ) = ((x1k , x2k , . . . , xnk )) uma sequência em Rn .
(i) Se Xk −
−→
− L = (l1 , l2 , . . . , ln ), então xik −
−→
− li , 1 ≤ i ≤ n; x1 x2 x3 · · · xn
(ii) se xik −
−→
− li , 1 ≤ i ≤ n, então Xk −
−→
− (l1 , l2 , . . . , ln ). X1 x11 x21 x31 · · · xn1
Demonstração: Temos que X2 x12 x22 x32 · · · xn2
|xik − li | ≤ kXk − Lk , i = 1, 2, . . . , n X3 x13 x23 x33 · · · xn3
.. .. .. .. .. ..
o que estabelece (i). Para (ii), simplesmente escrevemos . . . . . .

kXk − Lk = k(x1k − l1 , x2k − l2 , . . . , xnk − ln )k Xk x1k x2k x3k · · · xnk


..
≤ |x1k − l1 | + |x2k − l2 | + · · · + |xnk − ln |, ↓ ↓ ↓ ↓ . ↓

o que facilmente finaliza a prova. pppppppppppppppppppppp L l1 l2 l3 · · · ln

6.1.11  
Exemplo A sequência X em R2 , cujo termo geral é Xk = 1 , k converge para o ponto
k k+1
L = (0, 1), visto que 1/k −
−→
− 0 e k/(k + 1) − − 1. A sequência Y = (1/k, (−1)k )
−→
não é convergente, pois, como sabemos, a sequência real y2 = ((−1)k ) não converge.

6.1.12 [Sequência de Cauchy]


Definição Uma sequência X = (Xk ) é dita de Cauchy se para
cada  > 0 dado arbitrariamente for possı́vel exibir
k0 ∈ N tal que kXk − Xl k < , sempre que k, l ≥ k0 , k, l ∈ N.

6.1.13
Proposição Toda sequência convergente é de Cauchy.
Demonstração: Seja X = (Xk ) uma sequência convergente com limite L. Logo, dado
 > 0 existe k0 tal que
k ∈ N, k ≥ k0 =⇒ kXk − Lk < /2.
212 Preliminares

Portanto, se k, l ≥ k0 , vem que


 
kXk − Xl k = kXk − Xl + L − Lk ≤ kXk − Lk + kXl − Lk < + = ,
2 2
o que prova que X é de Cauchy. pppppppppppppppppppppp

6.1.14
Proposição Toda sequência de Cauchy é limitada. Em particular, as sequências conver-
gentes são limitadas.
Demonstração: Tomando  = 1 e usando a definição 6.1.12, obtemos k0 tal que
k, l ∈ N, k, l ≥ k0 =⇒ kXk − Xl k < 1.
Em particular, kXk − Xk0 k < 1, se k ≥ k0 . Mas kXk k − kXk0 k ≤ kXk − Xk0 k, o que vem da
segunda desigualdade triangular (veja a proposição 1.2.19, página 12). Logo, kXk k < 1 + kXk0 k,
se k ≥ k0 . Definindo M por
M = max{kX1 k , kX2 k , . . . , kXk0 k , 1 + kXk0 k},
vem que kXk k ≤ M , para todo k ∈ N. pppppppppppppppppppppp

6.1.15
Proposição Uma sequência X = (Xk ) em Rn é de Cauchy se, e somente se, suas sequências
coordenadas são de Cauchy.
Demonstração: Segue-se de
|xik − xil | ≤ kXk − Xl k ≤ |x1k − x1l | + |x2k − x2l | + · · · + |xnk − xnl |,
onde i ∈ {1, 2, . . . , n} e X = (Xk ) = ((x1k , x2k , . . . , xnk )). pppppppppppppppppppppp

6.1.16
Exemplo Seja X = (Xk ) tal que kXk+1 − Xk k ≤ c kXk − Xk−1 k, para todo k ≥ 2, onde
0 ≤ c < 1. Esta propriedade implica que
kXk+1 − Xk k ≤ c kXk − Xk−1 k ≤ c2 kXk−1 − Xk−2 k ≤ . . . ≤ ck−1 kX2 − X1 k , k ≥ 1.
Com estes dados em mãos, podemos verificar que X é de Cauchy. De fato, dados k, p ∈ N, k ≥ 2
e p ≥ 1, temos que

kXk+p − Xk k = kXk+p − Xk+p−1 + Xk+p−1 − Xk+p−2 + Xk+p−2 + · · · + Xk+1 − Xk k


≤ kXk+p − Xk+p−1 k + kXk+p−1 − Xk+p−2 k + · · · + kXk+1 − Xk k
= (ck+p−2 + ck+p−3 + · · · + ck−1 ) kX2 − X1 k ,
1 − cp
= ck−1 kX2 − X1 k ≤ M ck ,
(1 − c)
Funções Inversa e Implı́cita 213

kX2 − X1 k
onde M = . Como 0 ≤ c < 1, vem que M ck −
−→
− 0. Logo, dado  > 0 existe k0 ∈ N
c(1 − c)
tal que
k ≥ k0 =⇒ kXk+p − Xk k < , ∀ p ≥ 1.
Agora, dados k, l ≥ k0 , podemos supor que l = k + p, para algum p ≥ 0. Para estes k e l, temos
que
kXk − Xl k = kXk − Xk+p k = kXk+p − Xk k < .
Logo, X é de Cauchy, como dissemos.
É um fato bem conhecido que toda sequência de Cauchy em R é convergente. Tal re-
sultado, conhecido como teorema de Cauchy, continua valendo para sequências em Rn , n ≥ 1,
como veremos a seguir. Antes, abordaremos outro teorema, também decisivo para o Cálculo: o
teorema de Bolzano-Weierstrass, para sequência limitadas.

6.1.17
Definição Sejam X = (Xk ) e N0 ⊂ N, N0 = {k1 , k2 , . . . , kj , . . .}, um subconjunto infinito
0 0
 0
de N. A restrição de X a N , que indicamos por X = Xkj , X = Xkj j∈N
ou
0
X = (Xk1 , Xk2 , . . . , Xkj , . . .), é chamada subsequência de X.

Observação Segue-se da definição 6.1.17 que a subsequência X 0 = Xkj pode ser olhada,


também, como uma sequência, do seguinte modo:

X 0 : N −− − Rn
−→

j −−−−−→ X 0 (j) = X(kj ) = Xkj .

Assim, todos os conceitos previamente dados para uma sequência (por exemplo, convergência,
limitação, etc.) se aplicam naturalmente a uma subsequência de X. É assim que trabalharemos.

6.1.18
Exemplo Sejam X = (( k , (−1)k )) e N0 = {2, 4, 6, . . . , 2j, . . .}, o subconjunto dos intei-
k+1
ros pares de N. A subsequência de X determinada por N0 é dada por
2 4 6 2j
X 0 = (( , 1), ( , 1), ( , 1), . . . , ( , 1), . . .),
3 5 7 2j + 1

que, claro, converge para (1, 1). Note que X não é convergente.
A proposição abaixo, que será deixada como exercı́cio, mostra que as subsequências her-
dam as boas propriedades da sequência original.

6.1.19
Proposição Sejam X = (Xk ), N0 ⊂ N, N0 = {k1 , k2 , . . . , kj , . . .} e X 0 a subsequência de X
determinada por N0 .

(i) Se X é limitada, então X 0 é limitada;


214 Preliminares

(ii) se X converge para L, então X 0 também converge para L;


(iii) se X é de Cauchy, então X 0 também o é.

6.1.20
Proposição Se uma sequência de Cauchy possui uma subsequência convergente, então ela
é convergente.
Demonstração: Sejam X = (Xk ) e X 0 = (Xkj ), kj ∈ N0 ⊂ N. Suponhamos que
Xk j −
−→
− L. Afirmamos que Xk −−→
− L. De fato, dado  > 0 existe j0 ∈ N tal que

j ≥ j0 , kj ∈ N0 =⇒ Xkj − L < /2.


Como X é de Cauchy, também para este , deve existir k00 ∈ N tal que

k, l ∈ N, k, l ≥ k00 =⇒ kXk − Xl k < /2.

Isto posto, se k ≥ k0 = max{j0 , k00 } é qualquer, e km ≥ k0 , km ∈ N0 , está fixado, obtemos que

kXk − Lk = kXk − L + Xkm − Xkm k ≤ kXk − Xkm k + kXkm − Lk < /2 + /2 = .

− L. ppppppppppppppppppppppp
Logo, Xk −
−→

6.1.21 [Bolzano-Weierstrass]
Teorema Toda sequência limitada possui uma subsequência
convergente.
Demonstração: Para simplificar a prova, trabalharemos em R2 . O resultado para
sequências reais limitadas será admitido como conhecido. Seja X = ((xk , yk )) uma sequência
limitada em R2 . Logo, as sequências coordenadas x = (xk ) e y = (yk ) são sequências reais
limitadas. Seja x0 = (xkj ), kj ∈ N0 , uma subsequência convergente de x, a qual existe pelo
teorema de Bolzano-Weierstrass para sequências reais. Assim, limj→∞ xkj = l1 , para algum
l1 ∈ R. Agora, consideramos a subsequência de y determinada por N0 : y 0 = (yk1 , yk2 , . . . , ykj , . . .).
É claro que y 0 é uma sequência real limitada. Logo, deve ter uma subsequência convergente,
digamos y 00 = (ymi )mi ∈N00 , onde N00 ⊂ N0 . Pondo limi→∞ ymi = l2 , vem que a subsequência de X
dada por X 0 = ((xmi , ymi )), mi ∈ N00 , converge para L = (l1 , l2 ). pppppppppppppppppppp

6.1.22 [Cauchy]
Teorema Uma sequência X = (Xk ) em Rn é convergente se, e somente se, ela é
de Cauchy.
Demonstração: A proposição 6.1.13 mostra que se X é convergente então ela é de
Cauchy. Reciprocamente, suponhamos que X seja uma sequência de Cauchy. Logo, X é li-
mitada (proposição 6.1.14) e, por isto, possui uma subsequência convergente, de acordo com o
teorema 6.1.21. Agora, da proposição 6.1.20, segue-se a convergência de X. ppppppppppppppppppp
Funções Inversa e Implı́cita 215

6.1.23
Exemplo Seja X = (Xk ) tal que kXk+1 − Xk k ≤ c kXk − Xk−1 k, para todo k ≥ 2, onde
0 ≤ c < 1. No exemplo 6.1.16, vimos que X é de Cauchy. Agora, sabemos um
pouco mais: X é convergente. Não sabemos explicitar o seu limite, mas isso não importa.

6.1.24
Funções Contı́nuas em Conjuntos Compactos

Aqui estudaremos os aspectos topológicos básicos do Rn , os quais precisamos para atingir


nossas metas principais.

6.1.25 [Conjunto Fechado]


Definição Um conjunto F ⊂ Rn é dito fechado (no Rn ) se o seu
complementar cF = Rn − F é aberto em Rn .

6.1.26
Exemplo Abaixo, listamos alguns conjuntos fechados.
(i) O conjunto vazio e o Rn são fechados. De fato, o complementar do vazio é o Rn , enquanto
que o complementar do Rn é o vazio, que são conjuntos abertos;
(ii) se F ⊂ Rn é finito, então F é fechado;
(iii) as bolas fechadas são fechados;
(iv) a esfera S n−1 (a) = {X ∈ Rn ; kXk = a} é um conjunto fechado, visto que seu complemen-
tar é a união da bola aberta B(a) com o aberto D = {X ∈ Rn ; kXk > a};
(v) se F1 , F2 , . . . , Fm ⊂ Rn são fechados, então F = F1 ∪ F2 ∪ · · · ∪ Fm também é fechado;
(vi) a interseção de uma famı́lia qualquer de conjuntos fechados é um conjunto fechado.

6.1.27
Proposição Um conjunto F ⊂ Rn é fechado se, e somente se, o limite de toda sequência
convergente X = (Xk ), com {Xk , k ∈ N} ⊂ F , pertence a F .
Demonstração: Seja X = (Xk ) tal que {Xk , k ∈ N} ⊂ F e Xk −−→ L. Como
c
F = Rn − F é aberto, se L ∈ / F , terı́amos alguma bola aberta B(L, ) ⊂ cF . Portanto, para
algum k0 ∈ N, terı́amos kXk − Lk < , para todo k ≥ k0 . Isto contradiz o fato que os termos
de X estão todos em F . Logo, devemos ter L ∈ F .
Reciprocamente, suponhamos que cF não seja aberto. Logo, existe um ponto P ∈ cF com
a seguinte propriedade: ∀  > 0, ∃ P ∈ F ∩ B(P, ). Em particular, tomando, sucessivamente,
 = 1, 1/2, . . . , 1/k, k ∈ N, obteremos um Pk ∈ F tal que kPk − P k < 1/k. É claro que Pk −→ −
− P
e {Pk , k ∈ N} ⊂ F . Mas P ∈ / F , uma contradição à nossa hipótese. Logo, cF deve ser aberto,
isto é, F é fechado. pppppppppppppppppppppp
216 Preliminares

6.1.28
Proposição Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e X0 ∈ D0 . Então, limX→X0 f (X) = L se, e so-
mente se, f (Xk ) −
−→
− L, para toda X = (Xk ) com {Xk } ⊂ D e Xk −
−→
− X0 .
Demonstração: Suponhamos inicialmente que limX→X0 f (X) = L, e seja X = (Xk ) tal
que {Xk } ⊂ D e Xk −
−→
− X0 . Seja  > 0. De limX→X0 f = L, vem que existe δ > 0 tal que

X ∈ D, 0 < kX − X0 k < δ =⇒ kf (X) − Lk < .

Agora, como Xk −
−→
− X0 , obtemos um k0 ∈ N tal que

k ∈ N, k ≥ k0 =⇒ kXk − X0 k < δ.

Logo, se k ≥ k0 , vale kf (Xk ) − Lk < , o que mostra que f (Xk ) − −→


− L. Reciprocamente, se L
não é limite de f em X0 é possı́vel construir uma sequência X = (Xk ) com termos em D tal que
Xk − − X0 , mas (f (Xk )) não converge para L, o que produz uma contradição. ppppppppppppppppppppp
−→

6.1.29
Corolário Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e X0 ∈ D. Então, f é contı́nua em X0 se, e somente
se, f (Xk ) −
−→
− f (X0 ), para toda X = (Xk ) com {Xk } ⊂ D e Xk −
−→
− X0 .

6.1.30
Corolário Se f : Rn −→ Rm é contı́nua e F ⊂ Rm é fechado, então a imagem inversa de
F através de f , f −1 (F ) = {X ∈ Rn ; f (X) ∈ F }, é fechada em Rn .
Demonstração: Podemos supor que f −1 (F ) é não-vazio. Seja X = (Xk ) uma sequência
em f −1 (F ) tal que Xk −
− L, L ∈ Rn . Como f é contı́nua, segue-se que f (Xk ) −
−→ −→
− f (L). Por
−1
outro lado, Xk ∈ f (F ), k ∈ N, significa que f (Xk ) ∈ F . Logo, f (L) ∈ F , posto que F é
fechado. Resulta daı́ que L ∈ f −1 (F ), o que prova que f −1 (F ) também é fechado. pppppppppppppppppp

6.1.31
Corolário Se f : Rn −→ Rm é contı́nua, então os conjuntos de nı́vel de f são fechados
em Rn .
Demonstração: Dado C ∈ Rm , temos que F = {C} é fechado em Rm . Logo, o conjunto
de nı́vel f −1 (C) é fechado, de acordo com o corolário anterior. ppppppppppppppppppppp

6.1.32
Exemplo Dados X0 ∈ Rn e a > 0, o fato que a esfera S n−1 (X0 , a) é fechada pode ser
obtida, também, observando que ela é o conjunto de nı́vel f −1 (a), da função
contı́nua f (X) = kX − X0 k, X ∈ Rn . Ainda usando f , obtemos que a bola fechada B[X0 , a] é
fechada, pois B[X0 , a] = f −1 ([0, a]), e [0, a] é fechado em R.
Funções Inversa e Implı́cita 217

6.1.33 [Conjunto Limitado]


Definição Um conjunto K ⊂ Rn é dito limitado se está contido
em alguma bola fechada, isto é, existe a > 0 tal que
K ⊂ B[O, a].

6.1.34 [Conjunto Compacto]


Definição Um conjunto K ⊂ Rn é dito compacto se é limitado
e fechado.

6.1.35
Exemplo Temos que
(i) todo conjunto finito é compacto;
(ii) a esfera S n−1 (X0 , a) = {X ∈ Rn ; kX − X0 k = a} e a bola fechada B[X0 , a] são compactos;
(iii) o espaço Rn é ao mesmo tempo aberto e fechado, mas não é compacto;
(iv) um plano no R3 é fechado. Entretanto, não é compacto, porque não é limitado. Mais
geralmente, os hiperplanos do Rn são fechados, mas não são compactos.
Agora, estamos bem próximos de obter o resultado mais importante do Cálculo, no que
tange às funções reais contı́nuas em conjuntos compactos: o famoso Teorema de Weierstrass.

6.1.36
Lema Se f : K ⊂ Rn −→ R é uma função real contı́nua no conjunto compacto K, então f
é limitada.
Demonstração: Provaremos inicialmente que f é limitada superiormente, isto é, existe
M1 > 0 tal que f (X) ≤ M1 , para todo X ∈ K. Suponhamos, por absurdo, que assim não seja.
Logo, dado k ∈ N, deve existir Xk ∈ K tal que f (Xk ) > k. Assim, a sequência real y = (yk ), de
termo geral yk = f (Xk ), é tal que
y1 = f (X1 ) > 1, y2 = f (X2 ) > 2, . . . , yk = f (Xk ) > k, . . .
a qual, claro, não possui subsequência convergente. Por outro lado, a sequência X = (Xk ) é
limitada, pois seus termos pertencem a K. Logo existe X 0 = Xkj , kj ∈ N0 ⊂ N, tal que
− X0 , para algum X0 ∈ Rn . Como K é fechado, segue-se que X0 ∈ K. A continuidade
Xk j −
−→
de f agora garante que a subsequência de y, y 0 = (f (Xkj )), kj ∈ N0 , converge para f (X0 ), o que
é uma contradição ao fato, obtido inicialmente, que y não possui uma tal subsequência. Logo,
devemos mesmo ter f (X) ≤ M1 , para todo X ∈ K, como previmos. Agora considerando −f no
lugar de f , o argumento anterior produz um M2 > 0 tal que −f (X) ≤ M2 , para todo X ∈ K.
Isto posto, vem que
−M2 ≤ f (X) ≤ M1 , ∀ X ∈ K.
Portanto, |f (X)| ≤ M , para todo X ∈ K, onde M = max{M1 , M2 }. pppppppppppppppppppp

Observação Neste ponto, já que pretendemos apresentar uma demonstração para o teorema
de Weierstrass, torna-se inevitável o uso da noção de supremo de um subcon-
218 Preliminares

junto de R. O leitor que não tem experiência alguma com este conceito pode pensar neste
número assim: seja D ⊂ R um conjunto limitado. Então, D ⊂ [α, β]. Agora é só pensar no
menor β com esta propriedade. Ele é o que chamamos de supremo de D, e indicamos por sup D.
Analogamente, o maior α é chamado de ı́nfimo de D, e é denotado por inf D. A existência
desses números, para subconjuntos limitados de R, é o que, na verdade, define R, constituindo,
portanto, a pedra fundamental da Análise Matemática.

6.1.37 [Weierstrass]
Teorema Seja f : K ⊂ Rn −→ R uma função real contı́nua no conjunto
compacto K. Então, existem P, Q ∈ K tais que

f (P ) ≤ f (X) ≤ f (Q), para todo X ∈ K.

Demonstração: Do lema 6.1.36 vem M > 0 tal que f (K) ⊂ [−M, M ]. Logo, f (K)
é um subconjunto limitado de R. Portanto, existem i = inf f (K) e s = sup f (K). Assim,
f (K) ⊂ [i, s], e [i, s] é o menor intervalo fechado contendo f (K). Isto implica que, para cada
k ∈ N, o intervalo fechado [i + 1/k, s − 1/k] não pode conter f (K). Portanto, dado k ∈ N,
devem existir Xk , Yk ∈ K tais que
1 1
i ≤ f (Xk ) < i + e s − < f (Yk ) ≤ s. (¶49 )
k k
A compacidade de K permite-nos extrair uma subsequência de X = (Xk ), X 0 = Xkj , tal que


Xk j −
−→
− P , para algum P ∈ K. Isto, combinado com a primeira desigualdade de (¶49 ), implica
que
1
i ≤ f (Xkj ) ≤ i + .
kj
Passando o limite quando j −−→ ∞, obtemos que f (P ) = i ≤ f (X), para todo X ∈ K.
Analogamente, agora considerando uma subsequência de (Yk ) convergindo para Q ∈ K, vem
que f (Q) = s ≤ f (X), para todo X ∈ K. pppppppppppppppppppppp

6.1.38
Definição Os números reais f (P ) e f (Q) são chamados mı́nimo e máximo de f , respecti-
vamente. Os pontos P e Q (aqui não há unicidade) são chamados, respectiva-
mente, ponto de mı́nimo e ponto de máximo de f em K.

6.1.39
Norma de Uma Aplicação Linear

Seja T : Rn −→ Rm uma aplicação linear. Temos que T é contı́nua, de acordo com o


corolário 3.2.14, página 108. Portanto, também é contı́nua a função composta f (X) = kT (X)k,
Funções Inversa e Implı́cita 219

X ∈ Rn . Como a esfera unitária S n−1 = {X ∈ Rn ; kXk = 1} é compacta, segue-se que f


atinge um valor máximo nesta esfera, isto é, existe X0 ∈ S n−1 tal que
kT (X)k ≤ kT (X0 )k , para todo X ∈ S n−1 .
Isto motiva a seguinte definição.

6.1.40
Definição Seja T : Rn −→ Rm uma aplicação linear. O valor máximo de kT (X)k, X per-
correndo a esfera unitária S n−1 , é chamado norma de T , e é indicado por kT k.
Assim,
kT k = max{kT (X)k ; X ∈ Rn e ||X|| = 1}.

Observação Note que, na definição 6.1.40, estamos usando a mesma notação (k k) para
indicar a norma de uma aplicação linear e a norma euclidiana de um vetor.

6.1.41
Exemplo Seja T : R3 −→ R3 definida por T (x, y, z) = (x, 2y, 3z). Temos que
kT (x, y, z)k2 = x2 + 4y 2 + 9z 2 ≤ 9(x2 + y 2 + z 2 ), ∀ (x, y, z) ∈ R3 .
Em particular, kT (x, y, z)k ≤ 3, se k(x, y, z)k = 1. Como kT (e3 )k = 3, segue-se que kT k = 3.
Mais geralmente, se A = (a1 , a2 , . . . , an ) é uma n-upla constante e T : Rn −→ Rn é o operador
diagonal definido por

T (x1 , x2 , . . . , xn ) = (a1 x1 , a2 x2 , . . . , an xn ), (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn ,

não é difı́cil verificar que kT k = max{|a1 |, |a2 |, . . . , |an |}.

6.1.42
Exemplo Seja f : Rn −→ R um funcional linear (função real linear) não-nulo. Então,
f (X) = A · X, onde A = (f (e1 ), f (e2 ), . . . , f (en )) 6= O. Se X ∈ S n−1 , usando a
desigualdade de Cauchy-Schwarz, obtemos que |f (X)| = |A·X| ≤ kAk . Mas f (X0 ) = kAk, onde
X0 = A/ kAk ∈ S n−1 . Logo, kAk é o máximo de |f (X)|, para X ∈ S n−1 , isto é, kf k = kAk.

6.1.43
Proposição Seja T : Rn −→ Rm uma aplicação linear. Temos que:
(i) kT (X)k ≤ kT k kXk, ∀ X ∈ Rn ;
(ii) se M ≥ 0 é constante e kT (X)k ≤ M kXk, para todo X ∈ Rn , então kT k ≤ M . (Isto
significa que kT k é a menor constante de Lipschitz de T .)
Demonstração: Para (i), podemos supor que X 6= O. Logo, kT (X/ kXk)k ≤ kT k, o
que vem da definição de kT k. Donde kT (X)k ≤ kT k kXk, o que estabelece (i).
Suponhamos, agora, que kT (X)k ≤ M kXk, ∀ X ∈ Rn . Logo, kT (X)k ≤ M , se kXk = 1.
Em particular, kT (X0 )k ≤ M , onde X0 ∈ S n−1 é um ponto onde kT (X)k atinge seu valor
máximo, para X ∈ S n−1 . Portanto, kT k ≤ M . pppppppppppppppppppppp
220 Preliminares

O corolário a seguir mostra que o espaço das aplicações lineares do Rn no Rm , o qual é


indicado por L(Rn , Rm ), é um espaço vetorial normado.

6.1.44
Corolário A aplicação η : L(Rn , Rm ) −→ [0, +∞), definida por η(T ) = kT k, é uma norma
em L(Rn , Rm ), isto é,

(i) kT k = 0 se, e somente se, T é a aplicação linear nula;


(ii) kaT k = |a| kT k, ∀ T ∈ L(Rn , Rm ) e ∀ a ∈ R;
(iii) kS + T k ≤ kSk + kT k, ∀ S, T ∈ L(Rn , Rm ).
Demonstração: É claro que kOk = 0, onde O é a aplicação linear nula de L(Rn , Rm ).
Se kT k = 0, então kT (X)k = 0, para todo X ∈ Rn , visto que kT (X)k ≤ kT k kXk, de acordo
com (i) da proposição 6.1.43. Logo, T (X) = O, para todo X ∈ Rn , isto é, T é a aplicação linear
nula, o elemento neutro de L(Rn , Rm ). Segue-se, portanto, (i).
Sejam T ∈ L(Rn , Rm ) e a ∈ R. Como k(aT )(X)k = |a| kT (X)k, vem que se X0 ∈ S n−1
é um ponto onde kT (X)k atinge o seu máximo em S n−1 , vem que, em X0 , o mesmo acontece
com k(aT )(X)k. Logo, kaT k = |a| kT k, como queremos em (ii).
Para obter (iii), sejam S, T ∈ L(Rn , Rm ). Temos que

k(S + T )(X)k = kS(X) + T (X)k ≤ kS(X)k + kT (X)k ≤ (kSk + kT k) kXk , ∀ X ∈ Rn .

Agora, usando o item (ii) da proposição 6.1.43, obtemos que kS + T k ≤ kSk + kT k. ppppppppppppppppppppp

6.1.45
Corolário Se T ∈ L(Rn , Rm ) e S ∈ L(Rm , Rp ), então S ◦ T ∈ L(Rn , Rp ), e vale a desi-
gualdade kS ◦ T k ≤ kSk kT k.
Demonstração: O fato que S ◦ T ∈ L(Rn , Rp ) segue-se do lema 5.2.8, item (i). Vejamos
o que falta. Dado X ∈ Rn , temos que k(S ◦ T )(X)k ≤ kSk kT (X)k ≤ (kSk kT k) kXk . Logo,
kS ◦ T k ≤ kSk kT k. pppppppppppppppppppppp

Agora, vejamos algumas desigualdades úteis, envolvendo a matriz de uma aplicação li-
near T e sua norma.

6.1.46
Corolário Seja T ∈ L(Rn , Rm ), com matriz M (T ) = (aij )m×n , conforme definição 1.5.4.
Valem as seguintes desigualdades:

(i) |aij | ≤ kT k, 1 ≤ i ≤ m e 1 ≤ j ≤ n;
v ! v !
u n m u m n
uX X uX X
(ii) kT k ≤ t a2ij = t a2ij .
j=1 i=1 i=1 j=1
Funções Inversa e Implı́cita 221

Demonstração: Da definição de M (T ) segue-se que a j-ésima coluna de M (T ) é dada


pelo vetor T (ej ). Logo, aij = T (ej ) · ei e, portanto, |aij | ≤ kT (ej )k ≤ kT k, o que prova a
primeira desigualdade.
Dada uma n-upla X, temos que
kT (X)k2 = (M (T )1 · X)2 + (M (T )2 · X)2 + · · · + (M (T )m · X)2 ,
onde M (T )i = (ai1 ai2 . . . ain ), i = 1, 2, . . . , m, indica a i-ésima linha de M (T ). Aplicando a
desigualdade de Cauchy-Schwarz a cada parcela desta última identidade, vem que

kT (X)k2 ≤ kM (T )1 k2 kXk2 + kM (T )2 k2 kXk2 + · · · + kM (T )m k2 kXk2


≤ (kM (T )1 k2 + kM (T )2 k2 + · · · + kM (T )m k2 ) kXk2 .

Da proposição 6.1.43, item (ii), agora segue-se que


v !
q u m n
X X
kT k ≤ kM (T )1 k2 + kM (T )2 k2 + · · · + kM (T )m k2 = t
u
a2ij ,
i=1 j=1

o que termina a prova. pppppppppppppppppppppp

6.1.47
Definição Uma aplicação linear injetiva (e, portanto, sobrejetiva) T : Rn −→ Rn é cha-
mada isomorfismo.

A seguinte proposição estabelece outras formas equivalentes para a noção de isomorfismo.

6.1.48
Proposição Seja T ∈ L(Rn , Rn ). As alternativas abaixo são equivalentes.
(i) T é um isomorfismo;
(ii) N (T ) = {O};
(iii) existe T −1 : Rn −→ Rn , que também é linear;
(iv) det M (T ) 6= 0;
(v) existe d > 0 tal que kT (X)k ≥ d kXk, ∀ X ∈ Rn .
Demonstração: A equivalência das quatro primeiras alternativas é um fato bem co-
nhecido da Álgebra Linear. Portanto, apresentaremos apenas a prova da equivalência entre (i)
e (v).
Se T é um isomorfismo, então existe T −1 , que também é linear. Logo,
−1
T (Y ) ≤ T −1 kY k , para todo Y ∈ Rn ,

onde kT −1 k > 0, pois T −1 não é o operador nulo. Pondo Y = T (X), X ∈ Rn , resulta daı́ que
kXk ≤ T −1 kT (X)k , para todo X ∈ Rn ,

222 Preliminares

o que implica que kT (X)k ≥ d kXk , onde d = 1/ kT −1 k > 0. Reciprocamente, se


kT (X)k ≥ d kXk , ∀ X ∈ Rn ,
então T (X) = O implica que kXk = 0, isto é, X = O. Logo, T é um isomorfismo. pppppppppppppppppppp

Observação A norma que acabamos de construir em L(Rn , Rm ) permite que as noções de


bola aberta (definição 3.1.1) e conjunto aberto (definição 4.1.1), introduzidas
nos capı́tulos 3 e 4, para o espaço euclidiano Rn , se estendam a este novo ambiente.

6.1.49
Definição Sejam S ∈ L(Rn , Rm ) e a > 0.
(i) O conjunto
B(S, a) = {T ∈ L(Rn , Rm ); kT − Sk < a} = {T ∈ L(Rn , Rm ); max kT (X) − S(X)k < a}
||X||=1

é chamado bola aberta de centro S e raio a.


(ii) O conjunto
B[S, a] = {T ∈ L(Rn , Rm ); kT − Sk ≤ a} = {T ∈ L(Rn , Rm ); max kT (X) − S(X)k ≤ a}
||X||=1

é chamado bola fechada de centro S e raio a.

6.1.50
Definição Um conjunto D ⊂ L(Rn , Rm ) é dito aberto se D = ∅ ou dado S ∈ D existe
δ > 0, que pode depender de S, tal que B(S, δ) ⊂ D.

6.1.51
Teorema Seja T ∈ L(Rn , Rn ) um isomorfismo com inversa T −1 . Se d = 1/ kT −1 k, então os
elementos de B(T, d) são todos isomorfismos.
Demonstração: Seja S ∈ B(T, d). Isto significa que kS − T k < d. Dado X ∈ Rn ,
temos que
kS(X) − T (X)k = k(S − T )(X)k ≤ kS − T k kXk .
Por outro lado,
kS(X)k = kS(X) − T (X) + T (X)k ≥ kT (X)k − kS(X) − T (X)k ,
o que, combinado com a desigualdade anterior, produz
kS(X)k ≥ kT (X)k − kS − T k kXk ≥ d kXk − kS − T k kXk = d1 kXk ,
onde
d1 = d − kS − T k > 0. (¶50 )
Logo, S é um isomorfismo. ppppppppppppppppppp
Funções Inversa e Implı́cita 223

6.1.52
Corolário O conjunto dos isomorfismos de L(Rn , Rn ), o qual é indicado por Gl(n), é
aberto em L(Rn , Rn ).

Observação No momento que dispomos de uma norma em um espaço vetorial, as noções


de conjunto aberto, limite e continuidade surgem naturalmente, exatamente
como fizemos para o espaço Rn . Estas noções podem, portanto, ser adaptadas para o espaço
L(Rn , Rm ), simplesmente imitando aquilo que fizemos para o Rn , sem mudança alguma, já que
mantemos a mesma notação para indicar a norma deste ambiente.
O próximo corolário dá um exemplo não-trivial de aplicação contı́nua definida num sub-
conjunto de L(Rn , Rm ), a saber, a inversão em Gl(n).

6.1.53
Corolário A aplicação Φ : Gl(n) −→ Gl(n), definida por Φ(S) = S −1 , é um homeomor-
fismo.
Demonstração: Dadas S, T ∈ Gl(n), não é difı́cil verificar que

T −1 − S −1 = S −1 ◦ (S − T ) ◦ T −1 .

Logo,
−1
S − T −1 = T −1 − S −1 ≤ S −1 kS − T k T −1 ,

o que resulta do corolário 6.1.45. Assim,

kΦ(S) − Φ(T )k ≤ S −1 kS − T k T −1 .

Como queremos mostrar que limS→T Φ(S) = Φ(T ), podemos supor que S ∈ B(T, d), onde
d = 1/ kT −1 k, como no teorema 6.1.51. Desta forma, kS(X)k ≥ d1 kXk, ∀ X ∈ Rn , onde d1 é
dado em (¶50 ) (teorema 6.1.51). Isto implica que kS −1 (Y )k ≤ (1/d1 ) kY k, para todo Y ∈ Rn .
Logo, kS −1 k ≤ 1/d1 e

kΦ(S) − Φ(T )k ≤ kS −1 k kS − T k kT −1 k
−1
T
≤ kS − T k
d1
T −1 2

= kS − T k .
1 − kS − T k T −1

Logo, limS→T Φ(S) = Φ(T ), o que prova que Φ é contı́nua. Como Φ−1 = Φ, segue-se que Φ é
um homeomorfismo. ppppppppppppppppppp
224 Contrações, Pontos Fixos e Perturbações

6.2
Contrações, Pontos Fixos e Perturbações

Nesta seção, estaremos particularmente interessados nas funções vetoriais lipschitzianas


(veja definição 3.2.7) da forma f : D ⊂ Rn −→ Rn , com constante de Lipschitz menor do que 1,
conhecidas como contrações.

6.2.1 [Contração]
Definição Uma função vetorial f : D ⊂ Rn −→ Rn é dita uma contração se
existe c ∈ [0, 1) tal que

kf (X) − f (Y )k ≤ c kX − Y k , ∀ X, Y ∈ D.

A contração f também é chamada de c-contração, quando queremos destacar sua constante de


Lipschitz c.

Observação É claro que toda contração é contı́nua, de acordo com o teorema 3.2.13, página 107.

6.2.2
Exemplo Seja f : R2 −→ R2 definida por
 
cos x + sen y cos y − sen x
f (x, y) = , .
8 8

1
Temos que f é uma -contração. De fato, se X = (x, y) e Y = (u, v), temos que
2

 
cos x − cos u + sen y − sen v cos y − cos v − sen x + sen u
kf (X) − f (Y )k = ,
8 8
| cos x − cos u| + | sen y − sen v| | cos y − cos v| + | − sen x + sen u|
≤ +
8 8
|x − u| + |y − v| 2 kX − Y k 1
≤ ≤ = kX − Y k .
4 4 2

2
Na realidade, como veremos no exemplo 6.2.5, f é uma -contração.
8
O seguinte resultado, conhecido como desigualdade do valor médio, é uma boa fonte de
funções lipschitzianas. Note que ele estende o teorema 2.2.11 para funções vetoriais quaisquer
com derivadas limitadas por uma mesma constante.
Funções Inversa e Implı́cita 225

6.2.3
Teorema Seja f : D ⊂ Rn −→ Rm uma aplicação diferenciável no aberto convexo D. Se
kf 0 (X)k ≤ M , para todo X ∈ D, então
kf (Y ) − f (X)k ≤ M kY − Xk , ∀ X, Y ∈ D.
Demonstração: Sejam X, Y ∈ D. Como
D é convexo, vem que a curva parametrizada
Rm
α : [0, 1] −−
−→
−− D D q f (Y )
q q q qq q q q q
q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
t −−−−−→ α(t) = X + t(Y − X) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqY qqqqqqqqqqqqqqqq
q q α- qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq f-
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
0 0 1 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q f (X)
está bem definida e, claro, α (t) = Y − X, para X
todo t ∈ (0, 1). Note que tr α é o segmento de reta β =f ◦α 6
que liga X a Y . Desta forma podemos compor f
com α e construir β : [0, 1] −→ Rm definida por Figura 84

β(t) = f (α(t)) = f (X + t(Y − X)), 0 ≤ t ≤ 1.

O teorema 2.2.11, aplicado a β, produz c ∈ (0, 1) tal que kβ(1) − β(0)k ≤ kβ 0 (c)k . Mas
β(1) − β(0) = f (Y ) − f (X) e β 0 (t) = f 0 (α(t))(α0 (t)).
Logo,
kf (Y ) − f (X)k ≤ kf 0 (α(c))(Y − X)k ≤ kf 0 (α(c))k kY − Xk ≤ M kY − Xk ,
como querı́amos provar. pppppppppppppppppppppp

6.2.4
Corolário Seja f : D ⊂ Rn −→ Rn uma aplicação diferenciável no aberto convexo D. Se
kf 0 (X)k ≤ c < 1, para todo X ∈ D, então f é uma c-contração.

6.2.5
Exemplo Podemos combinar este corolário com o corolário 6.1.46 para mostrar que
 
cos x + sen y cos y − sen x
f (x, y) = , , (x, y) ∈ R2
8 8

2
é uma -contração, como observamos no exemplo 6.2.2. De fato, temos que
8
 
1 − sen x cos y
Jf (x, y) = , (x, y) ∈ R2 .
8 − cos x − sen y
Agora, usando (ii) do corolário 6.1.46, vem que
1p 1√
kf 0 (x, y)k ≤ (− sen x)2 + (cos y)2 + (− cos x)2 + (− sen y)2 = 2,
8 8
O corolário 6.2.4 completa o exemplo.
226 Contrações, Pontos Fixos e Perturbações

6.2.6 [Ponto Fixo]


Definição Seja f : D ⊂ Rn −→ Rn uma função vetorial. Um ponto P ∈ D é
dito ponto fixo de f se f (P ) = P .

6.2.7
Exemplo A origem O ∈ Rn é ponto fixo de toda aplicação linear T : Rn −→ Rn . Os pon-
tos fixos não-triviais de T , caso existam, são os autovetores de T associados ao
autovalor 1.

6.2.8
Exemplo A aplicação f : R2 −→ R2 , dada por f (x, y) = (x2 , y2 ) tem exatamente 4 pontos
fixos, a saber: P1 = (0, 0), P2 = (1, 0), P3 = (0, 1) e P4 = (1, 1).

6.2.9
Exemplo Toda função contı́nua f : [a, b] −→ [a, b] tem pelo menos um ponto fixo. Com
efeito, se f (a) = a ou f (b) = b, não há nada a provar. Logo, podemos supor que
f (a) > a e f (b) < b. Isto implica que g(x) = f (x) − x é uma função contı́nua tal que g(a) > 0
e g(b) < 0. O teorema do valor intermediário garante, portanto, que existe c ∈ (a, b) tal que
g(c) = 0, isto é, f (c) = c.

6.2.10
Teorema Sejam F ⊂ Rn um subconjunto fechado, e f : F −→ F uma c-contração. Então,
f tem um único ponto fixo.
Demonstração: Começamos escolhendo um ponto X0 ∈ F . Agora definimos, indutiva-
mente, uma sequência com termos em F do seguinte modo: X1 = f (X0 ), e Xk+1 = f (Xk ), se
k ≥ 1. Desta forma, temos

X1 = f (X0 ), X2 = f (X1 ) = f (f (X0 )) = f 2 (X0 ), , . . . , Xk+1 = f k+1 (X0 ), . . .

Logo,
kXk+1 − Xk k = kf (Xk ) − f (Xk−1 )k ≤ c kXk − Xk−1 k .

Do exemplo 6.1.16, segue-se que X = (Xk ) é de Cauchy e, portanto, converge, de acordo com
o teorema de Cauchy (teorema 6.1.22). Seja P ∈ Rn o limite de X. Como estamos supondo
F fechado, vem que P ∈ F . Afirmamos que P é o único ponto fixo de f . Com efeito, como
Xk+1 = f (Xk ), podemos escrever Yk = f (Xk ), onde Y = (X2 , X3 , . . .). É claro que Yk −
−→
− P.
Donde, P = limk→∞ f (Xk ). Como f é contı́nua (toda contração é contı́nua), segue-se que
limk→∞ f (Xk ) = f (P ). Logo, f (P ) = P . Quanto à unicidade, se Q é outro ponto fixo de f ,
temos que
kQ − P k = kf (Q) − f (P )k ≤ c kQ − P k ,

o que, combinado com o fato 0 ≤ c < 1, produz 0 ≤ (1 − c) kQ − P k ≤ 0, isto é, P = Q. pppppppppppppppppppppp


Funções Inversa e Implı́cita 227

6.2.11
Corolário Seja f : D ⊂ Rn −→ Rn uma aplicação diferenciável no aberto convexo D. Se
kf 0 (X)k ≤ c < 1, para todo X ∈ D, e F ⊂ D é um fechado de Rn tal que
f (F ) ⊂ F , então f tem um único ponto fixo em F .
Demonstração: Dados X, Y ∈ F ⊂ D, temos que kf (Y ) − f (Y )k ≤ c kY − Xk , o que
resulta do teorema 6.2.3. Este fato, combinado com f (F ) ⊂ F , implica que f : F −→ F é uma
contração bem definida e, portanto, tem um único ponto fixo. pppppppppppppppppppp

6.2.12 √
Exemplo Retomemos a 2/8-contração do exemplo 6.2.5, dada por
 
cos x + sen y cos y − sen x
f (x, y) = , .
8 8

Se aplicamos o algoritmo da demonstração do teorema do ponto fixo a f , começando com


X0 = (0, 0), e fazendo k variar até 15, obtemos a seguinte tabela, calculada com o programa
Mathematica, usando 20 casas decimais. (Como usamos a vı́rgula como separador decimal,
as duplas na tabela são mostradas com um ponto-e-vı́rgula separando suas coordenadas.)

k Xk = f k (0, 0)
0 (0, 0)
1 (0, 12500000000000000000 ; 0, 12500000000000000000)
2 (0, 13960905007681959289 ; 0, 10844036673051267040)
3 (0, 13731230448242846210 ; 0, 10638931197319336699)
4 (0, 13709702453901508203 ; 0, 10671328173834921699)
5 (0, 13714097169963805632 ; 0, 10674361943957237641)
6 (0, 13714399144364563149 ; 0, 10673742671533045409)
7 (0, 13714317015396705164 ; 0, 10673700118671142724)
8 (0, 13714313130083320978 ; 0, 10673711691922148597)
9 (0, 13714314634903706627 ; 0, 10673712239423152888)
10 (0, 13714314677235669673 ; 0, 10673712027370588905)
11 (0, 13714314650156528447 ; 0, 10673712021405357812)
12 (0, 13714314649877879097 ; 0, 10673712025221229404)
13 (0, 13714314650356910426 ; 0, 10673712025260495426)
14 (0, 13714314650353604481 ; 0, 10673712025192992471)
15 (0, 13714314650345271127 ; 0, 10673712025193458330)

Portanto, P = (0, 137143146503 . . . ; 0, 1067371202519 . . .) é a representação decimal do ponto


fixo de f .
228 Contrações, Pontos Fixos e Perturbações

6.2.13
Exemplo Seja f : R −→ R definida por f (x) = π + x − arctg x. Temos que
x2

0
1
|f (x)| = 1 − = < 1, ∀ x ∈ R.
1 + x2 1 + x2
Note que f não tem pontos fixos. De fato, se f (x) = x, para algum x, terı́amos arctg x = π, o
que é impossı́vel. Isto mostra que a condição kf 0 (X)k ≤ c < 1, no corolário 6.2.11, é essencial
para garantir a existência de um ponto fixo.

6.2.14 [Perturbação]
Definição Dadas as funções vetoriais g, φ : D ⊂ Rn −→ Rn , onde φ é uma
c-contração, a função f : D −→ Rn , f (X) = g(X) + φ(X), é
chamada perturbação de g através de φ. Quando g(X) = X, X ∈ D, isto é, g é a restrição da
identidade a D, f é chamada perturbação da identidade.

6.2.15 [Fundamental das Perturbações]


Teorema Sejam φ : D ⊂ Rn −→ Rn uma c-con-
tração definida no conjunto aberto
D, e f (X) = X + φ(X) a perturbação da identidade (determinada por φ). Valem os seguintes
resultados.

(i) f é injetiva e f −1 : f (D) −→ D é lipschitziana. Em particular, f −1 é contı́nua;


(ii) fixado Y ∈ Rn , a aplicação ψY (X) = Y − φ(X), X ∈ D, ainda é uma c-contração;
(iii) dado X0 ∈ D, seja r > 0 tal que B[X0 , r] ⊂ D, o qual existe porque D é aberto. Para
este r, construı́mos s = (1 − c)r > 0.
(a) Se Y ∈ B(Y0 , s), Y0 = f (X0 ), então ψY (B[X0 , r]) ⊂ B[X0 , r];
(b) existe P ∈ B[X0 , r] tal que ψY (P ) = P ;
(c) B(Y0 , s) ⊂ f (D);
(iv) f (D) é um subconjunto aberto do Rn .

Demonstração:

(i) Dados X, Y ∈ D, temos que

kf (X) − f (Y )k = k(X − Y ) − (φ(Y ) − φ(X))k ≥ kX − Y k − kφ(X) − φ(Y )k


≥ kX − Y k − c kX − Y k = (1 − c) kX − Y k .
Logo, se f (X) = f (Y ), devemos ter X = Y , isto é, f é injetiva. Portanto, existe f −1 ,
definida na imagem de f , E = f (D). Agora, se V, W ∈ E, temos que V = f (X) e
W = f (Y ), para alguns X, Y ∈ D. Logo,
f (V ) − f −1 (W ) = kX − Y k ≤ 1 kf (X) − f (Y )k = 1 kV − W k .
−1
1−c 1−c
Segue-se, portanto, que f −1 é lipschitziana com constante de Lipschitz dada por 1/(1 − c).
Funções Inversa e Implı́cita 229

(ii) Dados X, Z ∈ D, kψY (X) − ψY (Z)k = kφ(X) − φ(Z)k ≤ c kX − Zk.


(iii)
(a) Sejam X ∈ B[X0 , r] e Y ∈ B(f (X0 ), s). Temos que

kψY (X) − X0 k = kY − φ(X) − X0 k = kY − φ(X0 ) + φ(X0 ) − φ(X) − X0 k


= kY − f (X0 ) + φ(X0 ) − φ(X)k ≤ kY − f (X0 )k + kφ(X) − φ(X0 )k
≤ s + c kX − X0 k ≤ s + cr = r.

Logo, ψY (X) ∈ B[X0 , r].


(b) Temos que B[X0 , r] é fechado do Rn e ψY é uma c-contração que leva B[X0 , r] nela
mesma. O teorema 6.2.10 garante que existe P ∈ B[X0 , r] tal que ψY (P ) = P .
(c) Seja Y ∈ B(Y0 , s), então, por (b), existe P ∈ B[X0 , r] ⊂ D tal que ψY (P ) = P . Isto
implica que Y = P + φ(P ) = f (P ). Donde Y ∈ f (D). Logo, B(Y0 , s) ⊂ f (D).
(iv) Seja Y0 ∈ f (D). Logo, Y0 = f (X0 ) para um único X0 ∈ D. Segue-se de (iii), subitem (c),
que B(Y0 , s) ⊂ f (D). Logo, f (D) é aberto. pppppppppppppppppppppp

6.2.16 [Homeomorfismo]
Definição Uma bijeção contı́nua f : D ⊂ Rn −→ E ⊂ Rn é dita um
homeomorfismo se sua inversa f −1 : E −→ D é contı́nua.
Neste caso, também dizemos que f é um homeomorfismo de D sobre E.

6.2.17
Corolário Sejam φ : D ⊂ Rn −→ Rn uma c-contração definida no conjunto aberto D, e
f (X) = X + φ(X) a perturbação da identidade (determinada por φ). Então, f
é um homeomorfismo de D sobre sua imagem f (D). Mais ainda, se D = Rn , então f (D) = Rn .
Demonstração: A primeira parte já está pronta. Falta provar que f (D) = Rn , quando
D = Rn . Para isto, seja Y0 = f (X0 ) ∈ f (D). Na prova de (iv) do teorema 6.2.15, vimos que
B(Y0 , r) ⊂ f (D), se r = (1 − c)s, onde s é tal que B[X0 , s] ⊂ D. Como D = Rn , s pode ser
feito arbitrariamente grande. Portanto, r = (1 − c)s também fica arbitrariamente grande. Isto
implica que B(Y0 , r) ⊂ f (D), para todo r > 0. Logo, f (D) = Rn . pppppppppppppppppppp

6.2.18
Exemplo Seja f : R2 −→ R2 , definida por
 
cos x + sen y cos y − sen x
f (x, y) = x+ ,y + .
8 8

Então, f é um homeomorfismo de R2 sobre R2 . De fato, f é uma perturbação da identidade.


230 O Teorema da Função Inversa

6.2.19 [Perturbação do Isomorfismo]


Corolário Sejam T : Rn −→ Rn um isomorfismo e
h : D −→ Rn , D ⊂ Rn aberto, uma função
lipschitziana com constante de Lipschitz M , 0 ≤ M < 1/ kT −1 k. Então, f : D −→ Rn , definida
por f (X) = T (X) + h(X), é um homeomorfismo de D sobre o aberto f (D). Além disto, se
D = Rn , então f (D) = Rn .
Demonstração: Seja g : D −→ Rn a composta
Rn
de T −1 com f , como mostra o diagrama ao lado. Assim,
dado X ∈ D,  6
f
g(X) = T −1 (T (X) + h(X)) = X + T −1 (h(X)). T T−1

Afirmamos que φ : D −→ Rn , ?
g = T −1 ◦ f
D - Rn
φ(X) = (T −1 ◦ h)(X) = T −1 (h(X)),

é uma c-contração, onde c = M kT −1 k < 1. Com efeito, dados X, Y ∈ D, temos que


kφ(Y ) − φ(X)k = T −1 (h(Y )) − T −1 (h(X)) ≤ T −1 kh(Y ) − h(X)k ≤ M T −1 kY − Xk ,

como afirmamos. Resulta daı́ que g é uma perturbação da identidade e, portanto, é um homeo-
morfismo sobre sua imagem g(D), que é aberto em Rn , de acordo com o corolário 6.2.17. Como
f = T ◦ g, segue-se a afirmação sobre f . pppppppppppppppppppppp

6.2.20
Corolário Se T : Rn −→ Rn é um isomorfismo e h : D ⊂ Rn −→ Rn é diferenciável no
aberto convexo D e kh0 (X)k ≤ M < 1/ kT −1 k, para todo X ∈ D, então
f : D −→ Rn , f (X) = T (X) + h(X), é um homeomorfismo de D sobre o aberto f (D). Além
disto, se D = Rn , então f (D) = Rn .
Demonstração: Do teorema 6.2.3 segue-se que h é lipschitziana com constante de
Lipschitz M , 0 ≤ M < 1/ kT −1 k. Agora, é só aplicar o corolário 6.2.19. pppppppppppppppppppp

6.3
O Teorema da Função Inversa

Seja f : D ⊂ Rn −→ Rn uma aplicação diferenciável no aberto D. Supondo que o conjunto


E = f (D) é aberto e f é injetiva, podemos construir a inversa de f , definida assim:

f −1 : E −− −→
−− D
Y −−−−−→ f −1 (Y ) = X,
Funções Inversa e Implı́cita 231

onde X ∈ D é a única n-upla tal que f (X) = Y . Desta definição, segue-se facilmente que f −1 ◦
f = Id, onde Id é a aplicação identidade de D: Id(X) = X, X ∈ D. Agora, supondo, também,
que f −1 é diferenciável, podemos usar a regra da cadeia para concluir que, no ponto Y = f (X),
vale (f −1 )0 (Y ) ◦ f 0 (X) = Id, onde Id é a aplicação (linear) identidade do Rn . Isto implica que
(f −1 )0 (Y ) = (f 0 (X))−1 ou, em termos de matrizes jacobianas, J(f −1 )(Y ) = (Jf (X))−1 .
A força do teorema da função inversa está no fato de que, para uma função f de classe C 1 ,
pelo menos localmente, tanto a injetividade de f quanto a diferenciabilidade de f −1 são con-
sequências da invertibilidade da derivada de f .
A próxima proposição exibe outro exemplo não-trivial de aplicação contı́nua, envolvendo
o espaço L(Rn , Rm ).

6.3.1
Proposição Uma função f : D ⊂ Rn −→ Rm , f (X) = (f1 (X), f2 (X), . . . , fm (X)), é de
classe C 1 se, e somente se, a derivada de f , f 0 : D −→ L(Rn , Rm ), é contı́nua.
Demonstração: Suponhamos que f é de classe C 1 . Isto implica que as mn funções
∂fj
reais 1 ≤ i ≤ n, 1 ≤ j ≤ m, são contı́nuas em D. Fixemos X0 ∈ D. Logo, dado  > 0,
∂xi
,
podemos achar δ > 0 tal que

∂fj ∂fj 
X ∈ D, kX − X0 k < δ =⇒
(X) − (X0 ) < √ , 1 ≤ i ≤ n, 1 ≤ j ≤ m.
∂xi ∂xi mn

Agora, usando o corolário 6.1.46, obtemos que


v
u n m  2 ! r
uX X ∂f j ∂f j 2
kf 0 (X) − f 0 (X0 )k ≤ t (X) − (X0 ) < mn = , se kX − X0 k < δ.
j=1 i=1
∂x i ∂x i mn

Logo, f 0 é contı́nua em X0 . Como X0 é arbitrário, segue-se a continuidade de f 0 em D.


Reciprocamente, suponhamos que f 0 seja contı́nua em X0 ∈ D. Logo, dado  > 0, existe
δ > 0 tal que
X ∈ D, kX − X0 k < δ =⇒ kf 0 (X) − f 0 (X0 )k < .

Assim, se kX − X0 k < δ, X ∈ D, vem que, para 1 ≤ i ≤ n, 1 ≤ j ≤ m,



∂fj ∂f j ≤ kf 0 (X) − f 0 (X0 )k < ,


∂xi (X) − (X 0 )
∂xi

em D. pppppppppppppppppppppp
∂fj
o que prova a continuidade das ∂xi

6.3.2 [Difeomorfismo]
Definição Sejam D e E abertos do Rn . Uma bijeção f : D −→ E é um
difeomorfismo se é diferenciável e tem inversa diferenciável.
232 O Teorema da Função Inversa

6.3.3 [Coordenadas Polares]


Exemplo Seja f : R2 −→ R2 , definida por

f (r, θ) = (x, y) = (r cos θ, r sen θ).

É claro que f não é injetiva, pois, por exemplo, f (1, 0) = f (1, 2π). Também f (0, θ) = (0, 0),
para todo θ. Se D = (0, +∞) × (−π/2, π/2), não é difı́cil verificar que a restrição de f a D é
injetiva e tem imagem E = {(x, y); x > 0}. Uma computação direta mostra que

f −1 : E −−
−→
−− D
p y
(x, y) −−−−−→ f −1 (x, y) = (r, θ) = ( x2 + y 2 , arctg( ))
x
é a inversa de f : D −→ E. Tanto f quanto f −1 são de classe C ∞ . Logo, f é um difeomorfismo
de D sobre E. Na realidade, f define um difeomorfismo de (0, +∞) × (0, 2π) sobre o aberto √
R2 − {O}, conforme o exercı́cio 6-5. Considerando X0 = (2, π/3) e Y0 = f (X0 ) = (1, 3),
calcularemos as matrizes jacobianas Jf (X0 ) e Jf −1 (Y0 ). Temos que
   
x y
cos θ −r sen θ −1
p 2
 x + y2
p
x

2 + y2 
Jf (r, θ) = 

 e Jf (x, y) = 
 .
 y x 
sen θ r cos θ − 2 2 2 2
x +y x +y
Em particular,

   

 1 − 3  1 3
 2 √
 e Jf −1 (1, 3) =  2 2 
 
Jf (2, π/3) = √   √
.

 3   3 1 
1 −
2 4 4

Note que Jf −1 (1, 3) = (Jf (2, π/3))−1 , como esperávamos, diante da conversa que tivemos no
inı́cio desta seção. Mais geralmente, em Y = f (r, θ), temos
   
r cos θ r sen θ
  cos θ sen θ 
Jf −1 (Y ) =  r r = −1

 r sen θ r cos θ   sen θ cos θ  = (Jf (r, θ)) .

− 2 −
r r2 r r

Enfim, o teorema da função inversa.

6.3.4 [Função Inversa]


Teorema Seja f : D ⊂ Rn −→ Rn uma função de classe C 1 . Se f 0 (X0 )
é um isomorfismo, então existe δ > 0 tal que a restrição de f
à bola aberta B(X0 , δ) é um difeomorfismo de classe C 1 sobre o aberto E = f (B(X0 , δ)). Além
disto, se Y = f (X) ∈ E, então (f −1 )0 (Y ) = (f 0 (X))−1 e J(f −1 )(Y ) = (Jf (X))−1 .
Funções Inversa e Implı́cita 233

Demonstração: Como f 0 (X0 ) ∈ Gl(n), temos que

kf 0 (X0 )(X)k ≥ d0 kXk , ∀ X ∈ Rn ,

onde d0 = 1/ kf 0 (X0 )−1 k, como mostra a proposição 6.1.48. Dado X ∈ D, podemos escrever

f (X) = f 0 (X0 )(X) + f (X) − f 0 (X0 )(X).

A idéia agora é mostrar que a diferença h = f − f 0 (X0 ) induz uma perturbação de f 0 (X0 ). Feito
isto, o teorema é facilmente concluı́do. Como f é de classe C 1 , vem da proposição 6.3.1 que
existe δ > 0 tal que B(X0 , δ) ⊂ D e

X ∈ B(X0 , δ) =⇒ kf 0 (X) − f 0 (X0 )k < M,

onde M = d0 /2. Note que, nestas condições, todas as f 0 (X), X ∈ B(X0 , δ), são isomorfismos.
De fato, é só aplicar o teorem 6.1.51. Portanto, se X ∈ B(X0 , δ), vale
d0 1
kh0 (X)k = kf 0 (X) − f 0 (X0 )k < M = < 0 ,
2 kf (X0 )−1 k
o que implica que f pode ser olhada como uma perturbação de f 0 (X0 ) no aberto e convexo
B(X0 , δ). Isto posto, vem que

f : B(X0 , δ) −→ f (B(X0 , δ))

é um homeomorfismo e E = f (B(X0 , δ)) é aberto, o que decorre do corolário 6.2.20. Falta


mostrar que f −1 : E −→ B(X0 , δ) é diferenciável. Convém observar que ela já é contı́nua.
Sejam Y ∈ E e K ∈ Rn − {O} tal que Y + K ∈ E. Logo, existem X ∈ B(X0 , δ) e H 6= O,
tais que X + H ∈ B(X0 , δ), f (X) = Y e f (X + H) = Y + K. A continuidade de f −1 mostra
que quando K −→ O, H −→ O. De fato,

lim H = lim (X − f −1 (Y + K)) = X − f −1 (Y ) = O. (¶51 )


K→O K→O

Temos que
r(H)
f (X + H) = f (X) + T (H) + r(H), onde T = f 0 (X) e lim = O,
H→O kHk

pois f é diferenciável. Logo,

Y + K = f (X + H) = Y + T (H) + r(H)

e, portanto, K = T (H) + r(H). Donde, H = T −1 (K) − T −1 (r(H)). Assim,

f −1 (Y + K) = X + H = f −1 (Y ) + S(K) + s(K),

onde S = T −1 , que é linear, e s(K) = −S(r(H)). Agora, vem algo delicado: devemos mostrar
que lim s(K)/ kKk = O. Observando que
K→O

ks(K)k kHk ks(K)k kHk kSk kr(H)k kHk kr(H)k


= ≤ = kSk ,
kKk kKk kHk kKk kHk kKk kHk
234 O Teorema da Função Inversa

vemos que este limite é atingido, desde que kHk / kKk seja limitado perto de K = O. Isto é
verdade. De fato, como lim r(H)/ kHk = O, existe δ1 > 0 tal que
H→O

kr(H)k d
kHk < δ1 =⇒ < ,
kHk 2
onde d > 0 é tal que kT (X)k ≥ d kXk, para todo X ∈ Rn . (Lembre que d = 1/ kT −1 k.) Agora
de (¶51 ), obtemos δ2 > 0 tal que kKk < δ2 implica kHk < δ1 . Logo, se kKk < δ2 , vale
kHk kHk 1 1 1 2
= = ≤ ≤ d
= .
kKk kT (H) + r(H)k T (H)
kHk +
r(H) H
T ( kHk
r(H)
) − kHk
d− 2
d
kHk

Portanto, lim s(K)/ kKk = O, o que implica que f −1 é diferenciável em Y e sua derivada é a
K→O
aplicação linear S = T −1 , isto é, (f −1 )0 (Y ) = (f 0 (X))−1 . O fato que J(f −1 )(Y ) = (Jf (X))−1 é
simples. Com efeito,

J(f −1 )(Y ) = M ((f −1 )0 (Y )) = M ((f 0 (X))−1 ) = (M (f 0 (X)))−1 = (Jf (X))−1 .

Para concluir a prova do teorema, precisamos verificar que f −1 : E −→ B(X0 , δ) é de


também de classe C 1 . Consideremos o seguinte diagrama

f −1 f0 Φ
E - B(X0 , δ) - Gl(n) - Gl(n)
g = Φ ◦ f 0 ◦ f −1 6

onde Φ(T ) = T −1 é a inversão em Gl(n), cuja continuidade obtivemos no corolário 6.1.53.


Como f −1 , f 0 e Φ são contı́nuas, segue-se que g é contı́nua. Note que a continuidade de f 0 é
consequência da proposição 6.3.1, posto que f é de classe C 1 . Vejamos de perto o que é g.
Temos que

g(Y ) = (Φ ◦ f 0 ◦ f −1 )(Y ) = Φ(f 0 (f −1 (Y ))) = (f 0 (f −1 (Y )))−1 = (f −1 )0 (Y ).

Logo, (f −1 )0 = g, que é contı́nua. Portanto, f −1 é também de classe C 1 , outra vez usando a


proposição 6.3.1. ppppppppppppppppppppppp

6.3.5
Exemplo Seja f : R3 −→ R3 , definida por f (x, y, z) = √
(xy + z, x2√+ y + z 2 , x + yz). Temos
que f não é injetiva. De fato, f (0, 0, 0) = f ( 2/2, −1, 2/2). Um cálculo direto
mostra que  √ 
2
 −1 1 
  2
√ √  √

√ 

Jf ( 2/2, −1, 2/2) =  2 1 2  .
 
 √ 
 2 
1 −1
2
Funções Inversa e Implı́cita 235

√ √ √ √
Logo, det Jf ( 2/2, −1, 2/2) = 4 6= 0 e, portanto, f 0 (X0 ), X0 = ( 2/2, −1, 2/2), é um
isomorfismo. O teorema da função inversa garante que existe D = B(X0 , δ), δ > 0, tal que
f : D −→ f (D) é um difeomorfismo. O cálculo explı́cito de f −1 : f (D) −→ D deve ser uma
tarefa difı́cil. Mas isto não importa, se desejamos calcular, por exemplo, a derivada de f −1 no
ponto Y0 = f (X0 ) = (0, 0, 0). De fato,
 √ 
1 2
 − 0 
 √2 4 √ 
 
−1 −1  2 2
Jf (Y0 ) = (Jf (X0 )) =  .

 2 0
 √ 2 

 2 1 
0 −
4 2
Portanto, (f −1 )0 (Y0 ) : R3 −→ R3 é dada por
√ √ √
u 2 v 2 2v w
(f −1 )0 (Y0 )(u, v, w) = (− + , (u + w), − ).
2 4 2 4 2
−1
Se escrevemos f (r, s, t) = (x(r, s, t), y(r, s, t), z(r, s, t)), então podemos tirar as seguintes infor-
mações de Jf −1 (Y0 ):

∂x 1 ∂y 2 ∂z
(0, 0, 0) = − , (0, 0, 0) = e (0, 0, 0) = 0,
∂r 2 ∂r 2 ∂r
que resulta de sua primeira coluna. As demais derivadas parciais, com relação a s e t, aparecem
nas outras colunas.

6.3.6
Definição Uma aplicação f : D ⊂ Rn −→ Rn , D aberto, é dita aberta se f (Ω) é aberto,
para todo aberto Ω ⊂ D.

6.3.7
Corolário Se f : D ⊂ Rn −→ Rn é de classe C 1 no aberto D e det Jf (X) 6= 0, para todo
X ∈ D, então f é uma aplicação aberta. Em particular, f (D) é aberto.
Demonstração: Seja Ω ⊂ D um conjunto aberto, e fixemos Y ∈ f (Ω). Logo, existe
X ∈ Ω tal que f (X) = Y . Como det Jf (X) 6= 0, vem que f 0 (X) é um isomorfismo. Do teorema
da função inversa, resulta que existe δ > 0 tal que f (B(X, δ)) é um aberto, contendo Y e contido
em f (Ω). Isto mostra que f (Ω) é aberto. pppppppppppppppppppppp

6.3.8
Corolário Seja f : D ⊂ Rn −→ Rn injetiva e de classe C 1 no aberto D. Se det Jf (X) 6= 0,
para todo X ∈ D, então f (D) é aberto e f é um difeomorfismo sobre f (D).
Demonstração: Como f é injetiva, vem que f −1 está bem definida em f (D), que
é aberto, pelo corolário anterior. A diferenciabilidade de f −1 resulta do teorema da função
inversa. pppppppppppppppppppppp
236 O Teorema da Função Inversa

6.3.9 [Coordenadas Esféricas]


Exemplo Seja f : R3 −→ R3 , definida por
f (ρ, θ, ϕ) = (ρ sen ϕ cos θ, ρ sen ϕ sen θ, ρ cos ϕ) = (x, y, z),
No exemplo 4.4.17, vimos que
∂(x, y, z)
= det Jf (ρ, θ, ϕ) = −ρ2 sen ϕ.
∂(ρ, θ, ϕ)
Consideremos o aberto (convexo)
D = (0, +∞) × (0, 2π) × (0, π) = {(ρ, θ, ϕ); ρ > 0, 0 < θ < 2π, 0 < ϕ < π}.
É claro que se X ∈ D, então det Jf (X) 6= 0. Mais ainda, a restrição de f a D é injetiva.
De fato, se X = (ρ, θ, ϕ) e Y = (ρ1 , θ1 , ϕ1 ) são elementos de D e f (X) = f (Y ), vem que
kf (X)k = kf (Y )k, isto é, |ρ| = |ρ1 |. Como ρ > 0 e ρ1 > 0, segue-se que ρ = ρ1 . Logo,

 sen ϕ cos θ = sen ϕ1 cos θ1

sen ϕ sen θ = sen ϕ1 sen θ1

cos ϕ = cos ϕ1 .

A terceira equação implica que ϕ = ϕ1 , visto que o cosseno é uma função injetiva no intervalo
(0, π). Portanto, sen ϕ = sen ϕ1 6= 0, e ficamos com cos θ = cos θ1 e sen θ = sen θ1 , o que produz
|θ − θ1 | = 2kπ, para algum inteiro k. Como estamos supondo 0 < θ, θ1 < 2π, vem que, k = 0
e θ = θ1 . Logo, f é um difeomorfismo de D sobre o aberto f (D), o qual coincide com R3 − F ,
onde F é o semi-plano dado por {(x, y, z) ∈ R3 ; y = 0 e x ≥ 0}.

6.3.10 [Coordenadas Cilı́ndricas]


Exemplo Se f (r, θ, z) = (x, y, z) = (r cos θ, r sen θ, z),
(r, θ, z) ∈ R3 , então
∂(x, y, z)
= det Jf (r, θ) = r.
∂(r, θ, z)
Não é difı́cil ver que a restrição de f ao aberto (convexo) D = (0, +∞) × (0, 2π) × R é injetiva.
Portanto, f é um difeomorfismo de D sobre o aberto f (D) = R3 − F , onde F é o semi-plano do
exemplo anterior.

6.3.11
Corolário Sejam T ∈ GL(n) e h : D ⊂ Rn −→ Rn uma aplicação de classe C 1 no aberto
convexo D. Se kh0 (X)k ≤ M < 1/ kT −1 k, para algum M ≥ 0, e todo X ∈ D,
então f = T + h é um difeomorfismo de D sobre o aberto f (D). Além disto, se D = Rn , então
f (D) = Rn .
Demonstração: O corolário 6.2.20 mostra que f é um homeomorfismo de D sobre o
aberto f (D). Falta mostrar que f −1 é diferenciável. Isto será feito via teorema 6.1.51. Dado
X ∈ D, temos que f 0 (X) = T + h0 (X). Logo, kf 0 (X) − T k = kh0 (X)k < 1/ kT −1 k. Do citado
teorema, resulta que f 0 (X) é também um isomorfismo. Agora é só usar o corolário 6.3.8, para
concluir o resultado. ppppppppppppppppppppp
Funções Inversa e Implı́cita 237

6.4
O Teorema da Função Implı́cita

Seja f : D ⊂ Rn+m −→ Rm , f (Z) = (f1 (Z), f2 (Z), . . . , fm (Z)), Z = (z1 , z2 , . . . , zn+m ),


uma função vetorial de n + m variáveis. O nosso objetivo nesta seção é obter uma descrição
analı́tico-geométrica das soluções, em D, da equação f (Z) = C, onde C = (c1 , c2 , . . . , cm ) é uma
m-upla fixada. Em outros termos, queremos descrever o conjunto de soluções do sistema de
equações 

 f1 (z1 , z2 , . . . , zn+m ) = c1

 f2 (z1 , z2 , . . . , zn+m ) = c2

.. (¶52 )


 .

f (z , z , . . . , z
m 1 2 n+m )=c ,
m

com incógnitas z1 , z2 , . . ., zn+m . Inicialmente, faremos este estudo para o caso n = 1 e m = 1.

6.4.1
O Caso f : D ⊂ R2 −→ R

Seja f : D ⊂ R2 −→ R uma aplicação diferenciável. Dados intervalos abertos I, J ⊂ R, e


c ∈ R, uma função g : I −→ J é dita definida implicitamente pela equação f (x, y) = c se o seu
gráfico
G(g) = {(x, y); y = g(x), x ∈ I}
está contido no conjunto solução desta equação, isto é, f (x, g(x)) = c, para todo x ∈ I. Usando
a linguagem dos conjuntos de nı́vel, isto pode ser reescrito como G(g) ⊂ f −1 (c).

6.4.2
Exemplo Seja f (x, y) = x2 + y2 , (x, y) ∈ R2 . Sabemos que o conjunto de soluções da
equação f (x, y) = 1 coincide com o cı́rculo de centro (0, 0) e raio 1:
f −1 (1) = {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 = 1}.

Agora definamos g : (−1, 1) −→ R por g(x) = 1 − x2 . Temos que
f (x, g(x)) = x2 + (g(x))2 = x2 + (1 − x2 ) = 1, ∀ x ∈ (−1, 1).
Logo, g é uma função definida implicitamente por f . O gráfico de g é o semi-cı́rculo x2 + y 2 = 1,
y > 0. Analogamente, −g também o é. Note, entretanto, que não é possı́vel construir uma função
h tal que f (x, h(x)) = 1 e tal que seu gráfico contenha o ponto (1, 0). Em outras palavras, é
impossı́vel tirar y como uma função de x, definida em um intervalo aberto, em torno p do ponto
(1, 0). Neste caso, o que é possı́vel é tirar x como função de y. De fato, x = h(y) = 1 − y 2 ,
−1 < y < 1, é tal que f (h(y), y) = 1.
238 O Teorema da Função Implı́cita

6.4.3
Exemplo Seja f (x, y) = (x2 + y2 )2 − 4(x2 − y2 ), (x, y) ∈ R2 . Estudaremos a equação
f (x, y) = 0, cujo conjunto de soluções, como é bem conhecido, é uma lemniscata
de Bernoulli, como mostra a figura 85. Não é difı́cil ver que

g : (−2, 2) −−
−→
−− R

q
x −−−−−→ g(x) = −2 − x2 + 2 1 + 2 x2 .

é definida implicitamente por f (x, y) = 0. O gráfico de g é a porção superior da lemniscata


menos os pontos (−2, 0) e (0, 2). Note que esta porção contém a origem.
y y
6 6

g(x) q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q - qqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqq
-
−2 x 2 x q x

Figura 85

Há uma diferença fundamental entre as funções g que construı́mos nos dois exemplos
anteriores: no primeiro exemplo, se fixamos um ponto qualquer de G(g), sempre existe um
pequeno retângulo, contendo este ponto, cuja interseção com o conjunto solução só contém
pontos de G(g), isto é, dentro do retângulo todas as soluções de f (x, y) = 1 estão sobre o
gráfico de g. Já no segundo exemplo, se fixamos atenção no ponto (0, 0) ∈ G(g), vemos que
todo retângulo aberto que contenha este ponto intercepta a lemniscata em outros pontos além
daqueles do gráfico de g, a saber, pontos da porção inferior da lemniscata. Isto motiva a próxima
definição.

6.4.4
Definição Seja f : D ⊂ R2 −→ R uma função y
diferenciável. Dados intervalos aber- 6
tos I, J ⊂ R e c ∈ R, dizemos que uma função J Iqqqqqq× J
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq f (x, y) = c
b q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
g : I −→ J g(x) q qqqqqqqqqqqqqqqqq

é fortemente definida implicitamente pela equação


f (x, y) = c se q q -
x a I x
(i) f (x, g(x)) = c, para todo x ∈ I; Figura 86

(ii) o retângulo simples aberto R = I × J intercepta f −1 (c) apenas em pontos do gráfico de g,


isto é, (I × J) ∩ f −1 (c) = G(g).

6.4.5
Exemplo Retomando o exemplo 6.4.3, vemos que não existe g : I ⊂ R −→ R contı́nua, em
um intervalo aberto I contendo x = 0, que seja fortemente definida implicitamente
Funções Inversa e Implı́cita 239

pela equação f (x, y) = 0. Entretanto, isto é possı́vel para intervalos contendo x = a, onde
0 < |a| < 2. Ainda com relação ao ponto (0, 0), devemos observar que grad f (0, 0) = (0, 0). Na
realidade, esta condição é obrigatória diante do fato que existem curvas em f (x, y) = 0 que se
cruzam neste ponto, como mostra o lema a seguir.

6.4.6
Lema Seja f : D ⊂ R2 −→ R diferenciável em D. Se α, β : I ⊂ R −→ f −1 (c) ⊂ R2 são curvas
regulares que se cruzam transversalmente em α(t0 ) = β(t0 ) = X0 = (a, b) ∈ f −1 (c),
então grad f (X0 ) = (0, 0).
Demonstração: Como α e β têm traços contidos no conjunto de nı́vel f −1 (c), vem que
f (α(t)) = f (β(t)) = c, para todo t ∈ I. Logo, usando a regra da cadeia, obtemos
grad f (α(t)) · α0 (t) = 0 e grad f (β(t)) · β 0 (t) = 0, ∀ t ∈ I.
Em particular, em t = t0 ,
grad f (X0 ) · α0 (t0 ) = 0 e grad f (X0 ) · β 0 (t0 ) = 0.
Assim grad f (X0 ) é perpendicular aos vetores α0 (t0 ) e β 0 (t0 ), que são linearmente independentes,
de acordo com a hipótese de transversabilidade. Como estamos num ambiente bidimensional,
segue-se que grad f (X0 ) = O. pppppppppppppppppppppp

Diante deste lema, é bastante natural, se queremos construir funções fortemente definidas
implicitamente por uma equação f (x, y) = c, exigir que f tenha gradiente não-nulo. Se f é
de classe C 1 e satisfaz esta hipótese, tal construção é possı́vel e constitui o que chamamos de
teorema da função implı́cita.

6.4.7 [Função Implı́cita]


Teorema Seja f : D ⊂ R2 −→ R de classe C 1 no aberto D. Sejam
X0 = (a, b) ∈ D e c = f (a, b). Se ∂f ∂y
(a, b) 6= 0, então
1
existem intervalos abertos I e J, a ∈ I, b ∈ J, e uma função de classe C , g : I −→ J tal que

(i) g(a) = b;
(ii) g é fortemente definida implicitamente por f (x, y) = c;
∂f ∂f
(iii) g 0 (a) = − (a, b)/ (a, b).
∂x ∂y
Demonstração: Visando usar o teorema da função inversa, introduzimos uma nova
função:
h:D −− − R2
−→

(x, y) −−−−−→ h(x, y) = (x, f (x, y)).
É claro que h é de classe C 1 , h(a, b) = (a, c) e que sua matriz jacobiana em X0 é dada por
 
 1 0 
Jh(a, b) =  ,
 
 ∂f ∂f 
(a, b) (a, b)
∂x ∂y
240 O Teorema da Função Implı́cita

cujo determinante é det Jh(a, b) = ∂f ∂y


(a, b) 6= 0. Logo, h0 (X0 ) é um isomorfismo, e pode-
mos fazer uso do teorema da função inversa: existe δ0 > 0 tal que h(B(X0 , δ0 )) é aberto e
h : B(X0 , δ0 ) −→ h(B(X0 , δ0 )) é um difeomorfismo de classe C 1 . Seja

2
R = (a − δ1 , a + δ1 ) × (b − δ1 , b + δ1 ), δ1 = δ0 ,
2
o retângulo simples aberto inscrito em B(X0 , δ0 ). Temos que W = h(R) é aberto e h : R −→ W
é um difeomorfismo de classe C 1 . Seja

h−1 : W −−−→
−− R
(u, v) −−−−−→ h−1 (u, v) = (p(u, v), q(u, v)),

o difeomorfismo inverso de h, o qual é, também, de classe C 1 . Temos que (h ◦ h−1 )(u, v) = (u, v)
e, por outro lado,

(h ◦ h−1 )(u, v) = h(h−1 (u, v)) = h(p(u, v), q(u, v)) = (p(u, v), f (p(u, v), q(u, v))).

Logo,
p(u, v) = u e v = f (u, q(u, v)), ∀ (u, v) ∈ W.
Donde, fazendo v = c, c = f (u, q(u, c)), sempre que (u, c) ∈ W . Isto sugere a construção
de g: g(x) = q(x, c), x variando em algum intervalo aberto I 3 a. Vejamos como construir I.
Como W é aberto, existe δ2 > 0 tal que B(Y0 , δ2 ) ⊂ W , onde Y0 = h(X0 ) = (a, c). Logo,
V = h−1 (B(Y0 , δ2 )) ⊂ R é um aberto cuja projeção no eixo-x coincide com o intervalo aberto
(a − δ2 , a + δ2 ) ⊂ (a − δ1 , a + δ1 ).

y qqqqqqqqqq v
6 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqq
qqqq q q q q q q q q q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q
6
b + δ1 q
qqqqqqqqqqqqqqqqqq qq q qq
q qq q
qq qq q q q q q q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqq0qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq f (x, y) = c qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq h δ2 q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
b q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq - c q q
qqqqqqqq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq W = h(R)
q q
q qq q qq
q q q q q q q
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqq q q q q q q q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q q q q q
qqq q q q q q qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqlqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
g(x) qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqV q q qq qqqqqqqq
qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq −1 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq  h qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
b − δ1 qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
a − δ1 xq aq a + δ1 qqqqqqqq qqqqqqqqqqqq
- q -
a − δ2 a + δ2 x a − δ1 a a + δ1 u

Figura 87

Agora definimos I = (a − δ2 , a + δ2 ), J = (b − δ1 , b + δ1 ) e

g : I −− −→
−− J
.
x −−−−−→ g(x) = q(x, c)

Temos que (x, c) ∈ W , se x ∈ I. Logo, f (x, g(x)) = c, o que mostra que g está definida
implicitamente por f (x, y) = c. Falta verificar que (I × J) ∩ f −1 (c) é o gráfico de g. De
f (x, g(x)) = c, x ∈ I, segue-se que G(g) ⊂ (I × J) ∩ f −1 (c). Para a inclusão contrária, seja
(x, y) ∈ (I × J) ∩ f −1 (c). Isto implica que f (x, y) = c, x ∈ I e y ∈ J. Logo, h(x, y) = (x, c) ∈ W
Funções Inversa e Implı́cita 241

e, portanto, h−1 (x, c) = (x, q(x, c)) = (x, y). Donde, y = q(x, c) = g(x) e (x, y) ∈ G(g). Observe,
com a ajuda da figura 87, que o gráfico de g é a imagem via h−1 do segmento de reta

l = {(u, v); v = c, a − δ2 < u < a + δ2 }.

Como q é de classe C 1 , vem que g é de classe C 1 . A regra da cadeia agora dá que

df (x, g(x)) ∂f dg ∂f
0= = (x, g(x)) + (x) (x, g(x)).
dx ∂x dx ∂y

Logo, em x = a,
∂f
dg (a, b)
(a) = − ∂x ,
dx ∂f
(a, b)
∂y
e está completa a prova. pppppppppppppppppppp

6.4.8
Exemplo Se f (x, y) = xy3 + y2 x5 + xy + x2 + y2 − x + sen y, (x, y) ∈ R2 , então f (0, 0) = 0,
e suas primeiras derivadas parciais são dadas por

∂f ∂f
(x, y) = −1 + 2 x + y + 5 x4 y 2 + y 3 e (x, y) = x + 2y + 2x5 y + 3xy 2 + cos y.
∂x ∂y

Em particular, ∂f∂x
(0, 0) = −1 e ∂f
∂y
(0, 0) = 1. O teorema da função implı́cita garante que existe
 > 0 e uma função g : (−, ) −→ R, de classe C 1 , tal que g(0) = 0 e f (x, g(x)) = 0, para todo
x ∈ (−, ). Além disso, podemos computar g 0 (0): g 0 (0) = − ∂f
∂x
(0, 0)/ ∂f
∂y
(0, 0) = 1.

Observação Existe uma prova clássica, e relativamente elementar, para o teorema 6.4.7, a
qual está descrita no exercı́cio 6-29, que não usa o teorema da função inversa.
Entretanto, tal prova não se estende facilmente ao caso geral, o que se dá com aquela que aca-
bamos de apresentar, cuja extensão carece apenas de algumas notações, as quais introduziremos
a seguir.

6.4.9
O Caso f : D ⊂ Rn+m −→ Rm

Seja f : D ⊂ Rn+m −→ Rm , f (Z) = (f1 (Z), f2 (Z), . . . , fm (Z)), Z = (z1 , z2 , . . . , zn+m ),


uma função vetorial de n + m variáveis, de classe C 1 em D. Temos que a matriz jacobiana de
242 O Teorema da Função Implı́cita

f em Z é dada por
 
∂f1 ∂f1 ∂f1 ∂f1 ∂f1 ∂f1
(Z) (Z) · · · (Z) (Z) (Z) · · · (Z) 
∂z1 ∂z2 ∂zn ∂zn+1 ∂zn+2 ∂zn+m

 
∂f2 ∂f2 ∂f2 ∂f2 ∂f2 ∂f2
 
(Z) · · · (Z) · · ·
 
 (Z) (Z) (Z) (Z) 
Jf (Z) = 
 ∂z1 ∂z2 ∂zn ∂zn+1 ∂zn+2 ∂zn+m 

 .. .. .. .. .
. .
.


 . . ··· . . . ··· . 

 
 ∂fm ∂fm ∂fm ∂fm ∂fm ∂fm 
(Z) (Z) · · · (Z) (Z) (Z) · · · (Z)
∂z1 ∂z2 ∂zn ∂zn+1 ∂zn+2 ∂zn+m
Agora, escreveremos Z = (X, Y ), onde X = (x1 , x2 , . . . , xn ) e Y = (y1 , y2 , . . . , ym ). Com esta
notação Jf (Z) fica assim:
 
∂f1 ∂f1 ∂f1 ∂f1 ∂f1 ∂f1
(X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) (X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) 
 ∂x1 ∂x2 ∂xn ∂y1 ∂y2 ∂ym


 ∂f2 ∂f2 ∂f2 ∂f2 ∂f2 ∂f2
 
(X, Y ) · · · (X, Y ) · · ·

 (X, Y ) (X, Y ) (X, Y ) (X, Y ) 
 ∂x1 ∂x2 ∂xn ∂y1 ∂y2 ∂ym
Jf (X, Y ) =  ,

 .
.. .
.. .
.. .
.. .
.. .
..


 · · · · · · 

 
 ∂fm ∂fm ∂fm ∂fm ∂fm ∂fm 
(X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) (X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y )
∂x1 ∂x2 ∂xn ∂y1 ∂y2 ∂ym
a qual pode ser posta na forma em blocos
!
Jf (X, Y ) = JfX (X, Y ) JfY (X, Y ) ,

onde   
∂f1 ∂f1 ∂f1
(X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) 







 ∂x1 ∂x2 ∂xn 


  ∂f2 ∂f2 ∂f2 

  (X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) 
 ∂x1 ∂x2 ∂xn
  
Jf (X, Y ) =

X

 

  .. .. .. 
. . ··· .

  

  

  
  ∂f ∂fm ∂fm 
 m
(X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y )


∂x1 ∂x2 ∂xn





(¶53 )

  


 ∂f1 ∂f1 ∂f1

 (X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) 
∂y ∂y2 ∂ym
 
1

  

 ∂f2 ∂f2 ∂f2

  
(X, Y ) · · ·

(X, Y ) (X, Y ) 


 
  ∂y1 ∂y2 ∂ym
Jf (X, Y ) =
 
 Y

  
  .. .. .. 





 . . ··· . 


  

  ∂fm ∂fm ∂fm 

 (X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y )
∂y1 ∂y2 ∂ym
Funções Inversa e Implı́cita 243

6.4.10
Definição As matrizes JfX (X, Y ) e JfY (X, Y ) introduzidas em (¶53 ) são chamadas jaco-
bianas parciais de f em Z = (X, Y ). O número real

∂(f1 , f2 , . . . , fm )
(X, Y ) = det JfY (X, Y )
∂(y1 , y2 , . . . , ym )

é conhecido como determinante jacobiano de f em Z = (X, Y ). (Note que JfY (X, Y ) é uma
matriz quadrada de ordem m × m, o que permite o cálculo de seu determinante.)

Observação Note que quando m = n = 1, Jfy é a matriz 1 × 1 dada por ( ∂f


∂y
), a qual,
∂f
naturalmente, é identificada com a derivada parcial ∂y .

6.4.11
Exemplo Seja f : R5 −→ R2 definida por
f (Z) = f (z1 , z2 , z3 , z4 , z5 ) = (2 ez4 +z5 z1 − 4z2 + 3, z5 cos z4 − 6z42 + 2z1 − z3 ).

Pondo X = (z1 , z2 , z3 ) = (x, y, z) e Y = (z4 , z5 ) = (u, v), podemos escrever

f (X, Y ) = f (x, y, z, u, v) = (2 eu +vx − 4y + 3, v cos u − 6u2 + 2x − z).

Portanto, !
v −4 0 2 eu x
Jf (X, Y ) = .
2 0 −1 −v sen u − 12u cos u
Donde segue-se que
! !
v −4 0 2 eu x
JfX (X, Y ) = , JfY (X, Y ) = .
2 0 −1 −v sen u − 12u cos u

e
∂(f1 , f2 )
(X, Y ) = det JfY (X, Y ) = 2 eu cos u + xv sen u + 12xu.
∂(u, v)
Em particular, em Z0 = (A, B), onde A = (3, 2, 7) e B = (0, 1), temos que
! !
1 −4 0 23 ∂(f1 , f2 )
JfX (A, B) = , JfY (A, B) = e (A, B) = 2.
2 0 −1 01 ∂(u, v)

Note que f (A, B) = f (3, 2, 7, 0, 1) = (0, 0). Logo, (A, B) pertence ao conjunto de nı́vel de f
dado por f −1 (0, 0). Na linguagem dos sistemas de equações, isto significa que Z0 = (A, B) é
uma solução de (
2 eu +vx − 4y + 3 = 0
.
v cos u − 6u2 + 2x − z = 0
244 O Teorema da Função Implı́cita

6.4.12
Definição Dados A = (a1 , a2 , . . . , an ) e δ > 0, o produto cartesiano de intervalos
R(A, δ) = (a1 − δ, a1 + δ) × (a2 − δ, a2 + δ) × · · · × (an − δ, an + δ),

que é um subconjunto aberto de Rn , é chamado retângulo simples aberto de centro A e aresta 2δ.
y z
6 6
a3 + δ q
a2 + δ q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqδqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq a3 q 2δ
qqqqqqqqqq
a2 q qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqA
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q qq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
a3 − δ q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
a2 − δ q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqA qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q a2- +δ
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq a2
-
a1 − δ a1 a1 + δ x y
a1 − δ
a1 q q
a1 + δ q

x

Figura 88: Retângulos Simples em R2 e R3

Observação Observe que X = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ R(A, δ) se, e somente se,

max{|xi − ai |, i = 1, 2, . . . , n} < δ.

Este fato implica que R(A, δ),√δ = a/ n, está contido na bola aberta B(A, a). De fato, se
X = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ R(A, a/ n), então

a2
(x1 − a1 )2 + (x2 − a2 )2 + · · · + (xn − an )2 ≤ n max{|xi − ai |2 , i = 1, 2, . . . , n} < n
= a2 .
n
Pronto! Agora podemos enunciar o teorema da função implı́cita, com toda sua força.

6.4.13 [Função Implı́cita]


Teorema Sejam f : D ⊂ Rn+m −→ Rm uma aplicação de classe C 1
no aberto D, Z0 = (A, B) ∈ D e C = f (A, B) ∈ Rm . Se
∂(f1 , f2 , . . . , fm )
(A, B) = det JfY (A, B) 6= 0,
∂(y1 , y2 , . . . , ym )
então existem retângulos simples abertos R1 ⊂ Rn e R2 ⊂ Rm e uma aplicação de classe C 1 ,
g : R1 −→ R2 , tais que

(i) A ∈ R1 e B ∈ R2 ;
(ii) g(A) = B;
(iii) f (X, g(X)) = C, para todo X ∈ R1 ;
(iv) (R1 × R2 ) ∩ f −1 (C) = G(g) = {(X, g(X)); X ∈ R1 };
(v) Jg(X) = −(JfY (X, g(X)))−1 JfX (X, g(X)), X ∈ R1 .
Funções Inversa e Implı́cita 245

Demonstração: Nos limitaremos a imitar o que fizemos na prova do teorema 6.4.7. Por-
tanto, começamos introduzindo h : D ⊂ Rn+m −→ Rn+m definida por h(X, Y ) = (X, f (X, Y )).
Temos que
1 0 ··· 0 0 0 ··· 0
 
 0 1 ··· 0 0 0 ··· 0 
.. .. .. .. ..
 
··· ···
 
 . . . . . 
 

 0 0 ··· 1 0 0 ··· 0 

 ∂f ∂f1 ∂f1 ∂f1 ∂f1 ∂f1 
1
(X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) (X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) 
 
Jh(X, Y ) =  ∂x1 ∂x2 ∂xn ∂y1 ∂y2 ∂ym ,

 
 ∂f2 ∂f2 ∂f2 ∂f2 ∂f2 ∂f2 
 ∂x1 (X, Y )
 (X, Y ) · · · (X, Y ) (X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) 
∂x2 ∂xn ∂y1 ∂y2 ∂ym 
.. .. .. .. .. ..
 
··· ···
 

 . . . . . . 

 ∂f ∂fm ∂fm ∂fm ∂fm ∂fm 
m
(X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y ) (X, Y ) (X, Y ) · · · (X, Y )
∂x1 ∂x2 ∂xn ∂y1 ∂y2 ∂ym
ou, na forma de blocos,
 
In×n On×m
Jh(X, Y ) =  ,
JfX (X, Y ) JfY (X, Y )

onde In×n é a matriz identidade de ordem n × n e On×m é a matriz nula de ordem n × m.


Segue-se, portanto, que det Jh(X, Y ) = det JfY (X, Y ). Em particular, det Jh(A, B) 6= 0, o
que implica que h0 (Z0 ) é um isomorfismo. Logo, podemos usar o teorema da função inversa
para obter δ0 > 0 tal que h(B(Z0 , δ0 )) é aberto de Rn+m e h : B(Z0 , δ0 ) −→ h(B(Z0 , δ0 )) é um
difeomorfismo de classe C 1 . Portanto, det JfY (X, Y ) 6= 0, para todo√(X, Y ) ∈ B(Z0 , δ0 ). Seja R
o retângulo simples aberto centrado em Z0 e de aresta 2δ1 , δ1 = δ0 / n + m, o qual está contido
em B(Z0 , δ0 ). Temos que W = h(R) é aberto e h : R −→ W é um difeomorfismo de classe C 1 .
Seja
h−1 : W −−−→
−− R
(U, V ) −−−−−→ h−1 (U, V ) = (p(U, V ), q(U, V )),
o difeomorfismo inverso de h, o qual é, também, de classe C 1 . Temos que (h◦h−1 )(U, V ) = (U, V )
e, por outro lado,

(h ◦ h−1 )(U, V ) = h(h−1 (U, V )) = h(p(U, V ), q(U, V )) = (p(U, V ), f (p(U, V ), q(U, V ))).

Logo,
p(U, V ) = U e V = f (U, q(U, V )), ∀ (U, V ) ∈ W.
Donde, fazendo V = C, C = f (U, q(U, C)), sempre que (U, C) ∈ W . Isto sugere a construção
de g: g(X) = q(X, C), X variando em algum retângulo simples aberto R1 ⊂ Rn tal que R1 3 A.
Vejamos como construir R1 . Como W é aberto, existe δ2 > 0 tal que B(Y0 , δ2 ) ⊂ W , onde
Y0 = h(Z0 ) = (A, C). Logo, V = h−1 (B(Y0 , δ2 )) ⊂ R é um aberto cuja projeção em Rn (que é a
bola B(A, δ2 )) contém o retângulo simples aberto

R1 = (a1 − δ3 , a1 + δ3 ) × (a2 − δ3 , a2 + δ3 ) × · · · × (an − δ3 , an + δ3 ),


246 O Teorema da Função Implı́cita


onde δ3 = δ2 / n. Agora definimos
R2 = (b1 − δ1 , b1 + δ1 ) × (b2 − δ1 , b2 + δ1 ) × · · · × (bm − δ1 , bm + δ1 )
e
g : R1 −−−→
−− R2
.
X −−−−−→ g(X) = q(X, C)
Temos que (X, C) ∈ W , se X ∈ R1 . Logo, f (X, g(X)) = C, o que mostra que g está definida
implicitamente por f (X, Y ) = C. Falta verificar que (R1 × R2 ) ∩ f −1 (C) é o gráfico de g.
De f (X, g(X)) = X, X ∈ R1 , segue-se que G(g) ⊂ (R1 × R2 ) ∩ f −1 (C). Para a inclusão
contrária, seja (X, Y ) ∈ (R1 × R2 ) ∩ f −1 (C). Isto implica que f (X, Y ) = C, X ∈ R1 e
Y ∈ R2 . Logo, h(X, Y ) = (X, C) ∈ W e, portanto, h−1 (X, C) = (X, q(X, C)) = (X, Y ). Donde,
Y = q(X, C) = g(X) e (X, Y ) ∈ G(g). Observe que o gráfico de g é a imagem via h−1 do pedaço
de n-plano
π = {(U, V ); V = C, U ∈ R1 }.
Como q é de classe C 1 , vem que g é de classe C 1 . Vejamos, agora, o item (v). Para isso, seja
F : R1 −→ Rn+m definida por F (X) = (X, g(X)), que é de classe C 1 . Temos que
(f ◦ F )(X) = f (X, g(X)) = C.
Logo, J(f ◦ F )(X) = Om×n , onde Om×n é a matriz nula de ordem m × n. Por outro lado, usando
a regra da cadeia (corolário 5.2.9), vem que
  
J(f ◦ F )(X) = Jf (X, g(X))JF (X) = JfX (X, g(X)) JfY (X, g(X)) I .
 n×n 
Jg(X)
Logo, JfX (X, g(X)) + JfY (X, g(X))Jg(X) = O, o que produz
Jg(X) = −(JfY (X, g(X)))−1 JfX (X, g(X))
e finaliza o teorema. ppppppppppppppppppppp

6.4.14
Exemplo Seja f : R5 −→ R2 ,
f (X, Y ) = f (x, y, z, u, v) = (2 eu +vx − 4y + 3, v cos u − 6u2 + 2x − z),
como no exemplo 6.4.11. Já vimos que, em Z0 = (A, B), onde A = (3, 2, 7) e B = (0, 1), valem:
! !
1 −4 0 23 ∂(f1 , f2 )
f (A, B) = (0, 0), JfX (A, B) = , JfY (A, B) = e (A, B) = 2.
2 0 −1 01 ∂(u, v)
Logo, podemos usar o teorema 6.4.13 para garantir a existência de retângulos simples abertos
R1 ⊂ R3 e R2 ⊂ R2 e uma aplicação de classe C 1
g : R1 −−−→
−− R2
(x, y, z) −−−−−→ g(x, y, z) = (g1 (x, y, z), g2 (x, y, z)) = (u, v)
tais que
Funções Inversa e Implı́cita 247

(i) g(A) = B, isto é, g(3, 2, 7) = (0, 1);


(ii) f (X, g(X)) = (0, 0), para todo X = (x, y, z) ∈ R1 ;
(iii) Jg(A) = −(JfY (A, g(A)))−1 JfX (A, g(A)) = −(JfY (A, B))−1 JfX (A, B).

Em particular, (ii) mostra que o sistema f (x, y, z, u, v) = (0, 0) tem um número infinito de
soluções. Agora, expandindo (iii), obtemos que
 −1    1 3    5 3
2 3 1 −4 0 − 1 −4 0 2 −
Jg(3, 2, 7) = −     = − 2 2  = 2 2 .
0 1 2 0 −1 0 1 2 0 −1 −2 0 1

Logo,    
∂u ∂u ∂u 5 3
 ∂x (3, 2, 7) ∂y
(3, 2, 7)
∂z
(3, 2, 7)   2 −
= 2 2

Jg(3, 2, 7) = 
 ∂v
,
∂v ∂v   
(3, 2, 7) (3, 2, 7) (3, 2, 7) −2 0 1
∂x ∂y ∂z
ou
∂u 5 ∂u ∂u 3
(3, 2, 7) = (3, 2, 7) = 2 (3, 2, 7) = −
∂x 2 ∂y ∂z 2
.
∂v ∂v ∂v
(3, 2, 7) = −2 (3, 2, 7) = 0 (3, 2, 7) = 1
∂x ∂y ∂z
Um modo alternativo de se obter estas derivadas parciais é o seguinte: olhamos para o sistema
f (x, y, z, u, v) = (0, 0), isto é,
(
2 eu +vx − 4y + 3 = 0
(¶54 )
v cos u − 6u2 + 2x − z = 0,

onde u e v são olhadas como funções de (x, y, z), (x, y, z) perto de (3, 2, 7), o que pode ser feito,
pois det JY f (3, 2, 7, 0, 1) = 2 6= 0. Derivando cada linha deste sistema com relação a x, obtemos

∂u ∂v
2eu

 + x+v =0
∂x ∂x
 ∂v cos u − v sen u ∂u − 12u ∂u + 2 = 0,


∂x ∂x ∂x
no qual fazemos (x, y, z) = (3, 2, 7), u = 0 e v = 1 e ficamos com

 ∂u ∂v
2
 +3 +1=0
∂x ∂x
 ∂v + 2 = 0,


∂x
∂u ∂v
onde as derivadas parciais ∂x
e ∂x
são calculadas em (3, 2, 7). Portanto,
∂v ∂u 5
(3, 2, 7) = −2 e (3, 2, 7) = .
∂x ∂x 2
248 O Teorema da Função Implı́cita

O processo se completa derivando as linhas de (¶54 ) com relação a y e depois com relação a z.
Vale notar que podemos construir outras funções definidas implicitamente po f . De fato,
retomando o sistema (¶54 ), podemos explicitar facilmente x e y como funções das variáveis u, v
e z:
6u2 + z − v cos u 4 eu +6u2 v + vz − v 2 cos u
x= e y= .
2 8
Em outras palavras, se definimos
G : R3 −−− R2
−→

6u2 + z − v cos u 4 eu +6u2 v + vz − v 2 cos u ,
 
(u, v, z) −−−−−→ G(u, v, z) = ,
2 8
vemos que f (G(u, v, z), z, u, v) = 0, isto é, G é definida implicitamente por f . Neste caso, não
precisamos da força do teorema da função implı́cita para garantir a existência de G.
Para finalizar este exemplo, convidamos o leitor a tentar explicitar, como fizemos com G,
a função implı́cita (u, v) = g(x, y, z), g(3, 2, 7) = (0, 1), cuja existência foi deduzida a partir do
teorema da função implı́cita. O leitor certamente se convencerá que tal tarefa não é nada fácil.

6.4.15
Corolário Seja f : D ⊂ Rk −→ R uma aplicação de classe C 1 no aberto D. Fixe a k-upla
∂f
Z0 = (z01 , z02 , . . . , z0k ) ∈ D e defina c = f (Z0 ). Se ∂xk
(Z0 ) 6= 0, então existem
um retângulo simples aberto R(A, δ), A = (z01 , z02 , . . . , z0k−1 ), um intervalo aberto J, contendo
B = z0k , e uma aplicação de classe C 1 , g : R(A, δ) −→ J, tais que

(i) g(z01 , z02 , . . . , z0k−1 ) = z0k ;


(ii) f (x1 , x2 , . . . , xk−1 , g(x1 , x2 , . . . , xk−1 )) = c, (x1 , x2 , . . . , xk−1 ) ∈ R(A, δ);
(iii) f −1 (c) ∩ (R(A, δ) × J) = G(g) = {(X, g(X)), X = (x1 , x2 , . . . , xk−1 ) ∈ R(A, δ)};
∂f ∂f ∂f
( (X, g(X)), (X, g(X)), . . . , (X, g(X)))
∂x1 ∂x2 ∂xk−1
(iv) grad g(X) = − , X ∈ R(A, δ).
∂f
(X, g(X))
∂xk

Demonstração: Visando usar o teorema 6.4.13, escreveremos k = n+m, onde n = k −1


e m = 1, X = (x1 , x2 , . . . , xk−1 ) e Y = xk . Com estas notações, ficamos com
∂f
Z0 = (A, B), f (A, B) = c, Z = (X, Y ) e det(JfY (Z0 )) = (Z0 ) 6= 0.
∂xk
Agora (i), (ii) e (iii) seguem-se facilmente do teorema 6.4.13. Ainda do teorema 6.4.13, vem que,
para X ∈ R(A, δ),

Jg(X) = −(JfY (X, g(X)))−1 JfX (X, g(X))


  
∂f ∂f ∂f
= − 1  (X, g(X)) (X, g(X)) . . . (X, g(X)) .
  ∂x1 ∂x2 ∂xk−1
 ∂f 
(X, g(X))
∂xk
Funções Inversa e Implı́cita 249

Donde,
∂f ∂f ∂f
(
(X, g(X)), (X), . . . , (X, g(X)))
∂x1 ∂x2 ∂xk−1
grad g(X) = − , X ∈ R(A, δ),
∂f
(X, g(X))
∂xk
o que prova (iv). ppppppppppppppppppppppp

6.4.16
Exemplo Seja f : R4 −→ R,
x2 + y 2 + z 2 + w 2 + 1
 
f (x, y, z, w) = xy sen w + log + w7 .
7
Se Z0 = (1, 2, −1, 0), então f (Z0 ) = 0, isto é, Z0 é solução da equação em R4 :
 2
x + y 2 + z 2 + w2 + 1

xy sen w + log + w7 = 0.
7
Um cálculo mostra que

∂f 2x
(x, y, z, w) = + y sen w,
∂x 1 + w + x2 + y 2 + z 2
2

∂f 2y
(x, y, z, w) = + x sen w,
∂y 1 + w + x2 + y 2 + z 2
2

∂f 2z
(x, y, z, w) = ,
∂z 1 + w + x2 + y 2 + z 2
2

∂f 2w
(x, y, z, w) = 7w6 + + x y cos w.
∂w 1 + w + x2 + y 2 + z 2
2

∂f
Em particular, ∂w (1, 2, −1, 0) = 2 6= 0, o que permite fazer uso do corolário 6.4.15, para obter
um retângulo simples aberto R em torno de (1, 2, −1), um intervalo aberto J 3 0 e uma aplicação
de classe C 1 , g : R −→ J, tais que

(i) g(1, 2, −1) = 0;


(ii) f (x, y, z, g(x, y, z)) = 0, (x, y, z) ∈ R;
(iii) f −1 (0) ∩ (R × J) = G(g);
∂f ∂f ∂f
( (X, g(X)), (X, g(X)), (X, g(X)))
∂x ∂y ∂z
(iv) grad g(X) = − , X = (x, y, z) ∈ R.
∂f
(X, g(X))
∂w
Como ∂f∂x
(1, 2, −1, 0) = 2/7, ∂f
∂y
(1, 2, −1, 0) = 4/7 e ∂f
∂z
(1, 2, −1, 0) = −2/7, vem, de (iv), que
∂f
grad g(1, 2, −1) = (1/7, 2/7, −1/7). O fato que ∂x (1, 2, −1, 0) = 2/7 6= 0 pode ser usado para
250 Superfı́cies Regulares em R3

concluir que a equação f (x, y, z, w) = 0 também define implicitamente x com função de (y, z, w).
Para ver isto, usamos o corolário 6.4.15 com certo cuidado, devido a forma do seu enunciado,
∂f
que leva em conta que a última derivada parcial de f ( ∂x k
(Z0 )) é não-nula. Para contornar
esta dificuldade, introduzimos uma função auxiliar h : R −→ R4 , h(s, t, u, v) = (v, t, u, s) e
4

definimos fe = f ◦ h. (A idéia é “trocar x por w”.) Temos que ∂∂vf (s, t, u, v) = ∂f (v, t, u, s). Logo,
e
∂x
∂ fe ∂f
∂v
(0, 2, −1, 1) = ∂x (1, 2, −1, 0) 6= 0, o que garante que fe(s, t, u, v) = 0 define implicitamente v
como função de (s, t, u):

v = ge(s, t, u), ge(0, 2, −1) = 1 e fe(s, t, u, ge(s, t, u)) = 0,

ou

v = ge(s, t, u), ge(0, 2, −1) = 1 e (f ◦ h)(s, t, u, ge(s, t, u)) = f (e


g (s, t, u), t, u, s) = 0.

A arrumação final se dá colocando t = y, u = z, s = w e x = g(y, z, w) = ge(z, w, y). Donde,

f (g(y, z, w), y, z, w) = 0, e g(2, −1, 0) = ge(0, 2, −1) = 1.

O mesmo raciocı́nio pode ser aplicado para mostrar que f (x, y, z, w) = 0 também define impli-
citamente y como função de (x, z, w) e z como função de (x, y, w). Note que todas estas funções
implı́citas não são facilmente explicitáveis.

6.5
3
Superfı́cies Regulares em R

Na subseção 5.4.6, introduzimos, sem muito rigor, a noção de superfı́cie regular do R3 ,


como sendo um subconjunto de R3 obtido pela colagem de gráficos de funções de duas variáveis,
ora de x e y, ora de y e z, ora de x e z. Nosso objetivo principal aqui é introduzir com um pouco
mais de rigor estas noções, o que produzirá uma breve introdução à Geometria Diferencial.
Sejam D ⊂ R2 um aberto e f : D −→ R uma aplicação de classe C 1 . Da definição 1.4.7,
vem que o gráfico de f é dado por

G(f ) = {(x, y, z); z = f (x, y), (x, y) ∈ D}.

Portanto, G(f ) coincide com o traço da superfı́cie parametrizada definida por

g:D −− − R3
−→

(u, v) −−−−−→ g(u, v) = (u, v, f (u, v)),

isto é, g é uma parametrização, chamada parametrização canônica de G(f ). Sugerimos ao leitor
consultar a figura 37 da página 47 para lembrar que G(f ) se projeta ortogonalmente sobre uma
Funções Inversa e Implı́cita 251

cópia de D posta no plano-xy e, além disto, as retas ortogonais à esta cópia interceptam-no
apenas em um ponto.
A idéia agora é construir subconjuntos especiais de R3 , os quais chamaremos de superfı́cies
regulares, e que “localmente” se comportam como gráficos. Visando isto, introduziremos a seguir
a noção de superfı́cie parametrizada canônica.

6.5.1
Definição Seja f : D −→ R uma aplicação de classe C 1 definida no aberto D ⊂ R2 . As-
sociadas a f , temos três superfı́cies parametrizadas, a saber:

(i) g12 (u, v) = (u, v, f (u, v)), (u, v) ∈ D;


(ii) g13 (u, v) = (u, f (u, v), v), (u, v) ∈ D;
(iii) g23 (u, v) = (f (u, v), u, v), (u, v) ∈ D.

Estas superfı́cies parametrizadas são chamadas superfı́cies parametrizadas canônicas. Seus


traços serão indicados, respectivamente, por G12 (f ), G13 (f ) e G23 (f ).

Observação G12 (f ) é o gráfico de f . G13 (f ) tem a mesma forma geométrica de G(f ), só que
ele se projeta ortogonalmente sobre uma cópia de D posta no plano-xz. G23 (f )
também tem a mesma forma, mas se projeta sobre uma cópia de D no plano-yz.

6.5.2
Exemplo Seja f (x, y) = x2 + y2 + 1, (x, y) ∈ D = [−1, 1] × [−1, 1]. Temos que G(f ) é
a porção do parabolóide de revolução z = x2 + y 2 + 1 que se projeta sobre o
retângulo D. As superfı́cies paramatrizadas canônicas associadas a f são

g12 (u, v) = (u, v, u2 + v 2 + 1), (u, v) ∈ D;


g13 (u, v) = (u, u2 + v 2 + 1, v), (u, v) ∈ D;
g23 (u, v) = (u2 + v 2 + 1, u, v), (u, v) ∈ D.

A figura abaixo mostra os traços G12 (f ), G13 (f ) e G23 (f ).


z z z
q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq 6 qqqqqqqqqqqqq 6 6
qqqqq qqqqqqqqq qqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqq
qqq
qqqqqqqq
qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqq
qqqqqqqq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq qqqqqqqqqqq
q q qqq
qqq q q qq
qqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqq G12 (f ) = G(f )
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqq
qq qqqqq
q qqqqqqqqqqqq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq
qqqq
q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq D
qqqq qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqq qqqq qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqq qqqqqq qqqqqqqqqqqqq qqqqq
G13 (f )qqqqqqqqqqq q q q
qqqq
qqqqqq
qqqq
qqqqqqqq qq qqq
qq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q q
qqqq
qqq q
q q
q q
q qqq
qqq q
q q
q q
q
q
qqqqqqq qqqqqq
qqqqqq
qqq q qq q
qq q
q qq qq qq q qq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq q q q q q
qq q qq q
q q
q q q
q q
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
D qqqqqqq qqqqqqqqqqqq qqqq q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq qqqqqq qqqqqqqqq qqqqqq qqqq D qqqqqqqq
qqqqqqqqq qqqqq qqqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
q q q q q q qqq q q qq q qqq q q q q q q q qqqqqqqq
qqqqqqq qqqq
qq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqq qqqqq y
qq qq qq qqqqqq qq qqqqqq qq qq qq qqqq qqqq qqqq
qqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq
- -
y qqqqqqq
qqq qqq qqq
qqqqqqqq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq y q
qq
qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqq q
qqqqqqq G23 (f ) qqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqq
qqqqqqqqq
qqq qq
qqqqq
qqqqq qqqq qqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q qqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqq
qqqq
qq q qq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqq
qq

x x
x
Figura 89
252 Superfı́cies Regulares em R3

6.5.3
Definição Seja S ⊂ R3 um conjunto não-vazio. S é dito uma superfı́cie regular se para
cada P ∈ S existir um subconjunto aberto V ⊂ R3 , contendo P , tal que
W = V ∩ S coincide com um conjunto do tipo G12 (f ), ou G13 (f ), ou G23 (f ), para alguma
função de classe C 1 , f : D ⊂ R2 −→ R, D aberto de R2 . A interseção W é chamada vizinhança
coordenada de P .

z z
6.5.4 6 6
Exemplo Seja
qqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
S = S 2 (a) = {X ∈ R3 ; kXk2 = a2 } qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
qqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -y
y qqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqq q q qqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqq
a esfera centrada na origem e de raio a. Verificare-
mos que S é uma superfı́cie regular, decompondo-a x x
(i-a) (i-b)
em seis vizinhanças coordenadas:
 p
(i) duas vizinhanças da forma G12 , dadas por (i-a): z = a2 − x2 − y 2
Figura 90: p
p (i-b): z = − a2 − x2 − y 2
z = ± a2 − x2 − y 2 , x2 + y 2 < a2 ,
z z
como mostra a figura 90; 6 6
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqq qq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
(ii) duas vizinhanças da forma G13 , dadas por qqqq
q qq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqq qqqqq qqqqqqqq
q qqqqq qqqqqqqqqqqqqq
√ q q q q q q qqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq qqq - qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq q q
y = ± a2 − x2 − z 2 , x2 + z 2 < a2 , qqqq y qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq y
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqq q q q q q qqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq
como mostra a figura 91;
x
x
(iii) duas vizinhanças da forma G23 , dadas por (ii-a) (ii-b)

(ii-a): y = −√a2 − x2 − z 2

p
x = ± a2 − y 2 − z 2 , y 2 + z 2 < a2 , Figura 91:
(ii-b): y = √a2 − x2 − z 2
como vemos na figura 92.
z z
Consideremos agora os semi-espaços abertos dados 6 6
por
q qqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqq
qqqqq qqqq qqqqqqq
qqqqqqqqqqq qqqqqqqq q qqqqqq
qq q
V1a = {(x, y, z); z > 0}, V1b = {(x, y, z); z < 0} qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqq
qqqqqq qq
q q q q qqq
qq q q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qq q
qqqq qq q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq -
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
q
q
qqqqq qq q
qq
qqqq q
q qqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqq q qq
q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qq q
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq
qqqq
qq
y qqqqqqq
qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqq q y
V2a = {(x, y, z); y < 0}, V2b = {(x, y, z); y > 0} q q qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq

V3a = {(x, y, z); x > 0}, V3b = {(x, y, z); y < 0}.
x

x (iii-b)
(iii-a)
Temos que V1a ∩ S é a vizinhança coordenada da
 p
(iii-a): x = a2 − y 2 − z 2
figura 90-(i-a), V1b ∩S é a vizinhança coordenada da Figura 92: p
(iii-b): x = − a2 − y 2 − z 2
figura 90-(i-b), V2a ∩S é a vizinhança coordenada da

figura 91-(ii-a), V2b ∩ S é a vizinhança coordenada da figura 91-(ii-b), V3a ∩ S é a vizinhança co-
ordenada da figura 92-(iii-a) e V3b ∩ S é a vizinhança coordenada da figura 92-(iii-b). Isto mostra
que S 2 (a) é uma superfı́cie regular. Note que as vizinhanças Via e Vib são, respectivamente, os
Funções Inversa e Implı́cita 253

traços de
gia : D ⊂ R2 −− − R3
−→


(u, v) −−−−−→ gia (u, v) = (u, v, a2 − u2 − v 2 )

e
gib : D ⊂ R2 −− − R3
−→

√ ,
(u, v) −−−−−→ gib (u, v) = (u, v, − a2 − u2 − v 2 )

onde D é o disco aberto D = {(u, v); u2 + v 2 < a2 }. É claro que podemos cobrir S 2 (a) com dois
gráficos, se não somos obrigados a considerá-los como gráficos de funções definidas em abertos
do plano R2 , como é o caso da definição 6.5.3. Com efeito, sem esta exigência, os gráficos de
p p
z= a2 − x 2 − y 2 e z = − a2 − x 2 − y 2 , x 2 + y 2 ≤ a2 ,

cobrem a esfera.

6.5.5
Exemplo Dada f : D ⊂ R2 −→ R de classe C 1 no aberto de D, o seu gráfico G(f ) é uma su-
perfı́cie regular. De fato, tomando V = R3 , vemos que V ∩ G(f ) = G12 (f ). Logo,
G(f ) é uma vizinhança coordenada da cada um de seus pontos. Em particular, o parabolóide
de revolução z = x2 + y 2 e a sela z = y 2 − x2 são superfı́cies regulares.

6.5.6
Exemplo O cone de duas folhas x2 + y2 − z 2 = 0 (veja a figura 28-(a), página 35) não é uma
superfı́cie regular. De fato, a interseção de qualquer aberto de R3 , que contenha
a origem, com o este cone não é do tipo G12 (f ), nem do tipo G13 (f ), nem do tipo G23 (f ).

6.5.7
Definição Seja f : D ⊂ Rn −→ R uma função de classe C 1 no aberto D. Um ponto X ∈ D
é dito um ponto regular de f se grad f (X) 6= O.

6.5.8
Definição Seja f : D ⊂ Rn −→ R uma função de classe C 1 no aberto D. Um número real
c ∈ R é dito um valor regular de f se f −1 (c) é vazio ou grad f (X) 6= O, para
todo X ∈ f −1 (c).

6.5.9
Exemplo Seja f : R3 −→ R, f (x, y, z) = x2 + y2 + z 2 . Temos que f −1 (c) = ∅, se c < 0.
Logo, se c < 0, então c é um valor regular de f . Se c = 0, f −1 (c) = {(0, 0, 0)}.
Como grad f (0, 0, 0) = (0, 0, 0), vem que c = 0 não é valor
√ regular de f . Agora, √se c > 0,
temos que f −1 (c) é a esfera euclidiana de centro O e raio c. Se X = (x, y, z) ∈ S 2 ( c), então
grad f (x, y, z) = 2X 6= O. Logo, os números reais positivos também são valores regulares de f .
254 Superfı́cies Regulares em R3

6.5.10
Exemplo Seja f : R3 −→ R, f (x, y, z) = x2 + y2 − z 2 . Temos que ∇f (x, y, z) = 2(x, y, −z),
o qual se anula apenas na origem O. Como f (O) = 0, vem que se c 6= 0, então
c é valor regular de f . Isto implica que o cone de duas folhas f −1 (0) contém o ponto não-
regular de f , o qual coincide com o seu vértice, enquanto os hiperbolóides de uma e duas folhas
(figuras 28-(a) e 28-(b)) dados, respectivamente, por f −1 (c), c > 0, e f −1 (c), c < 0, só contêm
pontos regulares de f .

6.5.11
Teorema Seja f : D ⊂ R3 −→ R uma aplicação de classe C 1 no aberto D. Se c ∈ R é um
valor regular de f tal que f −1 (c) 6= ∅, então S = f −1 (c) é uma superfı́cie regular.
Demonstração: Seja P = (x0 , y0 , z0 ) um ponto qualquer de f −1 (c). Logo, f (P ) = c e
∇f (P ) 6= (0, 0, 0). Portanto, somos levados a uma das seguintes alternativas:
∂f
(a1) ∂z
(x0 , y0 , z0 ) 6= 0;
∂f
(a2) ∂y
(x0 , y0 , z0 ) 6= 0;
∂f
(a3) ∂x
(x0 , y0 , z0 ) 6= 0.

Se ocorre (a1), podemos usar o corolário 6.4.15 para encontrar um retângulo simples aberto
R1 = (x0 − δ, x0 + δ) × (y0 − δ, y0 + δ), um intervalo aberto J1 = (z0 − , z0 + ) e uma função
de classe C 1 , g1 : R1 −→ J1 , tais que

(b1) g1 (x0 , y0 ) = z0 ;
(b2) f (x, y, g1 (x, y)) = c, (x, y) ∈ R1 ;
(b3) f −1 (c) ∩ (R1 × J1 ) = G(g1 ) = G12 (g1 ).

Como V = R1 × J é um aberto de R3 , vemos que (b1) significa que W = f −1 (c) ∩ V é uma


vizinhança coordenada de P . Vejamos, agora, o que podemos fazer quando ocorre (b2), isto é,
∂f
∂y
(x0 , y0 , z0 ) 6= 0. Neste caso, usamos outra vez o teorema da função implı́cita, agora tomando
um certo cuidado, devido à forma do seu enunciado. Por isso, introduzimos o difeomorfismo
h : R3 −→ R3 , dado por h(u, v, w) = (u, w, v), e consideramos fe = f ◦ h, definida no aberto
e = h−1 (D). Temos que ∂ fe (u, v, w) = ∂f (u, w, v), o que vem da regra da cadeia. Em particular,
D ∂w ∂y
∂ fe ∂f
∂w
(x0 , z0 , y0 ) = (x0 , y0 , z0 ) 6= 0, o que permite aplicar o corolário 6.4.15 a fe para obter um
∂y
retângulo simples aberto R2 3 (x0 , z0 ), um intervalo aberto J2 3 y0 , e uma aplicação de classe C 1 ,
g2 : R2 −→ J2 , tais que

(c1) g2 (x0 , z0 ) = y0 ;
(c2) fe(u, v, g2 (u, v)) = c, (u, v) ∈ R2 ;
(c3) fe−1 (c) ∩ (R1 × J) = G(g2 ) = G12 (g2 ) = {(u, v, g2 (u, v)); (u, v) ∈ R1 }.

Como fe = f ◦ h, vem que fe−1 (c) = h−1 (f −1 (c)), o que, junto com (c3), produz

f −1 (c)∩h(R2 ∩J2 ) = h({(u, v, g2 (u, v)); (u, v) ∈ R2 }) = {(u, g2 (u, v), v); (u, v) ∈ R2 } = G13 (g2 ).
Funções Inversa e Implı́cita 255

Portanto, f −1 (c) ∩ h(R2 ∩ J2 ) é uma vizinhança coordenada de P . Deixamos ao leitor a tarefa


de mostrar que na presença de (b3), obtemos uma vizinhança coordenada de P do tipo G23 (g3 ),
para alguma g3 . ppppppppppppppppppppp

6.5.12
Exemplo Como aplicação direta do teorema 6.5.11, temos que os hiperbolóide de uma e
duas folhas são superfı́cies regulares. De fato, como vimos no exemplo 6.5.10,
cada um deles é imagem inversa de um valor regular de f (x, y, z) = x2 + y 2 − z 2 .
6
Exercı́cios
Funções Inversa e Implı́cita – Exercı́cios 257

6-1 Uma função vetorial f : D ⊂ Rn −→ Rm é dita uniformemente contı́nua em D se dado  > 0


existe δ, que pode depender se , tal que
∀X, Y ∈ D, kX − Y k < δ =⇒ kf (X) − f (Y )k < .

(a) Mostre que se f : D ⊂ Rn −→ Rm é uniformemente contı́nua, então f é contı́nua em D;


(b) Mostre α(t) = (t, t2 ), t ∈ R, é contı́nua, mas não é uniformemente contı́nua;
(c) Se f : K ⊂ Rn −→ Rm é contı́nua no compacto K, então f é uniformemente contı́nua;
(d) Mostre que toda função lipschitziana f : D ⊂ Rn −→ Rm é uniformemente contı́nua.
6-2 Calcule a norma de cada aplicação linear abaixo.

(a) T : R4 −→ R4 , T (x, y, z, w) = (x, 2y, −3z, 2 w);
(b) Tθ : R2 −→ R2 , Tθ (x, y) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ);
(c) f : R4 −→ R, f (x, y, z, w) = x + 2y + z − w;
√ √
(d) R : R3 −→ R3 , R(x, y, z) = (( 3x − y)/2, (x + 3y)/2, z);
(e) S : R2 −→ R2 , S(x, y) = (x + 2y, 2x + y).
6-3 Seja T ∈ L(Rn , Rm ) com matriz M (T ). Considere S ∈ L(Rn , Rn ) definida por
S(X) = ( tM (T )M (T ))X, X ∈ Rn ,
onde tM (T ) indica a transposta de M (T ).
(a) Mostre que S é auto-adjunta (veja o exercı́cio 1-22);
(b) Mostre que kT (X)k2 = X · S(X);
(c) Existe uma matriz ortogonal n × n, P , tal que D = tP SP é diagonal, digamos
D = diag(λ1 , λ2 , . . . , λn ).
Além disto, λi ≥ 0, para i = 1, 2, . . . , n;

(d) Conclua que kT k = max{ λi , i=1,2,. . . ,n}.
(e) Se T é ortogonal (veja exercı́cio 1-19), então kT k = 1;
(f) Re-obtenha o item (e) do exercı́cio anterior.
6-4 Seja
f : R2 −− − R2
−→

.
(x, y) −−−−−→ f (x, y) = (x4 y + x, x + y 3 )
(a) Mostre que f é sobrejetiva;
(b) Mostre que f não tem uma inversa globalmente definida;
(c) Mostre que existem Ω1 3 (1, 1) e Ω2 3 (2, 2) abertos de R2 tais que a restrição
f : Ω1 −→ Ω2 tem inversa diferenciável;
(d) Calcule Jf −1 (2, 2);
 
−1 1, 99
(e) Encontre um valor aproximado para f ;
2, 001
∂y
(f) Se f −1 (u, v) = (x(u, v), y(u, v)), calcule ∂x
∂u
(2, 2) e ∂v
(2, 2).
258 Funções Inversa e Implı́cita – Exercı́cios

6-5 [Coordenadas Polares e Argumento Complexo] Seja

f : (0, +∞) × (0, 2π) −− − R2


−→

(r, θ) −−−−−→ f (r, θ) = (r cos θ, r sen θ).

(a) f é uma aplicação de classe C ∞ ;


(b) f é injetiva;
(c) f cobre R2 − [0, +∞);
p y
(d) Mostre que f −1 = g, onde g(x, y) = ( x2 + y 2 , π + 2 arctg p );
x − x2 + y 2
p
(e) Em particular, se z = r eiθ = r(cos θ + i sen θ), r = x2 + y 2 e θ = Arg(z) ∈ (0, 2π),
então
y
Arg(z) = π + 2 arctg p .
x − x2 + y 2
Logo, Arg : C − [0, +∞) −→ (0, 2π) é de classe C ∞ .
6-6 [A Exponencial e o Logaritmo] Seja

f : R2 −− − R2
−→

,
z −−−−−→ f (z) = (eu cos v, eu sen v)

onde z = (u, v).


(a) Mostre que f (R2 ) = R2 − {(0, 0)}. Na realidade, f (R × (0, 2π]) = R2 − {(0, 0)};
(b) f é um difeomorfismo de R × (0, 2π) sobre R2 − [0, +∞), e sua inversa é
p y
f −1 (x, y) = (log x2 + y 2 , π + 2 arctg p );
x − x2 + y 2
(c) Dado z = u + iv ∈ C, o número complexo

Exp(z) = f (u, v) = eu (cos v + i sen v) = eu eiv

é a exponencial complexa de z. Mostre que Exp : R × (0, 2π) −→ C − [0, +∞) é um


difeomorfismo com inversa

Log w = log |w| + i Arg w,

onde w = x + iy ∈ C − [0, +∞). (Log é um ramo do logaritmo. Um ramo do logaritmo


é a inversa da restrição de Exp a uma faixa (horizontal) aberta de largura 2π.)
6-7 Dadas aplicações diferenciáveis f, g : R3 −→ R, construa uma nova função

F : R3 −− − R3
−→

.
(x, y, z) −−−−−→ F (x, y, z) = (f (x, y, z), g(x, y, z), f (x, y, z) + g(x, y, z))

Mostre que se F tem uma inversa, esta nunca pode ser diferenciável, em nenhum ponto.
Funções Inversa e Implı́cita – Exercı́cios 259

6-8 Seja g : R −→ (0, +∞) contı́nua. Defina f assim:

f : R2 −−− R2
−→

Z y+x Z y−x .
(x, y) −−−−−→ f (x, y) = (u, v) = ( g(t) dt, g(t) dt)
0 0

(a) Mostre que f é injetiva;


∂(u,v)
(b) Mostre que ∂(x,y)
= 2g(y + x)g(y − x) > 0, e f é um difeomorfismo de R2 sobre o aberto
f (R2 ).

6-9 Seja f : Rn −→ R diferenciável.


(a) Dado X ∈ Rn , mostre que f (2X) − f (X) = grad f (θX) · X, para algum 1 < θ < 2;
(b) Conclua que se lim dfX (X) = 0, então a função g(X) = f (2X) − f (X), X ∈ Rn , é
X→∞
limitada.

6-10 Seja f : Rn −→ Rm diferenciável. Suponha que lim dfX (X) = 0. Mostre que a função
X→∞
g(X) = f (2X) − f (X) é limitada.

6-11 Seja f : Rn −→ Rn de classe C 1 tal que dfX (V ) · V > 0, ∀ X, V ∈ Rn , V 6= 0. Fixados X e


Y em Rn , defina a função real g(t) = f (X + t(Y − X)) · (Y − X).
(a) Mostre que g 0 (t) = (df(X+t(Y −X)) (Y − X)) · (Y − X);
(b) Se f (X) = f (Y ), então existe θ ∈ (0, 1) tal que g 0 (θ) = 0, isto é,

(df(X+θ(Y −X)) (Y − X)) · (Y − X) = 0;

(c) Conclua que f tem que ser injetiva;


(d) f é um difeomorfismo de Rn sobre o aberto f (Rn );
(e) Dê um exemplo (n = 1 basta) mostrando que f pode não ser sobrejetiva. (Para
obter sobrejetividade, precisamos melhorar a condição sobre f 0 , conforme mostra o
exercı́cio 6-12.)

6-12 SSeja f : Rn −→ Rn de classe C 1 tal que, para algum α > 0,

dfX (V ) · V ≥ α kV k2 , ∀ X, V ∈ Rn , V 6= 0.

(a) Mostre que f é um difeomorfismo de Rn sobre o aberto f (Rn ).


(b) Mostre que f (Rn ) é fechado em Rn .
(c) Conclua que f é sobrejetiva.
(d) Conclua que kf (Y ) − f (X)k ≥ α kY − Xk, ∀ X, Y ∈ Rn .
260 Funções Inversa e Implı́cita – Exercı́cios

6-13 Seja f : Rn −→ Rn de classe C 1 , injetiva e tal que f 0 (X) é uma aplicação ortogonal (veja
o exercı́cio 1-19), para todo X ∈ Rn . Seja g : f (Rn ) −→ Rn a inversa de f (justifique a
existência de g)1 .
(a) Mostre que kf 0 (X)V k = kV k, ∀ X, V ∈ Rn . Em particular, kf 0 (X)k = 1, ∀ X ∈ Rn ;
(b) Mostre que kg 0 (Y )W k = kW k, ∀ Y ∈ f (Rn ) e W ∈ Rn . Em particular, kg 0 (Y )k = 1,
∀ Y ∈ f (Rn );
(c) Use a desigualdade do valor médio para mostrar que
(i) kf (X2 ) − f (X1 )k ≤ kX2 − X1 k, ∀ X1 , X2 ∈ Rn ;
(ii) kg(Y2 ) − g(Y1 )k ≤ kY2 − Y1 k, ∀ Y1 , Y2 ∈ f (Rn );
(d) Conclua que kf (X2 ) − f (X1 )k = kX2 − X1 k, ∀ X1 , X2 ∈ Rn . Portanto, f é uma isome-
tria, como no exercı́cio 1-20;
(e) Mostre que f 0 (X) ∈ O(n) é constante. (O(n) é o grupo das matrizes ortogonais.)
6-14 Seja φ : D ⊂ Rn −→ Rn de classe C 1 no aberto convexo D. Se kφ0 (X)k ≤ c < 1, para
algum c ≥ 0, e todo X ∈ D, então a perturbação da identidade f (X) = X + φ(X) é um
difeomorfismo de D sobre o aberto f (D). Se D = Rn , então f (D) = Rn .
6-15 Seja f : R −→ R de classe C 1 tal que |f 0 (t)| ≤ λ < 1, para todo t ∈ R.
(a) Mostre que
g : R2 −− − R2
−→

(x, y) −−−−−→ g(x, y) = (x + f (y), y + f (x))
é uma perturbação diferenciável da identidade;
(b) Conclua que g é um difeomorfismo de R2 ;
sen y sen x
(c) Mostre que g(x, y) = (x + ,y + ), (x, y) ∈ R2 , é um difeomorfismo de R2 ;
2 2
(d) Calcule Jg −1 (0, 0);
(e) Se g −1 (u, v) = (x(u, v), y(u, v)), calcule ∂y
∂v
(0, 0).
6-16 Sejam T, h : R2 −→ R2 dadas por
1 sen x cos y
T (x, y) = (−x + 2y, 2x − y) e h(x, y) = ( ,− ).
3 4 5
(a) Mostre que T é um isomorfismo, e que T −1 funciona assim: T −1 (u, v) = (u + 2v, 2u + v);
(b) Calcule kT k e kT −1 k;
1
(c) Mostre que kh0 (X)k ≤ , para todo X ∈ R2 ;
4
−x + 2y sen x 2x − y cos y
(d) Mostre que f (x, y) = ( + , − ) é um difeomorfismo de R2 .
3 4 3 5
6-17 Complete a afirmação feita na introdução deste capı́tulo, provando que o teorema da função
implı́cita implica o teorema da função inversa.
1
Na realidade, a hipótese sobre a injetividade de f pode ser retirada. A condição de ortogonalidade das
0
f implica isto. (Veja, por exemplo, Grupo Fundamental e Espaços de Recobrimento de Elon Lages Lima,
páginas 140 a 143.)
Funções Inversa e Implı́cita – Exercı́cios 261

6-18 Seja

x2 sen 1 + x , se x 6= 0
f (x) = x 2 .
0, se x = 0

(a) Mostre que



2x sen 1 − cos 1 + 1 , se x 6= 0

0
f (x) = 1 x x 2 ,
 ,
 se x = 0
2
e conclua que f não é de classe C 1 ;
(b) Mostre que f não é injetiva em nenhum intervalo aberto contendo a origem;
(c) Conclua que sem a hipótes de f ser de classe C 1 o teorema da função inversa falha.
6-19 Seja f : R2 −→ R uma aplicação de classe C 1 . Mostre que existe c ∈ R tal que a equação
f (x, y) = c admite um número infinito de soluções.
6-20 Melhore o resultado do exercı́cio anterior, mostrando que, se f não é constante, existe
um intervalo I ⊂ R tal que toda equação f (x, y) = c, c ∈ I, tem um número infinito de
soluções.
6-21 Seja
f : R2 −−
−→
−− R
y
.
Z
2
(x, y) −−−−−→ f (x, y) = et dt
x
x2 y2
(a) Mostre que grad f (x, y) = (− e , e );
(b) f é sobrejetiva;
(c) Dado c ∈ R existe um único y0 ∈ R tal que f (0, y0 ) = c;
(d) Sejam c e y0 como em (c). Então existe gc : R −→ R de classe C ∞ tal que gc (0) = y0 e
f (x, gc (x)) = c;
(e) Calcule gc0 (x).
6-22 Seja f : R2 −→ R de classe C 1 com f −1 (0) contendo a curva da figura abaixo.
y
6
f −1 (0)

b P t

a -
x

Mostre que grad f (a, b) = (0, 0).


262 Funções Inversa e Implı́cita – Exercı́cios

6-23 Considere o seguinte sistema de equações em R4 :



2
3x + y − z + u = 0

x − y + 2z + u = 0 . (¶55 )

2x + 2y − 3z + 2u = 0

(a) Mostre que (¶55 ) pode ser resolvido para x, y e u em termos de z;


(b) Mostre que (¶55 ) pode ser resolvido para y, z e u em termos de x;
(c) Mostre que (¶55 ) pode ser resolvido para x, z e u em termos de y;
(d) Mostre que (¶55 ) não pode ser resolvido para x, y e z em termos de u;
(e) Ponha os itens (a), (b) e (c) na linguagem de funções definidas implicitamente.
6-24 Seja f : D ⊂ Rn+m −→ Rm um aplicação de classe C 1 . Suponha que em Z = (A, B), A ∈ Rn
e B ∈ Rm , o sistema de m equações lineares e n + m incógnitas Jf (A, B)(Z) = K tenha
sempre solução para todo K ∈ Rm . Mostre que existem inteiros i1 , i2 , . . ., im , entre 1 e
n + m tais que, no sistema f (Z) = C, C = f (A, B), zi1 , zi2 , . . ., zim podem ser explicitados
como funções das n outras coordenadas de Z, numa vizinhança de (A, B).
6-25 Sejam

F : R3 −− − R2
−→

(x, y, z) −−−−−→ F (x, y, z) = (F1 , F2 ) = (xy − zx − x2 y + yz 3 , xyz + 2)
e X0 = (1, 1, −1) ∈ R3 .
(a) Mostre que existem  > 0 e β(t) = (β1 (t), β2 (t)), 1 −  < t < 1 + , de classe C ∞ tal que
β(1) = (1, −1) e F (t, β(t)) = (0, 1);
(b) Se α(t) = (t, β1 (t), β2 (t)), calcule a curvatura de α em t = 1.
6-26 [Superfı́cies de Revolução] Seja f : D ⊂ R2 −→ R de classe C 1 , onde D é o semi-plano
x > 0. Suponha que γ = f −1 (0) 6= ∅ e que 0 é valor regular de f . Defina

F : R3 −−−→
−− R
p .
(x, y, z) −−−−−→ F (x, y, z) = f ( x2 + y 2 , z)
(a) Mostre que 0 é valor regular de F ;
(b) Conclua que
p
Sγ = {X = (x, y, z) ∈ R3 ; F (x, y, z) = f ( x2 + y 2 , z) = 0};
é uma superfı́cie regular, conhecida como superfı́cie de revolução gerada por γ.
6-27 [Toro] Seja γ o cı́rculo S 1 (C, a) (de centro C = (b, 0) e raio a > 0) com 0 < a < b. Assim,
γ = {(x, y); (x − b)2 + y 2 = a2 }.
A superfı́cie de revolução Sγ é o toro de revolução T 2 (a, b), conforme o exemplo 1.5.25.
Mostre que p
T 2 (a, b) = {(x, y, z) ∈ R3 ; ( x2 + y 2 − b)2 + z 2 − a2 = 0},
e que T 2 (a, b) é uma superfı́cie regular.
Funções Inversa e Implı́cita – Exercı́cios 263

6-28 [Aplicações de Veronese] Dado n ∈ N, indique por V a seguinte aplicação


2
V : Rn −−
−− Rn
−→  
x1
 x2 
 
t ,
X −−−−−→ V (X) = X X = 
 ..  (x1 x2 . . . xn )

.
xn
2
onde X = (x1 , x2 , . . . , xn ), e estamos identificando o espaço das matrizes n × n com Rn .
(a) Verifique que, quando n = 2,

V : R2 −− − R4
−→

.
(x, y) −−−−−→ V (x, y) = (V11 (x, y), V12 (x, y), V21 (x, y), V22 (x, y)) = (x2 , xy, xy, y 2 )

Mostre que ∂(V∂(x,y)


11 ,V12 )
+ ∂(V∂(x,y)
21 ,V22 )
= 2x2 + 2y 2 , e conclua que V é uma imersão (isto é,
V 0 (X) é sempre injetiva) de R2 − {(0, 0)} no R4 ;
(b) Para estimar o valor da técnica usada para o caso geral (itens de (e) a (h)), explicite V
para n = 3, e mostre que V é uma imersão de R3 − {(0, 0, 0)} em R9 ;
(c) Verifique que V (X) é simétrica, tr V (X) = kXk2 e que kV (X)k = kXk2 . Donde
2
V (S n−1 (a)) ⊂ S n −1 (a2 );
(d) V (X) = V (Y ) se, e somente se, X = ±Y ;
(e) Dado X ∈ Rn , seja α : R −→ Rn derivável e tal que α(0) = X. Mostre que

(V ◦ α)0 (0) = α0 (0) tX + X( tα)0 (0).

(f) Conclua que dVX (W ) = W tX + X tW ;


(g) Mostre que dVX (W ) = 0 ⇒ W kXk2 + (X · W )X = 0;
(h) Deduza de (g) que a restrição V a Rn − {0} é uma imersão.
6-29 [Função Implı́cita] Sejam f : D ⊂ R2 −→ R de classe C 1 no aberto D, X0 = (a, b) ∈ D e
c = f (a, b). Suponha que ∂f
∂y
(a, b) > 0.
(a) Mostre que existe um retângulo simples fechado R = [a − 1 , a + 1 ] × [b − 1 , b + 1 ] ⊂ D,
onde ∂f
∂y
é estritamente positiva;
(b) Mostre que f (a, b − 1 ) < c < f (a, b + 1 );
(c) Mostre que existe  > 0,  < 1 , tal que f (x, b − 1 ) < c < f (x, b + 1 ), para todo
x ∈ (a − , b + );
(d) Conclua que dado x ∈ (a−, a+), existe um único y ∈ [b−1 , b+1 ] tal que f (x, y) = c;
(e) Mostre que g : (a − , a + ) −→ [b − 1 , b + 1 ], definida por g(x) = y, onde y é o único
número real em [b − 1 , b + 1 ] tal que f (x, y) = c, é contı́nua;
(f) Mostre que g é de classe C 1 , e vale g 0 (a) = − ∂f
∂x
(a, b)/ ∂f
∂y
(a, b);
(g) Conclua que ((a−, a+)×(b−1 , b+1 ))∩f −1 (c) = G(g) = {(x, g(x)); x ∈ (a−, a+)}.
264 Funções Inversa e Implı́cita – Exercı́cios

6-30 [Curvas Regulares em R2 ] Um subconjunto não-vazio γ ⊂ R2 é dito uma curva regular


se para cada P ∈ γ existir um aberto V ⊂ R2 , contendo P , tal que W = V ∩ γ coincide com
o traço de uma curva parametrizada de classe C 1 de um dos tipos descritos a abaixo, onde
h : I −→ R é uma função de classe C 1 definida no intervalo aberto I:
(c1) α1 : I −→ R2 , α1 (t) = (t, h(t));
(c2) α2 : I −→ R2 , α2 (t) = (h(t), t).

As curvas parametrizadas α1 e α2 são chamadas curvas parametrizadas canônicas de R2 .


Indicaremos os traços de α1 e α2 por G1 (h) e G2 (h), respectivamente. Note que G1 (h) é o
gráfico de h. E G2 (h)?
(a) Se h(x) = x2 , x ∈ [−1, 1], esboce G1 (h) e G2 (h);
(b) Sejam f : D ⊂ R2 −→ R de classe C 1 no aberto D, P = (a, b) ∈ D e c = f (P ).
(i) Se ∂f
∂y
(P ), então existe um aberto V ⊂ R2 , contendo P , tal que V ∩ f −1 (c) é do tipo
G1 (g), para alguma g com g(a) = b;
(ii) Se ∂f
∂x
(P ), então existe um aberto V ⊂ R2 , contendo P , tal que V ∩ f −1 (c) é do tipo
G2 (g), para alguma g com g(b) = a;
(iii) Conclua que se grad f (X) 6= (0, 0), para todo X ∈ f −1 (c), então o conjunto de nı́vel
f −1 (c) é uma curva regular de R2 .
(c) Conclua que os subconjuntos abaixo são curvas regulares de R3 .
(i) O cı́rculo S 1 (a) = {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 = a2 }, a > 0;
(ii) A hipérbole H 1 = {(x, y) ∈ R2 ; y 2 − x2 = 1}, a > 0;
(iii) A parábola P 1 = {(x, y) ∈ R2 ; y − x2 = 0}, a > 0.
(d) Mostre que a lemniscata L = {(x, y) ∈ R2 ; (x2 + y 2 )2 − 4(x2 − y 2 ) = 0} (veja a figura 85)
não é uma curva regular.
6-31 [Curvas Regulares em R3 ] Dadas duas aplicações g1 , g2 : I ⊂ R −→ R, definidas no in-
tervalo aberto I, construı́mos as seguintes curvas parametrizadas, as quais chamamos curvas
parametrizadas canônicas do R3 :
(c1) α1 : I −→ R3 , α1 (t) = (t, g1 (t), g2 (t));
(c2) α2 : I −→ R3 , α2 (t) = (g1 (t), t, g2 (t));
(c3) α3 : I −→ R3 , α3 (t) = (g1 (t), g2 (t), t).

Seus traços são indicados por G1 (g1 , g2 ), G2 (g1 , g2 ) e G3 (g1 , g2 ), respectivamente.


Um subconjunto não-vazio γ ⊂ R3 é dito uma curva regular se para cada P ∈ γ existir
um aberto V ⊂ R3 , contendo P , tal que W = V ∩ γ coincide com G1 (g1 , g2 ), ou G2 (g1 , g2 ),
ou G3 (g1 , g2 ), para algumas g1 e g2 de classe C 1 em algum intervalo aberto I.
(a) Sejam f : D ⊂ R3 −→ R2 de classe C 1 no aberto D, X0 = (x0 , y0 , z0 ) ∈ D e C = f (X0 ).
Indique por (u, v) as funções coordenadas de f , i.e., f (x, y, z) = (u(x, y, z), v(x, y, z)).
(i) Se ∂(u,v)
∂(y,z)
(X0 ) 6= 0, então existe um aberto V ⊂ R3 , contendo X0 , tal que V ∩ f −1 (C)
é do tipo G1 (g1 , g2 ), para algumas g1 e g2 tais que g1 (x0 ) = y0 e g2 (x0 ) = z0 ;
Funções Inversa e Implı́cita – Exercı́cios 265

(ii) Se ∂(u,v)
∂(x,z)
(X0 ) 6= 0, então existe um aberto V ⊂ R3 , contendo X0 , tal que V ∩ f −1 (C)
é do tipo G2 (g1 , g2 ), para algumas g1 e g2 tais que g1 (y0 ) = x0 e g2 (y0 ) = z0 ;
(iii) Se ∂(u,v)
∂(x,z)
(X0 ) 6= 0, então existe um aberto V ⊂ R3 , contendo X0 , tal que V ∩ f −1 (C)
é do tipo G3 (g1 , g2 ), para algumas g1 e g2 tais que g1 (z0 ) = x0 e g2 (z0 ) = y0 ;
(iv) Conclua que se Jf (X) tem posto 2 (ou, equivalentemente, {∇u(X), ∇v(X)} é line-
armente independente), para todo X ∈ f −1 (C), então o conjunto de nı́vel f −1 (C) é
uma curva regular de R3 .
6-32 Sejam
f : R3 −− − R2
−→

(x, y, z) −−−−−→ f (x, y, z) = (u, v) = (xy + zx + x2 y + yz 5 , xyz + 1)
e X0 = (1, 1, −1) ∈ R3 .
(a) Mostre que existem  > 0 e α : (1 − , 1 + ) −→ R2 de classe C ∞ tais que valem
f (t, α(t)) = (0, 0) e α(1) = (1, −1);
(b) Calcule α0 (1);
(c) Mostre que os menores jacobianos de f são dados por
∂(u, v)
(i) = xz 2 + x2 zy − yz 6 ;
∂(x, y)
∂(u, v)
(ii) = xy 2 + 2x2 y 2 − 5y 2 z 5 ;
∂(x, z)
∂(u, v)
(iii) = x2 y + x3 y − 4xyz 5 − x2 z;
∂(y, z)
(d) Mostre que Jf (X) tem posto 2, para todo X ∈ f −1 (0, 0);
(e) Mostre f −1 (0, 0) uma curva regular do R3 .
(f) Em particular, conclua que o sistema
(
xy + zx + x2 y + yz 5 = 0
xyz + 1 = 0
tem um número infinito de soluções.
6-33 Sejam S1 = f1−1 (c1 ) e S2 = f2−1 (c2 ) duas superfı́cies regulares definidas implicitamente. S1 e
S2 são ditas transversais se γ = S1 ∩ S2 6= ∅ e os vetores ∇f1 (X) e ∇f2 (X) são linearmente
independente, para todo X ∈ γ. Mostre que se S1 = f1−1 (c1 ) e S2 = f2−1 (c2 ) são transversais,
então elas se interceptam ao longo de uma curva regular.
6-34 Mostre que os subconjuntos abaixo são curvas regulares de R3 .
(a) γ = π1 ∩ π2 , onde π1 é o plano x + y + z = 1 e π2 é o plano x − 2y + z = 1;
(b) γ = S 2 (1) ∩ π, onde π é o plano z = 0;
(c) γ = S 2 (1) ∩ π, onde π é o plano x + y + z = 1;
(d) π1 ∩ π2 , onde π1 é o plano x + y + z = 1 e π2 é o plano x − 2y + z = 1;
6-35 Mostre que a interseção do cone de duas folhas x2 + y 2 − z 2 = 0 com o plano x = 0 não é
uma curva regular.
S

Sugestões
e
Respostas
Sugestões e Respostas 267

1-1
(a) α(t) = A + t(5, −9, 4), t ∈ R.
(b) α(t) = B + t(−1, 3, 8), t ∈ R
(c) α(t) = A + t(62, −75, 318), t ∈ R.
1-2 Usando Geometria Analı́tica: ponha A = (0, h), B = (−a, 0) e C = (b, 0), onde 2h = a + b.
Agora mostre que X · Y > 0, onde X = B − A e Y = C − A.
1-3
(b) Eleve ao quadrado ambos os membros de kX − P k = kX − Qk, e use (a).
1-4
(a) Π[P1 ,P2 ] = {(x, y, z) ∈ R3 ; − x + y = 1}.
(d) Π[P1 ,P2 ] ∩ Π[P1 ,P3 ] ∩ Π[P1 ,P4 ] = {(1, 2, 3)}.
(e) (x − 1)2 + (y − 2)2 + (z − 3)2 = 1.
1-5
(a) Verifique que as 3 primeiras colunas de A são linearmente independentes.
(b) N (T ) = ger{V }, onde V = (−11, −3, 1, 1).
(d) Note que T (−61, −14, 6, 0) = (5, 7, 14). Assim, T −1 (5, 7, 14) coincide com o traço da
curva parametrizada (reta) α(t) = (−61 − 11t, −14 − 3t, 6 + t, t), t ∈ R.
(f) Defina f (x, y, z, w) = −11x − 3y + z + w.
1-6
(b) Im(T ) = {(x, y, z); 5x − 2y − z = 0} e N (T ) = {t(−4, 5, 2); t ∈ R}.
(d) 5a − 2b − c = 0.
1-7
(a) g(u, v) = P + u(−1, 4, −4) + v(2, −3, 2), (u, v) ∈ R2 .
(b) Π : 4x + 6y + 5z − 1 = 0.
(c) f (x, y) = (1 − 4x − 6y)/5.
1-8

(d) d(P, H) = d(P, M ) = 3 6.
(e) g(x, y, z) = (x, y, z, 1 − 2x + y), f (x, y, z) = 1 − 2x + y, h(x, y, z, t) = 2x − y + t.
1-9 O traço de α está contido no plano z = x + 4. Seu traço é parte de uma elipse.
1-10
(c) Verifique tr α ⊂ S 2 (2) ∩ C, onde C é o cilindro (x − 1)2 + y 2 = 1.
1-11
(a) Hemisfério superior da esfera S 2 .
(b) Cilindro circular reto.
(c) Cone de geratriz z = x, y = 0.
(d) Parabolóide de rotação.
(e) Elipsóide de rotação.
(f) Cone de uma folha.
268 Sugestões e Respostas

1-13
(a) Ω = ({0} × R) ∪ ([1, +∞) × R).
(b) Ω = ([−2, 0] × [0, −∞)) ∪ ([0, 2] × [0, +∞)).
(d) Ω = {(x, y); y > x + 1, x > 0} ∪ {(x, y); x < y < x + 1, x < 0}.
(g) Ω é a região do primeiro quadrante situada acima do eixo-x e abaixo da parábola y = x2 .
(h) Ω = (0, +∞) × (0, +∞) × R.
1-14
(a) Parabolóide.
(c) Cilindro sobre a parábola z = 2 − y 2 , x = 0.
(f) Hemisfério.
(g) Superfı́cie de revolução da curva z = 1/x2 , y = 0.
(h) Cilindro sobre uma senóide do plano y + x = 0.
(i) Cilindro sobre uma cúbica do plano y − 21 x = 0.
1-15
(b) pontos (1, 0) e (−1, 0).
(c) Cı́rculo.
(d) Elipse.
(e) Esfera.
(g) Cilindro.
(h) A união de três retas: x = 1 e y = 0, x + y = 1 e z = 0, y = 1 e x = 0.

(i) Circunferência de centro (0, 1/2, 1/2) e raio 2/2.
1-16 Elipse 2x2 + 3y 2 = 29.
! √ ! !
1 −1 2 0 cos(π/4) − sen(π/4)
1-17 Observe que = √ .
1 1 0 2 sen(π/4) cos(π/4)

1-19
(a)
(iii) Use o fato que det AB = det A det B.
(iv) Aplique o exercı́cio 1-18 a A(X) · A(Y ) e use (i).
(d)
(ii) Dado X, existem números reais a1 , a2 , . . . , an tais que T (X) = a1 T (e1 ) + a2 T (e2 ) +
· · · + an T (en )} (por quê?). Agora determine os coeficientes.
1-20
(b) Primeiro mostre que kS(X)k = kXk, ∀X. Agora considere o “quadrado” de (¶10 ).
(c) Use o exercı́cio 1-19 (d-iii).
(d) Ponha S(X)
e = S(X) − S(0) e aplique (c).
Sugestões e Respostas 269

1-21
(b) De fato, temos que T leva o xy-plano nele mesmo. Agora é só aplicar o exercı́cio 1-19 (c).
(c) O ângulo de rotação é π/6.
1-22
(a) aij = T (ei ) · ej = ei · T (ej ) = aji .
e = T (w) ∈ W e v ∈ W ⊥ . Então, T (v) · w = v · T (w) = v · w
(b) Sejam w ∈ W , w e = 0.
!
a b
(c) Se A = é a matriz de T , então seu polinômio caracterı́stico é
b c

pT (λ) = λ2 − (a + c)λ + ac − b2 ,

que tem discriminante não-negativo. Para n = 3, comece notando que pT tem sempre
uma raiz real (grau ı́mpar). Portanto, existe uma reta l invariante sob T . Use o caso
n = 2 para a restrição de T a l⊥ .
(d) λ1 V1 · V2 = T (V1 ) · V2 = V1 · T (V2 ) = V1 · λ2 V2 = λ2 V1 · V2 . Donde (λ1 − λ2 )V1 · V2 = 0.
2-1 (2, 0, 4) e (18, 4, 12).
2-2 α é regular no intervalo aberto J = (−2, 4) e não é derivável nos pontos −2 e 4.
2-4
(a) X(u) = (2, 2u, u), u ∈ R.
(b) X(u) = (u, 0, u), u ∈ R.
(c) X(u) = (1 + u, 1 + 2u, 1 + 3u), u ∈ R.
(d) X(u) = (2 + 2u, 1 + 2u, (1/3) + u), u ∈ R.
2-5 α(0) = β(π/2) = (1, 1, 0). Tangentes ortogonais.
2-6
(a) x2 + y 2 + z 2 = 4.
(b) O cilı́ndro parabólico é y = 2 − z 2 /2, e o circular é x2 + (y − 1)2 = 1.

(c) v(t) = 2 1 + sen2 t 6= 0, t ∈ R.
(d) A referida projeção é dada por (2 cos 2t, 2 sen 2t, 0).
2-7
(a) P = α(1/2).
(b) Impossı́vel.
2-9
(c) a(π − t).
2-10
(b) Derive α0 (t) · α0 (t) = c.
270 Sugestões e Respostas

2-11
(b) α é plana ⇐⇒ g é solução da equação diferencial g 00 + g = 0.
(c) Do item anterior vem que g(t) = A cos t + B sen t, onde A e B são constantes.
2-12
1 1 2
(a) T (t) = 2 (2, 2t, t2 ), B(t) = 2 (t2 , −2t, 2), κ(t) = 2 = −τ (t), aT (t) = 2t e
t +2 t +2 (t + 2)2
aN (t) = 2.
1 1
(b) T (t) = √ 2 (1 − t2 , 2t, 1 + t2 ), B(t) = √ 2 (t2 − 1, −2t, 1 + t2 ), κ(t) =
2(t + 1) 2(t + 1)
1 √
2 2 = −τ (t), aT (t) = 6 2 t e aN (t) = 6.
3(t + 1)
1 1
(c) T (t) = √ (cos t − sen t, cos t + sen t, 1), N (t) = √ (− cos t − sen t, cos t − sen t, 0),
√ 3 2
2 1 √ √
κ(t) = t , τ (t) = − t , aT (t) = 3et e aN (t) = 2et .
3e 3e

1 t −t
√ 2 t −t

(d) T (t) = t −t (e , −e , 2), κ(t) = τ (t) = t −t 2 , aT (t) = e − e e aN (t) = 2.
e +e (e + e )

2-13 κ(t) = 1, τ (t) ≡ 0, C = (0, 0, 0), ρ = 1, 3x + 4z = 0.

2-14

(c) κ(t) = 2(1 + cos2 t)−3/2 , τ (t) ≡ 0, y + z = 1.
√ √
√ 2 2
(d) C = (0, 0, 1), semi-eixos 2 e 1, focos (0, ± ,1 ∓ ).
2 2
(e) Curvatura máxima: em (0, 1, 0) e (0, −1, 2), as extremidades do eixo maior. Curvatura
mı́nima: em (1, 0, 1) e (−1, 0, 1), as extremidades do eixo menor.
2-15 aT = 0, aN = aω 2 .

2-16 ~r00 = −ω 2~r.

2-17 vmax = 34, 64 m/s.

2-18
(a) Temos que A(t) = (a cos θ(t), a sen θ(t)), para alguma função diferenciável θ tal que
θ(0) = 0. Assim, v = kA0 (t)k = a|θ0 | k(− sen θ, cos θ)k = a|θ0 |. Como o movimento se dá
no sentido anti-horário, vem que θ0 ≥ 0 (por quê?) e, portanto, v = aθ0 , equação cuja
solução é θ(t) = (v/a)t.
(b) A condição M = λA junto com kM 0 k = v produz a seguinte equação diferencial:
2
aλ0

+ λ2 = 1,
v
Sugestões e Respostas 271

que dá λ = sen γ e λ0 = (v/a) cos γ, para alguma função γ. Logo, γ(t) = ωt. Donde,
λ(t) = sen(ωt) e M (t) = sen(ωt)A(t). O choque ocorrerá quando M (t) = A(t), isto é,
ωt = π/2.

(c) Com as notações anteriores, e pondo vM para indicar a velocidade escalar do mı́ssil,
verifique que vale (aλ0 )2 + λ2 v 2 = vM 2
. Num possı́vel ponto de choque, digamos para
t = tc , λ(tc ) = 1. Isto implica que 0 ≤ (aλ0 (tc ))2 = vM
2
− v 2 . Tire, agora, suas conclusões.

2-21

(v02 − 2v0 gt sen θ + g 2 t2 )3/2


(a) temos que ρ(t) = .
v0 g cos θ
v0 sen θ
(b) t = minimiza ρ.
g
kα0 k ke1 k
(c) Note que cos φ = .
α0 · e1

2-23

(a) 2 π.

(b) 8.

(c) 2 3.

(d) 7/3.

3-1 Em qualquer caso, X0 é ponto isolado do domı́nio D de f , caso em que não se define limite.

3-3

x + y 2x
(c) Aqui X = (x, y) e X0 = (0, 2). Temos que − (−1) = < |2x|, se 1 <
x−y x − y
|x − y|, o que é possı́vel ser feito, para X perto de X0 , pois limX→X0 (y − x) = 2.
De fato, existe δ0 > 0 tal que se kX − X0 k < δ0 , então, |y − x − 2| < 1. Donde
2 − |y − x| ≤ |y − x − 2| < 1 e, portanto, |y − x| > 1.
2
x − y2

2
(d) Mostre 2 2 ≤ |x − y|, e trabalhe numa bola centrada em (1, 1) onde
p
x +y x2 + y 2
√ x − y2 √
2
kXk > 2/2 (que bola é essa?). Logo, nesta bola, 2 ≤ 2 |x − y|.
x + y2
(x − 1)2 (y + 1)2

(e) Mostre que ≤ (x − 1)2 .
(x − 1)4 + (y + 1)2
(f) A idéia é fazer aparecer |x − 2| e |y − 1| na expressão dada, o que por sua vez força o
272 Sugestões e Respostas

aparecimento de k(x, y) − (2, 1)k. Temos que



xy − x − 2y + 2 (x − 2 + 2)(y − 1 + 1) − (x − 2 + 2) − 2(y − 1 + 1) + 2
=

p p
x2 + y 2 − 4x − 2y + 5 2 2
(x − 2) − 4 + (y − 1) − 1 + 5

(x − 2)(y − 1)
= p


(x − 2)2 + (y − 1)2

|(x − 2)||(y − 1)|


=p
(x − 2)2 + (y − 1)2
k(x, y) − (2, 1)k2
≤ ≤ k(x, y) − (2, 1)k .
k(x, y) − (2, 1)k

x sen y
(g) Ponha X = (x, y). Basta mostrar que | p | ≤ | sen y|. (Lembre que |x| ≤ kXk.)
x2 + y 2
(h)

ex cos y − 1 − x ex −1 − x y sen y ex −1 − x y sen y
≤ p + ex p ≤ + ex p ,

p
2
x +y 2 2
x +y 2 2
x +y 2 x 2
x +y 2

onde 0 < |y| < |y|. (Você lembra do teorema do valor médio?)
3-4 Use | kf (X)k − kLk | ≤ kf (X) − Lk. A recı́proca não é verdadeira: seja f (x) = 1, se x ≥ 0,
e f (x) = −1, se x < 0. Então |f | tem limite em 0, mas f não tem limite aı́.
3-5
(a) Tome  = |l|/2 e use, para este , o fato que lim f (X) = l para achar δ0 tal que: se
X→X0
0 < kX − X0 k < δ0 , então |f (X) − l| < |l|/2. Donde |f (X)| > |l|/2.
(c) Como em (a), temos que existe δ0 tal que: se 0 < kX − X0 k < δ0 , então |f (X)−l| < l/2.
Logo, −l/2 < f (X)−l < l/2, se 0 < kX − X0 k < δ0 . O que mostra que f (X) > l/2 > 0,
para X ∈ B(X0 , δ0 ).
3-6 Use o exercı́cio 3-5, item (c).
3-7
√ √ √ √ √ √
(c) x − x0 = ( x)2 − ( x0 )2 = ( x − x0 )( x + x0 ).
1 1
(d) Basta observar que √ √ ≤√ .
x + x0 x0
3-8
(c) f é contı́nua em (x, y), se xy 6= 0.
(d) f é contı́nua.
(e) f é contı́nua em (x, y), se y 6= 0, e em (0, 0).
(f) f é contı́nua em (x, y), se y 6= 0, e em (±1, 0).
Sugestões e Respostas 273

3-9 Note que α(t + h) − α(t) = h(α(t + h) − α(t))/h. Agora faça h → 0. Um exemplo simples é
o usual: α(t) = (t, |t|), que não é derivável em t = 0.
a2 x
3-10 De fato, f (x, ax) = , se x 6= 0. Agora analise f ao longo da parábola x = y 2 .
1 + a4 x 2
3-12 Temos que kα(b) − α(a)k ≤ kα0 (c)k |b − a|, para algum c entre a e b. Logo,

kα(b) − α(a)k ≤ M |b − a|.

Para a recı́proca, use outra vez o teorema 2.2.11, agora para escrever

α(t + h) − α(t)
≤ M, ∀h 6= 0.
h

Fazendo h → 0, obtemos kα0 (t)k ≤ M .


3-13 √
Suponha que α é lipschitziana √ em R. Em particular, kα(t)k ≤ M t, para todo t > 0. Logo,
t2 + t4 ≤ M t e, portanto, 1 + t2 ≤ M , para todo t > 0. Fazendo t → +∞, obtenha √ uma
0
contradição. Para a restrição de α a [0, 1], observe que neste intervalo kα (t)k ≤ 3, e use
o exercı́cio 3-12.
4-1
y y
y cos( ) cos( )
(a) ∂f (x, y) = − x e ∂f (x, y) = x .
∂x
x2 ∂y
x
1 y
(b) ∂f
∂x
(x, y) = p e ∂f
∂y
(x, y) = p  p .
x2 + y 2 x2 + y 2 x + x2 + y 2
∂f log y 1
(c) ∂x
(x, y) =− 2 e ∂f
∂y
(x, y) = .
x log x y log(x)

∂f x
√ √
y ∂f ex y x
(d) ∂x (x, y) = e y e ∂y (x, y) = √ .
2 y
∂f z ∂f z ∂f z
(e) ∂x
(x, y, z) = x−1+y y z , ∂y
(x, y, z) = xy y −1+z z log(x) e (x, y, z) = xy y z log x log y.
∂z
∂f ∂f ∂f
(f) ∂x
(x, y, z) = x−1+yz yz, ∂y
(x, y, z) = xyz z log x e (x, y, z) = xyz y log x.
∂z
∂f
4-3 ∂y
(1, b) = 2b.
4-4
(a) C(a, b) = 25000.
(b) ∂C
∂x
(a, b) = 0, 6 e ∂C
∂y
(a, b) = 1, 6.
(c) Aumentar A.
4-5
(a) Região interior da elipse 2x2 + y 2 = 28.
(c) ∂T
∂x
(3, 1) = −12◦ C/cm e ∂T ∂y
(3, 1) = −2◦ C/cm. A temperatura baixará de, aproximada-
mente, −12◦ C/cm.
274 Sugestões e Respostas

∂z
4-6 Ache o ângulo entre os vetores (1, 0, 0) e (1, 0, ∂x (2)).

4-7
∂f ∂f ∂f ∂f
(a) ∂x
(1, 0) = ∂x
(0, 0) = ∂y
(0, 0) =0e ∂y
(1, 0) não existe.
∂f ∂f
(b) ∂x
(0, 0) =1e ∂y
(0, 0) = 0.
∂f ∂f ∂f ∂f
(c) ∂x
(1, 0) = ∂x
(0, 0) = ∂y
(0, 0) =0e ∂y
(1, 0) não existe.

4-14
(a) Plano tangente: 3x + 12y − z = 18. Reta normal: {X = (1, 2, 9) + t(3, 12, −1), t ∈ R}.
(c) Plano tangente: z = 2. Reta normal: {X = (0, 0, 2) + t(0, 0, 1), t ∈ R}.
4-15 (2, 4, 2).
4-16 x + y + z = 3.
4-17
(a) l1 = {X = (1, 0, 2) + t(1, 1, 2), t ∈ R}.
(b) l2 = {X = (1, 0, 2) + t(−1, 0, 0), t ∈ R}.

(c) cos ∠(l1 , l2 ) = −1/ 6.
4-18
(a) Plano tangente: x = z. Reta normal: {(x, y, z) = (1 + t, 0, 1 − t), t ∈ R}.
24x 18y 24t 18t
(b) Plano tangente: + + 8z = 92. {(x, y, z) = (8 + ,6 + , 4 + 8t), t ∈ R} é
5 5 5 5
a reta normal.
4-19
 
2x −2y 0
 y x 0 
(a) Jf =  .
 
 z 0 x 
0 z y
!
1 0 0
(b) Jf = .
0 1 0
(d) Se A = (a1 , a2 , . . . , an ), então Jf = (a1 a2 · · · an ).
 
− sen t
(f)  cos t .
 

1
 
−v sen u cos u
(g)  v cos u sen u .
 

1 0
Sugestões e Respostas 275

4-20
(a) grad f (1, 1) = (2, 1).
(b) grad f (5, 3) = (5/4, −3/4).
(c) grad f (X) = 2X.
4-21
(b) Em (i), use (a) com n = 2, e em (ii), use (a) com n = −1.
4-22 f (x, y) = xey + y.
4-23
(a) Se X0 6= 0, é claro que f é contı́nua, posto que é quociente de duas funções contı́nuas
(polinômios). O ponto delicado é X0 = (0, 0). Neste caso mostre que para X = (x, y) 6=
(0, 0), 0 ≤ |f (X)| ≤ kXk. Portanto, limX→(0,0) f (X) = 0.
4xy 3 (x2 − 3y 2 )

2 − , se (x, y) 6= (0, 0)

∂ f 
4-24 (x, y) = (x2 + y 2 )3
∂x2 
0, se (x, y) = (0, 0),
 3 2 2
∂ 2f  4x y(−3x + y ) , se (x, y) 6= (0, 0)

(x, y) = (x2 + y 2 )3
∂y 2 
0, se (x, y) = (0, 0).

5-1 r(H) é o resto na aproximação de f (X0 + H) por f (X0 ) + Jf (X0 )H, isto é,

r(H) = f (X0 + H) − f (X0 ) − Jf (X0 )H.

|r(H)| r(H)
(a) r(H) = h2 , H = (h, k). Logo, 0 ≤ ≤ kHk. Donde, limH→(0,0) = 0. Logo, f
kHk kHk
é diferenciável em cada (a, b) e vale f 0 (a, b)(u, v) = df(a,b) (u, v) = 2au, (u, v) ∈ R2 .
|r(H)|
(b) r(H) = ak 2 + 2bhk + hk 2 , H = (h, k). Logo, 0 ≤ ≤ (|a| + 2|b|)kHk + kHk2 e,
kHk
r(H)
portanto, limH→(0,0) = 0. Logo, f é diferenciável em (a, b) e
kHk

f 0 (a, b)(x, y) = b2 x + 2aby, (x, y) ∈ R2 .

(c) Note que próximo de (1, 2), f se reduz a x + y. Assim, r(H) = 0. Donde, segu-se
r(H)
facilmente que limH→(0,0) = 0. Logo, f 0 (1, 2)(x, y) = x + y, (x, y) ∈ R2 .
kHk
|r(H)| r(H)
(d) r(H) = h2 + k 2 + l2 , H = (h, k, l). Logo, = kHk. Donde, limH→(0,0) = 0.
kHk kHk
Assim, f é diferenciável em (a, b, c) e f 0 (a, b, c)(u, v, w) = 2au+2bv +2cw, (u, v, w) ∈ R3 .
(e) Use a definição de derivada parcial para verificar que Jf (0, 0) = (0 0). Temos que
h3 k |r(H)| r(H)
r(H) = 2 2 , H = (h, k). Logo, 0 ≤ ≤ kHk. Donde, limH→(0,0) = 0.
h +k kHk kHk
276 Sugestões e Respostas

Logo, f é diferenciável em (0, 0) e f 0 (0, 0)(u, v) = 0, (u, v) ∈ R2 .


kr(H)k r(H)
(f) r(H) = (h2 +k 2 , 0), H = (h, k). Logo, 0 ≤ ≤ kHk. Donde, limH→(0,0) = 0.
kHk kHk
Logo, f é diferenciável em (1, −1) e f 0 (1, −1)(u, v) = (2u − 2v, u + v), (u, v) ∈ R2 .
kr(H)k
(g) r(H) = (0, k 2 +l2 ), H = (h, k, l). Logo, 0 ≤ ≤ 2kHk. Logo, f é diferenciável em
kHk
(a, b, c) e f 0 (a, b, c)(u, v, w) = Jf (a, b, c) t(u v w) = (u − v + w, 2bv + 2cw), (u, v, w) ∈ R3 .
5-2
∂f ∂f
(a) Não existem ∂x
e ∂y
na origem.
(b) Estude o comportamento de f ao longo do eixo-x e ao longo da reta y = x no plano-xy
para concluir que f não é contı́nua na origem. Portanto, f não pode ser diferenciável aı́.
(c) Não existe ∂f
∂x
na origem.
5-4
(d) De fato, como grad f (0, 0) = (1, 0), se f tivesse derivada em (0, 0), terı́amos
∂f
(0, 0) = grad f (0, 0) · U = u1 ,
∂U
o que contradiria (c), pelo menos nos casos u1 6= 1.
5-5
(a) f 0 (x, y)(u, v) = ∇f (x, y) · (u, v) = yxy−1 u + xy (log x)v, (u, v) ∈ R2 .
2x 2y
(b) f 0 (x, y)(u, v) = ∇f (x, y) · (u, v) = 2 2u + 2 v, (u, v) ∈ R2 .
x +y x + y2
(c) f 0 (x, y)(H) = Jf (x, y)H = (2xh − 2yk, 2yh + 2xk), H = (h, k) ∈ R2 .
(d) f 0 (x, y, z)(u, v, w) = yzu + xzv + xyw, (u, v, w) ∈ R3 .
(e) f 0 (ρ, θ)(u, v) = (u cos θ − vρ sen θ, u sen θ + vρ cos θ), (u, v) ∈ R2 .
  
sen φ cos θ −r sen φ sen θ r cos φ cos θ h
0
(f) f (r, θ, φ)(h, k, l) =  sen φ sen θ r sen φ cos θ r cos φ sen θ   k  , (h, k, l) ∈
  

cos φ 0 −r sen φ l
3
R.
(h) f 0 (t)(u) = Jf (t) · u = u(− sen t, cos t, 2), u ∈ R.
p
5-8 (1, 02)2,01 ' 1, 04 e (4, 05)2 + (2, 93)2 ' 4, 998.
5-9 ∆P ' −125W.
5-10 Se a caixa possui tampa, a área de sua superfı́cie é dada por S(x, y, z) = 2(xy +xz +yz) cm2 ,
onde x, y e z denotam suas dimensões, medidas em cm. Logo, o custo para produzir 10.000
caixas é dado por C(x, y, x) = 50.000S(x, y, z) centavos. Com estas notações, o erro máximo
do custo para a produção de 10.000 caixas de dimensões 3 cm, 4 cm e 5 cm é

∆C = C(3 + h, 4 + k, 5 + l) − C(3, 4, 5) ' ∇C(3, 4, 5) · (h, k, l),

onde h = k = l = 0, 05 cm. Logo, tal erro é, aproximadamente, 120.000 centavos.


Sugestões e Respostas 277

5-11
(a) JF (x) = (10x(x2 + 1)4 ) = 10x(x2 + 1)4 .
 
3 5
(b) JF (1, 1) =  6 2 .
 

0 32

5-12 ∇F (1, 1) = (10, 11).


∂g ∂g
5-13 ∂x
(0, 1) = (0, −1, −2) e ∂y
(0, 1) = (1, 0, 1).
∂ 2 (f ◦g)
5-14 ∂u∂v
(1, 1) = 2.

5-15
(b) Note que

∂f ∂f (x, x) ∂f
h0 (x) = (x, f (x, x)) + (x, f (x, x))
∂x ∂x ∂y
∂f ∂f ∂f ∂f
= (x, f (x, x)) + ( (x, x) + (x, x)) (x, f (x, x)).
∂x ∂x ∂y ∂y

d(xx )
(c) Use (a) e (b) com f (x, y) = xy . Assim, = xxx−1 + xx log x.
dx
5-17
2
(d) Resolva a equação diferencial ordinária g 00 (r)+ g 0 (r) = 0. Para isto, considere a redução
r
0 2 2
y + y = 0, cuja solução geral é y = a/r , a constante.
r
5-21
e(y, s) = f (y) =⇒ u(y + cs, s) = f (y) =⇒ u(x, t) = f (x − ct).
(d) u

5-22
8
(a) .
3
(b) 0.
2 α0 (0)
(c) √ (Tome U = ).
5 kα0 (0)k

4 3
(d) .
3

2 6
(e) .
3
278 Sugestões e Respostas

∂f
5-23 Aqui U denotará a direção de crescimento máxima e ∂U a taxa de crescimento (máxima) de
f nesta direção.

∇f (4, 1, 1) 29 ∂f

(a) U = = (4, 2, 3) e ∂U (4, 1, 1) = k∇f (4, 1, 1)k = 116.
k∇f (4, 1, 1)k 29
(b) Temos que ∇f (x, y, z) = (2x, 4y, 6z) é perpendicular à superfı́cie f (x, y, z) = 6 no ponto
X = (x, y, z). Como o plano dado tem normal dado por N = (1, 2, 3), o problema
consiste em determinar todas as soluções do sistema
(
(2x, 4y, 6z) = λ(1, 2, 3), λ ∈ R
x2 + 2y 2 + 3z 2 = 6,

que são P1 = (1, 1, 1) e P2 = (−1, −1, −1).


∂f
5-24 Temos que f é diferenciável (f é C ∞ ). Assim, ∂U (X) = ∇f (X) · U . Além disto, tal derivada
é máxima quando o vetor U coincide com o unitário na direção de ∇f (X). Assim, devemos
determinar a, b, e c verificando

∇f (1, 2, −1)
= (0, 0, 1) e k∇f (1, 2, −1)k = 64,
k∇f (1, 2, −1)k

o que eqüivale a (4a + 3c, 4a − b, 2b − 2c) = (0, 0, 64). Logo, a = 6, b = 24 e c = −8.


5-25
(a) x + y = 2.
(b) 13x + 15y + z = −15.
(c) 6x + 8y − z = 25.
x y z
(d) + + = 3.
x0 y0 z0
5-26 Suponhamos que S = f −1 (0). Logo, ∇f (x0 , y0 , z0 ) = (x0 + z0 , −y0 − z0 , x0 − y0 ), num ponto
arbitrário X0 = (x0 , y0 , z0 ) de S. Daı́ ∇f (x, y, z) = (x + z, −y − z, x − y), X = (x, y, z) ∈ S.
Deste modo, f deve ser tal que 
 ∂f



 ∂x
=x+z



 ∂f = −y − z


∂y
(¶56 )
 ∂f

 =x−y
∂z






 f (1, 2, 3) = 0.

x2
A primeira equação em (¶56 ) indica que f (x, y, z) = + xz + g(y, z). Derivando esta
2
expressão com relação a y e comparando com a segunda equação de (¶56 ) obtemos que
∂g y2 x2 y2
∂y
= −y − z. Donde g(y, z) = − − zy + h(z). Assim, f (x, y, z) = + xz − − zy + h(z).
2 2 2
Sugestões e Respostas 279

Agora derivando f com relação a z e comparando com a terceira equação em (¶56 ), vem que
h0 (z) = 0, o que produz h(z) = c, para alguma constante c. Portanto,

x2 y2
f (x, y, z) = + xz − − zy + c.
2 2
Agora usando a última equação em (¶56 ), vem que c = 9/2. Donde,

x2 y2
f (x, y, z) = + xz − − zy + 9/2.
2 2
Enfim, S = {(x, y, z) ∈ R3 ; x2 − y 2 + 2xz − 2yz + 9 = 0}.
5-27 Não é difı́cil verificar que o plano π dado por
x − x0 y − y0 z − z0
√ + √ + √ =0
x0 y0 z0
é o plano tangente em X0 . O ponto onde π é furado pelo √ eixo-x é obtido na equação de π

fazendo y = 0 e z = 0. Tal ponto é dado por P 1 = ( x 0 a, 0, 0). De modo inteiramente
√ √ √ √
análogo, vemos que P2 = (0, y0 a, 0) e P3 = (0, 0, z0 a) são os pontos onde π corta o
eixo-y e o eixo-z, respectivamente. Assim, a soma dos segmentos determinados por π nos
eixo-x, eixo-y e eixo-z é dada por
√ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √
x0 a + y0 a + z0 a = a( x0 + y0 + z0 ) = a a = a.
√ √ √ √ √ √ √ √
(Note que x0 + y0 + z0 = a porque X0 pertence à superfı́cie x + y + z = a.)
5-28
∂f ∂f
(c) A reta tangente é ∂x
(a, b)(x − a) + ∂y
(a, b)(y − b) = 0.
5-29
(a) Fixe (x, y) e derive ambos os membros da expressão dada com relação a t.
(b) Tome o limite (lateral) quando t → 0+ , e obtenha x ∂f
∂x
(0, 0) + y ∂f
∂y
(0, 0) = f (x, y). Note
que aqui estamos usando o fato que as derivadas parciais de f são contı́nuas. Pronto!
Ponha a = ∂f∂x
(0, 0) e b = ∂f
∂y
(0, 0).
p
(c) Não. x2 + y 2 não é diferenciável em (0, 0).
5-30
(b) De fato, fazendo t = 0 em (a), vem que u(c1 , c2 ) = C. Logo, u(c1 et , c2 et ) = u(c1 , c2 ) et .
Como c1 e c2 são arbitrários segue-se (b).
(c) Dado t > 0, seja s ∈ R tal que es = t. (Por que s existe?) De (b) segue-se que

u(tx, ty) = u(es x, es y) = es u(x, y) = tu(x, y).

(d) Use (c) junto com o exercı́cio 5-29.


5-31
(a) Fixe (x, y) e derive duas vezes ambos os membros de (¶48 ) dada com relação a t.
280 Sugestões e Respostas

6-1
(b) Se α fosse uniformemente contı́nua em R, terı́amos δ > 0 tal que
p
∀s, t ∈ R, |s − t| < δ =⇒ (s − t)2 + (s2 − t2 )2 < 1.
Seja n0 ∈ N tal que 1/n < δ para todo n ∈ N com n > n0 . Agora tomamos s = n e
t = n + 1/n. Logo, |s − t| = 1/n < δ. Portanto,
p 1p
(s − t)2 + (s2 − t2 )2 = 1 + (2n + 1/n)2 < 1, ∀n ≥ n0 .
n
Passando o limite quando n → +∞, obtemos 2 < 1, um absurdo.
(c) A prova deste fato é feita por redução ao absurdo, e pode ser encontrada, por exemplo,
em [Lima], volume 1, para o caso n = m = 1. Imite-a, usando o fato que toda sequência
em K possui uma subsequência que converge para um ponto de K, como fizemos no
lema 6.1.36.
(d) Temos kf (X) − f (Y )k ≤ M kX − Y k , ∀X, Y . Dado  > 0, tome δ = /M .
6-2
(a) kT k = 3.
(b) kTθ k = 1.

(c) kf k = 7.
(d) kRk = 1.
(e) kSk = 3.
6-4
(a) Dado (u, v) ∈ R2 , seja y uma raiz real do polinômio (em y) p(y) = y(v − y 3 )4 + v − y 3 − u.
(Você pode justificar a existência de tal raiz?) Agora ponha x = v − y 3 . Pronto:
f (x, y) = (u, v).
(c) Use o teorema da função inversa.
!
1 3 −1
(d) Jf −1 (2, 2) = (Jf (1, 1))−1 = .
14 −1 5
! !
1, 99 0, 99779
(e) f −1 ≈ .
2, 001 1, 0011
∂x ∂y
(f) ∂u
(2, 2) = 3/14 e ∂v
(2, 2) = 5/14.
6-5
(d) Temos que
r sen θ
(g ◦ f )(r, θ) = g(r cos θ, r sen θ) = (r, π + 2 arctg )
r cos θ − r
sen θ cos θ + 1
= (r, π + 2 arctg ) = (r, π + 2 arctg )
cos θ − 1 − sen θ
cos(θ/2)
= (r, π + 2 arctg(− ) = (r, π + 2 arctg(− cotg(θ/2))
sen(θ/2)
θ π
= (r, π + 2 arctg tg( − )) = (r, θ).
2 2
Sugestões e Respostas 281

Verifique agora o que falta: (f ◦ g)(x, y) = (x, y).


6-7 De fato, det JF (x, y, z) = 0.
6-8
Z u
(a) Comece observando que h(u) = g(t) dt é injetiva, visto que h0 > 0. Isto implica que
0
f é injetiva.
(b) Use o teorema da função inversa.
6-9
(a) Use o teorema do valor médio no segmento [X, 2X].
(b) De fato, temos que | grad f (Y ) · Y | < 1, para kY k > M , para algum M > 0. Logo, se
kXk > M , vem de (a) que
1
|f (2X) − f (X)| = | grad f (θX) · X| = | grad f (θX) · θX| < | grad f (θX) · θX| < 1.
θ
Agora estude o caso kXk ≤ M . (Lembre que f é contı́nua e que B[0, M ] é compacta.)
6-10 Use o exercı́cio 6-9.
6-11
(b) Use o teorema de Rolle.
(d) Note que f 0 (X), X ∈ Rn , são isomorfismos.
(e) f (x) = arctg x.
6-12
(a) Use 6-11 .
(b) Se f (M ) não é fechado, existe (Yk ) em f (Rn ) que converge para Y ∈ / f (Rn ) (Y está na
n
fronteira de f (R ))). Isto implica (aceite) que existe um segmento de reta [A, B] que
começa em f (Rn ) e termina na fronteira de f (Rn ), isto é, [A, B) ⊂ f (Rn ) e B ∈ / f (Rn ).
Ao longo de [A, B], construa uma sequência (Ak ) = (f (Xk )), com A1 = A = f (X1 ) e
convergindo para B. Seja γ(t) = f −1 (β(t)) a curva em Rn que liga X1 a Xk , construı́da
a partir de uma parametrização β(t) de [A, Ak ). Temos que (tomando comprimento de
curvas)
Z 1 Z 1
0 dfγ(t) (γ 0 (t)) dt ≥ α kXk − X1 k .

kB − Ak ≥ kβ (t)k dt =
0 0

Logo (Xk ) é limitada e, portanto, possui uma subsequência convergente, digamos, (Xkj ).
Assim, Xkj → X ∈ Rn e, como f é contı́nua, Akj → f (X) e, dai, segue-se que B =
f (X) ∈ f (Rn ). Uma contradição. Logo, f (Rn ) é, de fato, fechado.
(c) Vem do fato que a imagem de f é conexa, fechada e aberta em Rn .
(d) Seja g = f −1 . Então
kg(Y2 ) − g(Y1 )k ≤ α−1 kY2 − Y1 k ,
Y1 , Y2 ∈ f (Rn ) = Rn , posto que
kdgY (W )k ≤ α−1 kW k , Y ∈ f (Rn ) = Rn e W ∈ Rn .
Pronto: agora é só fazer Y1 = f (X) e Y2 = f (Y ).
282 Sugestões e Respostas

6-13
(d) Use (c)-(ii) para mostrar que kf (X2 ) − f (X1 )k ≥ kX2 − X1 k.
6-14 Mostre que kIk = 1 e use o corolário 6.3.11.
6-15
(a) Usando o exercı́cio anterior, basta mostrar que kφ0 (x, y)k ≤ λ < 1, onde φ é dada por
φ(x, y) = (f (y), f (x)).
!
4/3 −2/3
(d) Jg −1 (0, 0) = .
−2/3 4/3
∂y
(e) ∂v
(0, 0) = 4/3.
6-16
(b) kT k = 1 e kT −1 k = 3.
(d) Use o corolário 6.3.11.
6-17 Seja f : D ⊂ Rn −→ Rn de classe C 1 e tal que Jf (X0 ) é invertı́vel. Defina h : Rn × D −→ Rn
por h(X, Y ) = X−f (Y ). Se Y0 = f (X0 ), então JhY (Y0 , X0 ) = Jf (X0 ). O teorema da função
implı́cita garante a existência de retângulos simples abertos (em Rn ), R1 3 Y0 , R2 3 X0 , e
uma função g : R1 −→ R2 , de classe C 1 , tais que g(Y0 ) = X0 e h(X, g(X)) = h(Y0 , X0 ) = O,
isto é, X − f (g(X)) = O, X ∈ R1 . Donde, f (g(X)) = X, X ∈ R1 . Ainda do teorema da
função implı́cita, se h(X, Y ) = O e (X, Y ) ∈ R1 × R2 , então Y = g(X). Como f é contı́nua,
existe um aberto U ⊂ R2 , U 3 X0 , tal que f (X) ∈ R1 , sempre que X ∈ U . Logo, se X ∈ U ,
então (f (X), X) ∈ R1 × R2 e h(f (X), X) = f (X) − f (X) = 0. Portanto, X = g(f (X)),
sempre que X ∈ U . Portanto, f (U ) = g −1 (U ) é aberto e g : f (U ) −→ U é a inversa de f
procurada, a qual, claro, é de classe C 1 .
6-18
(a) veja o exemplo 5.1.28.
(b) Se f fosse injetiva em I = (−δ, δ) seria crescente aı́ e, portanto, f 0 (x) ≥ 0 neste intervalo.
Agora tome xk = 1/(2kπ), onde k ∈ N é suficientemente grande para xk ∈ I. Logo,
f 0 (xk ) ≥ 0 e
1 1 1 1
f 0 (xk ) = 2x sen − cos + = − .
x x 2 2
Um absurdo.
6-19 Divida o problema em dois: grad f = (0, 0), sempre; existe X0 tal que grad f (X0 ) 6= (0, 0).
No segundo caso, tome c = f (X0 ), e use o teorema da função implı́cita.
6-20 Existe X0 tal que grad f (X0 ) 6= 0. Suponha então que ∂f
∂y
(X0 ) > 0. Logo f é crescente ao
longo de um segmento do tipo l = {X0 + t(0, 1)}, − < t < . Ponha I = f (l).
6-21
(b) Basta mostrar que limy→+∞ f (0, y) = +∞ e limy→−∞ f (0, y) = −∞.
(c) De fato, f (0, y) é estritamente crescente.
2
ex
(e) gc0 (x) = 2 .
egc (x)
Sugestões e Respostas 283

6-22 Suponha que grad f (a, b) 6= (0, 0) e obtenha uma contradição.


6-23
(a) Ponha f (x, y, z, u) = (3x + y − z + u2 , x − y + 2z + u, 2x + 2y − 3z + 2u). Verifique
 
3 1 2u
∂(f1 , f2 , f3 )
= det  1 −1 1  = −12 + 8u.
 
∂(x, y, u)
2 2 2

Logo, (¶55 ) pode ser resolvido para x, y e u em termos de z, pelo menos em pontos
próximos daqueles com u 6= 3/2.
(d) Subtraia a segunda equação da primeira, e obtenha um absurdo!
(e) Para (a) temos: Existe uma aplicação de classe C ∞ , f : I ⊂ R −→ R3 , f = (f1 , f2 , f3 ),
tal que f (f1 (z), f2 (z), z, f3 (z)) = (0, 0, 0).
6-24 Mostre que Jf (A, B) tem posto m, e use o teorema da função implı́cita.
6-25
(a) Aplique o teorema da função implı́cita em (1, 1, −1).

(b) Observe que voce precisa calcular β 0 (1) e β 00 (1). A curvatura pedida é 5/3.
6-26
(a) Note que
∂f p 2 x ∂f p 2 y ∂f p 2
grad F (x, y, z) = ( ( x + y 2 , z) p , ( x + y 2 , z) p , ( x + y 2 , z)).
∂x x2 + y 2 ∂x x2 + y 2 ∂y

Logo, grad F 6= 0 ao longo de Sγ = f −1 (0).


6-28
(c) O seguinte fato pode ajudar: se Y, Z ∈ Rn , então tr Y tZ = tr tZY = tr Z · Y = Z · Y .
t
Agora note que kV (X)k2 = tr((V (X)) (V (X))) = tr(X tXX tX).
(d) De V (X) = V (Y ) obtenha X kXk2 = (X · Y )Y . Donde, X = λY , para algum λ ∈ R.
Agora use (c) para mostrar que λ2 = 1.
(e) V (α(u)) = α(u) t(α(u)), e a derivação ocorre como em um “produto”.
 
X·W
(h) Se X 6= 0, então dVX (W ) = 0 ⇒ W = − kXk 2 X ⇒ W = 0, considerando os casos W
perpendicular a X e, depois, W paralelo a X.
6-29
(a) Como ∂f∂y
é contı́nua e ∂f
∂y
(X0 ) > 0, podemos usar o resultado de exercı́cio 3-6 para obter
δ > 0 tal que a restrição de ∂f
∂y
à bola aberta B(X0 , δ) ainda é positiva. Logo, a restrição
∂f
de ∂y ao retângulo simples fechado contido em B[X0 , δ/2] também é positiva.
(b) Como ∂f∂y
(a, y) > 0, para y ∈ [b − 1 , b + 1 ], vem que f (a, y) é crescente como função
de y. Logo, f (a, b − 1 ) < f (a, b) < f (a, b + 1 ), isto é, f (a, b − 1 ) < c < f (a, b + 1 ).
(c) Ponha P = (a, b − 1 ) e Q = (a, b + 1 ). Como f (P ) < c < f (Q) e f é contı́nua, existe
284 Sugestões e Respostas

 > 0, que tomamos menor do que 1 , tal f (x, y) < c, para (x, y) ∈ B(P, ), e f (x, y) > c,
para (x, y) ∈ B(Q, ). Em particular, segue-se que  tem a propriedade desejada.
(d) Fixe x ∈ (a − , a + ). Então, f (x, b − 1 ) < c < f (x, b + 1 ) e ∂f ∂y
(x, y) > 0, para todo
y ∈ [b − 1 , b + 1 ]. Usando o teorema do valor intermediário, obtemos y ∈ [b − 1 , b + 1 ]
tal que f (x, y) = c. A unicidade de tal y segue-se do fato que f (x, y) é crescente como
função de y, y ∈ [b − 1 , b + 1 ].
(e) Fixe x0 ∈ (a − , a + ), e seja (xn ) uma sequência em (a − , a + ) convergindo para x0 .
Assim, f (xn , g(xn )) = c e (g(xn )) é uma sequência em [b − 1 , b + 1 ], a qual devemos
mostrar que converge para g(x0 ). Seja (g(xnj )) uma subsequência de (g(xn )) tal que
−→
g(xnj )−− l ∈ [b−1 , b+1 ], a qual existe porque (g(xn )) é limitada. De g(xnj , g(xnj )) = c
e da continuidade de f segue-se que f (x0 , l) = c. Da unicidade de g(x0 ), vem que
l = g(x0 ) e, portanto, g(xnj ) −→ −
− g(x0 ). Logo, toda subsequência convergente de (g(xn ))
tem o mesmo limite, a saber, g(x0 ). Isto implica que g(xn ) − −→
− g(x0 ).
(f) Usaremos aqui os itens (i) e (ii) da proposição 4.2.5, página 129. Seja x0 ∈ (a − , a + ).
Então, f (x0 , g(x0 )) = c e ∂f
∂y
(x, y)) > 0, para (x, y) perto de (x0 , g(x0 )). Seja h suficien-
temente pequeno. Temos que g(x0 + h) = g(x0 ) + k, onde k − −→
− 0, quando h − −→
− 0, pois
g é contı́nua. Também,

c = f (x0 + h, g(x0 + h)) = f (x0 + h, g(x0 ) + k)


∂f ∂f
= f (x0 , g(x0 )) + (x0 , g(x0 ) + θ2 k)k + (x0 + θ1 h, g(x0 ) + k)h,
∂y ∂x
para alguns θ1 , θ2 ∈ (0, 1). Como f (x0 , g(x0 )) = c, vem que
∂f ∂f
(x0 , g(x0 ) + θ2 k)k + (x0 + θ1 h, g(x0 ) + k)h = 0.
∂y ∂x
Logo,
∂f
g(x0 + h) − g(x0 ) (x0 + θ1 h, g(x0 ) + k)
= − ∂x ∂f .
h ∂y
(x 0 , g(x 0 ) + θ2 k)
Donde,
∂f
g(x0 + h) − g(x0 ) ∂x
(x0 , g(x0 ))
lim = − ∂f ,
h→0 h ∂y
(x0 , g(x0 ))
∂f
∂f ∂f (x,g(x))
pois ∂x
e ∂y
são contı́nuas. Logo, g 0 (x) = − ∂f
∂x
(x,g(x))
, x ∈ (a − .a + ), o que mostra
∂y

que g é de classe C 1 e, em particular, g 0 (a) = − ∂f


∂x
(a, b)/ ∂f
∂y
(a, b).
6-30
(b)
(i) É só usar o teorema 6.4.7.
(ii) Defina T (u, v) = (v, u) e fe = f ◦ T . Logo, ∂∂vf (b, a) = ∂f (a, b). Agora aplique o
e
∂x
teorema 6.4.7 a f .
e
(d) De fato, se B(O, δ) é uma bola aberta qualquer contendo a origem O, então B(O, δ) ∩ L
não pode ser do tipo G1 nem do tipo G2 .
Sugestões e Respostas 285

6-31
(a)
(i) É só usar o teorema 6.4.13. Para isto, escreva A = x0 , X = x, B = (y0 , z0 ) e
Y = (y, z). Logo, Z = (X, Y ), Z0 = (A, B) e det JfY (X0 ) = ∂(u,v) ∂(y,z)
(X0 ) 6= 0.
Portanto, existem um intervalo aberto I 3 x0 , um retângulo simples R 3 (y0 , z0 ) e
uma aplicação de classe C 1 , g : I −→ R ⊂ R2 , g = (g1 , g2 ), tais que g(x0 ) = (y0 , z0 ) e
f −1 (c) ∩ (I × R) = G(g) = G1 (g1 , g2 ).
6-32
(b) α0 (1) = (−8/7, −1/7).
(d) Inicialmente, note que se X = (x, y, z) ∈ f −1 (0, 0), então xyz 6= 0, o que vem de
f2 (X) = 0. Portanto, se dfX não é sobrejetiva, vem que

2 5
xz + x y − yz = 0

x + 2x2 − 5z 5 = 0 . (∗)

xy + x2 y − 4yz 5 − xz = 0

A primeira equação de (∗) junto com f2 (X) = 0 dá que −1+x2 y 2 −y 2 z 5 = 0, que compa-
5
rada com a segunda (que automaticamente dá 5z 5 = x(1 + 2x)) produz y 2 = .
x(3x − 1)
3x − 1
Portanto, z 2 = . Subtraindo a terceira equação de (∗), de f1 (X) = 0, obtemos
5x
que 5y z = 2. Donde x = −7/4. Assim, y 2 = 16/35 e z 2 = 5/7. O que não é com-
2 5

patı́vel, por exemplo, com a segunda equação de (∗). Logo, dfX tem sempre posto 2, em
qualquer X ∈ f −1 (0, 0).
6-34
(a) Defina f1 (x, y, z) = x + y + z e f2 (x, y, z) = x − 2y + z. Logo, γ = S1 ∩ S2 , onde
S1 = f1−1 (1) e S2 = f2−1 (1). Temos que e3 ∈ γ, o que mostra que γ é não-vazio. Além
disto, ∇f1 = (1, 1, 1) e ∇f2 = (1, −2, 1) que são linearmente independente, sempre.
Logo, γ é uma curva regular. Observe que γ é uma reta.
(b) Defina f1 (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 e f2 (x, y, z) = z. Logo, γ = S1 ∩ S2 , onde S1 = f1−1 (1)
e S2 = f2−1 (0). Temos que e1 ∈ γ, o que mostra que γ é não-vazio. Além disto,
∇f1 (x, y, z) = (2x, 2y, 2z) e ∇f2 (x, y, z) = (0, 0, 1), que são linearmente independente,
sempre que (x, y) 6= (0, 0). Como (0, 0, ±1) ∈ / γ, segue-se que ∇f1 e ∇f2 são l.i. ao longo
de γ. Logo, γ é uma curva regular. Observe que γ é o cı́rculo de raio 1 e centro O do
plano-xy.
I

Índice
Índice 287

área coordenadas
de um paralelogramo gerado por dois vetores, 21 cilı́ndricas, 143, 236
ângulo entre vetores, 10 esféricas, 143, 236
polares, 143, 232
aceleração escalar, 67 coordenadas polares (exercı́cio 6-5), 258
altura relativa, 11 curva
aplicação coordenada, 46
aberta, 235 parametrizada, 42
afim, 160 canônica (exercı́cio 6-30), 264
de Veronese (exercı́cio 6-28), 263 regular, 69
traço de uma, 42
diferenciável, 157
plana, 78
linear, 36
norma de uma, 219 regular
em R2 (exercı́cio 6-30), 264
aproximação afim, 154
em R3 (exercı́cio 6-31), 264
argumento complexo (exercı́cio 6-5), 258 regular (exercı́cio 6-31), 264
curvatura, 71
bola da hélice circular, 71
aberta, 92, 222 do cı́rculo, 71
fechada, 92, 222

derivada, 60
cı́rculo, 29
de uma função vetorial, 157
cı́rculos no R3 , 80 direcional, 144, 195
centro de curvatura, 81 parcial, 118, 133
ciclóide, 44, 69 com relação a x, 118
com relação a xj , 133
componente
com relação a y, 118
normal da aceleração, 77
desigualdade
tangencial da aceleração, 77
de Cauchy-Schwarz, 10, 12
comprimento de arco, 84
do valor médio, 65, 225
cone de duas folhas, 35 triangular, 13
conjunto
determinante jacobiano, 243
aberto, 116, 222
difeomorfismo, 231
compacto, 217
conexo, 192 direção de crescimento máximo, 195
convexo, 190 distância
de nı́vel, 33, 216 de um ponto a um plano, 26
definido explicitamente, 30 de um ponto a uma reta, 24
definido implicitamente, 33 de um ponto a uma reta em R2 , 26
fechado, 215 de um ponto a uma reta em R3 , 25
limitado, 217 de um ponto a uma reta em Rn , 25
ortogonal, 11 induzida pela norma, 14
ortonormal, 11 duplo produto vetorial, 22
continuidade da função composta, 111
contração, 224 elipse, 29, 43
288 Índice

construção geométrica de uma, 29 interpretação


equação fı́sica, 67
cartesiana de uma reta em R2 , 26 geométrica
da onda, 193 das derivadas parciais, 122
de uma n-upla, 5
paramétrica
soma de n-uplas, 7
de um plano, 17
de uma reta, 15 inversão em Gl(n), 223
equações de Frenet, 75 isomorfismo, 221
esfera, 32, 49, 252
jacobianas parciais, 243
espaço euclidiano, 2
evolvente de uma curva parametrizada, 84
laplaciano, 138
evolvente do cı́rculo, 62 em coordenadas polares, 186
limite, 60, 94
função
da função composta, 102
contı́nua, 60
limites iterados, 128
coordenada, 28
de classe C 1 , 231
de classe C ∞ , 132 matriz de uma aplicação linear, 39
de classe C k , 132 meridianos, 49
em um ponto, 166 movimento
exponencial complexa (exercı́cio 6-6), 258 circular uniforme, 68
harmônica (exercı́cio 4-9), 150 uniforme, 68
logaritmo (exercı́cio 6-6), 258 multiplicação de uma n-upla por um número real, 2
vetorial, 28
conjunto de nı́vel de uma, 33
núcleo, 39
contı́nua, 104
derivada de uma, 157 norma ou comprimento, 8
diferenciável, 157
gráfico de uma, 30 operador diagonal, 219
imagem de uma, 28
limitada, 97
parábola semi-cúbica, 70
lipschitziana, 106
parâmetros, 45
funcional linear, 219
parabolóide
de revolução, 31, 197
gráfico, 30, 47, 250
hiperbólico (sela), 31
gradiente, 135, 195
paralelos, 49
parametrização
hélice circular, 32, 45, 63, 67, 69
canônica de um gráfico, 47, 250
hipérboles equiláteras, 34
esfera, 49
hiperbolóide de revolução, 36 parabolóde de revolução, 49
hiperplano, 19 toro de revolução, 50
homeomorfismo, 229 perturbação, 228
da identidade, 228
imersão (exercı́cio 6-28), 263 do isomorfismo, 230
Índice 289

plano S 1 (C, a) (cı́rculo de centro C e raio a), 80


no R3 , 46 κ (curvatura), 71
no Rn , 17 f 0 (X0 ) ou dfX0 (derivada de f em X0 ), 157
passando por três pontos, 18 ∂f
(derivada direcional de f na direção U ), 144,
tangente a um gráfico, 123, 173 ∂U
195
tangente a uma superfı́cie parametrizada, 140, 173 0
α (derivada), 60
ponto ∂f
(derivada parcial de f com relação a xj ), 133
de acumulação, 93 ∂xj
fixo de uma função, 226 ∂f
(derivada parcial de f com relação a x), 118
isolado, 93 ∂x
médio de um segmento, 16 ∂f
(derivada parcial de f com relação a y), 118
∂y
regular, 253
∂(f1 ,f2 ,...,fm )
∂(y1 ,y2 ,...,ym ) (determinante jacobiano de f ), 243
produto escalar (ou interno), 7
Exp z (exponencial do complexo z), 258
produto vetorial, 19
Gl(n) (isomorfismos de L(Rn , Rn )), 223
projeção ortogonal, 10 grad f ou ∇f (gradiente de f ), 135
projeção sobre o eixo-xj , 108 lim Xk (limite da sequência X), 209
k→∞
propriedades L(R , Rm ) (espaço das aplicações lineares de Rn
n
do produto escalar, 8 em Rm ), 220
do produto vetorial, 20 Log z (logaritmo do complexo z), 258
k k (norma), 8
quociente de Newton, 117 πP (f ) (plano tangente ao gráfico de f ), 123
πg (u0 , v0 ) (plano tangente à superfı́cie parametri-
ramo do Log, 258 zada g), 140
regra X · Y (produto escalar), 7
da cadeia, 64, 178 l = P + [V ] (reta passando por P e paralela a V ),
15
clássica, 185
lt α (reta tangente de α em t), 62
do sanduı́che para limites, 99
Rn (espaço euclidiano), 2
resto, 157
[P, Q] (segmento de reta), 16
retângulo simples aberto, 244 τ (torção), 74
reta G12 (f ), G13 (f ), G23 (f ) (traços das superfı́cies pa-
normal a um gráfico (exercı́cio 4-13), 151 rametrizadas canônicas), 251
passando por P e paralela a V , 15 segmento de reta, 16
passando por dois pontos, 15 sela, 197
tangente, 62
sequência
retas em Rn , 43
convergente, 209
rotação coordenada, 208
em R2 , 41 de Cauchy, 211
em R3 , 42 em Rn , 208
em R, 208
sı́mbolos limitada, 210
X × Y = X ∧ Y (produto vetorial de X por Y ), soma de n-uplas, 2
19
π = P + [{V, W }] (plano que passa por P e é subespaço gerado, 17
paralelo a V e W ), 17 subsequência, 213
290 Índice

superfı́cie
de revolução (rotação), 48
definida implicitamente, 198
parametrizada, 45
canônica, 251
traço de uma, 45
regular, 198, 251, 252
superfı́cies transversais (exercı́cio 6-33), 265

taxa de crescimento, 195


teorema
da função implı́cita, 239, 244
prova clássica (exercı́cio 6-29), 263
da função inversa, 232
de Bolzano-Weierstrass, 214
de Cauchy, 214
de Pitágoras, 12
de Schwarz, 131, 133
de Weierstrass, 218
do valor médio, 64, 188, 191
fundamental das perturbações, 228
torção, 74
da hélice circular, 75
do cı́rculo, 74
toro de revolução, 50
como superfı́cie regular (exercı́cio 6-27), 262

valor regular, 253


velocidade escalar, 67
vetor, 3
aceleração, 67
binormal, 73
gradiente, 135, 195
normal a um gráfico, 123
normal unitário, 72
tangente, 62
tangente unitário, 70
unitário, 8
velocidade, 67
vizinhança coordenada, 252
na esfera, 252
R

Referências
Bibliográficas
292 Referências Bibliográficas

[Coura] Richard Courant, Cálculo Diferencial e Integral (tradução de Alberto Nunes Serrão
e Ruy Honório Bacelar), volumes 1 e 2, Editora Globo, Rio de Janeiro (1966).
[ Lang] Serge Lang, Cálculo, Volume 2, AO LIVRO TÉCNICO S.A. , Rio de Janeiro (1970).
[ Lima] Elon Lages Lima, Curso de Análise, Volumes 1 e 2, IMPA , Rio de Janeiro (1976).
[ N e i l l ] Barret O’Neill, Elementary Differential Geometry, Academic Press, New York
(1966).
[Rudin] Walter Rudin, Principle of Mathematical Analysis, Third Edition, McGRAW-Hill,
Singapore (1976).
[ W i l l i ] Richard E. Williamson, Richard H. Crowell and Hale F. Trotter, Álgebra
Linear e Cálculo Diferencial (tradução de Genésio dos Reis e Angela Costales), volumes
1 e 2, Livros Técnicos e Cientı́ficos, Rio de Janeiro (1974).

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