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Quem Somos?

Somos mulheres rurais. Somos agricultoras, assentadas, quilombolas,


indígenas, pescadoras, quebradeiras de coco, artesãs. Somos negras,
brancas, heterossexuais, lésbicas – mulheres feministas e nordestinas.
Lutamos juntas, desde nossos territórios, para construir um mundo mais
justo. Nós fazemos o Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do
Nordeste (MMTR-NE) e estamos organizadas nos nove estados da Região
Nordeste do Brasil. Temos uma direção regional com duas trabalhadoras
rurais representando cada um dos estados e contamos também com uma
coordenação executiva e equipe técnica na nossa sede, localizada em
Caruaru, Pernambuco.
Nossa organização é composta de movimentos estaduais autônomos
de mulheres rurais e juntas nos fortalecemos no MMTR-NE há mais de
trinta anos. Nós construímos um movimento feminista, agroecologista,
anticapitalista e anti-racista, constantemente reinventando nossas práticas
para responder aos desafios que a sociedade nos coloca, mas sempre leais à
nossa missão: Construir relações justas e igualitárias entre mulheres e
homens do Nordeste.
Um dos alicerces da nossa ação para combater mentalidades de
submissão é a formação política. A partir dos princípios e ferramentas da
educação popular e da pedagogia feminista rural, nós desenvolvemos
atividades formativas para construção de olhares críticos; conscientização
sobre como se originam e estruturam os sistemas de opressão;
fortalecimento da auto-estima e das identidades diversas das participantes;
além de empoderamento coletivo e criação conjunta de estratégias de
transformação social, ligadas à auto-organização.
Dentre todas as atividades que já realizamos, uma experiência em
especial tem sido marcante, crescendo e amadurecendo ao longo dos anos:
a experiência da Escola de Educadoras Feminista. E é sobre esta Escola –
como ela funciona, a que ela se propõe, o que temos aprendido com ela –
que vamos falar um pouco agora.
como tudo começou...

A Escola de Educadoras Feminista nasce do reconhecimento e da


necessidade de se construir uma formação política adequada para as
trabalhadoras rurais. Suas origens passam pela junção de duas outras
experiências significativas de formação dentro do Movimento: a
experiência de formação construída desde o início do MMTR-NE através
do Programa institucional intitulado Formação de Educadoras,
sistematizadas, sobretudo, no livro A Estrada da Sabedoria -
Sistematizando os caminhos para a formação de educadoras rurais do
Nordeste entre 1994 e 2006 e a Escola Feminista de Formação Política e
Econômica.
Durante os anos 2000, em Pernambuco, o Projeto Mulher e
Democracia atuava como uma referência de trabalho em conjunto das
organizações e movimentos de mulheres. Iniciado em 2004, inicialmente
era composta pela Casa da Mulher do Nordeste (CMN), Centro das
Mulheres do Cabo (CMC) e pela Fundação Joaquim Nabuco. Pouco depois
o MMTR-NE também se somou ao projeto, que atuou intensamente nos
anos seguintes, realizando diversas atividades de formação e lançamento de
publicações. Em 2008, as organizações decidiram transformar a iniciativa
do Projeto na Rede Mulher e Democracia. Uma das apostas da Rede foi a
realização da Escola Feminista de Formação Política e Econômica, que
tinha a proposta de fortalecer “o empoderamento das mulheres e o
exercício da democracia na construção de igualdade entre homens e
mulheres.”
As turmas traziam relatos de muito fortalecimento ao final do
processo, que envolvia seis módulos com temas sobre história e raça;
gênero e feminismo; ciência política; sociologia; economia solidária; e fala
pública. Nós trabalhadoras rurais do MMTR-NE pensamos então que
estava na hora de experimentar uma Escola feita pela e para as mulheres
rurais.
A Escola também foi inspirada pelo que aprendemos com o
Programa institucional intitulado Formação de Educadoras, a primeira
iniciativa de educação elaborada pelo MMTR-NE, com início em 1994. A
pedagogia do MMTR-NE surge enquanto uma crítica propositiva ao
sistema formal de ensino, tendo como base a educação popular, a inclusão
social e a partilha de saberes que se originam na experiência: Não existe
separação entre quem educa e quem é educada.
As ações do Programa Formação de Educadoras foram
sistematizadas pelo Movimento no livro A Estrada da Sabedoria (2006). O
livro contém textos, poemas e orientações para a formação nas bases,
mostrando os caminhos já trilhados por diversas mulheres do MMTR-NE.
Um dos pontos essenciais da Escola é justamente a multiplicação: Cada
mulher que participa torna-se também uma educadora, pronta para repassar
no seu estado ou na sua comunidade aquilo que vivenciou. Com a
multiplicação, desdobram-se os números das mulheres envolvidas nas
edições da Escola.
Em 2015 o MMTR-NE finalmente inaugura uma Escola de
Educadoras Feministas, planejada exclusivamente pelas mulheres rurais
como um espaço de formação das mulheres, de forma processual e
contínua, integrando conteúdos diversos para fortalecer o empoderamento
político e econômico das mulheres rurais. Chegamos inclusive a realizar
edições internacionais da Escola, em parceria com organizações feministas
do Peru, Colômbia, Equador e Brasil e também com a Flacso Ecuador e
Intermon Oxfam.
A Mandala da Escola
CRIAÇÃO 1994 Projeto de Formação, um Projeto Educativo

MMTR-NE 1995 1ª Oficina Matriz para construção da metodologia e planejamento das atividades

1986
Marco Institucional
1995 Multiplicação nos nove estados, experimentando os instrumentos educativos
a 1998
Lançamento de "A Coragem de Ser", primeiro filme do MMTR-NE, que relata
histórias da organização da mulheres rurais nas décadas de 80 e 90.1999 –
1998 Oficina de Reciclagem: Análise das experiências e revisão dos instrumentos
pedagógicos

Inicio de Sistematização da Escola. Avaliação nos primeiros seis anos:


2000 revisão de conteúdos e valorização do processo ensino-aprendizado

Projeto Mulher e Democracia


2004
Finalização da sistematização e Aperfeiçoamento da experiência tendo a
sistematização como instrumento

Edição e publicação do Livro “A Estrada da Sabedoria: Sistematizando os


2006 caminhos para a formação de educadoras rurais do Nordeste - 1994-2006”

Margareth Maria Costa Cunha (MA) narra sua história de vida e é premiada com
Menção Honrosa no Prêmio Margarida Maria Alves de Estudos Rurais e de
Gênero. A partir desta edição o Prêmio incorpora a categoria Relato de
Experiência
2008
2ª Edição do Livro “A Estrada da Sabedora: Sistematizando os caminhos para a
formação de educadoras rurais do Nordeste-1994-2006”
– Inicia a Escola Feminista de Formação Política e Econômica,
com a Rede Mulher e Democracia.

2010 Multiplicação da formação em oficinas estaduais

Escola Feminista de Formação Política e Econômica Regional. Participação de mulheres


2011 dos nove estados no Nordeste, realização coletiva junto a Casa da Mulher do Nordeste
e o Centro das Mulheres do Cabo, com apoio do Ob- servatórios dos Movimentos
Sociais/UFPE- Campus Agreste e de Intermom/Oxfam
2012 Livro de “Comemoração – Boletins de Sistematização de Experiências Agroecológicas de
dos 25 Anos do MMTR-NE” mulheres, realizado pelas lideranças do MMTR-NE nos nove estados

2ª Edição da Escola Feminista de Formação Política e Econômica Regional, realização coletiva


junto a Casa da Mulher do Nordeste e o Centro das Mulheres do Cabo, com apoio do Obser-
vatórios dos Movimentos Sociais/UFPE- Campus Agreste e de Intermom/Oxfam

– Multiplicação da Escola nos nove estados do Nordeste, com duas oficinas microrregionais
2013/2014
Metodologia da Escola Feminista de Formação Política e Econômica levada como experiência regional junto
à organizações de mulheres do Peru, Equador e Colômbia. Em convênio com a Facultad Latinoamericana de
Ciencias Sociales (Flacso) do Equador com duas turmas

– Experiência de formação nos moldes da Escola Feminista de Formação Política e Econômica inter-regional
com os estados de SE, BA e AL e parceria com a Universidade Tiradentes de Sergipe

Consolidação de conteúdo e pedagogia do MMTR-NE de Formação de Educadoras em módulos e conte-


2015 údos construídos para mulheres rurais e passa a chama-se Escola de Educadoras Feminista.

Filme “Mulheres Rurais em Movimento”, lançado durante o Encontro dos 30 anos do MMTR-NE

Multiplicação da Escola de Educadoras Feminista em oito estados do Nordeste, facilitada pelas lideranças
de cada estado.

Estabelecida parceria entra a UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e o MMTRP/AL (Movimento da Mulher
2016 Trabalhadora Rural e Pescadora de Alagoas) para realização da Escola Feminista de Formação Política e
Econômica

Aprofundamento da pedagogia do MMTR-NE em dois módulos com 18 educadoras dos nove estados

Realização da Escola de Educadoras em duas oficinas inter-regionais com os estados de PE, PB e RN, se-
guidos por PI, MA e CE e com continuidade da multiplicação em PE, SE, AL, MA, PB, RN e PI.

Primeira experiência de replicação da Escola Educadoras Feminista com mulheres atendidas pela chamada de
ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) no Agreste de Pernambuco em parceria com o Centro de Desen-
volvimento Agroecológico Sabiá

2017 Multiplicação em oito estados do Nordeste nos grupos de base do MMTR-NE

Replicação da Escola Feminista de Educadoras Feminista nas chamadas de Ater Agroecologia no Agreste de Perna-
2014 mbuco em parceria com Centro Sabiá e Agroflor
A 2017
Replicação da Escola com mulheres do sertão de Alagoas na chamada de ATER Mulheres em parceria com Emater-
AL (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural)

“Como é que a gente faz?” Sistematização da Pedagogia do MMTR-NE, constituída em diferentes formas e jeitos de fazer
ATER, vinculada ao Projeto Mulheres, Feminismo, Ater e Agroecologia, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

Multiplicação da Escola de Educadoras Feministas em sete estados do Nordeste.

2018 Sistematização da Escola de Educadoras Feminista como uma Tecnologia Social, disponível para ser replicada por diversos grupos.
A Escola de Educadoras Feminista
como uma Tecnologia Social
E por que a Escola pode ser uma Tecnologia Social? Bem, primeiro
vamos entender um pouco mais sobre Tecnologia Social (TS): esse é um
conceito que se popularizou no Brasil desde os anos 2000, cuja definição
mais frequente diz que compreende produtos, técnicas e/ou metodologias
reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que
representem efetivas soluções de transformação social. Nós sabemos que
toda tecnologia pressupõe um conjunto de saberes, métodos e técnicas que
são estruturadas para atender às demandas e organizar a sociedade. E isso
nos leva aos questionamentos: Quem cria as tecnologias? A quem servem
as tecnologias? Quais valores são incorporados? Elas defendem quais
projetos de sociedade?
Acreditamos que toda tecnologia é socialmente determinada. Ou
seja, o contexto social em que ela é produzida e quem a produz deixam
marcas e uma intenção em sua composição. A tecnologia não é e nunca foi
neutra. A sua criação e seu uso implica em tomadas de decisões e em
valores. E uma vez que compreendemos isso, nos tornamos responsáveis
pelas escolhas que fazemos, sendo assim, a Escola de Educadoras
Feminista tem como posicionamento um projeto de sociedade feminista,
anticapitalista, anti-racista e agroecológica. É uma Tecnologia Social, pois
está engajada na construção de soluções a partir de métodos e instrumentos
próprios, que estão orientados pelos conhecimentos daquelas que produzem
a educação para si. A Escola busca inclusão social e visa desconstruir as
hierarquias e as estruturas de dominação que são encontradas nas
tecnologias convencionais.
O nome “Escola” é escolhido como uma referência à essa escola das
quais muitas de nós fomos excluídas. Mas nós a ressignificamos: além de
também estarmos ocupando as instituições formais de ensino, como as
universidade, estamos principalmente promovendo nossas próprias
experiências pedagógicas e reinventando a escola em qualquer lugar.
Estamos decididas a nos definir a nós mesmas. Ninguém falará por nós.
Planejar e executar a Escola de Educadoras Feministas enquanto uma
Tecnologia Social - que reflete os nossos valores e saberes enquanto
trabalhadoras rurais diversas - se torna uma estratégia do mundo que
desejamos construir a partir do agora, de nós mesmas. Além disso, é uma
ferramenta com habilidade de ser sustentável, podendo ser adaptada e
aplicada envolvendo diversas circunstâncias, grupos e temáticas. Quando a
tecnologia se alia ao sonho, partimos do possível para promover o que
parecia impossível.
E como é que a gente faz?

Na experiência da Escola, todo o processo vivido é de aprendizado:


conceber e imaginar, executar e avaliar. E começar tudo de novo. Não
existe hierarquia entre as etapas, ao contrário. Elas estão conectadas e
costuradas pelos princípios políticos e pedagógicos defendidos pelo
MMTR-NE. As etapas que definimos como nossa metodologia de
educação são carregadas de sentidos. Cada momento da Escola envolve
caminhos pensados e escolhidos para melhor atender os objetivos da
formação. Aqui elencamos alguns princípios que considemos fundamentais
no processo:
1. Garantia que processo seja coletivo e transformador. Alguns acordos
coletivos são combinados, que vão desde divisão de tarefas operacionais,
como limpeza do ambiente e alimentação, até outras demandas
relacionadas à gestão dos módulos, como a comunicação interna e a
infraestrutura dos locais das formações. Todas têm papel ativo e a
formação não acontece só dentro da “programação”.

2. A mística é uma linguagem que possui essa dimensão do partilhar e do


sentir. É capaz de nos tornar sensíveis às nossas causas e acender uma
energia criativa que não nos deixa desistir dos nossos sonhos. Sempre
procurar conectar a mística aos temas trabalhados e ao público envolvido.

3. Fortalecer a organização de base. É através dela que difundimos a luta


do nosso Movimento e fortalecemos nossa auto-organização. A nossa
Escola está comprometida com a descolonização das nossas histórias e o
fortalecimento da auto-organização das mulheres. Para nós, a educação é
antes de tudo uma ação, um processo de aprendizado, onde se aprende e se
ensina.

4. O poder da fala, para que as mulheres se tornem sujeitas das suas


historias. Valorizar as histórias de vida das mulheres, trazendo nossas
ancestrais, cria lanços de solidariedade e compreensão das desigualdades
sofridas, mas tambem das várias resistências antes despercebida. Isso
acontece desde o início do primeiro módulo, onde as mulheres recebem a
orientação de que serão desenvolvidos módulos temáticos com discussões
que estão interligadas.

5. Inserção nos territórios. a primeira ideia que devemos ter antes de


promover a Escola em algum espaço é considerar os processos que ali são
vividos, e as pessoas que fazem parte deles. Essa mobilização pede muita
sensibilidade, confiança e respeito. Enquanto educadoras, nós não
chegamos em nenhum lugar como as intelectuais, ou as professoras que
“sabem tudo”.

6. Os temas que vamos debater não são nossos, e nem são delas: são de
todas nós. Quando identificamos que os processos vividos entre nós se
conectam, cria-se um sentido de que juntas poderemos nos educar
coletivamente por meio da Escola. A escolha do nome Escola de
Educadoras Feministas se deu porque decidimos ressaltar que toda
trabalhadora rural enquanto sujeita do seu processo de auto educação pode
ser uma educadora.
7. Pensar o espaço físico para que ela aconteça é fundamental. È
importante criar um ambiente seguro emocionalmente em que vínculos de
confiança possam ser criados e haja abertura para que as narrativas das
mulheres sejam expressas. Isto não quer dizer que é necessário uma sala de
aula com cadeiras, lousa, giz, porta e paredes. O que é preciso é que o
lugar seja acolhedor e acessível, como em áreas de convivência da
comunidade, ou nas sedes dos movimentos parceiros, em espaços que
remetem ao sentido de luta da Escola.

8. A roda é um instrumento pedagógico importante para estimular o


aprender com e a partir da outra. Torna o espaço confortável para que
todas se olhem nos olhos e para que essa hierarquia de quem ensina e
quem aprende seja desconstruída. Estar em círculo é uma sabedoria
ancestral, pressupõe igualdade, proximidade e equilíbrio. Ninguém fica
para trás e mesmo as mais tímidas são estimuladas a ver e serem vistas.

9. O sentido da multiplicação que parte do principio que todo


conhecimento deve ser compartilhado e que somos capazes de aprender,
ensinar e desenvolver metodologias, pois da mesma forma que educamos,
somos educadas. Seguindo este princípio de horizontalidade, a
multiplicação é um compromisso e um caminho político-pedagógico, que
necessita de envolvimento de todas as pessoas que participam do processo
formativo. Sempre no final de cada Etapa da escola é feito um pequeno
plano para replicação da mesma com outras mulheres.

10. Criação de identidade. Propõe-se que cada turma escolha um nome


para ‘femenagear’ uma mulher de luta e, desta forma, iniciar um resgate
histórico de visibilidade da luta das mulheres e a construção de um
sentimento de pertença com a Escola.
11. Os módulos são necessários para que todas participantes complete o
ciclo da formação. É importante garantir as condições para que todas
tenham presença do início ao fim. Ao final de cada um dos módulos,
contamos com uma avaliação dos conteúdos, metodologias e da execução
do módulo em si. Também são apresentadas “tarefinhas de casa” coletivas,
a fim de que as participantes permaneçam em diálogo e se desafiem a
construir suas próprias expressões sobre o conteúdo trabalhado.

12. O papel da educadora-facilitadora deve ser de animadora dos


processos político-pedagógicos. É alguém que traz sugestões de
dinâmicas, conteúdos, para potencializar os conhecimentos já existentes no
grupo. Niguem é dona do saber: este se constrói no coletivo. No entanto,
orientações teóricas e práticas que já foram elaboradas por outras/os são
úteis e serevem de base. É importante as educadoras/faclitadoras tenham
conhecimento prévio do conteúdo. Isso é importante para que se estipulem
coletivamente os rumos da Escola e para que avaliem a pertinência dos
temas escolhidos para o debate. Quando estamos na Escola, alguns
cuidados são importantes: A pessoa que está facilitando o processo deve
ficar atenta para não trazer tanto sua história ou perspectiva, e sim se
compreender como uma facilitadora para que todas as histórias presentes
encontrem espaço para serem expressadas. Algumas questões muito
delicadas podem surgir e a educadora precisa estar preparada. Por
exemplo, quando tocamos no tema da violência, são muitas histórias
difíceis e dolorosas. Se não houver estrutura e condições emocionais para
mexer em determinadas feridas, é melhor não ir por aí. A educadora
responsável pelo módulo precisa ter equilíbrio, para não enfraquecer o
grupo. É importante irmos preparadas para encarar algumas questões.
Além disso, se uma companheira sofre violência após a Escola, também
não devemos nos culpabilizar ou intimidar por isso. As nossas vidas são
marcadas por uma sucessão de violências e nós não somos responsáveis
por isso. O nosso papel é justamente de nos fortalecermos juntas para
combater essas violências.

13. As dinâmicas possibilitam o entrosamento do grupo, facilitando o


aprendizado e possibilitando maior inclusão. Elas devem ser vistas como
práticas do aprendizado, para além das brincadeiras. Algumas formas
didáticas de se fazer isto, por exemplo, são as perguntas geradoras e as
chuvas de ideias. As perguntas geradoras tem a função de problematizar
um tema e não buscar uma resposta que tenha um caráter de verdade
absoluta. São perguntas a serviço da reflexão, que estimulem a criatividade
e a participação. A chuva de ideias também busca participação e
imaginação. Utilizamos recursos como imagens, vídeos e músicas para
compor o processo. É importante desconstruir a leitura e a escrita como
única fonte de conhecimentos, até mesmo porque isto pode ser excludente.
É preciso considerar se há participantes que não foram escolarizadas, por
exemplo, ou que tenham alguma deficiência.Qualquer impedimento deve
ser considerado e a Escola precisa se adaptar às necessidades das
mulheres. Desde promover a inclusão das crianças ou um espaço próprio
para recreação infantil a fim de assegurar a presença das mães até a
utilização de expressões artísticas, como a elaboração de desenhos e
músicas, para garantir que mesmo uma companheira que não saiba ler ou
escrever participe da construção de narrativas. Todas precisam se sentir
confortáveis e acolhidas.
Os Módulos da Escola

1º MÓDULO 2º MÓDULO 3º MÓDULO 4º MÓDULO 5º MÓDULO


Acolhimento e Sociologia e Economia Violência Feminismo
História do Ciência política: feminista e contra as Rural e auto-
Brasil. Classes e Agroecologia mulheres organização das
Movimentos mulheres
Sociais
Descolonizando Construção Trabalho de Introdução de Retrospectiva
nossas histórias; do Conceito de mercado e traba- violência; da Vida: Meu
* Minha história Sociologia; lho doméstico e * Violência eu mulher rural.
e a história das * A sociologia de cuidado: contra mulher Meu eu
mulheres; como pauta Fe- a lógica da vida debate pelos feminista;
* A invasão do minista, Cientí- e do mercado; movimentos * Conhecendo
Brasil – Qual a fica e política; * Como o capita- mulheres e e Desconstru-
história que nos * Patriarcado; lismo organiza a Convenção indo as artima-
contaram e o * Sociedade economia (divi- de Belém; nhas do Patriar-
que aconteceu civil e a luta de são social por * O que é vio- cado para
durante a classes - Trazer classe, sexo e lência Domés- Construir o
chegada de Por- o protagonismo raça); tica e Familiar; feminismo;
tugal? da década de 60, * A economia * Característi- * Auto-
* Construindo 70 e 80; feminista: que é cas da violência; organização das
nossa identidade; * A mulher em isso? * Lei Maria da mulheres rurais;
* A colonização toda fase da so- * Questão do Penha; * História do
do Brasil: Qual ciologia dentro tempo: as mu- * Rede de Feminismo no
a história que dos Movimentos lheres analisam enfrentamento mundo e no
nos contaram Sociais; seu tempo? a Violência Brasil;
e o que real- *Construção * Sustentabili- contra a Mulher; * Diversidades
mente aconteceu Mapa Social dade da vida: * Central de dos feminismos;
durante a colo- Geográfico- Corpo é territó- Atendimento * Feminismo
nização? Onde estão as rio do ser; 180; para auto-
* Exibição do mulheres? Como * Mulheres e a * Situação no organização;
vídeo ”Vista participam da Agroecologia Mundo e no * Feminismo
Minha Pele.” sociedade? “Sem feminismo Brasil. Rural: Concei-
* Entendendo as não há Agroeco- tuar a partir de
opressões; logia”. nossas
*O mito da * Modo de vida experiências.
igualdade racial camponesa e so-
no Brasil; berania alimentar.
* Desconstruir
padrões de bele-
za;
* De volta às
raízes.
A partir das nossas próprias vidas
Como já foi dito, a Escola de Educadoras Feminista está dividida em
módulos. Assim nós vivenciamos todo o processo atraveś de ciclos que
estão interligados e se complementam para a construção de um olhar
crítico, considerando a diversidade de recortes que nos atravessam. Esses
módulos são desenvolvidos a partir das nossas realidades, do que
consideramos importante compreender e aprofundar: quais são os
elementos em torno das nossas narrativas que nos ajudam a compreender a
organização da sociedade?
No partilhar de nossas histórias, percebemos que a reação às
opressões sempre esteve lá: quando houve enfrentamento ao poder do pai
que não nos permitiu estudar porque somos mulheres, do irmão que tinha
acesso a vida pública enquanto nosso espaço sempre foi a casa, ou quando
identificávamos desde muito jovens as injustiças da sobrecarga do trabalho
doméstico.
Então, para nós, a Escola tem a função de resgatar essas resistências
para que possamos manter acesa essa chama da insubmissão. Juntas nos
fortalecemos para continuar questionando esses papéis que a família e a
sociedade nos impõe e construímos visões sobre nós mesmas com orgulho
de quem somos, com autoestima e confiança. Nós não chegamos na Escola
dizendo que ser feminista é assumir determinadas bandeiras. O que
acontece é que cada uma vai se compreendendo como parte dessa luta
histórica, a partir das suas reações e revoltas pessoais.
É desta forma que vamos fortalecendo nossas narrativas e
transformando o imaginário sobre nossa categoria. Nós investimos na
sistematização nossas experiências para que estas sejam sementes para a
auto-organização e também ganhem o mundo. Estamos nessa caminhada e
contando nossas histórias há mais de 30 anos, afirmando a construção e a
visibilidade das nossas narrativas como uma estratégia de legitimação dos
nossos saberes e identidades. Ao longo dos anos enfrentamos muitos
desafios, inclusive para o reconhecimento de nosso trabalho e de nossa
cidadania. Nós acreditamos na auto-definição, na auto-representação e no
poder coletivo das nossas vozes ecoando juntas.
Viver e contar

“A Escola de Educadoras Feminista pra mim é uma porta que se


abre para as mulheres, especialmente pra gente, mulheres rurais. É uma
luz que abre a mente da gente e que transforma a nossa maneira de
pensar, de ver, de viver. É uma porta que você passa por ela e se trans-
forma na passagem. A Escola de Educadoras Feminista é essa passagem
que te modifica, e te transforma numa pessoa bem legal, bem viva, que
tem uma outra visão. Ela me transformou. Depois que eu passei por
essa porta, a minha maneira de ser, de pensar, mudou. É como se eu
tivesse colocado uns novos óculos! Pois como eu pensava antes, como
eu via a situação das mulheres, como eu vivia, a minha maneira de agir,
de pensar, era de baixar a cabeça, de eu ser simplesmente uma traba-
lhadora rural do interior. Ser uma mulher rural do semiárido, essa coisa
toda, e eu me sentia muito inferior. Eu achava que eu era simplesmente
uma doméstica, e a minha única utilidade seria cavar terra, plantar,
cuidar de galinha. Então pra mim a Escola me transformou: eu vi que
eu não sou só essa pessoa, que eu sou igual a todas as outras. Que
eu sou igual ao branco… Eu sou negra, graças a Deus! Eu sou feliz. Mas
me mostrou que eu sou igual a todas as outras mulheres - e não só as
mulheres, mas eu também sou igual aos homens. Nós somos iguais. Foi
assim, uma transformação total.”
(Maria de Lourdes Silva, negra, 59 anos, Valença, Piauí)
“Pra mim eu refleti sobre um processo contínuo, do nosso dia a dia,
de nossa realidade. As nossas vidas mudaram depois da Escola de
Educadoras Feminista, nós observamos o conhecimento, a forma de atuar,
a oportunidade revistar o passado, a sensibilidade a partir deste momento…
Foi tudo em nossa vida!”
(Vera Lúcia Pessoa Francelino, 50 anos, negra, Juarez Távora, Paraíba)

“Hoje eu digo: é o maior prazer da minha vida é estar falando dessa


Escola de Educadoras Feministas! Se tirar de mim eu acho que vou
adoecer... É uma coisa maravilhosa, estou encantada, e quero cada vez
mais aprender e poder ajudar outras pessoas. Como eu sou assentada
em um assentamento, eu já conversei: com dinheiro, sem dinheiro,
como for, nós não vamos parar com isso aqui. Vamos juntar com as
mulheres lá que eu participo da associação e vamos repassar, vamos
colocar para crescer isso aí. Porque tem muita gente que vai precisar
desse conhecimento, dessa troca, porque a gente vem aqui e aprende e
eu tenho certeza que quem está ali na frente também aprende. Como a
gente aprende, é uma coisa maravilhosa.”
(Josefa Bezerra da Silva, 54 anos, Negra, Garanhuns, Pernambuco)

“Essa escola pra mim foi e será de muita importância. Como eu


estava precisando dessa formação pra minha pessoa! Mudou em mim a
concepção de conhecimentos da minha trajetória como mulher feminista
determinada. Esse conhecimento que eu tive não é pra ficar comigo -
quantas mulheres estão precisando desse conhecimento também? Então é
minha responsabilidade repassar para as demais companheiras esse meu
compromisso.”
(Vilani Marta de Souza, 47 anos, negra, Assentamento Maceió, município
de Itapipoca, Ceará)

“Pra mim a escola foi um aprendizado muito grande. Uma troca de


experiência, em que aprendi também que a sororidade é uma forma de
solidariedade entre as nós mulheres. E foram muitas coisas que mudaram.
Eu não sou mais aquela mulher tão indecisa, agora me sinto mais
encorajada para dizer o que eu acho. Tenho certeza que apesar de ser
tímida pra conversar em público, estou me soltando mais e com esse
conhecimento eu irei repassar o que eu aprendi para as companheiras que
estão precisando de meu apoio e dizer para elas o valor da sororidade.”
(Maria Helena do Nascimento, 46 anos, negra, Itapipoca, Ceará).

“A Escola Feminista pra mim foi uma faculdade. Foi uma Escola
que eu realmente aprendi, uma escola diferenciada da escola regular que
a gente estudou. Foi uma escola que me ensinou e me preparou pra vida
- e me mostrou que nós mulheres somos sim capazes, formadoras de
opiniões, podemos mudar a realidade. Ela também nos fez refletir,
questionar e não se conformar com a realidade de vida que nós mulheres
vivenciamos, que é a violência, a submissão, e tantas outras questões.
A Escola Feminista trouxe um grande crescimento pessoal pra mim pois
eu fui articuladora e ao mesmo tempo educadora dessa Escola. Pra mim
isso foi um grande desafio e eu acredito que cresci muito. Também me
fortaleci enquanto grupo, enquanto MMTR no Ceará. Hoje nós temos
uma base muito boa e isso é resultado também da Escola Feminista. Ela
também contribuiu muito com meu empoderamento feminino. A partir
do debate do feminismo que a Escola proporcionou, eu compreendi
realmente o que é feminismo. E aí eu entendi realmente que eu nasci
feminista, só não entendia o que era o feminismo. E hoje não tenho
nenhuma dúvida: Sou Lucivane Ferreira, feminista, com muito orgulho.”
(Lucivane Ferreira, Negra, 34 anos, Assentamento Maceió, Itapipoca,
Ceará).
eu tenho certeza que quem está ali na frente também aprende. Como a
gente aprende, é uma coisa maravilhosa.”
(Josefa Bezerra da Silva, 54 anos, Negra, Garanhuns, Pernambuco)

“A escola foi um incentivo muito grande porque eu passava por


muitas coisas durante os dias e não conseguia me defender. E a escola
me serviu para que eu adquirisse conhecimento, abrisse os olhos para
lutar pelos meus direitos. Vai servir para toda a minha vida, pois por
onde eu passar posso erguer a minha bandeira de luta feminista. A partir
do momento que eu comecei a participar, vi o mundo com outros olhos.
Comecei a ver os meus direitos e não só para mim, mas mostrar para
outras mulheres os direitos que elas têm, para as mulheres do campo
que vivem e sofrem todos os dias por causa do machismo. Hoje a minha
vida mudou muito, eu não aceito nenhum tipo de preconceito comigo e
nem com as mulheres que vivem comigo ou mesmo as que eu não
conheço. Se caso acontecer algum preconceito, hoje eu sei me expressar,
eu sei explicar quais são os meus direitos e os direitos de todas as
mulheres. Sou uma jovem mulher muito diversificada, gosto muito de
esportes e muitas coisas que eu gosto são consideradas pela sociedade
machista como coisas de homem. A escola mudou muito a minha vida,
hoje faço as coisas sem medo de fazer. Faço por gostar! E se vier alguém
reclamar eu explico os meus direitos sem medo de nada”.
(Lígia Karinne Corrêa Farias, 19 anos, Negra, Peritoró, Maranhão)
“A escola significa fortalecimento das mulheres que busca a
liberdade de uma luta feminista. Descobrir-se como sujeita, parte de uma
sociedade que busca direitos e igualdades entre homens e mulheres” (Alba
Rafaela de Andrade, 34 anos, negra, Nossa Senhora de Lourdes, Sergipe)
“Pra mim a Escola Feminista foi uma das escolas mais importantes
da minha vida, que eu pude aprender muitas coisas, adquiri muitos
conhecimentos e pude repassar pras mulheres da base. Eu adquiri mais
respeito às outras mulheres, às outras pessoas. E eu entendi a
responsabilidade de passar pras outras e mostrar que a gente é mulher e é
empoderada e pode se empoderar!” ( Maria de Fatima Alves Lima, 62
anos, Branca, Crato, Ceará)
“Pra mim foi uma troca de saberes, eu gostei muito de participar. Eu
nunca tinha participado de uma Escola assim. Tinha participado de outras
formações, mas pra mim foi muito interessante e muito importante essa
troca de saberes de um lado pra o outro, das companheiras. Conheci
novos horizontes, novas pessoas. Quando se fala de mulheres, se fala de
empoderamento, se fala de direitos. E lá a gente tratou muito disso, a
retomada dos nossos direitos. Porque a conjuntura que está hoje posta
para nós, mulheres, nossos horizontes são fechados. E com a Escola, a
gente abriu, alargou o nosso caminho. Eu gostaria que a Escola sempre
voltasse pra gente trocar nossas experiências, saber o que se passa nos
outros estados. Para nós hoje a conjuntura é péssima e a gente tem que
trabalhar para alargar os caminhos que vamos trilhar. Hoje estamos
vendo nossos direitos serem retirados a olhos nus - e a gente estando
empoderada a gente tem força pra lutar.”
(Zilda Marina Alves de Souza, , Sergipe)
“Pra mim foi uma forma de aprendizado, de conhecimento e de
experiência. Discutir temas que na realidade eu sabia que a universidade, e
as escolas queriam falar, mas eu nunca tinha estudado profundamente a
história do Brasil, a questão do feminismo, a questão da Economia. Isso foi
muito importante, pois a gente precisa estar atentas, discutir a sororidade
entre as mulheres - e a Escola nos proporcionou isso. O conhecimento traz
muita mudança: na maneira de falar, de pensar, de agir, de estarmos mais
ajudando as outras mulheres, de estarmos mais dentro das discussões pra
que venham melhorias pra cada uma de nós. Levar o nome do MMTR nos
espaços onde a gente está, isso melhorou bastante por conta da nossa
participação na Escola. E também estar discutindo dentro da nossa casa,
que é um local tão difícil e tão turbulento de estar discutindo a questão de
gênero.”
(Djaumira Farias dos Santos, 37 anos, negra, Igreja Nova, Alagoas)
Essa é a nossa Escola!

Essa publicação trouxe um pouco dos nossos princípios,


metodologias e experiências para “dar um gostinho” da Escola Feminista,
que está, assim como nós mesmas, em permanente
construção/transformação. Enquanto você está lendo isso, a Escola
continua viva, crescendo, amadurecendo, ganhando mundo.
A experiência da Escola pode e deve ser adaptada de acordo com o
perfil do grupo participante, com as temáticas elencadas como prioritárias
por cada grupo. É possível aplicá-la nos mais diversos contextos, sempre
respeitando os princípios de horizontalidade, inclusão, continuidade,
coletividade e valorização das narrativas.
Nós já conduzimos a Escola de diversas formas, inclusive a convite
de outras organizações, a exemplo do Centro de Desenvolvimento
Agroecológico Sabiá (PE) e da Emater-AL (Instituto de Inovação para o
Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoa). Já realizamos algumas
edições em universidades, a exemplo da UFPE (Universidade Federal de
Pernambuco), UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e na Unit-SE
(Universidade Tiradentes em Sergipe). Nos últimos três anos, quase 500
mulheres passaram pela Escola Feminista.
Todas essas mulheres se encorajaram umas às outras no pensamento
crítico e saíram fortalecidas, animadas de se perceberem positivamente no
mundo, como as agentes de transformação social que realmente são. E
quem pode medir o poder de tais experiências ou as muitas mudanças, das
discretas às grandiosas, nascidas a partir destes encontros? A Escola segue
germinando, florescendo e dando frutos nos lugares mais diversos, nas
comunidades rurais nordestinas, e até mesmo em outros países.
Principalmente, a Escola segue dentro de cada mulher que fez parte dela e
nossos sonhos coletivos de união, justiça e dignidade. Essa é a nossa Escola
e nós temos muito orgulho dela! Como será a sua?

Contatos e material de apoio


Se você deseja conversar conosco para saber mais sobre a Escola
Feminista ou outras ações do MMTR-NE, pode entrar em contato através
do e-mail mmtrne@gmail.com. No nosso site, disponibilizamos as
informações contidas nesta publicação e mais: você pode acessar material
de apoio pedagógico – como sugestões de vídeos, músicas, dinâmicas de
grupos… Convidamos você a visitar a página www.mmtrne.org.br e
navegar pelas possibilidades didáticas, disponíveis para todas/os. Caso
você queira partilhar algumas das suas experiências ao aplicar e/ou
vivenciar a Escola, nossa plataforma virtual conta com um espaço para
trocas e fortalecimento do diálogo entre nós. E se quiser conhecer nossa
sede em Caruaru, Pernambuco, o endereço é Rua Luiz Gonzaga Etevaldo
Gomes, nº 40, Bairro Agamenon Magalhães. Nossa casa está sempre de
portas abertas e todas/os são bem-vindas/os.

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