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12/07/2018
uas repletas de pessoas, a maioria suja e malvestida. Casas minúsculas amontoam-se pelas
ladeiras. Crianças e mendigos esmolam por toda parte. Muitos pobres dormem ao relento,
majestosas e imponentes abrigam as famílias ricas e seus escravos. Dentro dos palacetes,
não raro as festas, com fartura de comida e bebida, evoluem para uma orgia.
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São Paulo, Nova Délhi, Cidade do México? Nada disso. Falamos de Roma, por volta do
seu ápice, ela era quase idêntica às metrópoles atuais (mas sem a poluição no ar, claro).
Aliás, Roma era ainda mais apinhada que os exemplos anteriores: no ano 200 alcançou 1
milhão de habitantes e sua densidade demográfica atingiu 66 mil pessoas por km2 (hoje,
a cidade mais apertada do mundo é Mumbai, na Índia, com 29 650 pessoas por km2).
disso era o costume de começar as proclamações oficiais com a expressão latina Urbi et
Orbi, ou seja, “à cidade e ao mundo”. Era como se aquele formigueiro humano, sozinho,
tivesse tanto peso quanto todo o resto do planeta junto – o que não estava assim tão longe
tinha gente de todas as raças e línguas, além de ser rica e exuberante. E um bocado
bagunçada e perigosa.
Expansão inédita
Mas calma lá. Roma nem sempre foi um gigante urbano. Tudo parece ter começado de
forma modesta lá pelo século 8 a.C., quando uma ou mais aldeias foram fundadas por
tribos latinas (povo indo-europeu que falava línguas ancestrais do latim) nas colinas perto
do rio Tibre. O vilarejo que surgiu aí tornou-se agrícola e aparentemente logo começou a
manter boas relações comerciais com seus vizinhos. “Já no século 6 a.C. há sinais de
contato com os gregos e com os etruscos (povo que dominava o centro-norte da Itália)”,
Berkeley, Estados Unidos. Nobres etruscos teriam fundado uma dinastia, mas foram
general Júlio César obteve a conquista da Gália, atual França. A essa altura, não havia
primeiro imperador romano com o nome de Augusto. Até 68, o poder ficou com sua
família, que ampliou os domínios, mas se mostrou corrupta, violenta e autoritária. Depois
da morte de Nero, os imperadores passaram a ser pessoas escolhidas por mérito, e não
por parentesco.
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comando de Trajano, ex-general que reinou de 98 a 117, Roma alcançou o auge de seu
poderio militar e econômico. Ele liberou presos políticos, tratou com deferência o Senado,
anexou a Dácia (atual Romênia e partes de outros países do Leste Europeu) e chegou,
com seus exércitos, até Susa (no Irã de hoje). Qual o segredo de Roma? “O êxito do
império por tanto tempo deve-se a seu caráter assimilador”, afirma o historiador Pedro
Além disso, a saúde financeira dele dependia do comércio, que era favorecido pela criação
Do berço ao túmulo
Mesmo tão cosmopolita, Roma enfrentava problemas inerentes a sua época. Nascer no
império, mesmo em seu auge, não era tarefa fácil. Por volta do século 2, a taxa de
mortalidade infantil era de 400 para cada 1000 bebês (hoje, a pior taxa do mundo é a do
país africano Níger, com 150 mortes para cada grupo de 1000). Num lugar onde as
mulheres eram encaradas como propriedade de seus pais ou esposos, a que conseguisse
dar à luz três filhos vivos ganhava independência legal. O índice de abandono das crianças
motivos para abandonar um filho variavam de algum defeito físico ao simples fato de ele
ser do sexo feminino, já que os filhos homens eram mais valorizados por manterem a
linhagem da família. “É preciso separar o que é bom do que não pode servir para nada”,
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escreveu o filósofo Sêneca, no século 1. As crianças chegavam a ser enjeitadas até por
razões políticas: conta-se (embora não haja comprovação) que, quando o imperador Nero
matou sua própria mãe, Agripina, alguém abandonou um bebê com um cartaz: “Não te
Passado esse primeiro e duro desafio, a criança livre de nascimento e de boa família tinha
escravo idoso e severo, não hesitava em usar o chicote. Uma escrava de origem grega
(para ensinar a língua cultural desde o berço), a maternal nutriz, amamentava o bebê. Os
os garotos continuavam seus estudos com literatura clássica, mitologia e retórica: o ideal
da educação não era aprender uma profissão, mas ser capaz de impressionar em debates
Entre os romanos não existia maioridade aos 18 anos – o rapaz só era considerado
emancipado se seu pai morresse. A rigor, todos os bens de um romano com genitor vivo
podiam ser administrados por seu pai, segundo a lei, mesmo que ele se casasse. O
casamento, por sua vez, não tinha nada de romântico: costumava ser um acordo entre
famílias. Os rapazes uniam-se por volta dos 20 anos e as meninas, aos 14, embora não
fosse incomum elas se casarem aos 12. Os homens tinham certa preferência por noivas
virgens. Se isso ocorresse, na noite de núpcias, ele se limitava a fazer sexo anal com ela,
Só os libertinos eram dados a luxúrias como fazer amor em pleno dia (o costume era
esperar a noite cair) ou com a mulher de seios de fora (elas quase nunca se despiam
completamente). Mesmo porque fazer sexo só pelo prazer não era coisa que os homens
faziam com suas esposas – o objetivo da relação sexual no casamento era procriar. Livrar-
se do cônjuge, por outro lado, era simples: bastava um dos dois querer. Havia maridos
que nem sabiam que estavam divorciados: suas esposas simplesmente voltavam para a
casa dos pais e não avisavam. Assim como a taxa de separações, o índice de amantes era
elevadíssimo.
A expectativa de vida durante o Império Romano era muito baixa: girava em torno dos
comuns. A medicina era tão precária que, nos primeiros anos do império, os chefes de
família acreditavam deter todo o conhecimento necessário para curar seus parentes
usando ervas medicinais. E, diferentemente dos gregos, que valorizavam os médicos, para
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estrangeiros.
Como várias das metrópoles atuais, a capital do Império Romano era cheia de contrastes.
romana, que possuía água corrente e piscinas aquecidas. Os vários cômodos da residência,
como salas de jantar e escritórios, ficavam em torno de um pátio central, o atrium. Era
nos escritórios que o rico romano antenado estudava os filósofos da moda, como Epicteto
em suas casas – uma forma de medir o prestígio de um nobre. Nelas, comia-se e bebia-se
muito: o costume era servir cerca de sete pratos, que incluíam iguarias exóticas como
– cuja religião era uma mistura de mitos gregos, etruscos e latinos, além de crenças que
assimilavam dos povos conquistados –, era normal essas festas terminarem em orgias, já
Do lado de fora das mansões, o sossego era quebrado por bandos de jovens conhecidos
como collegia juvenum. Filhos de famílias ricas, adoravam uma arruaça e, para se divertir,
estupros coletivos de prostitutas. “Volta do teu jantar o mais cedo possível, pois um grupo
muito excitado de jovens das melhores famílias saqueia a cidade”, diz o personagem de
um texto da época.
apartamentos com até nove andares feitos de materiais frágeis como madeira e tijolos
secos ao sol. O térreo normalmente era ocupado por quitandas ou outras lojas. “As
diferenças sociais em Roma não foram maiores que em outras sociedades. Mas havia
políticas públicas que visavam os mais pobres. Milhares deles recebiam trigo a preços
professor Funari.
Nos bairros populares do monte Aventino, lixo e dejetos, feitos em penicos, eram
despejados na rua, da janela. Quem preferisse poderia usar uma latrina pública, onde as
pessoas ficavam sentadas, com a túnica arriada, à vista de todos. No fim, a chuva
carregava tudo para a cloaca máxima, sofisticado sistema de esgotos subterrâneos que
usava a água que saía dos banhos e fontes públicas para carregar os detritos até o rio
vinho intragável, quase um vinagre, dissolvido em água. Por segurança ou por pura
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precedidos por um séquito de escravos. Como não havia polícia, eles também faziam as
Os prazeres da vida
Roma era uma cidade insalubre. Mas os romanos se esforçavam para manter a própria
higiene. A prática dos banhos era amplamente difundida, e tanto ricos como pobres
freqüentavam as termas. Nelas, havia piscinas de água fria, banheiras de água quente,
salas com vapor e ambientes para prática de ginástica – homens e mulheres usavam
se política e filosofia. “Nada é mais doce que o gongo, sinalizando a abertura dos banhos”,
A nobreza e a grande massa popular também se misturavam nas famosas corridas de bigas
(“areia”, em latim, por causa do sedimento que recobria o cenário). O principal palco
dessas lutas, o Coliseu, foi concluído pelo imperador Tito no ano 80 e possuía uma
organização de fazer inveja aos atuais estádios de futebol brasileiros: tinha um sistema de
coberturas retráteis contra a chuva e o sol excessivo e os vomitoria, saídas que davam
acesso direto aos assentos ou ao exterior e permitiam esvaziar o local em minutos, sem
tumulto.
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nobreza. A entrada era paga, mas os preços, módicos. “Os espetáculos podiam ter um viés
político para angariar votos, mas eram muito mais que isso”, diz a historiadora Renata
do povo romano, seus valores culturais, como a relação com os deuses, com a vida e a
As brigas, porém, não eram tão sangrentas assim. Como os gladiadores eram profissionais
valiosos, os derrotados eram poupados com freqüência da morte. “Muitos viveram vários
Diversos deles viravam celebridades, objetos de desejo das damas mais assanhadas da
nobreza. Declarações de amor eram feitas a eles nas paredes romanas. Os muros, por
simples provocações entre desafetos. Sutileza não era o forte romano. Um dos grafites,
por exemplo, traz: “Marítimo pratica o cunilíngua por quatro asses [dinheiro da época],
Em Roma, era comum homens trocarem beijo na boca como demonstração de amizade.
O ócio era praticado pelos ricos durante a tarde inteira: eles só liam, escreviam,
conversavam. Viver de renda era mais glamoroso que trabalhar. A propina era praticada
muitos o condenassem). Há quem critique Roma por seu imperialismo ou por manter uma
economia sustentada pela mão-de-obra escrava. O que ninguém pode contestar é que a
civilização é o berço das nações europeias e diversos outros países colonizados por elas,
inclusive o nosso. E que foi com Roma que aprendemos, bem ou mal, a ser como somos.
753 a.C.
Segundo a tradição romana, a cidade foi fundada pelos gêmeos Rômulo e Remo em 753
a.C. A data, porém, coincide com os vestígios arqueológicos de um vilarejo criado por
509 a.C.
Até então uma monarquia, os latinos de Roma a tornam uma república. Em 202 a.C.,
58-44 a.C.
Júlio César conquista a Gália e é declarado ditador perpétuo pelo Senado, mas é morto.
Após uma guerra civil, Otaviano vira imperador. Entre 27 a.C. e 14 d.C., ele consolida os
domínios no Mediterrâneo.
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Com Trajano, o império alcança sua extensão máxima: 6,5 milhões de km2, do norte da
Inglaterra ao Egito e partes do atual Iraque. O auge dura até o fim do século 3, quando
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Constantino confere liberdade religiosa ao império. Cada vez mais próximo da Igreja
cristã (foi batizado antes de morrer), lança as bases para transformar o cristianismo em
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(cuja primeira capital era Milão) e Império do Oriente (com capital em Constantinopla),
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Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente, é deposto por Odoacro, chefe dos
hérulos, povo de origem germânica, um dos vários que invadiram Roma. É o fim do
Tipos romanos
Senador
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(que chegou a ter 1000 homens) era a mais alta posição. Os senadores eram consultores
Escravo
Provinha de várias frentes: povos vencidos nas guerras de expansão, vítimas de tráfico
nas fronteiras, filhos de escravos e crianças abandonadas ou pobres vendidas por seus
pais. Mas Roma permitia que seus escravos comprassem a própria liberdade.
Gladiador
Os homens que lutavam entre si ou com animais eram estrangeiros capturados em guerras,
criminosos ou livres em situação desesperadora. Ser gladiador era uma forma de buscar
Matrona
As mulheres ricas tinham liberdade para visitar as amigas e podiam, com a ajuda de
tutores homens, administrar seus próprios bens e até processar desafetos. As viúvas de
Soldado
Ser soldado, na época da República, era restrito aos homens que possuíssem terras. Mas,
no império, as imbatíveis legiões aceitavam qualquer romano. Embora a vida fosse brutal,
Comerciante