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Módulo 1 – Estabelecendo o cenário

Apresentação do módulo
Antes de iniciar o estudo desse módulo, ouça a música “Redescobrir“, de Luiz Gonzaga
Jr, na voz de Elis Regina.

Mesmo que a letra não fale em mediação comunitária, ela aborda aspectos presentes nas
ações coletivas e na vida em comunidade. A compreensão desses aspectos é um dos primeiros
passos para compreender o tema que irá estudar.

Vamos lá!

Objetivos do módulo
Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:

 Compreender a dinâmica da violência e da criminalidade presente no cenário atual


a partir do paradigma das conflitualidades;

 Analisar as definições de mediação comunitária e caracterizá-la a partir dos


elementos comuns;

 Compreender a importância das redes sociais para o processo de mediação


comunitária.

Estrutura do módulo
Aula 1 – Um breve olhar sobre o cenário atual.

Aula 2–Mediação comunitária: estudando algumas definições.

Aula 3– Mediação comunitária e as redes sociais.


Aula 1 – Um breve olhar sobre o cenário atual
Nesta aula, você terá a oportunidade de estudar alguns aspectos sobre a violência e a
criminalidade com base em um foco de interpretação a partir de outro paradigma: as
conflitualidades.

1.1. As conflitualidades do cenário


Tavares dos Santos (www.scielo.br), ao abordar sobre as formas de violência, chama a
atenção do alcance teórico do tema para as várias sociedades contemporâneas, ressaltando que
“nos encontramos diante da mundialização da violência e da injustiça”. Esse novo cenário é
caracterizado pelo que autor denomina “conflitualidades”.

Conflitualidades – vocábulo que abrange as formas de violência, as metamorfoses do


crime, da crise das instituições de controle social e dos conflitos sociais presentes na
contemporaneidade.

Concorrem para as formas de violência presentes hoje na sociedade os seguintes fatores:

 concentração da propriedade de terras;

 efeitos das políticas de ajuste estrutural;

 corrupção;

 concentração de renda;

 desigualdade social;

 delinqüência urbana;

 crime organizado, em especial o tráfico de drogas e o comércio ilegal de armas e


pessoas.
De acordo com Tavares dos Santos (www.scielo.br), destaca-se ainda: a “vitimização dos
pobres”; a desprofissionalização das práticas delitivas e as formas de dominação, exploração e
precarização do trabalho rural.

Todos os autores salientam a desigualdade social como uma das origens


estruturais das violências, enfatizando-se a hipótese de que "o
empobrecimento e a desigualdade, e não a pobreza, são os elementos que
originam a violência urbana" (Briceño-León). (...) Desigualdade social e
segregação urbana produzem uma exclusão social, marcada pelo
desemprego, pela precarização do trabalho, salários insuficientes e por
deficiências do sistema educacional. (...) Agravam-se tais condições de
exclusão pela trágica condição da juventude na América Latina. As
maiores vítimas, mas também a maior proporção de autores de atos
violentos estão entre os homens jovens. (TAVARES DOS SANTOS,
www.sielo.br).

Tal constatação é também reforçada por Alvarez (www.sbpcnet.org.br) ao apontar as


significativas transformações ocorridas nas percepções e práticas sociais voltadas para os
fenômenos da violência e da criminalidade. Segundo o autor, contribuem para este quadro:

 Os efeitos da globalização;

 O novo paradigma da violência como característica do mundo contemporâneo;

 O distanciamento existente entre as políticas de segurança pública e as teorias e


práticas penais do “legado utópico da modernidade”, que se apresentam mais
repressivas e discriminatórias.
Soma-se a este quadro “o esgotamento dos modelos convencionais de controle da
violência e do crime.” (ADORNO apud ALVAREZ, 1998)

1.2. As conflitualidades e a emergência do social e comunitário


Os mesmos modelos convencionais que não conseguem mais lidar de forma eficaz com a
escalada da violência e do crime, adicionados às conflitualidades, estão impulsionando
transformações mais amplas na vida social contemporânea, principalmente nas diferentes formas
de os indivíduos se organizarem, governarem a si mesmos e os outros para dar conta da
complexidade e da fragmentação da realidade social. Daí, a necessidade emergente de
compreensão das novas modalidades de ações coletivas, com lutas sociais e diferentes pautas de
reivindicações.

Estamos em presença de um social heterogêneo, no qual nem indivíduos


nem grupos parecem reconhecer valores coletivos. Esse contexto dá
origem a múltiplos arranjos societários, a múltiplas lógicas de condutas.
Predominando tal situação é válido falar em sociedade fragmentada,
plural, diferenciada, heterogênea. (GROSSI PORTO apud TAVARES
DOS SANTOS, 1999).

É importante ressaltar que a necessidade de mudança dos modelos não é tão nova assim.
A própria Constituição Federal de 1988 já trazia em seu artigo 144 o princípio de um modelo de
segurança com foco no cidadão, chamando a atenção para a “responsabilidade de todos”.

De 88 para cá muita coisa vem sendo construída e pactuada na área de segurança pública
e, como você estudou no curso de mediação de conflitos 2, hoje já é possível verificar o
delineamento de uma política de segurança que abranja políticas sociais e projetos sociais
preventivos, protagonizados pela articulação de diferentes forças e atores sociais: administrações
públicas, associações, terceiro setor, escolas etc.

Trata-se da emergência da planificação emancipatória no campo da


segurança, enfatizando a mediação de conflitos e a pacificação da
sociedade contemporânea. (...) Isso significa uma perspectiva de
desenvolver um processo civilizador de superação das formas de
violência e de ampliação da cidadania, desenhando uma agenda pública
sobre o direito à segurança de cada cidadão e cidadã. (TAVARES DOS
SANTOS, www.sielo.br).

A emergência e a urgência de olhar para o social, principalmente como fio condutor para
a cidadania, traz consigo a necessidade de investirmos nas potencialidades das comunidades,
“locus privilegiado para o desenvolvimento de programas de transformação social” (BRASIL,
2006, p. 26).

Importante! – “Comunidade significa um grupo de pessoas que compartilham de uma


característica comum, uma ‘comum unidade’, que as aproxima e pela qual são identificadas”.

(NEUMANN & NEUMANN, 2004 apud BRASIL, 2006)

Encontramos ainda outros pontos fundamentais para a compreensão da importância da


comunidade como lócus privilegiado;entre eles destacam-se o ‘território’ e a identidade
compartilhada. Contudo, os estudos chamam a atenção para o fato de ser essa “identidade
compartilhada” que define o núcleo do conceito, pois a territorialidade nem sempre significa que
haja coesão social e, conseqüentemente, capital social.
Importante! – A coesão social é representada pelo grau de conexão existente entre os
membros da comunidade e a capacidade de promover desenvolvimento local, ou seja, pelo seu
capital social.

O capital social(fazer um hint para: o valor que os indivíduos adquirem por participar de
uma rede social) é verificado de acordo com o grau de coesão social existente na comunidade e
pode ser observado a partir das relações entre as pessoas ao se organizarem e estabelecerem
redes que facilitem a coordenação e a cooperação para promoção de benefícios mútuos.

(BRASIL, 2006)
Segundo Chaskin (s.dapud BRASIL, 2006), a coesão social de uma comunidade pode ser
aferida a partir da análise de quatro elementos:

1. Senso de comunidade ou grau de conectividade e reconhecimento recíproco;

2. Comprometimento e responsabilidade de seus membros pelos assuntos


comunitários;

3. Mecanismos próprios de resolução de conflitos;

4. Acesso aos recursos humanos, físicos, econômicos e políticos, sejam locais ou


não.

Se há coesão social, há identidade compartilhada. A criação dessa identidade depende da


mobilização social e do envolvimento com os problemas e soluções locais. (BRASIL, 2006).
Esses pontos são essenciais para a compreensão e instauração da mediação comunitária.
Aula 2 – Mediação comunitária: estudando algumas definições
Nesta aula serão apresentadas algumas definições de mediação comunitária.

Observe e anote os pontos comuns entre elas, pois eles auxiliarão a compreender as
características presentes para a efetividade da mediação comunitária.

2.1. Definições

Definição 1
A mediação comunitária atua visando à mudança dos padrões do comportamento dos
atores comunitários através do fortalecimento dos canais de comunicação, com vistas à
administração pacífica dos conflitos interpessoais entre os integrantes da comunidade (REDE
EAD, curso de Polícia Comunitária, módulo 5, aula 4).

Definição 2
A mediação comunitária representa o exercício real da cidadania mediante a busca da paz
social. Como forma preventiva de conflitos, promove ambientes propícios à colaboração entre as
partes, com o intuito de possibilitar que as relações continuadas perdurem de forma positiva,
criando vínculos.(DANIEL, A. et al.http://www.ua.pt/incubadora/).

Definição 3
A mediação comunitária é uma forma de pensar a resolução de problemas dentro da
própria comunidade, utilizando a sabedoria e a força dos(as) moradores(as), através de suas
lideranças. É acreditar na busca de uma cultura de paz em que as comunidades tidas como
violentas mudem as suas realidades. (SEJDH).
Definição 4
A mediação comunitária é uma importante ferramenta para a promoção do
empoderamento e da emancipação social. Por meio dessa técnica, as partes direta e indiretamente
envolvidas no conflito têm a oportunidade de refletir sobre o contexto de seus problemas, de
compreender as diferentes perspectivas e, ainda, de construir em comunhão uma solução que
possa garantir, para o futuro, a pacificação social. (BRASIL, 2006).

Você deve ter destacado vários pontos em comum, não foi? Verifique se eles aparecem
nas principais características apresentadas a seguir:

2.2. Características

Mediação como ferramenta


Ferramentas são objetos que auxiliam a transformar, construir ou a consertar algo.
Observe que as definições ressaltam que o processo de mediação comunitária possibilita a
construção de algo novo, orientado para a resolução de problemas e buscando a pacificação
social.

Ambiente propício à colaboração


O processo de mediação facilita o estabelecimento de cooperação para construir de forma
conjunta a solução do conflito.

Os protagonistas do conflito, quando interagem em um ambiente


favorável, podem tecer uma solução mais sensata, justa e fundamentada
em bases satisfatórias, tanto em termos valorativos quanto materiais.
(BRASIL, 2006).
Locus Privilegiado
Os atores são da comunidade, a mediação ocorre na comunidade e é realizada por
membros da comunidade.

A comunidade é o locus privilegiado e também o ponto central da caracterização da


mediação comunitária.

Comunicação
A comunicação entre as partes é algo que deverá ser estimulado durante todo o processo
de mediação. Essa comunicação não envolve somente o diálogo, mas as condições criadas para
que as partes possam estabelecer ou restabelecê-lo (Exemplos: ambiente propício, vontade das
partes e mediador capacitado, entre outros), apresentando as suas visões, refletindo sobre o
conflito, expressando seus sentimentos, construindo uma solução solidária e executando o que
ficou acordado.

Pacificação Social
A mediação comunitária estimula a reflexão, amplia as possibilidades de diálogos,
incentiva a solidariedade e favorece a cooperação entre partes, contribuindo assim para a
mobilização social, a cidadania e a paz social.

Importante! – Observe que na ‘definição 4’ aparecem os termos “empoderamento e


emancipação social”. Esses dois termos advêm da justiça comunitária, que vê no processo de
mediação comunitária algo muito maior do que simplesmente a possibilidade de dar celeridade
aos processos, pois, à medida que capacita os membros da comunidade para auxiliar na resolução
dos conflitos, estimula a forma de expressão social, amplia o desenvolvimento das capacidades
de emancipação, possibilita o fortalecimento individual e grupal e empodera a comunidade para
“dar respostas comunitárias aos problemas comunitários”. (LITTLEJONH, 1995 apud BRASIL,
2006, p. 47).

Aula 3– Mediação comunitária e as redes sociais


A resolução de conflitos no ambiente e em grupos não é algo socialmente novo. É
possível encontrar exemplos em diversas culturas, como por exemplo, nas culturas religiosas.
Hoje as redes sociais ajudam a traduzir as estruturações advindas dos grupos. Nesta aula, você
irá estudar o papel das redes na mediação comunitária.

3.1. O que é uma rede?


Uma rede social é uma estrutura social composta por pessoas ou organizações,
conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns.
(wikipedia.org).

As redes se caracterizam por apresentarem múltiplos elementos que se relacionam de


forma horizontal – sem hierarquia, com base em diversas fontes de poder, com lideranças
informais – para compartilhar informações, conhecimentos, interesses e esforços em busca de
objetivos comuns.

Na última década, intensificou-se a formação de redes sociais. Para alguns autores, as


redes traduzem novas formas de relações sociais e estão alinhadas ao processo de fortalecimento
da sociedade civil e às exigências de maior participação e mobilização social.

Para saber mais...

Para saber mais sobre esse assunto e, principalmente, compreender os aspectos sociais e
políticos presentes no conceito de redes, leia no material do relato da experiência de Justiça
Comunitária, o TJDFT, no texto intitulado “O locus: a comunidade”, o trecho sobre as redes
sociais.

3.2. Tipos de redes


Brasil (2006) destaca que há dois tipos de rede:

 Rede Social – Composta de inúmeras entidades públicas e privadas,prestadoras de


serviços, associações de moradores, movimentos sociais, organizações religiosas,
entre outras.

 Rede Local – É aquela que se forma a partir de um conflito específico.

Importante! – Tanto as redes sociais como as redes locais favorecem a identidade


compartilhada e a coesão social.

3.3. As redes e a mediação comunitária


No curso Mediação de Conflitos 2 você estudou sobre as características presentes no
processo de mediação de conflitos, independentemente da técnica que foi utilizada. São elas:

 Voluntariedade das partes

 Terceiro termo: O mediador neutro

 Solução construída pelas partes

Essas mesmas características, quando aplicadas num contexto de rede, possibilitam a


identificação dos valores que unem a comunidade, bem como o encaminhamento dos resultados
da mediação interna e externamente à rede, caso seja necessário o desdobramento de ações.
A sensação de pertencimento gerada pela união dos membros da rede cria oportunidades
para que eles utilizem o conhecimento produzido na própria rede para a construção da solução de
conflitos.

Para funcionar, uma rede tem que ser dinâmica e atuante e, por isso necessita de membros
que a ajudem a movimentá-la. Em alguns programas e projetos são utilizados agentes
comunitários – pessoas capacitadas da própria comunidade – para manter a rede viva.

Cada agente comunitário atua na área adjacente ao seu local de moradia,


atendendo às demandas individuais e/ou coletivas que lhe forem
apresentadas diretamente pelos cidadãos ou encaminhadas pelo Centro
Comunitário respectivo.

A depender da natureza do conflito apresentado, várias são as


possibilidades que podem ser propostas pelos agentes comunitários aos
solicitantes. O encaminhamento sugerido ao caso concreto é definido em
uma reunião entre os agentes comunitários e a equipe interdisciplinar que
atua no Centro Comunitário de Justiça e Cidadania. De qualquer sorte,
sempre que possível, o agente comunitário buscará estimular o diálogo
entre as partes em conflito, propondo, quando adequado, o processo de
mediação.(BRASIL, 2006).

Importante! – Observe que na citação acima aparecem, além do agente comunitário,


outros atores representados pela equipe multidisciplinar, bem como um espaço significativo, ou
seja, um Centro Comunitário, reforçando assim as características da mediação comunitária
estudadas por você neste módulo.
Investigando a realidade
Você conhece alguma rede social em seu município?

Que tal conhecer como ela funciona?

Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:

 Os mesmos modelos convencionais que não conseguem mais lidar


de forma eficaz com a escalada da violência e do crime, adicionados às
conflitualidades, estão impulsionando transformações mais amplas na vida social
contemporânea, principalmente nas diferentes formas de os indivíduos se
organizarem, governarem a si mesmos e os outros para dar conta da complexidade
e da fragmentação da realidade social.

 A emergência e a urgência de olhar para o social, principalmente


como fio condutor para a cidadania, traz consigo a necessidade de investirmos nas
potencialidades das comunidades, “lócus privilegiado para o desenvolvimento de
programas de transformação social”. (BRASIL, 2006, p. 26).

 A mediação comunitária é uma importante ferramenta para a


promoção do empoderamento e da emancipação social. Por meio dessa técnica, as
partes direta e indiretamente envolvidas no conflito têm a oportunidade de refletir
sobre o contexto de seus problemas, de compreender as diferentes perspectivas e,
ainda, de construir em comunhão uma solução que possa garantir, para o futuro, a
pacificação social. (BRASIL, 2006).
 Na última década,intensificou-se a formação de redes sociais. Para alguns autores,
as redes traduzem novas formas de relações sociais e estão alinhadas ao processo de
fortalecimento da sociedade civil e às exigências de maior participação e mobilização social.

 As características da mediação,quando aplicadas num contexto de rede,


possibilitam a identificação dos valores que orientarão a construção da solução de conflitos.

 Para funcionar, uma rede tem que ser dinâmica e atuante e, por isso necessita de
membros que a ajudem a movimentá-la. Em alguns programas e projetos são utilizados agentes
comunitários – pessoas capacitadas da própria comunidade – para manter a rede viva.

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