You are on page 1of 5

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000520030

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2110666-10.2018.8.26.0000, da Comarca de Birigüi, em que é agravante C.H. DA SILVA
CALÇADOS ME (JUSTIÇA GRATUITA), é agravada PATRICIA PANDUR MARIA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 12ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores JACOB VALENTE


(Presidente), TASSO DUARTE DE MELO E SANDRA GALHARDO ESTEVES.

São Paulo, 16 de julho de 2018.

Jacob Valente
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO nº 28.925

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2110666-10.2018.8.26.0000

COMARCA: BIRIGUI

AGRAVANTE: C.H. DA SILVA CALÇADOS - ME

AGRAVADA: PATRÍCIA PANDUR MARIA

Agravo de instrumento Ação de cobrança Assistência


judiciária gratuita negada pelo juízo 'a quo' Microempresa
individual Patrimônio da pessoa jurídica que se confunde
com o da pessoa física Recorrente que pleiteou o benefício
amparado em declaração de pobreza jurídica e declaração do
imposto de renda Valores que não se mostram incompatíveis
com o benefício pleiteado Elementos suficientes para a
concessão do benefício Recurso provido.

1. Trata-se de recurso de agravo de instrumento,


com pedido de efeito suspensivo, tirado contra decisão de
fls. 68/71 que, em ação de cobrança, indeferiu os benefícios
da assistência judiciária à agravante.

Sustenta a agravante que é empresa de pequeno porte


e está passando por dificuldades financeiras, diante da
grande queda das vendas, baixa movimentação bancária e
inúmeros cheques sem fundos, conforme demonstram os extratos
bancários e declaração de imposto de renda acostados aos
autos. Afirma que a isenção do imposto de renda do
representante legal demonstra a impossibilidade do sócio de
arcar com o pagamento das custas sem prejuízo próprio de sua
família. Alega que a interpretação da Lei 1.060/50 deve ser
feita em consonância com a garantia constitucional de acesso
à ajustiça, motivo pelo qual não se exige situação econômica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

financeira de miserabilidade da pessoa jurídica. Requer a


reforma da decisão agravada, com a concessão da gratuidade
processual.

Recurso formalmente em ordem, com pedido de efeito


suspensivo, dispensadas informações de primeiro grau de
jurisdição, sem resposta (fl. 81).

É o relatório do necessário.

2. Antes de tudo, respeitado o entendimento do


juízo 'a quo', trata-se pessoa natural titular de firma
individual qualificada como ME (microempresa).

Nesse sentido, ao contrário do que restou decidido


pelo magistrado 'a quo', entende-se que a agravante faz jus
aos benefícios da justiça gratuita, tendo em vista que a
presunção gerada pela declaração de pobreza, não é absoluta,
mas relativa, de sorte que o estado de hipossuficiência
econômica pode e deve ser objeto de verificação pelo próprio
juiz.

No caso em questão, não foram identificados


elementos de convicção que contrariassem a presunção relativa
que emana da declaração de pobreza apresentada.

Frise-se que a agravante afirma está passando por


dificuldades financeiras, diante da grande queda das vendas,
baixa movimentação bancária e inúmeros cheques sem fundos,
conforme demonstram os extratos bancários e declaração de
imposto de renda acostados aos autos, o que permite concluir
que de fato não possui recursos para custear as despesas do
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

processo (fls. 7/17 e 58/65).

Os mencionados documentos possuem força


probatória suficiente para evidenciar que a agravante faz jus
ao benefício que pleiteou.

Ademais, tratando-se de empresa individual,


cediço que o patrimônio dela se confunde com o da pessoa
física do empresário.

De fato, o representante da agravante é isento


de declaração do imposto de renda, pois não consta na base de
dados da Receita Federal ano de 2017 (fl. 58), demonstrando
que não possui patrimônio e recursos para arcar com as
despesas processuais advindas da demanda.

Cabe lembrar que, para a concessão da


gratuidade, não se exige um estado de miserabilidade, mas uma
momentânea situação de necessidade.

Assim, consoante se depreende do art. 99, §


3º, do CPC/2015, a mera alegação, deduzida por pessoa
natural, de insuficiência de recursos para pagamento das
custas, despesas processuais e honorários advocatícios é
presumidamente verdadeira.

Salienta-se, por oportuno, que o novo diploma


processual brasileiro não se divorcia, nesse ponto, da
interpretação dada ao art. 4º, caput, da Lei Federal nº
1.060/50, cuja revogação está atrelada ao fim do período de
vacatio legis do referido Código (arts. 1045 e 1.072, III, do
CPC/2015).

No entanto, tal presunção, repita-se, é apenas


relativa, vez que a Constituição da República Federativa do
Brasil, em seu art. 5°, inciso LXXIV, reconhece a necessidade
de comprovação da insuficiência, ao dispor que “o Estado
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos”.

Deste modo, no caso dos autos, infere-se que,


ao dispor das custas processuais, a recorrente poderá ter
comprometido seu sustento, pois, não obstante, tenha se
valido de patrono particular (o que não inviabiliza a
concessão da gratuidade, conforme tornou expresso o § 4º do
art. 99, do CPC/2015), dos demais elementos juntados aos
autos, tem-se que, de fato, não possui condições para arcar
com os custos da demanda.

Nesse sentido, necessário dizer que a negativa


de concessão do benefício almejado, na vertente dos autos,
implicaria em obstrução de acesso ao Judiciário (art. 5º,
XXXV, da CF).

Outrossim, tratando-se de presunção relativa,


inevitável rememorar que a parte contrária pode, a qualquer
fase do processo, impugnar a concessão da benesse.

Ante o exposto, dá-se provimento ao agravo


interposto.

JACOB VALENTE

Relator

You might also like