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Universidade Federal de Juiz de Fora

Departamento de Ciências Sociais – ICH


Aluna: Luana Cristina Seixas

RESENHA do texto: CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Os (des)caminhos da


identidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 15, nº 42, fev. 2000. p. 7-21.

A produção intelectual que aborda os mecanismos de constituição de identidades


coletivas ("nós") se afasta do “eu” e se aproxima do “nós”, com intuito de analisar as
manifestações das identidades globais. Diante disso, o caminho, ou o descaminho, se
aplica em sociedades cujas identidades se encontram em crise, pois são nas crises que
proporcionam os elementos identificadores das coletividades e da identidade de grupo
básico. No texto, o termo descaminhos é usado na ideia de ambiguidade como uma
ferramenta pra pensar o fenômeno identidade que deve ser contextualizada no interior
das sociedades, pois se encontra encoberto na visão do homem da rua e também do
antropólogo, sociólogo e cientista político. Cardoso de Oliveira aborda o processo de
identificação pessoal ou grupal como um processo instruído mais pela sociedade do que
pelas coletividades, identidades de grupo básico ou identidades totais que são as crises
relativas a nacionalidades ou etnias.
A partir de casos empíricos exemplificados no decorrer do texto, procura refletir
sobre temas como: a etnização das identidades nacionais de imigrantes; o
desenvolvimento das identidades em relação às nacionalidades em um recorte na
situação europeia e o debate entre identidade étnica e identidade nacional nas fronteiras.
A Etnicidade como uma propriedade de uma formação social e um aspecto de interação,
em que diferenças étnicas envolvem diferenças culturais. Durante o texto são
observadas várias modalidades de interação sociais, incluindo migrantes,
exemplificando cada uma.
A primeira se refere à dicotomia aparência/ascendência étnica, e para isso o
autor utiliza o exemplo Brasil e Estados Unidos. No Brasil, o preconceito é de cor ou de
marca, pois leva em consideração a aparência e traços físicos do indivíduo, diferente
dos Estados Unidos em que o preconceito é de origem, uma vez que o indivíduo
descende de certo grupo étnico e mesmo que não apresente traços físicos referentes à
determinada etnia é alvo de preconceito. Outra modalidade é a etnização de identidades
nacionais. Trata-se de identidades regionais brasileiras (goiano, mineiro, paulista ou
carioca) que são englobadas pela população hospedeira, na de hispânicos. Hispânicos
aqui como etnia e não como nacionalidade. O que ocorre é que imigrantes brasileiros
mais pobres não assumem identidade étnica hispânica devido á participação em cotas, o
que traz dificuldade para legalizar a situação de imigrante, e que por consequência torna
impossível participar em cotas, surgindo assim uma crise de identidade.
A Identidade deslocada é o movimento entre espaço que estão no meio, nem
uma coisa, nem outra e o exemplo de Cardoso de Oliveira para retratar essa modalidade
é a imigrante uruguaia professora de uma universidade americana, membro do
departamento de inglês que é questionada por não lecionar disciplina de espanhol. A
próxima modalidade discutida pelo autor refere-se a dupla dimensão da identidade ao
exemplificar Barcelona e a língua, ou seja, Cardoso de Oliveira diz que se excluir os
galegos, bascos, valencianos e os indivíduos de origem das ilhas Baleares (falam
catalão). Castelhano é a língua oficial da Espanha e o Catalão a segunda oficial da
Catalunha, o que reproduz um preconceito com quem não fala catalão, sendo este
humilhado pelos demais e colocados em serviços menos qualificados.
A modalidade de interação seguinte se chama Andorraneidade e consiste em uma
pesquisa realizada em Andorra, cidade em que a presença de estrangeiros é maior que a
de andorranos. Sendo assim, a língua catalã é dita como oficial, já o francês e castelhano
direcionado ao comércio, ou seja, o valor instrumental aqui é mais do que simbólico e
identitário, pois a escolha da língua é voltada para o mercado. Sobre a construção de
identidades coletivas, ao utilizar Andorra como exemplo, país oficialmente catalão,
localizado entre Espanha e França, um país composto por fronteiras. Para Cardoso de
Oliveira, trata-se de um exemplo extremo de uma nuança de identidades nacionais, em
que a nacionalidade se demonstra nitidamente através da percepção direta de indivíduos
ou grupos, enquanto que na outra extremidade, as identidades nacionais permaneceriam
dissolvidas excessivamente em comparação às identidades étnicas, assim como o
exemplo que se segue em seu texto, as identidades de índios localizados em fronteiras.
Segundo o autor, o processo identitário se trata de um espaço marcado pela
ambiguidade das identidades e como exemplo utiliza as etnias indígenas situadas nas
fronteiras que transitam entre identidade indígena e identidade nacional, uma
manipulação de identidade que resulta da necessidade desses povos, obrigados a se
inserir. Assim como os Tukunas que conhecem o valor de cada moeda ao cambio do dia
– real brasileiro, peso colombiano e sol peruano. Assim como procuram assistência à
saúde, educação para os filhos e proteção das forças militares nestes países.
A importância da densidade empírica do processo transnacional nas fronteiras
descrita por Cardoso de Oliveira aborda o contexto das nacionalidades em sua situação
como um objeto de análise antropológica inter e transnacional, em que as identidades e
relações interétnicas travadas não advêm de um único Estado-Nação, pois incide nas
áreas de fricção interétnica, ou seja, em fronteiras, mas sim do interior de dois ou mais
Estados nacionais. A preocupação com o contexto de fronteiras como um dos
panoramas mais desafiador para a análise dos processos identitários nacionais.
Ao abordar o movimento dos diferentes tipos de sistemas identitários localizados
em contextos singulares de fronteira, percebe uma escala que vai do étnico/nacional e
nacional/étnico, em que se apresenta como uma nacionalização da ordem étnica (caso
exemplificado pelos Tukunas), e na segunda escala como uma etnização das identidades
nacionais (caso exemplificado por Andorra).
Cardoso de Oliveira conclui seu texto levantando três pontos presentes em todos
os cenários examinados. O reconhecimento da identidade étnica ou nacional e o respeito
à diferença que são demandas por políticas públicas, ou seja, de ordem política. E por
último, a taxa de consideração é de ordem moral, já que é baseada na consideração com
base do reconhecimento dos Outros, das diferenças. As fronteiras aqui são abordadas
menos como constituições ideológicas e mais como contextos empíricos indicadores de
procedimentos e modificações sociais característicos. As fronteiras como uma espécie
asseguradora de modos singulares de vida social e, portanto compõem um ambiente
excepcional de análise dos processos organizacionais das identidades nacionais e
étnicas.

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