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155
do CP
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há 4 anos
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Furto
Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º – A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso
noturno.
§ 2º – Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a pena de multa.
§ 3º – Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha
valor econômico.
Furto qualificado
§ 4º – A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I – com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II – com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III – com emprego de chave falsa;
IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º – A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo
automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
a) sinal de TV a cabo: pode ser objeto material do crime de furto. “Assim não fosse,
tomando-se por base apenas os fatos relatados na inicial do mandamusimpetrado na
origem e no aresto objurgado, não se constata qualquer ilegalidade passível de ser
remediada por este Sodalício, pois o sinal de TV a cabo pode ser equiparado à energia
elétrica para fins de incidência do artigo 155, § 3º, do Código Penal. Doutrina.
Precedentes.” (STJ, RHC 30847/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 20.8.2013).
Obs.: apesar de polêmica, a questão foi exigida em prova recente do CESPE, em um
concurso do MP. Na ocasião, a banca adotou o entendimento trazido no julgado
acima, que entende pela tipicidade da conduta.
b) fornecimento de água: a água fornecida por empresa de abastecimento pode ser
objeto material do furto, não como energia, nos termos do § 3º, mas como coisa
naturalmente móvel: “1. Para a aplicação do princípio da insignificância, devem ser
preenchidos quatro requisitos, a saber: a) mínima ofensividade da conduta do
agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c) reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento; e d) inexpressividade da lesão jurídica
provocada. 2. No caso, o modo como o furto foi praticado indica a reprovabilidade
do comportamento do réu, que realizou ligação clandestina em sua residência,
fazendo com que o hidrômetro não registrasse a quantidade de água consumida, em
prejuízo da empresa estatal de abastecimento de água. 3. Ordem denegada.” (STJ,
HC 179654/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 29.6.2012).
c) sinal de Internet: o tema é complexo. Como há diversas formas de transmissão de
sinal de Internet, vejamos, com base em julgados, a resposta para a questão. Na
hipótese de Internet transmitida por linha telefônica, não vejo muita polêmica, pois
a jurisprudência, de forma unânime, tem dito que o sinal telefônico é coisa móvel
para fins penais: “A energia elétrica que permite o funcionamento de sistema
telefônico equipara-se a coisa móvel, incorrendo na prática do delito previsto no
art. 155, § 3.º, do CP o agente que desvia, mediante fraude, o sinal de linha de
telefone público para aparelho particular, lesando a coletividade, que fica privada de
utilizá-lo, assim como a concessionária do serviço público.” (TJMG, Ap. Cr.
8274983-67.2002.8.13.0024, J. Em 12.5.2010). Portanto, a subtração de sinal
de Internet transmitido por linha telefônica é, sim, furto. Quanto às demais
tecnologias, tendo por base o posicionamento do STJ acerca da TV a cabo, penso que
a conclusão pela tipicidade seja a mais adequada: “O sinal de televisão propaga-se
através de ondas, o que na definição técnica se enquadra como energia radiante, que
é uma forma de energia associada à radiação eletromagnética. II. Ampliação do rol
do item 56 da Exposição de Motivos do Código Penal para abranger formas de
energia ali não dispostas, considerando a revolução tecnológica a que o mundo vem
sendo submetido nas últimas décadas. III. Tipicidade da conduta do furto de sinal de
TV a cabo.” (REsp 1123747/RS, Min. Rel. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe
01/02/2011). Nos Tribunais do país, encontramos posicionamentos controversos. O
TJSP, na Ap. 99009218727/9, julgada em 2010, condenou um estudante de
tecnologia que subtraia fraudulentamente sinal de Internet transmitido via rádio. O
TJDFT, por outro lado, entendeu pela atipicidade, ao julgar a Ap.
159018720108070001, em 2011: “Por analogia, o sinal de internet também não pode
ser equiparado a energia, por não ser capaz de gerar força, nem prejuízo a quem o
gera e por não poder ser objeto de apropriação material. Diferentemente do caso de
TV a cabo (Lei Nº.8.977/95), ainda não há previsão legal que disponha sobre os
crimes de receptação de sinal de internet, porém não pode ser objeto do crime de
furto.”
d) sêmen de animais: o tema já está “batido”, mas não custa relembrar: sêmen é
considerado energia para fins penais (energia genética). Portanto, pratica o crime de
furto aquele que subtrai o sêmen de animais que possui valor econômico. Todavia,
sei o que você está pensando. E o sêmen humano? Como é proibida a sua venda –
somente pode ser doado -, o esperma humano não tem valor econômico, ainda que
seja oriundo de homem de muitas riquezas. Sobre o assunto, transcrevo explicação
do professor Luiz Flávio Gomes: “A Exposição de Motivos da Parte Especial
do Código Penal Brasileiro, por analogia, considera furto comum a subtração da
energia genética dos reprodutores, levando-se em consideração que o sêmen é
passível de apreensão. Mas, a energia referida pelo Código Penal em seu artigo 155 §
3º, que tenha valor econômico, não se refere ao material procriativo do homem. O
esperma não pode ser considerado coisa alheia móvel e nem a ela equiparado. Nem
mesmo res derelicta. Trata-se de bem extra commercium.”. Isso não significa, no
entanto, que não responderá por furto aquele que invade um laboratório e subtrai
amostras contendo sêmen humano. Neste caso, haverá o crime de furto por se tratar
de coisa alheia móvel, nos termos do “caput” do art. 155, e não em razão da subtração
de energia genética.
e) leite ordenhado: “Assim, imagine-se a hipótese daquele que subtrai o sêmen de
um touro reprodutor, com a finalidade de, com ele, fertilizar uma de suas vacas. O
crime praticado, nesse caso, seria o de furto de energia genética, conforme orientação
contida na mencionada Exposição de Motivos. Aqui, entretanto, nem haveria
necessidade de ressalva, pois o sêmen do reprodutor se amolda, perfeitamente, ao
conceito de coisa, tal como seria a subtração do leite ordenhado.” (TJCE, Ap. Crim.
2000.0222.2109-4/1, Rel. Juiz Convocado Wilton Machado Carneiro, julgado em
6.10.2009).
→ Fique atento! Embora, para o estudioso do Direito, seja fácil a distinção entre
roubo (CP, art. 157) e furto (CP, art. 155), há uma hipótese que pode se tornar
verdadeira “pegadinha” em provas: se o agente hipnotiza ou entorpece (ex.: “Boa
Noite Cinderela”) a vítima para, em seguida, subtrair os seus bens, o crime será o de
roubo ou o de furto? Se você respondeu furto, cuidado: o roubo pode se dar tanto
pela violência própria, quando há o emprego de força física, quanto pela imprópria,
quando o agente reduz a impossibilidade de resistência da vítima. Portanto, roubo, e
não furto. Contudo, se a vítima tiver provocado a debilidade voluntariamente, por
ato próprio, sem influência do agente, e este, aproveitando-se do momento, subtrair
os seus bens, o crime será o de furto.
Por derradeiro, não basta que a ação seja a de subtrair e que a coisa seja móvel. É
essencial que a coisa seja alheia, ou seja, não pode pertencer a quem pratica a
subtração, tampouco estar sob a sua legítima posse. E mais: a coisa deve pertencer a
alguém. Por isso, em caso de res nullius (coisa que nunca teve dono) ou res
derelicta (coisa abandonada), quem se assenhora da coisa não pratica furto. Quanto
à res desperdicta (coisa perdida), quem dela se apropria pratica o crime de
apropriação de coisa achada (CP, art. 169, II), exceto: a) quando a coisa se encontrar
em local privado: a coisa só é considerada perdida quando extraviada em local
público ou de uso público. Não se pode falar em coisa perdida quando ela se encontra
em local privado; b) quando o agente provoca dolosamente a perda do bem; c)
quando a coisa foi esquecida, e não perdida. Nestas três hipóteses, ocorrendo o
assenhoramento da coisa, o agente responderá por furto.
Agora, imagine a seguinte situação: Tício presencia um acidente automobilístico, e,
ao perceber que todos os ocupantes do veículo estão mortos, subtrai os objetos
pessoais das vítimas. Nesta hipótese, deverá responder por furto? A resposta, é claro,
é positiva. Isso porque, com a morte, os bens são imediatamente transmitidos aos
herdeiros (princípio de Saisine). Portanto, aqueles bens não são considerados res
nullius ou res derelicta, pois possuem proprietário. Da mesma forma, os bens de
valor econômico enterrados com o falecido (ex.: um relógio) não podem ser
considerados coisas abandonada, e podem, sim, ser objeto material de furto.
Quanto aos corpos humanos, em regra, eles não podem ser objeto material de furto,
e a sua subtração configura o crime do art. 211 do CP (destruição, subtração ou
ocultação de cadáver), exceto quando tiver valor econômico e estiver sob a posse
legítima de alguém, a exemplo de corpos em uma faculdade de medicina ou de
múmias em um museu, hipótese em que a subtração configurará o crime de furto.
Entretanto, atenção: a remoção ilegal de tecidos, órgãos ou partes de cadáver
configura o crime do art. 14 da Lei 9.434/97.
As coisas de uso comum não podem ser furtadas, a exemplo da água dos oceanos.
Caso a água seja alheia, o seu represamento ou desvio pode configurar o crime do
art. 161, § 1º, I, do CP (usurpação de águas). Quanto à coisa tombada, a sua subtração
configura o crime de furto, e não o de dano em coisa de valor artístico, arqueológico
ou histórico (CP, art. 165).
→ Subtração de veículo a fim de safar-se de perseguição após prática delituosa:
“Entendeu-se inexistir crime de furto (TACrimSP, ACrim 453.887, JTACrimSP,
92:262)” (Damásio).
O furto é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, exceto na forma
qualificada pelo abuso de confiança (CP, art. 155, § 4º, II), em que o agente deve ser
pessoa em quem a vítima deposite confiança. O proprietário da coisa também não
pode ser autor do crime de furto, ainda que ela esteja sob a posse legítima de terceiro,
situação que pode caracterizar o crime do art. 346 do CP: “Tirar, suprimir, destruir
ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação
judicial ou convenção”. Caso a coisa subtraída seja de propriedade comum do agente
e do terceiro prejudicado, o crime será o do art. 156 do CP: “Subtrair o condômino,
co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa
comum”. A lei não exige qualidade especial da vítima.
→ Atenção: o funcionário público que subtrai dinheiro, valor ou bem, público ou
particular, ou concorre para que seja subtraído, valendo-se de facilidade
proporcionada pela qualidade de funcionário, pratica o crime de “peculato-furto”,
previsto no art. 312, § 1º, do CP.
O sujeito passivo do furto é o proprietário ou o legítimo possuidor (pessoa física ou
jurídica). O mero detentor da coisa não é vítima do delito. Por isso, caso uma empresa
tenha um automóvel furtado, o seu empregado, que conduzia o automóvel no
momento do crime, não será considerado vítima. Não é necessário que a vítima seja
identificada para que o agente seja responsabilizado pelo furto praticado.
→ “Ladrão que rouba ladrão”: dois ou mais agentes praticam um furto, e algum (ou
alguns) deles subtrai a coisa furtada. Neste caso, o sujeito passivo continuará sendo
o proprietário ou o legítimo possuidor da coisa furtada, e não os demais envolvidos
no crime.
Furto noturno: o § 1º do art. 155 prevê que a pena do furto deve ser aumentada em
1/3 (um terço) se o crime é praticado durante o repouso noturno. A doutrina intitula
a hipótese de furto circunstanciado, hipótese de aumento aplicável somente ao furto
simples, do “caput”. A razão do aumento é simples: durante o repouso, à noite e de
madrugada, a movimentação de pessoas nas ruas é menor e, provavelmente, a vítima
não terá qualquer chance de reação. Portanto, quem furta durante o repouso
noturno, o faz valendo-se dessa facilidade. Logo, é justo que a pena seja aumentada.
Não há um horário específico para o período de repouso noturno. Em regiões rurais,
é comum que as pessoas durmam cedo e acordem antes mesmo do nascer do sol. Em
grandes cidades, por outro lado, os costumes são outros. Por isso, não há uma
fórmula exata. Deve o julgador, caso a caso, analisar a situação. Não é necessário que
o local esteja, efetivamente, sem ninguém, na hipótese de estabelecimento comercial,
ou que as vítimas estejam dormindo, no furto a imóvel residencial, para que se
reconheça a causa de aumento. Também é possível a incidência da causa de aumento
em furto praticado contra veículo estacionado em via pública.
O STJ, em julgado de 14 de abril desse ano, entendeu que o furto durante o repouso
noturno, por ser de maior reprovabilidade, impede a incidência do princípio da
insignificância: “A circunstância de o crime de furto ter sido perpetrado durante o
repouso noturno, como ocorreu in casu, denota maior reprovabilidade, o que afasta
o reconhecimento da atipicidade material da conduta pela aplicação do princípio da
insignificância. Precedentes.” (AgRg no AREsp 463487/MT, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior).
→ Não confunda causa de aumento com qualificadora. Nas causas de aumento, pega-
se a pena prevista para o delito e aumenta-se de determinada fração. Um bom
exemplo é o furto noturno, do § 1º do art. 155: a pena do furto simples, de um a quatro
anos, é aumentada de um terço. Nas qualificadoras, a lei traz penas mínima e máxima
próprias, distintas da forma simples. O § 4º do art. 155 é o exemplo perfeito: a pena
mínima é de dois anos e a máxima é de oito anos.
Critérios objetivos:
Critérios subjetivos:
Não se pode, entretanto, confundir valor ínfimo com pequeno valor. Aquele é causa
de exclusão da tipicidade, por força da insignificância, enquanto este é parâmetro
para o furto privilegiado (CP, art. 155, § 2º). A jurisprudência, em reiterados
julgados, tem afirmado que pequeno valor é aquele que não ultrapassa o salário-
mínimo vigente na época dos fatos. Nesse sentido, STJ:
“In casu, o valor do prejuízo suportado pela vítima é superior ao do salário mínimo
vigente à época dos fatos, o que impede o reconhecimento da figura do furto
privilegiado.” (HC 217726/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
24.04.2014).
“Para a concessão do benefício do privilégio no crime de furto exige-se a
primariedade do agente, bem como seja a res furtiva de pequeno valor, ou seja, a
importância do bem não deve ultrapassar um salário mínimo. Preenchidos os
requisitos legais, e considerando as circunstâncias do crime, de rigor, a aplicação
da causa de diminuição de pena.” (HC 232553/DF, Relatora Ministra Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 6.5.2014).
No parágrafo quinto:
→ Cão de guarda: “Em relação ao cão de guarda, há duas posições: (a) pode ser
definido como obstáculo, razão pela qual sua morte enseja a qualificadora, pois atua
como entrave à prática da conduta criminosa; e (b) não se pode considerá-lo
obstáculo no sentido técnico da palavra, e sua morte poderá caracterizar crime de
dano, mas não a qualificadora em estudo.” (Masson).
→ Cuidado para não confundir o furto qualificado pelo abuso de confiança com o
crime de apropriação indébita. Em ambos os delitos, há quebra de confiança. No
entanto, no furto, a coisa móvel não é entregue voluntariamente, pela vítima, ao
agente. Ex.: o amigo que, valendo-se do acesso facilitado à residência, subtrai os bens
da vítima. Na apropriação indébita (CP, art. 168), por outro lado, a vítima entrega o
bem, e o agente dele se assenhora. Ex.: um amigo empresta ao outro coisa móvel, e
este não devolve o bem.
c) mediante fraude: o agente pratica o furto mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento. Não há como confundir com o estelionato (CP, art. 171).
Embora, em ambos, exista o emprego de fraude, no furto, o agente subtrai a coisa,
enquanto, no estelionato, a vantagem é obtida. Exemplo de furto qualificado: o
agente, para subtrair determinado bem, conquista a amizade da vítima – a amizade,
neste caso, é ato preparatório do delito -, e, valendo-se da confiança depositada,
subtrai os seus bens. Exemplo de estelionato: o agente se apresenta como
proprietário de um automóvel em um “lava-jato”, e o funcionário, induzido em erro,
a ele entrega o bem. Não há, portanto, subtração, mas obtenção do veículo. Vejamos
alguns pontos relevantes:
→ Furto qualificado e estelionato [1]: “No caso, cumpre anotar que o furto mediante
fraude não se confunde com o estelionato. Segundo Damásio, "[n]o furto, a fraude
ilude a vigilância do ofendido, que, por isso, não tem conhecimento de que o objeto
material está saindo da esfera de seu patrimônio e ingressando na disponibilidade
do sujeito ativo. No estelionato, ao contrário, a fraude visa a permitir que a vítima
incida em erro. Por isso, voluntariamente se despoja de seus bens, tendo consciência
de que eles estão saindo de seu patrimônio e ingressando na esfera de
disponibilidade do autor'.” (STJ, HC 217545/RJ, Relatora Ministra Laurita Vaz,
julgado em 19.12.2013).
→ Furto qualificado e estelionato [2]: “O furto mediante fraude não se confunde com
o estelionato. A distinção se faz primordialmente com a análise do elemento comum
da fraude que, no furto, é utilizada pelo agente com o fim de burlar a vigilância da
vítima que, desatenta, tem seu bem subtraído, sem que se aperceba; no estelionato,
a fraude é usada como meio de obter o consentimento da vítima que, iludida, entrega
voluntariamente o bem ao agente.” (STJ, REsp 1412971/PE, Relatora Ministra
Laurita Vaz, julgado em 25.11.2013).
→ Furto praticado por manobrista: “Na hipótese em tela, a vítima entregou as chaves
de seu carro para que o Paciente, na qualidade de segurança da rua, o estacionasse,
não percebendo que o seu veículo estava sendo furtado. Conforme ressaltado pelo
Tribunal de origem, a vítima 'não tinha a intenção de se despojar definitivamente de
seu bem, não queria que o veículo saísse da esfera de seu patrimônio', restando,
portanto, configurado o furto mediante fraude.” (STJ, HC 217545/RJ, Relatora
Ministra Laurita Vaz, julgado em 19.12.2013). Comentário: caso o agente se faça
passar por manobrista com o intuito de se apoderar do bem, entendo que o delito
seja o de estelionato (CP, art. 171), e não o de furto qualificado pela fraude.
→ Fraude eletrônica na Internet [1]: “O delito de furto mediante fraude, previsto no
art. 155, § 4º, inciso II, do CP, consistente na subtração de valores de conta-corrente
mediante fraude utilizada para ludibriar o sistema informatizado de proteção de
valores mantidos sob guarda bancária, deve ser processado perante o Juízo do local
da conta fraudada. Precedentes.” (STJ, CC 119914/DF, Relatora Desembargadora
Convocada Alderita Ramos de Oliveira, julgado em 12.12.12).
→ Fraude eletrônica na Internet [2]: “Esta Corte firmou orientação de que o saque
efetuado em conta corrente de terceiro por meio da internet trata-se de crime de furto
mediante fraude e que portanto, segundo a regra prevista no art. 70 do CPP, deve ser
processado no local em que houve o desapossamento dos valores, ou seja, a sede da
agência bancária. Recurso especial provido.” (STJ, REsp 1163170 / SP, Rel. Min. Félix
Fischer, julgado em 20.9.2010).
→ “Cartão clonado”: “Esta Corte firmou compreensão segundo a qual a competência
para o processo e julgamento do crime de furto mediante fraude, consistente na
subtração de valores de conta bancária por meio de cartão magnético supostamente
clonado, se determina pelo local em que o correntista detém a conta fraudada.” (STJ,
AgRg no CC 110855/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22.6.2012).
→ Adulteração de medidor de energia elétrica: “In casu, a Corte a quo, após análise
das provas constantes dos autos, reconheceu o crime de furto mediante fraude
porque a concessionária de prestação de serviço público não tinha conhecimento da
fraude perpetrada quanto às trocas dos transformadores, que passaram a registrar
consumo de energia elétrica a menor, situação típica do crime descrito no art. 155 do
Diploma Penalista, razão pela qual conclusão em sentido contrário quanto à
caracterização do delito tipificado no art. 171 do mesmo Estatuto Repressor,
demandaria o revolvimento do material fático/probatório, o que é vedado pela
Súmula n. 7/STJ.” (STJ, AgRg no REsp 1279802/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 8.5.2012).
→ Subtração de veículo de test drive: “Resta-nos, enfim, uma relevante questão a ser
enfrentada: o crime envolvendo o test drive de veículos automotores. Trata-se de
furto qualificado pela fraude ou de estelionato? Vejamos. Imaginemos uma situação
hipotética, mas extremamente frequente na vida cotidiana: 'A' vai a uma
concessionária, mostrando-se interessado na aquisição de um automóvel. Após
colher informações sobre o bem, preenche uma ficha cadastral e apresenta um
documento falso ao funcionário da empresa. Sai sozinho com o veículo para testá-lo,
mas não retorna. Não há dúvida nenhuma, com base na técnica jurídica, que se cuida
de estelionato. De fato, o sujeito se valeu da fraude para ludibriar o representante da
concessionária, que voluntariamente lhe entregou o bem. Não houve subtração. A
jurisprudência, entretanto, consolidou o entendimento de que se trata de furto
qualificado pela fraude.” (Masson).
→ Outros exemplos em que a qualificadora da fraude foi reconhecida pelos tribunais:
agente que pede à vítima para que mostre a coisa e foge com ela; sujeito que engana
a vítima, fazendo-a se afastar do objeto material; agente que se diz policial para
penetrar no local da subtração; agente que distrai o vendedor enquanto o comparsa
subtrai bens; puxar a chave com arame para abrir a porta; agente que se finge de
doméstica para furtar etc.
→ Obstáculo contínuo: “Além disso, o obstáculo deve ser contínuo, não oferecendo
alternativas à execução do crime sem o recurso à escalada. Se, exemplificativamente,
o muro contém buracos pelos quais pode passar uma pessoa, ou se não cerca todo o
prédio em que o furto é cometido, não incide a qualificadora.” (Masson).
→ Invasão pela janela: há duas hipóteses: 1ª) janela rente ao solo: não incide a
qualificadora (JTACrimSP, 69:456, 26:71 e 27:44; RT, 539:315 e 542:372); 2ª) janela
alta, exigindo esforço físico: incide a qualificadora (JTACrimSP, 54:250 e 35:219).
→ Tentativa: “(a destreza) Consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe
permite o apoderamento do bem sem que a vítima perceba. É a chamada punga. Tal
ocorre com a subtração de objetos que se encontrem junto à vítima, por exemplo,
carteira, dinheiro no bolso ou na bolsa, colar etc., que são retirados sem que ela note.
Importa dizer que se a vítima perceber a subtração no momento em que ela se realiza,
considera-se o furto tentado na forma simples, pois não há que se falar no caso em
destreza do agente (p. Ex., a vítima sente a mão do agente em seu bolso). Se, contudo,
a vítima se dá conta da falta do objeto instantes após o bem-sucedido apoderamento
pelo agente e antes do afastamento deste do local da subtração, há tentativa de furto
qualificado, já que presente está a destreza do agente. Se terceiros notarem a
subtração, haverá ainda tentativa de furto qualificado, já que presente está a
habilidade do agente, na medida em que a própria vítima não se deu conta da retirada
do bem.” (Capez).
Ação penal: crime de ação penal pública incondicionada, que não depende de
representação da vítima, exceto nas hipóteses previstas no art. 182 do CP: “Somente
se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em
prejuízo: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo
ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.”. O art. 182 não
será, no entanto, aplicado nas seguintes situações (CP, art. 183): a) se houver
emprego de violência ou grave ameaça à pessoa (o que, em verdade, afastaria o crime
de furto); b) ao estranho que participa do crime; c) se o crime é praticado contra
pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Causas de isenção de pena: “Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer
dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da
sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou
ilegítimo, seja civil ou natural.”. O art. 181 não será aplicado nas seguintes situações
(CP, art. 183): a) se houver emprego de violência ou grave ameaça à pessoa (o que,
em verdade, afastaria o crime de furto); b) ao estranho que participa do crime; c) se
o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Suspensão condicional do processo: só é possível na forma simples, do “caput”,
em que a pena mínima não excede 1 (um) ano. Nas demais formas, não é viável a
suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei 9.099/95.