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Porto Alegre
2018
LUCAS LAUX DIAS
RESUMO
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................04
1.1 OBJETIVO E INTERESSE ................................................................................04
1.2 O OBJETO DE ESTUDO E SUA IMPORTÂNCIA.............................................04
1.3 GHOST: HIPOTESE, GÊNERO MUSICAL E INDÚSTIA CULTUAL.................05
1.3.1 Rock, Heavy Metal e o mercado de nicho.................................................06
1.3.2 Ghost no Brasil.......................................................................................06
1.4 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO PARA A COMUNICAÇÃO.............................07
2 INDÚSTRIA CULTURAL.....................................................................................08
2.1 O ESTUDO DA INDÚSTRIA CULTURAL........................................................08
2.2 ADORNO, HORKHEIMER E A DIALÉTICA DO NESCLARESCIMENTO...... 09
2.3 WALTER BENJAMIN E A AURA DA OBRA DE ARTE....................................11
2.4 EDGAR MORIN E A CULTURA DE MASSAS................................................12
2.5 CHRIS ANDERSON E A CAUDA LONGA......................................................14
2.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA CULTURAL................................15
3 IMAGEM, IMAGINÁRIO E MITO......................................................................18
3.1 O IMAGINÁRIO...............................................................................................18
3.2 IMAGEM SIMBÓLICA.....................................................................................20
3.3 O SURGIMENTO E O TRIUNFO DO IMAGINÁRIO.......................................21
3.4 O MITO DO CRISTIANISMO..........................................................................23
3.5 AS EVOLUÇÕES E O DESGASTE DO MITO................................................27
3.6 IMAGINÁRIO, ROCK E HEAVY METAL.........................................................28
3.7 OS ESQUEMAS..............................................................................................32
4 METODOLOGIA: EM BUSCA DO IMAGINÁRIO DA BANDA GHOST...........33
4.1 O SURGIMENTO DA BANDA GHOST...........................................................33
4.2 PERSONAGENS, ENREDO E ATUALIDADE................................................35
4.2.1 O anonimato..........................................................................................36
4.2.2 A atualidade da banda..........................................................................36
4.3 TOBIAS FORGE: O HOMEM POR TRAS DA MÁSCARA........................... 38
4.3.1 A principal crise.....................................................................................39
5 VIDEOCLIPES: O CORPUS DE ANÁLISE......................................................40
6 MITOCRÍTICA..................................................................................................42
3
7 ANÁLISE........................................................................................................46
7.1 VÍDEOCLIPE HE IS (ELE É): ANÁLISE VISUAL E DECUPAGEM............46
7.2 MITOS PRESENTES EM HE IS (ELE É)...................................................52
7.3 ANÁLISE E DECUPAGEM DO CLIPE YEAR ZERO (ANO ZERO)...........62
7.4 MITOS PRESENTES EM YEAR ZERO (ANO ZERO)...............................67
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................71
9 REFERÊNCIAS............................................................................................74
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1 INTRODUÇÃO
Visa-se analisar aquilo que é simbólico, que não é explícito que está
presente na produção de sentido da obra sem necessariamente ser
apresentado pelo interlocutor. Procura-se também o entendimento do mito para
dar base ao estudo simbólico através da mitocritica, assim podendo estudar a
relação do produto cultural oferecido pela banda perante a cultura ocidental
predominantemente cristã e assim entender que tipo de mensagem faz com
que os fãs da banda sintam-se atraídos e quais fatores fazem com que o
público de massa os rejeite.
Precisa-se ter em mente que entender comunicação vai muito além dos
conceitos fundamentais ensinados no âmbito acadêmico, a publicidade, como
parte das ciências sociais aplicadas, não pode restringir-se a aquilo que está
dito e claro e nem deve servir como uma simples ferramenta mercadológica no
campo prático, a teoria e a área de pesquisas no campo do imaginário se faz
necessária para entender as obras culturais ne maneira ampla, tal como o
sentido que elas produzem nas diferentes esferas e culturas, nas diferentes
épocas e nos mais diversos tipos de conteúdo. É preciso entender a sociedade,
seus mitos, ritos e sua cultura para de embasar a comunicação social e suas
práticas. É com base nessa ideia que o trabalho será conduzido através da
perspectiva durandiana da teoria do imaginário.
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2 INDÚSTRIA CULTURAL
futuro fenômenos que ainda vão acontecer, onde tudo ocorre sobre um objetivo
claro e tem relação com a sociedade em que as pessoas que estão sobre o
mito vivem, e a partir disso passa a existir uma nova forma de exercer a
dominação.
Antes do que conhecemos por mito, a dominação era feita através do
trabalho direto e imediato, em seguida passou a existir então a possibilidade da
dominação ser exercida de fora do trabalho, com o domínios dos meios de
produção. A dominação do homem sobre o homem naturalizou-se porque o
homem passou a ser parte da interpretação e da natureza subjugada sendo
que o sujeito que tem o olhar distanciado não se fez no mesmo papel que o
homem que está sendo interpretado, o que muito tem a ver com a primazia da
técnica.
A força do esclarecimento está na contradição que a própria tecnologia e
a técnica trazem. Ao mesmo tempo que a tecnologia e a técnica têm a
possibilidade de aumentar o conforto das pessoas, tal como suas
possibilidades, mas ao mesmo tempo o nível de exploração aumenta
exponencialmente. O esclarecimento é totalitário sendo que se insere em todas
as esferas da vida, onde a representação incessante da técnica assim como o
desencantamento do mundo, constituem sujeitos desencantados que validam a
primazia da técnica, sendo adaptáveis a esfera econômica, aos objetivos
tecnocratas assim passando o mercado a ser o juiz dos valores e da liberdade
do sujeito da modernidade desencantada ao extremo.
O sujeito da economia, por sua vez, desencantado ao máximo, toma
conta da sua vivência cotidiana e domina o mercado, sendo ele (o sujeito) a
esfera principal do mundo desencantado, como se fosse o juiz máximo e o
produtor dos valores para a sua vida.
Segundo os autores, na medida em que o domínio sobre a natureza
trouxe um aumento da possibilidade de conforto, este trouxe também consigo o
aumento da exploração tal como a possibilidade de uso das tecnologias e
técnicas para experiência nazista, conforme citado anteriormente e, a partir
disso os autores citam o desenvolvimento da indústria cultural, que possibilitou
uma completa dominação ideológica do homem, isto porque a partir dos meios
de informação e entretenimento a ideologia pode ser reproduzida em massa,
perpetuando as estruturas vigentes e causando estímulos em que a reação é
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necessária.
A grande função da indústria cultural não é fomentar debates sobre
estímulos, mas sim transformar o sujeito em ser passivo, sendo o
conhecimento equivalente ao poder gerado pela primazia da técnica que causa
subjugação e dominação do homem, onde nota-se que, a partir do que deveria
ser o processo emancipatório do sujeito, tornou-se em contrapartida um fator
de aprisionamento. Nota-se daí um efeito onde a própria massa é iludida a
depositar nas esferas econômicas toda a autoridade para dizer o que é válido
ou não.
prejuízo para o lojista porque uma vez que existia essa escassez de espaço,
produtos de nicho corriam forte risco de ser extintos do mercado.
audiência e capitalizar com anúncios publicitários, por mais que isso coloque
em jogo a imagem de artistas e pessoas que por muitas vezes são inocentes
daquilo que estão sendo acusadas ou que a mídia coloca, através de
suposições atribuídas a ela em sua programação levando o público a debater a
respeito.
Em um passado ainda muito próximo, bandas com características
peculiares como a Ghost, que por muitos é tachada de satanista, dificilmente
fariam sucesso em um cenário de massa dependendo apenas dos veículos
analógicos de comunicação. Ghost é um grande exemplo de produto cultural
de nicho, e este é um dos fatores que torna a banda um objeto de estudo
interessante para a comunicação social e para o campo de estudo do
imaginário.
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3.1 O IMAGINÁRIO
em suas produções, mas no uso que dele é feito. A imaginação obriga de fato,
a partir disso, a formular uma ética, uma legítima sabedoria das imagens.
Apesar de sua importância, segundo Durand (1989), nem sempre o
imaginário foi considerado pelos intelectuais, sendo que a partir do século XVII
excluído pois, para época, era sinônimo de irrealidade ou delírio, não sendo
digno de estudo intelectual. Essa ideia foi se modificando ao longo do tempo.
Para o autor o imaginário e suas manifestações que provem tipicamente do
sonho, do onírico ou do rito, são alógicas e, portanto, não é solidificado
especificamente na razão.
Sabe-se que por conta do desemparelhamento do imaginário com a
lógica da razão, durante muito tempo o imaginário encontrou barreiras para sua
solidificação entre a elite intelectual pois entendia-se que apenas a razão
poderia dar alguma legitimação para o estudo do imaginário e, sendo assim, no
século XVII o imaginário perdeu seu espaço, sendo excluído dos processos
intelectuais e ainda tachado como produto de uma casa de loucos, como conta
Durand (1994) em sua obra.
Para Eliade (1992), autor este que trouxe fortemente para o campo de
estudos do imaginário o paralelo entre o sagrado e o profano, o mito tem a
função de contar uma história sagrada e relatar um acontecimento ocorrido em
tempos passados narrando as façanhas de Entes Sobrenaturais em uma
perspectiva onde, graças a ele, uma realidade total ou um fragmento passa a
existir, daí relatando a sacralidade ou sobre naturalidade das obras destes
entes. Desta forma, o mito por se tratar de uma história sagrada passa a ser
verdadeiro porque refere-se a realidades. Isto é, aquilo que é fictício para o
homem profano, diante da perspectiva do imaginário do homem sagrado passa
a ser real.
Durand (1994) ao descrever os mitos relata que os seus processos
consistem na repetição e sincronicidade das ligações simbólicas que os
compõe, sendo que o mito não raciocina nem descreve, o que ele tenta fazer é
convencer através da repetição as derivações possíveis.
Um exemplo de mito predominantemente presente na cultura atual do
ocidente sãos os mitos cristãos, sendo perceptível sua hereditariedade tal
como sua presença predominante em escolas, universidades, adornos, entre
outros locais de convívio social comum além de, claro, as igrejas. Em todos
esses locais nota-se a presença se símbolos do cristianismo: a cruz, a figura de
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Segundo Eliade (1955) o mito sempre conta como algo passou a existir,
qual foi o princípio de sua criação ou explica como um padrão se iniciou, sendo
assim, ao conhecer o mito conhece-se a origem das coisas e
consequentemente estabelece-se domínio sobre elas. O mito também pode ser
vivido no sentido de que se é impregnado pela reatualização dos valores
sagrados, sendo o mito um ingrediente vital da civilização humana podendo ser
descrito como uma realidade viva, isto é, diante do imaginário do homem
sagrado, Deus não está morto como diz Freud em uma de suas mais famosas
frases. No caso do mito cristão, nutre-se a curiosidade humana de saciar-se de
respostas como: de onde viemos, quem somos e para onde vamos.
Para Durkheim (1989), é possível definir que a religião é algo
predominantemente social manifestado através de representações coletivas de
grupos dirigidos com finalidade de confortar alguns dos estados mentais dos
indivíduos inseridos neles.
Uma vez que o encontra no cristianismo uma solidificação e um conforto
para suas dúvidas, os símbolos presentes em sua religião passam a ser
sagrados e, via de regra, essa sacralidade passa a fazer parte do seu cotidiano
e daqueles que estão ao seu redor, considerando que o mito cristão transmite
ao homem sagrado o desejo ou a obrigação de pregar a palavra daquele que o
criou, lhe deu vida, entendimento, sabedoria e vida eterna.
Parte-se da premissa de que, quando o homem e sua estrutura familiar e
social nutrem-se do sagrado forma-se um fator de facilitação para a formação
de símbolos uma vez que, segundo Durand (1994) a formação de todo o
símbolo precisa da estrutura dominante do comportamento cognitivo, estando
relacionados a isso os níveis de educação que se sobrepõem na formação do
imaginário, argumentando que em primeiro lugar encontra-se o ambiente
geográfico mas desse já regulamentado pelos símbolos parentais na educação
ou o nível lúdico das aprendizagens.
É também possível observar no cristianismo a dualidade entre imagens
do bem e do mal, Deus e o Diabo como detentores específicos dos respectivos
conceitos de certo e errado. Durand (1994) relata sobre a dualidade onde cada
termo precisa do outro para existir, sendo que em qualquer projeção imaginária
precisa haver uma conivência mutua para que ambos existam. Durand
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bases já que existe uma estrutura dinâmica do mito que se desenvolve num
cenário.
Um adendo importante a ser feito, principalmente quando se trata do
estudo do imaginário voltado a comunicação social e a indústria do
entretenimento, é o de segundo Durand (1998), a sociedade vive em uma
esfera repleta de imagens onde existe constantemente bombardeados destas.
Quando o indivíduo se vê sufocado pelo excesso de informação, procura cada
vez mais estabelecer filtros para captar aquilo que melhor interessa para a sua
atenção, sendo assim o valor dado a emissão da imagem tal como a atenção
destinada a ela está diretamente ligada ao receptor e como ele lida com o
filtrando imagens.
Guardando em mente o conceito de inflação e deflação do mito citado
anteriormente, observa-se que, dentro de um padrão geral, quando existe em
determinado grupo social uma força impositiva e de certa forma autoritária,
existe também o surgimento de manifestações artísticas que rebelam-se contra
a imposição através da música, da pintura, do teatro ou de outra expressão
artística que esteja ao seu alcance. Pode-se tomar como exemplo disso a
reação no Brasil durante e posteriormente ao golpe militar de 1964, de onde
surgiram manifestações artísticas que ainda hoje são aclamadas pelo público.
O fenômeno anteriormente citado encontra base no mito, uma vez que o
imaginário de um indivíduo é, por exemplo, inseparável dos grandes símbolos e
mitos políticos presentes na esfera em que ele vive.
Para Leão (1987) o que caracteriza o Heavy Metal, muito além das
roupas ou dos instrumentos é sua essência primitiva, para ele uma das
características que influenciou a aceitação do gênero musical foi seu apelo
rebelde diante do cenário conservador dos Estados Unidos que apontou o
Heavy Metal como ritmo do diabo. Aí observa-se mais uma vez uma tendência
social de, através do mito cristão, classificar um movimento de oposição ao
padrão da época fazendo uso da imagem do Diabo, isto é, o mal e
contrapartida do bom, um cenário polarizado onde precisa existir o mal para
que o bem estabeleça-se com imagens que representa aquilo que é
supostamente correto diante de uma ideologia.
Sobre as forças antagônicas de bem e mal, forças essas que podem ter
sua existência evidenciadas pelo comportamento social em classificar o Heavy
Metal como o gênero do Diabo, sobre tais Durand (1998) exemplifica que nas
culturas tradicionais como no pensamento grego o mito vem através do
princípio de forças divergentes e opostas, o bem e o mal e está interligado com
aquilo que é designado como princípio de prazer e princípio de realidade e a
guerra de Deuses se traduz em termos de nostalgia, queda, pecado, rebelião,
exílio mas igualmente em redenção e salvação considerando a existência da
economia da salvação.
Segundo Eliade (1965) o sagrado e o profano constituem duas
modalidades de ser único, que coexistem, mas que são dispares. A
manifestação de ser profano nunca vai ser estrito no sentido da palavra porque
dentro do espaço e do tempo dos homens profanos, por mais profanos que
sejam há momentos sagrados, como o nascimento de um filho ou o primeiro
beijo.
Segundo Eliade (1965), as ameaças exteriores da profanidade estão
ligadas à figura maligna de demônios que a ameaçam causar caos ao Cosmos.
De acordo com o autor, aparecem sempre como dois conceitos paralelos e
opostos, onde o profano ameaça ao sagrado uma vez que o cosmos é uma
formação de obra divina, a ameaça que vem contra ele é vista como algo que
pode vir a ser causado pelos demônios que se rebelam o divino para promover
o caos e a destruição.
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3.7 OS ESQUEMAS
A banda Ghost, chamada nos Estados Unidos de Ghost B.C, uma vez
que no país existe uma com este mesmo nome, é uma banda dos gêneros
Metal e Rock criada no ano de 2008 na cidade de Linköping e que ganhou
destaque no cenário pop no ano de 2010 com o lançamento de album Opus
Eponymous, posterior a gravação do CD Demo com três músicas (Death Knell,
Prime Mover e Elizabeth), o que rendeu ao grupo o contrato com a gravadora
Rise Above Records. Apesar de sua criação como banda no ano de 2008, a
banda Ghost só começou a se apresentar no ano de 2010 no Festival Live Evil,
em Londres e no Festival Hammer Of Doom, em Wurtzburgo.
Mesmo com o importante salto dado pela banda em sua carreira no ano
de 2010, o apelo da proposta do grupo para muitos ainda deixava a desejar, e
para vários dos que hoje são fãs da banda isso só foi possível com o
lançamento de Infestissumam, o segundo álbum da banda publicado no ano de
2013. É o que conta a engenheira de som Laura Hörlle 2, 29 anos, que
conheceu a banda no ano de 2012 na Noruega, país em que a banda já se
tornava muito popular. Laura conta que de início não gostava muito da Ghost
pois via nela a mera proposta de um apelo oportunista utilizando-se de
elementos puramente estéticos e de música vazia e repetitiva para chamar
atenção, mas com o surgimento de Infestissumam a engenheira de som mudou
sua visão ao notar que a banda Ghost se colocava em um caminho onde não
se tratava apenas de apelo visual. Foi aí que Laura, hoje fã do grupo, começou
a criar carinho e admiração pela banda.
No Brasil um dos grandes responsáveis pela popularização da banda foi
o festival Rock In Rio do ano de 2013. Entretanto, se apresentando no mesmo
2
Entrevistada diretamente pelo autor via telefone. Questionada sobre aspectos da estrutura da banda e de
sua opinião enquanto profissional da área e fã.
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dia que bandas como o Metállica, o sexteto sueco não teve boa aceitação do
público brasileiro que estava presente no festival de forma que era perceptível
o desprezo da plateia pela presença da banda, onde em tons de deboche
durante as canções de músicas que tinham uma pegada um pouco direcionado
para o pop a plateia chegou a chamar pela cantora Anitta. Já na imprensa,
ainda que a apresentação do grupo não mostrasse nada além do que é sua
proposta desde o ano de 2008, veículos conhecidos por adotar uma postura
mais conservadora em seu conteúdo, noticiaram a apresentação da banda
Ghost como um deboche à igreja:
Fonte: Veja.com
4.2.1 O anonimato
seu irmão que havia falecido no dia em que a banda divulgou seu primeiro
trabalho na plataforma My Space.
A entrevista concedida pelo vocalista para a rádio a rádio sueca Sommar
i P1, em agosto de 2017, foi um dos principais marcos na carreira do músico
que se obrigava a partir dali a abandonar a proposta de anonimato que vinha
seguindo severamente durante anos. Em estado raro de demonstração de
emoção em entrevistas Tobias explica que uma banda que toca músicas como
Prime Mover não poderia subir ao palco usando camiseta e calça jeans,
precisa ser algo grandioso, anônimo e teatral.
Além disso, durante a entrevista, antes da confirmar pela primeira vez
sua identidade, Tobias direcionou uma fala para seu falecido irmão
enaltecendo tudo o que o Ghost havia conquistado até o momento, citando o
fato de estarem tocando em grandes arenas, terem ficado amigos dos
integrantes do Metálica, relatou que sua mãe estava orgulhosa por tudo aquilo
e ela mesmo fazia questão de dizer a todos quem ele era, mesmo que isso
fosse para ser anônimo, mas que isso não tinha mais nenhuma importância.
Após o desabafo, Tobias profere a frase que passou a ser histórica para o
Ghost, marcando por fim a quebra do anonimato de seu idealizador: “Eu sou
Tobias Forge. Eu sou o homem por trás da máscara do Ghost.”
pelas mulheres e junto delas faz uma ceia. Assim que o homem se retira do
ambiente todas tiram suas blusas e vestem a roupa dos Nameless Ghoul.
B) He Is (Meliora – 2015)
6. MITOCRÍTICA
7. ANÁLISE
A câmera então foca em Papa Emeritus em plano médio onde com olhos
arregalados ele tira a rosa branca da frente de seu rosto e começa a cantar. É
possível ver uma sobreposição de baixa opacidade com Emeritus mudando a
postura de seu corpo. Vê-se posteriormente a isso o Papa Emeritus de braços
abertos recebendo o abraço de crianças que, assim como ele, vestem trajes
integralmente brancos. Ao fundo negro é possível ver estrelas.
Vê-se as mãos de Emeritus, utilizando luvas brancas, de onde surgem
seis esferas luminosas que são oferecidas a uma das crianças.
Durante a passagem de cenas vem o canto em que a letra diz:
Ele é
Ele é o brilho e a luz sem os quais eu não posso ver
E ele é
Insurreição, ele é rancor
Ele é a força que me fez ser
Ele é
Nosso soberano pai
Nossa amável mãe
Ele é
(GHOST, 2015, tradução nossa)
Figura 8 – Exorcismos
Ele é
Ele é o brilho e a luz sem os quais eu não posso ver
E ele é
Insurreição, ele é rancor
Ele é a força que me fez ser
Ele é
Figura 9 - Batismo
Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo
Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos sepultados
com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como
Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também
nós vivamos uma vida nova. (ROMANOS 6:3-4)
audiovisuais, como a dança, não existem como não conter erotismo uma vez
que, no caso da dança, é por si só um rito de fecundidade, porém a cena o
contexto do videoclipe não se trata disso.
Com base nessa análise da erotização, pode-se analisar que o batismo
dentro da perspectiva do videoclipe da banda Ghost tem a representação de
um papel diferente ao do batismo tradicional, onde ao invés da purificação dos
pecados rumo a uma vida de retidão moral nos valores religiosos cristão existe
o inverso disso, onde é representado a saída da pureza para a impureza e o
pecado, o que ressalta nessas cenas o papel noturno do videoclipe na
perspectiva de visão do homem sagrado.
Figura 10 - Palco
Diferente de He Is, a música Year Zero deixa claro o sujeito pela qual ela
se refere em seus versos, de toda a discografia da banda Ghost não existe
qualquer outra música que cite tantas vezes demônios como cita direta e
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claramente a letra de Year Zero. Antes de tratar dos símbolos e dos sujeitos da
canção será feita sua decupagem afim de mostrar com clareza os símbolos
presentes no videoclipe.
Vê-se entre as cenas uma mulher jovem, de bela aparência perante aos
padrões estéticos, vestindo saia, de cabelos soltos, pernas cruzadas e
mordendo lentamente uma maçã. Além disso, o símbolo do espelho também se
faz bastante presente em várias cenas.
Destaca-se até esta parte do videoclipe olhares de indiferença, estes
olhares estampam o rosto de todas elas, jovens e velhas, que se encontram
todas em uma situação de convívio aparentemente cotidiano.
62
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
mesmo rito passa a ter outro significado, o significado de que o batismo nada
purifica.
Fica claro que o Ghost tem um intuito paródico que transforma ritos e
símbolos tradicionais cristão em uma ressignificação que faz crítica a postura
hipócrita da igreja supostamente salvadora, o patriarcado, a submissão e a
objetificação erótica da mulher, a ideia de que um ser superior olha por nós e é
capaz de conduzir o homem a vida eterna e a castidade. É isso que se pode
ver ressignificado quando a banda usa sua teatralidade como ferramenta crítica
a tais mitos.
Se muitos ouvintes de Heavy Metal criticam o grupo pela sua pegada
mais melódica e suave, o mesmo não pode ser dito da mensagem passada
pela banda. Esta, quando bem absorvida e interpretada, é pesada, é rebelde,
afronta valores e levanta crítica, papel esse que artistas no cenário do Rock e
do Heavy Metal são constantemente cobrados a desempenhas, o que é
justificável pois, como vimos, o Rock nasce como uma ferramenta de
expressão de rebeldia.
Percebe-se que o Ghost faz é o uso de elementos tradicionais do mito
cristão para criticar a religião, seus valores patriarcais, sua hipocrisia e a
atitude de muitos que a seguem. Caso fosse neste trabalho necessário atribuir
um rótulo para o presente objeto de estudo, o que não é a pretensão, nota-se
que na verdade o enredo e a produção de sentido passados através do
contexto geral dos videoclipes é muito mais parecido com a crítica feita pelo
ateísmo do que com a premissa de seitas satânicas, que visam adorar a algum
demônio.
O presente estudo demonstra a importância da análise dos fenômenos
do imaginário trazidos por Durand e demais pesquisadores, filósofos e
pensadores, o quanto os símbolos, arquétipos e mitos podem ser
fundamentais, para estudar a relação entre comunicação social e o
entretenimento.
Nota-se também no objeto de estudo um forte exemplo da importância
da análise dos símbolos para a interpretação de um conteúdo audiovisual.
Percebe-se o quanto é importante estar atento ao mito que se faz presente
nesse tipo de conteúdo afim de entender se julgamentos e preconceitos as
ideias dos mais diferentes tipos de arte e como o seu sentido é produzido.
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REFERÊNCIAS
CHRISTE, Ian. Heavy Metal a História Compelta, Editora Arx, Rio de Janeiro,
2010
LEÃO, Tom. Heavy Metal: Guitarras em Fúria, Editora 34, São Paulo, 1997