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GOIÂNIA
2017
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SUMÁRIO
1 PRELIMINARES................................................................................................................ 3
1.1 Instrução da Demanda ............................................................................................ 3
1.2 Objetivos .............................................................................................................. 11
1.3 Análise econômica da indústria frigorífica ............................................................. 11
1.4 Metodologia da pesquisa ..................................................................................... 13
1.5 Escopo das atividades ........................................................................................... 14
2 RESULTADOS ........................................................................................................ 16
2.1 Bom senso e senso comum .................................................................................. 16
2.2 Conceitos pertinentes ........................................................................................... 18
2.2.1 Temperatura ........................................................................................................... 19
2.2.2 Sistema imune ........................................................................................................ 19
2.2.3 Temperatura corporal ............................................................................................. 20
2.3 Biofísica das trocas de calor corporal ........................................................................ 23
2.4 Mecanismos de defesa das vias aéreas e parênquima pulmonar ............................ 27
2.5.1 Temperatura corporal ........................................................................................... 28
2.6 Função cardiopulmonar em ambiente frio ............................................................ 33
2.8 Condicionamento do ar inspirado.......................................................................... 37
2.9 Ergonomia – frio e conforto térmico ..................................................................... 39
2.10 Higiene Ocupacional - frio e conforto térmico ....................................................... 41
2.10.1 A termogênese e o metabolismo corporal.............................................................. 55
2.11 Doenças relacionadas ao frio................................................................................. 58
2.12 Doenças pulmonares CID “J” em frigoríficos estudados ......................................... 72
2.13 Buscas de evidências científicas ............................................................................ 73
3.1 Primeira Discussão (Artigo 253 da CLT/Súmula 438 do TST) ................................... 74
3.2 Segunda Discussão (Súmula 29 do TRT GO) ........................................................... 74
3.3 Terceira Discussão - (Insalubridade com uso de vestimentas adequadas) ............... 76
3.4 Quarta Discussão – (Doenças Pulmonares relacionadas ao frio e o NTEP) .............. 78
3.5 Quinta Discussão – (Estudo preliminar do perfil de morbidade em unidades
frigoríficas associadas à ABIEC).............................................................................. 78
4 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 80
5 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 87
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1 PRELIMINARES
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Interessante relatar que tal decisão do TRT 18.ª Região, suscitou interpretações que
ainda que reduzisse a consequência maléfica do frio sobre a pele do trabalhador, o uso de
EPI não impediria, por si só, a inalação do ar ambiente ao longo da jornada de trabalho, que
se deslocaria para os pulmões e provocaria o resfriamento interno do corpo, ficando as vias
respiratórias expostas e sujeitas à agressão do referido agente nocivo, perdurando até o
momento atual.
Neste momento, fazem alusão ao questionamento do setor produtivo industrial
brasileiro, por meio da publicação de estudo da Confederação Nacional da Indústria – CNI –-
Insalubridade e periculosidade no Brasil: a monetização do risco do trabalho em sentido
oposto à tendência internacional - sobre a qual a razão de ser dos adicionais (citando a
insalubridade e a periculosidade, inclusive de sua cumulatividade) no contexto do
ordenamento jurídico, para que se compreenda ainda melhor a inadequação da sua
cumulatividade diante dos parâmetros atuais em segurança e saúde no trabalho.
Aduziu-se à contextualização histórica das fases da evolução da matéria, feita
inicialmente, por meio da qual foi possível perceber que o Brasil não ultrapassou a terceira
fase, qual seja: aquela em que surgiu a preocupação em relação aos malefícios com a
monetização dos riscos do trabalho e em que o exame dos riscos passou a ser feito a partir
de uma perspectiva global do ambiente de trabalho. Isso porque, embora tenha buscado
ampliar a ideia da preocupação com o meio ambiente do trabalho como um todo, deixou-se
de lado a muito relevante tarefa de desconstruir o conceito da monetização dos riscos.
Continuam, os representantes das empresas associadas, citando a publicação feita
pela CNI, antes mesmo da publicação da NR – 36, para afirmar que alguns magistrados
reconhecem a condição de monetização de riscos a que se prendem os adicionais, a exemplo
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estado democrático de direito e suas instituições. Enfatiza que a primeira grande questão é
que o foco são os frigoríficos legais e com registro no SIF. Há um notório desprezo aos abates
clandestinos e demais estabelecimentos que funcionam à margem da lei e com
trabalhadores, estes sim, à míngua da sorte e da proteção do Estado. Chama a atenção o
fato de que essas empresas atuam no mesmo mercado que as empresas legais, com custos
infinitamente inferiores e colocando em risco a população em razão da falta de controle
sanitário, comprometendo a imagem dos produtos nos mercados importadores pelo mundo.
Os frigoríficos ditos legais se esforçam pelo ajuste fino necessário sobre todas as
demandas originadas do Estado em relação à proteção e à promoção da saúde e da
segurança no trabalho de seus segmentos. Por exemplo, a NR36 promoveu um caminho
mais claro aos profissionais de gestão em SST, após longo tempo discutindo sob o instituto
do tripartismo, eliminando ao máximo a subjetividade de entendimentos, principalmente na
fiscalização, como melhorias proativas que vem sendo observadas e cumpridas pela imensa
maioria das empresas frigoríficas em todo o Brasil.
Entretanto, para a entidade, o frio também é um motivo de discórdia, pois se faz um
pré-julgamento da condição de local insalubre ao se adotar critérios específicos para a
regulação da jornada. Nesse sentido, cita-se a zona climática do IBGE, contida no artigo 253
da CLT, apesar de que a Consolidação das Leis do Trabalho possui capítulo próprio para
tratar da insalubridade, além da NR 15. Entendem que, o que se constata, na prática, além
do abuso, é um desprezo aos equipamentos de proteção individual que seriam suficientes
para neutralizar o agente causador, no caso o frio. Todos possuem certificado de aprovação
pelo próprio MTE.
O que se questionou, durante a instrução desta demanda de trabalho, entre vários
outros aspectos, foi por que um ambiente artificialmente frio, por exemplo, em um setor de
desossa de um frigorífico ou outros setores com temperatura acima de 4˚C, é considerado
como um ambiente insalubre, mesmo sendo disponibilizado, utilizado e monitorado o uso
de EPI’s, roupas protetoras e específicas para tal condição ambiental. Por que a insistência
em inferir que a falta do uso da máscara, neste tipo de ambiente de trabalho, pode
prejudicar a saúde dos trabalhadores, diminuindo a temperatura corporal, provocando
resfriados, gripes e outras doenças pulmonares. Além disso, questionou-se em relação à
Norma Regulamentador, em seu Anexo 9, que trata da insalubridade devido ao trabalho
exposto ao agente frio por não apresentar limites quantitativos para temperaturas
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consideradas frias, o fato de que existe, em nosso país, por parte de alguns peritos dos
Tribunais Regionais do Trabalho, a utilização dos valores previstos e contidos na Tabela 1 da
Norma Regulamentadora 29, em seu item 29.3.15.2, para a caracterização de insalubridade
por exposição ao frio nos ambientes da indústria frigorífica.
Enfatizou-se, também, que a utilização do Art. 253, de forma interpretativamente
errônea, de acordo com pareceres jurídicos de profissionais renomados, redundou em
conclusões, também errôneas, sobre a necessidade de pausas térmicas, em recente
publicação da Norma Regulamentadora 36, em seu item específico 36.13.1 – “Para os
trabalhadores que exercem suas atividades em ambientes artificialmente frios e para os que
movimentam mercadorias do ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa, depois de
uma hora e quarenta minutos de trabalho contínuo, será assegurado um período mínimo de
vinte minutos de repouso, nos termos do Art. 253 da CLT”. Em seu item 36.13.1.1 –
“Considera-se artificialmente frio, o que for inferior, na primeira, segunda e terceira zonas
climáticas a 15˚C , na quarta zona a 12˚C, e nas zonas quinta, sexta e sétima, a 10˚C,
conforme mapa oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE”.
O que se questionou foi por que há esta correlação entre as zonas climáticas e um
ambiente de trabalho, interno, fechado, mesmo artificialmente frio, mas que o trabalhador
de onde quer que venha pode, com certeza, aclimatizar-se em pouco tempo com o
ambiente, mas, mesmo assim, alguns peritos insistem em enquadrar o trabalho em
ambientes artificialmente frios acima de 4˚C, como sendo insalubres.
Ainda durante a instrução da demanda, em referência aos questionamentos feitos
pelos associados da ABIEC, em relação às demandas trabalhistas sobre a insalubridade por
exposição a ambientes artificialmente frios, com obrigatoriedade de intervalo/repouso
térmico, no caso específico desta demanda, com temperaturas acima de 4˚C, apontaram-se
as jurisprudências confirmadas pelos Tribunais Regionais do Trabalho, utilizadas em
Processos Trabalhistas, onde o perito se baseia para a sua conclusão pericial, ou seja,
caracterizando como insalubre o trabalho realizado no setor de desossa de um frigorífico
bovino, culminando no entendimento do Tribunal Superior do Trabalho ao consolidar a
Súmula 438.
Visando a preservar a saúde do trabalhador, o direito brasileiro assegura aos
empregados intervalos específicos para a recuperação térmica quando o trabalho
se dá em ambiente artificialmente frio. Assim, aqueles que trabalham no interior
das câmaras frigoríficas e os que movimentam mercadorias do ambiente quente
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1.2 Objetivos
Com este trabalho, a ABIEC vê a possibilidade de subsidiar respostas às suas
associadas, cientificamente e dentro do conhecimento médico, ergonômico e da higiene
ocupacional, entre outros saberes:
i) se a exposição dos trabalhadores a ambientes artificialmente frios,
acima de 4 ˚C , na indústria frigorífica, pode ser considerada como insalubre para
o aparelho respiratório e como fator de desconforto térmico;
ii) qual é o perfil de morbidade no setor, principalmente com as questões
relacionadas a doenças do aparelho respiratório e,
iii) qual a relevância ou não do uso de máscaras faciais pelos
trabalhadores em ambientes artificialmente frios, acima de 4 ˚C, para evitar
agressões aos pulmões e a diminuição da temperatura corporal a níveis
inapropriados.
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continua liderando o ranking no abate de bovinos, seguido de perto pelo Mato Grosso do
Sul, Pará, São Paulo e Goiás.
O grande crescimento do setor frigorífico, ao longo dos anos, e seu importante papel
na economia do país impulsionou sua modernização no que se refere à tecnologia e à
automação, mas a realidade é que a maior parte dos processos que leva a proteína animal à
mesa dos consumidores ainda conta com a mão de obra do trabalhador. Até o último
levantamento da RAIS para o ano de 2015, essa demanda era realizada por 463.205
colaboradores, espalhados pelos 4.303 estabelecimentos ativos dentro do território
nacional. As atividades desenvolvidas por esses trabalhadores durante o abate e o
processamento de carnes que, em sua maioria, acontecem no mesmo local, vão desde o
sacrífico do animal, a sangria, a escaldagem e depenagem (no caso das aves), evisceração,
cortes, desossa até a embalagem e expedição do produto final.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (entidade que nasceu da junção da União
Brasileira de Avicultura e da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de
Carne Suína), em parceria com a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de
Carnes) e outras entidades, tem desenvolvido diversos seminários e workshops para seus
associados, fomentando a conscientização das empresas e a implantação de novas soluções
em prol das melhorias dos ambientes laborais nos frigoríficos.
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2 RESULTADOS
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Lalonde (1974), Ministro da Saúde do Canadá à época, afirmava que, até aquele
momento, a maioria dos esforços da sociedade para melhorar a saúde, e a maior parte dos
gastos em saúde de seu país, se concentrou na organização do cuidado médico. Apesar
disso, quando se identificavam as causas principais de adoecimento e morte no Canadá,
verificava-se que a sua origem estava nos três outros componentes do conceito de campo: a
biologia humana, o meio ambiente (nele incluído o do trabalho, é claro) e o estilo de vida.
Essa conclusão foi imediatamente aceita pela comunidade científica em todo o mundo e
persiste até hoje, tanto para o diagnóstico de situações de morbimortalidade de uma
população, como também para a tomada de decisões de vigilância à saúde, seja ela
trabalhadora ou não.
A partir destas premissas verdadeiras, a comunidade científica e, principalmente,
aquela ligada à saúde do trabalhador chegam à conclusão de que as alterações
musculoesqueléticas dos trabalhadores é um fenômeno epidêmico, fato que não temos
dúvidas sobre a sua verdade e que, em função de ser um agravo à saúde de tamanha
magnitude, temos a necessidade em conhecer e compreender a fisiopatologia das doenças
integrantes deste fenômeno e a influência do complexo contexto sociocultural que possa ser
fator determinante para o adoecimento daquelas pessoas pertencentes a comunidades
específicas. Essa necessidade de estudo desse campo é importante, inclusive, para que
sejam tomadas atitudes em vigilância à saúde das pessoas que são trabalhadores ou não.
Ao discutir conhecimento científico, motivo do presente trabalho, é importante
ressaltar que a pesquisa científica tem início no conhecimento vulgar, porém dele se
diferencia por meio de metodologias e princípios que visam legitimá-la enquanto
conhecimento científico. Do senso comum ao conhecimento científico há uma distância
considerável, apesar de que, ao longo dos tempos se verifique uma aproximação. O primeiro
baseia-se nos sentidos, crenças, tradições, acredita no que vê ou sente, é fruto das
experiências do quotidiano, ou naquilo que se tornou evidente através da evolução da
ciência. Esta, por sua vez, procura por meio do raciocínio objetivo, assente na faculdade
racional do ser humano e em métodos experimentais, a comprovação daquilo que os
sentidos nos mostram.
Por senso comum entendemos a opinião pública baseada na força de crenças e usos
sociais. Como exemplos de senso comum, podem ser citados: comer manga com leite
provoca “congestão”, a parturiente não deve lavar os cabelos por quarenta dias após o
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parto, pois o “sangue sobe para a cabeça”, vento nas costas provoca “doenças do pulmão”;
tomar frio ou ficar exposto ao frio, provoca resfriado – esta é uma ideia antiga e impossível
de ser erradicada. Em muitas línguas, a palavra que indica a doença faz referência a baixas
temperaturas: além do português e do espanhol “resfriado”, há o italiano “raffredore” e o
inglês “cold” (frio). A ciência, no entanto, ainda não encontrou provas definitivas que
sustentem essa convicção.
Já o bom senso é o resultado de estudos na área da ciência, sendo uma cadeia de
interpretação e lógica científica, resultando na produção de conhecimento científico. No
exercício da prática médica, deve-se evitar a contaminação do bom senso pelo senso
comum, fato que pode simplificar de modo impróprio fenômenos ou cadeias de causalidade
complexas, como também levar a conclusões incorretas. Assim, a prática médica exige bom
senso (conhecimento científico), circunstâncias apropriadas (ou seja, locais de trabalho
adequados), competências (capacidade de procurar conceitos médicos corretos) e
evidências (demonstração da fonte de pesquisa onde foi retirada a afirmação) para que, com
o maior respeito à autoridade judicial, não se possa chegar à conclusão que, diga-se de
passagem, foi baseada em uma série de conclusões periciais realizadas por alguns peritos do
Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 18.ª Região, conforme se lê a seguir*, totalmente
desprovidas do conhecimento científico.
*. . . Ainda que reduzisse a consequência maléfica do frio sobre a pele do
trabalhador, o uso de EPI não impediria, por si só, a inalação do ar ambiente
ao longo da jornada de trabalho, que se deslocaria para os pulmões e
provocaria o resfriamento interno do corpo, ficando as vias respiratórias
expostas e sujeitas à agressão do referido agente nocivo.
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2.2.1 Temperatura
Sabe-se que a temperatura é uma grandeza física que está relacionada com a energia
cinética média das moléculas do corpo, enquanto o calor é uma forma de energia em
trânsito (movimento). Portanto, não tem sentido falar em calor de um corpo. No dia a dia,
quando alguém diz que está com calor, na verdade ele se refere à sensação térmica.
Nosso organismo, em um ambiente à temperatura menor que 36ºC, está liberando
continuamente energia na forma de calor. Se as condições atmosféricas do ambiente
(umidade relativa do ar, temperatura, etc.) não favorecerem ao organismo ceder o excesso
de energia para o ambiente, dizemos que estamos com calor. Assim sendo, a temperatura é
a medida da energia cinética média de translação dos átomos e moléculas. Quando aumenta
essa energia cinética média, aumenta a temperatura. Dois corpos a temperaturas diferentes,
quando são colocados em contato, iniciam um processo de transferência de energia do
corpo mais quente para o corpo mais frio (MARQUES, 2009).
Termodinamicamente, o corpo humano apresenta uma série de conversões de
energia. Nesse processo, se destaca a conversão de energia química de um combustível em
energia interna, sendo este combustível os alimentos ingeridos que, após metabolização,
fornecem energia para as funções vitais do organismo (HENRIQUES, 2013).
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1.
São cavidades localizadas dentro dos
ossos frontal, maxilar, etmoide,
esfenoide e maxilar, tendo inúmeras
células mucinosas que produzem
muco protetor, sendo também
revestidas de cílios. São localizações
das doenças conhecidas como
sinusites.
Fonte: https://www.google.com.br/url
Figura 4 – Faringe
Fonte: www.mdsaude.com
Ao contrário do que nos diz o senso comum, o processo de deglutição é muito mais
complexo do que uma simples ação da gravidade, que permite a descida do bolo alimentar
por um tubo que liga a boca ao estômago. Na verdade, você pode até estar de cabeça para
baixo, que, ainda assim, qualquer coisa que você engula será transportada por meio do
esôfago até o estômago.
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Figura 5 – Laringe
Fonte: www.anatomiaonline.com
PARÊNQUIMA PULMONAR
Figura 7 – Hematose
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O sistema respiratório pode ser dividido ainda em três regiões para fins de
entendimento funcional. Assim, tem-se a região da cabeça (ou nasofaringe), onde se
encontram o nariz, a boca, a faringe e a laringe. Esta região tem a função de condicionar o ar
respirado, aquecendo-o, umidificando e filtrando partículas. Nesta função é importante a
participação do muco tanto na umidificação, aquecimento como na retenção de partículas
que não foram capturadas nos pelos nasais.
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Fonte: https://images.google.com.br/imghp?gws_rd=ss
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que mantém a temperatura estável, reagindo aos estímulos dos receptores nervosos
localizados principalmente na pele e em outras partes do organismo, inclusive vias aéreas
superiores.
Figura 9 – Controle da temperatura do corpo
Fonte: https://www.google.com.br/imgres?neuropediatria.org
O sistema de controle da temperatura corporal é realizado através do sistema
nervoso central. Assim, as sensações de temperatura, dor, lesões, postura e outras são
percebidas pelo sistema nervoso central por meio de receptores nervosos localizados em
todo nosso corpo, sendo encaminhados pelos feixes nervosos para a decodificação no
cérebro. No caso específico da sensação de temperatura, estes receptores são denominados
de termoreceptores, estando localizados na pele e vísceras.
Quando estimulados, estes receptores respondem no intuito de preservar a
segurança da pessoa no meio em que está. Este sistema de regulação do tato, dor,
temperatura e propriocepção (propriedade de distinguir a localização e posição das partes
do corpo pelo cérebro) é denominado sistema somestésico que consiste de terminações
nervosas na pele, vísceras, músculos e tendões que enviam informações ao cérebro
(RADANOVIC; KATO-NARITA, 2016).
Figura 10 – Sistema somestésico
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referiam ser a resposta à perda de água do trato respiratório, mas isso está sendo
contestado pelos estudos mais recentes (CONSEJO INTERAMERICANO DE SEGURIDAD, 1981).
Uma pessoa saudável com vestimentas adequadas e que esteja bem equipada, em
boa organização do trabalho, não se encontra em uma situação que coloca sua saúde em
risco, mesmo em frio extremo entre -17°C a 0°C de acordo com a norma ISO, Ergonomics of
the Thermal Environment: Medical Supervision of Individuals Exposed to Extreme Hot or Cold
Environments, 2001. A situação é bastante diferente no caso de pessoas com problemas
saúde, caso em que a exposição ao frio pode ser um problema (KUMAR; ABBAS; ASTER,
2013).
Segundo a OIT, as doenças infecciosas não são relacionadas ao frio. O resfriado
comum, sem febre ou sintomas gerais, faz que o trabalho em ambientes frios seja
prejudicial. Em pessoas com morbidades pré-existentes, tais como asma1, bronquite2 ou
problema cardiovascular, a situação é diferente e recomenda-se não trabalhar ao ar livre
durante a estação fria.
No caso da Asma e suas relações meteorotrópicas, o que se sabe é que há uma
grande correlação entre o rápido resfriamento e os ataques sintomáticas da doença, pois os
asmáticos têm o mecanismo termorregulador hipotalâmico funcionando deficientemente,
caso também de portadores de Bronquite, não conseguindo se "aquecer", ou seja, não
aumentam a temperatura corporal adequadamente. Isto explica sua deficiência em climas
frios e muito quentes e úmidos. O asmático tem um funcionamento ineficiente da glândula
adrenal. O hormônio 17-ceto-esteróide é encontrado na excreção cerca de 1/3 a 1/5 de uma
pessoa normal após a passagem de uma frente fria, como também o seu limiar de contração
dos brônquios após o resfriamento atmosférico é muito menor do que nos indivíduos
saudáveis.
1
Asma: é uma doença complexa. Há pelo menos 4 teorias para explicá-la: a) teoria infecciosa, b) teoria alérgica
(particularmente nos Estados Unidos), c) teoria endocrinológica e d) teoria psicossomática. Estudos
aprofundados mostraram que os fatores psíquicos não causam asma, mas uma vez, asmático, os fatores
psicológicos surgem devido aos contínuos problemas respiratórios. É internacionalmente aceita a divisão entre
asma bronquial (não infecciosa) e asma brônquica, resultante de uma forma negligenciada de bronquite.
2
Bronquite: é uma doença causada pela inflamação dos brônquios como resultante dos agentes infecciosos (
ex. vírus da influenza, pneumococci, etc.) ou a poluição do ar. É mais comum em homens do que mulheres e
parece existir mais em algumas famílias. As manifestações clínicas são grandemente devidas à obstrução
bronquial causada pelo catarro (sputum) que não pode ser suficientemente removido pelos cílios da traquéia.
A bronquite aguda pode ter febre, suores, tosse, dor sub-esternal, dipnéia, etc. Uma forma especial de
bronquite é a bronquite asmática. É devida ao acúmulo de catarro associado à inchação da mucosa, causando
séria dipnéia e peito ofegante.
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O ar, ao entrar pelas fossas nasais, passa pelas chamadas vias aéreas superiores
formadas pelo nariz e respectivas conchas nasais, faringe e laringe, encaminhando-se então
às vias aéreas inferiores formadas pela traquéia, brônquios, bronquíolos e alvéolos (IIDA,
2005). Essas estruturas possuem funções bem conhecidas e estruturadas, sendo descritas a
seguir.
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faz com que seja atingida 100% da umidade relativa do ar ao sair da via aérea superior indo
aos pulmões.
É importante lembrar que o ar, ao passar pelas vias aéreas, não tem uma trajetória
retilínea, ao contrário, sofre turbulência por meio das diferentes reentrâncias, fato que
contribui para as funções de aquecimento, filtração e umidificação, pois deixa o ar mais
tempo em contato com a parede da via aérea (GRANDJEAN, 1988).
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Título Autor Conteúdo
publicação Pág.
Sistema de Ferreira EF 2006 O condicionamento do ar inspirado (aquecimento,
aquecimento Dissertação de umidificação e filtração) ocorre no trato respiratório
e mestrado. superior. As vias aéreas superiores são responsáveis
umidificação UFPR pela liberação de gás aproximadamente 32°C e
de ar para umidade relativa de mais de 90% para o trato
ventilação respiratório inferior. O trato reparatório inferior eleva
mecânica de um pouco mais a temperatura do gás até a
pacientes de
Unidades de temperatura corporal e a umidade relativa a 100%.
terapia
intensiva
Modelo Bergonse Existem duas regiões maiores de condicionamento do
mecânico Neto, Nelson 2006 ar: as cavidades nasal e oral, que são a principal
para et al, 2007 . região, atingindo quase o máximo condicionamento, e
simulação do a árvore traqueobrônquica, com um papel secundário,
condicioname sendo que, em direção à periferia do pulmão, as
nto pulmonar trocas de calor e umidade se tornam menos eficientes
do ar Até os brônquios de 7ª ordem, a tarefa de
respirado condicionamento do ar já está completa, sendo que
este chega aos alvéolos em condições corporais
(16,21)
(temperatura de 37 ± 0,6 °C e UR de 100%).
O processo de umidificação do ar é tão eficiente que,
em pacientes intubados, o ar chega à traquéia com UR
(15,20)
de 51% e aos brônquios lobares com UR de 100%.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir da pesquisa realizada.
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Quando o valor desta equação é maior que zero, ajustes vasomotores são iniciados
para transportar o calor do interior do corpo para fora. Há um aumento da circulação do
sangue para a pele, a temperatura da pele aumenta e há aceleração dos mecanismos de
dissipação de calor. Se esta regulação vasomotora não for suficiente e o trabalho continuar
gerando superaquecimento, a perda de calor passa a ser coadjuvada pela produção de suor.
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sobre o corpo exposto, ábaco que expressa uma temperatura equivalente dependendo da
temperatura de bulbo seco, relacionada à velocidade do vento (ESTEVES, 2011). Este índice
é usado para determinar a possibilidade de lesão pela exposição ao ambiente frio e a
presença de vento, defendido pela ACGIH - AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL
INDUSTRIAL HYGIENISTS, que conclui pela não possibilidade de lesão em temperaturas
acima de 4°C conforme pode ser visto no Quadro 4.
Os limites de tolerância são valores que têm a saúde como base, sendo determinados
por comitês que analisam dados da literatura científica, principalmente relacionada a
disciplinas como epidemiologia, higiene ocupacional, toxicologia e medicina do trabalho.
Com essas informações, formula-se uma conclusão sobre o nível de exposição que um
trabalhador típico possa vivenciar sem ocorrência de efeitos adversos à saúde (AMERICAN
CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS, 2016).
Os limites de tolerância ao frio objetivam proteger o trabalhador de seus efeitos
congelantes e não congelantes, definindo condições nas quais os trabalhadores podem ser
expostos repetidamente sem efeitos adversos à saúde. A proteção ao corpo inteiro deve ser
fornecida de forma adequada aos trabalhadores que estiverem expostos a temperaturas
abaixo de 4°C. Pele desprotegida não pode ser permitida na temperatura equivalente abaixo
de 32°C (Índice de Resfriamento, de acordo com o Quadro 9) (STAVE; WALD, 2016).
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Para ASHRAE apud Lamberts et al (1997) o conforto térmico é definido como “um
estado de espírito que reflete satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa”.
Com isso, observa-se que a sensação de conforto tem caráter intrínseco e estritamente
pessoal, podendo apresentar resultados contrários em indivíduos diferentes, mesmo
mantendo-se constante as características térmicas do ambiente. De modo que, de acordo
com a norma ISO 7730/94, um espaço apresenta condições de conforto térmico apenas
quando não mais do que 10% dos seus ocupantes se sintam desconfortáveis.
O conforto térmico abrange uma vasta área de estudos, os quais visam analisar e
estabelecer as condições necessárias para a avaliação e a concepção de um ambiente
térmico apropriado às atividades e à ocupação humanas, bem como indicar métodos e
princípios para uma detalhada análise térmica de um ambiente.
A importância do estudo de conforto térmico está fundamentada principalmente em
três fatores, quais sejam: a) a satisfação do homem ou seu bem-estar em se sentir
termicamente confortável; b) a performance humana, embora os resultados de inúmeras
investigações não sejam conclusivas a esse respeito, os estudos demonstram uma tendência
de que o desconforto causado por calor ou frio, reduz a performance humana – assim, as
atividades intelectuais, manuais e perceptivas, em geral, apresentam um melhor rendimento
quando realizadas em conforto térmico; e c) a conservação de energia, pois, devido à
crescente mecanização e industrialização da sociedade, as pessoas passam grande parte do
tempo em ambientes com climas artificiais, ambientes condicionados e, por isso, uma vez
conhecendo-se as condições e os parâmetros relativos ao conforto térmico dos ocupantes
do ambiente, evitam-se desperdícios com calefação e refrigeração, que são, em grande
parte, desnecessários.
É viável ressaltar que, devido à variação biológica entre as pessoas, é impossível que
todos os ocupantes do ambiente se sintam confortáveis termicamente e, assim, busca-se
criar condições de conforto para o grupo. Ou seja, criam-se condições nas quais a maior
percentagem do grupo esteja em conforto térmico.
Para um melhor entendimento do conforto térmico, é necessário apresentar alguns
conceitos e definições a respeito de conforto e da neutralidade térmica:
Segundo a ASHRAE Standard 55-92, o conforto térmico é assim definido: “Conforto térmico
é a condição da mente que expressa satisfação com o ambiente térmico”.
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sobre todas as variáveis que influenciam no conforto térmico, quer sejam em ambientes
condicionados ou não. As principais normas e guias de referência aos estudos são citadas e
comentadas a seguir:
ISO 7730/94 - Ambientes térmicos moderados - Determinação dos índices PMV e PPD
e especificações das condições para conforto térmico.
Esta norma americana determina condições ambientais aceitáveis para a saúde das
pessoas sujeitas a pressões atmosféricas equivalentes a altitudes superiores a 3,00 m, em
ambientes internos projetados para ocupação humana por períodos não inferiores a 15
minutos.
ASHRAE Fundamentals Handbook - cap. 8 Thermal Comfort – 1997.
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Além disso, estudos empíricos desenvolvidos por Fanger mostram que a atividade
desempenhada pela pessoa regulará a temperatura de sua pele, bem como sua taxa de
secreção de suor. Isso equivale a dizer que se uma pessoa estiver desempenhando
determinada atividade, e estiver suando muito acima do que os estudos realizados
mostraram que deveria estar, ou a temperatura de sua pele estiver acima ou abaixo de
valores que esses mesmos estudos demonstraram, a pessoa não estará certamente em
conforto térmico, mesmo que ela esteja em neutralidade térmica e não esteja sujeita a
alguma conformidade de desconforto localizado.
O “stress” é uma expressão derivada da língua inglesa, que tem por definição: “Ação
inespecífica dos agentes e influências nocivas (frio ou calor excessivos, infecção, intoxicação,
emoções violentas, tais como inveja, ódio, medo etc.), que causam reações típicas do
organismo, tais como síndrome de alerta e síndrome de adaptação”. ‒ Dicionário Brasileiro
da Língua Portuguesa, Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1975.
O “stress” térmico pode ser denominado como um estado psicofisiológico em que
uma pessoa está submetida, quando exposta a situações ambientais extremas de frio ou
calor. O ser humano, ao desempenhar suas atividades, quando exposto a condições de
“stress” térmico, tem entre outros sintomas, a debilitação do estado geral de saúde,
alterações das reações psicosensoriais e a queda da capacidade de produção. Com isto, é
fundamental o conhecimento a respeito das condições ambientais que possam levar a esse
estado, bem como se observar o tipo de trabalho e o tempo de exposição do homem a tal
situação.
Estudos recentes sobre o “stress” térmico, tal como os mecanismos de sua
determinação e as ações preventivas e corretivas, encontram-se subdivididos em dois
grandes grupos, de acordo com o tipo de ambiente que está sendo analisando, quais sejam:
ambientes quentes, “stress” por calor, e ambientes frios, “stress” por frio.
Para ambientes quentes, tem-se uma caracterização por condições ambientais que
levem a ocorrência de “stress” por calor. Vários estudos e pesquisas têm sido realizados para
estudar essas condições, como, por exemplo, para fixar um índice aceitável que caracterize
esses ambientes de trabalho ou essas situações particulares. Os principais índices existentes
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para essa caracterização, conforme Szokolay e Auliciems (1997), são: relação de aceitação
térmica (TAR) - Plummer, 1945; taxa de suor estimada para 4 horas (P4SR) - McArdle, 1947;
índice de stress por calor (HSI) - Belding e Hatch, 1955; índice de bulbo úmido e temperatura
de globo (WBGT) - Yaglou e Minard, 1957; índice de tensão térmica (TSI) - Lee, 1958; índice
relativo de tensão (RSI) - Lee e Henschel, 1963; e índice de “stress” térmico ou taxa
requerida de suor (ITS) - Givoni, 1963.
Os ambientes frios, assim como visto anteriormente para o caso de ambientes
quentes, são aqueles caracterizados por condições ambientais que levem à condição de
“stress” por frio. Embora em número bem mais reduzido que no caso de ambientes quentes,
esses ambientes e seus efeitos sobre o homem também se encontram estudados, sendo que
o principal índice para determinar a situação de “stress” térmico por frio é conhecido por
“índice de isolamento requerido de vestimentas (IREQ)”, desenvolvido por Holmer em 1984.
Tanto os ambientes quentes como os frios, os quais causam danos à saúde do
trabalhador, foram objetos de estudos e pesquisas com o intuito de se padronizar a
obtenção dos índices de “stress” térmico, bem como os procedimentos necessários a se
adotar quando da verificação de tal situação. A normatização existente engloba ambos os
ambientes, sendo que as cinco normas mais conhecidas e utilizadas são as seguintes:
Fornece um método que pode ser facilmente utilizado em ambientes industriais, pois
o índice IBUTG permite um rápido diagnóstico. Ele se aplica para a avaliação do efeito médio
do calor sobre o homem durante um período representativo de sua atividade, mas não se
aplica para a avaliação do “stress” verificado durante períodos muito curtos, nem para a
avaliação de “stress” por calor próximo das zonas de conforto térmico.
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Este relatório técnico internacional (não é uma norma) propõe técnicas e estratégias
para se verificar o “stress” térmico, associado à permanência em ambientes frios, através da
utilização do índice IREQ. Os métodos aplicam-se a casos de exposição contínua,
intermitente ou ocasional em ambientes de trabalho tanto externos como internos. Sugere-
se avaliar o “stress” por frio, em termos de resfriamento geral do corpo e resfriamento local
de específicas partes do corpo, mãos e face, por exemplo.
Para o resfriamento geral do corpo, apresenta-se um método analítico de avaliação e
interpretação, baseado nas trocas de calor entre o corpo e o ambiente e o respectivo
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Para o IREQ como um índice de disfunção fisiológica, é sugerido que o índice seja
definido para dois níveis de disfunções fisiológicas:
IREQmínimo, no qual tem-se o mínimo isolamento térmico para manter o corpo em
equilíbrio, para um nível sub-normal de temperatura corporal. Ele representa o mais alto
resfriamento admissível para o corpo durante atividade ocupacional.
IREQneutro, que irá representar o isolamento térmico requerido para manter o corpo
em neutralidade térmica, isto é, o equilíbrio é mantido em condições normais de
temperatura corporal. Representa uma faixa admissível de resfriamento corporal.
Em relação ao IREQ e o isolamento de roupas existentes, por ser um índice de
isolamento de roupas requerido para enfrentar as situações reais existentes, ele serve como
um guia de escolha de roupas, por comparação com seus valores medidos de isolamento
térmico. O intervalo entre o IREQminímo e IREQneutro, corresponde a uma zona reguladora de
vestimentas, onde podem ser escolhidas as vestimentas. Roupas com isolamento inferiores
ao IREQmin, podem acarretar o risco de progressivo resfriamento do corpo, com hipotermia,
enquanto que as com valores maiores que o IREQneutro, poderão levar a um
superaquecimento.
Quando o isolamento das roupas utilizadas é inferior ao IREQ determinado, é
necessário se fixar o tempo máximo de exposição para prevenir um resfriamento
progressivo do corpo. Em caso de resfriamento local de alguma parte do corpo, com ênfase
às mãos, pés e cabeça, podem produzir desconforto, deterioração da performance manual e
física e necrose por frio. Em caso de resfriamento local de alguma parte do corpo exposto a
temperaturas muito baixas/extremas, com ênfase às mãos, pés e cabeça, podem produzir
desconforto, deterioração da performance manual e física e necrose por frio. Os efeitos
desse resfriamento devem ser analisados separadamente para ambientes internos e
externos.
A exposição à temperaturas muito baixas/extremas, entre -17°C a 0°C de acordo com
a norma ISO, Ergonomics of the Thermal Environment: Medical Supervision of Individuals
Exposed to Extreme Hot or Cold Environments, 2001, merecem, portanto cuidados e
proteções especiais para as mãos, pés, cabeça e para o trato respiratório.
As avaliações e atuações sobre o “stress” térmico local por frio em ambientes
internos devem ser realizadas utilizando-se os mesmos critérios que para ambientes
moderados, constantes na ISO 7730, sobre o desconforto localizado por correntes de ar.
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respectivamente. Para temperaturas inferiores a -40ºC, devem ser tomados cuidados com a
proteção dos olhos e do sistema respiratório, particularmente a altos níveis de atividade e
com ventos fortes.
Quando o valor resultante do isolamento das roupas disponível é inferior ao IREQ, o
corpo não pode manter o equilíbrio durante exposições prolongadas. O limite da duração da
exposição, DLE, isto é, o tempo para perder 40 W.h/m2.
Para a interpretação do IREQ, é sugerido que Icl básico, seja reduzido em 20% para a
maioria das atividades desenvolvidas em ambientes frios (M > 100 W/m2). Condiz, por
exemplo, que um valor de IREQ de 0,37 m2.ºC/W (2,4 clo), corresponde a um Icl de 0,47
m2.ºC/W (3,0 clo), ou seja, Icl = 1,25.IREQ.
Para atividades sedentárias, predominantemente com os braços (M < 100 W/m2) é
recomendado uma redução de 10%.
O conforto térmico e o “stress” térmico são duas definições interligadas, onde para
atingir o conforto térmico sem passar por um “stress” térmico, o individuo deve encontrar
em neutralidade térmica, a temperatura de sua pele e a sua taxa de secreção de suor devem
estar dentro de certos limites compatíveis com sua atividade, e a pessoa não pode estar
sujeita a desconforto localizado. Para a adequação em ambientes tanto frios quanto
quentes, o indivíduo deve estar portando roupas adequadas para um conforto e um bem
estar maior.
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Conceito de termogênese
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Fonte: Sandra Lago Moraes (maio/2011). Fonte: Prof. Rilva Lopes de Sousa-Muñoz - UFPB
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Os artigos estudados e que estão dentro do escopo da pesquisa são classificados pela
denominada força de evidência científica, que nada mais é do que a metodologia de
pesquisa utilizada para chegar às conclusões exaradas em livros e artigos médicos. De uma
forma didática, a seguir, explicita-se a classificação da força de evidência, em que a
classificação A é a que tem maior força de evidência científica e a classificação D a menor.
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convenção recomenda aos países signatários que elaborem listas com as possíveis doenças
relacionadas ao trabalho. Tal lista, vigente desde 1999, adota um modelo de dupla entrada,
ou seja, pode ser consultada através da pesquisa de fatores de risco (a denominada Lista A)
ou através da pesquisa por doenças (a denominada Lista B). Na busca na Lista A, na qual
figuram na primeira coluna os agentes etiológicos, a referência ao frio encontra-se como
Agente XXVII, sob a rubrica: Agentes físicos, químicos ou biológicos que afetam a pele. As
doenças relacionadas à exposição a esses agentes são a geladura superficial (frostbite e
eritema pérnio) e a geladura profunda com necrose de tecidos de pele. Já na busca na Lista
B, nas doenças do aparelho respiratório, não se encontra referência a doenças respiratórias
e exposição ao frio. Sumarizando o conteúdo das listas A, B e C do Decreto 3-048 da
Previdência Social, na busca em relação ao frio e a possíveis doenças ocupacionais dele
decorrentes, obteve-se o seguinte resultado:
a) Lista A – Agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional relacionados com a
etiologia de doenças profissionais e de outras doenças relacionadas com o trabalho,
não há referência ao risco frio.
b) Lista B – Doenças e agentes etiológicos ou fatores de risco, no Grupo X da CID-10,
doenças do sistema respiratório, não se encontra listado o agente frio como
causador de doenças respiratórias.
c) Lista C – Intervalos de CID-10 onde se reconhece o Nexo Técnico Epidemiológico,
somente existe o intervalo J40-J47, entretanto este intervalo de CID refere-se a
doenças respiratórias em outras atividades econômicas e não nas atividades
industriais de frigorífivos. Os CNAE’s relacionados a estes CID’s são contidos na lista a
seguir e, portanto não há referência de doenças pulmonares de natureza
ocupacional com tais atividades.
0810- Extração de pedra, areia e argila
1031- Fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais
1220- Fabricação de produtos de fumo
1311- Preparação e fiação de fibras texteis
1321- Tecelagens de fios de algodão
1351- Fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário
1411- Confecção de artigos do vestuário e acessórios
1412- Confecção de artigos do vestuário, exceto roupas íntimas
1610- Desdobramento de madeira
1622- Fabricação de estruturas de madeira
1629- Fabricação de produtos de madeira, cortiça e material trançado, exceto
móveis
2330- Fabricação de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e
materiais semelhantes
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Assim sendo, não se encontra referência nas listas A e B em relação a frio e doenças
respiratórias, nem na lista C, a utilizada no NTEP (Nexo Técnico Epidemiológico
Previdenciário), em que não houve, de acordo com estudo epidemiológico realizado pela
previdência social, relação entre CNAE de frigoríficos e doenças respiratórias.
Na legislação estrangeira, em Portugal, encontramos a Lista das Doenças
Profissionais, referente ao Decreto número 6/2001, de 5 de maio, muito semelhante a
nossa, e novamente não se encontra referência a doenças respiratórias e exposição ao frio
(PORTUGAL, 2001).
Já a lista de doenças ocupacionais da Organização Internacional do Trabalho, revisada
em 2010, em seu item 2.1, doenças do aparelho respiratório, não faz menção a doenças
relacionadas com o frio (INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION, 2010). Esta lista
incorpora ainda recomendações que devem ser tomadas em relação ao tema em pauta, ou
seja, para que doenças sejam incorporadas a listas de doenças ocupacionais, devem ser
seguidos critérios rígidos científicos, indicados por Bradford Hill:
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Estes tópicos são também acompanhados pela legislação pátria, nos Protocolos de
procedimentos médico-periciais em doenças profissionais e do trabalho: Subsídios para a
Implementação do Anexo II do Decreto 3.048/99 (BRASIL, 1999).
A legislação Suiça trabalha com a lista da OIT modificada pela legislação local. As
doenças respiratórias, reconhecidas como relacionadas aos riscos ocupacionais listadas são:
• Patologias pleurais;
• Infecções pulmonares;
• Carcinoma broncogênico;
• Enfisema pulmonar;
• Edema pulmonar;
• Pneumoconiose;
• Falência respiratória;
• Doença pulmonar obstrutiva crônica;
• Fibrose pulmonar;
• Asma.
Como se pode constatar, nessa lista também não consta o risco frio relacionado à
exposição ocupacional e doenças respiratórias (SUIÇA, 2011). A legislação polonesa, em sua
lista de doenças relacionadas à exposição ao frio, lista somente frostbite, não fazendo
referência a doenças pulmonares (POLÔNIA, 2009).
O NIOSH (National Institute of Occupational and Safety Health), e sua lista de
doenças relacionadas à exposição ao frio cita a hipotermia, o frostbite, o pé de trincheira e
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frieiras (ESTADOS UNIDOS, 2016), mas não cita doenças pulmonares. A ACGIH (American
Conference of Governmental Industrial Hygienists) em sua publicação anual de limites de
tolerância e indicadores biológicos de exposição, não faz nenhuma referência a proteção de
vias aéreas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HIGIENISTAS OCUPACIONAIS, 2016).
O capítulo relacionado a doenças ocupacionais respiratórias do Oxford Handbook of
Occupational Health (SMEDLEY; DICK; SADHRA, 2007) não faz referência à exposição ao frio e
doenças de vias aéreas.
As causas de doenças pulmonares ocupacionais listadas no Current Medical Diagnosis
& Treatment, não fazem nenhuma menção a exposição ao frio, inclusive no capítulo
relacionado a asma ocupacional (MCPHEE; PAPADAKIS, 2017).
Na literatura espanhola de medicina do trabalho, Gil Hernández em seu Tratado de
Medicina del Trabajo, refere que as doenças pulmonares ocupacionais relacionam-se a
doenças brônquicas, alveolares, intersticiais e ou pleural, secundária a exposição
ocupacional a material particulado, vapores, gases ou fumos. Classifica, igualmente, as
enfermidades pulmonares ocupacionais em relação a agente causal:
• Doenças por inalação de particulado inorgânico fibrogênico (talco, caolin,
mica, asbesto, etc.), particulado não fibrogênico (ferro, bário, zircônio), metais (cádmio,
berílio, tungstênio) e sílica.
• Doenças por particulado orgânico: antígenos produtores de asma, antígenos
aviários, fungos, bacilos, proteínas e enzimas.
• Doenças por inalação de gases e vapores químicos (asma ocupacional,
amoníaco, enxofre, ácido clorídrico, cloro gás, isocianatos).
Nos capítulos das doenças respiratórias relacionadas ao trabalho, não é mencionado
o risco frio como causador dessas doenças (HERNÁNDEZ, 2005).
A Enciclopédia da OIT, no Capítulo destinado a Doenças em Indústrias alimentícias,
ao referir-se ao risco frio, faz a seguinte constatação: “A exposição ao frio pode dar-se pela
manipulação e armazenamento de matérias primas no inverno ou em salas de elaboração
refrigeradas como na fabricação de sorvetes e na elaboração de alimentos congelados.”
Os trabalhadores que desenvolvem suas atividades nestas áreas podem ter sua
saúde deteriorada pela exposição sem proteção adequada. “Os expostos em câmaras
frigoríficas, devem utilizar roupas adequadas e dispor de salas de descanso onde possam
consumir bebidas quentes”.
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Na revisão realizada na obra do prof. René Mendes (MENDES, 2013), nos capítulos
dedicados a doenças respiratórias, não há referência ao agente frio como causador de
patologias do referido aparelho. Na bibliografia de bases primárias e secundárias
estrangeiras, a importante publicação da Associação Médica Americana, relacionada a
causas de doenças pulmonares ocupacionais, não faz menção ao risco frio como causa de
doença ocupacional. Também, nesta publicação, no capítulo de doenças relacionadas ao
estresse pelo frio, novamente não há menção a doenças de vias aéreas, mantendo a citação
a hipotermia, as frieiras, a forstbite e o pé de trincheira (MELHORN et al, 2014).
Na busca de dados em relação a risco frio no banco de dados da National Library of
Medicine, portal Haz-Map, que relaciona riscos com doenças ocupacionais, novamente não
se observa doenças relacionadas a vias aéreas e exposição ao frio (LEVY et al, 2011). O CDC –
Center of Disease Control, em seu site ocupacional (NIOSH, National Institute of
Occupational and Safety Health), na busca por doenças relacionadas à exposição ao frio cita
a hipotermia, o pé de trincheira, as frieiras e a frostbite. A lista canadense de agentes
responsáveis por asma ocupacional, também não faz referência ao frio (CDC-NIOSH ), não há
citação de doenças pulmonares relacionados ao frio.
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Foram recuperadas 35 publicações com estes descritores, nos últimos 10 anos. Realizada
a leitura dos resumos dos artigos recuperados, que se relacionam com a pesquisa, quais
sejam, artigos escritos em que o frio seja agente de doenças ocupacionais, chegou-se ao
seguinte resultado, conforme quadro a seguir.
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Dessa forma, não foram encontrados artigos publicados nos últimos 10 anos que
relacionem a exposição ao frio em ambiente ocupacional com problemas respiratórios que
tenham força de evidência científica suficiente para chegar a tal conclusão.
Em outra estratégia de busca de informações no Pub Med, utilizamos os seguintes
descritores:
b. Respiratory tract diseases and cold temperature
Limitamos as buscas para artigos publicados nos últimos 10 anos, com limitações aos
de maior força de evidência científica, quais sejam: revisões sistemáticas e ensaios clínicos.
Recuperamos 92 artigos com esta estratégia. Realizada a leitura dos resumos, chegamos as
seguintes conclusões:
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Sports in extreme conditions: Carlsen KH 2012 A exposição ao frio em
the impact of exercise in cold condiçoes extremas, piora o
temperatures on asthma and quadro de asma e
bronchial hyper-responsiveness hiperresponsividade
in athletes brônquica em atletas
portadores desta patologia.
1
The acute effect of cold air Carey DG , Aase 2010 Atletas em condições de frio
exercise in determination of KA, Pliego GJ. não apresentam alterações
exercise-induced significativas em provas de
bronchospasm in apparently função pulmonar.
healthy athletes.
Novamente nesta busca, não observamos trabalhos com força de evidência científica
que justifiquem exposição ocupacional e alterações respiratórias.
Para a resposta inicial, foi observado um grupo de empregados por seis meses, para
um estudo inicial de caso-controle. Esses empregados pertenciam a dois grupos:
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1. National Institute of Occupational and Safety Health. Cold Related Ilness. Available in:
https://www.cdc.gov/niosh/topics/coldstress/coldrelatedillnesses.html Acesso em
05.04.2017.
Assim, no site do NIOSH (The National Institute for Occupational Safety and Health),
órgão do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), foram elencados os distúrbios
relacionados à exposição ao frio, sendo eles: hipotermia, eritema pérnio, frostbite e pé de
trincheira.
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3 DISCUSSÃO
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Em relação ao outro senso comum de que a exposição ao frio pode provocar uma
baixa na imunidade da pessoa, essa é outra questão recorrente em argumentos relacionados
ao frio, em vários fóruns de discussão e conclusões periciais, em que há a afirmação
categórica de que o frio diminui a imunidade do trabalhador exposto. Tal fato não é citado
na literatura médica pesquisada, sob a metodologia adequada conforme exposto
anteriormente.
A função do sistema imune é proteção do hospedeiro contra invasão de organismos
estranhos, distinguindo quem é autóctone do não autóctone, ou seja, quem é originado do
próprio organismo ou quem o invade. Assim sendo, o sistema imunitário tem a função de
proteger o ser humano contra a invasão de microorganismos, toxinas, tumores e fatores
autoimunes. Essa função é cumprida através das células do sistema imune que circulam pelo
organismo, sendo elas os macrófagos, os linfócitos e os neutrófilos.
A imunidade está presente desde o nascimento, sendo transmitida pela mãe. Já a
imunidade adquirida, necessita de exposição ambiental a eventuais corpos estranhos que
tenham escapado do sistema inato. Este sistema adaptativo tem duas características
importantes, quais sejam: a especificidade e a memória imunológica, necessitando de um
contato inicial e de contatos posteriores para intensificar a resposta a esta invasão.
Como foi aprofundado anteriormente, entre as causas de deficiência imunológica, o
frio não está relacionado como fator interferência no sistema imunológico, como muitas
vezes mencionado pelo senso comum, não estando elencado nos tratados de imunologia.
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79
a comparação da razão de chances de um caso ser exposto a frio e ter doenças relacionadas
com o aparelho respiratório, dividido pelas chances de outro caso de não exposição ao frio
(controle), ter afastamento por morbidades respiratórias da CID 10 – J00 a J99.
Ao realizar o estudo, fizemos a seguinte indagação: Qual a incidência de atestados
por CID J em expostos ao frio e não expostos em trabalhadores de frigoríficos?
O resultado deste estudo, que ressaltamos ser preliminar, foi de 1,1 - o que nos leva
a conclusão inicial de que a chance de pertencer ao grupo de expostos ao frio e ter
afastamento por CID J é praticamente a mesma do grupo não exposto ao frio, conforme
pode ser visualizado no item 2.12 Doenças pulmonares CID “J” em frigoríficos estudados do
Capítulo 2 – Resultados.
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4 CONCLUSÃO
4.1.1. Do ponto de vista do marco legal brasileiro, temos que carece de um maior
aprofundamento no estudo, na discussão, na conceituação e definição técnica de processos
e instalações de trabalhos relacionados a ambientes frios e artificialmente frios, para a
devida e esperada aplicação destes subsídios técnicos e científicos durante a avaliação e a
caracterização de insalubridade por exposição dos trabalhadores a diversas temperaturas.
4.1.2. A realidade é que muito pouco pode ser encontrado para parametrizar as
condutas de trabalho frente à exposição ao frio pelos trabalhadores. As únicas
considerações sobre o frio estão contidas no artigo 253 da CLT (Consolidação das Leis do
trabalho - Lei 6.514 de 22 de Dezembro de 1977), no anexo n° 9* da NR-15 (Atividades e
Operações Insalubres) aprovada pela Portaria 3.214 de 08 de junho de 1978 e na NR-29, que
possui aplicação restrita e definida para trabalho portuário em locais “frigorificados”.
4.1.4 Sabendo-se que do ponto de vista legal, a condição de insalubridade deve ser
analisada tão somente sob o previsto no Anexo 9 da NR-15 da Portaria 3214/78, entende-se,
portanto que há um equívoco técnico caracterizar eventual condição insalubre por frio
tendo como parâmetro a carta climatológica do MTE prevista no artigo 253 da CLT que tem
como finalidade única, definir “regime de trabalho”, ainda mais que os ambientes de
trabalho, quando considerados, são internos. Um ambiente interno não tem correlação com
o ambiente externo, causando um entendimento equivocado em relação à aplicação da
carta climatológica para quem esteja executando tarefas em ambientes fechados,
climatizados em temperaturas acima de 4˚C, como é uma sala de cortes.
4.1.5 O conforto térmico num determinado ambiente pode ser definido como a
sensação de bem-estar experimentada por uma pessoa, como resultado da combinação
satisfatória, nesse ambiente, da temperatura radiante média (trm), umidade relativa (UR),
temperatura do ambiente (ta) e velocidade relativa do ar (vr) com a atividade lá
desenvolvida e com a vestimenta usada pelas pessoas.
O conforto térmico está estritamente relacionado ao equilíbrio térmico do corpo
humano - temperatura corpórea constante – portanto, em um ambiente artificialmente frio
com temperatura acima de 4˚C, sob um trabalho contínuo, com vestimentas requeridas,
com as variáveis, apresentadas no parágrafo anterior, dentro de limites preconizados pela
higiene ocupacional, não há que caracterizar como trabalho insalubre e, tampouco haverá
necessidade de intervalos obrigatórios de 20 (vinte) minutos para repouso térmico (conforto
térmico).
4.1.6 Em referencia aos questionamentos feitos sobre i) Quais ambientes podem
ser considerados câmaras frigoríficas ou locais com condições similares e ii) Quando um
trabalhador está exposto ao frio nestes ambientes, qual é o tipo de proteção adequada para
prevenir a exposição ao frio nestes ambientes e o que é necessário para considerar um
ambiente de trabalho insalubre ou não em relação ao frio, concluímos que:
4.1.6.1 Quanto à natureza do ambiente: O estudo considerou câmaras
frigoríficas e locais em condições similares os ambientes com temperatura inferior a 4˚C,
conforme a Tabela de Limites de Exposição Ocupacionais (TLVs) da ACGIH (American
Conference of Governmental Industrial Hygienists). Tal limite foi considerado porque não há
índices de exposição ao frio definidos pelo Anexo 9 da NR 15, como ocorre para o agente
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calor ou ruído, por exemplo. A rigor não há limites de exposição ao frio estabelecidos na
legislação brasileira. Por isso, conforme a NR 9, item 9.3.5.1 “c” o estudo recorreu a tabela
da ACGIH para definir o Limite de Tolerância.
Não foram considerados como limites de tolerância, as temperaturas mencionadas
na NR 36, item 36.13.1.1, temperaturas estas relacionadas com as zonas climáticas do mapa
do Ministério do Trabalho e Emprego, pois tais temperaturas se destinam exclusivamente
para se determinar a melhor organização do trabalho de modo a se definir pausas térmicas,
conforme artigo 253 da CLT. Não são temperaturas que podem ou devem ser usadas para
caracterizar ambientes insalubres ou para se definir Limites de Tolerância de Exposição
Ocupacional.
Neste sentido, para se caracterizar se o ambiente é ou não uma câmara frigorífica ou
local em condições similares, o estudo entende que se deve promover uma medição de
temperatura com termo anemômetro digital calibrado, realizada à altura do tronco do
trabalhador. Se a temperatura for menor que 4˚C, o ambiente deve ser considerado uma
câmara frigorífica ou similar para efeito do Anexo 9 da NR 15. Caso contrário, o ambiente
não é enquadrado no Anexo 9 da NR 15, e, portanto, não é um ambiente em condições
insalubres.
4.1.6.2 Equipamentos de Proteção Individual necessários para
proteção contra frio, segundo especificações da portaria (SIT n°121) que estabelece as
normas técnicas de ensaios e os requisitos obrigatórios aplicáveis aos Equipamentos de
Proteção individual – EPI enquadrados no Anexo I da NR-6. Portanto, em nosso país, quando
da fabricação de vestimentas para proteção ao frio deve seguir as normas EN 342:2004 37 e
EN 14058:2004, que fornecem sete informações sobre materiais a serem utilizados,
isolamento mínimo, ergonomia, ensaios e requisitos obrigatórios para cada tipo de EPI
térmico de proteção ao agente estressante, neste caso – o frio, são disponibilizados no
Brasil, EPI’s com Certificados de Aprovação com estas especificações elencadas
anteriormente:
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previstos na NR-15 ou, na ausência destes, fato que ocorre com a exposição ocupacional ao
frio, os valores limites de exposição ocupacional podem ser os adotados pela ACGIH.
Diante dessa lacuna, conforme já exposto, o parâmetro técnico disponível é o da
American Conference of Governmental Industrial Hygienists – ACGIH, entidade científica na
qual se baseiam a quase totalidade das normas pertinentes à segurança do trabalho em
nosso país. Conforme a ACGHI (pag.42), esse parâmetro é de ambientes insalubres apenas
com temperaturas inferiores a 4˚C. Esse é o único parâmetro concreto técnico que existe
para se caracterizar um ambiente como sendo insalubre ou não devido ao agente frio. As
temperaturas usadas para determinar regimes de trabalho e pausas térmicas, associadas a
zonas climáticas, tal como já explicado, não se destinam a esse fim.
Este estudo avaliou a morbidade e o estado de saúde de trabalhadores expostos a
diversas temperaturas, e chegou-se à conclusão que, após coleta de dados epidemiológicos,
para a conclusão deste trabalho, ao utilizar fontes primárias, fontes secundárias e fontes
terciárias, como também a avaliação dos estudos utilizando os critérios de Bradford Hill,
explicitados no bojo deste trabalho, que os resultados foram unânimes em concluir pela
inexistência de quaisquer doenças respiratórias relacionadas ao frio, durante os últimos 10
anos, alvo de nossas pesquisas bibliográficas, conforme pode ser visto no segundo Capítulo –
Resultados, em seu item 2.1 Doenças Relacionadas ao Frio.
Tal estudo, mostra de maneira incontestável que quando os trabalhadores são
expostos a temperaturas acima de 4˚C não existe insalubridade. E mostra ainda que, mesmo
abaixo de 4˚C, até – 40˚C, basta a proteção adequada e indicada para o seu corpo, para que
a insalubridade seja descaracterizada, pois a ausência de proteção respiratória não indica
qualquer incidência ou aumento de morbidade.
Entretanto, são consideradas como temperaturas muito baixas/extremas (as
temperaturas entre -17°C a 0°C), de acordo com a norma ISO, Ergonomics of the Thermal
Environment: Medical Supervision of Individuals Exposed to Extreme Hot or Cold
Environments, 2001, inclusive com indicações de que merecem, portanto cuidados e
proteções especiais para as mãos, pés, cabeça e para o trato respiratório (pag.52).
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4.2.1. Nem todo local de trabalho abaixo da temperatura ambiente pode ser
considerado uma câmara frigorífica ou local em condição similar. Conforme exaustivamente
demonstrado neste estudo, somente são consideradas câmaras frigoríficas ou ambientes em
condições similares aqueles com temperaturas < 4˚C.
4.2.2. A verificação de qual proteção/vestimenta seria considerada adequada
para um ambiente de trabalho, pode ser feita utilizando-se o que determina a i) ISO/TR
11079/1993 - Avaliação de ambientes frios - Determinação do isolamento requerido das
vestimentas (IREQ). Este relatório técnico internacional (não é uma norma) propõe técnicas
e estratégias para se verificar o “stress” térmico, associado à permanência em ambientes
frios, através da utilização do índice IREQ e ii) ISO 9920/95 - Ergonomia de ambientes
térmicos - Estimativa de isolamento térmico e resistência evaporativa de um traje de roupas.
Esta norma internacional especifica técnicas para a estimativa das características térmicas,
resistência à perdas de calor seco e à perda por evaporação, em condições de estado
estacionário para um traje de roupa, baseado em valores de vestimentas conhecidas, trajes
e tecidos.
4.2.3. O índice IREQ, pode ser utilizado como uma medida de “stress” por
frio, que leva em conta a temperatura do ar, temperatura média radiante, umidade,
velocidade do ar e taxa metabólica; um método de análise dos efeitos de parâmetros
específicos e avaliação das medidas de retrofit; um método de especificação do isolamento
das roupas necessário, bem como a seleção das roupas a serem utilizadas em determinadas
condições ambientais. (pag.51)
4.2.4. A proteção considerada adequada para descaracterizar insalubridade
por frio no trabalho em câmaras frigoríficas ou locais em condições similares se dividem em
2 categorias: a) de 4˚C a – 40˚C onde deve-se usar vestimentas térmicas adequadas e
requeridas (conforme item 4.1.6.2, anteriormente informado), com CA apropriado para o
nível de temperatura do ambiente de trabalho; b) abaixo de – 40˚C deve-se usar
adicionalmente proteção respiratória através de respiradores térmicos ou máscaras que
permitam proteger as funções pulmonares.
4.2.5 Portanto, de acordo com o demonstrado neste estudo, não é
necessário proteger especificamente a região respiratória (nariz e boca) para se
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AUTORES:
Carlos Roberto Campos Francisco Cortes Fernandes
Especialista em Medicina do Trabalho Francisco Cortes Fernandes
Especialista em Ortopedia e Traumatologia Especialista em Medicina do Trabalho
Especialista em Ergonomia COPPE/UFRRJ Especialista em Perícia Médica
Máster em Prevenção de Riscos Laborais Mestre em Engenharia da Produção
Universidade Alcalá de Henares ESP
COLABORADORES:
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