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21/07/2018 Quem tem medo do feminismo negro? — CartaCapital
Sojourner Truth
O feminismo negro começa a ganhar força a partir da segunda onda do feminismo, entre 1960 e
1980, por conta da fundação da National Black Feminist, nos EUA, em 1973 e porque feministas
negras passaram a escrever sobre o tema criando uma literatura feminista negra. Porém, gosto
de dizer que bem antes disso, mulheres negras já desafiavam o sujeito mulher determinado pelo
feminismo.
Em 1851, Sojourner Truth, ex escrava que tornou-se oradora, fez seu famoso discurso intitulado
“E eu não sou uma mulher?” na Convenção dos Direitos das Mulheres em Ohio. Dentre alguns
questionamentos, ela diz: “Aquele homem ali diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa
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lama ou me cede o melhor lugar! E não sou uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meu
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21/07/2018 Quem tem medo do feminismo negro? — CartaCapital
braço! Eu capinei, eu plantei, juntei palha nos celeiros e homem nenhum conseguiu me superar! E
não sou uma mulher? Eu consegui trabalhar e comer tanto quanto um homem - quando tinha o
que comer - e também agüentei as chicotadas! E não sou uma mulher? Pari cinco filhos e a
maioria deles foi vendida como escravos. Quando manifestei minha dor de mãe, ninguém, a não
ser Jesus, me ouviu! E não sou uma mulher?”
Ou seja, já anunciava que a situação da mulher negra era radicalmente diferente da situação da
mulher branca. Enquanto àquela época mulheres brancas lutavam pelo direito ao voto, ao
trabalho, mulheres negras lutavam para serem consideradas pessoas. No Brasil, o feminismo
negro começa a ganhar força nos anos 80. Segundo Núbia Moreira, “A relação das mulheres
negras com o movimento feminista se estabelece a partir do III Encontro Feminista Latino-
americano ocorrido em Bertioga em 1985, de onde emerge a organização atual de mulheres
negras com expressão coletiva com o intuito de adquirir visibilidade política no campo feminista. A
partir daí, surgem os primeiros Coletivos de Mulheres Negras, época em que aconteceram alguns
Encontros Estaduais e Nacionais de mulheres negras.
Existe ainda por parte de muitas feministas brancas uma resistência muito grande em perceber
que apesar do gênero nos unir, há outras especificidades que nos separam e afastam. Enquanto
feministas brancas tratarem a questão racial como birra, disputa, em vez de reconhecerem seus
privilégios e pontos de partida, o movimento não avança, só reproduz as velhas e conhecidas
lógicas de opressão. Em O Segundo sexo Beauvoir diz: “se a questão feminina é tão absurda é
porque a arrogância masculina fez dela uma querela e quando as pessoas querelam não
raciocinam bem”. E eu atualizo para a questão das mulheres negras: se a questão das mulheres
negras é tão absurda é porque a arrogância do feminismo branco fez dela uma querela e quando
as pessoas querelam não raciocinam bem.
Em obras sobre feminismo no Brasil é muito comum não encontrarmos nada falando sobre
feminismo negro e isso é sintomático, feminismo pra quem? É necessário de uma vez por todas X
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entender que existem várias mulheres contidas nesse ser mulher e romper com essa tentação de
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só exclui. Há grandes estudiosas, pensadoras (es) como Sueli Caneiro,
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Jurema Werneck, Núbia Moreira, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Luiza Bairros Cristiano
Rodrigues, Audre Lorde, Patricia Hill Collins e Bell Hooks que produziram e produzem grandes
obras e reflexões.
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Para quem quiser conhecer mais, acesse: Blogueiras Negras, Afronta, Pega no Meu Power e
Entre Luma e Frida.
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