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Presidência da República

Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997.

Define os crimes de tortura e dá outras


providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:

Comentários:

1) A vedação da tortura começou a ser discutida em âmbito internacional a partir da 2º


Guerra Mundial, pois a partir daí iniciou-se a preocupação com a proteção dos direitos
humanos por causa das barbáries ocorridas durante a guerra.
2) TORTURA PRESCREVE?
Para respondermos a essa pergunta, antes faremos uma análise dos dispositivos que
preveem a tortura.
A Constituição Federal prevê a tortura em seu art. 5°, III – “Ninguém será submetido a
tortura, nem a tratamento desumano ou degradante.” Como podemos perceber do
dispositivo, nada ela fala sobre a prescrição. Para a Constituição Federal somente são
imprescritíveis a AÇÃO DE GRUPOS ARMADOS, civis ou militares, contra ordem
constitucional e o estado democrático de direito e o RACISMO. Portanto, para a Constituição
Federal a tortura PRESCREVE.
“Ao contrário sensu”, os tratados internacionais de direito humanos consideram a tortura
imprescritível. Logo, coube ao STF definir essa questão e esse o entendimento que você irá
levar para a prova. O STF quando do julgamento sobre a constitucionalidade da lei de Anistia
entendeu que a tortura PRESCREVE.
3) O crime de tortura é considerado crime comum, uma vez que não se exige qualidade
ou condição especial do agente que o pratica, ou seja, qualquer pessoa pode ser
considerada sujeito ativo desse crime.
4) Veja esta assertiva: “O crime de tortura praticado, em qualquer de suas modalidades,
por agente público no exercício de suas funções absorve o delito de abuso de
autoridade”. Está ERRADA! Segundo entendimento CESPE: O crime de tortura
somente absorve o de Abuso de autoridade se a tortura for física; ao contrário da
tortura psicológica, não absorvendo o crime de abuso de autoridade.
a. Tortura FÍSICA + Abuso de autoridade: Responde só por tortura
b. Tortura PSÍQUICA + Abuso de autoridade: Responde pelos dois crimes em
concurso Material, somando-se as penas.
5) Observe esta assertiva: “SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: Um servidor público federal, no
exercício de atividade carcerária, colocou em perigo a saúde física de preso em virtude
de excesso na imposição da disciplina, com a mera intenção de aplicar medida
educativa, sem lhe causar sofrimento. ASSERTIVA: Nessa situação, o referido agente
responderá pelo crime de tortura”. Está ERRADA! Neste caso NÃO podemos dizer
que houve tortura, pois NÃO houve dolo e nem sofrimento. Na realidade o caso trazido
pela questão é de crime de MAUS TRATOS, tipificado no art. 136 do Código Penal.
6) O condenado pela prática de crime de tortura, por expressa previsão legal, não poderá
ser beneficiado por livramento condicional, se for reincidente específico em crimes
dessa natureza.

Art. 1º Constitui crime de TORTURA:


I - constranger alguém com emprego de VIOLÊNCIA ou GRAVE AMEAÇA, causando-lhe Commented [U1]: VIS ABSOLUTE
sofrimento FÍSICO ou MENTAL:
Commented [U2]: VIS RELATIVE
Comentários:

1) À luz da DOUTRINA moderna o crime se consuma com o constrangimento,


INDEPENDENTEMENTE da ocorrência do resultado, sendo considerado crime formal.
2) Veja esta assertiva: “Como forma de punir um ex-membro de sua quadrilha que o havia
delatado à polícia, um traficante de drogas espancou um irmão do delator, em plena
rua, quando ele voltava do trabalho para casa. Nessa situação, o referido traficante
praticou crime de tortura”. Está ERRADA! Pois o traficante praticou o delito de lesão
corporal (ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem), visto que para cometer
tortura o traficante teria que constranger o irmão do delator com emprego de violência
ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: com o fim de obter
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa ou para provocar
ação ou omissão de natureza criminosa ou em razão de discriminação racial ou
religiosa (art. 1º, I, da Lei 9.455/97).
3) Observe esta assertiva, cobrada pela Cespe na prova da PRF em 2013: “Para que um
cidadão seja processado e julgado por crime de tortura, é prescindível que esse crime
deixe vestígios de ordem física”. Está CORRETA! Realmente é prescindível, ou
dispensável que se deixem vestígios na vítima, relativamente à hipótese do crime de
tortura. Normalmente, o crime de tortura deixa vestígios em forma de hematomas no
corpo da vítima. Porém, a violência no crime de tortura pode ser praticada através de
ameaça, causando uma tortura psicológica, um sofrimento mental. Ex.: A fala para B
furtar determinada loja, caso contrário, matará C, sendo ameaça psicologicamente
grave para B.

TORTURA PERSECUTÓRIA, TORTURA PROVA ou TORTURA INQUISITÓRIA


a) com o fim de OBTER informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa;

Comentários:

1) Veja esta assertiva: “Determinado policial militar efetuou a prisão em flagrante de


Luciano e o conduziu à delegacia de polícia. Lá, com o objetivo de fazer Luciano
confessar a prática dos atos que ensejaram sua prisão, o policial responsável por seu
interrogatório cobriu sua cabeça com um saco plástico e amarrou-o no seu pescoço,
asfixiando-o. Como Luciano não confessou, o policial deixou-o trancado na sala de
interrogatório durante várias horas, pendurado de cabeça para baixo, no escuro,
período em que lhe dizia que, se ele não confessasse, seria morto. O delegado de
polícia, ciente do que ocorria na sala de interrogatório, manteve-se inerte. Em
depoimento posterior, Luciano afirmou que a conduta do policial lhe provocara intenso
sofrimento físico e mental. Considerando a situação hipotética acima e o disposto na
Lei Federal n.º 9.455/1997, julgue o item subsequente. Para a comprovação da
materialidade da conduta do policial, é imprescindível a realização de exame de corpo
de delito que confirme as agressões sofridas por Luciano”. Está ERRADA! É evidente
que se trata de um TORTURA INQUISITORA e que houve tortura física e MENTAL.
Observar isso, é importante pois, a jurisprudência entende que no caso de sofrimento
MENTAL a comprovação da materialidade pode ser feita por PROVA
TESTEMUNHAL: Em se tratando do crime de tortura, prevista no art. 1º, inciso I, “a”,
a Lei 9.455/97, e sendo impingido à vítima apenas e tão somente sofrimento de ordem
mental, e que, portanto, e de regra, não deixa vestígios, É SUFICIENTE a sua
comprovação por meio de prova TESTEMUNHAL”. Assim, é possível dizer que NÃO
é imprescindível (É DISPENSÁVEL) a realização de exame de corpo de delito, visto
que a simples comprovação do sofrimento mental (em que não é necessário o corpo
de delito) seria suficiente para incriminar o policial.
2) Veja estas afirmações cobradas pela Cespe, praticamente da mesma forma:
a. “Pratica crime de tortura a autoridade policial que constrange alguém,
mediante emprego de grave ameaça e causando-lhe sofrimento mental, com
o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa”. (Del PC-PB/2009)
b. “Considera-se tortura constranger alguém com grave ameaça, causando-lhe
sofrimento mental, com o fim de obter informação, ainda que de terceira
pessoa”. (Of. PM-DF/2010)
3) Observe esta assertiva, cobrada pela Cespe na prova da PC-MA/2018:”Se, com o
objetivo de obter confissão, determinado agente de polícia, por meio de grave ameaça,
constranger pessoa presa, causando-lhe sofrimento psicológico,
a. e a vítima for adolescente, o crime será qualificado. Está ERRADA! Não
qualifica, e sim há aumento de pena (II, §4º, art. 1º).
b. estará configurada uma causa de aumento de pena. Está CORRETA! Pois o
agente de polícia é agente público e por isso há o aumento de pena (I, §4º, art.
1º).
c. a critério do juiz, a condenação poderá acarretar a perda do cargo. Está
ERRADA! Não é a critério do Juiz, e sim automático (§5º, art. 1º)
d. provado o fato, a pena será de detenção. Está ERRADA! É RECLUSÃO, não
detenção. Detenção será para quem OMITE.
e. quem presenciar o crime e se omitir, incorrerá na mesma pena do agente.

TORTURA CRIME
b) para PROVOCAR ação ou omissão de natureza criminosa;
Comentários:
1) NÃO EXISTE tortura crime contra CONTRAVENÇÃO PENAL – DL 3.688/41, só contra
fato delituoso. Exemplo: Wallace, mediante coação moral irresistível, coage Dos anjos
a matar Evandro. Nesse caso, Dos anjos não responderá por nada, pois agiu sob
coação moral irresistível e será isento de pena. Já Wallace responderá pelo
HOMICÍDIO mediante AUTORIA MEDIATA e também por TORTURA, pois “torturou”
Dos anjos a praticar um crime.
2) A denominada tortura para a prática de crime ocorre quando o agente usa de violência
ou grave ameaça para obrigar a vítima a realizar ação ou omissão de natureza
criminosa. Assim, essa forma de tortura não abrange a provocação de ação
contravencional

TORTURA RACISMO
c) em razão de DISCRIMINAÇÃO RACIAL ou RELIGIOSA; (sexual NÃO)

Comentários:

1) NÃO HÁ tortura por motivos:


a. homossexuais,
b. por procedência nacional,
c. por vingança ou
d. paga promessa
2) Veja esta assertiva: “A prática do crime de tortura torna-se atípica se ocorrer em razão
de discriminação religiosa, pois, sendo laico o Estado, este não pode se imiscuir em
assuntos religiosos dos cidadãos”. Está ERRADA! O crime de tortura ocorre, também,
se a conduta tem como fundamento a discriminação religiosa, conforme podemos
extrair da redação do art. 1º, I, “c” da Lei 9.455/97.
3) Caracteriza uma das espécies do crime de tortura a conduta consistente em, com
emprego de grave ameaça, constranger outrem em razão de discriminação RACIAL,
causando-lhe sofrimento mental.
4) Na prática da chamada tortura-discriminatória, é possível que o agente, além de
responder pela tortura como crime autônomo, seja também responsabilizado pelo
crime de racismo.

TORTURA CASTIGO
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, COM emprego de violência
ou grave ameaça, a INTENSO sofrimento FÍSICO ou MENTAL, como forma de aplicar CASTIGO
PESSOAL ou medida de CARÁTER PREVENTIVO.

Comentários:

1) A legislação brasileira define tortura como constrangimento com emprego de violência


ou grave ameaça, de modo a causar sofrimento, para se obter informação, ou para
provocar ação ou omissão, com o objetivo de discriminação racial, religiosa ou ainda
como forma de CASTIGO.
2) O crime se consuma no momento em que a pessoa submetida à guarda, ao poder ou
à autoridade efetivamente passa por INTENSO sofrimento físico ou mental.
3) ATENÇÃO: O crime de maus tratos preceituado no art.136 do Código Penal NÃO
FOI REVOGADO pela Lei de Tortura (9.455/97):
Maus tratos: “Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou
custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de
correção ou disciplina:”
4) Como se percebe as finalidades são diferentes, porém se for verificado que houve
INTENSO sofrimento físico ou mental estará configurado a TORTURA.
5) Determinados tipos penais previstos na legislação específica, como o denominado
tortura-castigo, classificam-se como próprios, pois somente podem ser praticados por
determinada pessoa ou categoria de pessoas.
6) Veja esta assertiva: “A babá que, mediante grave ameaça e como forma de punição
por mau comportamento durante uma refeição, submeter menor que esteja sob sua
responsabilidade a intenso sofrimento mental não praticará crime de tortura por falta
de tipicidade, podendo ser acusada apenas de maus tratos”. Está ERRADA! Pratica o
crime de tortura sim, pelo fato de ter causado INTENSO SOFRIMENTO, fator que
diferencia em maus tratos, o qual não existe essa tipificação

Pena - RECLUSÃO, de 2 a 8 anos.

Comentários:

1) Veja esta assertiva: “O agente penitenciário que detém a guarda de um sentenciado e,


como forma de aplicar-lhe um castigo, o ameaça de morte e o submete a intenso
sofrimento físico com o emprego de choques elétricos e submersão em água para
asfixia parcial, causando-lhe lesões corporais simples, responde pelo crime de tortura,
que absorve os de ameaça e de lesões corporais”. Está CORRETA!
a. Palavras-chave da questão:
“O agente penitenciário que detém a guarda de um sentenciado e, como forma
de aplicar-lhe um castigo, o ameaça de morte e o submete a intenso sofrimento
físico...”
Agora veja as palavras-chave do crime:
“Art. 1º Constitui crime de tortura:
... II- submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego
de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como
forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo...”.
b. Continuação: “... responde pelo crime de tortura, que absorve os de ameaça
e de lesões corporais.”
Entendimento: Podemos pensar no princípio da especialidade, em que o
crime mais específico absorve o crime mais genérico. Nesse caso, tortura
está prevendo um dolo específico absorve o crime mais genérico. Nesse
caso, tortura está prevendo um dolo específico, aplicar castigo pessoal.
Nesse caso, os crimes de ameaça e lesão corporal seriam crimes
subsidiários (apenas se encaixam nesses crimes se não houver crime mais
específicos que eles).

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa PRESA ou sujeita a MEDIDA DE


SEGURANÇA a sofrimento FÍSICO ou MENTAL, por intermédio da prática de ato não
PREVISTO EM LEI ou não resultante de MEDIDA LEGAL.

Comentários:

1) ATENÇÃO: Essa forma de Tortura é a única na lei 9.455/97 que admite a realização
por meio de violência imprópria, ou seja, o legislador NÃO TROUXE uma forma
específica PARA QUE o agente delitivo a cometesse, como por exemplo, essa tortura
pode ser realizada por hipnose, sonífero ou substância psicoativa utilizada contra
pessoa presa ou sujeita a medida de segurança. Outro detalhe importante é que essa
modalidade NÃO EXIGE que o agente tenha FINALIDADE. Esse é a ÚNICA
modalidade da lei de tortura que NÃO exige finalidade.
2) Segundo a doutrina tradicional o sujeito ativo do delito em comento (art.1º,§1°) pode
ser qualquer pessoa, enquanto o sujeito passivo somente pode ser a pessoa presa ou
sujeita à medida de segurança, denominada: sujeito passivo qualificado.
3) Veja esta assertiva: “Um agente penitenciário federal determinou que José, preso sob
sua custódia, permanecesse de pé por dez horas ininterruptas, sem que pudesse
beber água ou alimentar-se, como forma de castigo, já que José havia cometido,
comprovadamente, grave falta disciplinar. Nessa situação, esse agente cometeu crime
de tortura, ainda que não tenha utilizado de violência ou grave ameaça contra José”.
Está ERRADA! Ainda que NÃO tenha utilizado violência ou grave ameaça contra o
preso José, o agente penitenciário federal cometeu crime de tortura, visto que
SUBMETEU PESSOA PRESA A SOFRIMENTO FÍSICA ou MENTAL POR
INTERMÉDIO DE ATO NÃO PREVSTO EM LEI (obrigar preso a permanecer de pé
por dez horas ininterruptas, sem que pudesse beber água ou alimentar-se, como forma
de castigo, com toda certeza, não encontra respaldo constitucional e legal).
4) Observe esta outra assertiva: “O agente público que submeter pessoa presa a
sofrimento físico ou mental, ainda que por intermédio da prática de ato previsto em lei
ou resultante de medida legal, praticará o crime de tortura”. Está ERRADA! Aos moldes
do §1º, art. 1º, pois, se há PREVISÃO LEGAL para o ato, ou ainda, se ato resultar de
MEDIDA LEGAL, NÃO HÁ crime de TORTURA.

CRIME DE OMISSÃO NO DEVER


§ 2º Aquele que se OMITE em face dessas condutas, quando tinha o DEVER de EVITÁ-
LAS ou APURÁ-LAS, incorre na pena de DETENÇÃO de 1 a 4 anos.

Comentários:

1) Observe esta assertiva: “Aquele que se omite em face de conduta tipificada como crime
de tortura, quando tinha o dever de evitá-la ou apurá-la, será punido com as mesmas
penas do autor do crime de tortura”. Está ERRADA! Na verdade, aquele que se OMITE
quando tinha o DEVER de EVITÁ-LO ou APURÁ-LO, será punido com pena de
detenção de 1 a 4 anos, e não com as mesmas penas.
2) Essa tortura recebe conceitos doutrinários de TORTURA IMPRÓPRIA, ANÔMALA
ou ATÍPICA.
3) Conforme preceitua o § 7º da lei em comento – “O condenado por crime previsto nesta
Lei, salvo a hipótese do § 2º (tortura omissiva), iniciará o cumprimento da pena em
regime fechado”. Assim, fica evidente que o legislador, na tortura omissiva, estipulou
OUTRO REGIME DE PENA (semiaberto) para quem cometer esse delito,
caracterizando-se a única hipótese na lei.
4) A TORTURA OMISSIVA também NÃO SERÁ CONSIDERADA crime equiparado a
HEDIONDO.
5) Veja está assertiva: “Um agente de polícia resolveu torturar um preso sob sua guarda,
e, antes que isso ocorresse, o delegado responsável tomou conhecimento da intenção
do agente. O delegado não concordava com a tortura e não a praticou, mas nada fez
para evitá-la. Nessa situação, tanto o agente quanto o delegado poderiam ser
responsabilizados penalmente, com base na lei que define os crimes de tortura”. Está
CORRETO! No caso em tela, ambos deveriam responder pelo delito de tortura, pois
tanto aquele que pratica o delito quanto aquele que se OMITE, ou seja, não age para
impedir a tortura, embora tenha o dever de fazê-lo, responde pelo delito. Portanto, no
presente caso, AMBOS deverão responder pelo delito.
6) Observe esta outra assertiva: “Determinado policial militar efetuou a prisão em
flagrante de Luciano e o conduziu à delegacia de polícia. Lá, com o objetivo de fazer
Luciano confessar a prática dos atos que ensejaram sua prisão, o policial responsável
por seu interrogatório cobriu sua cabeça com um saco plástico e amarrou-o no seu
pescoço, asfixiando-o. Como Luciano não confessou, o policial deixou-o trancado na
sala de interrogatório durante várias horas, pendurado de cabeça para baixo, no
escuro, período em que lhe dizia que, se ele não confessasse, seria morto. O delegado
de polícia, ciente do que ocorria na sala de interrogatório, manteve-se inerte. Em
depoimento posterior, Luciano afirmou que a conduta do policial lhe provocara intenso
sofrimento físico e mental. Considerando a situação hipotética acima e o disposto na
Lei Federal n.º 9.455/1997, julgue o item subsequente. O delegado não pode ser
considerado coautor ou partícipe da conduta do policial, pois o crime de tortura
somente pode ser praticado de forma comissiva”. Está ERRADA! Pois quem se omite
responde também pelo crime, conforme prevê o §2º art. 1º da Lei em comento.
7) Veja esta outra assertiva: “O agente carcerário X dirigiu-se ao escrivão de polícia Y
para informar que, naquele instante, o agente carcerário Z estava cometendo crime de
tortura contra um dos presos e que Z disse que só pararia com a tortura depois de
obter a informação desejada. Nessa situação hipotética, se nada fizer, o escrivão Y
responderá culposamente pelo crime de tortura”. Está ERRADA! Responderá
DOLOSAMENTE, e não culposamente como aponta a questão, pelo crime de tortura,
no caso, em uma modalidade que pune a omissão de quem tinha o dever de apurar
um deito de tortura.
8) Observe esta assertiva: “O delegado que se omite em relação à conduta de agente
que lhe é subordinado, não impedindo que este torture preso que esteja sob a sua
guarda, incorre em pena mais branda do que a aplicável ao torturador”. Está
CORRETA! Segundo a Lei 9.455/97, quem comete o crime de tortura é punível com
RECLUSÃO (2 a 8 anos) e aquele que se OMITE em face dessas condutas, quando
tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de DETENÇÃO (1 a 4 anos).

TORTURA QUALIFICADA OU PRETERDOLOSA


§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza GRAVE ou GRAVÍSSIMA, a pena é de
RECLUSÃO de 4 a 10 anos; se resulta MORTE, a RECLUSÃO é de 8 a 16 anos.

Comentários:

1) CUIDADO: A tortura qualificada, por ser preterdolosa, NÃO ADMITE tentativa.


2) ATENÇÃO: Consoante a doutrina moderna, a diferença entre o crime de tortura
qualificada pelo resultado morte (art.1º, § 3º) e o crime de homicídio qualificado pelo
emprego da tortura (art. 121, § 2º, III do Cód. Penal) reside no dolo (animus ou
vontade) do agente criminoso. Assim, se o agente desejar o resultado morte, ainda
que eventual, estará configurado o delito de homicídio qualificado (pela tortura).
3)

§ 4º AUMENTA-SE a pena de 1/6 até 1/3:


I - se o crime é cometido por AGENTE PÚBLICO;
II – se o crime é cometido contra CRIANÇA, GESTANTE, portador de DEFICIÊNCIA,
ADOLESCENTE ou MAIOR DE 60 (sessenta) anos;
III - se o crime é cometido mediante SEQUESTRO.

Comentários:

1) Para memorizar as causas de AUMENTO PENA (1/6 a 1/3) nos crimes de TORTURA,
basta lembrar de SAGA MDC (Star Wars- Máximo Divisor Comum):
S- Sequestro (mediante)
A- Adolescente
G- Gestante
A- Agente público (cometido por)
M- Maior de 60 anos (idoso)
D- Deficiente
C- Criança

2) CUIDADO: O STJ entende que o aumento de pena se estende, também, ao delito de


CÁRCERE PRIVADO (art. 148 CP) e EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (art.
159, CP).
3) Veja esta assertiva: “Quando chegava em sua residência no Lago Sul, em Brasília -
DF, HH teve o seu veículo interceptado por dois indivíduos armados (AA e BB), que
lhe ordenaram que se dirigisse até o município de Formosa - GO, onde ficou retido em
um casebre na periferia. No dia seguinte, AA entrou em contato com a família de HH
e exigiu a importância de R$ 500.000,00 para colocá-lo em liberdade. Nesse ínterim,
em razão de discriminação religiosa, BB infligiu a HH intenso sofrimento físico,
colocando-o em um pau-de-arara e aplicando-lhe choques elétricos em várias regiões
do corpo. A família de HH resolveu pagar o resgate a AA, que recebeu o dinheiro na
cidade-satélite de Planaltina - DF, local onde prestou, por telefone, à autoridade policial
informações necessárias para a libertação do sequestrado e a prisão de BB. A polícia
judiciária, informada do local do cativeiro, libertou HH e prendeu BB, conduzindo-o até
a cidade de Alto Paraíso - GO, onde foi lavrado o auto de prisão em flagrante. AA, que
conseguiu fugir, visando dissimular a natureza e a origem do dinheiro recebido com o
resgate, abriu uma empresa de transporte de cargas e adquiriu vários imóveis na
cidade de Goiânia – GO. Diante dessa situação hipotética, julgue o item seguinte. BB
responderia pelo crime de tortura, com o aumento da pena em razão de ter sido
cometido mediante sequestro”. Está ERRADA! Vamos diferenciar DOIS casos:
1. Lei Tortura: “Art. 1º Constitui crime de tortura...
...§4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço
...III- se o crime é cometido mediante sequestro
Para ocorrer o crime de tortura com aumento de pena, deve haver APENAS um
desígnio (um dolo)
Exemplo: O agente “A” quer praticar tortura em “B”, e o sequestra com ESSA
FINALIDADE. Nesse caso, haverá o crime de TORTURA + AUMENTO DE PENA pelo
sequestro ser usado nesse fim.
2. Código Penal: “Extorsão mediante sequestro Art. 159- Sequestrar
pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate”.
Agora vejam a questão: AA e BB sequestram HH para obter vantagem.
Aproveitando-se que HH está lá, praticam tortura por causa de sua religião.
Observem que há desígnios autônomos (dolos distintos) entre as condutas.
Logo, os agentes devem responder em CONCURSO MATERIAL DE CRIMES
por EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO + TORTURA.
4) Observe essa assertiva: “Um grupo de religiosos radicais capturou uma pessoa de
outra religião e contra ela praticou longa sessão de ofensas, ameaças e castigos
físicos. A vítima, posteriormente, comunicou o fato à polícia judiciária, que o apurou. O
promotor de justiça que recebeu o inquérito ofereceu denúncia contra o grupo pelos
crimes de ameaça e lesões corporais, afastando a imputação de tortura pelo fato de
os integrantes do grupo não serem funcionários públicos. Nessa situação, o promotor
de justiça incidiu em erro, pois a lei que reprime a tortura não pune apenas agentes
públicos, mas pode também alcançar particulares”. Está ERRADA! Perceba que,
segundo o inciso I, §4º, art. 1º da Lei de Tortura, o fato do torturador ser agente público
é causa de aumento de pena, mas isso não significa que apenas funcionários públicos
podem praticar o crime de tortura. Destarte, conforme afirmado pela questão, o
promotor de justiça incidiu em erro ao afastar a imputação de tortura com fulcro apenas
no fato dos agressores não serem funcionários públicos.

EFEITOS DA CONDENAÇÃO
§ 5º A CONDENAÇÃO ACARRETARÁ a PERDA do cargo, função ou emprego público e
a interdição para seu exercício pelo DOBRO do prazo da pena aplicada.

Comentários:

1) Em outras palavras, apresentada pela Cespe, “A condenação de agente público por


delito previsto na Lei de Tortura acarreta, como efeito extrapenal automático da
sentença condenatória, a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição
para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada, segundo entendimento do
STJ”.
2) Para facilitar memorização do dispositivo, segue esquema abaixo:

3) A doutrina majoritária e a banca examinadora CESPE/UNB entendem que o efeito da


condenação é AUTOMÁTICO, ou seja, NÃO DEPENDE de motivação na sentença
feita pelo juiz.
4) Diferentemente da Lei 9.455/97 (Lei da Tortura), e Lei 7.716/89 (Racismo) seus efeitos
NÃO são automáticos:
5) Para facilitar a memorização segue tabela-resumo abaixo:

LEI EFEITOS DA CONDENAÇÃO


TORTURA AUTOMÁTICOS
RACISMO NÃO AUTOMÁTICO
6) Se um integrante de corporação policial militar for processado penalmente pela prática
de tortura ao submeter agente preso por sua guarnição a sofrimento físico intenso com
a intenção de obrigá-lo a delatar os comparsas, o julgamento do processo deverá
ocorrer na justiça comum, e a eventual condenação implicará, automaticamente, a
perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo
dobro do prazo da pena aplicada, como efeito automático da condenação,
dispensando-se motivação circunstanciada.
7) Observe esta assertiva:” O policial condenado por induzir, por meio de tortura praticada
nas dependências do distrito policial, um acusado de tráfico de drogas a confessar a
prática do crime perderá automaticamente o seu cargo, sendo desnecessário, nessa
situação, que o juiz sentenciante motive a perda do cargo”. Está CORRETA! De acordo
com o disposto no art. 1º, parágrafo 5º, da Lei 9.455/97, a condenação acarretará a
perda do cargo função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro
do prazo da pena aplicada. É certo, no entanto, que de acordo com a
JURISPRUDÊNCIA NÃO É NECESSÁRIO que o referido efeito da condenação esteja
expresso na sentença, pois trata-se de consequência legal. Vejamos abaixo trecho de
uma decisão do STJ:
“A Lei 9.455/97, em seu art. 1º, §5º, evidencia que a perda do cargo público é efeito
automático e obrigatório da condenação pela prática do crime de tortura, sendo
DESNECESSÁRIO fundamentação específica para tal”.
8) Veja esta assertiva: “Bento, após fazer uso de substância entorpecente, consumindo
um cigarro de maconha, foi preso em flagrante por agentes de polícia. Na delegacia,
os agentes, com o intuito de obterem informações a respeito do nome do traficante que
fornecia a substância entorpecente, colocaram Bento em um pau-de-arara e deram-
lhe choques elétricos, causando-lhe intenso sofrimento físico. Em face dos
constrangimentos, Bento assinou um termo de declarações indicando o nome do
traficante, Ivo, e o local onde era realizada a difusão ilícita do tóxico, tendo os agentes,
em decorrência das informações, apreendido 10 kg de maconha e prendido em
flagrante o traficante. Foi lavrado o auto de prisão em flagrante de Ivo pela prática de
tráfico ilícito de entorpecente. O advogado de Ivo impetrou uma ordem de habeas
corpus objetivando a nulidade do flagrante, alegando constrangimento ilegal. Com
relação a essa situação hipotética, julgue o item que se segue. Os agentes de polícia
que participaram da oitiva de Bento praticaram crime de tortura, sendo que a
condenação, caso advenha, acarretará a perda do cargo público”. Está CORRETA!
Pois segundo a lei 9.455/97, constitui crime de tortura constranger alguém com
emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com
o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa
(art. 1º, I, “a”). A mesma norma (art. 1º, §5º) diz que a condenação acarretará a perda
do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do
prazo de pena aplicada. Assim, os agentes policiais cometerem o crime de tortura
contra Bento e devem perder o cargo.
9) Observe esta assertiva: “Um agente de polícia civil foi condenado a 6 anos de reclusão
pela prática de tortura contra preso que estava sob sua autoridade. Nessa situação, o
policial condenado deve perder seu cargo público e, durante 12 anos, ser-lhe-á vedado
exercer cargos, funções ou empregos públicos”. Está CORRETA! É literalidade da Lei
9.455/97 em art. 1º, §5º. Como a condenação foi de 6 anos, a interdição para seu
exercício será de 12 anos (o DOBRO da pena). Assim, o policial condenado deve
perder seu cargo público e, durante 12 anos, ser-lhe-á vedado exercer cargos, funções
ou empregos públicos.

§ 6º O crime de TORTURA é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

Comentários:

1) Para memorizar quais crimes são imprescritíveis, inafiançáveis e insuscetível de graça


e anistia, segue esquema abaixo:

2) O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia + indulto


(acrescentado pelo STF)
3) Veja esta assertiva: “Um agente penitenciário submeteu a intenso sofrimento físico um
preso que estava sob sua autoridade, com o objetivo de castigá-lo por ter incitado os
outros detentos a se mobilizarem para reclamar da qualidade da comida servida na
penitenciária. Nessa situação, o referido agente cometeu crime inafiançável”. Está
CORRETA! Pois é conduta tipificada no art. 1º, inciso II, da Lei 9.455/97, e tal conduta
(a TORTURA) é crime INAFIANÇÁVEL além de insuscetível de graça ou anistia.

REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA


§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, SALVO a hipótese do § 2º, iniciará o
cumprimento da pena em REGIME FECHADO.
Comentários:

1) A exceção é aquele que se OMITE em face dessas condutas, quando tinha o DEVER
de EVITÁ-LAS ou APURÁ-LAS, cuja a pena é de DETENÇÃO de 1 a 4 anos.
2)

PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime NÃO tenha sido cometido em
TERRITÓRIO NACIONAL, sendo a vítima BRASILEIRA ou encontrando-se o agente em local
sob JURISDIÇÃO BRASILEIRA.

Comentários:

1) O princípio da EXTRATERRITORIALIDADE está previsto no CP em seu art. 7°,


sendo que as causas que não dependerão de nenhuma condição são chamados de
TERRITORIALIDADE INCONDICIONADA e estão no inciso I:
a. contra a vida ou a liberdade do PRESIDENTE DA REPÚBLICA;
b. contra o PATRIMÔNIO ou a FÉ PÚBLICA da União, do Distrito Federal, de
Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de
economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c. contra a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, por quem está a seu serviço;
d. de GENOCÍDIO, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
2) O que a lei de tortura fez foi aumentar esse rol prevendo mais um caso de
extraterritorialidade incondicionada.
3) Para facilitar memorização do dispositivo acima, quando a aplicação da Lei de
Tortura, segue quadro-resumo:
SUJEITO LOCAL
 Dentro do Brasil
Vítima brasileira
CRIME DE TORTURA  Fora do Brasil
Agente  Dentro do Brasil

4) Veja esta assertiva: “O condenado por crime de tortura cumprirá a pena privativa de
liberdade imposta em regime integralmente fechado, por tratar-se de crime hediondo”.
Está ERRADA! Pois a lei de tortura diz que o condenado por crime de tortura, SALVO
aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evita-las ou
apurá-las, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. Ou seja, existe a
possibilidade de início do cumprimento da pena fora do regime fechado. Até 2007 a lei
de crimes hediondos dizia que a pena nos crimes de tortura deveria ser cumprida
integralmente em regime fechado (antigo §1º do art. 2º). Decisão do Supremo de 2006
e a lei 11.464/07 disseram que a pena será cumprida INICIALMENTE em regime
fechado.
5) Observe esta assertiva: “Pela lei que define os crimes de tortura, o legislador incluiu,
no ordenamento jurídico brasileiro, mais uma hipótese de extraterritorialidade da lei
penal brasileira, qual seja, a de o delito não ter sido praticado no território e a vítima
ser brasileira, ou encontrar-se o agente em local sob a jurisdição nacional”. Está
CORRETA! As hipóteses são:
 Ser a VÍTIMA BRASILEIRA; ou
 Torturador encontrar-se em local sob jurisdição brasileira.
Assim, pela lei que define os crimes de tortura, o legislador incluiu, no ordenamento
jurídico brasileiro, mais uma hipótese de extraterritorialidade da lei penal brasileira, qual
seja, a de o delito não ter sido praticado no território e a vítima ser brasileira, ou
encontrar-se o agente em local sob a jurisdição nacional.

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