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JOSÉ VICENTE DE AZEVEDO PIRES BARRETO FONSECA

A PESQUISA CIENTÍFICA COMO


FATOR DE PREVENÇÃO E REPRESSÃO CRIMINAIS

ACADEPOL / SÃO PAULO


2006
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JOSÉ VICENTE DE AZEVEDO PIRES BARRETO FONSECA

A PESQUISA CIENTÍFICA COMO


FATOR DE PREVENÇÃO E REPRESSÃO CRIMINAIS

Dissertação apresentada à banca


examinadora como exigência parcial
para aprovação na Seleção de
Professor Temporário de Metodologia
da Pesquisa Científica da Academia
de Polícia Coriolano Nogueira Cobra.

ACADEPOL / SÃO PAULO


2006
iii

SUMÁRIO p.

1. RESUMO .................................................................................................... 01

2. INTRODUÇÃO............................................................................................ 02
2.1 Teoria metodológica................................................................................... 02
2.1.1 Metodologia, método, métodos e técnicas.............................................. 03
2.1.2 Ciência..................................................................................................... 07
2.2 Pesquisa científica...................................................................................... 08
2.2.1 Conceito de pesquisa.............................................................................. 09
2.2.2 Elementos ou componentes.................................................................... 12
2.2.3 Tipos de pesquisa.................................................................................... 16
2.2.4 O projeto de pesquisa.............................................................................. 18
2.2.5 Fases da pesquisa................................................................................... 21
2.2.6 Pesquisa científica e prestação de serviço.............................................. 28
2.2.7 A ética na pesquisa................................................................................. 29

3. A PESQUISA COMO FATOR DE PREVENÇÃO E REPRESSÃO CRIMINAIS.... 30


3.1 Ciência e crime.......................................................................................... 33
3.2 Pesquisa científica e prevenção criminal................................................... 35
3.3 Pesquisa científica e repressão criminal.................................................... 39
3.3.1 Repressão criminal.................................................................................. 39
3.3.2 Metodologia e investigação..................................................................... 41
3.3.3 Pesquisa científica e investigação policial............................................... 43

4. CONCLUSÃO.............................................................................................. 46

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 47
1

1. RESUMO

Este trabalho teve como objetivo discorrer sobre a realidade da atividade de

pesquisa científica de abordagem preventivo e repressivo criminais no âmbito da

sociedade brasileira e, especialmente, da Polícia Civil, apontando algumas

pesquisas já realizadas e propondo o estudo científico de alguns problemas

específicos de interesse para a polícia judiciária.

Após tratar da doutrina metodológica, que envolve o conceito de ciência,

discorremos sobre diversos aspectos da pesquisa científica, como seus elementos,

suas fases, o projeto de pesquisa e a questão ética.

Feito o corte epistemológico do crime, passamos a analisar as possibilidades

de cada ciência para com a construção de um conhecimento útil à repressão ou

prevenção criminal. Apresentamos alguns desses conhecimentos produzidos e

apontamos outros que demandariam atenção de novas pesquisas.

Palavras-chave: pesquisa científica, metodologia, prevenção criminal, repressão

criminal, investigação policial.


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2. INTRODUÇÃO

2.1 Teoria metodológica

A teoria metodológica é, ontologicamente, una, mas, didaticamente, pode ser

dividida, como de fato o fazem muitos dos autores que tratam do tema, em três

ramos, a saber: a metodologia científica, a metodologia da pesquisa (ou Métodos e

Técnicas de Pesquisa) e a metodologia do trabalho intelectual e científico

(OLIVEIRA, 2004; SALOMON, 2001).

Metodologia, segundo Demo (1989, p. 11), na acepção da palavra significa

“estudo dos caminhos, dos instrumentos usados para se fazer ciência”. Atribuindo

um significado mais estrito a esse termo, Demo (1989) prossegue afirmando que a

metodologia tem outra finalidade, qual seja, problematizar criticamente com vistas a

encontrar os limites da capacidade de conhecer e de intervir na realidade. Não

basta, então, usando a mesma figura de linguagem, estudar os caminhos sem pô-los

à prova, detectando seus atalhos e suas emboscadas.

A metodologia científica se ocupa do conhecimento humano em suas várias

dimensões, da definição de ciência, do discurso e das fontes primárias do

pensamento. Concebida como metaciência, ocupa-se da natureza do método

científico e de sua relação com o conhecimento, enquanto processo e produto.

Constituem seus desdobramentos, segundo Salomon (2001, p. 8), o conhecimento

científico, a construção da teoria científica, a lei e a proposição científica, a


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categoria, a hipótese, a explicação científica, as variáveis e sua função na

explicação científica e o processo da pesquisa.

A metodologia da pesquisa – ou Métodos e Técnicas de Pesquisa – indica as

estratégias a serem utilizadas nas diversas fases da construção do conhecimento

por meio da realização do projeto de pesquisa. A pesquisa, em essência, visa à

produção de um conhecimento novo, relevante teórica e socialmente e fidedigno

(LUNA, 2000, p. 15).

A metodologia do trabalho intelectual e científico tem por objeto, segundo

Gutierrez Sáenz e Sanches González (1973 apud SALOMON, 2001, p. 7): a

aprendizagem significativa, a motivação do trabalho intelectual, as qualidades do

intelectual, a metodologia do estudo (atitude em aula, ambiente de estudo, leitura,

biblioteca, anotações e fichas) e a metodologia do trabalho científico (pesquisa

científica; métodos gerais de pesquisa; estrutura, etapas e redação de um trabalho

científico; e normalização da documentação).

O conteúdo da metodologia da pesquisa se confunde, até certo ponto, com o

da metodologia do trabalho intelectual, que também aborda a pesquisa, porém, de

forma mais genérica, sem abordar os métodos específicos de cada uma de suas

fases.

2.1.1 Metodologia, método, métodos e técnicas

O conceito de metodologia já foi apresentado quando se tratou da teoria

metodológica. A metodologia, para atingir seus objetivos, se vale dos métodos e das

técnicas, embasados em algum método de abordagem.


4

O método distingue-se, para grande parte dos teóricos, dos métodos. Essa

distinção, salientam Lakatos e Marconi (2004, p. 90), diz respeito à inspiração

filosófica, ao grau de abstração, à finalidade mais ou menos explicativa, à ação nas

etapas mais ou menos concretas da investigação e ao momento em que se situam.

Ao método, elas dão a denominação de método de abordagem, pois é caracterizado

“por uma abordagem mais ampla, em nível de abstração mais elevado, dos

fenômenos da natureza e da sociedade” (grifo nosso). Por relacionar-se com o plano

geral do trabalho, o método de abordagem é, normalmente, exclusivo, não cabendo

a utilização de mais de um na mesma pesquisa (ANDRADE, 2001).

O método de abordagem pode ser classificado, segundo o tipo de raciocínio

adotado, em:

 Método indutivo – pela observação dos fenômenos e da descoberta da

relação entre eles, procura-se chegar a conclusões mais amplas a respeito

daqueles, ou ao que pode ser chamado de generalização da relação. É o

método preconizado pela escola indutivista ou empirista, que tem como

representantes de maior expressão os ingleses Francis Bacon (1561-

1626), John Locke (1632-1704) e David Hume (1711-1776);

 Método dedutivo – o raciocínio desenvolve-se partindo do geral (leis ou

teorias) para a concretude do fenômeno particular. Os seus defensores,

tendo à frente Descartes (1596-1650) e seu seguidor Leibniz (1646-1716),

constituem a denominada escola racionalista;

 Método hipotético-dedutivo – inicia-se “pela percepção de uma lacuna nos

conhecimentos acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo de

inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos


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abrangidos pela hipótese” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 106). Suas

premissas foram lançadas pelo vienense Karl Raimond Popper na obra

Logik der Forschung, onde propôs o critério de demarcação científica da

falsificabilidade, em substituição ao da verificabilidade (QUINTANILLA,

1996, p. 225-226);

 Método dialético – extrai o conhecimento do perene confronto entre tese e

antítese, que pela ação recíproca, produz um resultado novo – síntese –,

porém, sempre provisório.

Para o empirismo “a razão não possui nenhum patrimônio apriorístico”

(HESSEN, 1999, p. 54), sendo a experiência a única fonte do conhecimento

humano. Antagonicamente, o racionalismo enxerga na razão a principal fonte do

conhecimento, ignorando a experiência. Essas concepções radicais estão, hoje em

dia, superadas pelos resultados das modernas teorias psicológicas que: a)

reconhecem pensamento nas percepções mais simples, distinguindo-as dos

conceitos, o que desacredita o empirismo e; b) desconhecem conceitos inatos,

condicionando sua formação à experiência, o que põe por terra a tese racionalista

(HESSEN, 1999, p. 64-65).

Quando se fala em pesquisa empírica, ou seja, realizada pelo método

indutivo, não se está ignorando o papel da razão, apenas se está priorizando um

modo de obtenção do conhecimento, que parte das percepções dos fatos

particulares e chega, após, à confirmação das hipóteses. Não há que se confundir,

portanto, a pesquisa que opta pelo método indutivo ou empírico, com o movimento

empirista
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Os métodos de procedimento, segundo Lakatos e Marconi (2001), dizem

respeito a etapas mais concretas da investigação. As diversas áreas de pesquisa

possuem, cada qual, seus métodos de procedimento específicos, tendo em conta

suas peculiaridades de manejo da realidade posta. É possível a utilização de mais

de um dos métodos de procedimento numa mesma pesquisa científica.

Como exemplo de métodos de procedimento, podem ser indicados, na área

social, os métodos histórico, comparativo, monográfico, estatístico, tipológico,

funcionalista e estruturalista (LAKATOS; MARCONI, 2004), e na área jurídica, os

métodos teórico-jurídico, exegético-analítico, de análise histórica e jurídico

comparado (SERRANO, 2001).

As técnicas de pesquisa configuram “a instrumentalização específica da

coleta de dados” (ANDRADE, 2001, p. 135), assim, envolvem a parte material ou

prática do procedimento de coleta de dados. Dividem-se em documentação indireta

e documentação direta. Esta última pode dar-se pela observação direta intensiva

(observação, entrevista) ou pela observação direta extensiva (questionário,

formulário, testes, sociometria, pesquisa de mercado etc.). A documentação indireta

abrange a pesquisa documental e a bibliográfica (Cf. LAKATOS; MARCONI, 2001, p.

43 e 107).

Sob outra concepção, métodos e técnicas diriam respeito a uma abordagem

mais restrita da realidade, envolvendo apenas o trato da realidade empírica, ao

passo que a metodologia avançaria, sob essa mesma ótica, sobre indagações cujas

respostas não podem ser dadas somente pelo empirismo (DEMO, 1989, p. 12).
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2.1.2 Ciência

Uma boa definição de ciência é apresentada por Ander-Egg (1978, p. 15),

citado por Lakatos e Marconi (2004, p. 22): “a ciência é um conjunto de

conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente

sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma

natureza”. Dela defluem as principais características que distinguem o conhecimento

científico dos conhecimentos popular, filosófico e religioso.

O conhecimento científico se distingue do conhecimento popular sobretudo

por ser aquele sistemático e real ou factual, enquanto este é assistemático e

valorativo, fundado em estados de ânimo e emoções.

Distingue-se do conhecimento filosófico e do religioso, em grande medida, por

ser verificável e falível, ao passo que estes não são verificáveis e falíveis, pois

possuem, assim como o conhecimento popular, um caráter valorativo.

Para Trujillo (1974, p. 8 apud LAKATOS; MARCONI, 2004, p. 22), “a ciência é

todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático

conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”. Essa

definição reforça a distinção entre o conhecimento científico e filosófico, pois destaca

o caráter contingencial da ciência, que exige experimentação, não se contentando

apenas com a razão para a verificação da veracidade ou falsidade das proposições

ou hipóteses levantadas, o que é da essência do conhecimento filosófico.

Ciência não se confunde com ideologia nem com senso comum (Cf. DEMO,

1989, p. 18). Deste distingue-se por ser o conhecimento dele decorrente acrítico,

imediatista e crédulo. Da ideologia porque esta possui um caráter justificador de


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posições sociais vantajosas, sendo tendenciosa, o que não significa que não possa

se valer de instrumentos científicos para deturpar a realidade. Entretanto, tanto

ideologia como senso comum permeiam a atividade científica: este, porque seria

impossível o conhecimento especializado de toda a realidade; aquela, porque

sempre há interesses influenciando o conhecimento.

2.2 Pesquisa científica

A pesquisa científica é o caminho necessário para se alcançar o

conhecimento científico. É por meio dela que a sociedade humana se desenvolve e

permite que o conhecimento seja transmitido e aperfeiçoado de geração em

geração. Aquele que se dedica à pesquisa desenvolve o seu senso crítico, a sua

capacidade de reter e transmitir pensamentos, motivo pelo qual é “reconhecida

como a razão fundante da vida acadêmica, de tal sorte que a função docente dela

decorreria” (DEMO, 1989, p. 11).

A pesquisa científica, na sociedade hodierna, é exigência social, fazendo

parte das estratégias empresariais e dos planos governamentais. Muitas empresas

investem maciçamente na pesquisa, pois além dos benefícios fiscais que lhes são

concedidos, o retorno financeiro advindo das invenções e inovações tecnológicas,

que recebem amparo da lei da propriedade industrial, pode superar em grande

monta o investimento inicial.

No que diz respeito ao Estado, é sua incumbência, por determinação

constitucional (art. 218 da Constituição da República), promover e incentivar o

desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas. Segundo o § 1º


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do mesmo artigo, a pesquisa científica básica deve receber tratamento prioritário do

Estado, tendo em vista o bem público e o progresso da ciência. A pesquisa

tecnológica, por sua vez, deve voltar-se preponderantemente para a solução dos

problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e

regional (§ 2º).

Essas diretrizes constitucionais devem permear todos os planos e programas

governamentais. O Plano Nacional de Segurança Pública de 2000, por exemplo,

estatuiu dentro dos programas de apoio aos policiais a necessidade de “estimular a

educação formal, a pesquisa científica e a profissionalização do policial” (item 95).

O pesquisador experimentado, que já superou o enfado inerente a toda nova

atividade humana, comunga da opinião de Booth, Colomb e Williams (2000, p. 3),

para quem “a pesquisa oferece o prazer de resolver um enigma, a satisfação de

descobrir algo novo, algo que ninguém mais conhece, contribuindo, no final, para o

enriquecimento do conhecimento humano”.

2.2.1 Conceito de pesquisa

Lakatos e Marconi (2001, p. 43) definem pesquisa como sendo “um

procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um

tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para

descobrir verdades parciais”. Entretanto, a pesquisa consiste em algo muito mais

amplo do que apenas procurar a verdade, pois deve oferecer respostas a

indagações, daí preferirmos o conceito de Luna (2000, p. 15), para quem pesquisa

é, em essência, a “produção de conhecimento novo, relevante teórica e socialmente

e fidedigno”. Nesse conceito encontram-se os elementos essenciais de uma


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pesquisa: a) conhecimento novo; b) relevância teórica ou social da pesquisa e; c)

fidedignidade do conhecimento produzido.

Com relação ao conhecimento novo, Eco (2002) salienta que para que o

estudo seja considerado científico é necessário que diga do objeto algo que não foi

dito ou reveja sob uma óptica diferente o que já se disse. Assim, o conhecimento

novo não significa necessariamente aquele que jamais tenha sido obtido por outras

pesquisas, mas que tenha uma nova forma de enfrentamento: numa monografia de

compilação, por exemplo, o trabalho consistirá na exposição do pensamento dos

vários autores que escreveram sobre o tema escolhido, isto é, o pesquisador não

criará novos pensamentos, mas organizará logicamente os existentes, agregando-

os, opondo-os e harmonizando-os de maneira clara e didática (RIZZATTO NUNES,

2001).

Alguns autores, entretanto, adotam conceito estrito de novidade para a

configuração de um trabalho científico, entendendo como tal apenas os que

realmente agreguem algo de novo (Cf. RIZZATTO NUNES, 2001, p. 29). Para eles, a

monografia de compilação só seria científica se conseguisse compilar toda a

bibliografia concernente a determinado assunto, exaurindo a pesquisa e tornando

seu resultado útil à comunidade acadêmica, o que seria um trabalho árduo e

dificultoso.

Se uma dissertação de mestrado não exige originalidade, fator que a

distingue fundamentalmente de uma tese de doutorado (Cf. SEVERINO, 2002), não

seria razoável ter esse requisito como imprescindível para a elaboração dos demais

trabalhos científicos, que normalmente ostentam menor rigor que aquela.


11

Outro elemento da definição de pesquisa apresentada por Luna (2000) é a

relevância teórica ou social do conhecimento a ser produzido.

Elucida o mencionado autor que a preocupação com a relevância teórica ou

social do tema não pode ser de tal monta que leve o pesquisador a “esperar [...]

resultados [...] definitivos em relação a problemas nacionais seculares” ou a

“imobilizar-se à procura do absolutamente original”, e arremata que a tendência é

que para a solução dos grandes problemas haja um trabalho de criação coletiva,

pois a ciência é uma atividade social de caráter coletivo (LUNA, 2000).

A relevância social do tema, pondera Severino (2002, p. 159), assume

especial gravidade em um país como o nosso, marcado por diversas e profundas

contradições.

O conhecimento produzido pela pesquisa é caracterizado por Luna (2000)

como fidedigno, qualidade presente nas respostas às questões oferecidas pela

pesquisa que contenham confiabilidade. Esta se faz presente quando se satisfaz a

necessidade de se explicitar os meios de transformação dos dados obtidos na

pesquisa no conhecimento dela decorrente, e de se demonstrar porque a resposta

encontrada foi a melhor dentre as possíveis, consideradas as alternativas

descartadas.

Salomon (2001, p. 152) define pesquisa genericamente como “trabalho

empreendido metodologicamente, quando surge um problema, para o qual se

procura a solução adequada de natureza científica”. Ao fazê-lo, dá destaque ao

caráter metodológico da pesquisa para que seja considerada científica. Se o

método, por si, não leva ao conhecimento científico, este não pode ser obtido sem

aquele.
12
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2.2.2 Elementos ou componentes

Existem elementos ou componentes necessários à realização de qualquer

pesquisa científica, que não indicam, necessariamente, um roteiro a ser seguido,

dada a natureza dinâmica da atividade de pesquisa. Luna (2000, p. 16-17) indica

esses elementos como sendo:

1) A formulação de um problema de pesquisa [...];


2) a determinação das informações necessárias para encaminhar as
respostas às perguntas feitas;
3) a seleção das melhores fontes dessas informações;
4) a definição de um conjunto de ações que produzam essas
informações;
5) a seleção de um sistema para tratamento dessas informações;
6) o uso de um sistema teórico para interpretação delas;
7) a produção de respostas às perguntas formuladas pelo problema;
8) a indicação do grau de confiabilidade das respostas obtidas [...];
9) finalmente, a indicação da generalidade dos resultados [...].
O problema de pesquisa, segundo os ensinamentos de Booth, Colomb e

Williams (2000, p. 46), surge da transformação de tópicos em perguntas, e destas

em problemas. Assim, com o fito de obter perguntas de tópicos, o primeiro passo do

pesquisador consiste em “encontrar um interesse numa ampla área temática”, após

restringi-lo a “um tópico plausível”, depois, “questionar esse tópico sob diversos

pontos de vista” (quem, como, porque, o que) e, por fim, “definir um fundamento

lógico para o projeto”. O problema de pesquisa como pergunta ou conjunto de

perguntas possibilitará uma delimitação mais clara do tema e, assim, tornar-se-á um

guia para a tomada de decisões (Cf. LUNA, 2000).

Para transformar as perguntas em problemas o pesquisador “precisa

transformar seu motivo para descobrir em motivo para demonstrar e, mais


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importante ainda, transformar o motivo para entender em motivo para explicar e

convencer” (BOOTH; COLOMB; WILLIAMS, 2000, p. 46, grifo do autor).

Segundo Luna (2000), há consenso entre os autores no sentido de se

considerar a relevância e a originalidade como fatores primordiais na formulação de

um problema. Essas qualidades (relevância e originalidade) já foram mencionadas

neste trabalho quando tratou-se do conceito de pesquisa 1.

Os elementos indicados por Luna (2000) pelos números 2, 3 e 4, supra,

correspondem ao procedimento da pesquisa, que consiste num conjunto de passos

que possibilitam a geração de informação relevante. O procedimento justifica-se pela

impossibilidade de obtenção direta da realidade: apenas efetuando-se um recorte da

realidade se torna possível a resolução do problema de pesquisa.

A decisão sobre o melhor procedimento de coleta de informações a ser

adotado, leciona Luna (2000, p. 49), “depende de outras decisões”, como “a

natureza do problema e a sua relação com a teoria, o detalhamento das questões

selecionadas, o tipo de tratamento que se pretende ou se precisa dar às

informações, etc”.

Ao tratar das fontes de informação, a teoria metodológica traz uma série de

regras e classificações. Luna (2000), por exemplo, classifica-as em quatro tipos,

conforme decorram de: a) observação direta; b) observação indireta; c) relato verbal

direto e indireto e; d) documento. Eco (2002, p. 35) adota outra classificação,

tratando-as por: a) fontes primárias (objeto); b) fontes secundárias (instrumento) e;

c) literatura crítica. Lakatos e Marconi (2001), por sua vez, tratando-as por processos

de obtenção de dados, apresentam a seguinte classificação: a) documentação

direta, que se divide em pesquisa de campo e pesquisa de laboratório e; b)

1
V. item 2.2.1, p. 9.
15

documentação indireta, consistente em pesquisa documental (fontes primárias) ou

pesquisa bibliográfica (fontes secundárias).2

Com relação às regras concernentes às fontes, convém destacar duas

apresentadas por Luna (2000, p. 54, grifo do autor): 1ª regra – “escolha sempre a

fonte mais direta possível” – o termo possível, destacadamente mencionado pelo

autor, denota que às vezes será necessário recorrer a fontes indiretas, mas é

preciso antes exaurir as possibilidades pois, como marcam Booth, Colomb e

Williams (2000, p. 97, grifo dos autores), “uma boa fonte vale mais do que uma

porção de fontes medíocres”; 2ª regra – assuma, “na análise das informações, as

implicações da escolha feita” (LUNA, 2000, p. 54).

A autoridade é tida como uma fonte direta. É preciso lembrar, entretanto, a

crítica que Demo (1989, p. 41) a ela faz, chamando sua crendice de “substituto

moderno e elegante da justificação dogmática”, isso porque o argumento de

autoridade é “parceiro inevitável do científico”, desde que seja limitada sua

abrangência.

Os procedimentos de coleta de informação selecionados normalmente não

são fruto de uma escolha, pois as análises a serem feitas conduzem ao melhor

procedimento ou reduzem as alternativas (Cf. LUNA, 2000).

As informações coletadas devem ser tratadas por um sistema adequado para

que produzam o dado necessário à solução do problema. Em alguns casos, a

própria maneira de coletar a informação já produz o dado como, por exemplo, nas

respostas binárias: certo ou errado, positivo ou negativo. Muitas vezes, diante da

complexidade do problema, não há um sistema de tratamento disponível, o que gera

2
Cf. tipos de pesquisa, item 2.2.3, e técnicas de pesquisa, item 2.1.
16

dificuldades como a da seleção da unidade de análise, sobretudo nas pesquisas de

cunho qualitativo (Cf. LUNA, 2000).

O último componente do projeto de pesquisa indicado por Luna (2000, p. 17 e

68) é a indicação da generalidade do conhecimento obtido com a pesquisa. A

generalidade consiste na “extensão dos resultados obtidos”, na “possibilidade de

expansão das condições em que a pesquisa foi realizada, mantendo-se resultados

semelhantes”.

Esclarece Luna (2000, p. 70, grifo do autor) que “o conceito-chave em relação

à generalidade, dentro de delineamentos estatísticos, é representatividade da

amostra em relação à população”. População, definem Lakatos e Marconi (2001, p.

108), “é o conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos

uma característica em comum”. Ocorre que muitas vezes não é viável atingir-se a

população inteira numa pesquisa, e daí surge o problema da amostragem, que

consiste em “escolher uma parte (ou amostra), de tal forma que ela seja a mais

representativa possível do todo, e, a partir dos resultados obtidos, relativos a essa

parte, pode inferir, o mais legitimamente possível, os resultados da população total,

se esta fosse verificada” (LAKATOS; MARCONI, p. 108).

Os procedimentos de controle estatístico visam eliminar ou neutralizar fatores

não planejados pelo estudo, para que se aumente a fidedignidade dos resultados. A

conseqüência, entretanto, do maior rigor metodológico, é a diminuição da

generalidade. Existe uma relação inversa entre fidedignidade e generalidade: em

outras palavras, quanto maior a fidedignidade, menor a generalidade.


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2.2.3 Tipos de pesquisa

As pesquisas visam, inicialmente, à obtenção de dados, para posterior

concatenação deles de forma lógica, a ponto de se construir um conhecimento novo,

em função desse processo. Em função desse processo de obtenção de dados,

Lakatos e Marconi (2001, p. 43) classificam a pesquisa conforme decorram de

documentação direta ou indireta. A documentação direta “constitui-se, em geral, no

levantamento de dados no próprio local onde os fenômenos ocorrem”, e os tipos de

pesquisa dela derivados são a pesquisa de campo e a pesquisa de laboratório, que

valem-se das técnicas de observação direta intensiva e de observação direta

extensiva . A indireta “serve-se de fontes de dados coletados por outras pessoas,

podendo constituir-se de material já elaborado ou não”. Esta pode se configurar

numa pesquisa documental (ou de fontes primárias) ou numa pesquisa bibliográfica

(ou de fontes secundárias).

A pesquisa bibliográfica é pressuposto de toda a pesquisa científica, pois os

processos de obtenção direta de dados (pesquisa de campo e de laboratório) devem

servir-se dos estudos já elaborados acerca da questão a ser analisada 3 (Cf.

LAKATOS; MARCONI, p. 44). Daí o fato de normalmente a bibliografia não

especializada de metodologia aprofundar-se apenas nos aspectos daquela

modalidade de pesquisa, deixando os casuísmos das pesquisas de campo e de

laboratório para obras específicas, sobretudo as que tratem de temas cuja

abordagem seja empírica, como medicina, biologia e algumas áreas da psicologia 4.

3
Seria o que Luna (2000, p. 80 et seq.) chama de “revisão de literatura como parte integrante do processo de
formulação do problema”.
4
Esse é também o motivo pelo qual, ao tratarmos das fases da pesquisa, abordamos apenas aspectos da pesquisa
bibliográfica.
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Andrade (2001) apresenta outras classificações da pesquisa, além da acima

indicada – quanto ao processo ou objeto – , estabelecendo que quanto à natureza,

pode consistir em um trabalho científico original ou em um resumo de assunto. O

primeiro seria um trabalho original que trouxesse novas conquistas ou descobertas

para o progresso científico. O último dispensaria a originalidade, nunca o rigor

científico, como nos trabalhos de graduação em que o objetivo é aumentar a cultura

do estudante, visando prepará-lo para desafios futuros.

Quanto aos objetivos, a pesquisa pode ser exploratória, descritiva ou

explicativa (ANDRADE, 2001).

A pesquisa exploratória tem por objetivo “proporcionar maiores informações

sobre determinado assunto; facilitar a delimitação de um tema de trabalho; definir os

objetivos ou formular as hipóteses de uma pesquisa ou descobrir novo tipo de

enfoque para o trabalho que se tem em mente” (ANDRADE, 2001, p. 124).

Normalmente serve como preparação para pesquisas mais complexas.

O objetivo da pesquisa descritiva é observar, registrar e analisar fatos, sem

interferir neles. A coleta de dados se dá por meio de técnicas padronizadas. É

modalidade usual nas Ciências Humanas e Sociais, por meio das pesquisas de

opinião e mercadológicas, dos levantamentos socioeconômicos e psicossociais

(ANDRADE, 2001).

Quando as causas dos fenômenos são analisadas em sua essência, estamos

diante de uma pesquisa explicativa, cujo objetivo é “aprofundar o conhecimento da

realidade” (ANDRADE, 2001, p. 125). Por isso mesmo, são mais suscetíveis a erro.

A pesquisa pode ser classificada, segundo o seu uso ou aplicação específica,

em básica ou pura e aplicada. A pesquisa básica “analisa fenômenos e fatos,


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buscando compreender seus fundamentos e relações, sem ter em vista chegar a um

produto determinado” (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 1997, p. 211). A pesquisa

aplicada, por sua vez, possui objetivo prático específico, tendo por objeto principal a

tecnologia.

Com a ressalva de que a doutrina trata-as por métodos específicos de

abordagem dos fatos, ao lado dos metódos de Abordagem e de Procedimento

(LAKATOS, 2004, p. 269), vamos trazer aqui a distinção entre pesquisa do tipo

qualitativa da do tipo quantitativa.

A pesquisa quantitativa emprega a quantificação tanto na coleta quanto no

tratamento das informações, por meio de técnicas estatísticas simples e complexas

(RICHARDSON et. al., 1999 apud LAKATOS, 2004). Ela é muito utilizada em

pesquisas descritivas, com o intuito de “descobrir e classificar a relação entre

variáveis” (OLIVEIRA, 1999, p. 115). O metódo qualitativo, por sua vez, não se vale

de estatísticas, pois aborda questões mais complexas do comportamento humano,

típicas da antropologia, onde teve origem, da educação, da saúde etc.

2.2.4 O projeto de pesquisa

Antes de ser iniciada a pesquisa, é necessário planejar-se, detalhadamente, o

que será pesquisado, para que não haja perda de tempo, energia e, muitas vezes,

de dinheiro. Esse planejamento se dá por meio do projeto de pesquisa, que não

deixa de ser “uma das etapas componentes do processo de elaboração, execução e

apresentação da pesquisa” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 99).


20

O projeto de pesquisa deve responder às indagações: o que, por quê, para

quê, para quem, onde, como, com que, quanto, quando, quem e com quanto. As

respostas encontram-se na estrutura do projeto que, segundo orientação de Lakatos

e Marconi (2001, p. 99-101), deve conter:

A) Apresentação (quem?)
[...]
B) Objetivo (para quê? para quem?)
[...]
C) Justificativa (por quê?)
D) Objeto (o quê?)
[...]
E) Metodologia (como? com quê? onde? quanto?)
[...]
F) Embasamento teórico (como?)
[...]
G) Cronograma (quando?)
H) Orçamento (quanto?)
I) Instrumento(s) de Pesquisa (como?)
J) Bibliografia
Na apresentação, respondendo à indagação quem?, são colocados os nomes

da entidade e do coordenador da pesquisa, o título da pesquisa, o local e a data, e a

relação do pessoal técnico.

O objetivo da pesquisa responde às perguntas para quê? e para quem?

pesquisar. Divide-se em objetivo geral e específico. O primeiro expressa, mediante o

uso de verbo no infinitivo, o resultado intelectual almejado com a pesquisa

(SANTOS, 2001). Na prática, salienta Baraldi (2004, p. 140), “montar o objetivo geral

consiste em antepor à hipótese um verbo que expresse a ação intelectual da

escolha do pesquisador”. Os objetivos específicos contribuem para que se atinja o

objetivo geral e, ao mesmo tempo, possibilitam a aplicação deste a situações

particulares (Cf. LAKATOS; MARCONI, 2001).


21

A justificativa do projeto de pesquisa “consiste numa exposição sucinta,

porém completa, das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática que

tornam importante a realização da pesquisa” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 103),

respondendo, assim, ao por quê? desta.

O objeto da pesquisa, dando resposta à indagação o quê?, contém o

problema suscitado, as hipóteses, as variáveis e a relação entre variáveis. É por

meio da análise da relação entre duas ou mais variáveis que se pode elaborar um

enunciado, que se consubstancia numa hipótese, respondendo de forma provisória

ao problema.

A metodologia adotada e indicada no projeto procura responder às questões

como?, com quê?, onde?, quanto?. Às duas primeiras, por meio do método de

abordagem, dos métodos de procedimento e das técnicas. Às últimas, pela

delimitação do universo da pesquisa ou descrição da população.

O embasamento teórico do projeto de pesquisa consiste no apontamento dos

elementos de fundamentação teórica da pesquisa e na definição dos conceitos

empregados.

O cronograma indica a previsão do tempo – quando? – que será dispensado

em cada etapa da pesquisa.

A previsão de gastos com pessoal e com material deve estar detalhada em

forma de orçamento-programa (quanto?).

Se a técnica escolhida não for a de observação, deve ser indicado como se

fará a coleta de dados, ou quais os instrumentos de pesquisa a serem utilizados,

como formulários de entrevistas e escalas de medida.


22

Ao final do projeto, indica-se apenas a bibliografia essencial, pois a própria

pesquisa se incumbirá de um levantamento mais pormenorizado.

2.2.5 Fases da pesquisa

Na esteira da doutrina metodológica, abordaremos as fases da pesquisa

bibliográfica, pois esta é paradigmática para os demais tipos de pesquisa. Não existe

um padrão, entre os autores, no modo de denominar as fases da pesquisa

bibliográfica, mas o significado delas é o mesmo para todos. Aqui, seguimos, por ser

abrangente, a orientação de Lakatos e Marconi (2001, p. 44), para quem elas

consistem nas fases de:

a) escolha do tema;
b) elaboração do plano de trabalho;
c) identificação;
d) localização;
e) compilação;
f) fichamento
g) análise e interpretação;
h) redação.
Existem algumas regras que devem ser observadas para a escolha do tema

da pesquisa. A primeira delas diz respeito aos interesses do pesquisador, que devem

ter correspondência com o tema eleito. Assim, deve-se atentar para o tipo de exame,

para as leituras e posturas exigidas do pesquisador (ECO, 2002).

Em segundo lugar, deve-se observar a acessibilidade das fontes de consulta,

o que é chamado por Eco (2002, p. 6) de alcance material.


23

Ao pesquisador não basta o alcance material das fontes de consulta, daí Eco

(2002, p. 6) ter dado o nome de alcance cultural à possibilidade dele poder manejá-

las, condição básica para a realização de um bom trabalho de pesquisa.

Temas de pesquisa cujo quadro metodológico demandado esteja fora do

alcance da experiência do pesquisador devem ser evitados.

O tema deve ser claramente definido e limitado, o que se consegue fazer

problematizando-o por meio das indagações “por que”, “onde” e “quando”. Severino

(2002, p. 76) esclarece que “a maior restrição temática é tanto maior quanto mais

científico for o tipo de trabalho a que se vise”.

Devemos mencionar outras orientações existentes para a boa escolha do

tema: os antigos demandam menos trabalho; se sobre autor estrangeiro, deve-se lê-

lo no original (ECO, 2002); há necessidade de tempo disponível para a elaboração

de pesquisas completas e profundas (LAKATOS; MARCONI, 2001); deve haver

obras que já abordaram o tema (SEVERINO, 2002); se tema sobre algum autor,

preferir o falecido já há algum tempo (RIZZATTO NUNES, 2001).

A fase de elaboração do plano de trabalho consiste na estruturação deste em

tópicos que englobem a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. O

desenvolvimento possui três fases – explicação, discussão e demonstração – e se

distribui por tópicos logicamente relacionados, por coordenação ou subordinação,

conforme a relevância dos temas (LAKATOS; MARCONI, 2001).

Para Lakatos e Marconi (2001), é nesta fase que se formula o problema,

levantam-se as hipóteses e determinam-se as variáveis. Severino (2002), entretanto,

não distingue a fase de determinação do tema de outra para a formulação do

problema e levantamento de hipóteses, considerando uma coisa determinação da


24

outra. Segundo seus ensinamentos, “a visão clara do tema do trabalho [...] deve

completar-se com sua colocação em termos de problema” e “a colocação clara do

problema desencadeia a formulação da hipótese geral a ser comprovada no

decorrer do raciocínio” (p. 74-75, grifo nosso).

Eco (2002) sugere que o plano de trabalho conste de um índice como

hipótese de trabalho: iniciando-se a pesquisa pelo índice a concatenação das idéias

a serem desenvolvidas fica mais fácil, eliminando-se eventuais erros lógicos, e

possibilita-se a vinculação da documentação a ser lida com os tópicos nele (índice)

elencados.

A fase de identificação consiste no “reconhecimento do assunto pertinente ao

tema em estudo” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 47). Por meio dos catálogos

bibliográficos são localizados os livros ou periódicos correspondentes ao tema.

Destes últimos devem ser extraídos os assuntos, pela leitura do sumário ou índice, e

outras indicações bibliográficas, indexadas ao seu final.

Identificadas as obras passa-se à fase seguinte, denominada por Lakatos e

Marconi (2001) de fase de localização, que consiste no encontro daquelas por meio

das fichas bibliográficas dos acervos públicos e privados.

A fase de compilação compreende “a reunião sistemática do material contido

em livros, revistas, publicações avulsas ou trabalhos mimeografados” (LAKATOS;

MARCONI, 2001, p. 48).

Severino (2002) engloba essas três fases – identificação, localização e

compilação – em uma única que denomina de etapa de levantamento de bibliografia,

ou fase heurística5.
5
Heurística, segundo o Dicionário Aurélio Eletrônico (Ferreira, A., 1998), trata-se do: “1. Conjunto de regras e
métodos que conduzem à descoberta, à invenção e à resolução de problemas”; “2. Procedimento pedagógico pelo
qual se leva o aluno a descobrir por si mesmo a verdade que lhe querem inculcar”.
25

É importante que o pesquisador se valha de um arquivo de fichas de

documentação bibliográfica para organizar as obras que foram referenciadas,

mencionando destas, as que foram encontradas, sua localização, importância, se

foram lidas ou não e, principalmente, seus dados para a elaboração da referência

bibliográfica: autor, título do documento, edição, local da publicação, editora e data.

Após o levantamento bibliográfico, chega-se à fase de fichamento das fontes

de referência consultadas. No decorrer das leituras, é tradicionalmente indicado que

se organize as idéias em fichas de leitura que, além de auxiliar a compreensão do

texto lido, facilitarão deveras o trabalho final de redação. O conceito de fichamento

abrange tanto as fichas de papel-cartão, como as folhas de papel sulfite ou o arquivo

de computador onde são armazenados os dados (Cf. RIZZATTO NUNES, 2001).

Eco (2002) leciona que o ideal é não fichar fontes primárias, mas tê-las à

mão, sublinhando-as. O método por ele indicado para as demais fontes consiste em

fazer indicações bibliográficas precisas, pois o livro poderá não estar à mão para

checagem, trazer informações sobre o autor, desde que não notórias, fazer um

breve resumo do livro ou do artigo, elaborar citações extensas, entre aspas, dos

trechos a citar, com indicação da página, colocar os comentários pessoais entre

colchetes, apor, no canto superior da ficha, sigla ou cor que indique a parte do

trabalho com que contribuirá o texto lido 6.

A fase de análise e interpretação, que se subdivide em cinco estágios, é uma

das mais delicadas, pois o pesquisador precisará, no seu primeiro estágio, elaborar

um juízo imparcial de valor, isto é, uma crítica, sobre todo o material científico obtido

com as fases anteriores. O objetivo dessa crítica vai além de meramente mostrar o

6
Eco (2002) ainda dá algumas dicas interessantes sobre como sublinhar textos.
26

erro, pois trata-se, na verdade, de “mostrar onde a verdade se oculta” (SALOMON,

2001, p. 193).

A crítica, segundo Salomon (2001, p. 323), pode ser externa ou interna. A

crítica externa “é a que se faz sobre o significado, a importância e o valor histórico

de um documento, considerado em si mesmo e em função do trabalho que está

sendo elaborado”. Compreende a crítica do texto, a da autenticidade e a da

proveniência do documento.

A crítica do texto verifica se ele foi alterado, falsificado ou se sofreu

interpolações. Pela crítica da autenticidade determinam-se o autor, a data, o lugar e

as circunstâncias em que foi elaborado o documento. Os influxos históricos e

doutrinais que deram origem à obra – a chamada “questão das fontes de um

documento” – são analisados na crítica de sua proveniência (SALOMON, 2001).

A crítica interna visa ao exame do conteúdo ou significado da obra. Abrange a

crítica de interpretação ou hermenêutica e a crítica de valor interno do conteúdo. A

primeira busca o sentido exato do pensamento do autor e a segunda avalia o valor

das idéias contidas na obra. É nesta última que se estabelece de maneira clara o

quadro de referência, onde teorias já existentes se unem à novidade trazida pela

pesquisa, numa autêntica realização do espírito científico (SALOMON, 2001).

Após a elaboração da crítica, Lakatos e Marconi (2001) visualizam um

segundo estágio na fase de análise e interpretação, qual seja, o de decomposição

dos elementos essenciais e sua classificação, tendo em conta suas possíveis

relações.
27

Ainda dentro da fase de análise crítica e interpretação, Lakatos e Marconi

(2001) inserem o estágio da generalização 7, em que se constroem novas teorias

científicas, aplicáveis a conjuntos de elementos que ostentem traços comuns.

O quarto estágio da análise consiste na utilização de instrumental e processos

sistemáticos e controláveis, como a objetividade, a explicação e a justificativa. Esses

estão presentes nos diversos métodos de abordagem – indutivo, dedutivo,

hipotético-dedutivo ou dialético – , utilizáveis de acordo com a necessidade da

pesquisa.

Por fim, no último estágio da análise, devem ser comprovadas ou refutadas as

hipóteses, com base nos dados coletados.

A fase final da pesquisa bibliográfica é a de redação. A respeito dela, Eco

(2002) demonstra duas preocupações com que deve se ocupar o pesquisador: a

quem nos dirigimos e como se fala.

No que atine à primeira, Eco (2002, p. 114) orienta que ainda que seja dirigida

ao examinador, a tese deve ser clara, compreensível a outros estudiosos. Daí a

necessidade de se definir os termos usados, salvo os consagrados e indiscutíveis

pela disciplina em causa. A regra geral consiste em “definir todos os termos técnicos

usados como categorias-chave em nosso discurso”. Outra regra a respeito desse

ponto diz que “não é necessário partir do princípio que o leitor tenha feito o mesmo

trabalho que nós”. Dessa regra decorre a necessidade de se explicar, por exemplo,

quem é o autor estudado, de que texto se trata e qual é a sua importância.

Não há normas cabais que resolvam o problema de como se fala, mas Eco

(2002, p. 115-121) traz uma série de orientações gerais, da qual destaco o que

segue: evite períodos longos; “abra parágrafos com freqüência”; “escreva o que lhe
7
A propósito da generalização, v. acima um dos elementos da pesquisa científica (item 2.2.2, p. 15).
28

vier à cabeça, mas apenas em rascunho”; “use o orientador como cobaia”; “não se

obstine em iniciar no primeiro capítulo”; “não use reticências ou pontos de

exclamação, nem faça ironias”; “defina sempre um termo ao inseri-lo pela primeira

vez”; “não comece a explicar onde fica Roma para depois não explicar onde fica

Timbuctu”; use, de preferência, o plural majestático (“nós” em vez de “eu”); salvo

exceções, “nunca use artigo diante de nome próprio” e nem aportuguese nomes

estrangeiros. Com relação à utilização do plural majestático, há divergência entre os

autores: alguns sugerem o uso da primeira pessoa do singular, outros, como

Salomon (2001, p. 362), que o “melhor realmente é usar a forma impessoal, evitando

o pronome pessoal”.

Na fase de redação, é importante atentar-se para alguns pormenores, como a

referência bibliográfica, as citações8, as notas de rodapé e o sumário ou índice.

Os parâmetros para a elaboração da referência bibliográfica constam da NBR

6023: informação e documentação: referências: elaboração, da Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), cuja última edição remonta ao ano de 2002,

que indica como elementos essenciais da monografia os seguintes dados: autor(es),

título, edição, local, editora e data de publicação (item 7.1.1).

8
Eco (2002, p. 121-127, grifo do autor) estabelece dez regras sobre quando e como citar: “Regra 1 – Os textos
objeto de análise interpretativa são citados com razoável amplitude. Regra 2 – Os textos da literatura crítica só
são citados quando, com sua autoridade, corroboram ou confirmam afirmação nossa. [...] Regra 3 – A citação
pressupõe que a idéia do autor citado seja compartilhada, a menos que o trecho seja precedido e seguido de
expressões críticas. Regra 4 – De todas as citações devem ser claramente reconhecíveis o autor e a fonte
impressa ou manuscrita. [...] Regra 5 – As citações de fontes primárias devem de preferência ser colhidas da
edição crítica ou da edição mais conceituada [...] Regra 6 – Quando se estuda um autor estrangeiro, as citações
devem ser na língua original [...] em se tratando de obras literárias. [...] Regra 7 – A remissão ao autor e à obra
deve ser clara. [...] Regra 8 – Quando uma citação não ultrapassa duas ou três linhas, pode-se inseri-la no corpo
do parágrafo entre aspas duplas, [...] mais longa, [...] em espaço um com entrada [...]. Regra 9 – As citações
devem ser fiéis. [...] Regra 10 – [...] a referência deve ser exata e precisa [...], como também averiguável por
todos.”
29

A Normalização da documentação no Brasil 9 da ABNT também serve de guia

para a construção da bibliografia, além de indicar a técnica de elaboração das

citações e do sumário.

2.2.6 Pesquisa científica e prestação de serviço

O mundo moderno exige um maior engajamento social por parte das

entidades de pesquisa, de modo que participem do processo de mudança social

decorrente dos novos conhecimentos adquiridos.

Isso fez com que, nos últimos anos, houvesse uma alteração nos padrões de

pesquisa, representada, sobretudo, por dois aspectos: o aprofundamento na

situação natural e o comprometimento efetivo com a transformação da realidade

pesquisada. Ainda assim, não há como se confundir pesquisa científica e prestação

de serviços, pois há diversidade de interlocutores e de objetivos. Na pesquisa os

resultados geralmente só interessam à comunidade científica, que a eles deve ter

acesso por meio de ampla divulgação, e seu objetivo é produzir conhecimento novo.

A prestação de serviços, ainda que se revista de pesquisa, interessa ao indivíduo,

grupo ou comunidade que apresenta uma queixa, que deverá ser identificada e

enfrentada (Cf. LUNA, 2000, p. 22-26).

9
Expressão utilizada por Salomon (2001, p. 353-354).
30

2.2.7 A ética na pesquisa

A questão ética tem sido, infelizmente, pouco enfrentada na doutrina

metodológica. Entretanto, é pela falta de ética que trabalhos metodologicamente

“perfeitos” acabam, por vezes, perdendo toda a credibilidade ou utilidade.

A obra de Booth, Colomb e Williams (2000, p. 326) elenca alguns princípios

éticos de recomendável observância em qualquer pesquisa:

Os pesquisadores éticos não roubam, plagiando ou reivindicando os


resultados de outros.
Não mentem, adulterando informações das fontes ou inventando
resultados.
Não destroem fontes nem dados, pensando nos que virão depois
deles.
Pesquisadores responsáveis não apresentam dados cuja exatidão
têm motivos para questionar.
Não encobrem objeções que não podem refutar.
Não ridicularizam os pesquisadores que têm pontos de vista
contrários aos seus, nem deliberadamente apresentam esses pontos
de vista de um modo que aqueles pesquisadores rejeitariam.
Não redigem seus relatórios de modo a dificultar propositalmente a
compreensão dos leitores, nem simplificando demais o que é
legitimamente complexo.
O respeito à atribuição de autoria de obra intelectual alheia é um dos valores

mais caros, pois sua transgressão pode causar prejuízos materiais ao autor, serve

de desestímulo à produção intelectual, impede a busca de outras informações na

fonte e cria expectativa infundada por parte da comunidade científica em relação ao

plagiador.

Sabe-se que muitas vezes a utilização equivocada das regras básicas de

citação da fonte não decorre de má-fé. É importante, contudo, que aquele que

almeja tornar-se um pesquisador científico conheça bem as regras técnicas editadas

pela ABNT,sobretudo as que tratam da referenciação bibliográfica.


31

3. A PESQUISA COMO FATOR DE PREVENÇÃO E REPRESSÃO CRIMINAIS

Após a série de atentados deflagrada pela facção criminosa denominada

“Primeiro Comando da Capital”, o “PCC”, em meados deste ano, a questão da

segurança pública voltou, uma vez mais, a tomar o centro do debate político. Mais

do que isso, a sociedade toda foi tomada pelo temor, e a sensação de insegurança

atingiu proporções nunca antes imaginadas. Esses fatos propiciaram a manifestação

de pessoas ligadas aos diversos segmentos da sociedade, como empresários,

artistas, políticos, jornalistas e profissionais da segurança pública, que deram a sua

opinião acerca da melhor forma de prevenir ou combater eficazmente o crime. O que

se verificou, contudo, é que suas respostas vieram, quase sempre, despidas de

qualquer conteúdo científico, embasadas meramente em suas experiências

pessoais.

A intervenção adequada, científica, na realidade de violência que assola a

sociedade só pode ser engendrada após um diagnóstico verdadeiro, que decorre,

necessariamente, da pesquisa científica. O resultado destas permite uma nova visão

da realidade criminal – uma visão científica – , que enseja a adoção de políticas

públicas mais adequadas.

Existem muitas obras e pesquisas de cunho criminológico, sobretudo

alienígenas, que procuram dar respostas mais ousadas para a sociedade a respeito

das estratégias de prevenção criminal. A comunidade científica nacional ressente-se,

entretanto, de estudos que abordem a questão da repressão criminal, sob o estrito

ponto de vista policial, isto é, que tratem, entre outros, de novos métodos e técnicas
32

de procedimento investigativo, das modernas ferramentas inquisitivas postas à

disposição pela tecnologia da informação, das inovações hauridas das ciências da

biologia, psicologia e sociologia criminais etc. As abordagens repressivas têm sido

preponderantemente jurídicas, tratando do inquérito policial sob o mero ponto de

vista formal.

O policiamento repressivo incumbe, em nosso ordenamento constitucional,

sobretudo, à Polícia Civil. A atividade de pesquisa correlata, por isso mesmo, deve

ser empreendida por profissionais do seu quadro funcional – conhecedores de suas

funcionalidades, peculiaridades e vicissitudes – , com a devida supervisão

metodológica.

Atenta à sua destinação institucional 10 e consciente da realidade sobredita, a

Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra” (ACADEPOL) não tem medido

esforços para alavancar a atividade científica na Polícia Civil. Foi com esse objetivo

que se firmou, recentemente, uma parceria entre a ACADEPOL e o Instituto

Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim): por meio dela o IBCCrim se compromete

a realizar seminários e palestras junto aos cursos de formação e aperfeiçoamento de

policiais, na ACADEPOL, e a Polícia Civil a contribuir com a participação de policiais

nas atividades de pesquisa científica e difusão cultural promovidas pelo IBCCrim.

Com o mesmo fito, foram criados, nos últimos anos, grupos de estudos temáticos –

ex.: direito ambiental, direitos humanos, polícia comunitária – , compostos por

professores da ACADEPOL, com missões específicas, como, por exemplo,

desenvolver uma doutrina consolidada sobre a área de conhecimento eleita. Na

mesma esteira, está sendo realizada a primeira seleção de professores temporários

10
O art. 1º do Regulamento da Academia de Polícia – RAP, aprovado pela Resolução SSP-104/83, indica as
finalidades da ACADEPOL, dentre as quais se destaca a do inciso III: “pesquisar no campo de ensino de suas
atribuições;” (sic). Sobre pesquisa, v. art. 59 e ss. do referido RAP.
33

de metodologia da pesquisa científica – que ensejará a adoção de providências para

a iniciação científica do corpo discente.

O veículo de difusão cultural dos resultados das pesquisas elaboradas na

ACADEPOL é a revista Arquivos da Polícia Civil11, editada desde maio de 1941 e

recentemente reconhecida pelo Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e

Tecnologia (IBICT) do Ministério da Ciência e Tecnologia como publicação

acadêmico-científica (INDEXAÇÃO..., 2005). Apresentada, em sua primeira edição,

como “um traço eloqüente de nossa cultura científica e sobretudo dos esforços que

envidamos para o aperfeiçoamento de nossa Polícia”, tem por objetivo indicar

procedimentos e difundir conhecimentos ao público interno, e dar visibilidade e

assegurar transparência, a toda a comunidade jurídica, dos fundamentos e doutrinas

que orientam a Polícia Civil (INDEXAÇÃO..., 2005).

Outras instituições contribuem com a obtenção de conhecimentos na área da

violência, como o Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, o Núcleo de

Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), o Instituto Latino

Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do

Delinqüente (ILANUD), o Instituto Sou da Paz, o Instituto São Paulo contra a

Violência, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),

por meio do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas 12. Cada uma delas possui

uma abordagem própria, decorrente do histórico e da missão da instituição; o

NEV/USP, por exemplo, enfoca a proteção aos direitos humanos, o Instituto Fernand

Braudel tem uma abordagem desenvolvimentista.

11
Nesse sentido: art. 65 e ss. do Regulamento da Academia de Polícia.
12
Os sites destas instituições (respectivamente www.braudel.org.br; www.nevusp.org; www.ilanud.org.br;
www.soudapaz.org; www.spcv.org.br; www.fapesp.br) trazem, normalmente, informações a respeito das
pesquisas a serem iniciadas, em andamento, e concluídas.
34

3.1 Ciência e crime

Para se alcançar as possibilidades da pesquisa científica que tenha por tema

a prevenção ou a repressão delitiva é necessário, antes de mais nada, conhecer seu

objeto, o que se faz pela delimitação precisa das ciências sobre as quais o

pesquisador se debruçará na sua labuta investigativa.

Existem várias ciências que estudam o crime, o criminoso e a criminalidade,

porém, cada uma possui objetos e métodos específicos. Nesse contexto, é oportuno

mencionar o modelo tripartido da ciência conjunta do direito penal, lembrado por

Figueiredo Dias (1999, p. 24 apud SHECAIRA, 2004, p. 35, grifo nosso), e

concebido por Von Lizst, que abrange

a ciência estrita do direito penal, ou dogmática jurídico-penal,


concebida, ao sabor do tempo como o conjunto dos princípios
que subjazem ao ordenamento jurídico-penal e devem ser
explicitados dogmática e sistematicamente; a criminologia,
como ciência das causas do crime e da criminalidade; e a
política criminal, como ‘conjunto sistemático dos princípios
fundados na investigação científica das causas do crime e dos
efeitos da pena, segundo os quais o Estado deve levar a cabo
a luta contra o crime por meio da pena e das instituições com
esta relacionada’.
Outras disciplinas se ocupam do crime, como fenômeno individual e social,

como a Biologia, a Psicologia e a Sociologia criminais, com seus respectivos

métodos, enfoques e pretensões (GARCÍA-PABLOS DE MOLINA; GOMES, 2002, p.

46).

A medicina legal e a criminalística são ciências que não tratam diretamente do

crime, mas mantêm com ele estreita relação em função dos conhecimentos que

produzem. A medicina legal é moderna e abrangentemente definida como “a ciência

pluricurricular que abrange conhecimentos de disciplinas médicas e não médicas, a


35

fim de dar respostas a questões jurídicas” (QUEIROZ, 2002, p. 306). A criminalística

é o “ramo da ciência penal, utilizado pela polícia técnica, constituído pelo conjunto

de conhecimentos técnicos, científicos, artísticos, etc., de presumível ou evidente

interesse judiciário, empregado na apreciação, descrição, investigação,

interpretação e identificação de um delito e eventual relacionamento de uma ou mais

pessoas nele envolvidas” (INSTITUTO BRASILEIRO..., 2002). Ambas possuem

capital importância na consecução dos objetivos persecutórios colimados pela

Justiça Criminal.

Todas as áreas do conhecimento mencionadas se relacionam, de forma

profunda ou superficialmente, com a temática preventiva ou reativa criminal. No que

diz respeito à prevenção criminal, as principais pesquisas foram realizadas no

âmbito da criminologia. Esta ciência tem por objeto a análise do delito, do

delinqüente, da vítima e do controle social e por funções explicar e prevenir o crime

e intervir na pessoa do infrator e avaliar os diferentes modelos de resposta ao crime

(GARCÍA-PABLOS DE MOLINA; GOMES, 2002, p. 39).

A repressão ao crime se dá, no nosso ordenamento jurídico, com fundamento

no jus puniendi, que consiste no “direito que tem o Estado de aplicar a pena

cominada no preceito secundário da norma penal incriminadora, contra quem

praticou a ação ou omissão descrita no preceito primário, causando um dano ou

lesão jurídica” (MARQUES, 1961, p. 9 apud MIRABETE, 1997, p. 24). O jus puniendi

ou o poder de punir do Estado se concretiza pelo direito de ação, no contexto do

direito penal, subsidiado pelos relevantes conhecimentos oriundos da criminalística e

da medicina legal.
36

3.2 Pesquisa científica e prevenção criminal

Como já mencionado, as principais pesquisas científicas no campo da

prevenção criminal foram realizadas pela ciência criminológica. Hoje, sem dúvida, a

prevenção criminal se firmou como um novo paradigma criminológico e político-

criminal, e isso por dois motivos principais apontados por García-Pablos de Molina e

Luiz Flávio Gomes (2002, p. 434-435): a) “o fracasso indiscutível do modelo

repressivo clássico, baseado em uma política penal dissuassória, como única

resposta ao problema do delito” e; b) a constatação de ser o crime um

“acontecimento altamente seletivo”, e não fortuito, o que faz com que “uma

informação empírica confiável sobre as principais variáveis do delito abre [abra]

imensas possibilidades para sua prevenção eficaz”.

A criminologia tem a responsabilidade de identificar as variáveis delitivas,

suas interações e influências, fazendo da prevenção uma atividade científica, distinta

da “intervenção caprichosa, arbitrária e acientífica” (GARCÍA-PABLOS DE MOLINA;

GOMES, 2002, p. 435).

Dentre os principais programas de prevenção existentes, sobressaem os

dirigidos à reflexão axiológica, pois atacam o crime em sua origem, e não nas suas

conseqüências. Eles partem da concepção de prevenção primária 13, considerando-

se que “os melhores resultados no controle da criminalidade não podem ser obtidos

incrementando o rigor da resposta ao delito (penas mais severas), nem melhorando


13
A prevenção criminal é classificada em primária, secundária e terciária com base nos seguintes critérios: “na
maior ou menor relevância etiológica dos respectivos programas, nos destinatários aos quais se dirigem, nos
instrumentos e mecanismos que utilizam, nos seus âmbitos e fins perseguidos”. A prevenção primária enfrenta “a
raiz do conflito criminal, para neutralizá-lo antes que o problema se manifeste”, opera, porém, a médio e longo
prazos. A prevenção secundária ataca o conflito criminal “quando e onde se manifesta ou se exterioriza”, atuando
a curto e médio prazos, de maneira seletiva aos setores de maior risco. A prevenção terciária consiste em uma
intervenção “tardia (depois do cometimento do delito), parcial (só no condenado) e insuficiente (não neutraliza
as causas do problema criminal)”, destinada a evitar a reincidência por parte do recluso, conforme García-Pablos
de Molina e Gomes (2002, p. 398-400).
37

o rendimento e a efetividade do sistema legal, senão por meio de uma ação positiva

na ordem social” (GARCÍA-PABLOS DE MOLINA; GOMES, 2002, p. 448). Essa

ação positiva consiste numa revisão na escala social de valores, sobretudo por parte

da sociedade adulta, que serve de modelo para as posturas a serem imitadas pelos

jovens.

Outra concepção foi adotada pela chamada escola criminológica de Chicago,

que desenvolveu a teoria da ecologia criminal ou da desorganização social, fruto de

uma série de pesquisas de inspiração “ecológica”, isto é, considerando o espaço

geográfico em que se dá o crime e sugerindo intervenções por parte do poder

público nas áreas mais marginalizadas (equipamentos urbanos, iluminação pública,

dotação de serviços públicos essenciais) com o intuito de diminuir os índices

criminais.

Um modelo preventivo de inegável eficácia etiológica é o de orientação

cognitiva, que foi concebido a partir de estudo realizado com crianças e

adolescentes que vivem em situação de risco, que demonstrou que o

desenvolvimento nelas de habilidades cognitivas as tornaram aptas a decidir entre o

certo e o errado. A aplicação desse modelo encontra-se representada em nosso

meio pelo Projeto Amigo, desenvolvido no curso de psicologia da Universidade

Metodista de São Paulo – UMESP. O objetivo do projeto é construir a personalidade

moral de crianças de 7 a 13 anos, moradoras da Favela Naval, em Diadema, na

Grande São Paulo, “a partir do meio e das circunstâncias vividas pelos jovens,

clarificando os valores e as virtudes, bem como o raciocínio lógico e a

aprendizagem, por meio de contos de fadas, jogos de regras e assembléias de

discussão de dilemas morais” (UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO,

2005). O projeto teve início no ano de 2003, e conta com a parceria da Base
38

Comunitária do 6º Batalhão da Polícia Militar, dos Frigoríficos Marba e da

comunidade da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Paulicéia – São Bernardo do

Campo. Uma avaliação profunda dos seus resultados só poderá ser feita daqui há

alguns anos, quando as crianças nele envolvidas derem inequívoca demonstração

de que resistiram aos riscos em que incorreram.

Apesar de haver muitas pesquisas criminológicas voltadas à questão da

prevenção delitiva, poucas delas foram realizadas no Brasil, e dessas, quase nunca

por profissionais da segurança pública. Como conseqüência, os conhecimentos

produzidos e disponíveis à comunidade científica nacional são, muitas vezes,

inaplicáveis à nossa realidade, que é bem diferente da encontrada em Chicago e em

outras localidades onde a criminologia se desenvolveu fortemente.

Entretanto, a Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria da

Segurança Pública de São Paulo – CAP-SSP/SP, aplicando uma nova política de

incentivo à pesquisa na área, possibilitou a elaboração de diversos trabalhos

científicos, a partir da louvável iniciativa de liberar o acesso aos dados criminais da

Secretaria a pesquisadores e instituições de pesquisa, que têm contribuído com

análises multidisciplinares dos fenômenos criminais.

A CAP-SSP/SP, além do incentivo a instituições externas, tem elaborado as

suas próprias análises, dentre as quais podemos mencionar a que verifica a

influência das variáveis “favela” e “tráfico de entorpecentes” na ocorrência de

homicídios (2004a); outra que discorre sobre os efeitos da lei seca sobre estes

(2004b?); uma que discorre sobre as dinâmicas do homicídio no centro e na periferia

de São Paulo (2004c?).


39

Na esfera da Polícia Civil, por meio do Departamento de Homicídios e de

Proteção à Pessoa (DHPP), foi realizada pesquisa, sem nenhuma pretensão

científica, no início de 2001, que culminou na edição do Plano de combate aos

homicídios dolosos, consistente em três diretrizes básicas: 1) integração da polícia

especializada (departamento de homicídios) com a polícia territorial (distritos

policiais e companhias da Polícia Militar); 2) atenuação da sensação de impunidade

via ação policial mais efetiva e rápida, traduzida em prisões dos homicidas e

latrocidas contumazes e; 3) aperfeiçoamento da investigação policial, por meio da

valorização do inquérito policial e de investimentos em inteligência e tecnologia da

informação. Outras medidas foram propugnadas com o escopo de reduzir a violência

letal, dentre essas algumas que dizem respeito ao comprometimento de outros

órgãos estatais, sobretudo da esfera de competência do Município, como:

intensificação da iluminação pública nos pontos críticos, regularização dos

loteamentos clandestinos, construção de áreas de lazer e fiscalização de bares e

similares. Desde a adoção do Plano, os homicídios dolosos na Capital foram

reduzidos em 58,2% (1º semestre de 2006 – 1.134 ocorrências; 1º semestre de 2001

– 2.716 ocorrências).

Na esteira desse trabalho, foi editada a obra Princípios básicos de prevenção

ao crime de homicídio doloso adequados à realidade do interior paulista, com o

explícito objetivo de “quebrar o paradigma de que não é possível prevenir o crime de

homicídio doloso” (FERREIRA, O., 2005, p. 35). O trabalho prevê, para uma efetiva

prevenção, a atuação em quatro esferas distintas: 1) junto a outros órgãos e

segmentos da sociedade (adoção de políticas públicas preventivas, campanhas de

valorização da vida e parcerias com a comunidade); 2) na área de polícia

administrativa (orientações para a boa convivência no trânsito e controle de conflitos


40

entre torcidas organizadas e gangues); 3) na esfera do policiamento preventivo

especializado e; 4) na órbita da polícia judiciária.

Inúmeras outras pesquisas foram elaboradas por órgãos ou integrantes da

Polícia Civil, nem sempre embasadas na doutrina metodológica. Todas, porém,

merecem a atenção da comunidade científica, pois seus resultados decorrem da

experiência da lida diária investigativa, e a experiência também é fonte do

conhecimento humano.

Alguns problemas de pesquisa que poderiam ser enfrentados, no contexto de

policiamento preventivo, são: a influência das variáveis que poderiam ser

denominadas “iluminação pública”, “desarmamento da população”, “existência de

bares”, “integração da polícia com a comunidade”, dentre outras, no

recrudescimento ou refreamento dos índices criminais; as tecnologias

georeferenciadas como instrumentos de prevenção criminal (ex. sistema

INFOCRIM); a relação entre prevenção primária e órgãos da segurança pública.

3.3 Pesquisa científica e repressão criminal

3.3.1 Repressão criminal

Ocorrida a infração penal, o Estado deve adotar, com fundamento no jus

puniendi, as medidas de repressão criminal, que se concretizam, em nosso

ordenamento jurídico, pelo direito de ação, no contexto do direito penal.


41

O exercício desse direito de ação depende, muitas vezes, da “pesquisa sobre

pessoas e coisas úteis para a reconstrução das circunstâncias de um fato legal ou

ilegal”, ou seja, de uma investigação policial, que se consubstancia em um inquérito

policial, “procedimento administrativo de caráter inquisitivo que formaliza a

investigação policial” (ROCHA, 2003, p. 23).

Ainda que a respeito de determinado delito já esteja estabelecida a autoria é

necessário o inquérito policial para a constituição da materialidade delitiva,

fundamental para o oferecimento da denúncia ou da queixa. Por outro lado, o

inquérito policial é perfeitamente dispensável, nos termos dos artigos 39, § 5º, e 46,

§ 1º, do Código de Processo Penal, desde que o titular da ação penal tenha em

mãos elementos suficientes a comprovar a existência do crime e sua autoria.

O resultado da atividade persecutória estatal deflagrada pela investigação

policial, e prosseguida com a ação penal, consiste na aplicação de pena ao autor do

delito. A pena serve, precipuamente, como retribuição pelo cometimento do ato

ilícito. Com a reforma penal de 1984, entretanto, passou-se a considerar, também,

sua natureza preventiva (JESUS, 2003, p. 519). Com a sentença condenatória e

correspondente execução dá-se a conclusão da atividade persecutória do Estado.

São vários os órgãos estatais que compõem o sistema repressivo criminal: a

Polícia, o Exército, o Ministério Público, o Poder Judiciário e a Administração

Penitenciária, que correspondem às chamadas estruturas formais de controle

criminal (SHECAIRA, 2004, p. 56). A eles interessam os conhecimentos produzidos

por pesquisas científicas com foco na repressão criminal.

Este trabalho abordará – atendendo à necessidade de restrição temática – ,

apenas a repressão efetivada pela polícia judiciária, consubstanciada,


42

precipuamente, na condução das investigações criminais. O termo “investigação” é

empregado com freqüência pela teoria metodológica com outro significado, razão

pela qual tornou-se necessário, para espancar dubiedades, desenvolver alguns

conceitos no tópico que segue.

3.3.2 Metodologia e investigação

Alguns autores trataram do uso de metodologia na investigação. Como em

qualquer atividade humana, é necessário o uso de metodologia adequada para se

chegar a um resultado com o menor dispêndio de tempo e de energia. Na atividade

de investigação policial não poderia ser diferente. Essa acepção de metodologia,

entretanto, goza de conteúdo diverso do adotado quando se fala em metodologia da

ciência, da pesquisa e do trabalho científico.

Assim como o policial na investigação, o arquiteto, ao elaborar e conduzir o

projeto de um prédio, o advogado, quando da construção de um parecer jurídico, e o

psicólogo, no atendimento a um paciente, devem atentar para a escolha de

caminhos mais adequados para chegarem a um resultado de maneira mais racional.

Esses profissionais estão usando da Lógica, que “quando tem em vista uma

determinada atividade, toma os nomes de Lógica Aplicada ou de Metodologia”

(COBRA, 1987, p. 120).

Foi com esse escopo que Coriolano Nogueira Cobra abordou o tema em sua

obra Manual de investigação policial (1987), no capítulo denominado Metodologia na

investigação (p. 120-128). Ali, prescreveu que


43

a investigação policial, atividade que é, não pode fugir à regra geral,


necessitando também de método, para ordenar e disciplinar os
diferentes e complexos trabalhos que deve realizar, para o
esclarecimento de ocorrências criminosas.
O trecho citado traz a nota que distingue a metodologia na investigação da

metodologia da ciência, em sentido amplo. Aquela objetiva o esclarecimento de

ocorrências criminosas específicas, produzindo um conhecimento de interesse ao

universo probatório no campo do processo penal; esta, de forma genérica, visa ao

estudo dos mecanismos de produção de conhecimento científico, novo, relevante

teórica e socialmente, fidedigno, dotado de generalidade.

O traço em comum, e que pode levar a confusão terminológica antes de

análise mais detida, é que ambas buscam o conhecimento: a investigação policial se

vale de pesquisas para buscar um conhecimento específico, qual seja, quem

cometeu o delito; a pesquisa científica realiza investigações com o intuito de produzir

um conhecimento sistemático, verificável e fidedigno.

O delegado de polícia, ao conduzir uma investigação, não está realizando

uma pesquisa científica, mas está concretizando a ciência policial. Da mesma forma,

o engenheiro que constrói uma ponte sobre um trecho marítimo não está elaborando

uma pesquisa científica, ainda que tenha que perscrutar o solo e avaliar a potencial

carga para definir sua estrutura, mas está exercitando os conhecimentos oriundos

da geologia e da física.

Apesar de ser uma atividade eminentemente prática, cuja abordagem é

preponderantemente empírica, a investigação policial não pode ser desenvolvida

sem nenhuma preocupação metodológica. Na verdade, como assinalou Rocha

(2003, p. 21), “os métodos modernos de investigação policial apóiam-se na pesquisa

científica pura e aplicada”.


44

São métodos de investigação, no esclarecimento de crimes: as técnicas de

levantamento de local de crime, o “retrato falado”, a recognição visuográfica, os

exames e pesquisas de laboratório; na obtenção de informações: os métodos de

vigilância, consistentes em “campanas”, disfarces e despistamentos; nas entrevistas

e interrogatórios: métodos da análise transacional e outros oriundos da

psicopatologia e da psicologia forenses (ROCHA, 2003, p. 22).

Cobra (1987) dividiu a investigação em três fases, a saber: das constatações,

da formulação das hipóteses – raciocínio, intuição, presunções e hipóteses – , e da

verificação das hipóteses. Ao vislumbrar tais fases, estabeleceu as premissas para

que a investigação fosse embasada em critérios técnicos, e não em opiniões

decorrentes unicamente da experiência pessoal do policial.

3.3.3 Pesquisa científica e investigação policial

A obra clássica de investigação policial, que ainda hoje não foi superada em

termos de precisão técnica e lingüística, é a de Coriolano Nogueira Cobra. O seu

Manual de investigação policial, cuja última edição remonta ao ano de 1987, foi

resultado de intensa atividade de pesquisa.

Após sua morte, o livro não foi atualizado e poucos autores produziram

material sobre o mesmo tema. Um dos que o fez foi o já saudoso Luiz Carlos Rocha,

cujo livro, Investigação policial: teoria e prática (2003), abordou aspectos da

moderna investigação policial, tratando dos crimes virtuais e de informática.

Uma pesquisa mais recente, coordenada por Carlos Alberto Marchi de

Queiroz, motivada por ambicioso projeto da Delegacia Geral de Polícia, rendeu a


45

edição, em 2002, pela ACADEPOL, do Manual operacional do policial civil. Esta obra

de fôlego aborda as metodologias adequadas às mais diversas investigações:

decorrentes de crimes contra o patrimônio, a pessoa, os costumes, a liberdade

individual e o meio-ambiente, relacionadas à economia popular, ao crime organizado

e ao crime cibernético etc (Cf. QUEIROZ, 2002, p. 11).

Afora as mencionadas obras, poucas trataram de todas as modalidades de

investigação policial e seus respectivos métodos de trabalho. A doutrina de

investigação tem se ressentido de novos trabalhos que assumam o caráter de um

compêndio, sintetizando o estado da arte investigativa.

Entretanto, diversos estudos trataram de temas específicos relacionados à

investigação policial. Um desses trabalhos foi divulgado na Revista Brasileira de

Ciências Criminais, em 1996 (apud DESGUALDO, 1999), e resultou na adoção

sistemática, pela Polícia Civil, do novo método de investigação nele vislumbrado: a

recognição visuográfica de local de crime.

Uma potente ferramenta investigativa foi desenvolvida, recentemente, pela

CAP-SSP/SP a partir de pesquisas por esta empreendidas envolvendo a chamada

caracterização geográfica, que consiste em uma “metodologia de investigação

criminal que analisa a localização de uma série de crimes conectados para indicar a

mais provável área de residência de um autor” (ROSSMO, 2005 apud CAP-SSP/SP,

2005). Trata-se do Sistema Inteligente de Mapeamento de Suspeitos – SIMS,

acessível pelo INFOCRIM, que auxiliará na localização de criminosos seriais.

Outras pesquisas científicas tiveram, no geral, pouca divulgação interna e na

comunidade acadêmica, o que restringiu a crítica dos resultados e a adoção das

metodologias propostas. Uma explicação possível para isso é que há falta de


46

interesse dos pesquisadores em debruçar-se sobre a atividade investigativa: as

abordagens preventivas possuem um apelo social – e acadêmico – bem maior.

A realidade é distinta no campo das ciências técnicas. Os maiores avanços

científicos na área repressiva foram percebidos pela medicina legal e pela

criminalística, cujas pesquisas possibilitaram o encontro de novos métodos e

técnicas de busca da verdade, consubstanciados em exames e perícias inovadores.


47

4. CONCLUSÃO

A pesquisa é essencial para a produção do conhecimento científico. É por

meio deste que a sociedade e as instituições em geral podem evoluir com

segurança.

Vivíamos uma situação de crise na Polícia Civil no que diz respeito à

produção de novos conhecimentos na área de prevenção e, sobretudo, de repressão

criminal.

A Polícia Civil, atenta a essa realidade, por meio de uma série de medidas já

elencadas neste trabalho, tem conseguido reverter esse quadro.

Cremos que o rumo certo já foi tomado e, questão de tempo, serão obtidos

progressos significativos nas metodologias e métodos utilizados na lida investigativa.


48

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