You are on page 1of 11

Apelo

SALVEM A LÂMPADA!

Nos últimos dois anos, assistimos a um violento ataque por parte da indústria e do poder legislativo
à lâmpada incandescente. Esta é considerada um alvo a abater no quadro do que supostamente será
uma visão sustentável da produção de fontes de luz. De acordo com a bula desta visão, as lâmpadas
incandescentes são fonte, não de luz, mas de desperdício de energia e devem ser massivamente
substituídas pelas CFLi (Compact Fluorescent Ballast Integrated Lamp).

Mas o que estará por detrás deste processo? Porque razão devemos reagir à sua aparente bondade?
Neste texto, cuja informação se baseia num artigo recente do designer de iluminação Kevan Shaw 1 e
numa entrevista informal com o designer de iluminação Pedro Ek Lopes, membro da PLDA2 em
Portugal, tentamos tomar uma posição e alargar o debate acerca de um tema que tem implicações
muito mais sérias do que à primeira vista parece.

1
www.kevan-shaw.com
2
Professional Lighting Designers Association
Manobras

Primeiro os factos: até Setembro de 2010 deverão desaparecer do mercado as lâmpadas incandescentes
de mais de 75 watts; um ano depois, as de 60 watts seguem o mesmo caminho. Até 2012, todas as
lâmpadas incandescentes chegam ao fim, de acordo com uma directiva da União Europeia, decidida em
Dezembro de 2008. A decisão pressupõe que apenas as chamadas ‘lâmpadas económicas’ continuem a
ser produzidas. Quase sempre longe dos holofotes dos media, que ainda não se aperceberam das
consequências e da importância desta decisão, estamos a assistir a uma dramática conjugação entre um
acto legislativo irresponsável, visões ambientalistas estreitas e estratégias empresariais cegas a tudo o que
não se encaixa na sua visão optimizante da produção de bens de consumo.

Sabemos que a pressão da indústria é raras vezes boa conselheira, e inúmeros problemas sociais e
ambientais comprovam-no; sabemos como uma visão resignada da dinâmica do mercado nos leva ao beco
sem saída de ver o Planeta depauperado, o desenvolvimento desequilibrado e as boas-vontades ecológicas
obscurecidas por confusas operações de desculpabilização.

Ora é raro uma decisão – errada segundo todos os padrões tecnicamente comprováveis – ter um impacto
tão directo no nosso quotidiano, na experiência da nossa vida pessoal e profissional, na vivência das
nossas casas, das nossas escolas, das nossas empresas.

A pressão, iniciada em secretismo, surgiu na sequência da publicação, em 2006, do relatório ‘Light’s


Labour’s Lost’ pela auto-designada Agência Internacional de Energia, uma QUANGO3 internacional. Nessa
publicação – uma espécie de livro-branco – são apresentados os enquadramentos para a legislação que
entretanto temos vindo a ver aplicada por governos em todo o mundo, incluindo o Português.

Austrália + Earth Day Network vs. General Electric + Brasil

A Austrália foi o primeiro país a declarar a compulsória aposentação da invenção revolucionária de Thomas
Edison. Mas a substituição tem de ser considerada ‘cosmética’, uma vez que o governo do conservador
John Howard recusa-se a assinar o Protocolo de Kyoto! Por outro lado, quando Kathleen Rogers, presidente
da Earth Day Network, uma das organizações que participa da aliança pelo fim das lâmpadas
incandescentes, comenta «que as lâmpadas incandescentes passam a maior parte de sua vida produzindo
calor, e não luz», estamos perante uma perigosa ingenuidade científica. Face ao carácter complexo do
fenómeno lumínico, ambientalistas e politicos – cínicos (ou ignorantes) – aliam-se numa posição imobilista
face ao próprio desenvolvimento tecnológico, que não deveria ser pensado fora da dinâmica da produção
industrial.

No campo oposto, a General Electric, maior fabricante norte-americana de material de iluminação, acaba de
iniciar uma campanha contra a eliminação das lâmpadas incandescentes, prometendo produzir um modelo
alternativo com eficiência energética duas vezes superior às actuais. A empresa alia-se assim ao Conselho
de Defesa dos Recursos Naturais para cumprir o Programa Norte-Americano de Acção contra o Carbono,
cujo objectivo é controlar as emissões dos gases responsáveis pelo efeito-estufa por meio da adopção de
medidas de conservação de energia. À posição da Earth Day Network, responde a General Electric, em
comunicado: É pouco inteligente congelar a tecnologia em benefício das lâmpadas fluorescentes
compactas de alta eficiência energética que existem hoje. Preferimos continuar inovando e oferecendo aos
consumidores tradicionais, comerciais e industriais um número maior, e não menor, de escolhas de
eficiência energética.

Entretanto, o Governo Brasileiro revela sensatez. Alexander A. Karsner, secretário assistente da Energia
para assuntos de eficiência e fontes renováveis, disse que o governo poderia em tese forçar qualquer
mudança. «Mas determinar qual deve ser a nova tecnologia em uso provavelmente não é a maneira certa
de avançar4. Estabelecer um padrão de desempenho minimamente consensual seria melhor, porque
permitiria que a indústria o cumprisse com qualquer tecnologia que fosse capaz de oferecer».

3
QUANGO: acrónimo para ‘organização quase-não-governamental’. No Reino Unido, o termo é por vezes explicitado como ‘non-
departmental public body’, ou NDPB.
4
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI1472280-EI8255,00.html
Um grave problema de qualidade

É hora de fazer rewind: a CFLi5 foi introduzida no final dos anos 80; na altura, foi encarada como uma
tecnologia de transição entre a lâmpada incandescente e uma solução fluorescente compacta para uso
doméstico, em equipamentos desenhados especialmente para candeeiros fluorescentes contendo balastros
integrais. Mas não foi o que viria a acontecer. A CFLi tem sido encarada como uma solução permanente na
família das fontes de luz disponíveis.

Mas onde residem os problemas? É certo que desde a introdução da CFLi assistimos a melhoramentos
substanciais da mesma, na linha do sucedido com as lâmpadas fluorescentes em geral. A rendição de cor
melhorou ligeiramente e os fabricantes estão a vender lâmpadas de tonalidades quentes, mais próximas da
cor das incandescentes com que estamos familiarizados. Também o equipamento evoluiu, na medida em
que a adopção de frequências elevadas reduziu o tremeluzir, permite um arranque mais rápido e tempos de
aquecimento mais curtos – ainda que, note-se, todos continuem longe da performance da fonte
incandescente e serem escassas as marcas que têm capacidade para investir nas soluções mais
sofisticadas, capazes de levar a lâmpada a resistir melhor ao desgaste resultante dos sucessivos
acendimentos6.

Quanto à rendição de cor, não evoluiu significativamente porque jamais poderia evoluir e garantir ao mesmo
tempo a prometida poupança de energia. Temos de aceitar que a verdade é que apenas as velhas
incandescentes produzem luz aquecendo algo até obterem um brilho intenso. É assim que o sol funciona,
garantindo um espectro de cor suave e contínuo; por isso as lâmpadas incandescentes dão uma luz tão
mais natural7.

Em visita a um cliente, na fase final de um projecto de iluminação de interiores e exteriores de uma moradia na Comporta, o designer
de iluminação Pedro Ek Lopes demonstrou in loco as diferenças entre uma e outra iluminação. Bastou colocar lado a lado uma
lâmpada incandescente (candeeiro do lado esquerdo) e uma CFLi (candeeiro do lado direito). À esquerda, temos assim a iluminação
quente e completa de uma lâmpada incandescente. À direita, a iluminação lacunar e distorcida de uma «económica’. Será preciso
dizer qual foi a escolha do cliente?

5
Compact self-ballasted Fluorescent Lamp
6
Ao nível da electrónica, há soluções que reduzem os danos das lâmpadas ao acender, mas são tecnologias completamente fora do
orçamento dos fabricantes chineses. Uma decisão a tomar é comprar as lâmpadas em agentes profissionais e jamais em
supermercados.
7
Tim Richardson, «Why CFLi light doesn't look quite right», http://www.tim-richardson.net
Aliás, de acordo com o Color Rendering Index8, a luz do sol tem um índice de rendição de cor de 100.
Reparamos de imediato, por exemplo, quando este número desce abaixo dos 90. As lâmpadas CFLi são
lâmpadas de vapor de mercúrio de baixa pressão, o que significa que produzem luz ultra-violeta, mais do
que acontece com uma lâmpada incandescente – esta é a razão porque é muito improvável ver luzes
fluorescentes em galerias de arte (os raios UV destroem as coisas)…

Clarificando: as CFLi sintetizam a luz branca através de um fósforo dentro do tubo. Cada pó produz um tipo
de luz. Quase todas as CFLi contém uma mistura de três fósforos, seleccionados para gerar luz branca (tal
como os fósforos das TV pré-écran plano). Mas há cores que faltam no espectro. Se fizermos passar luz de
uma CFLi por um prisma de vidro, não obtemos um arco-íris completo porque nem todas as cores lá estão
(Curva de Distribuição Espectral – Spectral Distribution Curve). É por isso que à luz da CFLi as coisas ficam
com cores esquisitas – há cores que desaparecem (tal como quando procuramos um carro verde num
parque de estacionamento à luz da iluminação pública alaranjada 9. O mesmo acontece aliás com os LED
brancos, o que torna a lâmpada incandescente ainda mais imprescindível.
Quanto às fluorescentes de alta qualidade, têm de facto melhor rendição de cor, mas com uma eficiência
energética muito relativa10.

Curva de distribuição espectral (SPD Curve): à esquerda, luz solar, ao centro, lâmpada incendescente, à direita, compacta
fluorescente

Relativamente à emissão de luz, a publicidade às CFLi é enganosa. Os fabricantes sugerem que vendem
lâmpadas com o equivalente das wattagens familiares, mas a verdade é que as CFLi emitem, mesmo
quando novas, apenas 90% do anunciado (face às incandescentes) e depois das 2 000 horas de uso –
qualquer coisa como dois anos num contexto doméstico –, apenas 70%! É uma diferença substancial
relativamente à qualidade da luz (e qualquer pai ou mãe que leia uma história aos filhos antes de adormecer
já reparou que noite após noite temos cada vez mais dificuldade a ler os textos, cujas páginas apresentam
uma tonalidade esverdeada).

Depois, há ainda o facto de que estas lâmpadas não funcionam com dimmers nem na maioria dos
interruptores temporizados, detectores de presença ou aparelhos similares que introduzimos nos nossos
lares para reduzir o consumo de energia. A sua inserção na domótica e em todas as tecnologias do espaço
e da construção é, no mínimo, problemática. Mais uma vez, não é nesta direcção que qualquer projecto de
qualificação do ambiente, através do design, deveria caminhar. Estamos a falar de uma falta de
sensibilidade para dimensão estética – a base do carácter de cidades inteiras, da sua imagem e da sua
atmosfera – que de alguma maneira pode colocar um triste ponto final a toda uma maneira de integrar a luz
numa cultura urbana de afectos e de prazer, em nome de uma funcionalidade tecnocrática cujas virtudes
são, na verdade, como veremos, falsas.

8
Expliquemos como funciona o CRI. Pedro Ek Lopes: As pessoas pensam que há uma correlação directa e que, por exemplo, CRI 90
é muito bom! O que acontece é que o CRI é medido através de comparação de, unicamente, 8 cores para CRI 80/89 e 14 cores para
CRI 90+. Naturalmente as implicações e a falsidade do sistema (CRI) em termos de experiência visual é enorme, uma vez que o ser
humano vê milhões de cores! (e dependendo da experiência, e.g. um designer gráfico distingue muitas cores mais do que um
sapateiro ou economista). Ver tabela anexa.
9
Que emite radiação unicamente em determinada zona do espectro. Uma lâmpada de vapor de sódio de baixa pressão só emite
radiação na zona dos 555nm e por isso a sua luz é amarela; no caso da sódio de alta pressão a luz emitida é de tonalidade alaranjada.
10
Quando se pretende uma luz ambiente geral, ou seja difusa, as fluorescentes são normalmente boas por serem fontes de luz
difusas. Iluminam para todo o lado, o que, com bons sistemas reflectores servem para iluminação geral, mas raramente para
iluminação pontual ou de realce.
Retrocesso cultural

Finalmente, a introdução arbitrária e desenquadrada da História da Luz de uma fonte de Luz como a CFLi é
não apenas um erro ao nível da evolução da tecnologia mas um retrocesso cultural. É virtualmente
impossível imaginar a história da produção cultural humana no que ela partilha com a da velha lâmpada
incandescente – dos tempos heróicos de Edison, que com ela iluminaria a primeira rua em New Jersey, à
intimidade dos espaços iluminados que a literatura, a pintura ou o cinema eternizaram. A lâmpada é de
resto o símbolo universal para uma boa ideia!

Mas de que servirão em breve esses documentos de Beleza, que a História e a Arte nos legaram, se nos
nossos lares os nossos filhos deixarem de ter junto a si o candeeiro de luz incandescente, a familiar
lâmpada que nos acompanha desde a modernidade? Quão absurdas se tornariam as referências ao calor
daquela luz se eliminarmos da nossa paisagem doméstica a sua qualidade ambiental, intrinsecamente
cultural? Que dizer do carácter dos nossos museus, das nossas igrejas, dos nossos cafés, uma vez
expandida uma concepção de luz fria? No íntimo da percepção e da cognição dos espaços iluminados
artificialmentes, que concepção do mundo prevalecerá?

Afinal, nestes termos, a questão do desperdício de energia é um erro de juízo acerca do que é o ser
humano na sua totalidade física e psíquica – uma lâmpada que aquece e dá luz ao mesmo tempo confere
ao ambiente uma qualidade e fluidez que estimulam a mente e o cérebro de uma forma muito mais sudável
que o ambiente desencantado e desagradável de uma CFLi. Como a experiência quotidiana o comprova, o
calor pode ser bastante positivo. E no inverno ajuda a minimizar a necessidade de aquecimento dos
espaços (em termos energéticos, é muito mais barato aquecer um espaço através de radiação do que
através de ar condicionado…)

Ou seja, quereremos nós viver em ambientes que não estão reproduzidos fielmente em todo o seu
espectro, em toda a sua qualidade?

Falsa sustentabilidade…

Mas, mesmo deixando de parte a pobre experiência estética e humana que o uso indiscriminado e exclusivo
destas lâmpadas traz, há aspectos ainda mais urgentes que exigem a nossa atenção. Falo de aspectos de
ambiente e de sustentabilidade, no imediato.

De acordo com o European Lamp Consortium, uma organização que representa os principais fabricantes de
lâmpadas na Europa, estes vendem actualmente 2.1 bilhões de lâmpadas incandescentes todos os anos,
nos espaços dos 27 Estados membros da Comunidade Europeia. Aceitando de barato a afirmação dos
fabricantess, de que as CFLi têm 6 000 horas de vida, isso significa que, todos os anos, 3.6 bilhões CFLi
serão deitadas fora. Portanto, hoje, são deitadas ao lixo 2.1 bilhões de lâmpadas. Infelizmente, a maioria
das lâmpadas CFLi contém 3 a 5mg de mercúrio. Se este metal pesado chega à camada fértil, os micróbios
convertem-no em metilo mercúrio, um tóxico solúvel em água e 20 vezes mais venenoso, e este surgirá na
cadeia alimentar através do peixe. Hum…

Quanto às poucas lâmpadas que são recicladas, não produzem grande quantidade de material reutilizável.
O vidro está demasiado contaminado para reutilização, com a excepção de aplicações primárias, como tinta
para pinturas rodoviárias (quem já experimentou partir uma ‘económica’ em casa sabe que é o pânico
geral11).

Algum do mercúrio é recuperado, mas a maior parte da lâmpada, os plásticos, a electrónica do balastro é
esmagada, moída e queimada para se recuperar algum chumbo, lata, ouro ou prata que possa estar contido
na electrónica. Isto partindo do princípio que as lâmpadas foram recolhidas e processadas por empresas de
reciclagem. Porque mesmo na Suécia, que tem o mais alto índice de reciclagem na Europa, são recolhidas
qualquer coisa como apenas 70% de todas as lâmpadas em circulação.

Apesar de ter um dos maiores operadores de reciclagem de lâmpadas, os suecos exportam o lixo das
lâmpadas para a Noruega e a Dinamarca (onde, aí sim, poderão vir a ser reciclados). Talvez saibam algo
que nós não sabemos acerca da segurança e da economia da reciclagem…

11
Relativamente ao mercúrio, uma lâmpada partida em casa tem mercúrio suficiente para contaminar o espaço de forma bastante
nociva para o ser humano. Na verdade, deveria ser feita uma evacuação temporária (um ou duas semanas!) e consequente
descontaminação.
É igualmente evidente que a complexidade da CFLi enquanto produto, em comparação com a humildade da
lâmpada incandescente, teria de ter enorme impacto ambiental na fase de manufactura. Convém aos
produtores de lâmpadas afirmar que os inputs da CFLi são cerca de 6 vezes os da lâmpada incandescente.
Quando nos dizem que a CFLi tem 6 vezes mais tempo de vida, temos tendência a relativizar o problema.
Infelizmente, a investigação empreendida no âmbito de processos legislativos europeus chegou a números
bem diferentes…

As lâmpadas incandescentes necessitam de 0.28 KwH para a sua produção, enquanto que a CFLi
necessita de cerca de 3.3KwH – praticamente doze vezes mais! Mais alarmante é o desperdício associado:
no caso da lâmpada incandescente, 5 gramas; no da CFLi, 128 gramas, dos quais 78 perigosamente
tóxicos! Sabendo, como sabemos, que uma lâmpada CFLi corrente pesa cerca de 80 gramas, este é um
desperdício chocante de recursos, com um impacto terrível ao nível de perigosas emissões poluentes.
Talvez o legislador ignore que cerca de 80% da produção de CFLi mundial é de origem chinesa – e sendo
assim, que temos a ver com isso? Não será problema ‘deles’? Mais tarde, talvez tarde demais, não fará
sentido criticar a China pela poluição, criando cotas de CO2 para as fábricas a carvão ao mesmo tempo que
encorajamos a importação de produtos que trazem problemas sérios a curto, médio e longo prazo?! A
verdade inconveniente é cada vez mais visível: há na China regiões inteiras devastadas pelo minério da
escavação de mercúrio, e cada vez mais trabalhadores em fábricas de CFLi afectados irreversivelmente.

No interior da compacta fluorescente…

CUIDADO COM AS CFLi!

Todo o cuidado é pouco na hora de manusear lâmpadas fluorescentes compactas. Caso uma
delas se parta, dá-se a libertação de mercúrio.

Não use aspiradores de pó para limpar;


Logo após o acidente, ventile o ambiente – abra portas e janelas;
Saia do local por, no mínimo, 15 minutos;
Para limpar, use luvas e avental. Evite contato do material com a pele. Coloque tudo num saco
plástico;
Com um papel humedecido, retire os pequenos caquinhos que ainda restarem (sem retirar as
luvas…);
Coloque o papel dentro do saco plástico e feche bem;
Coloque todo o material dentro de um segundo saco plástico. Lacre o saco plástico evitando a
contínua evaporação do mercúrio liberado;
Logo após a limpeza, lave as mãos com água corrente e sabão.

Na hora de deitar fora é que são elas…


Uma campanha inútil, ou pior?

Para um especialista como Kevan Shaw, a campanha em curso não traz consigo qualquer poupança de
energia significativa, assim como não contribui para a redução de CO2.

Em primeiro lugar, há o factor Potência. É uma questão muito técnica, mas simplifiquemos: o balastro de
uma CFLi é feito da forma mais barata possível. Tem um factor de potência de 0.5; quando comparado com
os balastros de fluorescentes de boa qualidade, que têm um factor potência de 0.9, ou as lâmpadas
incandescentes, que é de 1. Isto significa que um balastro de uma CFLi gasta o dobro da energia exigida
por uma lâmpada incandescente para conseguir o mesmo output em watts! Analisando outra lâmpada, de
11watts por exemplo, o número passa de 17,25 watts de consumo para 23,5! Mais do dobro…

E já agora: o output é em lumens e esse continua mais reduzido do que o da a incandescente. Uma análise
mais extensa do mercado indica que as incandescentes (60w) debitam entre 690 e 710 lumens e as CFLi
(11w) entre 580 e 610 lumens! É uma questão de estarmos muito atentos às letras pequeninas nas
embalagens.

Números ‘verdes’…

Também os números apresentados tanto pelos governos como por NGO como a GREENPEACE,
relativamente às poupanças potenciais de energia por forma a combater o aquecimento global, estão longe
de corresponder à realidade.12

Uma leitura atenta dos dados disponíveis revela que não há provas concludentes acerca do consumo de
iluminação nos lares comuns. Os números são baseados em pressuposições, em função do número de
pontos de luz existentes nas casas, e não se baseiam em estudos coerentes acerca da potência realmente
necessária para a iluminação. Mesmo nas situações em que foram realizados estudos, a iluminação é
frequentemente englobada num conjunto de aplicações dos mais variados tipos (desde que tenham
tomada). A verdade é que se atentarmos aos números, apenas cerca de 10% é energia doméstica, e sendo
assim, este é um valor insignificante relativamente aos gastos totais de energia de qualquer país europeu.
Mais uma vez, a história está mal contada.

Não que qualquer poupança de energia, por mais ínfima, não deva ser considerada importante. Mas não o é
menos a forma como a suposta poupança é obtida. Profissionais conceituados, como Kevan Shaw, que
estudam estas questões e conhecem o mercado e a tecnologia a fundo, não acreditam numa ideia de
poupança de energia em que o que está por detrás é um dano ainda mais grave ao ambiente. Sobretudo
quando é possível conseguir ganhos energéticos significativos de outras formas.

… futuro azul

A General Electric não está sozinha. Recentemente, a OSRAM introduziu a lâmpada de halogénio para
corrente alternada, logo seguida pela Philips. Ambas são compatíveis com as incandescentes existentes
(formas standard e ‘vela’) e permitem uma poupança de energia da ordem dos 30%, sem utilização de
materiais perigosos. Têm factor-potência de 1 e uma qualidade de luz identica à da incandescente, com
uma vida de 2 000 horas (o dobro da expectativa de vida de uma lâmpada incandescente). No mercado,
são muito mais baratas que as CFLi – e nem sequer são subsidiadas! Quaisquer apoios deveriam ser
canalizados para estas lâmpadas e não para as CFLi. Elas sim garantem uma real e séria poupança de
energia, sem os riscos das falsas económicas.

Tal como acontece na área da iluminação geral doméstica, e agora com as lâmpadas reflectoras (adeus
dicróicas?), os processos legislativos têm passado ao lado do bom senso e da informação disponível. A
situação actual exige porém uma atenção redobrada pois estão em causa dois direitos fundamentais: a
qualidade da luz no quotidiano e a sustentabilidade do ambiente.

12
A menção a esta questão no site da QUERCUS é no mínimo dispiciente. Exige-se mais rigor na política ambiental e na defesa de
uma ideia de Ecologia que tem de se aprofundar.
Tente fazer isto em casa!

A luz é visível através da matéria que a reflecte. Até atingir o objecto, é apenas radiação. Tem sido
divulgado, inclusivamente nas embalagens dos produtos fornecidos pelos fabricantes, que há uma
equivalência de performance entre a lâmpada incandescente de 60W e a CFLi de 11W. Isto é uma
falsidade.

Apesar da dupla limitação do meio de captação (câmara fotográfica) e de reprodução (impressão offset)
serem incomparavelmente menos subtis e complexos que o mecanismo óptico e perceptivo do ser humano,
As fotos de objectos quotidianos demonstram-no. Para este teste foram seleccionadas duas lâmpadas de
uso corrente: a SYLVANIA 60W (à Esquerda) e a Philips CFLi 11W.

FOTO DA ESQUERDA
Exposição de objectos a incandescente 60W SYLVANIA c/ output 710 lumens
Consumo: 60W
Fotografia: exposição 1/15, abertura F6.3, ISO 100; balanço de brancos 3200K
PVP.: 1.21€ + ecotaxa 0.41€

Comentário: brilhos, texturas e cores são reproduzidas na totalidade, dada a emissão de espectro continuo
(ver gráfico da curva de distribuição spectral – SPD)

FOTO DA DIREITA
Exposição de objectos à compacta fluorescente integrada 11W PHILIPS MASTER PL-Electronic c/ output 600 lumens
Consumo: 17.25W
PVP.: 11.03€ + ecotaxa 0.16€

Fotografia exposição 1/15, abertura F6.3, ISO 100; balanço de brancos 3200K
Brilhos, texturas, cores são reproduzidas apenas parcialmente, com lacunas em vários comprimentos de onda
(ver gráfico de curva de distribuição spectral – SPD)

É evidente que a questão do calor da lâmpada não pode ser negligenciada numa análise holística do
problema; perante uma ideologia da optimização dos recursos que é eminentemente tecno-lógica e à qual
escapa quaquer sentido de todo, há que manter os sentidos alerta.

Ou seja, não é uma directiva comunitária que nos impede de sentir que, lá no fundo, todos sabemos a
diferença que vai entre a lâmpada incandescente e as supostas ‘económicas’ – ao nível sensível, as perdas
são ao nível da qualidade da experiência da própria luz, algo que a legislação, cega à
multidimensionalidade do problema, é incapaz de abranger. Ao nível racional, foram já elencadas as
inúmeras falsidades que poluem não apenas o planeta, mas o próprio debate. Este é um facto de que
apenas os profissionais mais atentos têm consciência: Os políticos deviam servir a sociedade e não o
contrário; fecham o debate e minam as decisões (Pedro Ek Lopes)

Fique o desafio: compare-se – num restaurante romântico, num lar natalício… – os ambientes criados pelas
tradicionais lâmpadas incandescentes e pelas novas fluorescentes ‘economizadoras’. Ainda que possa
haver aspectos a rever na sua produção, acabar com a lâmpada incandescente é um erro histórico crasso,
fruto de uma rede de tecnocracia, interesses e ignorância. As futuras gerações merecem que lutemos por
uma concepção da tecnologia, do ambiente e do mercado que seja definida a partir da complexidade do
saber e não de mentiras e ilusões que apenas interessam a pequenos mas irresponsáveis círculos de
poder. É hora de parar esta loucura! SAVE THE BULB! 13 Mário Caeiro
13
http://savethebulb.org/
SALVEM A LÂMPADA!
ENTREVISTA
Eficiência, Sustentabiidade e qualidade – a verdade dos conceitos
A opinião de Pedro Ek Lopes*

*Mestre em Design de Iluminação Arquitectural, projectista e gestor de empresa de iluminação

Para Pedro Ek Lopes, existem actualmente vários conceitos mal entendidos, no que diz respeito
descontinuação da lâmpada incandescente. Tal como vimos no número anterior da IP, de uma forma geral,
os vários actores do mercado desconhecem aspectos básicos. Seguem-se algumas notas para prosseguir o
debate.

Eficiências…
Mário Caeiro – Relativamente à questão da Eficiência, esquece-se muitas vezes que iluminar de forma
eficiente um ambiente ou um objecto arquitectural passa por uma decisão entre fontes de luz difusas e
pontuais…
Pedro Ek Lopes – É comum pensar-se que iluminar de uma forma eficiente é através da utilização de fontes
de luz ditas eficientes, i.e. com o melhor rácio lumens/watt (output/input); aliás, é esta a definição
geralmente entendida para eficiência. Mas as fontes de luz têm características que as diferenciam em
aspectos qualitativos que não se podem desassociar desta definição, nomeadamente a existência de fontes
de luz difusas e fontes de luz pontual.
Isto quer dizer que se queremos realçar algum elemento, provavelmente é melhor utilizar uma fonte de luz
pontual menos eficiente (lumen/watt) do que uma fonte difusa mais eficiente. E assim o ambiente luminoso
criado é verdadeiramente eficiente, uma vez que não desperdiça energia difusa quando a queremos
concentrada.

Calores…
MC – As fontes ditas menos eficientes são as de espectro contínuo, que emitem radiação fora dos
comprimentos de onda a que a visão é sensível (em especial os Infra-Vermelhos, o que provoca o
aquecimento)…
PEL – Sim, no entanto, importa referir a importância que para nós, os humanos, tem a percepção da
qualidade total que os materiais possuem em diversas situações! Logo, iluminação eficiente deveria ser
medida única e exclusivamente considerando o que o espaço precisa em termos de luz, efeitos, emoções,
contrastes, sombras, brilhos, cores, texturas, espectro contínuo ou descontínuo, etc., e se o esquema
desenhado permite a utilização de menor energia com a tecnologia disponível… já agora, se o budget o
permitir! Porque é tudo muito bonito, mas depois o mais barato é muitas vezes a solução que deteriora o
ambiente, já que são equipamentos que terão de ser substituídos ou que apresentam perdas de rendimento
ao longo da vida útil do projecto.
Em resumo, a questão da eficiência luminosa prende-se com a de uma real eficiência do ambiente
luminoso.

Energia…
MC – Outro aspecto muito relevante que não é considerado prende-se com o que consideramos para o
consumo energético de uma fonte de luz. O comum é considerar unicamente a energia durante a utilização.
No entanto, vários factores contribuem para o real consumo.
PEL – Claro. Veja-se o que acontece nas distintas fases de produção e fim de vida:
1.ª fase: Produção. A energia utilizada na produção das fontes de luz (não existe uma relação directa entre
a lumen/watt e consumo energético durante a produção, mas sabemos que algumas das lâmpadas ditas
eficientes consumem muitíssimo mais nesta fase do que lâmpadas menos eficientes). Um número
avançado pela comunidade de lighting designers foi de que as lâmpadas ditas economizadoras que têm
vindo a ser publicitadas, recomendadas e até oferecidas, as chamadas CFLi – compacta fluorescente
integrada (dado que tem o balastro – componente electrónica incorporada no casquilho da lâmpada – mais
uma burrice! – consome 12 vezes mais energia para ser produzida do que a velhinha e tão agradável
Incandescente. A indústria não desmentiu nem comentou, o que nos coloca perante a seguinte questão:
Será que é ainda mais do que 12 vezes? Não nos fornecem dados… claro.

2.ª fase: Fim-de-vida. O que acontece quando as lâmpadas são substituídas? Ora, a incandescente produz
material orgânico, completamente reciclável pela natureza, dado que não contém materiais outros que não
naturais – alumínio, vidro… No caso das CFLi, estas lâmpadas têm mercúrio no seu interior. Material não
reciclável e extremamente nocivo para o meio ambiente! A indústria desculpa-se com o facto de ainda
grande parte da energia ser produzida através de minas de carvão e este processo é ainda mais nocivo.
Ora, parece-me que o que deve ser alterado é a fonte de energia e não a fonte de luz!
Além do mercúrio, estas lâmpadas incluem o equipamento electrónico que as faz funcionar – o balastro.
Este tem uma vida útil completamente diferente da fonte de luz em si. Durará cerca de 50.000 horas (se for
de qualidade aceitável) enquanto a lâmpada durará (a acreditar na indústria) 6.000 horas! Não me parece
eficiente e muito menos sustentável e amigo do ambiente! Isto a juntar a tanto outro lixo que a lâmpada
produz. Como sabemos, a reciclagem ainda não é uma realidade.
Logo, milhares destas lâmpadas acabarão em aterros, contaminado a terra a uma escala desconhecida.
Provavelmente chegará às águas o que provocará uma alteração genética nos peixinhos que comemos.
Terão de ganhar um camada de gordura adicional para se protegerem e se colesterol é o problema que é –
causador do maior número de mortes no planeta se não estou em erro – será ainda maior problema.

Sustentabilidades
MC – A reciclagem também tem custos para o planeta. É uma palavra bonita, mas até que ponto
corresponde a uma política verdadeira?
PEL – Sustentável é consumir menos e produzir menos lixo. A verdade é que as lâmpadas contêm
mercúrio, e se na indústria, chamada ‘de qualidade’ a quantidade anda pelos 2 mg, nas chiness (que vêm
de muitos países e não apenas da China), chegam aos 10mg. Isto de acordo com testes realizados
recentemente.
Introduzir componentes electrónicos na reciclagem que estão em perfeitas condições de funcionamento
única e exclusivamente porque a lâmpada não funciona, não me parece muito sustentável! E se algumas
lâmpadas duram as horas indicadas pelos fabricantes, outras não chegam nem a metade, segundo testes
efectuados em condições optimizadas para a longevidade da lâmpada. Será sustentável reciclar todos
aqueles componentes e materiais ao fim de 2000 horas?

Qualidades…
MC – Quanto à qualidade da luz, ela deve ser prioritária em qualquer instalação.
PEL – Sim, mas iluminando para o ser humano, nada mais. E o que vemos debaixo de uma fonte
incandescente é uma experiência total do sentido da visão.
Já o ambiente iluminado por CFLi apresenta-se como espectro descontínuo e por isso não revela as
propriedades dos materiais na sua totalidade. Esta é uma experiência naturalmente muito menos
interessante e fidedigna para os nossos sentidos (não só da visão, já que todos estão interligados). Aliás
que consequências poderá isso ter ao nível da própria cognição?

Preços…
MC – Há quem argumente que os cuidados com a qualidade da fonte de luz tornam os projectos menos
viáveis economicamente.
PEL – O argumento da redução de custos de instalação também não colhe. O projecto é sempre
económico. O briefing tem é de incluir naturalmente restrições orçamentais, no concreto. Penso até que
reduziríamos vários custos, desde instalação, consumo em vida e reciclagem, em projectos que preferem
elevar o nível de qualidade visual e ambiental. Basta pensar na quantidade de pontos de luz que muitas
vezes não são utilizados e quando são, que não fazem sentido. Ora, existe muito material, além do
equipamento e da lâmpada, que deve ser contabilizado. Caminhos de cabos, PVC, cobre, etc., que não
fazem sentido e são custos reais desde a construção até às questões de sustentabilidade. O PVC incorpora
energia na sua produção… o cobre também é um recurso limitado e no mínimo também consome energia
na sua extração e transformação.

Inconsciências
MC – Deve deduzir-se que a informação é escassa?
PEL – O pior ainda é o facto de existirem tantos agentes no mercado sem formação e muito menos
conhecimento. Recentemente fui a casa de uma amiga e quando entrámos tinha uma série de lâmpadas
fluorescentes e, claro, também CFLi ligadas! Ao questioná-la da asneira disse-me que quem lhe vendeu a
casa – um qualquer agente imobiliário – lhe informara que aquelas lâmpadas consumiam muito pouco e que
a maior parte do consumo se dava no arranque, logo gastaria menos energia deixando-as ligadas! Mais um
perito como tantos que proliferam por toda a sociedade!!!
Na lâmpada incandescente, a classificação E quanto à eficiência energética afasta os consumidores mais
incautos. Da mesma forma, a classificação A na CFLi induz uma ideia de sustentabilidade. Não são
considerados o consumo real (volt x ampere), o consumo na fase de produção nem o consumo na fase de
fim de vida (reciclagem). Indústria e entidades reguladoras informam o consumidor de acordo com
parâmetros desadequados.

Importante referir que o consumo está no balastro (equipamento que faz a CFLi funcionar). Este cálculo é
feito através da multiplicação de Volt e Ampere. Se olharmos para as embalagens das lâmpadas, estes
valores vêm indicados.

Por exemplo na CFLi de 11 watts (uma das mais faladas uma vez que a indústria indica que é equivalente à
incandescente de 60 watts), os Volts são 230 (corrente usada em Portugal e em toda a Europa) e os
amperes são 75mA (230 x 0,075 = 17,25). 17,25 é o consumo desta lâmpada! Mais um engano na relação
com a incandescente é o facto da lâmpada incandescente produzir 710 lumens e esta 600 lumens (–
15,5%), logo toda a campanha é realmente enganosa. Reparem no que vem escrito na embalagem
(imagem em anexo). Naturalmente que penso ser a qualidade ainda o maior trunfo da incandescente.
Uma última referência que é extremamente importante é o facto de esta lâmpada ter até 2mg de mercúrio.
Material extremamente tóxico. No futuro sofreremos as consequênicas da poluição causada por lâmpadas
partidas no foro doméstico. Cancro irá aumentar, assim como problemas relacionados com o colesterol
também. Lembro que, campanhas do serviço nacional de saúde indicam que o colesterol é a doença que
mais mata em Portugal!
Em último lugar, é imporante referir que esta análise foi feita com uma lâmpada da Philips, um dos
fabricantes de referência. Outras lâmpadas de outros fabricantes contém muito mais mercúrio! MC

You might also like