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08/04/2015 16:26

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Estado de Minas

MPF recomenda cumprimento da Lei de Acesso à Informação em

concursos públicos

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou à Universidade Federal de Uberlândia (UFU) que permita aos
candidatos que participarem dos concursos públicos o acesso à informações e documentos produzidos pelos
demais concorrentes, tais como folhas de resposta das provas discursivas, gravações das provas orais e
documentação comprobatória de títulos dos aprovados.

De acordo com a recomendação, concursos públicos são eventos de natureza administrativa e devem receber o
mesmo tratamento conferido aos demais atos praticados pela Administração Pública no que diz respeito à
obrigação constitucional da publicidade, reforçada há cerca de três anos pela Lei de Acesso à Informação (Lei
12.527/2011), que estabeleceu a publicidade como regra e o sigilo como exceção.

“Na verdade, quando determinada pessoa formula requerimento para ter acesso às provas dos candidatos que
concorrem com ela a uma vaga oferecida pela universidade, está exercendo um direito amplamente
assegurado pela legislação brasileira, que garante ao indivíduo receber dos órgãos públicos as informações
necessárias à defesa de seus direitos ou ao esclarecimento de situações de interesse pessoal”, explica o
procurador da República Leonardo Andrade Macedo, autor da recomendação.

Normalmente, um candidato pede vista das provas dos concorrentes para cotejá-las com as suas, o que acaba
constituindo uma espécie de controle administrativo e social dos atos da banca examinadora.

Em provas discursivas e orais, por exemplo, a comparação das respostas dos candidatos é método importante
na própria atribuição das notas. Por outro lado, nas provas de títulos, o acesso público permite a verificação,
por critérios objetivos, da pontuação concedida a determinado candidato, afastando-se eventuais
irregularidades.

“Ou seja, é direito do cidadão obter tais informações e dever do órgão público prestá-las, porque, como o
Superior Tribunal de Justiça já reconheceu, concurso público, como o nome indica, exige a mais ampla e
irrestrita transparência e publicidade, e quem nega acesso a informações pertinentes a concurso público
mutila a própria essência do instituto. Além disso, a divulgação de informações de interesse público,
independente mesmo de solicitações, visa, em primeiro lugar, possibilitar o controle social dos atos da
administração pública”, afirma Leonardo Macedo.

Sigilo

A Universidade Federal de Uberlândia vem negando os requerimentos feitos por candidatos de vista das provas
realizadas pelos concorrentes, sob o argumento de que tais documentos constituiriam “informação de caráter
pessoal de cada candidato”. O MPF contesta tal entendimento e afirma que “exames, provas e quaisquer
outros documentos e informações produzidos no curso de um processo seletivo de natureza pública para
provimento de cargos e funções públicas ou acesso ao ensino público não estão compreendidos no âmbito de
proteção do direito à privacidade, ressalvadas apenas as informações estritamente cadastrais, como
endereços, telefones e documentos pessoais”.

Ainda segundo o Ministério Público Federal, a Lei de Acesso à Informação define informação sigilosa como
“aquela submetida temporariamente à restrição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade para a
segurança da sociedade e do Estado (artigo 4º, III)”, o que de forma alguma guarda relação com o resultado de
provas em concursos públicos.

Por sinal, o próprio STF já limitou o sentido de privacidade concedido a determinadas informações no âmbito
do serviço público, ao julgar mandados de segurança interpostos contra a Lei de Acesso à Informação, que
obrigou a divulgação das remunerações recebidas por servidores públicos nos portais da Transparência.
Em um dos casos, o ministro Luiz Fux afirmou que “o cidadão que decide ingressar no serviço público adere
ao regime jurídico próprio da Administração Púbica, que prevê a publicidade de todas as informações de
interesse da coletividade”. Em outro julgamento, o Ministro Ayres Britto disse que “para além da simples
publicidade do agir de toda a Administração Pública, propicia o controle da atividade estatal até mesmo pelos
cidadãos”.

Para o MPF, fica claro, assim, que não existe nenhuma expectativa de sigilo por parte dos candidatos quanto
aos documentos e informações produzidas no curso de uma seleção pública, pois ao aderir às regras do edital,
o cidadão concorda com seus termos, especialmente aquele que prevê a possibilidade de apresentação de
recursos. Foi dado prazo de 30 dias para que a UFU informe se irá acatar a recomendação.

O MPF advertiu que eventual descumprimento poderá acarretar futura responsabilização do reitor da
universidade por ato de improbidade administrativa, já que, ao receber a recomendação, ele se torna ciente da
ilicitude das práticas adotadas até o momento.

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