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BOM JESUS/IELUSC
BIBLIOTECA
Documento: 34952
Tombo: &'1
Data: 02 5 /oV/JI).
N°
N° Ordem:'

Dados Internacionais de Catalogação na

Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Tratado de lit ía9em perspectivas contemporâneas

organizadoras Dionísia Aparecida busin Lamônica,
Denise Brandão de Oliveira e Britto. -- 1. ed. --
Ribeirão Preto, SP Book Toy, 2016.

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-65027-63-2

1. Crianças - Linguagem 2. Fonoaudiologia

3. Língua de sinais 4. Linguagem - Desenvolvimento
5. Linguagem escrita I. Lamônica, Dionísia Aparecida
Cusin. II. Britto, Denise Brandão de Oliveira e.

16-07733 CDD-616.855

Índices para catálogo sietemático:

1. Linguagem Desenvolvimento Fonoaudiologia

616.855

Agênc'a Brasileira do ISBN

027632
SBN 978-85-65027 63-2

9 788 565
13oo(t,$)ar4re►rs
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BOM JESUS/lELUSC
BIBLIOTECA
Documento: 34952
Tombo: &2i.4
Data: .25lo v 1.10
N°
N Ordem: ?•-~ T

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Tratado de linguagem perspectivas contemporâneas /

organizadoras Dionísia Aparecida Cusin Lambnica,
Denise Brandão de Oliveira e Britto. -- 1. ed. --
Ribeirão Preto, SP Book Toy, 2016.

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-65027-63-2

1. Crianças - Linguagem 2. Fonoaudiologia

to
3. Língua de sinais 4. Linguagem - Desenvolvimen
Aparecida
5. Linguagem escrita I. Lamônica, Dionísia
Cusin. II. Britto, Denise Brandão de Oliveira e.

16-07733 CDD-616.855

Índices para catálogo sistemático:

1. Linguagem Desenvolvimento Fonoaudiologia

616.855

1 8 io i li
Agênc a Brasi eira do ISBN
SBN 978-85 65027-63 2

9 8 565 763
 TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM:
REFLEXÕES ACERCA DE DIFERENTES ESTUDOS
A linguagem é uma faculdade humana, com
função simbólica, influenciada pelo processo de
desenvolvimento do conhecimento e parte da ca-
pacidade de representação. A linguagem é previa-
mente existente, embora seja elaborada socialmen-
te e estruturada cognitivamente. Associado a um
processo maturacional, e sob controle genético, o
desenvolvimento da linguagem é sensível aos inputs
ambientais, influenciado pela estimulação e pelo de-
senvolvimento de outras funções: atenção, memória,
percepção, inteligência, cognição e audição.
Ao longo dos anos, diversos estudiosos apre-
sentaram à comunidade científica explicações ou
teorias que abordam o processo de aquisição e
desenvolvimento da linguagem. Os estudos acerca
das teorias de aquisição e desenvolvimento da lin-
guagem sintetizam-se em quatro grandes correntes
teóricas, a saber: o Empirismo, tendo como principal
ou mais conhecido defensor Burrhus Frederic Skin-
ner, com a proposta behaviorista; o Racionalismo
ou Inatismo de Noam Chomsky; a Dialética de Jean
Piaget; e o Interacionismo, cujo principal represen-
tante é Lev Semenovich Vygotsky.
O que se propõe nesse capítulo é a apresenta-
ção das principais abordagens dessas te.prias, des-
crevendo, com certa imparcialidade, como cada uma
delas explica e/ou descreve a linguagem humana e
sua aquisição.
ANA TERESA BRANDÃO DE OLIVEIRA E BRITTO
DENISE BRANDÃO DE OLIVEIRA E BRITTO
1. Teoria Comportamento' -
Behaviorismo
A teoria comportamental ou behaviorista foi di-
fundida pela publicação de Burrhus Frederic Skinner,
Verbal Behavior (1957), baseada nas ideias de John
B. Watson, que defendia que todo comportamento
é aprendido e pode ser modificado.
A teoria behaviorista parte do pressuposto de
que a linguagem é um comportamento e que, como
tal, pode ser aprendida e também modificada. No
behaviorismo, a concepção é de que o comporta-
mento infantil é modificado por meio de estímulos
de outras pessoas e do meio no qual a criança está
inserida. Os estímulos são classificados como "re-
forço" - estímulo que aumenta a probabilidade de
ocorrência do evento; e "inibição" - que decresce a
probabilidade de ocorrência do evento. Considera-se
"comportamento operante" ou "aprendido" o com-
portamento resultante, modificado pelos reforços e
inibições, mediado por outros' 2.
Em relação à linguagem, a teoria behaviorista
defende a ideia de que os pais são os provedores
de modelos e realizam reforços e inibições que pos-
sibilitam à criança evoluir desde os diversos sons
produzidos a partir do nascimento (vocalizações
dentro e fora dos padrões da língua) até a linguagem
organizada em nível de discurso. A criança adquire

20 TRATADO DE LINGUAGUEM: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS
linguagem ou comportamento verbal quando voca-
lizações fora dos padrões, reforçadas gradualmente,
assumem formas apropriadas para a comunidade
verbal. As produções reforçadas são mantidas e as
produções ignoradas ou não reforçadas ou ainda
inibidas, entram em "extinção, ou seja, deixam de
ser utilizadas pela criança. Dessa forma, a criança vai
adquirindo um comportamento verbal equivalente
aos demais falantes de sua língua e comunidade'''.
A teoria enfatiza, portanto, a importância da
imitação e da repetição. Pode-se simplificar o pro-
cesso de aquisição da linguagem na abordagem
behaviorista por meio deste esquema:
LINGUAGEM = MODELO + IMITAÇÃO +
PRÁTICA / REPETIÇÃO + REFORÇO SELETIVO
Como toda teoria, a teoria behaviorista apre-
senta vantagens e limitações, opiniões favoráveis e
contrárias, de acordo com diferentes estudiosos. Para
alguns, a teoria explica o processo de aquisição, igno-
rando o processo de aprendizagem, além disso, ela
não considera o potencial da criança, subestimando
a inteligência e a cognição, partindo do pressupos-
to de que a linguagem é um comportamento ou
o resultado de um comportamento - redução da
linguagem. Questiona-se como uma criança poderia
aprender, somente por meio da imitação, todas as
possíveis sentenças que ela é capaz de produzir ao
longo da vida'.
Em contrapartida, a teoria behaviorista trouxe,
e ainda traz, contribuições, principalmente no que
se refere aos programas de estimulação e reabili-
tação dos distúrbios da comunicação. O esquema
"fornecimento de modelos + solicitação de imitação
+ repetição/treino" embasa diversas propostas de
tratamento para os transtornos da linguagem'.
2. Teoria Inatista
A abordagem e definição da linguagem como
uma faculdade, e não como um comportamento,
difundiu-se na comunidade científica por meio do
seu principal defensor, Noam Chomsky. Ao longo
dos anos, diversas publicações foram realizadas,
mostrando mudanças na teoria inatista desde a
gramática gerativo-transformacional até o programa
minimalista, passando pela teoria dos princípios e
parâmetros, sempre defendendo a ideia da faculdade
da linguagem como mecanismo inato, biológico,
suscetível às influências do ambiente que a fazem
emergir do estado inicial.
2.1.0 programa gerativo: da gramática
gerativo-transformacional à teoria
dos princípios e parâmetros
O estudo da linguagem tem sido um desafio
constante para o homem. Inúmeras têm sido as ten-
tativas de explicar essa capacidade de comunicação
por meio da fala, condição que distingue o homem
de outros animais. Ao longo de sua existência, o
homem busca definir e dimensionar a linguagem
por meio da observação da fala, da comparação
entre as diferentes línguas do mundo, chegando a
inúmeras suposições: desde afirmar que a linguagem
é uma invenção cultural até dizer que é um desígnio
encontrado no ser humano.
Os estudiosos da linguagem normalmente ini-
ciam seus registros e artigos abordando a importân-
cia e a necessidade de se buscar ou de se confirmar
a existência da "língua mãe" ou "língua universal',
portanto é importante manter essa dimensão da pro-
posta dos estudos linguísticos para se compreender
melhor os diversos autores'.
Durante muito tempo o modelo predominante
para explicar a psique humana consistia na ideia de
que ela se moldava de acordo com o ambiente. Sob
esse ponto de vista, afirmava-se que a linguagem
era um artefato cultural, uma aprendizagem, uma
"cópia ou imitação" de algo que a criança observa o
adulto fazer. O aparecimento da ciência da cognição
- união de ferramentas e conhecimentos nas áreas
da psicologia, computação, linguística, fisiologia e
neurobiologia - permitiu avanços nos estudos da
inteligência humana e da linguagem, passando a
considerá-la como um produto de constituição bio-
lógica do cérebro, uma faculdade psicológica, um
órgão mental, um instinto'.
A definição de linguagem, no sentido am-
plo, norteia os trabalhos atuais, não no âmbito da
habilidade de moldar eventos no cérebro uns dos
outros, mas sim no sentido da linguagem como uma
faculdade, somente, da espécie humana. Por que
faculdade da linguagem no sentido de habilidade
PARTE 1 - Cap. 1 • TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: REFLEXÕES ACERCA DE DIFERENTES ESTUDOS
humana? Porque é exatamente quando se refere à
linguagem como habilidade exclusiva do ser humano
que se possibilita discorrer sobre a questão inata e à
possibilidade da geração de um número infinito de
frases e enunciados dentro de "normas" e "regras"
finitas. Quando essa observação se faz fundamental
no estudo, consegue-se discorrer sobre a possibili-
dade genética e inata da linguagem, pensando-a
como uma peça, um módulo ou órgão biológico do
cérebro/mente, assim como as demais atividades e
funções do cérebro'''.
Considerando que as línguas naturais são pos-
sibilidades do ser humano e que a capacidade para
adquirir linguagem também é uma faculdade do ser
humano pode-se supor que essa faculdade tenha
uma conexão direta com a carga genética do indiví-
duo, localizada no cérebro. Não nos referimos a uma
habilidade aprendida por imitação de modelos ou
condicionamento, e sim a faculdade que todo ser
humano desenvolve independentemente de língua,
cor, raça ou sexo. Sabe-se que toda criança aprende
qualquer língua desde que seja imersa no ambiente
linguístico logo nos primeiros anos de vida, portanto
todo ser humano pode desenvolver algum tipo de
comunicação, ainda que precária6,7.
Embora a ideia da linguagem como um tipo
de instinto tenha sido concebida por Darwin em
seu trabalho The descent of man, and selection in
relation to sex (1871), foi somente no século 20, com
os trabalhos de Chomsky, que se iniciou uma revi-
são desses conceitos. Na década de 1950, Chomsky
criou e estabeleceu uma nova visão da linguagem
ao conduzir a Linguística para os estudos da mente.
Segundo ele, uma língua não pode ser somente um
repertório de respostas prontas, aprendidas, condi-
cionadas. Há que se ter uma gramática mental que
permita construir respostas ilimitadas a partir de
uma lista finita de palavras. Ao observar a habilidade
de construções de frases, interpretações perfeitas e
desenvolvimento de gramáticas complexas pelas
crianças expostas a diferentes línguas do mundo,
sem que a isso estivesse associado qualquer tipo
de instrução formal, Chomsky afirmou a existência
de uma Gramática Universal (GU), inata, uma facul-
dade da linguagem com a qual toda criança estaria
equipada ao nascer. Antes dele, a maioria das teorias
sobre a estrutura dos diferentes idiomas descre-
via o desempenho do falante - eram as chamadas
21
gramáticas transformacionais. Nos anos 50, foi apre-
sentado à comunidade científica um modelo ex-
plicativo do processo de aquisição da linguagem
baseado na observação, classificação e explicação
do funcionamento das línguas para além dos fenô-
menos relativos à aquisição e estrutura - o modelo
gerativo-transformacional. É nomeado gerativo, pois
parte da ideia de que é possível gerar, por meio da
linguagem humana, um número infinito de frases a
partir de um conjunto finito de vocábulos existentes
em uma língua; e transformacional, pois permite a
transformação de uma estrutura profunda (ideia ou
conteúdo do enunciado) em diferentes estruturas
superficiais (enunciado específico proferido)13.8.
Aprofundando no modelo teórico que o gerati-
vismo propõe, faz-se necessária a introdução de
alguns conceitos, como a elucidação de estrutura
profunda e estrutura superficial. Na teoria, a ideia
defendida, inicialmente, era de que todo enunciado
possui duas dimensões: a estrutura profunda, com
informações semânticas necessárias à interpretação
da frase; e a estrutura superficial, gerada a partir do
sistema de regras que permite a modificação na
ordem dos símbolos'.
Atualmente, considera-se dentro de uma frase
duas representações: a fonética e a lógica, respec-
tivamente a representação do caráter fonético da
frase, a Forma Fonética (Phonetic Form - PF) e a
representação abstrata do sentido da frase, a Forma
Lógica (Logic Form - LF). A relação entre as duas re-
presentações é mediada pela estrutura superficial,
que é a representação sintática da sentença que vai
ser interpretada fonologicamente por PF e semanti-
camente por LF. Esses conceitos é que possibilitarão
explicar uma frase com sentido duplo. A ambigui-
dade pode se formar porque PF interpreta a frase
de uma maneira e LF interpreta de duas maneiras.
Apresenta-se, então, o conceito de estrutura profun-
da, que seria a primeira organização da informação
que queremos dar ao nosso enunciado. Dessa forma,
existe uma "passagem" da estrutura profunda para
a estrutura superficial: estrutura que produzimos ao
falar o nosso enunciado'-5.
Chomsky estabeleceu a dicotomia competên-
cia/desempenho e propôs explicações para os pro-
cessos mentais subjacentes ao uso da língua, a
natureza da língua em si, em sua gramática gerativa.
Para o autor, a competência é a capacidade do su-
jeito em lidar com o universo linguístico, ou seja, o

22 TRATADO DE LINGUAGUEM: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS
conhecimento do sujeito em relação à sua língua
e, teoricamente, essa competência é a mesma para
todos os falantes. A performance ou desempenho
refere-se à utilização real em situações concretas da
competência, variando de indivíduo para indivíduo
e em um mesmo indivíduo em função da atenção,
cansaço, disponibilidade, parceiro na comunicação
etc. Sua contribuição para os campos da ciência
cognitiva foi no sentido de buscar a compreensão
de como o ser humano pensa, percebe, aprende e
usa seu conhecimento linguístico, além da criação de
uma teoria de processos mentais em substituição ao
empirismo (convicção de que a experiência é a fonte
de conhecimento), modelo dominante da época'-'.
A observação, descrita anteriormente, de que
só o ser humano é capaz de combinar um conjunto
finito de elementos, gerando um número infinito
de frases levanta a noção ou conceito do aspecto
criativo da linguagem, outro conceito que deve
ser apresentado para compreensão da teoria. O
mecanismo da linguagem é criador, ou seja, graças
à criatividade, o ser humano tem a capacidade de
emitir e compreender infinitas frases, inclusive as
que nunca foram ditas ou escutadas. Tem-se como
exemplo do uso da criatividade nas línguas a variação
na pronúncia de palavras, a criação de vocábulos e o
uso de uma mesma palavra com diferentes sentidos
(polissemias). Esse componente criador pode ser
considerado um "dote" da racionalidade humanas.
O fato de o falante conhecer uma língua e usá-la
de maneiras diversas e específicas dentro de uma
comunidade, sem que ninguém o tenha ensinado,
leva-nos a acreditar que existe uma gramática inter-
nalizada (retoma-se, assim, o caráter inato da lingua-
gem), que seria um conjunto de regras específicas
que possibilitam a criação de frases gramaticais e
agramaticais, de acordo com uma língua específica.
Esse conceito de gramaticalidade mencionado não
deve ser confundido com o conceito de certo e erra-
do, abordado e utilizado pela gramática tradicional.
A habilidade que permite ao sujeito considerar
a frase gramatical, ou não, é a competência, ou seja,
o conhecimento da língua que o mesmo possui. Por
outro lado, o uso que esse sujeito faz de sua compe-
tência linguística é o que se denomina desempenho.
Chomsky defende a ideia da possibilidade do enun-
ciado possuir duas condições: a Gramaticalidade e
a Interpretabilidade. A gramaticalidade refere-se à
habilidade de se construir enunciados de acordo com
as regras gramaticais da língua e envolve a noção de
Competência. Já a Interpretabilidade é uma condição
necessária para que um enunciado tenha significado
compatível com a intenção do emissor e, ao mesmo
tempo, com a capacidade de compreensão do re-
ceptor, não necessariamente obedecendo as regras
gramaticais, e envolve a noção de Desempenho'.
Além dos conceitos descritos anteriormente,
é importante apresentar os conceitos: Universais
Linguísticos e Dispositivo de Aquisição de Lingua-
gem (DAL). Partindo do pressuposto, já mencionado
anteriormente, de que toda criança aprende qual-
quer língua independentemente de raça, origem
ou nacionalidade dos pais, desde que esteja imersa
em ambiente propício a partir dos primeiros anos
de vida, ou seja, todo ser humano desenvolve algum
tipo de comunicação mesmo que precária, Chomsky
defende a ideia de que a língua é organizada e
submete-se a regras particulares e leis universais
comuns, os Universais Linguísticos. Estes se referem
aos componentes comuns existentes nas diversas
línguas naturais: diferentes tempos verbais, afirma-
tivas, negativas, interrogativas, sujeito/verbo/com-
plemento. Isso reforçaria a ideia de todas as línguas
partilharem de uma estrutura profunda comum. O
DAL seria um mecanismo inato e biológico que o
ser humano possui e que possibilita a faculdade da
linguagem'.
Após apresentação dos conceitos básicos que
embasam a teoria inatista, toma-se, então, a noção
de Gramática Universal (GU), a gramática de todas
as línguas, com padrões sintáticos universais' ou
como estágio inicial de um falante em processo de
aquisição, constituindo-se de princípios universais
e parâmetros peculiares não estabelecidos inicial-
mente'. A Gramática Universal permite que, inde-
pendentemente de sua origem,.as crianças estejam
"equipadas" para se comunicar em qualquer língua,
desde que expostas ainda na infância. O gerativismo
tem, portanto, uma proposta mentalista e inatista,
postulando que o falante tem um conhecimento
internalizado de sua língua.
Para entender melhor o mecanismo inato é
importante se ater sobre o ponto de vista da lingua-
gem como órgão, ou seja, uma dimensão funcional
e biológica da linguagem presente em todo ser hu-
mano. Baseando-se nas afirmativas de que todo ser
PIUM 1 - Cap. 1 • TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: REFLEXÕES ACERCA DE DIFERENTES ESTUDOS
humano, e somente eles, adquirem e desenvolvem
que as crianças desenvolvem de
a linguagem, e de
maneira complexa, sem instrução, o uso apropriado
deveríamos estudar a aquisi-
da língua,"porque não
ção da linguagem da maneira como estudamos um
físico?"4,91°
órgão
Exemplos de linguagem de indivíduos com
lesão cerebral, em crianças surdas que desenvolvem
a língua de sinais e indivíduos que apresentam dis-
túrbios específicos de linguagem são usados para
enfatizar ou embasar a afirmação do componente
genético e inato da linguagem'.
Aprofundando e defendendo a questão inata
da linguagem, discorremos na defesa de alguns
fatores e conceitos básicos, a fim de explicar a es-
truturação sintática. A este conjunto de afirmações
e postulações dá-se o nome de modelo teórico.
Aborda-se como modelo teórico proposto a gra-
mática gerativa. O termo gramática com sentido de
estudo das regras, normas e conceitos da língua,
refere-se à gramática tradicional (GT), que trabalha
com conceitos de certo e errado, de acordo com as
regras linguísticas. Mesmo a GT não é explícita, por
mais clara que seja a noção de alguns termos, na
língua falada o mesmo gera sentido ou uso dúbios.
Retomando a questão da linguagem inata, com
ênfase na questão biológica e genética, pode-se
supor que todas as línguas são idênticas, produtos
do mesmo código genético, entretanto sabe-se que
existem muitas línguas diferentes e é necessário
estabelecer essas divergências e peculiaridades
de cada uma. O modelo gerativo apresenta como
solução para esse problema as noções de princípios
e parâmetros (teoria dos princípios e parâmetros).
Considera-se princípios as leis gerais de todas as
línguas. Os princípios estão relacionados à forma
como o cérebro/mente funciona. Uma frase que
viola um princípio não é aceita em nenhuma língua
natural. Os parâmetros são propriedades que uma
língua pode ou não possuir, sendo, dessa forma,
responsáveis pela existência das peculiaridades das
línguas. Ao se analisar uma sentença que viola um
princípio, ou seja, que não é possível ser observada
em nenhuma língua natural, diz-se que a mesma tem
a ver com o cérebro, com a mente. Por outro lado,
uma mesma sentença pode ser gramatical em uma
língua e agramatical em outra, ou seja, não atende
a alguma propriedade paramétrica. Entende-se,
23
então, que à medida em que os parâmetros vão
sendo estabelecidos, a gramática da língua (GP) vai
se constituindo. A associação dos princípios da GU
aos valores paramétricos gera um sistema gramatical
particular, ou seja, de uma dada língua. Especula-se
que, assim, pode-se entender que no processo inicial
de aquisição da linguagem, em relação ao desen-
volvimento sintático, a criança utiliza a gramática
universal e à medida em que ela vai construindo e
conhecendo os parâmetros da língua, ela também
se apropria da gramática da língua'''.
As respostas para os questionamentos relacio-
nados ao processo de aquisição da linguagem pelas
crianças são encontradas também na teoria gerati-
va. Esse modelo postula que parte do processo seja
inato, inerente à dotação genética, independente-
mente da condição social e das qualidades afetivas
e intelectuais da criança, além de ser um processo
cuja cronologia é aproximadamente a mesma,
universal. Em relação ao processo de aquisição da
linguagem, considera-se que o estágio inicial (50)
refere-se à GU e o final do processo, levando-se em
conta que não existe um fim para a construção de
conhecimentos, seria a fase estável da aquisição
ou o estágio mais próximo da gramática do adulto
(5S). O processo pode ser exemplificado por meio
do esquema abaixo:
INPUT - GU —* uma língua (GP)
I
y y
50 55
A criança recebe o inputou estímulo e a GU filtra
os estímulos por meio dos parâmetros previstos para
a GP. Os parâmetros não são universais, assim como
os princípios, mas estão previstos na GU de forma
aberta, podendo ser alterados de acordo com a GP e
com o valor que é dado ao input que a criança recebe.
Sendo os parâmetros binários (com valores positivo
ou negativo), a criança, no decorrer de seu contato
com uma determinada língua, aciona um parâmetro
específico e imprime um desses valores, por meio das
evidências positivas que recebe durante o input, de
forma natural e inconsciente, e não pela imitação ou
pelo ensino formal.Tal fato, mais uma vez, evidencia
a existência de uma codificação prévia, um instinto,
um órgão previamente"formatado" para tais habili-
dades ou funções'''.

24 TRATADO DE LINGUAGUEM: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS
2.2. O Programa Minimalista
O Programa Minimalista (PM) compõe um con-
junto de orientações que começaram a ser apresen-
tadas e discutidas na década de 1990 e complementa
a teoria de princípios e parâmetros, pressupondo a
exclusão dos excessos contidos nela. As propostas
básicas do PM são a tentativa de transformar a gra-
mática em um número mínimo de operações, ou
seja, surge com a ideia de "economia da gramática'
além de tentar encontrar o mínimo possível de
operações para a análise de fenômenos sintáticos.
O PM possui duas vertentes: a teórica, que é relativa
à mente e as suas relações com a linguagem; e a
metodológica, relativa a uma disciplina conceituai
restrita. A ideia-chave do PM é eliminar tudo o que
é desnecessário no estudo de uma língua, buscando
minimizar e eliminar os excessos contidos na teoria
da Iinguagem6J"
A língua L constitui os pares (rr e X), sendo o
interpretado pela interface articulatória-perceptual
(A-P), representando a forma fonética (PF); e À inter-
pretado pela interface conceitual-intencional (C-I),
representando a forma lógica (LF). Cada interface é
representada por objetos legítimos e possui uma in-
terpretação. A convergência de uma derivação pode
ocorrer em um ou nos dois níveis de interface, caso
contrário a derivação fracassa, ou seja, o enunciado
é legítimo e interpretável quando converge nos dois
níveis de interface, como, por exemplo, a frase"Mim
gosta de ser representante" pode não ser legítima,
mas é interpretável. A linguagem natural difere dos
sistemas simbólicos construídos com uma finalidade
ou outra chamados "linguagens': Em uma língua, I
ou L particular, os fenômenos de som e significação
são determinados pelos pares (n e À) formados por
derivações convergentes admissíveis. Um determi-
nado som não pode ter qualquer significação, por-
tanto (o e À) tem de ser compatíveis, mesmo tendo
condições diferentes e apresentando as mesmas
escolhas Iexicais101.
A palavra possui uma coleção de propriedades
idiossincráticas e outras propriedades que variam em
generalidades. O que especifica tais idiossincrasias é
a entrada lexical. A codificação ótima da informação
é minimamente suficiente para derivar a represen-
tação da LF e permitir à componente fonológica
construir a forma fonética. Assim, a palavra é usada
isoladamente e seus traços são determinados de
modo que a palavra simples contenha sentido puro
e, quando contextualizada, tenha sentido ampliado.
Aceitando o pressuposto minimalista natural, as con-
dições de output básicas determinam os itens que
são visíveis para as computações. A representação
da estrutura de constituintes é"despojada'; excluindo
quaisquer elementos além dos traços lexicais e dos
objetos construídos a partir destes. Pode-se afirmar,
então, que a linguagem humana é perfeita e valori-
za-se, portanto, a ligação entre forma e significação.
3. Teorias Psicolinguísticas
Além de Chomsky e os demais estudiosos da
sintaxe, outros autores realizaram publicações acerca
de teorias de aquisição da linguagem, alguns com o
foco na semântica e outros, na pragmática.
3.1. Modelo cognitivo/semântico
Na década de 1960 outros linguistas ques-
tionaram o modelo sintático com o argumento da
importância do significado (semântica) no processo
de aquisição da linguagem. Defenderam a ideia de
que a contribuição da semântica no processo de
aquisição havia sido minimizada no modelo sintático
proposto por outros estudiosos. Afirmavam que a
semântica possibilita distinguir o que possui sentido
do que não possui, concluindo que a semântica é a
chave da gramática gerativa. Além disso, partiram
do pressuposto de que os conceitos semânticos são
universais e especificam as relações entre verbos e
substantivos. Não são regras inatas encontradas no
Language Aquisition Device (LAD), e sim conceitos
adquiridos a partir das relações do indivíduo com o
meio ambiente112.
3.2. Teoria sociolinguística - pragmática
O subsistema pragmático foi descrito pela
primeira vez na década de 1930, quando Charles
Morris apresentou as três dimensões da linguagem:
sintaxe, semântica e pragmática, sendo que a última
continha duas funções: intrapessoal, responsável
pela organização da memória, resolução de pro-
blemas e conceitos; e a interpessoal, responsável
pela comunicação'.
=ARTE 1 - Cap. 1 • TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: REFLEXÕES ACERCA
Enfim, definir a linguagem em uma perspectiva
aspecto
:si)tática ou semântica é concentrar-se no
estrutural e ignorar a função primária da linguagem,
` a comunicação. Desta
forma, o aspecto primordial
de aquisição da linguagem
que explica o processo
pragmático1-13.
pela criança é o aspecto
33. Teoria dos Atos de Fala
A Teoria dos Atos de Fala (TAF) começou a ser
difundida pelos estudos de John L. Austin e J. R.
Searle, partindo do pressuposto de que os aspectos
funcionais da linguagem envolvem dois sentidos: o
que se faz quando se diz algo e o que se faz dizendo
algo. ATAF considera a linguagem como ação, envol-
ve aspectos não verbais, sociais e ambientais, além
dos aspectos linguísticos propriamente ditos. Austin
questiona a visão descritiva da língua e defende que
certas afirmações não servem para descrever nada,
mas sim para realizar ações14,15
A TAF teve contribuições diversas e, dentre
elas, a questão básica de conversão de palavras em
ações. Palavras representam mais do que os objetos
que descrevem e significam: elas revelam compor-
tamentos e ações dos sujeitos que as usam, além de
envolver a relação comprometida entre o locutor e
o alocutário76.
Partindo da ideia de que existem tipos diferen-
tes de enunciados, constatativos e performativos,
a estrutura dos atos de fala seria composta pela
enunciação, envolvendo o locutor e o alocutário,
mediada pela força ilocucional da proposição: pro-
duto da interação entre os interlocutores. Os atos de
fala envolvem, também, outros parâmetros da força
ilocucional, como o ponto de realização, o modo de
realização, as condições do conteúdo proposicional,
as condições preparatórias e as condições de since-
ridade", descritos a seguir:
Pontos de realização: representam o que o locutor
pretende realizar com o seu ato. O ponto pode ser:
1- assertivo, que reporta para a linguagem um es-
tado de coisas; 2- expressivo, que marca a posição
do locutor frente ao estado de coisas; 3- comissivo,
no qual o locutor se responsabiliza pela execução
de tarefas futuras ao seu ato; 4- diretivo, no qual o
alocutário é o responsável pelas ações futuras ao ato;
e S- declarativo, que é o ato realizado por um locutor
com legitimidade para proferir o mesmo.
DE DIFERENTES ESTUDOS 25
Modo de realização: reporta para uma abertura de
classificação dos diferentes usos e nuances refletidos
na fala em cada ponto de realização decorrentes
de peculiaridades relacionadas aos integrantes do
processo enunciativo, ao conteúdo proposicional
e à utilização de diferentes formas linguísticas. De
acordo com essas variações, os modos podem ser:
juramento ou afirmação, cumprimento, promessa ou
desejo, ordem ou pedido, exoneração ou declaração,
por exemplo.
Condições de conteúdo proposicional: dimensão
linguística da proposição, ou seja, aos aspectos sin-
táticos e semânticos, como tempo e modo verbal,
às propriedades dos itens lexicais eleitos e usados
pelo falante.
Condições preparatórias: conjunto de caracterís-
ticas e fatos que são associados à identidade dos
interlocutores e ao estatuto dos enunciados para
que a força ilocucional seja efetiva, ou seja, para
que sustente a força ilocucional da proposição. As
condições preparatórias são as proposições de base
pressupostas na realização do ato de fala.
Condições de sinceridade: atitudes proposicionais
que expressam estados mentais no momento de exe-
cução de um ato. Envolvem ou são responsáveis pela
compatibilidade entre o estado mental do locutor e
o conteúdo do ato de fala proferido16.
4. Teoria do Desenvolvimento
Cognitivo de Piaget
A formação acadêmica inicial de Jean Piaget
foi em Ciências Biológicas: era um estudioso dos
moluscos. Seu interesse pelo desenvolvimento in-
fantil surgiu com a paternidade. Assim posto, fica
mais tranquilo entender suas ideias, baseadas em
experiências na Biologia.
Partindo do pressuposto de que a mente e o
corpo não funcionam independentes um do outro
e de que a atividade mental se submete às mesmas
leis que governam a atividade biológica, Piaget
realizou analogias do desenvolvimento intelectual/
cognitivo e do desenvolvimento biológico. Os atos
biológicos são atos de adaptação ao meio físico e
organização do meio ambiente. Os atos cognitivos
são atos de organização e adaptação ao meio. Por sua
vez, a atividade intelectual não pode ser separada do
funcionamento total do organismo1''.

26 TRATADO DE LINGUAGUEM: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS
Para descrever como o autor explica o processo
de aquisição e desenvolvimento da linguagem, é
importante apresentar os conceitos defendidos pelo
mesmo, além de ressaltar o fato de que ele descreve
o desenvolvimento da linguagem como parte do
desenvolvimento intelectual/cognitivo. O primeiro
conceito importante a ser compreendido é ode or-
ganização, que se refere à tendência de sistematizar
ou organizar processos dentro de um sistema. Dessa
forma, o corpo tem vários sistemas organizados: cir-
culatório, digestivo e outros tantos. A mente/cérebro
também deve possuir um processo de organização
ao longo do desenvolvimento: as estruturas cog-
nitivas — esquemas (melhor definidos e explicados
posteriormente) são organizadas como um sistema.
Outro conceito importante fundamentado pela Bio-
logia é ode adaptação: função ou tendência de todo
organismo de se adaptar ao meio118.
O desenvolvimento cognitivo infantil, então,
nada mais é do que um processo de adaptação e
organização do meio em que a criança vive, ou seja,
a criança se desenvolve para se adaptar e sobreviver
no meio em que está inserida, e, no decorrer do
desenvolvimento, se organiza e organiza o próprio
meio, se adaptando. Para que essa adaptação ocorra,
a criança constrói os chamados 'esquemas'; que são
estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indi-
víduos se adaptam e organizam o meio. Nossa mente
é dotada de estruturas — também denominadas es-
quemas — que vamos construindo para organizar o
conhecimento. Inicialmente, a criança possui poucos
esquemas e, à medida que se desenvolve, os mesmos
vão aumentando em número, em tamanho e em
complexidade. A modificação, criação e ampliação
dos esquemas acontecem por meio dos processos
cognitivos, ou função cognitiva, de assimilação e aco-
modação. A assimilação é o processo cognitivo pelo
qual uma pessoa integra um novo dado perceptual,
motor ou conceituai nos esquemas ou padrões de
comportamento existentes. Não resulta em mudança
dos esquemas, e sim na ampliação dos mesmos. A
acomodação refere-se à criação de novos esquemas
ou à modificação de esquemas velhos. As duas ações
(funções) resultam em mudança da estrutura cogni-
tiva (esquemas) ou no seu desenvolvimento. Piaget
postula que os esquemas são construídos pela criança
sobre as experiências repetidas. Por meio dos proces-
sos de assimilação e acomodação, eles se aproximam
cada vez mais da realidade, ou seja, os esquemas
refletem o nível de compreensão e conhecimento
do mundo por parte da criança em um determinado
momento.Tudo pode ser assimilado por uma criança.
Os esquemas infantis podem não ser como os do
adulto, mas a maneira como a criança organiza os es-
tímulos na sua estrutura cognitiva é apropriada a seu
nível de desenvolvimento conceituai. Dessa forma,
não existem organizações erradas, as organizações
ficam cada vez melhores à medida em que o desen-
volvimento intelectual avança. Ao experimentar um
novo estímulo (ou um velho novamente) a criança
tenta assimilar o estímulo a um esquema existente.
Se for bem sucedida, atinge o equilíbrio em relação
a essa situação específica. Quando não consegue
assimilar, ela tenta fazer uma acomodação, modifica
ou cria um novo esquema ocorre a assimilação e o
equilíbrio, novamente.
Portanto, o crescimento e o desenvolvimento
cognitivo são processados em todas as suas fases,
do nascimento até a fase adulta, o conhecimento
é construído pelo indivíduo, sendo os esquemas
do adulto construídos a partir dos esquemas da
criança, que atua sobre o meio ambiente para que
ocorra o desenvolvimento cognitivo. Por isso, a
grande importância que Piaget e seus seguidores
dão à possibilidade de ação da criança. O desen-
volvimento das estruturas cognitivas é assegurado
quando a criança assimila e acomoda os estímulos
do ambiente e só ocorre se ela estiver agindo (movi-
mentando, manipulando, observando) no ambiente,
ou seja, as ações resultam no desenvolvimento de
esquemas e são responsáveis pela construção do
conhecimento. Ações são comportamentos que es-
timulam o aparato intelectual da criança, podendo
ou não ser observáveis. Todo conhecimento é uma
construção resultante das ações da criança no meio
ambiente. Todo e qualquer conhecimento é físico,
lógico, matemático ou social. O desenvolvimento
da linguagem, assim como todo o desenvolvimento
cognitivo da criança acontece e é descrito pela teoria
em estágios de desenvolvimento18'".
5. O Interacionismo de Vygotsky
As abordagens de Vygotsky em relação à aquisi-
ção da linguagem da criança apresentam questões de
grande relevância, principalmente no que se refere à
PARTE 1 - Cap. 1 • TEORIAS DE AQUISIÇÃO
pensamento e linguagem. O autor infe-
relação entre
outros grandes estudiosos da épo-
re, em oposição a
linguagem possuem origens
ca, que pensamento e
desenvolvimento
genéticas diferentes e curvas de
encontrar e separar
também distintas, que irão se
desenvolvimento infantil.
diversas vezes ao longo do
Inicialmente, o pensamento é "não verbal" e a
que as curvas
fala"não intelectual': No momento em
passa a ser verbal e a
se encontram, o pensamento
de certa for-
fala racional.Tal afirmativa revoluciona,
que abordam
ma, conceitos filosóficos e psicológicos
habilidade desenvolvida
a linguagem como uma
afirma que
na trama do pensamento. Além disso,
a partir das
a linguagem da criança se desenvolve
relações dialógicas assimétricas nas quais as crian-
ças estão expostas desde o nascimento, ou seja, as
relações interativas com os pais são de fundamental
importância para a aquisição e desenvolvimento da
linguagem, visto que o adulto mediador proporcio-
na à criança situações nas quais ela se apropria de
conceitos e palavras anteriormente desconhecidas.
O autor relacionou a dialética aos processos
de construção do pensamento ao afirmar que o
desenvolvimento mental é um processo contínuo
de aquisição de controle ativo sobre funções ini-
cialmente passivas e que as atividades da criança
adquirem significado próprio num sistema de com-
portamento social. O ser humano se caracteriza por
uma"sociabilidade primária"concebida como ponto
de partida das interações sociais da criança com o
meio social, sendo interações assimétricas (intera-
ções com adultos). Vygotsky considera os signos e
as palavras um meio de contato social com outras
pessoas. À luz da proposta de Vygotsky, o processo
de aquisição e desenvolvimento da linguagem da
criança é desencadeado a partir das relações sociais
e dialógicas entre a criança e o outro".
As atividades da criança adquirem significado
próprio num sistema de comportamento social, visto
que o ser humano se caracteriza por essa "sociabili-
dade primária'; que seria o ponto de partida das inte-
rações sociais com o meio, marcando a mudança na
capacidade das crianças de usar a linguagem como
instrumento para a solução de problemas —quando
elas internalizam a fala socializada, utilizada para di-
rigir-se a um adulto. As crianças passam a usar a fala
como instrumento para planejar; a linguagem passa
a adquirir uma função intrapessoal, constituição no
27
DA LINGUAGEM: REFLEXÕES ACERCA DE DIFERENTES ESTUDOS
pensamento, além de seu uso interpessoal. Vygotsky
enfatiza a importância das interações assimétricas
(interações com adultos), destacando o valor do
interlocutor, daquele que dialoga com a criança.
Segundo ele, a criança reconstrói uma atividade a
partir de processos interativos.
Ainda abordando a aquisição da linguagem à
luz da teoria proposta por Vygotsky, as palavras não
são símbolos para os objetos e sim propriedades dos
objetos. A criança usa formas verbais e significados
inseparáveis, ou seja, sem a consciência de que eles
podem ser entendidos separadamente: "a palavra,
para a criança, é uma parte integral do que o objeto
denota"23. As estruturas da fala desenvolvidas pela
criança transformam-se nas estruturas básicas do
pensamento, e seu desenvolvimento é determi-
nado pela linguagem, portanto surge a ideia de
estreita correspondência entre o pensamento e a
fala, característica do homem. É possível distinguir
claramente no processo de desenvolvimento as fases
pré-linguística e pré-intelectual".
Ao enfatizar a importância da interação social
para a aquisição da linguagem, a teoria aborda a
existência da "zona de desenvolvimento proximal"
como aquilo que a criança produz com auxílio, mas
não é capaz sozinha, afirmando que a aprendizagem
desperta vários processos internos capazes de operar
somente quando a criança interage com pessoas em
seu ambiente, em cooperação com seus companhei-
ros. Dessa forma, os processos são internalizados,
tornam-se parte das aquisições, como, por exemplo,
as funções mentais superiores (atenção voluntária,
memória e emoções complexas), que constituem-se
no processo do desenvolvimento com a contribuição
construtora das interações sociais.
6. Teoria dos Espaços Mentais
A teoria dos espaços mentais, inserida no cam-
po da neurociência e da linguística cognitiva, aborda
questões relacionadas ao processamento da lingua-
gem e apresenta como pressuposto a linguagem
como atividade. Embora não seja, necessariamente,
uma teoria de aquisição será apresentada por sua
importância na discussão sobre a construção do
significado pela mente. A teoria defende a ideia
da existência de "chaves" (os 3 Is) para construção
do significado pela mente humana: identificação,

28 TRATADO DE LINGUAGUEM: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS
integração e imaginação, formando uma rede de
integração conceituai. Essa teoria defende ainda a
existência de espaços mentais, definidos como pe-
quenos pacotes conceituais construídos à medida
em que pensamos e falamos para identificar locais
de compreensão e ação24.
A integração conceitua) é um processo, ou seja,
ocorre continuamente, sem consciência, e envolve a
integração de dois ou mais conceitos para criar um
novo significado.Tomam-se ideias ou pensamentos
de um espaço mental, em uma dada situação e, quan-
do colocados sobre uma outra situação, permite-se
construir o sentido. Construímos em nossa mente
o significado, identificando elementos do estímulo,
integrando-os a outros elementos existentes, usan-
do a imaginação para a construção do significado.
O termo "rede de conexão dos diferentes espaços
mentais" refere-se à projeção dos espaços de input
mesclados/misturados. Espaços de input referem-se
às estruturas parciais que correspondem aos elemen-
tos que serão mesclados para a formação do Espaço
Blend. Considera-se como "espaço geral" aquilo que
os espaços de input têm em comum, e a estrutura
emergente, as estruturas que não se apresentam
nos espaços de input e que surgem somente na
blend. Assim sendo, diante de um estímulo ou vários
(espaços de input) o sentido daquilo que vejo ou
escuto será construído pelas inferências, elaboração
após a integração dos diferentes espaços de input
e projeção no espaço blend. Assim, o sentido não
está nas palavras, essas apenas servem de guia para
a construção do sentido. Os espaços mentais são
construídos em qualquer tipo de discurso, a partir
das pistas oferecidas pelas expressões linguísticas.
A integração conceituai é uma operação mental
básica no processo de produção de sentido, mas
o modo de operar a imagem é da mente, não das
formas ou palavras. Além disso, o espaço pode ser
modificado a qualquer momento na construção da
rede de integração.24
Considerações Finais
Ao se refletir acerca das diferentes teorias,
parte-se do pressuposto que o processo de aqui-
sição e desenvolvimento da linguagem ocorre a
partir da interação de fatores intrínsecos (matu-
racional e genético, ou adquiridos por mudanças
REFLEXÕES ACERCA DE DIFERENTES ESTUDOS ' 29
PARTE 1 - Cap. 1 • TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM:
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