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APELAÇÃO CÍVEL Nº 5026525-88.2015.4.04.

7200/SC
RELATOR : LUÍS ALBERTO D AZEVEDO AURVALLE
APELANTE : UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC
APELADO : ANTONIO IACZINSKI SOBRINHO
ADVOGADO : GREICE MILANESE SÔNEGO OSORIO

EMENTA

ADMINISTRATIVO. APELAÇÕES. DECADÊNCIA. NÃO


OCORRÊNCIA. CONTAGEM DE TEMPO RURAL, EM REGIME DE
ECONOMIA FAMILIAR, PARA COMPUTAR EM RPPS. POSSIBILIDADE.
A orientação traçada pelo Supremo Tribunal Federal, a jurisprudência desta 
Corte  é  no  sentido  de  que  a  aposentadoria  tem  natureza  jurídica  de  ato  administrativo 
complexo, somente se aperfeiçoando após o registro perante o Tribunal de Contas, marco 
que deve ser considerado para fins de contagem do prazo decadencial previsto no artigo 54 
da Lei n.º 9.784/1999.
A  contagem  do  lapso  de  trabalho  rural/pescador  artesanal,  para  a 
aposentadoria em RPPS,anteriormente à edição da MP 1.523, de 11 de outubro de 1996 é 
possível  sem  o  recolhimento  de  contribuições  previdenciárias,  em  face  da  legislação  em 
vigor.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a 
Egrégia  4a.  Turma  do  Tribunal  Regional  Federal  da  4ª  Região,  por  unanimidade,  dar 
parcial provimento às apelações, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que 
ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Porto Alegre, 31 de maio de 2017.

Desembargador Federal Luís Alberto D'Azevedo Aurvalle


Relator

Documento eletrônico assinado por Desembargador Federal Luís Alberto D'Azevedo


Aurvalle, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e 
Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
documento está disponível no endereço eletrônico 
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código 
verificador 8964143v3 e, se solicitado, do código CRC DDAAA552. 
Informações adicionais da assinatura: 
Signatário (a):  Luís Alberto D'Azevedo Aurvalle 
Data e Hora:  31/05/2017 18:05 

APELAÇÃO CÍVEL Nº 5026525-88.2015.4.04.7200/SC


RELATOR : LUÍS ALBERTO D AZEVEDO AURVALLE
APELANTE : UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC
APELADO : ANTONIO IACZINSKI SOBRINHO
ADVOGADO : GREICE MILANESE SÔNEGO OSORIO

RELATÓRIO

Antônio  Iaczinski  Sobrinho  ajuizou  demanda  em  face  da  Universidade 


Federal de Santa Catarina - UFSC, da União e do INSS em que objetiva a manutenção de 
sua  aposentadoria,  com  a  suspensão  da  determinação  de  retorno  ao  trabalho  e  de 
comprovação  do  recolhimento  das  contribuições  previdenciárias  referentes  ao  tempo  de 
serviço  de  atividade  rural  computado  para  se  aposentar.  Em  provimento  final,  pede, 
sucessivamente,  indenização  por  danos  morais  decorrente  do  transtorno  e  do  abalo 
emocional  oriundos  da  cessação  de  sua  aposentadoria  e  determinação  de  retorno  ao 
trabalho.

A sentença dispôs:

Ante o exposto, rejeito as preliminares e julgo procedente o pedido para reconhecer o


direito do autor à manutenção de sua aposentadoria, nos moldes em que concedida pela
UFSC, com a percepção de todas as parcelas pecuniárias a elas relativas, devendo os réus
absterem-se de reverter a autora à atividade e de exigir o recolhimento das contribuições
previdenciárias referentes ao período de atividade rural.
Condeno os réus ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por
cento) sobre o valor da causa atualizado, pro rata, nos termos do art. 85, §§ 1º, 2º e 3º,
inciso I, do Novo Código de Processo Civil.
Isenção de custas à União, ao INSS e à UFSC (art. 4º, I, da Lei nº 9.289/96).
Considerando que o valor atribuído à causa de R$ 98.947,32 (noventa e oito mil
novecentos e quarenta e sete reais e trinta e dois centavos), é muito inferior a 1.000 (um
mil) salários mínimos [atualmente equivalente a R$ 880.000,00 (oitocentos e oitenta mil
reais)], a presente sentença não está sujeita à remessa necessária, nos termos do art. 496,
§ 3º, I, do atual Código de Processo Civil.
O  INSS  e  a  UFSC  apresentaram  apelação.  Sustentam  incompetência 
absoluta  da  Justiça  Federal,  ilegitimidade  passiva  do  INSS  e  da  UFSC,  ausência  de 
irregularidade formal grave ou manifesta ilegalidade para que o Poder Judiciário declare a 
nulidade de decisão do Tribunal de Contas da União, a aposentadoria é ato complexo não 
havendo  que  se  falar  em  decadência,  a  ausência  de  contribuição  no  período  de  labor 
rural  torna  a  aposentadoria  ilegal,  inaplicabilidade  da  Lei  9.784/99,  ofensa  aos 
Princípios da legalidade e Moralidade e inexistência de dano indenizável.

A  União,  em  seu  recurso,  refere  incompetência  absoluta;  ausência  de 


irregularidade formal grave ou manifesta ilegalidade para que o Poder Judiciário declare a 
nulidade  de  decisão  do  Tribunal  de  Contas  da  União;  inocorrência  da  decadência
administrativa;  ausência  de  violação  ao  ato  jurídico  perfeito  e  ao  direito  adquirido; 
legitimidade da r. decisão do e. Tribunal de Contas da União, em face da ilegalidade do 
ato  de  aposentadoria;  falta  de  comprovação  do  recolhimento,  mesmo  que  de  forma 
indenizada,  da  contribuição  previdenciária;  impossibilidade  do  cômputo  do  labor  rural
para aposentadoria estatutária, sem a respectiva contribuição; ausência de violação ao ato 
jurídico  perfeito,  ao  direito  adquirido  e  ao  Princípio  da  Segurança;  Inexistência  de  dano 
moral e material e de responsabilidade do TCU por ato ilegal; Requer:
deferido efeito suspensivo, desta forma, seja cassada a tutela antecipada deferida nos
autos, ainda, requer seja conhecido e provido o presente recurso de apelação, para o fim
de que seja reformada a r. sentença recorrida no sentido de acolhimento das preliminares
arguidas, bem como seja decretada a prescrição na forma antes requerida, seja reformada
a r. sentença, assim requer seja julgada improcedente a presente ação, Inclusive é caso de
observância da reestruturação de cargos e salários, conforme jádecido pelo e. Supremo
Tribunal Federal e deferida a cassação da liminar/tutela antecipada deferida, com a
respectiva condenação da Parte adversa nos ônus sucumbenciais. Outrossim, na
eventualidade de não ser provido o recurso, requer, desde já, inclusive, sejam deferidos os
pedidos acima no tocante ao PSS, aos juros e correção, seja aplicada a Lei nº 9494/97
com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, com juros sem capitalização, contados da
citação, na forma do art. 219 do CPC, e aos honorários advocatícios na forma adrede
requerida e sejam prequestionados todos os dispositivos em questão com as razões
trazidas no presente recurso.
Por cautela novamente, caso procedente requer seja observado o limite do pedido, os
juros, a correção monetária e a sucumbência somente atribuída à Parte adversa. A
condenação da Parte autora unicamente nos ônus da sucumbência.

Com contrarrazões, vieram os autos a esta Corte.

É o relatório

VOTO

Consta da sentença:

Decido.

Preliminares

1. Incompetência Absoluta da Justiça Federal de Primeiro Grau


Não há falar em incompetência do juízo, tendo em vista que a competência originária do
STF, no que toca aos atos praticados pelo Tribunal de Contas da União, limita-se às ações
de mandado de segurança, nos termos do artigo 102, inciso I, alínea "d", da Constituição
Federal.

2. Ilegitimidade Passiva da UFSC

Rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva da UFSC, tendo em vista que é autarquia


federal, com autonomia financeira e administrativa, de modo que responde pela folha de
pagamento de seus servidores. Neste sentido:

DECISÃO: Vistos, etc. Trata-se de ação ordinária promovida pelo SINDICATO DOS
TRABALHADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - SINTUFSC
em face da UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC, buscando seja
declarado o direito dos substituídos, funcionários públicos federais, à percepção de
adicional noturno e horas extras de acordo com nova metodologia de cálculo. Sobreveio
sentença (evento 15 na origem) julgando procedente o pedido, condenando a UFSC ao
pagamento de honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação.
Apela a UFSC (evento 19 na origem), alegando, preliminarmente, ausência de documentos
indispensáveis ao ajuizamento da ação; necessidade da juntada de registro atualizado
junto ao Ministério do Trabalho a que alude a Súmula 677/STF; ilegitimidade passiva ad
causam do Sindicato-autor, bem como ilegitimidade passiva ad causam. Sustenta a
ocorrência da prescrição bienal de que trata o art. 206, § 2º, do CC. No mérito, requer
seja julgada improcedente a ação. No que pertine à atualização de eventuais valores
devidos, requer a aplicação do art. 5º da Lei n.º 11.960/09, que alterou o art. 1º-F da Lei
n.º 9.494/97, para determinar a incidência, uma única vez, dos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, para fins de atualização
monetária, remuneração do capital e compensação de mora nas condenações impostas à
Fazenda Pública. Por fim, ainda em caso de manutenção da sentença, requer seja
arbitrada a verba honorária de forma consentânea à natureza e complexidade da causa e
ao trabalho desenvolvido, respeitando-se o disposto no § 4º do art. 20 do CPC.
Irresignado apela o Sindicato-autor (evento 22 na origem), requerendo a reforma da
sentença alegando que os efeitos da ação coletiva em substituição processual podem ser
estendidos para toda a categoria, independente da filiação ou não ao Sindicato, não se
aplicando o art. 2º da Lei n.º 9.494/97, que restringe os efeitos da sentença civil aos limites
da competência territorial do órgão prolator da decisão. Com contrarrazões, os autos
subiram a este Tribunal (eventos 28 e 30 na origem). É o relatório. Decido. As questões
relativas às alegações de ausência de documentos indispensáveis ao ajuizamento da ação,
de ilegitimidade ativa, ilegitimidade passiva e prescrição já foram apreciadas e, com
inteiro acerto, restaram rejeitadas pela r. sentença, verbis: "Das preliminares: A
preliminar de impossibilidade jurídica do pedido se confunde com o próprio mérito, motivo
pelo qual com ele será analisada. O objeto da ação independe da apresentação de novos
documentos por cuidar de questão de direito. Compete ao sindicato a substituição
processual da categoria que representa, de forma que rejeito a preliminar de ilegitimidade
ativa ad causam levantada pela UFSC. Acolho, entretanto, a preliminar de carência de
ação em face da ausência dos requisitos legais e desenvolvimento válido e regular do
processo no que diz respeito aos substituídos não domiciliados no âmbito da esfera
territorial desta Subseção Judiciária. Rejeito a preliminar de necessidade de citação da
União como litisconsorte passivo necessário, pois cabe à UFSC o pagamento dos
adicionais objeto desta ação e possui autonomia administrativa e financeira. (...) (TRF4,
APELREEX 5015057-98.2013.404.7200, Terceira Turma, Relator Carlos Eduardo
Thompson Flores Lenz, juntado aos autos em 05/06/2014)

3. Ilegitimidade Passiva do INSS


Rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pelo INSS, eis que, na espécie, o
período rural cuja controvérsia reside na necessidade ou não de indenização para fins de
aposentadoria pertence ao regime celetista. Portanto, além da legitimidade da União para
figurar no pólo passivo da lide em vista de questionar-se ato do TCU, há também
litisconsórcio passivo com o INSS e o órgão empregador ao qual é vinculado o servidor
(no caso, a UFSC).

Nesse sentido, cito os seguintes precedentes:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO.


LEGITIMIDADE PASSIVA DO INSS. LITISCONSÓRCIO PASSIVO ENTRE INSS E
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. INTERESSE DE AGIR DA PARTE
AUTORA CONFIGURADO. REVISÃO DO ATO DE APOSENTADORIA, PARA
INCLUSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL LABORADO COMO CELETISTA.
ATIVIDADE INSALUBRE. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO. INOCORRÊNCIA.
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. INTERRUPÇÃO. MARCO INICIAL DA
PRESCRIÇÃO PARA PAGAMENTO DAS DIFERENÇAS. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. APELOS DAS RÉS DESPROVIDOS APELO DA AUTORA PROVIDO.
1. É pacífico nesta Corte o entendimento de que, nesta espécie de ação, em que se postula
o aproveitamento de tempo de serviço especial laborado sob o regime celetista para efeito
de obtenção/revisão de benefício estatutário, a hipótese é de litisconsórcio passivo entre o
INSS e o órgão empregador ao qual é vinculado o servidor (no caso, a UFSC), e perante o
qual será requerida a inclusão e averbação do tempo de serviço convertido e certificado
pelo INSS. 2. Tendo o réu contestado o mérito da ação, está suprida a ausência do prévio
requerimento administrativo da parte autora, configurando a existência de pretensão
resistida, que leva ao interesse processual da parte. Afastada a alegação do INSS quanto
à falta de interesse de agir da parte autora. 3. A revisão do ato de concessão de
aposentadoria de servidor público, para fins de incluir em seu tempo de serviço o
acréscimo decorrente da conversão de tempo de serviço trabalhado como celetista em
condições especiais, com a integralização dos proventos e o pagamento das diferenças
decorrentes da revisão, submete-se à prescrição do fundo de direito prevista no art. 1º do
Decreto n.º 20.910/32. Precedentes do STJ. 4. Embora a revisão do ato de aposentadoria
esteja sujeita à prescrição do fundo de direito, cabendo ao servidor reclamá-la dentro do
prazo de 5 anos de sua concessão, nos termos do art. 1º do Decreto n.º 20.910/32, no caso
houve a interrupção da marcha prescricional, diante da existência de pedido
administrativo de averbação do tempo especial, afastando a inércia do requerente.
Inocorrência da prescrição do fundo de direito na espécie. 5. O marco inicial da fluência
da prescrição qüinqüenal recai sobre o momento do ato de inativação; ou, caso requerida
administrativamente a averbação do tempo de serviço convertido, tal requerimento
interrompe a marcha prescricional, pois afasta a inércia do requerente, iniciando-se daí a
contagem da prescrição. Hipótese em que a autora aposentou-se em 2003, ajuizando a
presente ação judicial em 2010, porém em 2007 protocolizou requerimento administrativo,
o que suspendeu a fluência da prescrição. 6. O servidor público ex-celetista faz jus à
contagem do tempo de serviço prestado sob a égide da CLT em condições perigosas e
insalubres na forma da legislação vigente, à época da prestação de serviço, ou seja, com o
acréscimo previsto na legislação previdenciária de regência. Demonstrada no caso a
efetiva exposição da autora, como cozinheira no Restaurante Universitário (RU/UFSC),
aos agentes insalubres no período questionado, cujo ambiente estava exposto ao agente
nocivo calor, acima do limite legal, faz ela jus à conversão e averbação do referido tempo,
para fins de revisão de sua aposentadoria e consequente pagamento das diferenças. 7.
Apelo da autora provido, para fixar como marco inicial da prescrição para pagamento das
diferenças a data do pedido administrativo, e não a data do ajuizamento da ação judicial.
8. Honorários advocatícios mantidos em 10% sobre o valor da condenação, por ser este o
percentual adotado pela Turma. 9. Apelos do INSS e da UFSC desprovidos. (TRF4,
APELREEX 5002872-33.2010.404.7200, Terceira Turma, Relator p/ Acórdão Carlos
Eduardo Thompson Flores Lenz, D.E. 21/07/2011
PREVIDENCIÁRIO. TEMPO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. PERÍODO ANTERIOR
AO INGRESSO EM REGIME PRÓPRIO. CERTIDÃO DE TEMPO DE SERVIÇO.
LEGITIMIDADE PASSIVA. (...) 2. Em rigor duas lides se fazem presentes quando o
servidor pretende viabilizar o aproveitamento de tempo especial sob regime celetista para
efeito de obtenção de benefício estatutário. Uma entre o antigo segurado e o INSS, para
que este reconheça a especialidade, à luz da legislação atinente ao RGPS. Outra, entre o
servidor e a entidade à qual ele está vinculado, para que o tempo especial celetista
eventualmente reconhecido junto ao INSS seja averbado, no regime estatutário, de forma
privilegiada. 3. Estabelecidas tais premissas, percebe-se que foge aos limites da lide, nas
causas intentadas somente contra o INSS, a discussão atinente à possibilidade de
aproveitamento do tempo especial de forma privilegiada no regime estatutário. Possível
apenas a discussão acerca da especialidade ou não do tempo de serviço do antigo
segurado, questão que pode ser apreciada exatamente porque quando da prestação
laboral o servidor estava vinculado ao RGPS. (...) (Remessa "Ex Officio" em MS nº
2005.70.01.003145-5/PR, Rel. Juiz Federal RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA,
6ª T., j. 07-06-06, DJ 21-06-06)

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AVERBAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO


ESPECIAL. LEGITIMIDADE PASSIVA DO INSS. COMPETÊNCIA PARA EXPEDIÇÃO
DE CTS. AUSÊNCIA DE LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. (...) 1. Nas ações em
que se busca a obtenção da averbação de tempo de serviço prestado em condições
insalubres, deve o INSS figurar no pólo passivo da lide, pois é incumbência sua o
reconhecimento da especialidade do labor, emitindo a respectiva Certidão de Tempo de
Serviço; por sua vez, é perante o órgão empregador, no caso o Ministério da Saúde, que o
servidor irá requerer a averbação e a concessão da aposentadoria, incluído o período
certificado pelo INSS, o que justifica a presença de ambos no feito como litisconsortes.
(...) (AC nº 2005.71.00.001721-0/RS, Rel. Des. Federal CARLOS EDUARDO THOMPSON
FLORES LENZ, 3ª T., j. 09-09-08, un., DJ 25-09-08)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDORA PÚBLICA. CÔMPUTO


ESPECIAL DE TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO SOB CONDIÇÕES INSALUBRES NO
REGIME CELETISTA. EXPEDIÇÃO DE CERTIDÃO E AVERBAÇÃO DO TEMPO
ESPECIAL. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS. LITISCONSÓRCIO PASSIVO. INSS E
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. POSSIBILIDADE. 1. Em demanda
ajuizada contra o INSS e a UFSC objetivando do primeiro a certidão do tempo de serviço
insalubre e da segunda averbação de tal tempo, dá-se aplicação ao disposto no artigo 46,
incisos II, III e IV, do CPC, não havendo que falar em ilegitimidade da Universidade ré.
(...) (grifo) (AC nº 2001.72.00.004841-0/SC, Rel. Juíza Fed. MARIA HELENA RAU DE
SOUZA, 3ª T., j. 16-05-05, un., DJ 13-07-05)

PREVIDENCIÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO. EXPEDIÇÃO DE CERTIDÃO DE TEMPO


DE SERVIÇO PRESTADO SOB O REGIME CELETISTA. ATIVIDADE ESPECIAL.
CONVERSÃO. MUDANÇA DE REGIME JURÍDICO. INSS. COMPETÊNCIA PARA A
EMISSÃO DA CTS. (...) 3. Incumbe ao INSS, em relação ao trabalho prestado sob as
regras do Regime Geral de Previdência Social, a expedição de certidão de tempo de
serviço prevista na legislação previdenciária, devendo nela constar, de forma
discriminada, o cômputo simples desse período, o acréscimo decorrente da sua conversão
em tempo de serviço comum, assim como o total geral obtido desse somatório, não
cabendo questionar a respeito de possível pedido de aposentadoria ou de algum outro tipo
de benefício que o interessado venha a requerer no futuro, perante a Autarquia
Previdenciária ou em outro regime próprio de previdência. Precedentes deste Tribunal.
(...) (AMS n.º 2002.70.07.00543-0/PR, Rel. Des. Federal NYLSON PAIM DE ABREU, 6ª
T., j. 24-03-2004, DJU 09-06-2004)

4. Inépcia da petição inicial


Rejeito também preliminar de inépcia da petição inicial pelo fato de nela não constar o
valor pretendido pelo autor a título de dano moral. Isso porque o demandante postulou
expressamente que o valor fosse fixado mediante o justo e prudente arbítrio do Juízo, que,
em caso de acolhimento da pretensão, deveria de sopesar o quantum da indenização.

Mérito

Inicialmente, ressalto que o pedido do autor se restringe à utilização de tempo rural sem o
recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias, visto que conforme consta da
petição inicial os demais itens impugnados na aposentadoria já foram ajustados e não são
objeto da presente ação.

A UFSC concedeu aposentadoria ao autor em 27/11/1997, conforme Portaria de


27/11/1997, publicada no D.O.U. de 01/12/1997 (evento 1 - PROCADM5, pág. 18/19). O
Tribunal de Contas da União, 2011, considerou ilegal a aposentadoria do autor em face
da ausência de recolhimento das contribuições respeitantes ao tempo de serviço rural
computado para a aposentação. Devidamente processado o feito, após a intimação do
autor, em 2014 o TCU proferiu o Acórdão nº. 5765/2014. Notificado o autor, sobreveio
recurso e em 2015 o TCU proferiu nova decisão no mesmo sentido e o autor foi
comunicado desta decisão em 03/12/2015 (evento 1 - doc. OUT6).

Consoante a Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal "a Administração pode anular seus
próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se
originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial".

A revisão administrativa, contudo, não pode ser feita a qualquer tempo no que toca a atos
capazes de beneficiar o administrado - categoria na qual se enquadra a aposentadoria -,
consoante expressa previsão legal:

Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999.

"Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram


efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que
foram praticados, salvo comprovada má-fé.

§ 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da


percepção do primeiro pagamento.

(...)".

Como a Lei acima mencionada é posterior ao ato que conferiu ao autor o direito à
aposentadoria, o prazo decadencial acima mencionado deve ser contado a partir da
vigência da aludida norma, ou seja, 29 de janeiro de 1999.

Entre o início do prazo decadencial acima estabelecido (29.01.1999) e o acórdão do


Tribunal de Contas da União (2015), decorreu bem mais de 5 (cinco) anos, de modo que já
tinha sido completamente fulminada pela decadência a faculdade de revisão do ato
praticado, conferida à Administração.

Mesmo abraçando-se a tese de que o prazo de decadência acima analisado não se aplica
ao Tribunal de Contas da União, impõe-se a mantença da aposentadoria nos moldes em
que concedida, ante a necessária aplicação do princípio da legalidade em cotejo com o
princípio da segurança jurídica.
A esse respeito, é esclarecedor o ensinamento de Celso Bandeira de Mello (in "Curso de
Direito Administrativo", 1996, Malheiros Editores. 8ª edição, p. 281):

"Finalmente, vale considerar que um dos interesses fundamentais do Direito é a


estabilidade das relações constituídas. É a pacificação dos vínculos estabelecidos a fim de
se preservar a ordem. Este objetivo importa muito mais no direito administrativo do que no
direito privado. É que os atos administrativos têm repercussão mais ampla, alcançando
inúmeros sujeitos, uns direta outros indiretamente, como observou Seabra Fagundes.
Interferem com a ordem e a estabilidade das relações sociais em escala muito maior.

Daí que a possibilidade de convalidação de certas situações - noção antagônica à de


nulidade em seu sentido corrente - tem especial relevo no direito administrativo.

Não brigam com o princípio da legalidade, antes atendem-lhe o espírito, as soluções que
se inspirem na tranquilização das relações que não comprometem insuprivelmente o
interesse público, conquanto tenham sido produzidas de maneira inválida. É que a
convalidação é uma forma de recomposição da legalidade ferida.

Portanto, não é repugnante ao direito administrativo a hipótese de convalescimento dos


atos inválidos."

Deste modo, entendo ilegal a revisão do ato que concedeu a aposentadoria à autora.

O Tribunal Regional da 4ª Região, em caso análogo, decidiu:

Classe: EINF - EMBARGOS INFRINGENTES. Processo: 2004.70.00.018407-6 UF: PR.


Data da Decisão: 09/10/2008 Orgão Julgador: SEGUNDA SEÇÃO. Inteiro Teor: Citação:
Fonte D.E. 24/10/2008. Relator VALDEMAR CAPELETTI

Ementa EMBARGOS INFRINGENTES. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR CIVIL.


APOSENTADORIA. REVISÃO. DECISÃO DO TCU. DECADÊNCIA. TERMO A QUO.

- A Administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem
ilegais, porque deles não se originam direitos. Porém, tal prerrogativa somente pode ser
levada a efeito no limite temporal insculpido no art. 54 da Lei n. 9.784/99. Ultrapassado o
prazo decadencial da norma referida sem que o ato impugnado fosse expurgado do
universo jurídico, prevalece a segurança jurídica em detrimento da legalidade da atuação
administrativa.

- O termo a quo para a contagem do prazo decadencial, em se tratando de ato de


aposentadoria, é a data do ato de concessão inicial, não a data do registro do mesmo pela
Corte de Contas.

Reconhecida a ilegalidade da revisão administrativa procedida pelo TCU, resta


prejudicada a questão relativa à base de cálculo da contribuição previdenciária.

A sentença, quanto às preliminares, deve ser mantida.

A controvérsia envolve processo de revisão administrativa de aposentadoria
estatutária,  promovida  em  face  de  decisão  do  Tribunal  de  Contas  da  União,  que  julgou 
ilegal  a  contagem  de  tempo  de  atividade  de  trabalhador  rural  como  tempo  de 
contribuição  para  fins  de  aposentadoria,  sem  que  o  servidor  tenha  pago  a  devida 
indenização das contribuições.
No  caso,  a  particularidade  do  feito  reside  no  fato  do  autor  ter 
permanecido mais  de  quinze  anos  aposentado,  de  1997  a  2015,  quando  a  administração, 
instada pelo TCU, decidiu então ser ilegal o jubilamento.

Com efeito, entendo que, no exame dos processos de revisão administrativa 
de  aposentadoria  estatutária,  além  da  verificação  do  respeito  ao  princípio  do  devido 
processo legal (o que não é o caso dos autos), é preciso focar a atenção em duas questões: 
1)  a  decadência  ou  prescrição  do  direito  de  revisar  o  ato  concessório,  e  2)  os 
fundamentos da revisão do ato concessório.

Analiso separadamente cada uma das questões.

1) Verificação de eventual decadência ou prescrição do direito à anulação 
do  ato  concessório.  Essa  verificação  é  balizada  pelo  órgão  de  onde  se  originou  a 
impugnação ao benefício concedido.

a) Revisão pelo TCU- Hoje está pacificado que, para o Tribunal de Contas da 


União, no exercício de sua função de controle externo da legalidade dos atos de concessão 
de aposentadoria (CF/88, art. 71, III), não flui prazo decadencial ou prescricional para a 
efetivação  da  aprovação  e  do  consequente  registro  da  aposentadoria.  Ou  seja,  enquanto 
não tiver deferido o registro da aposentadoria, o TCU pode, a qualquer momento, julgá-la 
ilegal,  porque  não  estará  perfectibilizado  o  ato  concessório,  ato  complexo,  antes  do 
mencionado registro. Apenas fica assegurado ao beneficiário que, passados cinco anos do 
recebimento  do  processo  administrativo  no  TCU  sem  que  o  órgão  se  tenha  manifestado 
sobre  a  legalidade  da  aposentadoria,  eventual  rejeição  somente  se  pode  efetivar  com 
respeito  ao  direito  de  ampla  defesa  do  beneficiário,  na  linha  da  interpretação  atualmente 
conferida pelo STF à Súmula Vinculante nº 3, consoante se depreende do precedente que 
segue:

AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. ATO DO TRIBUNAL DE


CONTAS DA UNIÃO. CONTROLE EXTERNO DE LEGALIDADE DO ATO INICIAL
CONCESSIVO DE APOSENTADORIA. INAPLICABILIDADE DA DECADÊNCIA
PREVISTA NA LEI Nº 9.784/1999. DECISÃO PROFERIDA APÓS O PRAZO DE 5 ANOS.
GARANTIAS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. É firme o entendimento
deste Supremo Tribunal Federal no sentido de que não se aplica ao Tribunal de Contas da
União a decadência prevista no art. 54 da Lei 9.784/99, no exercício da competência de
controle externo de legalidade do ato de concessão inicial de aposentadorias, reformas e
pensões, devendo, entretanto, serem assegurados a ampla defesa e o contraditório nos
casos em que referido controle externo ultrapassar o prazo de 5 (cinco) anos. Precedentes.
Agravo regimental conhecido e não provido.
(MS 27296 AgR-segundo, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em
27/05/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-117 DIVULG 17-06-2014 PUBLIC 18-06-
2014)

b) Revisão pela própria administração. A inexistência de decadência para o 


exercício  do  controle  da  legalidade  do  ato  de  concessão  do  benefício  é  restrita  ao  TCU, 
porque  é  prerrogativa  desse  órgão  o  controle  externo  de  legalidade  dos  atos 
administrativos.  Os  órgãos  da  administração,  diversamente,  no  exercício  do  poder/dever 
de  autotutela,  estão  sujeitos  ao  prazo  decadencial  de  cinco  anos  para  "anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários", conforme previsto 
no  art.  54  da  Lei  9.784/99,  assim  como  às  regras  relativas  à  tramitação  do  processo 
administrativo, inclusive as relativas à preclusão e à coisa julgada administrativa, quando a 
questão não envolver ilegalidade do ato. Portanto, a aposentadoria concedida há mais de 
cinco  anos,  mesmo  que  com  violação  a  preceito  legal,  não  pode  mais  ser  anulada  pela 
administração (afora, naturalmente, a hipótese de comprovada má-fé do beneficiário).

2) Exame do fundamento da impugnação ao benefício concedido: ilegalidade 
ou nova interpretação da lei.

a) Revisão pelo TCU. Ainda que a manifestação do TCU sobre a legalidade 


da  aposentadoria  integre  o  ato  concessório,  e  por  isso  não  exista  prazo  decadencial  ou 
prescricional  para  seu  exercício,  podendo  a  corte  de  contas  se  pronunciar  a  qualquer 
tempo,  seu  exame  se  circunscreve  à  legalidade  do  ato  concessório.  Ou  seja,  o  registro 
pode ser indeferido se o ato violar a lei, mas não pode se o ato apenas estiver fundado em 
interpretação da lei diversa daquela que a administração posteriormente passou a entender 
mais adequada, ou que tenha se firmado na jurisprudência ou no próprio TCU. Em suma, a 
modificação na interpretação da lei, por não tornar ilegais os atos praticados com base na 
interpretação  anterior,  não  autoriza  a  recusa  do  registro  pelo  TCU  de  aposentadoria
regularmente  concedida  pela  administração.  Nesse  sentido,  confira-se  o  precedente  do 
STF que transcrevo a seguir:

AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUNAL DE CONTAS DA


UNIÃO. TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO COMO ALUNO-APRENDIZ EM ESCOLA
TÉCNICA. CÔMPUTO PARA APOSENTADORIA. LEGALIDADE. MUDANÇA DE
ORIENTAÇÃO DA CORTE DE CONTAS QUANTO AOS REQUISITOS EXIGIDOS, APÓS
A CONCESSÃO DA APOSENTADORIA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL
IMPROVIDO. I - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consolidou-se, em casos
idênticos ao que ora se analisa, pela legalidade do cômputo do tempo prestado como
aluno-aprendiz para fins de aposentadoria. II - A nova interpretação da Súmula 96 do
TCU, firmada no Acórdão 2.024/2005, não pode ser aplicada à aposentadoria concedida
anteriormente. III - Agravo regimental improvido.
(MS 28399 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado
em 22/05/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-109 DIVULG 04-06-2012 PUBLIC 05-06-
2012 RTJ VOL-00224-01 PP-00327)

Esse  entendimento,  aliás,  como  bem  assentou  o  Ministro  Luiz  Fux  em  seu 
voto  proferido  no  julgamento  do  MS  28.105  (DJe  de  27-10-2011),  tratando  de  questão 
idêntica,  está  expressamente  consagrado  no  art.  2º,  par.  único,  inciso  XIII,  da  Lei  dos 
processos administrativos da Administração Pública, verbis:

Art. 2º (...)
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de:
(...)
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento
do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.

b) Revisão pela própria administração. O fundamento da impugnação do ato 


de  concessão  de  aposentadoria  também  é  relevante  naqueles  casos  em  que  a  própria 
administração  revisa  o  ato  concessório.  Como  vimos,  no  caso  de  nulidade,  por  afronta  à 
lei,  a  administração  conta  com  o  prazo  de  5  anos  para  revisá-lo.  Mas  no  caso  de 
modificação da interpretação da lei, a aplicação do novo entendimento não pode ter efeitos 
retroativos  (Lei  9.784/99,  art.  2º,  inciso  XIII,  acima  transcrito),  e  somente  pode  ser 
sustentado  através  do  regular  processo  administrativo,  com  respeito  aos  prazos,  às 
instâncias e aos recursos do processo administrativo, e com o resguardo dos institutos da 
preclusão e da coisa julgada administrativa.

Exame do labor como trabalhador rural

No caso dos autos, a impugnação à concessão do benefício partiu do TCU, 
no processo de controle externo da legalidade do ato concessório para fins de registro, de 
forma  que  o  ato  não  está  sujeito  à  decadência,  desimportando,  assim,  que  a 
aposentadoria  tenha  sido  concedida  em  1997  e  a  decisão  do  TCU  tenha  sido  proferida 
bem mais de cinco anos após, em 2015. Vale ressaltar que foi oportunizado o contraditório 
no  âmbito  do  processo  no  TCU  (houve  inclusive  interposição  de  recurso),  de  forma  que 
não há que se falar em cerceamento de defesa.

Quanto  ao  fundamento  da  recusa  do  registro  da  aposentadoria,  impõe-se 
verificar  se  resulta  de  reinterpretação  de  preceito  legal  ou  de  efetiva  verificação  de 
ilegalidade do ato de concessão.

Nessa  perspectiva,  ressalto  que  direito  à  contagem  recíproca  de  tempo  de 
contribuição  no  serviço  público  e  na  atividade  privada,  rural  e  urbana,  foi  assegurado 
pela Constituição de 1988 desde sua redação original, no art. 202, § 2º (a regra, hoje, está 
no art. 201, § 9º).

A  normatização  infraconstitucional  do  direito  à  contagem  recíproca  de 


tempo  de  serviço  surgiu  com  a  edição  da  Lei  8.213/91.  O  regramento  sobre  a  matéria 
contido  nessa  Lei  de  Benefícios  da  Previdência  Social  sofreu  modificações  ao  longo  do 
tempo. Relativamente à questão da necessidade do recolhimento das contribuições, podem 
ser identificadas duas fases distintas: a) o regime da redação original do art. 96 da Lei; b) o 
regime instituído pela MP 1.523, de 11 de outubro de 1996. Senão, vejamos.

a) O regime da redação original do art. 96 da Lei 8.213/91. Em sua redação 


original, a lei previu, na seção relativa à contagem recíproca de tempo de serviço, como 
regra geral, no art. 96, inciso IV, a necessidade da indenização das contribuições relativas 
ao  tempo  de  serviço  anterior  ou  posterior  à  obrigatoriedade  de  filiação  à  Previdência 
Social para que ele pudesse ser computado. Contudo, no inciso seguinte, a lei previa uma
exceção,  no  caso  de  tempo  de  atividade  rural,  que  poderia  ser  computado  sem  o 
recolhimento das contribuições correspondentes. Veja-se, a propósito, o teor das referidas 
normas:

Art. 96. O tempo de contribuição ou de serviço de que trata esta Seção será contado de
acordo com a legislação pertinente, observadas as normas seguintes:
(...)
IV - o tempo de serviço anterior ou posterior à obrigatoriedade de filiação à Previdência
Social só será contado mediante indenização da contribuição correspondente ao período
respectivo, com os acréscimos legais;
V - o tempo de serviço do segurado trabalhador rural, anterior à data de início de
vigência desta lei, será computado sem que seja necessário o pagamento das
contribuições a ele correspondentes, desde que cumprido o período de carência.
A  presença  desta  regra  na  Seção  VII  da  Lei,  nominada  "Da contagem
recíproca de tempo de serviço", dispensando o recolhimento das contribuições, esteve no 
fundamento de um sem número de decisões administrativas no sentido de averbar, como 
tempo de serviço público para fins de aposentadoria estatutária, tempo de atividade de 
trabalhador rural certificada pelo INSS, sem o recolhimento das respectivas contribuições 
ou pagamento de indenização. Essa foi a interpretação - absolutamente razoável, diga-se 
de  passagem  -  conferida  à  regra  legal  então  em  vigor  por  inúmeros  órgãos  da  própria 
administração.

Dúvida poderia surgir quanto ao alcance dessas normas (ou seja, se elas, ao 
tratarem  da  contagem  recíproca,  se  dirigiam  também  à  aposentadoria  estatutária  ou  se 
apenas à pelo RGPS) se atentássemos para a redação do caput do art. 94, que inaugura a 
Seção  VII  da  Lei,  e  que  assegura  o  direito  à  contagem  recíproca  "para efeito dos
benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social",  sem  mencionar  os 
benefícios estatutários. Com efeito, diz a norma:

Art. 94. Para efeito dos benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social, é
assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição ou de serviço na
administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os
diferentes sistemas de previdência social se compensarão financeiramente.

Contudo,  essa  dúvida  se  dissipa  logo  a  seguir,  pelo  disposto  no  art.  99  da 
Lei, logo a seguir:

Art. 99. O benefício resultante de contagem de tempo de serviço na forma desta seção
será concedido e pago pelo sistema a que o interessado estiver vinculado ao requerê-lo, e
calculado na forma da respectiva legislação.

Ora,  a  lei  inequivocamente  prevê  a  situação  de  uma  aposentadoria


estatutária  (se  o  interessado  estiver  vinculado  ao  sistema  estatutário  quando  requerer  a 
aposentadoria) sendo concedida com base em tempo de serviço contado "na forma desta
seção", ou seja, computando tempo de serviço rural/ ou pescador em regime de economia 
familiar anterior à Lei 8.213/91, sem o recolhimento de contribuições, conforme previsto 
no art. 96, inciso V, da seção VII da Lei.

Portanto,  até  aqui  se  pode  concluir  que  a  Lei  8.213/91,  em  sua  redação 
original,  previa  expressamente  o  direito  ao  cômputo  de  tempo  de  serviço  rural/pescador 
em  regime  de  economia  familiar  exercido  antes  de  sua  edição,  independentemente  do 
recolhimento  de  contribuições  ou  de  pagamento  de  indenização,  para  fins  obtenção  de 
aposentadoria  estatutária.  Nessa  perspectiva,  qualquer  benefício  estatutário  concedido 
administrativamente  dessa  forma,  enquanto  vigente  esse  enquadramento  legal,  está 
conforme  a  lei,  e  não poderá ser impugnado, rejeitado ou anulado sob o pretenso
fundamento de ilegalidade.  Somente  um  profundo  exercício  de  reinterpretação  da  lei 
poderá  resultar  no  questionamento  da  legalidade  do  ato  administrativo  concessório. 
Contudo, como vimos, a reinterpretação da lei não é fundamento hábil para o exercício de 
controle externo de legalidade pelo Tribunal de Contas, e muito menos para que a própria 
administração pretenda anular ato administrativo perfectibilizado.
b)  O regime instituído pela MP 1.523, de 11 de outubro de 1996.  A 
disciplina  relativa  à  contagem  recíproca  sofreu  modificação  substancial  com  a  edição  da 
MP 1.523, de 11 de outubro de 1996, posteriormente convertida na Lei 9.528/97.

Com efeito, foi extirpado o inciso V do art. 96 da Lei 8.213/91, aquele que 
previa o cômputo do tempo de serviço de trabalhador rural/pescador anterior à lei sem o 
recolhimento  das  contribuições,  para  fins  de  contagem  recíproca.  Ao  mesmo  tempo,  foi 
mantida a regra do inciso IV do mesmo artigo, prevendo expressamente a necessidade de 
indenização  das  contribuições  previdenciárias  relativas  ao  período  anterior  à  filiação 
obrigatória à Previdência como requisito para sua contagem como tempo de contribuição
no serviço público.

Consequência  disso  é  que,  a  partir  da  vigência  da  MP  1.523/96,  de  11  de 
outubro  de  1996,  essa  regra  geral  do  inciso  IV  do  art.  96  da  Lei  8.213/91,  que  exige  a 
indenização  das  respectivas  contribuições,  passou  a  regular  também  a  averbação  do 
tempo  de  atividade  rural  como  tempo  de  serviço  público,  à  falta  de  disposição  legal 
específica (antes contida no suprimido inciso V).

Assim,  as  aposentadorias  estatutárias  concedidas  mediante  contagem  de 


tempo  de  atividade  rural/pescador  após,  sem  que  tenham  sido  indenizadas  as 
contribuições  correspondentes,  podem  ter  seu  registro  original  recusado  pelo  TCU,  no 
exercício do controle externo de legalidade, a qualquer tempo (na esteira do entendimento 
emanado do STF), ou anulados pela própria administração, dentro do prazo de cinco anos 
previsto no art. 54 da Lei 9.784/99.

No caso dos autos, a averbação do tempo de serviço rural como tempo de 
contribuição no serviço público ocorreu em 08/08/1997, posteriormente a Lei, portanto.

No entanto, o autor pode optar por se aposentar com data de 10/10/1996.

Explico:  em  27/11/1997  (na  data  da aposentadoria) o autor possui 31 anos, 


05  meses  e  27  dias,  em  10/10/1996  o  demandante  possui  30  anos,  04  meses  e  10  dias, 
suficiente para a sua aposentadoria proporcional.

A esse respeito:

PRVIDENCIÁRIO. CERTIDÃO DE TEMPO DE SERVIÇO. TEMPO DE SERVIÇO


RURAL. CONTAGEM RECÍPROCA. DECADÊNCIA. AUSÊNCIA DE INDENIZAÇÃO.
1. Há e sempre houve limites para a Administração rever atos de que decorram efeitos
favoráveis para o particular, em especial aqueles referentes à concessão de benefício
previdenciário. 2. A Lei 6.309/75 previa em seu artigo 7º que os processos de interesse de
beneficiários não poderiam ser revistos após 5 (cinco) anos, contados de sua decisão final,
ficando dispensada a conservação da documentação respectiva além desse prazo. Assim,
em se tratando de benefício deferido sob a égide da Lei 6.309/75, ou seja, até 14/05/92
(quando entrou em vigor a Lei 8.422, de 13/05/92, que em seu artigo 22 revogou a Lei
6.309/75), caso decorrido o prazo de cinco anos, inviável a revisão da situação,
ressalvadas as hipóteses de fraude, pois esta não se consolida com o tempo 5. Segundo o
Superior Tribunal de Justiça, para os benefícios deferidos antes do advento da Lei
9.784/99 o prazo de decadência deve ser contado a partir da data de início de vigência do
referido Diploma, ou seja, 01/02/1999. Mesmo nestas situações, todavia, há necessidade
de respeito ao princípio da segurança jurídica, à luz das circunstâncias do caso concreto.
6. Com o advento da Lei 9.784/99 (art. 54), foi instituído expressamente prazo decadencial
de cinco anos para desfazimento de atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários, incluídos os atos de concessão de benefício
previdenciário. 7. A MP 138 (de 19/11/03, publicada no DOU de 20/11/03, quando entrou
em vigor), instituiu o art. 103-A da Lei 8.213/91, estabelecendo prazo decadencial de dez
anos para a Previdência Social anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os seus beneficiários. 8. Como quando a Medida Provisória 138 entrou em
vigor não haviam decorrido cinco anos a contar do advento da Lei 9.784/99, os prazos que
tiveram início sob a égide desta Lei foram acrescidos, a partir de novembro de 2003,
quando entrou em vigor a MP 138/03, de tanto tempo quanto necessário para atingir o
total de dez anos. Assim, na prática todos os casos subsumidos inicialmente à regência da
Lei 9.784/99, passaram a observar o prazo decadencial de dez, anos aproveitando-se,
todavia, o tempo já decorrido sob a égide da norma revogada 9. O prazo decadencial
somente será considerado interrompido pela Administração quando regularmente
notificado o segurado de qualquer medida de autoridade administrativa para instaurar o
procedimento tendente a cancelar o benefício. 10. A contagem recíproca de tempo de
serviço dá-se mediante a compensação financeira entre os regimes previdenciários
envolvidos, consoante os arts. 201, § 9º, da CF/88, e 94 da Lei n.º 8.213/91. 11. Em sua
redação original estabelecia o inciso V do artigo 96 da Lei 8.213/91 (que dispõe sobre a
contagem recíproca) que "o tempo de serviço do segurado trabalhador rural, anterior à
data de início de vigência desta Lei, será computado sem que seja necessário o pagamento
das contribuições a ele correspondentes, desde que cumprido o período de carência".
Infere-se daí que os servidores que à data da alteração legislativa (outubro de 1996), já
tinham, contando a atividade rural, implementado o tempo necessário à aposentadoria
estatutária não estão obrigados ao recolhimento de indenização. 12. No caso dos autos,
em outubro de 1996, com o advento da MP 1.523/96, contando o período de atividade
rural, o impetrante tinha implementado o tempo necessário à aposentadoria estatutária,
sendo indevida a exigência de contribuições como condição para contagem recíproca do
tempo rural, fazendo jus à expedição de Certidão de Tempo de Serviço. (TRF4,
APELAÇÃO CÍVEL nº 2004.71.02.000886-5, Turma Suplementar, Juiz Federal
EDUARDO VANDRÉ O L GARCIA, POR UNANIMIDADE, D.E. 12/05/2008)

AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. CERTIDÃO DE TEMPO DE SERVIÇO. CONTAGEM


RECÍPROCA EM REGIMES DISTINTOS. INDENIZAÇÃO DO TEMPO RURAL
RECONHECIDO. CANCELAMENTO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE
RAZOABILIDADE. DIREITO ADQUIRIDO. 1. Presentes a verossimilhança do direito
alegado e o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, é de conceder-se a
antecipação dos efeitos da tutela. 2. Em face do princípio da segurança jurídica,
garantidor da estabilidade das relações jurídicas, já tendo sido concedida aposentadoria
estatutária com utilização de tempo de serviço rural reconhecido pelo INSS, não pode a
autarquia promover o cancelamento administrativo de certidão de tempo de serviço ao
argumento de que devida indenização das contribuições, pois o valor respectivo, se for o
caso, deve ser perseguido mediante procedimento próprio. 3. Em sua redação original
estabelecia o inciso V do artigo 96 da Lei 8.213/91 (que dispõe sobre a contagem
recíproca) que "o tempo de serviço do segurado trabalhador rural, anterior à data de
início de vigência desta Lei, será computado sem que seja necessário o pagamento das
contribuições a ele correspondentes, desde que cumprido o período de carência". Infere-se
daí que os servidores que à data da alteração legislativa (outubro de 1996), já tinham,
contando a atividade rural, implementado o tempo necessário à aposentadoria estatutária
- é o caso da agravante - não estão obrigados ao recolhimento de indenização. (TRF4,
AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 2004.04.01.027567-2, 5ª Turma, Juiz Federal RICARDO
TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA , D.J.U. 18/05/2005)

À  vista  de  tais  fundamentos,  é  de  se  acolher  a  pretensão  do  autor  à 
manutenção  de  sua  aposentadoria,  com  o  cômputo  do  tempo  de  serviço  rural, 
independentemente de aporte das contribuições previdenciárias respectivas.
Referentemente  aos  demais  pontos,  utilizo-me  de  fundamentação  da 
Desembargadora  Federal  Vivian  Josete  Pantaleão  Caminha  na  AC  5024342-
81.2014.4.04.7200/SC:

Quanto ao pedido de indenização - assim deduzido "Assim, sucessivamente, deve ser


acolhido o pedido de indenização, seja ele material, considerando-se o tempo de
aposentadoria antes reconhecido como de efetivo exercício de serviço público, caso não
haja a declaração de nulidade do ato do TCU e o restabelecimento da aposentadoria; seja
moral, devido ao transtorno e abalo emocional que o ato vem acometendo à recorrente,
sendo que teve de retornar ao trabalho (...)", resta prejudicado pelo acolhimento do
pedido principal.

Relativamente aos danos morais, trago à colação excerto do voto proferido na AC nº


5011944-39.2013.404.7200 que, em feito similar ao presente, assim decidiu no ponto:

(...)
A fim de caracterizar os requisitos para a concretização do dano moral, é necessária uma
conjunção de circunstâncias, quais sejam: fato gerador, nexo causal e a ocorrência do
dano.

Quanto a este último, doutrina e jurisprudência são uníssonos em inferir que é suficiente a
prova do fato, não havendo necessidade de demonstração do sofrimento moral, dado o
esforço hercúleo advindo de prova deste jaez, tendo em conta que o dano extrapatrimonial
atinge bens incorpóreos - a imagem, a honra, a privacidade, etc.

Nesse sentido:

RESPONSABILIDADE CIVIL. MULTA DE TRÂNSITO INDEVIDAMENTE COBRADA.


REPETIÇÃO DE INDÉBITO. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. DANO
PRESUMIDO.VALOR REPARATÓRIO. CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO.
1. Como se trata de algo imaterial ou ideal, a prova do dano moral não pode ser feita
através dos mesmos meios utilizados para a comprovação do dano material. Por outras
palavras, o dano moral está ínsito na ilicitude do ato praticado, decorre da gravidade do
ilícito em si, sendo desnecessária sua efetiva demonstração, ou seja, como já sublinhado: o
dano moral existe in re ipsa. Afirma Ruggiero: "Para o dano ser indenizável, 'basta a
perturbação feita
pelo ato ilícito nas relações psíquicas, na tranqüilidade, nos sentimentos, nos afetos de
uma pessoa, para produzir uma diminuição no gozo do respectivo direito." 2. É dever da
Administração Pública primar pelo atendimento ágil e eficiente de modo a não deixar
prejudicados os interesses da sociedade. Deve ser banida da cultura nacional a idéia de
que ser mal atendido faz parte dos aborrecimentos triviais do cidadão comum,
principalmente quando tal comportamento provém das entidades administrativas. O
cidadão não pode ser compelido a suportar as conseqüências da má organização, abuso e
falta de eficiência daqueles que devem, com toda boa vontade, solicitude e cortesia,
atender ao público.3. Os simples aborrecimentos triviais aos quais o cidadão encontra-se
sujeito devem ser considerados como os que não ultrapassem o limite do razoável, tais
como: a longa espera em filas para atendimento, a falta de estacionamentos públicos
suficientes, engarrafamentos etc. No caso dos autos, o autor foi obrigado, sob pena de
não-licenciamento de seu veículo, a pagar multa que já tinha sido reconhecida, há mais de
dois anos, como indevida pela própria administração do DAER, tendo sido, inclusive,
tratado com grosseria pelos agentes da entidade. Destarte, cabe a indenização por dano
moral. 4. Atendendo às peculiaridades do caso concreto, e tendo em vista a
impossibilidade de quantificação do dano moral, recomendável que a indenização seja
fixada de tal forma que, não ultrapassando o princípio da razoabilidade, compense
condignamente, os desgastes emocionais advindos ao ofendido. Portanto, fixo o valor da
indenização a ser pago por dano moral ao autor, em 10 (dez) vezes o valor da multa. 5.
Recurso especial provido.
(STJ, REsp 608918, 1ª Turma, Rel. Ministro José Delgado, DJ 21-06-2004)

ADMINISTRATIVO. DANO MORAL. ATRASO NA ENTREGA POSTAL. ECT.


APLICAÇÃO DO CDC. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DEVER DE INDENIZAR.
DANO MORAL. DANO MATERIAL. NÃO COMPROVADO. 1. Comprovado o nexo causal
entre a conduta da ré e o dano sofrido, há responsabilidade civil como decorrência da
aplicação do CDC. 2. O dano moral reflete-se no âmbito interno do ser humano. Por estar
relacionada a sentimentos íntimos, a indenização moral opera por força da simples
violação; assim, verificado o eventus damni, surge a necessidade da reparação, não
havendo que se cogitar em prova do prejuízo. 3. Para ser indenizável, o dano material
deve ser certo, não sendo passíveis de indenização os danos hipotéticos. 4. Para o
arbitramento da indenização advinda do dano moral, o julgador deve se valer do bom
senso e da razoabilidade, atendendo às peculiaridades do caso, não podendo ser fixado
quantum que torne irrisória a condenação e nem tampouco valor vultoso que traduza o
enriquecimento ilícito. Deve-se, então, agir com cautela, fazendo com que o valor, de certa
forma, amenize as nefastas conseqüências sofridas pela vítima, punindo na medida certa
aquele responsável pelo dano. Em vista disso, mantenho o valor da indenização fixado
pelo juiz a quo em R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), uma vez que se trata de valor
capaz de amenizar o dano causado, considerando-se a sua intensidade e as suas
conseqüência, evitando um enriquecimento sem causa da parte autora. 5.Apelação e
recurso adesivo improvidos. (TRF4, AC 2004.70.04.000947-2, Terceira Turma, Relator
Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, D.E. 25/02/2009)

Malgrado a desnecessidade de comprovação do prejuízo, por evidente que meros


dissabores do cotidiano, próprios do convívio social, não são hábeis à ensejar o abalo
próprio a causar o dano moral, que exige exposição em nível capaz de causar ultraje que
abale a psique, a imagem ou a honra do lesado, não se podendo considerar configurado
em situação de exercício regular do direito.

Ensina Rui Stoco que o indivíduo possui dois patrimônios: um exterior, e o outro
representado pelo seu patrimônio subjetivo, interno, composto da imagem, personalidade,
conceito ou nome que conquistou junto a seus pares e projeta à sociedade, ambos passíveis
de indenização, conjunta ou isoladamente. (Responsabilidade Civil e sua Interpretação
Jurisprudencial - 4a. ed. - São Paulo - Ed. Rev. Dos Tribunais - 1997 - p. 696).

Pois bem. No caso em tela, não reputo configurada a hipótese de ato ilícito ensejador da
reparação por dano extrapatrimonial.

Isso porque a conduta administrativa não se revestiu, ao que consta do caderno


probatório, de cunho doloso, tampouco fora dispensado tratamento desigual ao requerente
em relação a outros servidores.

Da mesma sorte, não se depreende que as conclusões daquela seara tenham sido
desrespeitosas ou negligentes em relação às necessidades da autora.

Trata-se, isso sim, de entendimento embasado em decisão da Corte de Contas, que estatuiu
a inviabilidade da contagem do tempo rural sem as devidas contribuições previdenciárias.

Vê-se, portanto, que o entendimento administrativo, embora não conte com a chancela
judicial, atendeu aos termos das orientações vertidas pela autoridade executiva, não se
podendo, pois, reputar a presença de ilicitude em tal proceder, mesmo porque assegurado
no procedimento extrajudicial a ampla defesa.
Não houve desatendimento às disposições regulamentares internas, abuso de direito,
perseguição, ou má-fé, de modo que a orientação administrativa não merece a penalização
almejada.

A propósito:

ADMINISTRATIVO, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. REMESSA OFICIAL. NÃO-


CONHECIMENTO. SERVIDOR PÚBLICO. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO. LABOR
ALEGADAMENTE EXERCIDO A MAIS PARA CONTAGEM DE TEMPO PARA
APOSENTADORIA. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL, PRESTADO EM CONDIÇÕES
INSALUBRES, COMO CELETISTA. INEXISTÊNCIA DE ILÍCITO CIVIL A AMPARAR A
PRETENSÃO. ENRIQUECIMENTO INDEVIDO DA UNIVERSIDADE RÉ AFASTADO.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. 1. Não se conhece da remessa oficial de
sentença que reconhece o direito da parte autora à averbação do tempo de serviço
prestado em condições especiais, pois, na forma do art. 12 da MP n.º 2.180-35/01, fica
dispensado o reexame necessário das sentenças proferidas contra a União, autarquias e
fundações públicas, nas hipóteses em que já tenha sido editada súmula ou instrução
normativa da Advocacia-Geral da União - no caso, a edição da Súmula Administrativa n.º
01/2004 amolda-se à situação. 2. A interpretação, por parte da Administração Pública, de
determinada situação, ainda que gere resultado desfavorável ao interessado, não pode ser
fonte de indenização, sob pena de não ser mais facultado à autoridade administrativa
interpretar a lei e resolver as questões que lhe são submetidas. 3. Na espécie, se as
autoridades administrativas que se depararam com o caso entenderam que os requisitos
para a conversão do tempo de serviço da apelante, e conseqüente aposentadoria, não
estavam comprovados naquele momento, essa livre postura da Administração não pode
resultar em dano moral, caso contrário, sempre que o ente público decidisse de forma
contrária ao interesse do administrado agiria de forma ilícita e caberia reparação do
dano. 3. "Posterior reconhecimento do tempo de serviço, em ação judicial, não justifica o
pagamento de indenização por danos de ordem material e/ou moral, quando não-
comprovada a ação ilícita imputada à ré, ou, ainda o tratamento desigual, desrespeitoso
ou negligente da Autarquia, que pudesse elevar as frustrações do autor à categoria de
dano passível de reparação civil. Hipótese de responsabilidade civil não-comprovada."
(TRF 4ª R., AC n.º 2007.71.05.004980-9/RS, Relator Des. Federal Edgard Antônio
Lippmann Júnior, 4ª T., j. 03-12-2008, un., DJ 13-01-2009). 4. Não há falar em prejuízo a
ser indenizado ou em enriquecimento indevido da Universidade ré pelo suposto labor além
do necessário para aposentadoria, pois a servidora permaneceu no exercício de função
pública, pela qual percebeu a remuneração correspondente. 5. Apelo da parte autora
desprovido.
(TRF4, APELREEX 2007.71.00.000294-9, Terceira Turma, Relator Carlos Eduardo
Thompson Flores Lenz, D.E. 19/08/2009)

Consectários

No  tocante  aos  acréscimos  legais,  cumpre  destacar  que  a  aplicação  do 
critério  de  atualização  dos  débitos  judiciais  está  sendo  questionada  nas  ADIs  nº  4357, 
4372, 4400 e 4425. A controvérsia ainda não teve solução definitiva, restando pendente a 
modulação de seus efeitos e os índices a serem aplicados.

Assim,  não  estando  pacificado  o  tema  nos  tribunais  superiores,  a  definição 


do percentual de juros e do índice de correção monetária deve ser diferida para a fase da 
execução, de modo a racionalizar o andamento do processo.

A  ação  de  conhecimento  deve  centrar-se  no  reconhecimento  do  direito 


postulado. A questão da atualização monetária da indenização ora imputada como devida 
pela Fazenda Pública, dado o caráter instrumental e de acessoriedade, não pode impedir o 
regular  trâmite  dos  processos  de  conhecimento  para  o  seu  deslinde,  qual  seja;  o 
esgotamento  de  todos  os  recursos  quanto  à  matéria  de  fundo,  e  por  conseqüência,  o 
trânsito em julgado.

Nesse sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. ANISTIA POLÍTICA.


PAGAMENTO RETROATIVO DOS EFEITOS FINANCEIROS. CONCESSÃO DA
ORDEM. REVISÃO DA PORTARIA DE ANISTIA. NÃO-COMUNICAÇÃO ANTES DO
JULGAMENTO DO WRIT. SUSPENSÃO DO FEITO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA
DE PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA PARA O ADIMPLEMENTO IMEDIATO.
NECESSIDADE DE EXECUÇÃO (ARTIGO 730 DO CPC). JUROS DE MORA E
CORREÇÃO MONETÁRIA. QUESTÃO QUE EXTRAPOLA O OBJETO DO MANDAMUS.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 5º DA LEI N. 11.960/09.
MODULAÇÃO DE EFEITOS NÃO CONCLUÍDA PELO STF. DIFERIMENTO PARA A
FASE EXECUTIVA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. 1 e 2, omissis. 3.
Diante a declaração de inconstitucionalidade parcial do artigo 5º da Lei n. 11.960/09
(ADI 4357/DF), cuja modulação dos efeitos ainda não foi concluída pelo Supremo
Tribunal Federal, e por transbordar o objeto do mandado de segurança a fixação de
parâmetros para o pagamento do valor constante da portaria de anistia, por não se tratar
de ação de cobrança, as teses referentes aos juros de mora e à correção monetária devem
ser diferidas para a fase de execução. 4. Embargos de declaração rejeitados. (EDcl no MS
14.741/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/10/2014,
DJe 15/10/2014)

Nesse contexto, firma-se, por ora, o direito à incidência de juros e correção 
monetária, postergando-se para o processo de execução a definição dos índices aplicáveis, 
estabelecendo-se, apenas, que o percentual de juros e o índice de correção monetária para 
o caso sub judice deverão ser aqueles constantes da legislação em vigor em cada período 
em que ocorreu a mora da fazenda pública.

Honorários Advocatícios

Considerando o provimento parcial das apelações, a sucumbência recíproca 
está configurada, pois o autor, de um lado, e as rés, de outro restaram em parte vencidos e 
em  parte  vencedores,  sendo-lhes  devidos  honorários  de  sucumbência,  conforme  previsto 
no art. 85-caput do CPC.

Essa  circunstância  impõe  que  se  repartam  entre  as  partes  os  honorários  da 
sucumbência  (ainda  que  o  novo  CPC  seja  omisso  quanto  ao  ponto),  todavia  sem 
possibilidade de compensação (essa sim expressamente vedada no § 14 do art. 85).

Portanto, a verba honorária, deve ser fixada nos seguintes patamares: 10% do 
valor  da  causa  até  200  salários  mínimos,  mais  8%  do  saldo  remanescente  do  valor  da 
causa que ultrapassar 200 salários mínimos, até 2.000 salários mínimos, deve ser repartida 
entre a parte autora e a parte ré, da seguinte forma, dado a parte autora haver sucumbido 
em  menor  monta:  as  rés  deverão  pagar  ao  procurador  do  autor,  a  título  de  honorários 
advocatícios, 10% do valor da causa, já a parte autora deverá pagar aos procuradores das 
rés 3% do valor da causa, a ser dividido pro rata, suspensa a sua exigibilidade, enquanto o 
autor estiver abarcado pela AJG.

Ante o exposto, voto por dar parcial provimento às apelações.
Desembargador Federal Luís Alberto D'Azevedo Aurvalle
Relator

Documento eletrônico assinado por Desembargador Federal Luís Alberto D'Azevedo


Aurvalle, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e 
Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
documento está disponível no endereço eletrônico 
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código 
verificador 8964142v2 e, se solicitado, do código CRC 5FE41252. 
Informações adicionais da assinatura: 
Signatário (a):  Luís Alberto D'Azevedo Aurvalle 
Data e Hora:  31/05/2017 18:05 

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 31/05/2017


APELAÇÃO CÍVEL Nº 5026525-88.2015.4.04.7200/SC
ORIGEM: SC 50265258820154047200
RELATOR : Des. Federal LUÍS ALBERTO D AZEVEDO AURVALLE
PRESIDENTE : VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA
PROCURADOR : Dr. Fábio Nesi Venzon
APELANTE : UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC
APELADO : ANTONIO IACZINSKI SOBRINHO
ADVOGADO : GREICE MILANESE SÔNEGO OSORIO
Certifico  que  este  processo  foi  incluído  na  Pauta  do  dia  31/05/2017,  na 
seqüência 106, disponibilizada no DE de 08/05/2017, da qual foi intimado(a) INSTITUTO 
NACIONAL  DO  SEGURO  SOCIAL  -  INSS,  UNIÃO  -  ADVOCACIA  GERAL  DA 
UNIÃO, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a DEFENSORIA PÚBLICA e as demais 
PROCURADORIAS FEDERAIS.
Certifico que o(a) 4ª TURMA, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, 
em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: 
A  TURMA,  POR  UNANIMIDADE,  DECIDIU  DAR  PARCIAL 
PROVIMENTO ÀS APELAÇÕES.
RELATOR 
: Des. Federal LUÍS ALBERTO D AZEVEDO AURVALLE
ACÓRDÃO
VOTANTE(S) : Des. Federal LUÍS ALBERTO D AZEVEDO AURVALLE
: Des. Federal CÂNDIDO ALFREDO SILVA LEAL JÚNIOR
: Des. Federal VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA
Luiz Felipe Oliveira dos Santos
Diretor de Secretaria

Documento eletrônico assinado por Luiz Felipe Oliveira dos Santos, Diretor de Secretaria, na 


forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª 
Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está 
disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o 
preenchimento do código verificador 9019305v1 e, se solicitado, do código CRC B8B6DCEB. 
Informações adicionais da assinatura: 
Signatário (a):  Luiz Felipe Oliveira dos Santos 
Data e Hora:  31/05/2017 15:17 

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