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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

PRO-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO


TECNOLÓGICA
INSTITUTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DAS ÁGUAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS AQUÁTICOS CONTINENTAIS
AMAZÔNICOS

MERCÚRIO TOTAL EM SEDIMENTOS FLUVIAIS DA


BACIA DO RIO TAPAJÓS EM REGIÕES COM E SEM
ATIVIDADE GARIMPEIRA, AMAZÔNIA, BRASIL

AUGUSTO RODRIGUES MAIA

Santarém, Pará
Junho de 2015
AUGUSTO RODRIGUES MAIA

MERCÚRIO TOTAL EM SEDIMENTOS FLUVIAIS DA


BACIA DO RIO TAPAJÓS EM REGIÕES COM E SEM
ATIVIDADE GARIMPEIRA, AMAZÔNIA, BRASIL

Orientador: Profor. Dr. JOSÉ REINALDO PACHECO PELEJA

Dissertação apresentada à Universidade Federal do


Oeste do Pará – UFOPA, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre em Recursos
Aquáticos Continentais Amazônicos, junto ao
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Recursos Aquáticos Continentais Amazônicos.

Área de concentração: Limnologia Amazônica

Santarém, Pará
Junho de 2015
AGRADECIMENTOS

Ao todo poderoso por iluminar minhas ideias e me dar forças nos momentos difíceis.
À minha família Alcilene e minhas filhas Ana Bela e Vitória, e minha mãe Maria das Graças
pela educação, por confiar em mim e por entender que o conhecimento não pára.
Ao professor Dr. Reinaldo Pacheco Peleja pela grande amizade e orientação, suas contribuições
valiosas para o enriquecimento deste trabalho e pela busca de recursos para este sonho.
A Profa. Dra. Ynglea Goch, pelas ideias e pela força nos momentos de cansaço nas
intermináveis análises que tomaram bastante do meu tempo.
Ao Projeto ADAPTA/INPA/CNPq na pessoa responsável o prof. Dr. Adalberto Luiz Val pelo
financiamento do veículo e combustível, meu grande agradecimento.
Aos meus companheiros de guerra Rívolo Bacelar de Jesus pelas ajudas no trabalho de campo
e pelas dicas, informações e formatação deste trabalho bem como as ajudas nos fins de semana
e que o mesmo não mediu esforços para o sucesso desse trabalho e ao grande Dilailson Araújo
pelo profissionalismo nos trabalhos de campo e nas técnicas de coleta, pois sozinho eu não teria
êxito neste trabalho; foi uma aventura do outro mundo; jamais esqueceremos essa façanha de
conhecer a realidade do povo do Tapajós e a dinâmica dos rios da região...e ao amigo João Lira
pelo apoio nas horas certas e que não media esforços.
Aos pilotos de lancha mais experientes da região que já vi: Sr. Luciano (Jacareacanga), Ronaldo
Rodrigues – o Gago Doce Mel (Vila Penedo), ao Manoel Viana (Vila Mamãe Anã), e ao
Chiquinho (Vila Buburé) todos conhecedores dos pedrais perigosos do rio Tapajós.
Ao Secretário de Meio Ambiente de Jacareacanga Sr. Everton e o Sr. Monteiro da Prefeitura
Municipal de Jacareacanga pelas informações prestadas sobre a região garimpeira.
Ao ex-garimpeiro Socó de Jacareacanga – pelas informações valiosas da região garimpeira.
Ao coordenador da EMATER de Jacareacanga, o Sr. Delival, pela grandiosa ajuda em ceder a
lancha, dispor seu tempo para nos ajudar, reconhecendo a importância do trabalho.
A Sra. Zilma pela base de apoio em sua casa.
Ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Aquáticos Continentais Amazônico e na pessoa
do grande coordenador, o prof. Dr. Frank Raynner pela força e por não dificultar coisas simples
de serem resolvidas e a todos os professores das disciplinas pelos conhecimentos.
Aos colegas da turma do PPGRACAM 2013 que de alguma forma me ajudaram.
A Universidade Federal do Oeste do Pará -UFOPA pelas ajudas nas diárias de campo e por me
proporcionar o conhecimento e minha formação acadêmica.
Ao Laboratório de Biologia Ambiental da UFOPA, pela infraestrutura e equipe de trabalho que
sempre esteve perto de mim na maior parte do trabalho: Edvaldo Lemos e Flávia Lima.
Ao Laboratório de Geoinformação e Investigação Pesqueira –GISLAB na pessoa do prof. Dr.
Keid Nolan e ao grande amigo Paulo Brasil pela elaboração do Mapa e as discas valiosa.
Ao professor MSc. Manoel Bentes pelas ideias e arranjos para o laboratório.
Aos bolsista Zelva, Yuriane, Adriele e ao Ivan pelos apoios no laboratório.
A Secretária Juliane do PPGRACAM pelos encaminhamentos a coordenação.
Ao geólogo Livaldo pelas contribuições no fracionamento dos sedimentos de leito.
À SEDUC-PA através da GCVS, e da 5ª URE que me liberou para licença aprimoramento.
Ao ICMBio, pelas informações prestadas sobre a área de garimpagem.
A ao Presidente da Comunidade do Taquara – o prof. Doriedson.
E enfim quero agradecer de coração a todas as pessoas que de forma direta ou indireta
contribuíram para a realização dessa pesquisa que dará um retorno a população do Vale do
Tapajós.
RESUMO

Na bacia do Tapajós a maior parte da extração de ouro ainda é realizada de forma artesanal e
diversos impactos ambientais são provenientes da lavra garimpeira principalmente a emissão
de mercúrio para os sistemas aquáticos. Este trabalho foi realizado em outubro de 2014 na fase
das águas baixas e objetivou-se mensurar as concentrações de HgT no rio Tapajós no sentido
longitudinal, bem como a contribuição destas nas foz dos afluentes da margem esquerda como
os rios: das Tropas, Pacu, Creporí, Rato, Jamanxim e Cuparí. As amostra de sedimento foram
coletadas no leito do rio com coletor de testemunho tipo Kajac com perfil vertical de 30cm de
profundidade em 27 pontos distribuídos ao longo do canal do rio Tapajós e foz dos afluentes
supracitados em três regiões: Montante, Garimpo e Jusante e um ponto de controle totalizando
405 amostras perfiladas a cada 2cm. Paralelamente realizaram-se coletas de água para filtragem
de sedimento em suspensão e dados de variáveis limnológicas. Após esta fracionou-se as
granulometrias das amostras em fina (<63μm) e grossa (≥63μm) por peneiramento e somente
as amostras de sedimento fino, bem como os filtros contendo massa de sedimento em suspensão
foram analisados em Espectrometria de Fluorescência Atômica a Vapor Frio. Assim
considerando as médias das concentrações de HgT das camadas por região, a de Garimpo teve
uma influência significativa, sendo em 76 ƞg.g-1 (região a Montante), 826 ƞg.g-1 (região de
Garimpo) e 130 ƞg.g-1 (região a Jusante). Quando considerado as médias somente para as
camadas superficiais (0-2cm) por região não se obteve uma diferença significativa. Ao
considerar somente os locais de pontos de coleta ao longo do Tapajós e na foz dos afluentes as
concentrações de HgT variam de 56 ƞg.g-1 (Tapajós/Santarém) a 11.748 ƞg.g-1
(Tapajós/Penedo), com média de 610 ƞg.g-1. Para as camadas/perfil independente de
local/região não houve diferença significativa, mas uma leve tendência a baixas concentrações
em profundidade. Também não foram verificadas diferenças significativas entre as
concentrações médias de Hg nos sedimentos em suspensão entre as regiões com menor valor
51 ƞg.g-1 (Tapajós/Santarém) e o maior valor 749,1 ƞg.g-1 (Tapajós/Jusante Cuparí). Obteve-
se uma diferença significativa entre as médias de HgT em sedimentos de leito258 ± 192 ƞg.g-1
e as médias de HgT de sedimentos em suspensão foi de 387 ± 210 ng.g-1, sendo esta última
mais elevada. Somente os teores de HgT no sedimento em suspensão se correlacionaram com
as seguintes variáveis limnológicas: condutividade elétrica, sólidos dissolvidos totais e
transparência de Secchi. Por tanto verificou-se que as áreas com elevadas concentrações de
HgT nos sedimentos, principalmente em suspensão são de certa forma provenientes de áreas de
lavra garimpeira e que tais sólidos são transportados e decantados em zonas de sedimentação.

Palavras-chave: Garimpo, dragas, sedimentos, mercúrio, Tapajós.


ABSTRACT

In the Tapajós Basin most of the gold mining is still carried out by artisanal ways, and several
environmental impacts come from this activity, mainly the mercury emission to aquatic
systems. This study was performed in October 2014 at the low water phase and aimed to
measure the THg concentrations in the Tapajós River in the longitudinal direction as well as
the contribution of the concentration of this metal at the mouths of tributaries on the left bank,
such as: das Tropas, Pacu, Creporí, Rato, Jamanxim and Cuparí. The sediment samples were
collected in the riverbed with a Kajak type witness collector with a vertical profile of 30 cm
deep, 27 points distributed along the Tapajos River channel and mouths of tributaries above, in
three regions: upstream, mining site and downstream and a control point; totaling 405 samples
profiled each 2cm. At the same time was held water sampling for filtering of the sediment
suspended, and to measure the limnological variables. It was held the granulometric fractioning
of the samples (thin <63 μm, and gross ≥63 μm) by sieving; only fine sediment samples and the
filters containing sediment suspended mass were analyzed by Cold Vapor Atomic
Fluorescence. Considering the averages of THg concentrations of the layers by region, the
mining site had a significant influence; the values were 76 ƞg.g-1 for upstream region, 826 ƞg.g-
1
on the mining site, and 130 ƞg.g-1 on downstream region. When considering the average only
of the surface layers (0-2 cm) by region, there was no significant difference. When considering
only the local collecting points along the Tapajós and at the mouths of tributaries the THg
concentrations ranged from 56 ƞg.g-1 (Tapajós/Santarém) to 11,748 ƞg.g-1 (Tapajós/Penedo),
mean 610 ƞg.g-1. For layers, regardless of location, there was no significant difference, but a
slight tendency to low concentrations in depth. Also no significant differences were found
between the average concentrations of Hg in sediments suspended between regions; the lowest
value was 51 ƞg.g-1 (Tapajós/Santarém) and the highest 749.1 ƞg.g-1 (Tapajós/downstream
Cupari). A significant difference was obtained between the mean of THg in riverbed sediments
258 ± 192 ƞg.g-1 and the mean found on suspended sediment THg 387 ± 210 ng.g-1. Only THg
levels in suspended sediment were correlated with the following limnological variables:
electrical conductivity, total dissolved solids and Secchi transparency. Therefore it was found
that the areas with high concentrations of THg on sediment, particularly in suspension, are at
some extent, from gold mining areas, and that these solids are transported and decanted into
settling zones.

Keywords: Gold mining, dredges, sediment, mercury, Tapajós.


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13

1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 14

1.1.1 Bacia Hidrográfica do Tapajós ................................................................................. 14


1.1.1.1 Rio das Tropas .................................................................................................. 18

1.1.1.2 Rio Pacu............................................................................................................ 18

1.1.1.3 Rio Creporí ....................................................................................................... 18

1.1.1.4 Rio Rato ............................................................................................................ 19

1.1.1.5 Rio Jamanxim ................................................................................................... 19

1.1.1.6 Rio Cuparí ........................................................................................................ 19

1.1.1.7 Rio Arapiuns ..................................................................................................... 20

1.1.2 Breve Histórico da Garimpagem de Ouro na Região do Tapajós ............................ 20


1.1.3 Toxidade do Mercúrio .............................................................................................. 22
1.1.4 O Uso do Mercúrio na Garimpagem de Ouro .......................................................... 23
1.1.5 Estudos do Mercúrio na bacia do Tapajós e outras sub-bacias do rio Amazonas .... 23
1.1.6 Importância da avaliação de sedimentos em ecossistemas aquáticos ...................... 25

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 30

2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 30

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 30

3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 31

3.1 ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................................... 31

3.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL ......................................................................... 33

3.3 MÉTODOS DE CAMPO................................................................................................ 35

3.3.1 Coletas de variáveis limnológicas ............................................................................ 35


3.3.2 Coleta de sedimento de leito .................................................................................... 35
3.4 PROCEDIMENTOS EM LABORATÓRIO .................................................................. 36

3.4.1 Preparação de vidrarias e filtros ............................................................................... 36


3.4.2 Filtragem das amostras de água ............................................................................... 36
3.4.3 Secagem e desagregação das amostras de sedimento de leito ................................. 37
3.4.4 Peneiramento e armazenamento das amostras de sedimentos de leito <63 µm e grossa
≥63 µm .............................................................................................................................. 37
3.4.5 Digestão ácida das amostras de sedimentos de leito e em suspensão ...................... 38
3.4.6 Análise de Hg total das amostras de sedimentos de leito e em suspensão ............... 38
3.5 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ......................................................................................... 39

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 39

4.1 CARACTERIZAÇÃO LIMNOLÓGICA DA ÁREA DE ESTUDO ............................. 39

4.2 CONCENTRAÇÕES DE Hg TOTAL EM SEDIMENTOS DE LEITO EM REGIÕES


COM E SEM ATIVIDADE GARIMPEIRA ........................................................................ 53

A ação mecânica da água é responsável por separar as diversas granulometrias das partículas
de sedimento, constituindo um gradiente de tamanho e variando suas posições conforme a
velocidade da água (Wetzel, 1993). ...................................................................................... 53

4.3 CONCENTRAÇÃO DE Hg TOTAL NAS CAMADAS DE SEDIMENTO DE LEITO


INDEPEDNTES DE PONTOS E REGIÕES DE COLETA ................................................ 64

4.4 CONCENTRAÇÃO DE Hg TOTAL EM SEDIMENTOS EM SUSPENSÃO ............. 65

4.5 RELAÇÃO DOS TEORES DE Hg TOTAL ENTRE SEDIMENTOS DE LEITO E EM


SUSPENSÃO........................................................................................................................ 70

4.6 RELAÇÃO DOS NÍVEIS DE Hg TOTAL COM AS VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS


...............................................................................................................................74

5 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 77

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 79


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de pontos amostrados ao longo do rio Tapajós e locais de referências das
coleta com suas respectivas coordenadas geográficas na área de estudo. ................................ 32

Tabela 2 - Valores das variáveis limnológicas por ponto de coleta no trecho estudado. (pH:
potencial Hidrogenônico; Temp.:Temperatura em graus celsius; Turb.: Turbidez; TDS: Sólidos
Totais Dissolvidos; Secchi: Transparência de Secchi; Cor: cor verdadeira da água; SS:
Concentração de Sólidos em Suspensão). ................................................................................ 40

Tabela 3 – Concentrações de Hg total sedimento de leito ([Hg]Total SL) das camadas superficiais
(0-2 cm) e das médias de 0-30cm de cada ponto de coleta. ..................................................... 57

Tabela 4 - Níveis de Hg estabelecidos pela Resolução CONAMA No 454/2012 e valores


médios das concentrações de Hg total nos perfis de sedimento de 0-30cm e apenas das médias
das concentrações das camadas superficiais (0-2 cm) de cada ponto coletado. ....................... 60

Tabela 5 - Síntese de resultados de outros autores como base comparativa das concentrações
de Hg total. ............................................................................................................................... 63

Tabela 6 - Níveis de mercúrio total em sedimentos em suspensão ([Hg]Total SS) ao longo do


gradiente longitudinal estudado. ............................................................................................... 69

Tabela 7 - Comparação das concentração de Hg total em sedimentos em suspensão ([Hg]Total


SS) do Tapajós deste trabalho com outros................................................................................ 74

Tabela 8 - Matriz de correlação de (Pearson) entre a concentração de Hg total em sedimentos


de leito e em suspensão com as variáveis limnológicas. Valores em destaque significam
coeficiente de correlação de Pearson significativos a nível de α< 0,05.≥≥ .............................. 75
LISTA DE FIGURAS

Figura 1-Distribuição de rios de Águas claras na Amazônia com destaque para o rio Tapajós e
alguns tributários (Goulden et al., 2003) com adaptações ........................................................ 16

Figura 6 - Imagens históricas da Região da Bacia do Rio Cuparí mostrando ocupação humana
pela evidência das “espinhas de peixe” ao longo dos eixos rodoviários. Fonte: Google Earth
Pro, 2016; imagens Landsat 7. ................................................................................................. 47

Figura 7 - Atividade garimpeira no rio Creporí. Figuras A e B mostram área aberta na floresta
como ponto de garimpo; (B) mostra zona de sedimentação na curva do rio, processo de
formação de meandro; As setas em A, C e D mostram balsas atuando no leito do Creporí. Fotos:
Rodrigo Balbueno, 2012; Análises e modificações de Augusto Maia. .................................... 51

Figura 8 - Dados históricos do preço do ouro no Brasil de 1975 a 2016. Fonte: Gold Price,
2016. ......................................................................................................................................... 52

Figura 9 – Percentual em massa das frações granulométricas de sedimento de leito (SL) <63
µm e ≥63 µm ao longo do rio Tapajós e foz dos afluentes estudados. ..................................... 54

Figura 10 - Os gráficos A e B mostram as concentrações médias de Hg total por região de


coleta, independentemente de pontos. [A]: médias obtidas somente para a camada superficial
(0-2 cm); [B]: médias obtidas para as camadas do perfil de 0-30 cm de profundidade. .......... 56

Figura 11 - Logaritmo decimal das concentrações médias de Hg total em sedimentos de leito


(Log [Hg]Total SL), por região e pontos de coleta, independente das camadas. ..................... 58

Figura 12 - Balsas tipo draga retirando sedimentos do leito do rio Tapajós: A) Montante
Jacareacanga; B) Próximo Rato; C) Penedo; D) jusante Jatobá; atenção para o detalhe da
coloração da água do rio Tapajós. Fotos: Augusto Maia, 2014. .............................................. 61

Figura 13 - Logaritmo decimal das concentrações médias de Hg total por camadas de


sedimento de leito (Log [Hg]Total SL) independente de pontos de coleta e de regiões com e
sem atividade garimpeira. ......................................................................................................... 64

Figura 14 - Distribuição da concentração de sedimentos em suspensão ao longo do rio Tapajós.


.................................................................................................................................................. 66

Figura 15 - Concentrações de Hg total em sedimentos em suspensão ([Hg]Total SS)


dependentes das Regiões Montante, Garimpo e Jusante e independentes dos pontos de coleta.
.................................................................................................................................................. 67

Figura 16 - Distribuição das concentrações de Hg total em sedimentos em suspensão


([Hg]Total SS) por pontos de coleta e por Regiões Montante, Garimpo e Jusante .................. 68

Figura 17 - Médias das concentrações de Hg total em sedimentos de leito (SL) das camadas
superficiais (0-2 cm) e de sedimento em suspensão (SS), independentes de pontos de coleta e
das Regiões Montante, Garimpo e Jusante. .............................................................................. 71
Figura 18 - Distribuição das concentrações de Hg total em sedimentos de leito (SL) (0–2cm) e
sedimento suspensão (SS) no sentido longitudinal do rio Tapajós por pontos de coleta e Regiões
Montante, Garimpo e Jusante. .................................................................................................. 72
LISTA DE ABREVIATURAS

[Hg]Total: concentração de mercúrio total


Hg: Mercúrio
Hg2+: íon mercúrico
Hg22+: íon mercuroso
Hg+- CH3 : Metil mercúrio
Hg - CH2 - CH3 : Dimetil mercúrio
HCl: ácido clorídrico
HNO3: ácido nítrico
H2SO4: ácido sulfúrico
SnCl2:cloreto de estanho
CONAMA: Conselho Nacional de Meio Ambiente
SUC: Sistema Nacional de Unidade de Conservação
Log: logaritmo decimal
SS: sedimento em suspensão
SL: sedimento de leito
ANOVA: Análise de Variância
mg Pt/L: miligramas de platino cobalto por litro
μS.cm-1: micro Siemens por centímetro
UNT: Unidade Nefelométrica de Turbidez
OD: oxigênio dissolvido
Cond. condutividade elétrica
TDS: totais de sólidos dissolvidos
Secchi: transparência em disco de Secchi
ng.g-1:nanograma por grama
μm: micrômetro
ρm: picômetro
ppm: partes por milhão
ppb: partes por bilhão
13

1 INTRODUÇÃO

A mineração de ouro aluvionar nas calhas do rio Tapajós e seus afluentes vem tornando-
se uma atividade com dimensões significativas em decorrência do elevado preço do ouro no
mercado internacional. Consequentemente, impactos negativos de ordem física e química nos
sistemas aquáticos vem sendo refletidos na biota, nos sedimentos e na qualidade das águas.
A região do Tapajós sofreu intensa exploração de ouro nas décadas de 70 e 80 ficando
quase estagnada duas décadas depois (Brabo, 2010). Entretanto, anos seguintes, houve uma
retomada das atividades garimpeiras com o uso de equipamentos de alta potência como balsas
chupadeiras e dragas nos leito dos rios, bico-jatos para desmonte em baixões e retroescavadeiras
para alcançar grandes profundidades em solos marginais.
Além do lançamento de mercúrio elementar no ambiente, usado na amalgamação do
ouro Malm (1998), é possível que uma expressiva quantidade desse elemento presente no
reservatório natural do vale do Tapajós Roulet et. al., (1998b) esteja sendo transferida para as
drenagens componentes desse sistema através dos processos operacionais da garimpagem.
Estes envolvem a escavação e revolvimento de grandes toneladas de solo e sedimentos
disponibilizando o mercúrio natural para os sistemas aquáticos (Telmer et al., 2006).
Outras atividades como desmatamentos, queima de florestas e construções de barragens
para hidrelétricas são processos capazes de liberar mercúrio para natureza aumentando assim a
concentração deste elemento no ambiente (Sá et al., 2006, Kasper et al., 2014).
Sedimentos de leito e em suspensão são importantes matrizes ambientais para a
avaliação e o monitoramento de sistemas aquáticos. Eles podem apresentar uma realidade da
dimensão da contaminação nesses sistemas e são ideais para uma avaliação histórica da
contaminação por mercúrio (Hg) na região Amazônica (Silva, 1997, Vergotti et al., 2009).
A maioria das pesquisas com Hg em sedimentos na bacia do Tapajós são pontuais não
abrangendo grandes dimensões de amostragem ao longo dos rios. Poucos trabalhos foram
realizados nesse sentido como o de Silva (1997) no rio Rato e seus afluentes em área de
garimpo; e Bacelar et al., (2013) no rio Tapajós e alguns tributários em áreas de garimpo.
Este estudo tem como enfoque principal avaliar concentrações de mercúrio total em
sedimentos de leito e em suspensão ao longo do canal principal do rio Tapajós e afluentes em
regiões com e sem atividade garimpeira, no sentido de contribuir para a discussão do
comportamento hidrogeoquímico deste elemento na dinâmica dos rios.
14

1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1.1 Bacia Hidrográfica do Tapajós

A Bacia Hidrográfica do Tapajós é uma sub-bacia da Bacia Hidrográfica do Amazonas.


A do Amazonas ocupa uma área total de 6 869 674 km2 e abrange territórios dos seguintes
países: Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Peru e
Venezuela, sendo assim considerada a maior rede hidrográfica do globo terrestre (Goulding et
al., 2003; GÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2005).
A Bacia do Amazonas está limitada ao Norte pelo Escudo das Guianas, a Oeste pela
Cordilheira dos Andes, ao Sul pelo Escudo do Brasil Central e a Leste pelo Oceano Atlântico
ao longo da Planície Amazônica (Guyot, 1993; Molinier et al., 1997).
Os corpos hídricos que compõem a paisagem amazônica possuem diferenças
consideráveis com relação à morfologia de seus leitos, suas características físicas, químicas e
biológicas (Sioli e Klinge, 1964; Junk, 1983). Essas diferenças levaram à atual classificação
das águas amazônicas em águas brancas, claras e pretas.
As águas brancas são ricas em sólidos em suspensão, alta concentração de sais minerais
em solução (condutividade elétrica: 60–70 μS.cm-1) e pH quase neutro (6,5–7,3). A cor branca
da água é causada pela alta carga de sedimentos resultante de intensos processos erosivos que
ocorrem na Cordilheira do Andes Peruanos. Além disso, em áreas de altitudes mais baixas, mas
com grande correnteza, a água invade os barrancos adicionando ao rio uma nova carga de
sedimentos (Sioli e Klinge, 1964; Junk, 1983).
As águas claras e pretas possuem baixa concentração de sólidos em suspensão, baixa
concentração de sais em solução (condutividade elétrica: 6–50 μS.cm-1 e 8–10 μS.cm-1 para a
águas claras e pretas, respectivamente) e pH ácido (4,6–6,6 e de 3,8–4,3 para a águas claras e
pretas, respectivamente) (Sioli e Klinge, 1964; Junk, 1983). Esses rios provêm de um relevo
mais suave e pouco movimentado com processos erosivos menos acentuados.
Os rios de água claras (e.g., Tapajós) são transparentes e com cor esverdeada,
transportando pouco material em suspensão. Apresentam cerca de 1,10 m a 4,30 m de
transparência de Sechi (Sioli, 1984). Já os de águas pretas (e.g., Rio Negro e Urubu) são ricos
em ácidos fúlvicos e húmicos, produtos solúveis dos processos de decomposição da matéria
orgânica proveniente da densa floresta, e possuem uma coloração marrom ou avermelhada,
provocando a cor escura das águas pretas (Sioli e Klinge, 1964; Junk, 1983).
15

Resumindo, a classificação das águas amazônicas é resultado das diferenças entre as


águas aluviais, quimicamente ricas (grande quantidade de material em suspensão) de áreas
elevadas, de origem geológica recente (águas brancas), e as águas pobres em nutrientes e
matéria em suspensão, de áreas de baixo relevo, de origem geológica antiga (águas pretas e
claras).
A Região do Tapajós ocupa 17,7% do área total do Estado do Pará, com uma área de
221.992,97 km², sendo dividida em sete bacias hidrográficas, referentes aos rios Arapium,
Novo, Crepori, Cururú, Jamanxim, Mururá/Andirá e Tapajós (SEMMAS, 2008). As bacias
desta Região Hidrográfica fazem parte da bacia hidrográfica do rio Tapajós, com exceção da
bacia do rio Mururá/Andirá (SEMMAS, 2008).
A Bacia Hidrográfica do Tapajós é uma das principais sub-bacias da bacia do rio
Amazonas, com 764.183 km², onde vivem em torno de 1.200.000 pessoas (IBGE, 2010). Com
cerca de 2.000 km de extensão, o rio Tapajós é formado a partir do encontro dos rios Juruena e
Teles Pires, na divisa dos estados de Mato Grosso, Amazonas e Pará. A partir desse ponto,
avança cerca de 800 quilômetros para desaguar na margem direita do rio Amazonas.
A fisiografia do Tapajós é constituída de duas partes distintas. De Itaituba ao município
de Aveiro, o rio tem correntezas rápidas (rio ou sistema lótico) transportando material organo-
mineral representado por quartzo, planta e argila, escoa sobre uma planície, com largura entre
2 e 4 km, sofrendo periodicamente inundações nas épocas de chuvas intensas e alagando
grandes áreas. De Aveiro até a foz, o rio se alarga de maneira abrupta, com lenta correnteza
(sistema lêntico ou ria), resultando em grande zona de sedimentação e com numerosas ilhas
separadas por canais (Sioli, 1984).
No sistema lêntico, o material carreado é essencialmente biológico e representado por
fitoplâncton e zooplâncton (Roulet et al, 1998; 2000). Neste, na época de seca (menor vazão),
desenvolvem-se eficazmente o fitoplâncton e o zooplâncton e ao mesmo tempo pode ocorrer a
proliferação de cianófitas. Os resíduos do plâncton acumulam-se no fundo em camadas que
podem ter 3 m ou mais (DNPM, 1992).
Com relação às características limnológicas o rio Tapajós é um rio de águas claras de
acordo com Sioli (1995). Apresenta coloração aparentemente esverdeada e boa transparência,
devido seu curso superior drenar o Maciço Central constituído por granito e arenito, tendo suas
águas baixas concentrações de sedimentos, eletrólitos dissolvidos e substâncias húmicas
(Schmidt, 1982) e pH variando de ácido a neutro, dependendo da geologia e da área de
drenagem em consideração. A figura 1 mostra os rios de águas claras na Amazônia e destaca a
o rio tapajós e alguns de seus afluentes segundo Goulden et al., 2003.
16

Rio Tapajós e
alguns tributários

Águas claras

Figura 1-Distribuição de rios de Águas claras na Amazônia com destaque para o rio Tapajós e alguns tributários
(Goulden et al., 2003) com adaptações

Os valores de temperatura das água do rio Tapajós em zonas de Aveiro, Alter do Chão
e Itaituba oscilam entre 29 e 32 °C (HiBAm, 2004). E sgundo Bacelar et. al., (2013) a variação
da temperatura em 12 pontos de coleta ao longo do rio Tapajós na estação seca foi de 23,1 °C
próximo a cidade de Jacareacanga e 31,3 °C as proximidades da Aveiro com de média 29,1 °C.
A precipitação média anual se encontra entre 1800 e 2500 mm, inferior à da região à
montante (Juruena e Teles Pires), cujas precipitações médias encontram-se entre 2500 e 3000
mm (ELETRONORTE, 2008).
Geomorfologicamente a bacia se caracteriza pelo embasamento cristalino do Cratón
Amazônico, recoberto em suas extremidades por sedimentos da bacia sedimentar do Amazonas
ao norte e por sedimentos da bacia sedimentar do Alto Tapajós ao sul. Esta formação determina
uma menor capacidade de infiltração, o que propicia maior variação de vazões, diretamente
associadas ao regime de precipitação. As vazões no rio Tapajós variam significativamente ao
longo do ano, com valores mínimos da ordem de 2.500 m3/s na estiagem e máximos da ordem
de até 28.000 m3/s no período chuvoso. O Tapajós contribui com aporte médio em torno de
13.500 m3/s ao rio Amazonas. Os maiores deflúvios na região são registrados nos meses de
dezembro a maio, com picos em março. Já os menores deflúvios ocorrem entre junho e
novembro com vazões mínimas em setembro (ELETRONORTE, 2008). A velocidade média
das águas do Tapajós apresenta-se em torno de 0,40 m.s-1.
Freitas et al., 2014 realizaram duas campanhas no rio Tapajós, uma em 2012 e outra em
2013 e encontraram descarga mínima atingindo um fluxo instantâneo de 5.300 m3/s e 25.000
m3/s respectivamente em novembro e junho. A campanha de 2013 não refletiu o pico máximo
17

de pluviosidade, porém a coleta foi no final período chuvoso. Tal análise quantificou a vazão
média do rio Tapajós em 15.800 m3/s.
Agrupando as formas de relevo e as altimetrias associadas podem ser distinguidos 5
unidades morfoestruturais na bacia. O Planalto Rebaixado do Amazonas (Médio Amazonas),
Planalto Tapajós-Xingu, Planalto Residual Tapajós, Depressão Periférica Sul do Pará e Serras
e Chapadas do Cachimbo (ELETRONORTE, 2008).
A Bacia do rio Tapajós pode ser subdividida em 3 partes: o alto, o médio e o baixo curso
do rio Tapajós. A porção do alto Tapajós compreende desde as cabeceiras dos rios Juruena e
Teles Pires, no estado de Mato Grosso, até sua confluência, formando o rio Tapajós. O médio
Tapajós tem início nesta confluência e curso até as cachoeiras de São Luiz, próximas à cidade
de Itaituba, e incluem as sub-bacias do rio Creporí e Jamanxim, afluentes da margem direita.
Finalmente o baixo Tapajós tem cerca de 320 km no trecho que vai das cachoeiras de São Luiz
até sua foz, no rio Amazonas, que é pontilhada de ilhas cobertas por vegetação. Os últimos 100
quilômetros do seu baixo curso formam uma grande foz, onde a distância entre as margens
chega a 20 quilômetros. Antes de chegar ao rio Amazonas, próximo à cidade de Santarém-Pará,
o Tapajós se afunila num canal de cerca de 1 km de largura. Esse trecho sofre a influência da
dinâmica do despejo das águas no rio Amazonas, que provoca ondas de até quarenta
centímetros.
Os latossolos têm a maior parcela de área da bacia, correspondendo a 41%. Solos
podzólicos, em sua maioria argissolos, ocupam 29% da área da bacia, enquanto as areias
quartzosas ocupam 19%. Os solos litólicos, juntamente com os afloramentos rochosos,
respondem por um percentual relativamente elevado, correspondente a 6%. Solos
hidromórficos, aluviais e gleissolos correspondem a 2% do total, e cambissolos, solos
concrecionários e água ocupam 1% cada um (Collischonn, 2006).
Com relação as características ambientais do ponto de vista geomorfológico, a calha do
rio Tapajós está dividida em quatro segmentos bastante distintos (i) um canal que vai da
confluência dos rios Juruena e Teles Pires até a foz do rio Cururu com pequena declividade e
ocorrência da formação de bancos de areia (ii) outro entre a foz do rio Cururu e Itaituba,
rochoso, com corredeiras e diversas ilhas e formação de bancos de areia e processos erosivos
(iii) outro entre Itaituba e Aveiro, com uma sequência de ilhas e deposição de sedimentos (iv)
por último o trecho que vai de Aveiro até sua foz no rio Amazonas, chamado de ria fluvial do
Tapajós, com característica lagunar e com regime de cheias e vazões afetado pela maré e
remanso do rio Amazonas (Collischonn, 2006).
18

1.1.1.1 Rio das Tropas


O rio das Tropas é um dos afluentes da margem direita do rio Tapajós próximo a cidade
de Jacareacanga. Apresenta 284 Km de extenção. Possue percurso sinuoso desde seu terço
superior, com quantidade de afluentes que aparentemente diminuem de montante para jusante,
até as proximidades de sua foz no rio Tapajós. Observa-se também uma assimetria quanto ao
comprimento de seus afluentes, em geral mais longos na margem direita. Suas nascentes estão
localizadas a aproximadamente na cota altimétrica de 320 m e sua foz na cota a cerca de 60 m,
apresentando assim um desnível aproximado de 260 m (ICMBio, 2008).
As primeiras ocorrências significativas de ouro no rio das Tropas se deram nas
proximidades da sua foz, em um pequeno afluente denominado rio Grota Rica.

1.1.1.2 Rio Pacu


O rio Pacu localiza-se entre as subbacias do rio das Tropas e do rio Crepori. O rio Pacu
apresenta 118 km de extenssão. Possue suas nascentes dentro do perímetro da Floresta Nacional
do Creporí, em cota altimétrica de aproximadamente 286 m, e sua foz no rio Tapajós na cota
aproximada de 60 metros. Assim como o rio das Tropas, o rio Pacu desenvolve importante
planície aluvial, cujos depósitos são ocupados por densa cobertura vegetal.
Os afluentes da margem direita do rio apresentam comprimentos maiores do que aqueles
da margem esquerda. Dentre eles destaca-se o igarapé Ponte Segura, no qual está instalado o
garimpo Ouro Roxo (ICMBio, 2008; AAI, 2014).

1.1.1.3 Rio Creporí


O rio Crepori é um importante afluente da margem direita do rio Tapajós com 284 Km
de extenssão. Possui suas nascentes nos contrafortes da Serra do Cachimbo, na cota altimétrica
de 450 m, na divisa entre os municípios de Itatuba e Jacareacanga. Na sua confluência com o
rio Tapajós alcalça uma cota altimétrica de 54 metros. Seus principais contribuintes são os rios
Marupá, Creporizinho e Piranhas (ICMBio, 2008; AAI, 2014).
Da mesma forma que os rios das Bacias Hidrográficas do rio das Tropas e do rio Pacu,
os rios da margem direita da Bacia Hidrográfica do rio Carepori são maiores em comprimento
que os da margem esquerda.
No leito principal do rio Crepori são observados afloramentos rochosos formando, em
alguns trechos, corredeiras que em período de seca são de difícil transposição. Já durante o
período de cheia a navegabilidade é possível em diferentes trechos, tendo alguns obstáculos
com algumas cachoeiras que ocorrem ao longo rio (ICMBio, 2008).
19

1.1.1.4 Rio Rato


O rio Rato está localizado na margem direita do rio Tapajós entre dois importantes rios
na extração de mineral aurífero: rios Crepori e Jamanxim. Apresenta extenção de 96 Km, sendo
3 e 7 vezes menor que os rios Crepori e Jamanxim respectivamente. Apresenta cota altimétrica
de sua nascente a 199 m. Já sua cota altimétrica na sua confluência com rio Tapajós chega a 50
metros (AAI, 2014).
O pH das águas do rio do Rato durante o período da seca (julho-dezembro) indica águas
levemente ácidas a neutras (pH entre 6,60 e 7,10), enquanto que os principais igarapés desse
sistema híbrido, com exceção do Igarapé do Edson (pH 7,20) apresentam águas ácidas com pH
variando entre 5,45 e 6,30 (Silva, 1997). Este autor percebeu que acidez nos igarapés se explica
pela grande quantidade de matéria orgânica, principalmente ácidos húmicos, perceptível pela
coloração da água. Silva (1997) confirmou baixos valores de condutividade no rio do Rato,
nunca superiores a 25 µS/cm2 no período de seca. A temperatura das águas do rio do Rato, na
época da seca, oscila entre 27-29 °C, enquanto que nos igarapés apresenta variação entre 26-27
°C. Durante o período da estiagem, o que realmente sobressai no rio do Rato são os altos valores
de turbidez, que variam entre 300 e quase 1.000 NTU. Sem dúvida, o material particulado
proveniente dos garimpos, transportado para os rios e igarapés, tem uma participação
expressiva, o que pode ser melhor avaliado comparando-o com os valores de turbidez no ponto
de amostragem no km 80,3 na cabeceira desse rio.

1.1.1.5 Rio Jamanxim


O rio Jamanxim, afluente da margem direita do rio Tapajós, é o maior e principal rio em
extenssão da Bacia do rio Tapajós com 657 Km, nascendo na Serra do Cachimbo com cota
altimétrica de 544 Km. Sua confluência, com o rio Tapajós, limita-se entre os municípios de
Itaituba e Trairão na cota altimétrica de 45 quilômetros (AAI, 2014). Tem como principais
afluentes de montante para a jusante os rios Tocantins e Novo localizados na margem esquerda
e o rio Arari na margem direita. Apresenta vários trechos encachoeirados e por isso faz parte
de projetos de empreendimentos hidrelétricos planejados.

1.1.1.6 Rio Cuparí


Bacia hidrográfica do rio Cuparí, ocupa uma área de drenagem na ordem de 7.212 km²,
englobando os municípios de Aveiro, Belterra e Rurópolis. Localiazado a margem direita do
rio Tapajós apresentando uma largura de aproximadamente 100m em sua desembocadura. O
relevo na região do baixo rio Cuparí apresenta-se constituído por uma sequência de colinas
20

suavemente onduladas e vales profundos, distinguindo, entretanto, restritos platôs nos níveis de
cotas mais elevadas (Damasceno, 2001).

1.1.1.7 Rio Arapiuns


O rio Arapiuns é o principal afluente pela margem esquerda do rio Tapajós, com 104 m
de extenção, tendo sua nascente na cota altimétrica de 15 m e na sua confluência com o rio
Tapajós chegando a 1 metro (AAI, 2014). O rio Arapiuns tem como afluentes o rio Aruã e os
igarapés Braço Grande do Arapiuns, Curí, Caranãe, Amarim e outros. Pela margem direita,
possui apenas um afluente importante: o rio Mentaí.
Segundo Sousa, 2009 a composição prevalente do solo da bacia de drenagem do rio
Arapiuns é por Latossolo Amarelo (hidrófico grosso, textura muito argilosa, associa-se
sobretudo a vegetação de floresta equatorial subperenifólia e relevos de platô). No seu processo
de formação a elevada precipitação é responsável pela lixiviação de grande parte de sais e de
sílica gerando um perfil ácido de suas águas.

1.1.2 Breve Histórico da Garimpagem de Ouro na Região do Tapajós

Informações disponíveis sobre o início da garimpagem na Amazônia datam de 1958,


com o descobrimento das primeiras ocorrências de ouro no rio das Tropas, afluente do rio
Tapajós localizado na margem direita próximo ao município de Jacareacanga no estado do Pará.
Este período coincidiu com a decadência dos seringais na região do Tapajós o que levou os
seringueiros a migrarem para a garimpagem. Na década de 60, outras ocorrências foram
descobertas no igarapé Cuiú-Cuiú; nos rios Tapajós, Creporí e Jamanxim e em drenagens de
menor porte. Este período foi marcado, ainda, pela abertura de várias pistas de pouso, iniciando
assim o sistema de abastecimento dos garimpos por meio de aeronaves (Rodrigues et al., 1994;
Mathis et al., 1997, Brabo, 2010).
Essa condição se intensificou a partir do final da década de 70, quando ocorreu um
aumento no preço real do ouro no mercado mundial, havendo uma rápida proliferação de
garimpos em diversos pontos da Amazônia, principalmente na região do Tapajós (Barbosa et
al.,1992; Bezerra et al., 2008).
A maior parte da produção de ouro no Tapajós era proveniente dos municípios de
Itaituba e Jacareacanga. Esta região chegou a produzir cerca de 50% da produção nacional de
ouro em 1980 (Santos et al., 2003). Em 1990 foram produzidos 98,2 toneladas do mineral e em
1998, cerca de 49 toneladas de ouro (DNPM, 1999), consolidando a garimpagem como a
21

principal atividade econômica da região (Bezerra et al., 1998) e a mineração de ouro como a
principal fonte de mercúrio na Amazônia brasileira (Lacerda e Salomons, 1992; Pfeiffer et al.,
1993; Lacerda, 1995; Malm, 1998).
A partir da década de 80 surge a mecanização do garimpo tendo como fatores
contribuintes para esta mudança a elevação do preço do ouro no mercado internacional e
consequentemente a atração de um grande contingente populacional ligado a atividade, bem
como a exaustão dos depósitos aluvionares nas calhas de drenagens menores, forçando os
garimpeiros a direcionarem suas atividades para o leito ativo das drenagens maiores, utilizando
dragas de até 12 polegadas.
Os trabalhos realizados anteriormente com ferramentas rudimentares foram substituídos
por motores do tipo motobombas de alta pressão, tanto para a desagregação do material estéril
como do cascalho aurífero. Todo o transporte do minério até as caixas concentradoras também
passou a ser realizado com motobombas de elevada potência de sucção. Somente a
amalgamação do ouro passou a ser feita de forma rudimentar (Brabo, 2010).
Após a região do Tapajós sofrer intensa fase de exploração e processo de degradação
ambiental nas décadas de 70 e 80 a exploração ficou quase estagnada nas décadas sucessoras.
Observou-se que após tais décadas a atividade garimpeira ressurgiu com maior intensidade,
devido ao aumento do valor do grama do ouro na bolsa de valores internacional segundo
informações da mídia.
Os garimpeiros passaram a utilizar retroescavadeiras em busca de ouro em maiores
profundidades em solos ainda não explorados por falta de equipamentos adequados.
Na região do Tapajós, o ouro se encontra em depósitos secundários, nos quais a forma
de exploração se dá através dos barrancos de pequenos igarapés ou através do leito ativo dos
rios (Silva, 1997). Esta última é a forma mais comum de ser encontrada no rio Tapajós, e
consiste na extração do material aurífero que em seguida é passado por calhas acarpetadas que
retêm partículas mais pesadas que são coletadas para amalgamação com mercúrio (Lacerda e
Salomons, 1992; Bacelar et al., 2013). Esta etapa é que reside o maior risco de ocorrer a
contaminação mercurial nos corpos aquáticos, sendo considerada um dos piores perigos dentre
todos os impactos antropogênicos ao meio ambiente, pelo fato do mercúrio (Hg) ser um dos
poucos poluentes que já causou mortes em seres humanos pela ingestão de alimentos
contaminados (Lacerda e Salomons, 1992).
22

1.1.3 Toxidade do Mercúrio

As diferentes formas do mercúrio no ambiente são comumente designadas por


“espécies”, o que é conhecido como especiação (Azevedo, 2003). Dentre elas podemos destacar
as mais importantes: o mercúrio elementar, também denominado mercúrio metálico (Hg0); o
mercúrio iônico em suas duas formas oxidadas: íon mercuroso (Hg22+) e íon mercúrico (Hg2+);
e as espécies metiladas: o metilmercúrio (CH3Hg+) e o dimetilmercúrio [(CH3)2Hg] (Queiroz,
1995; Lacerda et al., 2007).
O metilmercúrio (CH3Hg+) é a forma de maior importância ambiental devido a sua
elevada toxidade a organismos superiores, particularmente mamíferos (Lacerda et al., 2007).
Nos mamíferos o metilmercúrio acumula-se preferencialmente no sistema nervoso
central devido a sua afinidade com aminoácidos, levando a disfunção neural e, eventualmente,
à paralisia e morte (Branches, 1998). Apesar desta forma de mercúrio ser encontrada em baixas
concentrações no ambiente é um dos agentes mais citotóxicos e neurotóxicos para seres
humanos e animais (Faial et al., 2015).
Os principais sintomas associados à toxidade por mercúrio no homem incluem tremor,
vertigem, entorpecimento, dor de cabeça, câimbra, fraqueza, depressão, distúrbios visuais,
dispneia, tosse, inflamações gastrointestinais, queda de cabelo, náuseas e vômitos (Micaroni et
al., 2000).
Estudos sobre a presença de mercúrio na Região Amazônica, principalmente os
realizados entre as décadas de 80 e 90 foram muito enfatizados com relação ao mercúrio em
áreas com atividade garimpeira, incluindo questões relacionadas às vias de emissão; aos
mecanismos de dispersão; e a acumulação nos diferentes materiais de origem geológica (solos,
sedimentos e água) e na biota aquática, com ênfase no consumo de pecado. Nessas décadas
foram importantes a realização de trabalhos com o intuito de identificar populações,
principalmente ribeirinhas, potencialmente expostas aos compostos orgânicos de Hg através da
ingestão de alimentos com altas concentrações de mercúrio como os trabalhos de Malm, 1995;
Akagi et al., 1995; Brabo et al.,1999b, 2000; Dolbec et al., 2000. Mas ainda vários trabalhos
têm sido continuamente desenvolvidos no sentido de monitorar os níveis de mercúrio total e
metilmercúrio em cabelos de ribeirinhos da bacia do Tapajós, e outros relacionados as
concentrações de selênio (Se) presentes em peixes com as concentrações de metilmercúrio
nestes (Sampaio da Silva et al., 2013; Faial et al., 2015) e alguns autores como Naganuma e
Imura (1980) observaram que o selenito (SeO32-) é reduzido a selenido (Se2-) e este liga-se ao
23

metilmercúrio (CH3Hg+) formando o complexo de dimetilmercúrio de selenido (CH3Hg)2Se o


qual pode neutralizar os efeitos tóxicos do metilmercúrio.

1.1.4 O Uso do Mercúrio na Garimpagem de Ouro

O elemento mercúrio (Hg), em suas diversas formas de especiação, está presente em


diversas bacias hidrográficas da Amazônia. Parte deste metal possui origem antropogênica
proveniente do seu uso indiscriminado nos garimpos de ouro e nas atividades industriais, mas
uma parte é aparentemente de origem natural presentes em solos (Roulet et al.,1998a; Fadini e
Jardim, 2001).
Informações históricas mostram que o uso do mercúrio no processo de amalgamação
(liga metálica de ouro e mercúrio), na lavra garimpeira de ouro e prata foi especificamente
significativo durante o período colonial na América espanhola e posteriormente na América do
Norte até o início do século passado (Bastos e Lacerda 2014).
Na Amazônia o mercúrio elementar em sua forma líquida é usado para concentrar as
partículas finas de ouro formando o amálgama, após uma etapa de pré-concentração gravítica
da fração pesada dos sedimentos do rio, solos ou minério moído dependendo do local do
garimpo (Pfeiffer et al., 1989). A liga metálica apresenta as principais composições de AuHg2,
Au2Hg e Au3Hg. O amalgama resultante do contato mercúrio-ouro não é uniforme sendo que
na prática contém de 20 a 40% de ouro segundo Sevryukov et al., 1950 apud Silva, 1997.
Depois da amalgamação, a mistura ouro e mercúrio (Au-Hg) é queimada com o uso de maçarico
resultando na evaporação do mercúrio, restando apenas o material aurífero em predomínio.
Geralmente essa operação é feita ao ar livre e, sendo portanto, o vapor de mercúrio, emitido
para atmosfera (Lacerda e Salomons 1992) e ambiente de trabalho, sendo absorvido pela pele
e vias respiratórias de trabalhadores desse ramo (Branches, 1998).

1.1.5 Estudos do Mercúrio na bacia do Tapajós e outras sub-bacias do rio Amazonas

Na bacia do Tapajós vários trabalhos foram realizados em matrizes ambientais bióticas


e abióticas em regiões com e sem atividade garimpeira.
No solo, os complexos organo-mercuriais são adsorvidos na superfície das argilas e na
matriz sólida, que consiste principalmente de óxidos de ferro, alumínio e manganês e
substâncias húmicas (Roulet et al., 1998b). Em solos oxisoispodzóis na Guiana Francesa e na
região do rio Tapajós, no Estado do Pará, foram encontrados altas concentrações de mercúrio
24

total associadas a complexos organo-metálicos na fração mineral destes (Roulet e Lucotte,


1995; Roulet et al., 1998b). Para a bacia do rio Tapajós, Roulet et al. (1998b, 1999a),
concluíram que somente o Hg antropogênico proveniente dos processos de garimpagem não
explica os altos níveis de Hg encontrados nestes solos. E que deposição deste elemento ocorre
lentamente ao longo de milhões de anos e não apenas a entrada recente de mercúrio
antropogênico (Roulet et al., 1996). Estes autores sugeriram a existência de um reservatório
natural de Hg nesses solos. Porém propuseram um mecanismo diferente para a mobilização
deste metal. Sugeriram que o desmatamento na área da bacia e subsequente erosão dos solos,
associados à colonização humana, está perturbando o ciclo natural deste elemento, aumentando
o transporte deste metal associado às finas partículas minerais para os ecossistemas aquáticos
(Roulet et al., 1998a). Esses processos que envolvem a retirada da cobertura vegetal expõe o
solo à intensa radiação ultravioleta que pode mediar reações de redução, transformando o Hg2+
do solo em Hg0, consequentemente elevando a temperatura desse compartimento, aumentando
assim a emissão do Hg0 para atmosfera (Gustin et al., 2002). Assim, Patry et al. (2013)
encontraram, também, altas concentrações de Hg total em solos de áreas desmatadas
comparando com solos de áreas de floresta primária, sugeriram assim o plantio de espécies
cultiváveis em comunidades dos municípios Aveiro e Itaituba, regiões com alto grau de
desmatamento.
Sousa et al. (2012) determinaram concentrações de mercúrio total em solo e material
particulado em áreas alagáveis na foz do rio Tapajós. Estes autores encontraram quantidades
significativas de Hg total em material particulado e menores concentrações em amostras de solo
da Formação Alter do Chão, onde não há registro histórico de atividade garimpeira.
Outros autores encontraram quantidades significativas de mercúrio total em sedimentos
de leito e material particulado, por exemplo, no rio Acre onde não há a presença de fontes de
mercúrio antropogênico (Mascarenhas et al., 2004) e no rio Rato e seus afluentes onde existe
forte influência de atividade de garimpeira de ouro Silva, 1997.
Fadini e Jardim (2000, 2001) estudaram amostras de solo e de água de lagos e tributários
do rio Negro, e Forsberg et al. (1995), Zeidemann (1998) e Belger e Forsberg (2006) concluíram
que os solos desta bacia, sem qualquer histórico de atividade garimpeira, representam um
reservatório natural de mercúrio.
Na bacia do rio Madeira Lechler et. al. (2000) realizaram uma avaliação da concentração
de mercúrio em solos, sedimentos, águas e peixes e encontraram altas concentrações de
mercúrio acima das médias globais nos sedimentos e solos desta bacia.
25

Peleja (2006) realizou um trabalho na Amazônia Central em duas microbacias com solos
distintos no intuito de investigar o papel da podzolização na dinâmica do mercúrio no solo dos
igarapés de primeira ordem. Nas bacias de drenagens de igarapés florestados, os solos
provavelmente funcionam como um sumidouro de Hg total e a magnitude de retenção desta
forma de mercúrio demonstra ser perfeitamente consistente (Peleja 2006).
Estudos em populações ribeirinhas da Bacia do Tapajós, as quais encontram a proteína
no pescado confirmaram que as maiores concentrações de mercúrio estão presentes nos peixes
carnívoros e que existe uma correlação com o tamanho dos espécimes (Bidone et al., 1997;
Brabo et al., 1999; Castilhos e Bidone, 2000; Lima et al., 2000; Passos et al., 2013).
Peleja (2002) comparou as concentrações de mercúrio na água e no plânton nas bacias
do Tapajós e Negro e observou que o pH foi a única variável que apresentou influência
significativa sobre os níveis de Hg dissolvido nos lagos dos dois sistemas. Segundo o autor, no
rio Tapajós, lagos com baixos valores de pH e condutividade apresentaram níveis de Hg mais
elevados em plâncton coletados em rede maior que 40 µm e no rio Negro lagos com baixos
valores de pH e temperatura tendem a elevar seus níveis de Hg total para a esta mesma fração
de plâncton.
O mercúrio entra na cadeia alimentar principalmente pela transformação do íon Hg2+
em metilmercúrio (MeHg ou CH3Hg+) por um processo de metilação, em que o Hg2+ recebe
um grupamento metila, sendo a forma mais comum do mercúrio encontrada na biota,
principalmente em organismos topo de cadeia alimentar. Cada forma química do Hg apresenta
uma toxicidade, sendo o metilmercúrio considerado o composto de mercúrio mais tóxico, por
ser substância neurotóxica e teratogênica, capazes de causarem danos irreversíveis (Seewt e
Zelikoff, 2001). Apesar de quantidades substanciais de Hg metálico liberada devido à atividade
de mineração de ouro, não há nenhuma evidência que este Hg tenha impactado os peixes nas
cabeceiras dos tributários do rio Tapajós (Dórea et al., 2005).

1.1.6 Importância da avaliação de sedimentos em ecossistemas aquáticos

Segundo Rocha et al. (2009), sedimento é todo material não consolidado, constituído
por partículas de diferentes tamanhos, formas e composição química (compostos minerais,
restos estruturais de diversos organismos, agrotóxicos, elementos traços), as quais podem ser
transportados por meio da água, do ar ou do gelo do ambiente terrestre de origem e depositados
no fundo de lagos, rios e oceanos. O termo deriva do latim sedis, podendo ser etimologicamente
26

e literalmente traduzido como deposição ou aquilo que é passível de se depositar (Giannini e


Melo, 2009).
Os sedimentos transportados por uma corpo hídrico podem ser classificados como
transporte sedimentar em suspensão ou de tração. Os processos de tração atuam por meio de
rolamento ou deslizamento o que produz seixos com arredondamento variável e areias de maior
granulometria. Já nos processos de transporte de carga em suspensão, os sedimentos apresentam
baixa granulometria e não sofrem arredondamento dos clastos e grãos (Popp, 1998).
Os sedimentos são carreados pelos rios através de três maneiras diferentes, solução,
suspensão e saltação. Os constituintes intemperizados das rochas que são transportados em
solução química compõem a carga dissolvida dos corpos de água. A carga dissolvida é
transportada na mesma velocidade da água e é carreada até onde a água percorrer; a deposição
desse material só se processa quando há saturação (evaporação, por exemplo) (Christofolelletti,
1981).
Qualquer alteração na dinâmica natural dos processos, pode comprometer o equilíbrio
dos níveis de sedimentos transportados (Carvalho, 2008). Notou-se com a presente pesquisa a
ausência de trabalhos que analisem a dinâmica natural do transporte de sedimentos ao longo de
um rio.
Os sedimentos são constituídos de três principais componentes, matéria orgânica em
diversos estágios de decomposição, minerais particulados (incluindo-se carbonatos, argilas,
silicatos não argilosos) e componentes inorgânicos de origem biogênica (Wetzel, 1993).
Os sedimentos transportados por um corpo hídrico podem ser classificados como
transporte sedimentar em suspensão ou de tração. Os processos de tração atuam por meio de
rolamento ou deslizamento o que produz seixos com arredondamento variável e areias de maior
granulometria. Já nos processos de transporte de carga em suspenssão, os sedimentos
transportados são de baixa granulometria e não sofrem trabalhamentos ou arredondamentos dos
clastos e grãos (Popp, 1998).
A força da gravidade e a tensão de cisalhamento são os principais fatores que atuam
sobre a dinâmica fluvial. A tensão de cisalhamento é decisiva para iniciar o movimento das
partículas pequenas, enquanto a velocidade do fluxo tem maior influência no carregamento das
partículas maiores (Christofolelletti, 1981). Os sedimentos transportados por um curso d’água,
sejam eles dissolvidos, em suspensão ou de fundo, são produtos das interações entre massa
líquida em movimento, a superfície do canal fluvial e os diferentes tipos de sedimentos
transportados (Christofoletti, 1981).
27

Depois de serem destacadas das suas superfícies, as partículas sólidas podem ser
transportadas por longas distâncias ou serem depositadas rapidamente, dependendo das
condições de fluxo do canal, do tamanho e das características de cada partícula de sedimento,
constituindo as diferentes formas de transporte. O transporte de sedimentos em suspensão
ocorre quando o fluxo hídrico tem capacidade energética de manter determinada partícula em
suspensão, ou seja, partículas finas como silte e argila são muito propensas ao transporte em
suspensão do que outros clastos, sendo mantidas em suspensão pela ação de turbulência do
fluido (Christofoletti, 1981).
Os sedimentos depositados no fundo de ambientes aquáticos constituem verdadeiros
arquivos de informação de natureza biogeoquímica, uma vez que as camadas de deposição são
temporal e sequencialmente acumuladas (Christofolelletti, 1981; Mozeto, 2007; Araújo et al.,
2008). Sendo assim esses depósitos contém materiais precipitados em grande número de
processos químicos e biológicos, sendo que a proporção entre as partículas de origem terrestre
(fontes alóctones) e as de origem interna (fontes autóctones) varia muito em diferentes
ambientes (Mozeto, 2007). Com as deposições continuadas ao longo dos anos pode forvnecer,
além de concentrações de elemento traço, uma indicação da poluição de ambientes aquáticos
através da distribuição vertical obtida com a retirada de amostras em perfis verticais (Esteves e
Camargo, 2011).
Zagatto e Bertoletti (2008) apontam que os materiais dissolvidos e particulados, de
natureza orgânica e inorgânica, ao serem inoculados em um ambiente aquático invariavelmente
se agregam, de alguma forma, através de processos de adsorção, complexação e reprecipitação,
aos particulados suspensos já presentes no meio. Geralmente decantam-se as partículas pesadas,
seguida das mais finas, passando assim a fazer parte dos sedimentos. Os sedimentos adquirindo
tais características podem causar efeito direto, resultante da bioconcentração desses
contaminantes na cadeia alimentar, via organismos bentônicos e assim consequências adversas
serão sentidas também na biota da coluna d’água devido à remobilização desses elementos
metálicos segundo Zagatto e Bertoletti (2008) e a análise dos teores de mercúrio no sedimento
é uma das formas mais utilizadas de se avaliar o grau de contaminação de um sistema aquático
(Alonso et al., 2000).
Os sedimentos desempenham uma importante função no processo de caracterização da
poluição de lagos e rios. Eles podem indicar a qualidade do sistema aquático e assim serem
usados para detectar a presença de contaminantes, pois alguns metais solúveis em água podem
sofrer hidrólise e serem inicialmente depositados em locais de pouca energia hídrica e
posteriormente eles voltam a se solubilizar pela ação de micro-organismos (Zagatto e Bertoletti,
28

2008; Rocha et al., 2009). Sendo assim a análise dos teores de mercúrio no sedimento é uma
das formas mais utilizadas de se avaliar o grau de contaminação de um sistema aquático (Marins
et al., 1998).
A resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA no 454/2012,
baseada em valores do órgão canadense Canadian Council of Ministers of the Environment
estabelece diretrizes gerais e procedimentos referenciais para o gerenciamento do material a ser
dragado em ambientes aquáticos sob jurisdição nacional em dois níveis de contaminação: a)
Nível 1 (170 ɳg.g-1) (limiar abaixo do qual há menor probabilidade de efeitos adversos à biota;
b) Nível 2 (486 ɳg.g-1) (limiar acima do qual há maior probabilidade de efeitos adversos à biota).
Logo entende-se que entre os valores 170 e 486 ɳg.g-1 existe uma probabilidade de efeitos
adversos a biota aquática. Tais valores devem ser testados na biota aquática sensível da região
Amazônica, afim de se estabelecer um valor de background para esta região de diversos
sistemas complexos.
Pfeiffer et al. (1989) estabeleceram um background de 200 ɳg.g-1 de mercúrio em
sedimentos para rios amazônico não contaminados. Tal valor ainda é utilizado como linha de
base nessa matriz ambiental, mas que ainda necessita de testes ecotoxicológicos na biota para
verificar a real toxidade.
Portanto este trabalho tem por finalidade avaliar as concentrações de mercúrio total (Hg
total) nos sedimentos de leito e em suspensão no sentido longitudinal do rio Tapajós, bem como
na zona de confluências de seus tributários em regiões com e sem atividade garimpeira como
os rios das Tropas, Pacu, Creporí, Rato, Jamanxim, Cuparí e Arapiuns como rio controle, no
intuito de revelar a real situação em que se encontra as Regiões: Montante, Garimpo e Jusante
devido a carência de estudos em larga escala na região, principalmente a montante do rio
Tapajós, pois a maioria dos trabalhos nesse rio, são realizados localmente e geralmente entre
os municípios de Itaituba e Santarém, Pará. Esta pesquisa apresenta, também, análises de
variáveis limnológicas ao longo do rio e seus afluentes, contribuindo para revisões
bibliográficas no atual cenário em que se encontra a bacia do Tapajós.
Esta pode ser uma das últimas oportunidades para se estudar o rio Tapajós em condições
hidrodinâmicas naturais, porque o governo brasileiro autorizou a construção de algumas
barragens para usinas hidrelétricas, no trecho estudado. Por conseguinte, estas obras de
engenharia irão alterar a dinâmica da área, sendo potanto necessário estudos futuros para o
monitoramento das condições descritas neste trabalho, bem como o monitoramento de
parâmetros indiretos, os quais consistem nos processos de uso e ocupação do solo no âmbito da
bacia que tenham estreita relação com a qualidade das águas. Embora seja notória a influência
29

dessas atividades na qualidade das águas, a bacia do Tapajós foi pouco estudada, e a magnitude
dos impactos relacionados a esses parâmetros indiretos é desconhecida. Portanto, parâmetros
indiretos consideram apenas os efeitos potenciais dessas atividades na classificação da
qualidade da água.
Sedimentos transportados pelos rios consistem em sua maior parte de argilo-minerais e
silte, apresentando complexas interações físico-químicas com o ambiente. A complexidade
aumenta consideravelmente quando o fluxo das águas fluviais dos afluentes alcançam a zona
de mistura no rio Tapajós.
De acordo com Winterwerp e Kaesteren (2014), o sedimento é formado por material
granular que pode decantar na água por ação da gravidade. São divididos em grosseiros (areia
e seixos) e finos, sendo que os sedimentos finos são caracterizados pelo tamanho inferior a
0,062 mm, subdivididos em fração de silte (0,062 a 0,0039 mm) e fração argila (0,0039 a
0,00006 mm) contendo uma parcela significativa de argilo-minerais.
Existem dois tipos de desintegração dos sedimentos: uma física e outra química. A física
atua sobre as linhas de fratura e clivagem dos mineirais e o sedimento produzido é eletricamente
estável, apolar, ou não coesivo, sendo composto por silte, areia, grânulos e seixos. Já a
desintegração química atua sobre a estrutura cristalina dos minerais, rompendo as ligações
químicas e gerando um sedimento eletricamente carregado, polar, ou coesivo, caracterizado
como argilas.
Regiões de clima tropical e vegetação bem desenvolvida geram resíduos sedimentares
principalmente por decomposição química, grande parte do sedimento fino originado é
transportado principalmente em suspensão pelos rios. E mesmo em condições de baixa energia,
velocidades baixas são capazes de fornecer turbulência necessária para manter sedimentos finos
em suspensão.
Floculação é um processo dinâmico e depende das taxas de agregação e desagregação
de sedimentos. A agregação de partículas por colisões reduz o número destas possibilitando
aumento do diâmetro médio dos agregados.
A força da gravidade e a tensão de cisalhamento são os principais fatores que atuam
sobre a dinâmica fluvial. A tensão de cisalhamento é decisiva para iniciar o movimento de
partículas pequenas, enquanto que a velocidade do fluxo tem maior influência no carreamento
das partículas menores. Os sedimentos transportados por um acorpo d’água, sejam eles
dissolvidos, em suspenssão ou de fundo, são produtos das interações entre a massa líquida em
movimento, a superfície do canal fluvial e os diferentes tipos de sedimentos transportados
(Christofoletti, 1981).
30

O mercúrio apresenta grande afinidade por superfícies carregadas de partículas argilo-


minerais (Reimers & Krenkel 1974), ainda mais efetiva pelos óxidos de ferro (Silva 1991), mas
principalmente pela matéria orgânica (Meili, 1991). Esta estabilidade do mercúrio quando
associado às partículas pode, de certa forma, explicar seus longos tempos de retenção, pois o
metal deposita-se no fundo de corpos d’água até que eventualmente torne-se móvel, podendo
causar problemas ao ambiente (Harris, 1989).
Conforme o tipo de material originado na fonte (vertente) será o tipo de material
ocorrente no ambiente de sedimentação (Christofoletti, 1981).
Fases migradoras (bicarbonatos de Na, K, Ca, Mg e lentes de sílica hidratada) em áreas
florestadas, existe também uma grande denudação química que carrega dos solos todos os
elemnetos químicos solúveis (Christofoletti, 1981).

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL


Avaliar as concentrações contemporâneas de Hg total em sedimentos de leito e em suspensão
do rio Tapajós, bem como na foz dos afluentes Tropas, Pacu, Creporí, Rato, Jamanxim e Cuparí.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


- Avaliar as concentrações de Hg total em sedimentos de leito e em suspensão do canal principal
do rio Tapajós e na foz de afluentes da margem direita e comparar resultados entre três regiões:
garimpo, montante e jusante;
- Examinar se existe diferença significativa nas concentrações de mercúrio total entre as
camadas/perfis de sedimento de leito de 0 a 30 cm de profundidade;
- Comparar as concentrações de Hg total dos sedimentos de leito com as de sedimentos em
suspensão;
- Avaliar a existência de correlação(ões) das concentrações de Hg total nos Sedimentos em
Suspensão (SS) e Sedimentos de Leito (SL) com variáveis limnológicas da água (pH,
temperatura, condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos, transparência do disco de
Secchi, turbidez, cor verdadeira e sólidos suspensos).
31

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi realizado na bacia do médio e baixo rio Tapajós, ao longo do canal
principal, e na foz de seis de seus afluentes da margem direita: Tropas, Pacu, Creporí, Rato,
Jamanxim e Cuparí e de um afluente da margem esquerda (rio Arapiuns – rio controle) no
período de 25 de outubro a 4 de novembro de 2014 na fase das águas baixas do regime fluvial.
A figura 2 mostra a área de estudo com os pontos de coleta ao longo do rio Tapajós de forma
generalizada, sem menores detalhes, devido à dimensão da pesquisa.

Figura 2 -Localização da Bacia Hidrográfica do Tapajós e pontos de amostragem de sedimentos.

A tabela 1 detalha o número de pontos de coleta das amostras, os rios e locais de


referência com suas respectivas coordenadas geográficas ao longo do rio Tapajós. Tais
coordenadas foram obtidas por meio do GPS (Geographical Position System) da marca
Garmim®, Modelo e-Trex Vista HCx com raio de precisão de 3 metros.
32

Tabela 1 – Número de pontos amostrados ao longo do rio Tapajós e locais de referências das
coleta com suas respectivas coordenadas geográficas na área de estudo.
N0 de pontos Rio/Local Latitude/ Longitude
1. Tapajós/Apuí 06°37'00.30"S / 58°25'14.10"W
2. Tapajós/Jacareacanga 06°14'29.28"S / 57°43'40.17"W
3. Tapajós/Montante Tropas 06°07'55.90"S / 57°38'12.40"W
4. Tropas – Foz 06°07'58.10"S / 57°37'52.00"W
5. Tapajós/Jusante Tropas 06°07'09.60"S / 57°37'24.90"W
6. Tapajós/Montante Pacu 06°06'25.70"S / 57°36'27.90"W
7. Pacu - Foz 06°06'25.70"S / 57°36'27.90"W
8. Tapajós/Jusante Pacu 06°05'57.50"S / 57°36'38.90"W
9. Tapajós/Montante Creporí 05°44'24.50"S / 57°19'22.70"W
10. Creporí - Foz 05°44'16.00"S / 57°19'00.90"W
11. Tapajós/Jusante Creporí 05°43'46.93S / 57°19'10.82"W
12. Tapajós/Penedo 05°16'09.20"S / 57°16'09.20"W
13. Tapajós/Montante Rato 05°19'36.50"S / 56°58'43.70"W
14. Rato - Foz 05°18'45.70"S / 56°56'04.70"W
15. Tapajós/Jusante Rato 05°18'42.20"S / 56°58'34,90"W
16. Tapajós/Jatobá 04°59'28.90"S / 56°46'53.20"W
17. Tapajós/Montante Jamanxim 04°45'22.80"S / 56°26'40.10"W
18. Jamanxim - Foz 04°45'38.10"S / 56°26'33.70"W
19. Tapajós/Jusante Jamanxim 04°45'18.80"S / 56°26'03.80"W
20. Tapajós/Pimental 04°22'57.00"S / 56°12'50.10"W
21. Tapajós/Fordlândia 03°51'42.30"S / 55°31'44.10"W
22. Tapajós/Montante Cuparí 03°43'36.60"S / 55°24'26.80"W
23. Cuparí - Foz 03°43'38.60"S / 55°24'07.70"W
24. Tapajós/Jusante Cuparí 03°43'06.60"S / 55°24'12.00"W
25. Tapajós/Belterra 03°10'16.20"S / 55°09'29.80"W
26. Tapajós/Santarém 02°24'26.60"S / 54°47'57.70"W
27. Arapiuns – Foz (CONTROLE) 02°18'35.60"S / 55°01'01.20"W

O gradiente longitudinal do rio Tapajós no trecho da área estudada foi calculado, no


presente, com base nos dados de altimetria máxima e mínima do rio Tapajós coletados
diretamente em sua calha principal. Ressalta-se que ralizou-se um perfil longitudinal do trecho
estudado, o qual não reflete o todo o comprimento do rio e que consiste em uma simplificação
da trajetória do rio através das cotas altimétricas, elaborada a partir das informações obtidas em
campo por GPS (Global Position System) da marca Garmin® modelo Etrex de 12 canais, do
tipo métrico de navegação, com precisão planimétrica aceitável. Esse dados foram utilizadas
para verificar o comportamento hidrodinâmico.
A figura 3 mostra o perfil longitudinal do rio Tapajós no trecho de coleta compreendido
do Apuí (marco 0) até a foz em Santarém (marco 700 km). No primeiro ponto de coleta
denominado Tapajós/Apuí a altitude encontrada foi 149m acima do nível do mar e o último
ponto na sua foz foi de 13 metros. Dentro de todo um contexto geomorfológico do rio Tapajós
com suas diversas paisagens (cachoeiras, pedrais, corredeiras, influência da dinâmica dos rios
afluentes, velocidade de corrente) encontrou-se um valor do gradiente longitudinal de 0,2%. A
fórmula aplicada para o gradiente encontra-se abaixo:
33

(𝐻 − ℎ)
𝐺= . 100
𝐿
Onde:
G = Gradiente longitudinal do rio Tapajós (%)
H= Altimetria máxima (m);
h= Altimetria mínima (m);
L= Comprimento do trecho de rio estudado (m)

Figura 3- Perfil longitudinal do rio Tapajós no trecho estudado.

3.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

Vinte e sete (27) pontos de amostragem foram considerados para a coleta de Sedimentos
de Leito (SL) e Sedimentos em Suspensão (SS) no sentido médio/baixo trecho e foz do rio
Tapajós, compreendendo uma extensão de aproximadamente 700 km. Nesta extensão foram
considerados oito (08) pontos fixos a cada 100 km no canal principal do rio Tapajós (figura 4-
A). Também foram coletados três (03) pontos de amostragem na desembocadura de seis
afluentes da margem direita do rio Tapajós (Tropas, Pacu, Creporí, Rato, Jamanxim e Cuparí),
sendo dois pontos 500 m à montante e 500 m à jusante da confluência com o rio Tapajós. Um
terceiro ponto foi coletado na foz dos afluentes a 500 m antes da confluência com o rio Tapajós
(figura 4-B). Um (01) ponto a 500 m antes da confluência do rio Arapiuns, afluente da margem
esquerda, com o Tapajós foi considerado como rio controle/background no estudo.
Em algumas situações os pontos fixos a cada 100 km ao longo do canal principal do rio
Tapajós, coincidiram com os pontos a montante e/ou jusante de confluência com os tributários.
Ao final totalizou-se um universo amostral de 26 pontos de coleta, excluindo-se o rio controle.
34

Assim, os 27 pontos de amostragem ao longo dos 700 km do sistema fluvial, foram


agrupados em três regiões geográficas quanto à presença ou não de atividades garimpeira de
ouro, a saber: i) Região Montante (ponto Tapajós/Apuí), ii) Região Garimpo (do ponto
Tapajós/Jacareacanga ao Tapajós/Jusante Jamanxim) e iii) Região Jusante (do ponto
Tapajós/Pimental ao Tapajós/Santarém).
Em cada um dos 27 pontos de amostragem, coletou-se um testemunho/coluna de 30 cm
de profundidade de sedimento de leito, a qual foi seccionada em camadas de dois em dois
centímetros, resultando em 15 camadas verticais por ponto, totalizando 405 amostras (figura 4-
C).
Para o sedimento em suspensão foram coletadas, em duplicatas, amostras de água a 30
cm abaixo da superfície nos 27 pontos de amostragem, totalizando 54 amostras. Em todos os
pontos de amostragem, também foram feitas determinações das variáveis limnológicas.
Assim, consideraram-se como variáveis dependentes as concentrações de mercúrio total
em sedimento de leito e sedimento em suspensão, tendo como variáveis independentes
exercendo possível influência sobre as dependentes, as variáveis categóricas as Regiões
Montante, Garimpo e Jusante, bem como as variáveis limnológicas e profundidade das camadas
de sedimento de leito, independentes das Regiões.

Figura 4 - (A) representa os pontos de coleta a cada 100 km de distância ao longo do Rio Tapajós; (B) pontos de
coleta 500m a montante, 500m a jusante da confluência dos afluentes com o Rio Tapajós e 500m na foz dos
afluentes antes da confluência com o rio principal; (C) coletor de sedimento tipo Kajac mostrando os detalhes dos
cortes de perfis sedimentológicos.
35

3.3 MÉTODOS DE CAMPO


3.3.1 Coletas de variáveis limnológicas

As medidas das variáveis limnológicas e coletas de amostras de água, para posterior


obtenção dos sedimentos em suspensão, foram sempre realizadas antes dos procedimentos da
extração dos sedimentos de leito.
Dessa forma, obtiveram-se as seguintes variáveis: pH (Potencial Hidrogeniônico) e
Temperatura usando-se um pHmetro, marca Senso Direct ®, modelo 150; TDS (Sólidos Totais
Dissolvidos) e Condutividade Elétrica usando-se sonda multiparamétrica, marca HANNA®,
modelo HI 9828). Já a transparência da água foi obtida com auxílio do disco de Secchi.
Nos 27 pontos (rio Tapajós, afluentes da margem esquerda e rio Arapiuns afluente da
margem direita) amostras de águas foram coletadas em garrafas de polipropileno de volume de
um litro, prévia e devidamente limpas. As coletas foram realizadas logo abaixo da superfície da
coluna d’água e, subsequentemente, acondicionadas sob refrigeração até o momento das
análises em laboratório para determinação da turbidez e filtragem para obtenção da cor
verdadeira e concentração (mg/L) de sedimentos em suspensão retidos nos filtros de fibra de
vidro.

3.3.2 Coleta de sedimento de leito

Após a obtenção dos dados das variáveis limnológicas in situ e coleta de água procedeu-
se a coleta de sedimento de leito (SL) a margem direita do rio Tapajós e dos afluentes em locais
de remanso através de um coletor de sedimento de baixa profundidade da coluna d’água (1 a
1,5 m), o qual foi construído em tubo de PVC de 86 mm de diâmetro e comprimento de 50 cm
com um anel metálico na extremidade inferior.
Extraiu-se uma coluna de 30 cm de sedimento de leito (SL) de cada ponto, e em campo,
foram seccionadas em camadas de dois em dois centímetros, sendo estas acondicionadas em
sacos plásticos de espessura grossa, previamente identificados, totalizando 15 subamostras, as
quais foram mantidas sob baixa temperatura até o momento dos procedimentos analíticos em
laboratório.
36

3.4 PROCEDIMENTOS EM LABORATÓRIO


3.4.1 Preparação de vidrarias e filtros

Para se obter uma boa seletividade e sensibilidade nas variações de concentração do


analito [Hg]Total, realizou-se uma cuidadosa descontaminação das garrafas e placas de petri de
polietileno com detergente EXTRAN® a 3%. As placas de petri e garrafas de polietileno foram
previamente mantidas em banho ácido clorídrico (HCl) a 10% (v/v) por um período de 24h e,
após tempo decorrido, lavadas com água ultrapura Milli-Q por 3 a 5 vezes e mantidas para
secagem em ambiente limpo.
Os filtros de fibras de vidro (0,45µm de diâmetro do poro, Gelman) foram previamente
aquecidos a 200°C em mufla para a remoção de impurezas e possíveis traços de metais e
posteriormente pesados, armazenados nas placas de petri e finalmente identificados em
duplicatas para cada ponto de coleta.
Toda vidraria para secagem das amostras de sedimento de leito e para análise da
concentração de mercúrio total ( [Hg]Total ) também foram lavadas com detergente neutro
Extran® a 3% e colocadas em banho de ácido clorídrico HCl a 10% (v/v) por 24h e após
decorridos lavadas com água ultrapura Milli-Q por 3 a 5 vezes, tampadas com papel alumínio
e mantidas em estufa a 300 °C até sua secagem total.

3.4.2 Filtragem das amostras de água

A obtenção dos sedimentos em suspensão (SL) com granulometria ≥ 0,45 µm ocorreu


por gravimetria através do uso de um sistema de filtragem da água coletada, sendo realizadas
em duplicatas por ponto de coleta. Antes da filtragem as massas dos filtros foram previamente
mensuradas. O volume de água filtrado foi conhecido a partir do momento de saturação do filtro
por sólidos suspensos, os quais passaram na sequência por secagem em estufa a 40 °C até
atingirem peso constante. Os filtros foram, então, colocados em um dissecador e posterior
pesagem em balança analítica de precisão 0,0001g. A concentração comum (mg/L) de
sedimentos em suspensão (SL) foi obtido através da seguinte fórmula:

Onde:
CSS = Concentração de sedimentos em suspensão (mg/L)
37

Pfcs = Peso final do filtro com sedimento (mg)


Piss = Peso inicial sem sedimento (mg)
Vaf = volume de água filtrada (L)

Antes das filtragens retirou-se uma alíquota de água das garrafas de cada ponto de
coleta, sendo estas empregadas na mensuração da turbidez (turbidímetro de bancada marca
Policontrol®, modelo AP 2000). E outra alíquota retirada do filtrado utilizada para mesurar a
coloração verdadeira da água (analisador de cor da marca HANNA®, Modelo HI 93727).

3.4.3 Secagem e desagregação das amostras de sedimento de leito

As amostras de sedimentos de leito (SL) que armazenadas em freezer foram


descongeladas a temperatura ambiente e posteriormente transferidas para cápsulas de
evaporação previamente identificadas, tampadas com papel vegetal e em seguida levadas a
estufa para secagem a temperatura entre 60 e 70 °C até atingir a total desidratação. Após
secagem foram realizadas as desagregações de cada amostra usando um graal de porcelana com
pistilo. Para realizar a desagregação das amostras por ponto de coleta, estas vidrarias foram
lavadas com ácido clorídrico 10% (v/v), seguida de água ultrapura e finalmente secagem com
etanol grau reagente e papel absorvente.

3.4.4 Peneiramento e armazenamento das amostras de sedimentos de leito <63 µm e grossa


≥63 µm

Para o peneiramento utilizou-se um agitador de peneiras marca BROSINOX® modelo


AG 78/14 com tempo e frequência de agitação na proporção 10:10. Optou-se em usar peneiras
de PVC, as quais foram confeccionadas com tampas e cano de 200mm e tela Nitex® com entre
malhas de 63µm.
Devido ao EDTA (ácido etilenodiaminotetracético) ser um agente complexante capaz
de se ligar fortemente a íons metálicos de forma estável optou-se em lavar as peneiras com
solução 0,001 ml.L-1 deste ácido, seguida de lavagem com água ultrapura e borrifagem com
etanol para facilitar a secagem efetuada com ar quente.
Após segregação das duas frações granulométricas (<63µm e ≥63µm), as amostras
foram acondicionadas em frascos de acrílico previamente esterilizados com ácido clorídrico
38

(HCl) a 10%, secados ao ambiente, cobertos com lenços de papel para evitar a entrada de poeira
e finalmente tampados e rotulados.

3.4.5 Digestão ácida das amostras de sedimentos de leito e em suspensão

Inicialmente foram mensuradas alíquota de 50 a 150mg da fração granulométrica de SL


<63 µm em balança analítica. Em seguida as massas foram colocadas em tubos de ensaio para
o processo de extração do analito da matriz por digestão ácida segundo a metodologia descrita
por Pichet et al.,1999. Tal digestão ácida consiste da adição de 5 ml de ácido nítrico (HNO3
concentrado) e 0,5 mL de ácido clorídrico (HCl 6N). Posteriormente os tubos foram colocados
em placa aquecedora a uma temperatura de 120 °C por 6 h sob ventilação constante e posterior
aferição dos tubos de ensaio com água ultrapura até um volume total de 9 ml (Pichet et al.,
1999).
Para o sedimentos em suspensão (SS) agregados aos filtros de fibra de vidro já
mencionados anteriormente, dobrou-se em quartos colocando-os em tubos de ensaio com tampa
rosqueável teflonizada, seguidas da adição de 500 µL de ácido nítrico (HNO3 concentrado) e
50 µL de ácido clorídrico (HCl 6N). Posteriormente levou-se os tubos para a estufa a 120 °C
por 5 horas em digestão para a extração do analito da matriz. Após isso esfriou-se os tubos e
adicionou-se novamente 50 µL de ácido clorídrico 6N (HCl) aferindo o volume dos tubos até 5
mL com água ultrapura, levados a centrífuga para uma rotação de 4.000 rpm por 10 minutos.
A digestão tanto dos sedimentos de leito como em suspensão utilizando ácidos fortes
tem por objetivo converter os compostos de mercúrio nas amostras a íons Hg2+.

3.4.6 Análise de Hg total das amostras de sedimentos de leito e em suspensão

Antes de analisar o Hg é importante que haja a decantação dos matérias sólidos em


suspensão nos tubos de ensaio e que o líquido esteja a temperatura ambiente para evitar a
interferência espectral no equipamento de análise.
As amostras foram analisadas em Espectrômetro de Fluorescência Atômica a Vapor Frio
(CVAFS) no Laboratório de Biologia Ambiental da Universidade Federal do Oeste do Pará -
UFOPA. No reator do aparelho, contendo solução de cloreto de estanho (SnCl2), foram
injetadas alíquotas de 100 µL de cada amostra pós processos de digestão e decantação com a
39

finalidade de reduzir os cátions Hg2+ para a forma elementar Hg0 para posterior leitura das
concentrações de mercúrio total pelo detector.
Para a se verificar a precisão, bem como a confiabilidade do método analítico,
realizaram-se, análises das amostras do padrão internacional de sedimentos PACS-2 fornecidos
pelo National Research Council of Canada. A reprodutibilidade do método foi determinada por
leitura de 10 % das amostras em duplicata com coeficiente aceitável de desvio máximo de 10
%.

3.5 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Usou-se a estatística descritiva para a geração de gráficos e obtenção de medidas de


tendência central. Procedeu-se uma análise de variância (ANOVA) para verificar as diferenças
significativas (p<0,05) de Hg total entre as Regiões Montante, Garimpo e Jusante, bem como
entre as concentrações de Hg total entre os pontos de coleta e a fração granulométrica <63µm
do sedimento de leito. Também foi construída uma matriz de correlação linear de Pearson entre
as variáveis físico-químicas (independentes) e as concentrações de mercúrio (dependentes) nos
sedimentos de leito e em suspensão. Todas as análises foram geradas no software
STATISTICA-7.0.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 CARACTERIZAÇÃO LIMNOLÓGICA DA ÁREA DE ESTUDO

O rio Tapajós apresenta alguns afluentes que contêm água bem mais carregadas
como o rio das Tropas, Pacu, Creporí, Rato, Jamanxim e Cuparí como mostra a figura
5. A fim de entender bem a evolução das cargas sólidas e dissolvidas nas águas do rio
principal, foi importantíssimo estudar algumas características físico-químicas dos
afluentes da margem direita do rio Tapajós, bem como caracterizar as zonas de misturas
destes com as águas do rio Tapajós. E sendo a vazão das águas do rio Tapajós superiores
a de seus afluentes, este rio consegue diluir fortemente os depósitos relativamente mais
carregados em seu percurso. Essas informações associadas a climatológicas,
hidrológicas e mudanças no uso da terra na bacia de drenagem, podem mostrar uma
heterogeneidade espacial e temporal ao longo do continum geológico.
40

Figura 5- Foz dos rios: A) Pacu; B) Tropas; C) Crepori; D) Rato; E) Jamanxim; F) Cuparí. Fotos: Augusto
Maia e Rívolo Bacelar, 2014.

Os dados totais das variáveis limnológicas coletados no rio Tapajós e na foz de seus
afluentes da margem direita independentes das regiões com e sem influência de atividade
garimpeira estão expostos na tabela 2.

Tabela 2 - Valores das variáveis limnológicas por ponto de coleta no trecho estudado. (pH: potencial
Hidrogenônico; Temp.:Temperatura em graus celsius; Turb.: Turbidez; TDS: Sólidos Totais Dissolvidos;
Secchi: Transparência de Secchi; Cor: cor verdadeira da água; SS: Concentração de Sólidos em Suspensão).
Temp. Turb. Cond. TDS Secchi Cor SS
Rio/Local pH
(°C) (UNT) (μS.cm-1) (ppm) (m) (mgPt/L) (mg.L-1)
Tapajós/Apuí 6,3 31,1 2,0 8,8 5 1,95 0 1,8
Tapajós/Jacareacanga 6,9 31,1 3,7 12 5 2,08 40 2,5
Tapajós/Montante Tropas 5,9 31,4 4,0 12 5 0,80 0 7,0
Tropas – Foz 6,8 30,0 6,0 14 7 0,32 40 16,1
Tapajós/Jusante Tropas 6,4 30,6 10,3 13 6 0,59 50 5,1
Tapajós/Montante Pacu 6,4 30,6 10,3 13 6 0,59 50 5,1
Pacu – Foz 7,7 28,4 152,7 16 8 0,12 70 18
Tapajós/Jusante Pacu 6,8 30,6 15,7 14 6 0,35 30 12,4
Tapajós/Montante Creporí 6,7 30,0 70,5 12 5 0,31 90 46,1
Creporí - Foz 7,4 31,4 266,7 25 11 0,15 220 81,9
Tapajós/Jusante Creporí 7,1 31,8 324,7 25 11 0,42 230 181,5
Tapajós/Penedo 6,9 30,6 27,6 12 6 0,33 20 14,8
Tapajós/Montante Rato 5,8 30,3 46,6 12 6 0,20 30 27,6
Rato - Foz 6,3 27,9 321 23 11 0,10 293 179,8
Tapajós/Jusante Rato 6,7 29,0 197 19 9 0,33 180 147,5
41

Tapajós/Jatobá 6,6 30,9 24,7 12 6 0,38 43 15,4


Tapajós/Montante Jamanxim 6,7 30,4 35,0 8 5 0,50 37 28,0
Jamanxim - Foz 6,9 31,4 28,3 20 13 0,43 80 12,4
Tapajós/Jusante Jamanxim 6,8 31,2 28,7 29 20 0,45 50 9,0
Tapajós/Pimental 7,3 31,0 20,0 14 6 0,43 10 15,1
Tapajós/Fordlândia 6,6 32,9 10,0 16 7 0,84 0 5,1
Tapajós/Montante Cuparí 7,1 32,6 14,0 15 6 0,69 30 7,5
Cuparí - Foz 6,8 31,6 31,3 43 20 0,47 90 8,7
Tapajós/Jusante Cuparí 6,6 32,2 25,7 16 7 0,53 10 16,4
Tapajós/Belterra 6,9 32,2 13,0 14 6 0,89 10 8,2
Tapajós/Santarém 6,3 30,3 3,7 15 7 2,30 0 1,0
Arapiuns – Foz (CONTROLE) 5,9 30,7 4,7 13 6 2,30 0 3,0

De modo geral, como pode ser observado na tabela 2, os valores de pH (potencial


Hidrogeniônico) encontrados na calha do rio Tapajós oscilaram de levemente ácido 5,8
(Tapajós/montante do rio Rato) a próximo do neutro 7,3 (Tapajós/Pimental) com uma média de
6,6. Já para a foz dos rios afluentes a média apresentou um valor neutro 7,0, sendo o mínimo
6,3 e máximo 7,7 para as águas das foz dos rios Rato e Pacu respectivamente. Algumas
mensurações de pH somente nas águas do rio Tapajós, representaram 42% dos valores próximo
a faixa de neutralidade ou mesmo acima deste valor, tendendo a uma alcalinidade. Os valores
de pH entre mínimo e máximo ocorridos nas águas do rio Tapajós e rios tributários
diferenciaram com 1,5 e 1,4 unidades de pH respectivamente. Pequenas variações de pH podem
influenciar diretamente em variáveis químicas e biológicas nos sistemas aquáticos. Sioli e
Klinge, 1964 e Junk, 1983 apontam valores de pH ácidos para águas claras na faixa de 4,6–6,6
unidades. Neste trabalho encontrou-se pH entre ácido e neutro na faixa de 5,8–7,3 unidades no
continum do trecho do rio Tapajós onde foram realizadas diversas medidas de pH e não somente
pontual ao longo de um rio com grande dimensão. Tais valores provavelmente são resultantes
de intesos processos erosivos na bacia hidrográfica como: garimpagem de minérios e outros
processos erosivos relacionados ao avanço das fronteiras, aumentando a quantidade de sólidos
em suspensão. De acordo com Cunha e Pascoaloto (2006) o Tapajós possuem águas menos
ácidas dada a ocorrência de pequenos afloramentos de rochas calcárias em sua bacia.
Para efeito comparativo, entre rios de águas claras e brancas com elevada carga de
sedimento, é importante destacar que Sioli e Klinger (1964) e Junk (1983) apontaram valores
de pH neutro para águas brancas na faixa de 6,5-7,3 unidades. Os valores de pH encontrados,
ao longo da calha do rio Tapajós, neste trabalho no trecho estudado para o dado período,
variaram na faixa entre ácido e neutro (6,3–7,7) tendendo a uma certa alcalinidade que
provavelmente possa estar relacionada aos bicarbonatos. Tais rios afluentes são impactados
42

pelas áreas de garimpo, e a cor de suas águas são aparentemente esbranquiçadas, mas na
verdade, no passado, foram rios de águas claras. O pH neutro neutro não é comum para os rios
da Amazônia, porém valores semelhantes foram verificados outrora nas águas do rio Tapajós
como 8,7 por Schmidt (1982), 7,5, por Guyot et al. (1997) e 7,4 por Viana (2009), 7,2 por Silva
(2012), sendo que 75% de suas medidas de pH em 12 meses foram pH>7,0 corroborando os
valores de alcalinidade obtidos neste trabalho. Bacelar et al. (2013) mensuraram o pH das águas
do rio Tapajós e três tributários em áreas de garimpo, concluindo uma variação de pH ácido a
neutro (6,4–7,6), com uma média em torno de 7,0 unidades, padrão semelhante ao apresentado
por estes autores nos rios afluentes do Tapajós. Somente no rio Tapajós, 85% de suas amostras
apresentaram valores entre 6,9 e 7,6 corroborando novamente os dados apresentados nesta
pesquisa. No período de chuvas na região do Tapajós Miranda et al. (2009) destacaram
excelentes correlações entre cálcio (Ca) e magnésio (Mg) (0,9819) e cálcio e estrôncio (0,9989)
nas águas do rio Tapajós, que podem estar relacionada com a geoquímica da região. Sioli (1995)
já havia afirmado que a cor esverdeada das águas do rio Tapajós é devido à presença
significativa de carbonatos. Estes elementos químicos, decorrentes dos processos de lixiviação
e intemperismos de rochas com características alcalinas, provavelmente estejam contribuindo
para uma pequena capacidade de tamponamento. Pelo contrário os baixos valores de pH
encontrados neste trabalho provavelmente estejam relacionados aos altos valores de ferro e
alumínio cerca de 2,0 vezes superior ao limite estabelecido pela Resolução do CONAMA
357/2005 encontrados por Miranda et al. (2009) nas águas da ria do rio Tapajós em frente a
cidade de Santarém no final da estação chuvosa.
A temperatura média das águas do rio Tapajós no período de águas baixas (outubro a
novembro, final da estação seca) foi de 31°C, com variação de 29°C (Tapajós/Jusante Rato) a
32,9°C (Tapajós/Fordlândia). Entre a foz dos afluentes, a média desta variável apresentou-se
menor, 30,1°C em comparação com a do rio Tapajós, obtendo-se a menor temperatura 27,9 °C
na foz do rio Rato e a maior, 31,6 °C na foz do rio Cuparí.
Dos 26 pontos de coleta ao longo do rio Tapajós e seus afluentes, com exceção do rio
Arapiuns (rio controle), foram encontradas altas temperaturas. Do total das medidas cerca de
88% estavam acima de 30 °C. As temperaturas das águas dos afluentes parece não diferenciar
das temperaturas das águas ao longo do rio Tapajós no dado período. A baixa temperatura nas
águas da foz rio Rato, provavelmente esteja relacionada a grande quantidade de sedimentos nas
águas deste tributário evitando assim a entrada de luz e a estreita largura do rio margeado por
ambiente florestado.
43

As maiores médias encontradas no presente trabalho deve-se ao regime fluvial das águas
baixas na estiagem (outubro) e maior incidência de radiação solar neste período. Sendo assim
a ocorrência de altas temperaturas na água do Tapajós é típica de região tropical em virtude da
maior intensidade de radiação incidente sobre a superfície (Esteves, 2011).
No início da estação seca (na vazante) Bacelar et al. (2013) encontraram uma variação
de 23,1 °C em frente a cidade de Jacareacanga e 31,3 °C em frente a Aveiro, obtendo uma
média 29,1 °C, enquanto a média dos três rios afluentes do rio Tapajós ficou em 26,0 °C. A
média dos valores de temperatura obtidos entre 2010 e 2011 por Silva, 2012 foi 29,5 °C, sendo
em outubro encontrado o valor de 32,0 °C, valor este próximo da média de 31,0°C encontrada
para as águas do rio Tapajós neste trabalho, sendo o maior valor encontrado 32,9°C no ponto
Tapajós/Fordlândia. Valores neste padrão foram encontrados para as zonas de Aveiro, Alter do
Chão e Itaituba oscilando entre 29 e 32°C (HiBAm, 2004).
Em relação à turbidez das águas (cor aparente) do rio Tapajós, os valores mínimos e
máximos flutuaram na ordem de 2 a 324,7 UNT encontrados nos pontos Tapajós/Apuí e
Tapajós/Jusante Creporí respectivamente, sendo a média 44,4 UNT. Já o valor mínimo para as
águas da foz dos afluentes foi 6 UNT para no rio Tropas e o máximo de 321 UNT no rio Rato,
sendo a média de turbidez dos tributários 134,3 UNT. O valor médio dessa variável para as
águas dos rios afluentes se mostrou três vezes maior que a média para as águas do rio Tapajós.
Os menores valores ocorreram nas extremidades do trecho do rio com 2,0 e 3,7 UNT nos pontos
Tapajós/Apuí e Tapajós/Santarém respectivamente.
Silva, 2012 encontrou uma média de 11 UNT nas águas do rio Tapajós próximo ao Lago
do Juá, sendo os maiores valores no período de maior pluviosidade e na foz do Tapajós, com
forte influência do rio Amazonas, Miranda et al. (2009) determinaram uma média de 76,4 UNT
confirmando que o alto valor encontrado está relacionado a forte influência das águas do rio
Amazonas nas águas do rio Tapajós. Há necessidade de considerar como efeito integrado deste
resultado, a presença dos sedimentos em suspensão advindos de áreas garimpeiras e desmatadas
a montante de sua foz, os quais contribuem para o aumento da turbidez das águas claras do rio
Tapajós. Na presente pesquisa, no ponto Tapajós/Santarém a turbidez encontrada foi de 3,7
UNT, porém este ponto localizou-se a 9 km de distância do encontro das águas dos rios Tapajós
e Amazonas, possivelmente pouca ou nenhuma influência das águas brancas sobre as águas
claras.
Bacelar et al. (2013) encontraram os maiores valores nos rios que desembocam no
Tapajós, nos quais foram obtidos valores de 46,0, 34,0 e 242,0 UNT nos rios: das Tropas, Pacu
44

e Creporí, respectivamente. Enquanto que no rio Tapajós a média encontrada foi 4,5 UNT, com
valor mínimo de 2,0 em Porto Novo e máximo de 13,0 UNT na Vila Penedo.
Neste trabalho, o maior valor de turbidez encontrado foi no ponto Tapajós/Jusante
Creporí (324,7 UNT). Exatamente no ponto Creporí - Foz o valor encontrado de 266,7 UNT se
aproximou do valor de Bacelar et al., 2013, mesmo sendo as pesquisas realizadas em épocas
diferentes. Isso deve-se ao efeito sinérgico do acúmulo de sedimentos carreados constituindo-
os numa pluma que se estende a quilômetros de distância ao longo da margem direita do Tapajós
(figura 6), bem como as operações contínuas nos garimpos na bacia do Creporí. A
aproximadamente 5 km desde a foz do rio Cuparí, as altas cargas de sedimentos em suspensão
despejadas nas águas do Tapajós formam uma grande pluma de material suspenso que sofre
espalhamento lateral e consequente diluição, margeando grandes ilhas, onde a pluma pode se
estender por mais da metade da largura do rio Tapajós no trecho impactado. Segundo Telmer
et al. (2006) a cerca de 15 km de distância da foz do Creporí, a pluma de sedimentos volta a
sofrer os processos de maior diluição nas águas do Tapajós. Essa pluma pode se estender por
dezenas a centenas de quilômetros e eventualmente se distibuindo de forma homogênea (Telmer
et al., 2006). Os cantos, ilhas, corredeiras e pedrais encarregam-se de realizar a homogeneidade
das finas partículas sobre a superfície das águas ao longo do rio Tapajós as quais são mantidas
pelo movimento browniano (deslocamento aleatório de partículas em suspensão num meio
fluido).

rio Tapajós

5km
rio Cuparí

15km

Figura 6 - Pluma de sedimento em suspensão do rio Cuparí nas águas do rio Tapajós (5 e 15 km representam
zonas de maior diluição de sedimento finos nas águas do rio Tapajós). Fonte: Google Earth Pro, 2016; imagens
Landsat 7.

Visualmente, em campo, verificamos que as águas do Tapajós, em frente ao município


de Itatuba, apresentam uma leve turbidez, a qual foi constatada a montante no ponto
45

Tapajós/Pimental com 20,0 UNT. Partículas finas de sedimento são importantes meios de
veiculação de mercúrio antropogênico e natural, transportando-o em suspensão a longas
distâncias das drenagens (Silva, 1997; Mascarenhas et al., 2004; Telmer et. al., 2006),
precipitando-os em áreas com reduzida cinética de correnteza, resultante da ação de barreiras
ou ainda em ilhas e adentrando em lagos marginais dos cursos hídricos.
Na foz do rio das Tropas Bacelar et al. (2013) encontraram valor turbidez 40 vezes
superior ao encontrado neste trabalho como mostra na tabela 2. O valor encontrado em outubro
de 2014 (6,0 UNT) na estiagem /águas baixas, deve-se ao fato da saída das dragas que se
encontravam no leito do rio seguindo em direção ao rio Tapajós, fixando-se a montante do
município de Jacareacanga. Provavelmente pouca atividade no leito do rio das Tropas estivesse
ocorrendo nesse período de águas baixas. Interessante que a cota fluviométrica na foz deste rio
foi bastante reduzida. Também verificou-se que o material arenoso constituía-se de uma textura
grossa como um cascalho e pouco sedimento fino como mostra o gráfico 4 mais a frente
(percentual em massa das frações granulométricas de sedimento de leito (SL) <63 µm e ≥63).
Sabe-se que a condutividade elétrica em líquidos ocorre desde que haja considerável
movimentação de partículas com cargas positivas e negativas. A média da condutividade
elétrica para as águas do rio Tapajós foi de 14,6 µS.cm-1, sendo o menor valor, 8 µS.cm-1
encontrado no ponto Tapajós/Montante Jamanxim e o maior 29,0 µS.cm-1 no ponto
Tapajós/Jusante Jamanxim. Já em relação as águas da foz dos afluentes, a média foi de 23,5
µS.cm-1 com mínima 14 µS.cm-1 no rio Tropas e máxima 43 µS.cm-1 no rio Cuparí. O elevado
valor de condutividade elétrica no rio Cuparí deve-se a alta quantidade de íons provenientes de
bacia de drenagem, pois evidências mostram que a área da bacia vem sendo impactada pelas
atividades madeireira, agropecuária e expansão urbana. A retirada do município de Aveiro e da
comunidade São Jorge, os quais estavam agregados a Floresta Nacional do Tapajós, reforçam
que processos históricos, associados a possíveis pressões decorrentes da expansão da fronteira
agrícola na região, podem ameaçar a sustentabilidade dos ecossistemas.
Para as águas da calha do rio Tapajós, Bacelar et. al. (2013), encontraram uma
condutividade elétrica média de 16,20 μS.cm-1 com mínima de 12,03 μS.cm-1 (na Vila Penedo)
e máxima de 29,57 μS.cm-1 (na Vila de São Luis). Já nos rios afluentes a média encontrada foi
de 24,37 μS.cm-1, sendo o maior valor 43,78 μS.cm-1 no rio Pacu e o menor 12,77 no rio das
Tropas. Os valores de condutividade encontrados nas águas do rio Tapajós por Bacelar et. al.,
2013 são próximos aos encontrados neste trabalho, no entanto há somente a diferença no ponto
e no período de coleta de cada trabalho. O valor encontrado por Bacelar no ponto Vila Penedo
foi aproximado do ponto Tapajós/Penedo neste trabalho: 12 μS.cm-1. Batalha et al. (2014)
46

encontraram 22 μS.cm-1 como o maior valor de condutividade na ria fluvial do Tapajós, mais
precisamente na Comunidade de São domingos na Floresta Nacional do Tapajós e este valor
está inteiramente ligado a quantidade de sólidos totais em suspensão (TDS) corroborando o alto
valor condutividade 43 μS.cm-1 para 20 ppm de TDS obtidos na foz do rio Cuparí neste trabalho,
refletindo a elevada quantidade de cargas iônicas escoadas para a calha deste tributário.
No geral, para as águas do rio Tapajós, autores anteriores como Schmidt (1982)
encontraram valores de condutividade da ordem de 13,8 μS.cm-1, Guyot et al. (1998) 15,0
μS.cm-1 e Silva (2012) 28,66 μS.cm-1. A média da condutividade elétrica obtida neste trabalho
se aproximou do valor mensurado por Guyot et al. (1998).
Em relação aos afluentes da margem direita do rio Tapajós obteve-se uma média
próxima a média realizada por Bacelar et. al., (2013). O máximo valor encontrado de 43,78
μS.cm-1 no rio Pacu são 2,7 vezes maior ao encontrado neste trabalho (ver tabela 2). Este valor
é diretamente proporcional a maior quantidade de partículas contendo cargas iônicas e o
aumento de sedimentos em suspensão, é provavelmente em consequência das atividades dre
dragagem atuando no leito do rio Pacu ou ainda a coleta de dados após determinada precipitação
nas cabeceiras dos seus afluentes.
As maiores movimentações das partículas iônicas foram encontradas nas foz dos rios
afluentes do Tapajós, sendo o maior valor de condutividade elétrica mensurada na foz do rio
Cuparí (43 μS.cm-1), Região Jusante de garimpo. O valor elevado, provavelmente, está em
consonância com a presença dos assentamentos rurais e da área urbana de Rurópolis, bem como
das atividades madeireiras e agropecuárias observadas em campo. A elevação da condutividade
elétrica nos rios afluentes alude à entrada de maiores aportes iônicos neste rios, pois a
condutividade elétrica é função da concentração dos íons presentes na coluna d’água (Esteves,
2011).
Estudos realizados pelo Ecology Brasil na Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da
Bacia do Tapajós em 2014 mostram que os recursos hídricos do baixo Tapajós estão
conservados, porém a subbacia do rio Cuparí, (equivalente ao município de Rurópolis),
apresentou a pior qualidade das águas da bacia do Tapajós. Confirmando a forte presença de
assentamentos rurais, especialmente ao longo da Rodovia Transamazônica (BR-230),
imprimindo paisagens marcantes como as famosas “espinhas de peixe” resultantes do
desmatamento, sendo este o mais ativo da bacia, apesar das ações de contenção do processo e
da delimitação das unidades de conservação como mostra a figura 6. E ainda está prevista a
construção e operação do Complexo Hidrelétrico Cuparí Braço Oeste e Linhas de Transmissão
Associadas de acordo com o Relatório de Impacto Ambiental de 2016. A região da bacia do
47

Cuparí, área onde será realizada o empreendimento é caracterizada pela presença de vegetação
nativa, onde predominam florestas que vivem em áreas de grande incidência de chuvas. As
áreas de florestas ombrófilas densas de terra firme em terrenos mais elevados são muito
exploradas para a agricultura de subsistência e pastagens.
Além da alta condutividade elétrica na foz do rio Cuparí outros parâmetros como
turbidez, TDS e cor verdadeira foram elevados segundo a tabela 2, comparados aos do rio
Jamanxim que apresenta maior bacia de drenagem que o Cuparí e que é marcada pela presença
de garimpos e extração ilegal de madeira segundo a tabela 2.
O barramento do rio Cuparí irá promover alterações no transporte de sedimentos, que
ficarão depositados no futuro reservatório, sendo que o referido impacto não poderá ser
mitigado, mas sendo necessário o monitoramento dos sedimentos de leito e em suspensão, bem
como dos parâmetros físico-químicos, dada a sua atenção especial pelo fato das caraterísticas
encontradas neste trabalho.

Figura 2 - Imagens históricas da Região da Bacia do Rio Cuparí mostrando ocupação humana pela evidência das
“espinhas de peixe” ao longo dos eixos rodoviários. Fonte: Google Earth Pro, 2016; imagens Landsat 7.

Verifica-se na tabela 2 que os valores de condutividade elétrica, nas águas da foz dos
rios afluentes da margem esquerda do rio Tapajós, estão sempre acima dos valores de
48

condutividade ao longo do continum do Tapajós, demonstrando que há um grande aporte de


sedimentos em suspensão e cargas iônicas para a calha do rio Tapajós.
As medidas das concentrações de sólidos totais dissolvidos (TDS), apesar do nome, são,
na verdade, medidas de condutividade elétrica em partes por milhão (ppm). Na verdade os
medidores de TDS só detectam os íons carregados em movimentos nas águas. Eles não
detectam qualquer composto neutro (sem carga) (AquaBase, 2010).
A média das concentrações de sólidos totais dissolvidos (TDS) nas águas do rio Tapajós
foi de 7 ppm, sendo o menor valor, 5 ppm, repetindo em cinco pontos de coleta (Tapajós/Apuí,
Tapajós/Jacareacanga, Tapajós/Montante do Tropas, Tapajós/Creporí e Tapajós/Jamanxim), e
o máximo, 20,0 ppm, encontrado no ponto Tapajós/Jusante Jamanxim. Na foz dos rios
tributários, a média para essa variável foi de 11,7 ppm, com um valor mínimo de 7 ppm no rio
das Tropas e um máximo de 20 ppm no rio Cuparí. Como anteriormente explicado, a elevada
concentração iônica no rio Cuparí provavelmente esteja diretamente ligada a ocupação
desordenada na bacia deste rio. Os processos de lixiviação ocasionados pelas chuvas intensas
na região e associados a retirada da cobertura florestal, principalmente nas elevações, têm
contribuído para o aporte de cargas iônicas para a calha do Cuparí, as quais são transportadas
para as águas do rio Tapajós.
Bacelar et. al. (2013) encontraram o maior valor de TDS na foz do rio Pacu com 22
mg/L e o menor 5,99 mg/L em frente à Vila Penedo no município de Itaituba. O valor na foz
do rio Pacu foi 3 vezes superior ao encontrado neste trabalho, no qual este alto valor de cargas
iônicas pode estar relacionado as atividades de dragagem no leito do rio no determinado período
de coleta.
Sabe-se que a medida da transparência pode ser considerada uma variável de qualidade,
uma vez que estima a profundidade da zona fótica, ou seja, a profundidade de penetração
vertical da luz solar na coluna d’água, que indica o nível da atividade fotossintética naquele
corpo hídrico. Os valores de Secchi para transparência da coluna d’água no rio Tapajós
oscilaram de 0,20 m no ponto Tapajós/Montante Rato a 2,30 m no Tapajós/Santarém, com
média de 0,70 metros. Já na foz dos afluentes, a média da transparência da água foi 0,30 m,
com mínimo de 0,10 m no ponto Rato-Foz e com máximo de 0,47 m para o ponto Cuparí-Foz.
Para rios de águas claras a visibilidade do disco de Secchi, segundo Sioli (1984), apresentou
1,10 m a 4,30 m de visibilidade. Dentro desse padrão Silva (2012) e Bacelar et al. (2013)
calcularam a média da visibilidade de 1,91 m e 1,87 m para as águas do rio Tapajós
respectivamente. Neste trabalho, dos 20 pontos das medidas de visibilidade do disco de Secchi,
com exceção dos valores de 3 pontos extremos (Tapajós/Apuí - Região Montante,
49

Tapajós/Jacareacanga - Região Garimpo e Tapajós/Santarém - Região Jusante) 17 deles não


ultrapassaram 90 cm de visibilidade do disco, correspondendo estes pontos a 100%. Isso mostra
que tais valores não alcançaram o valor mínimo de visibilidade ao disco de Secchi para águas
claras proposto por Sioli, 1984. Também é exponencial frisar que dos 20 pontos de coleta na
calha do rio Tapajós 50% destes não ultrapassaram 50cm de visibilidade, valor limite superior,
proposto por Sioli, 1984 para rios de águas brancas compreendido a faixa entre 0,10m e 0,50
metros. Para os valores dos pontos extremos de acordo com a tabela 2 apresentam valores
próximos a 2,0m e que se aproximam dos valores encontrados por Silva, 2012 e Bacelar et al.,
2013 e que estão dentro da faixa padrão para rios com águas claras proposta por Sioli, 1984.
Dos afluentes estudados, com exceção do rio controle, todos apresentaram valores
inferiores a 50cm de visibilidade do disco de Secchi, sendo os menores e mais críticos valores
10cm na foz do rio Rato, seguido de 12 cm no rio Pacu, e 15cm no Creporí. Os maiores valores
encontrados foram: 43cm na foz do rio Jamanxim e 47 cm na foz do rio Cuparí que também
podem ser considerados críticos, pois não apresentam quantidades elevadas de sedimentos em
suspensão em suas águas, porém altos valores de condutividade elétrica, sólidos totais
dissolvidos e cor verdadeira da água de acordo com a tabela 2.
Os resultados discutidos aqui são reflexos das grandes modificações no continum
geológico do rio Tapajós e provavelmente na bacia de drenagem de seus afluentes, sendo os
impactos da mineração, do desmatamento, da agropecuária e da expansão urbana fortes fatores
responsáveis pela deposição de matéria orgânica e inorgânica nos ecossistemas hídricos,
alterando as variáveis físicas e químicas que certamente influenciam diretamente na biota
aquática da região, as quais necessitam de emergentes estudos ecotoxicológicos e
comportamentais.
Quanto a cor verdadeira das águas do rio Tapajós, a média encontrada foi de 45,5
mgPt/L, apresentando valor mínimo de 0 mgPt/L recorrentes em pontos extremos do rio como
(Tapajós/Apuí, Tapajós/Montante Tropas, Tapajós/Fordlândia e Tapajós/Santarém) e valor
máximo de 230 mgPt/L no ponto Tapajós/Jusante Creporí. A média encontrada para a cor
verdadeira das águas da foz dos afluentes do Tapajós foi 132 mgPt/L, sendo mensurada a
mínima, 40 mgPt/L, na foz do rio das Tropas e a máxima, 293 mgPt/L, na foz do rio Rato
seguido da foz do rio Cuparí com 220 mgPt/L. Estes valores elevados estão diretamente
relacionados ao elevados valores das variáveis turbidez, condutividade, sólidos totais
dissolvidos, visibilidade do disco de Secchi, bem como a concentração de sedimentos em
suspensão advindos dos processos erosivos naturais e antrópicos de suas bacias de drenagem.
50

Para as águas do rio Tapajós Silva (2012) encontrou na ria deste rio média de 27 mgPt/L
para a cor dessas águas, enquanto que Bacelar et al. (2013) obtiveram ao longo do rio uma
média de 18,8 mgPt/L, bem como uma média de 35 mgPt/L para as águas da foz de seus
afluentes. No presente trabalho, os valores médios determinados para as águas da calha do rio
Tapajós e águas da foz de seus afluentes foi 2,5 e 3,7 vezes superiores, respectivamente, aos
valores médios encontrados por Bacelar et al. (2013). Infere-se que esses valores,
provavelmente estejam relacionados a efeitos sinérgicos dos processos erosivos, com a
pluviosidade local, e a hidrodinâmica dos rios nos períodos de coleta.
A média das concentrações de sedimentos em suspensão nas águas do rio Tapajós ficou
na ordem de 27,8 mg.L-1, oscilando de 1,0 mg.L-1 no ponto Tapajós/Santarém a 181,5 mg.L-1
no Tapajós/Jusante Creporí já com influência das águas do rio Cuparí sobre as do Tapajós. No
que diz respeito aos valores encontrados na foz dos afluentes a média foi de 52,8 mg.L-1, tendo
seu valor mínimo de 8,7 mg.L-1 no rio Cuparí e máximo de 179,8 mg.L-1 encontrado nas águas
da foz do rio Rato, demostrando uma maior concentração comum na foz dos afluentes e na zona
de confluência.
Para as águas na calha do rio Tapajós Bacelar et al. (2013) determinou a média da
concentração comum em 4,06 mg.L-1. Este valor foi 7 vezes inferior a média encontrada no
presente trabalho. Os maiores valores encontrado por Barcelar et al. (2013) foram nas foz dos
três rios estudados: rio Pacu com 28,5 mg.L-1, rio das Tropas com 34,5 mg.L-1 e rio Crepori
com 88,5 mg.L-1. As concentrações de sedimentos nos rios Pacu e das Tropas foram
aproximadamente 2 vezes superiores as encontradas neste trabalho, demonstrando prováveis
efeitos das atividades naturais e antrópicas mais intensas nas suas bacias de drenagem. A
concentração no rio Creporí não diferenciu tanto da encontrada neste trabalho com a dos autores
em discurso: 81,9 mg.L-1 e 88,5 mg.L-1 respectivamente e que provavelmente as atividades de
maior impacto negativo como a garimpagem estreja contribuindo relativamente para alta carga
de sedimento em suspensão como mostra a figura 7. Telmer et al. (2006) haviam confirmado
que o rio Creporí apóia importantes atividades de mineração de ouro, e que a erosão física é
causada, principalmente, pelo aumento dessas operações.
As concentrações de Background dos sedimentos suspensos nas águas do rio Tapajós a
montante da pluma do rio Creporí são 7 mg.L-1. O Creporí tem concentrações de sedimento em
suspensão acima de 500 mg.L-1, mas no passado fluiu com águas claras como as do rio Tapajós
(Telmer et al., 2006) e com a intensificação da mineração, o Tapajós também passou a ser
consediderado um rio de águas brancas (Malm et al., 1995) e que contemporaneamente essa
característica ainda persiste.
51

Figura 3 - Atividade garimpeira no rio Creporí. Figuras A e B mostram área aberta na floresta como ponto de
garimpo; (B) mostra zona de sedimentação na curva do rio, processo de formação de meandro; As setas em A, C
e D mostram balsas atuando no leito do Creporí. Fotos: Rodrigo Balbueno, 2012; Análises e modificações de
Augusto Maia.

. A elevação do preço do grama do ouro na bolsa de valores internacional e o aumento da


quantidade do metal produzida são diretamente proporcionais ao aumento da concentração de
sedimentos em suspensão nas água dos rios que drenam áreas de garimpo como o Creporí, bem
como outros rios da Bacia do Tapajós como o rio Rato que apresentou altos valores de
concentração de sedimentos em suspensão. Dados de Lobo et al. (2015) que o aumento no valor
do preço do ouro aumenta a atividade garimpeira e consequentemente a liberação de cargas de
sedimentos no leito dos rios Creporí e Tocantins.

Verificou-se as altas concentrações de sedimentos em suspensão nas águas do afluentes


localizados na Região Garimpo, encontradas neste trabalho, corroboram com o aumento do
preço do ouro no Brasil após a retomada da atividade garimpeira por volta do ano 2000 segundo
52

dados histórico do Gold Price (2016) demostrando uma rápida elevação do preço do metal (R$
146,00 em 22 de março de 2016), diferentemente dos anos anteriores (figura 8).

Figura 4 - Dados históricos do preço do ouro no Brasil de 1975 a 2016. Fonte: Gold Price, 2016.

O rio Arapiuns, maior tributário do rio Tapajós, localizado à margem esquerda, sem
indícios de atividades garimpeira de ouro, foi usado como um controle para efeito de
comparação com os pontos analisados na bacia do Tapajós que possuem influência pela
atividade garimpeira. Este rio possui algumas características relevantes como: águas claras e
ácidas, baixa turbidez e alta visibilidade ao disco de Secchi.
O rio Arapiuns possuem uma colaração aparentemente escura, mas na verdade possui
águas cristalinas, que somado aos baixos valores de demanda bioquímica de oxigênio – DBO e
acidez menos acentuada, além de seu baixo valor de carbônico dissolvido conforme constatado
por Cunha et al., 2011 caracterizando-o como um rio de águas claras.
Cunha et al. (2011) comentou que o rio Arapiuns seria um “falso” rio de água preta,
porém é necessário mais do que um rio aparentemente escuro para que esse seja classificado
com “rio de água preta”, no conceito proposto inicialmente por Sioli (1950).
Os valores das variáveis mensuradas nas águas da foz do rio Arapiuns estão
apresentados no final da tabela 2.
53

4.2 CONCENTRAÇÕES DE Hg TOTAL EM SEDIMENTOS DE LEITO EM REGIÕES


COM E SEM ATIVIDADE GARIMPEIRA

A ação mecânica da água é responsável por separar as diversas granulometrias das


partículas de sedimento, constituindo um gradiente de tamanho e variando suas posições
conforme a velocidade da água (Wetzel, 1993).
A remobilização de solo contaminado e a transferência de Hg para os sistemas aquáticos
aumentam tanto as entradas de Hg como as taxas de acumulação de sedimentos (Yang et al.,
2016).
Antecedente as análises de Hg total nos sedimentos de leito realizou-se o fracionamento
de cada camada de sedimento separando as frações granulométricas <63µm (silte e argila) e
≥63µm (areia). As determinações do analito de interesse foram realizadas na matriz com
granulometria menor que 63 micrômetros, pois esta fração é a mais ideal para análise da
concentração de metais (Mozeto, 2007), visto que os minerais argilosos apresentam uma menor
área por volume que as partículas expõem a solução, realizando uma maior quantidade de
adsorção de íons (Krauskopf, 1972). Tais partículas finas compostas por silte e argila possuem
capacidade de troca catiônicas relevantes (Gibbs, 1977; Siqueira e Aprile 2012) e que existe
uma relação diretamente proporcional entre as concentrações de metais e as proporções de
matéria fina, assim como a concentração de matéria orgânica presente nestas.
É de conhecimento que os ambientes lóticos são caracterizados por possuírem alto nível
de heterogeneidade espacial (como difereças na profundidade e velocidade de fluxo) e temporal
(variações das condições climáticas), fornecendo um habitat que difere dos ambientes lênticos,
pois estão sujeitos às mudanças ao longo de seu percurso, sendo estas associadas as
propriedades físicas, químicas e biológicas do ambiente. Com base nisso e de maneira geral a
distribuição, das duas frações granulométricas, mostrou-se heterogênea por regiões de coleta
ao longo do rio tapajós e nas foz de seus afluentes. Neste sentido, para os pontos coletados ao
longo do canal do rio Tapajós a porcentagem mínima da fração <63µm foi de 0,4% no ponto
Tapajós/Santarém e máxima de 33,03% no ponto Tapajós/Belterra, com média para o canal de
11,7%. Do mesmo modo, para as foz dos afluentes da margem direita do rio Tapajós, a média
do percentual em massa de sedimento de leito <63µm foi de 9,5%, sendo o valor mínimo de
0,01% para as foz dos rios Tropas e Creporí e máximo de 37,69% na foz do rio Cuparí. Para o
rio Arapiuns, escolhido como rio controle/background neste estudo, os percentuais de
granulometria <63µm e ≥63µm foram respectivamente 13,9% e 86,1%. Foram encontrados na
ria fluvial do rio Tapajós as maiores porcentagens em massa de sedimento fino, objeto de
54

análise de mercúrio total, constituindo este trecho como uma zona de sedimentação com
menores velocidades de correnteza.
De forma geral encontrou-se um percentual médio de 10% em massa para fração <63µm
e 90% para a fração ≥63µm tanto para os pontos na calha do rio Tapajós quanto para os pontos
na foz de seus afluentes incluindo também o rio controle/background.
A figura 9 mostra a distribuição dos percentuais em massa das duas frações
granulométricas por ponto de coleta ao longo do rio Tapajós e os afluentes estudados.

% fração menor que 63 µm % fração maior ou igual a 63 µm


100
% em massa das frações granulométricas de SL

80

60

40

20

0
Tapajós/Fordlândia
Tapajós/Pimental
Tapajós/Jacareacanga

Tapajós/Jatobá
Tapajós/Montante Rato

Tapajós/Jusante Rato

Jamanxin - Foz
Tapajós/Montante Tropas

Tapajós/Montante Pacu
Tropas - Foz
Tapajós/Jusante Tropas

Crepori - Foz

Tapajós/Montante Jamanxim
Tapajós/Apuí

Tapajós/Penedo
Pacú - Foz
Tapajós/Jusante Pacu

Tapajós/Jusante Creporí

Rato - Foz

Cuparí - Foz
Tapajós/Montante Cuparí

Tapajós/Jusante Cuparí
Tapajós/Belterra
Tapajós/Santarém
Tapajós/Jusante Jamanxim

Arapiuns (CONTROLE)
Tapajós/Montante Creporí

Figura 5 – Percentual em massa das frações granulométricas de sedimento de leito (SL) <63 µm e ≥63 µm ao
longo do rio Tapajós e foz dos afluentes estudados.

Ao analisar as concentrações médias de sedimentos finos do leito dos rios Bacelar et al.
(2013), encontrou uma média de 17,82% no Tapajós e 18,94% para os afluentes Tropas, Pacu
e Creporí. A média para os afluentes é cerca de 2 vezes superior a determinada neste trabalho,
sendo que neste deve-se levar em consideração os valores percentuais para os rios Rato,
Jamanxim e Cuparí. O alto valor de sedimento fino encontrado por este autor no faz do rio
Creporí provavelmente deva estar relacionado a localização do ponto de coleta na zona de
barramento do rio Tapajós sobre as águas do Crepori, e que pode estar havendo um elevado
teror de sedimentos finos próximo a foz deste rio. O baixo valor de sedimento fino (0,01%)
encontrado neste trabalho tanto na foz dos rios das Tropas quanto do rio Creporí, foram
55

coletados a 500 metros a montante das suas confluências, sendo tais rios com baixa
profundidade e seus sedimentos com características de areia grossa lavada. Nesses locais dos
rios no detreminado período de coleta apresentaram aproximadamente 100% de sedimento da
fração ≥63µm.
No entanto a quantidade de sedimentos em suspensão é mais elevada, principalmente
no Creporí, inferindo-se que toda a carga desses sedimentos estejam sendo transportadas na
coluna d’água ao longo do rio e quando próximo ao barramento pelo Tapajós, parte dos
sedimentos sofrem precipitação no leito do rio e parte adentrando o rio Tapajós, seguindo o
fluxo, sedimentando em áreas de remanso, bordas de ilhas, e na ria fluvial deste rio.
As maiores quantidades de sedimento em suspensão estão localizadas na Região
Garimpo, como veremos a diante, sendos os rios Cuparí e Rato os maiores contribuintes para a
descarga de semento no Tapajós. Os baixos valores de sedimentos finos no leito das foz dos
afluentes Tropas e Creporí são inversamente proporcionais aos valores de sedimentos em
suspensão demostrando que no ponto de coleta no dado período o rio não sedimenta esses
materiais sólidos. Outro fato interessante mostra que os pontos localizados no Tapajós a 500m
a montante da foz dos tributários apresentaram valores elavados na Região Garimpo,
demosntrando que as as águas dos afluentes influenciam no Tapajós pelo aporte de sedimentos
em suspensão ou pelo barramento dos tributários atuando consequentemente na redução da
velocidade de fluxo das águas do rio Tapajós. Após os rios afluentes lançarem suas águas no
Tapajós observa-se uma maior quantidade de sedimentos em suspensão que provavelmente
esses resultados possam estar ligados a um efeito cinérgico integrando sedimentos em
suspenssão dos tributários e do Tapajós advindos de outros afluentes a montante.
Ao atingir zonas de confluência, as quais encontram resistência pelo barramento do rio
com maior vazão, onde parte do materal particulado em suspensão, presente nas águas fluviais,
pode ser depositado, fazendo com que essas zonas atuem como verdadeiras barreiras
geoquímicas ao transporte de mercúrio para o Tapajós.
No tocante as concentrações médias de Hg total em sedimentos de leito (SL) somente
para as camadas primárias de 0-2cm na interface água-sedimento, não variaram
significativamente (F(2,23) = 1,1047, p = 0,34827) entre as Regiões Montante, Garimpo e Jusante
com valores de 105 ɳg.g-1, 298 ɳg.g-1 e 177 ɳg.g-1 respectivamente, como mostra a figura 10A.
Porém, considerando-se as concentrações médias de Hg total para as camadas de sedimento de
leito para o perfil de 0-30 cm para as Regiões: Montante, Garimpo e Jusante, obteve-se uma
diferença significativa entre estas (F(2, 386) = 10,644; p=0,00003), sendo os valores distribuídos
respectivamente por Região: 76 ɳg.g-1, 826 ɳg.g-1 e 130 ɳg.g-1 como se observa na figura 10B.
56

Esses resultados evidenciam a importância da análise integrada das concentrações de


Hg total por um número elevado de camadas em um perfil vertical de 0-30cm e que tais
resultados provavelmente possam ser mais consistente em profundidades superiores as
realizadas neste trabalho.

1600
[A]
1400

1200
[Hg]Total SL <63µm ng.g-1 (peso seco)

1000

800

600

400

200

Região Montante Região Garimpo Região Jusante

1600
[B]
1400

1200
[Hg]Total SL <63µm ng.g-1 (peso seco)

1000

800

600

400

200

Região Montante Região Garimpo Região Jusante

Figura 6 - Os gráficos A e B mostram as concentrações médias de Hg total por região de coleta,


independentemente de pontos. [A]: médias obtidas somente para a camada superficial (0-2 cm); [B]: médias
obtidas para as camadas do perfil de 0-30 cm de profundidade.
57

Considerando-se os locais de coletas ao longo do canal principal do rio Tapajós e


também na foz de seus afluentes, independentemente de região de amostragem e das camadas
de sedimentos, as concentrações de Hg total variaram de 56 ɳg.g-1 (Tapajós/Santarém) a 11.748
ɳg.g-1 (Tapajós/Penedo), com média proximadamente 609 ɳg.g-1. As concentrações médias para
todos os pontos de coleta, bem como as concentrações expressas somente para a primeira
camada (0 – 2 cm) estão apresentadas na tabela 3.
As concentrações médias apresentadas na tabela 3 entre os pontos diferenciaram-se
significativamente entre si (F(25, 363) =29,468, p=0,0000), de tal forma que a concentração média
no ponto de coleta Tapajós/Penedo (região com intensa atividade garimpeira) foi extremamente
elevada em relação aos demais.

Tabela 3 – Concentrações de Hg total sedimento de leito ([Hg]Total SL) das camadas superficiais (0-2 cm) e das
médias de 0-30cm de cada ponto de coleta.
Rio/local [Hg]Total SL (ɳg.g-1) Média [Hg]Total SL (ɳg.g-
(0 – 2 cm) 1)

(0 – 30 cm)
Tapajós/Apuí 105 76
Tapajós/Jacareacanga 430 126
Tapajós/Montante Tropas 283 102
Tropas – Foz 144 183
Tapajós/Jusante Tropas 149 135
Tapajós/Montante Pacu 149 135
Pacu – Foz 222 186
Tapajós/Jusante Pacu 207 149
Tapajós/Montante Creporí 358 110
Creporí – Foz 255 175
Tapajós/Jusante Creporí 125 161
Tapajós/Penedo 1096 11748
Tapajós/Montante Rato 209 173
Rato – Foz 157 167
Tapajós/Jusante Rato 230 196
Tapajós/Jatobá 209 153
Tapajós/Montante Jamanxim 270 296
Jamanxim – Foz 651 469
Tapajós/Jusante Jamanxim 215 168
Tapajós/Pimental 146 103
Tapajós/Fordlândia 109 107
Tapajós/Montante Cuparí 187 129
Cuparí - Foz 369 194
Tapajós/Jusante Cuparí 256 205
Tapajós/Belterra 121 119
Tapajós/Santarém 52 56
Média 300 245 229 722
Arapiuns - Foz (CONTROLE) 105 75

Na figura 11 os dados foram logaritimizados com o intuito de melhorar a visualização


da flutuação entre os pontos no sentido longitudinal do rio Tapajós. Através da figura 11, é
58

possível visualizar que, dentre os tributários da margem esquerda do rio Tapajós com atividade
garimpeira, os sedimentos superfiais no leito (2cm) do rio Jamanxim apresentaram a maior
média de concentração de mercúrio total (651 ɳg.g-1), contribuindo, dentre os afluentes, com o
maior aporte de mercúrio total para o canal principal do mesmo.

Região Montante Região Garimpo Região Jusante


3,8
Região Montante

Região Garimpo
3,6

Região Jusante
3,4
Log [Hg]Total SL <63µm (peso seco)

3,2
3,0
2,8
2,6
2,4
2,2
2,0
1,8
1,6
1,4
Jamanxim - Foz

Tapajós/Pimental
Tapajós/Apuí

Tapajós/Jacareacanga

Rato - Foz
Pacu - Foz

Tapajós/Jatobá

Tapajós/Fordlândia
Tapajós/Penedo

Cuparí - Foz
Tropas - Foz

Creporí - Foz

Tapajós/Belterra
Tapajós/Jusante Pacu

Tapajós/Santarém
Tapajós/Jusante Creporí

Tapajós/Jusante Jamanxim
Tapajós/Jusante Tropas

Tapajós/Montante Creporí

Tapajós/Jusante Rato

Tapajós/Jusante Cuparí
Tapajós/Montante Tropas

Tapajós/Montante Pacu

Tapajós/Montante Rato

Tapajós/Montante Cuparí
Tapajós/Montante Jamanxim

Figura 7 - Logaritmo decimal das concentrações médias de Hg total em sedimentos de leito (Log [Hg]Total SL),
por região e pontos de coleta, independente das camadas.

Roulet et al. (1998), estudando solos da bacia do rio Tapajós, identificaram a textura
dos grãos como um fator determinante das concentrações de Hg nos latossolos e podzóis da
bacia de drenagem, na qual a fração <63 μm na ordem de duas a sete vezes mais concentrada
em Hg (170 – 360 ɳg.g -1) que a fração ≥63 μm (20 – 120 ɳg.g -1). Da mesmo forma Peleja
(2007), encontrou relação semelhante em solos de drenagens localizadas em reservas
ambientais na região de Manaus no estado do Amazonas, videnciando a fração <63 μm como a
mais importante para a adsorção do metal.
Para Petrúcio e Furtado (1998) os sedimentos arenosos com granulometria ≥63 até 2mm
apresentam como característica, reduzida concentração de carbono orgânico. No presente
estudo não se optou em realizar análise de Hg total nessa granulometria, justamente por que
59

foram encontradas baixas concentrações de Hg total em sedimentos arenosos em diversas


pesquisas (Roulet et al., 1998; Siqueira e Aprile, 2012; Bacelar et al., 2013).
Observou-se neste trabaho que a Região Garimpo apresenta grande influência no aporte
físico de sedimentos tanto no rio Tapajós, onde a presença de dragas e balsas, quanto nos seus
tributários. As águas nos pontos com atividade garimpeira apresentaram elevados valores de
turbidez, demostrando que existe uma alta concentração de sedimentos em suspensão e isso faz
dos colóides argilosos veículos para o mercúrio em rios com essa característica física. Sendo
assim, os contaminantes fixados nos sedimentos, a partir de certo nível, implicam em riscos
para o ambiente e qualidade das águas.
O Canadian Council of Ministers of the Environment estabelece valores guias que
determinam o grau de contaminação do sedimento em lagos, lagoas e rios com vistas á proteção
da vida aquática, considerando a diversidade de organismos vive em contato direto com esse
compartimento (ENVIRONMENT CANADA, 1999).
Também a Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA 454, 2012)
baseia-se nos valores do orgão canadense e estabelece diretrizes gerais e procedimentos
referenciais para o gerenciamento de material a ser dragado em ambientes aquáticos sob
jurisdição nacional em dois níveis de contaminação:
a) Nível 1: 170 ɳg.g-1 (limiar abaixo do qual há menor probabilidade de efeitos
adversos à biota) e;
b) b) Nível 2: 486 ɳg.g-1 (limiar acima do qual há maior probabilidade de efeitos
adversos à biota).
Assim, a concentração média de Hg total para a Região Garimpo, independemente de
pontos e camadas de sedimentos, foi de 826 ɳg.g-1, bem acima do limiar estabelecido para o
Nível 2. Por outro lado, a concentração média de Hg total para esta região considerando-se
somente as camadas superficiais de 0 – 2 cm, foi de 298 ɳg.g-1, acima do limiar do Nível 1,
porém abaixo do Nível 2.
A tabela 4 evidencia que 46% das camadas superficiais de sedimento de leito
apresentaram concentrações de mercúrio total acima do limiar do Nível 1. Já para as médias
das concentrações das camadas do perfil 0-30 cm houveram 32% acima do Nível 1. Para o
Nível 2 registrou-se somente três valores extremamente elevados, sendo dois para as camadas
superficiais 0-2 cm encontrados nos pontos Jamanxim-Foz e Tapajós/Penedo. E outro para a
média das concentrações de Hg total para as camadas no perfil de 0-30 cm localizado também
no ponto Tapajós/Penedo.
60

Tabela 4 - Níveis de Hg estabelecidos pela Resolução CONAMA No 454/2012 e valores médios das
concentrações de Hg total nos perfis de sedimento de 0-30cm e apenas das médias das concentrações das camadas
superficiais (0-2 cm) de cada ponto coletado.

[Hg]Total SL Média [Hg]Total SL


Rio/local (ɳg.g-1) Nível (ɳg.g-1) Nível
(0 –2 cm) (0 – 30cm)
Tapajós/Apuí 105 N 76 N
Tapajós/Jacareacanga 430 1 126 N
Tapajós/Montante Tropas 283 N 102 N
Tropas – Foz 144 N 183 1
Tapajós/Jusante Tropas 149 N 135 N
Tapajós/Montante Pacu 149 N 135 N
Pacu – Foz 222 1 186 1
Tapajós/Jusante Pacu 207 1 149 N
Tapajós/Montante Creporí 358 1 110 N
Creporí – Foz 255 1 175 1
Tapajós/Jusante Creporí 125 N 161 N
Tapajós/Penedo 1096 2 11748 2
Tapajós/Montante Rato 209 1 173 1
Rato – Foz 157 N 167 N
Tapajós/Jusante Rato 230 N 196 1
Tapajós/Jatobá 209 1 153 N
Tapajós/Montante Jamanxim 270 1 296 1
Jamanxim – Foz 651 2 469 1
Tapajós/Jusante Jamanxim 215 1 168 N
Tapajós/Pimental 146 N 103 N
Tapajós/Fordlândia 109 N 107 N
Tapajós/Montante Cuparí 187 1 129 N
Cuparí – Foz 369 1 194 1
Tapajós/Jusante Cuparí 256 1 205 1
Tapajós/Belterra 121 N 119 N
Tapajós/Santarém 52 N 56 N
Arapiuns – Foz (CONTROLE) 105 N 75 N
Nível 1: 170 ɳg.g-1 (limiar abaixo do qual há menor probabilidade de efeitos adversos à biota);
Nível 2: 486 ɳg.g-1 (limiar acima do qual há maior probabilidade de efeitos adversos à biota);
N: representa valor normal.

Segundo o ENVIRONMENT CANADA (1999), nos locais onde existem níveis acima
dos recomendados pelo órgão, os organismos bentônicos estão passíveis de sofrer efeitos
biológicos adversos como fertilização reduzida, comprometimento do desenvolvimento dos
estágios iniciais de vida e até mesmo a morte. Como observado em estudos toxicológicos
realizados em Toronto Harbour, Ontario, onde ocorreu diminuição significativa da abundância
de Gastropoda e Chironomidae em ambientes acima do Nível 1 (170 ɳg.g-1) e Nível 2 (486
ng.g-1) em comparação a sedimentos que apresentavam concentrações de mercúrio abaixo dos
preconizados pelo Environment Canada e adotados pela Resolução CONAMA No 454 (2012).
A maior média de concentração de Hg total nos 30cm de sedimentos de leito foi
encontrada no canal principal do rio Tapajós (11.748 ɳg.g-1), no ponto Tapajós/Penedo
localizado próximo à Vila Penedo (município de Itaituba), uma região com intensa atividade
61

garimpeira em curso no canal do rio Tapajós, com presença de balsas dragando o leito do rio
(figura 12), produzindo o popular “arroto” que consiste no acúmulo de sedimento de areia
grossa retirada do leito do rio pelas dragas e balsas chupadeiras tendo o formato de bancos de
areia tanto no centro como nas margens dos rios. Para a camada superficial de 2cm de expessura
foi encontrado o valor 1.096 ɳg.g-1 no ponto Tapajós/Penedo.

Figura 8 - Balsas tipo draga retirando sedimentos do leito do rio Tapajós: A) Montante Jacareacanga; B) Próximo
Rato; C) Penedo; D) jusante Jatobá; atenção para o detalhe da coloração da água do rio Tapajós. Fotos: Augusto Maia,
2014.

Pfeiffer et al. (1989) defendem o valor de 200 ɳg.g-1 como concentração limiar de
referência para rios Amazônicos não contaminados, e no mesmo trabalho estes autores também
encontraram o valor 12.800 ƞg.g-1 em sedimentos de leito sob área de intensa atividade
garimpeira na região do rio Madeira. Suge-se que o valor encontrado para a Região Garimpo
no ponto Tapajós/Penedo localizado próximo à Vila Penedo seja um resultado consistente, pois
os valores se repetiram com as reanalises das 15 camadas de 2cm, demosntrando ser um valor
não anômalo. Outros valores altíssimos como 1.030 ƞg.g-1 foram encontrados rio Cadiriri,
afuente do Tapajós, por Santos e Brabo (1995), bem como 1.600 ƞg.g-1 encontrados no rio Rato,
62

também afluente do Tapajós, por Silva (1997). Logo o resultado encotrado em no ponto
Tapajós/Penedo não é surpriendente, visto que a área é bastante impactada. Segundo
informações pessoaos de Peregovich, 2015, que realizou trabalhos na área da Vila Penedo pelo
Centro de Tecnologia Mineral – CETEM, o trecho do rio Tapajós que corta a região de Penedo
é considerada uma zona de sedimentação. Verificou-se que as proximidades do ponto de coleta,
existe uma área desmatada onde consta uma pista de pouso. Cabe destacar aqui, também, que
a pluma de sedimentos em suspenssão do rio Creporí percorre sobre o ponto de coleta localizada
a margem direita do rio Tapajós e isso também pode ter gerado um efeito sinérgico local pelo
enorme acúmulo de cargas de mercúrio adsorvidas as finas partículas decantadas no leito do rio
Tapajós formando camadas de sedimentos com mercúrio não percolado em um tempo hábil.
Ainda na Região Garimpo observou-se que, próximo a município de Jacarecanga, há
uma grande concentração de mercúrio no ponto Tapajós/Jacarecanga para camada de 2cm (430
ƞg.g-1), sendo o valor classificado no nível 1 do CONAMA No 454 (2012).
Ainda que estes dados comparativos com a legislação ambiental sejam primários, há
uma grande necessidade de complementação de estudos ecotoxicológicos com organismos
testes da região do Tapajós e que tais valores tóxicos ao longo do continum do rio Tapajós,
evidenciam a possibilidade de ocorrência de toxidez e efeitos adversos ao ambiente e a saúde
humana.
A tabela 5 apresenta um panorama comparativo das concentrações de mercúrio total
aqui mensuradas com aquelas encontradas em sedimentos de leito em outros rios da região
Amazônica com e sem atividade aurífera. Nesta, é possível observar que as concentrações de
Hg total relatadas para sedimentos de regiões com influência de atividade garimpeira sempre
são mais elevadas como os encontrados por Santos e Brabo (1995) no rio Cadiriri com 1.030
ƞg.g-1, Silva (1997) no rio Rato e afluentes com 1.600 ƞg.g-1 e Pfeiffer et al. (1989) no rio
Madeira com 12.800 ƞg.g-1 corroborando-se neste estudo a atividade aurífera como sendo a
principal causa das elevadas concentrações de Hg total, principalmente nos sedimentos dos
pontos Tapajós/Penedo (canal do rio Tapajós), e nas foz do rio Jamanxim, áreas estas com
intensa atividade garimpeira.
63

Tabela 5 - Síntese de resultados de outros autores como base comparativa das concentrações de Hg total.

Rios com garimpos [Hg]Total SL (ηg.g-1) Autor/ano


Padberg (1990) apud Brabo et al.,
Tapajós (próximo a Itaituba) 3,12 - 93,3
(2010)
Cadiriri/Tapajós 187 - 1.030 Santos e Brabo (1995)
Rato e afluentes/Tapajós 230 - 1.600 Silva (1997)
Madeira/RO 50 - 12.800 Pfeiffer et al., (1989)
Bento Gomes/MT 10 - 250 Vieira e Alho (2004)
Madeira/RO 520 Galvão et al., (2007)
Tapajós (baixo rio Tapajós) 168 Roulet et al., (2000)
Tapajós (canal principal) 27,8 - 331,4 Bacelar et al., (2013)
Tropas/Tapajós 102,8 Bacelar et al., (2013)
Pacu/Tapajós 297,4 Bacelar et al., (2013)
Crepori/Tapajós 349,5 Bacelar et al., (2013)
Tapajós (Região Montante) 76 Neste estudo
Tapajós (Região Garimpo) 826 Neste estudo
Tapajós (Região Jusante) 130 Neste estudo
Rios sem garimpos [Hg]Total SL (ηg.g-1) Autor/ano
Acre – AC 18 – 184 Mascarenhas et al., 2004
Amazonas (foz) 85 Siqueira e Aprile (2012)
Arapiuns (CONTROLE) (foz) 75 Neste estudo

A escolha do rio Arapiuns, afluente da margem esquerda do rio Tapajós, foi


determinante para ser considerado o rio controle. Comparou-se suas concentrações de Hg total
nos sedimentos de leito e em suspensão com aquelas dos afluentes da margem direita do Rio
Tapajós bastante impactados pela atividade antropogênica, principalmente na Região Garimpo.
Assim, as concentrações médias de Hg total no rio Arapiuns, tanto para as camadas
superficiais (0 – 2cm) como para a coluna de sedimento (0 – 30cm) foram respectivamente, 75
e 105 ƞg.g-1. Estas concentrações estão na mesma ordem de magnitude das concentrações
encontradas nas Regiões Montante (76 ɳg.g-1) e Jusante (130 ɳg.g-1) do Tapajós, todavia estes
valores são 7,8 vezes inferiores a concentração média encontrada para a Região Garimpo (826
ɳg.g-1).
As concentrações médias de Hg total na foz do rio Arapiuns estão levemente abaixo
daquelas (168 ɳg.g-1) encontradas por Roulet et al., 2000, sugerindo uma diminuição da
precipitação do elemento nas camadas de sedimentos deste rio nos últimos 15 anos. Por outro
lado, conforme evidencia a tabela 7, as concentrações na foz do rio Arapiuns estão na mesma
ordem de magnitude daquelas encontradas por Mascarenhas et al. (2004) nos sedimentos de
leito do rio Acre e daquelas na foz do rio Amazonas Siqueira e Aprile (2007). Neste sentido
enquanto as concentrações de Hg total nas camadas de sedimentos do rio Arapiuns nas últimas
duas décadas permanecem relativamente estáveis ou decrescendo levemente, o contrário está
64

ocorrendo com as camadas de sedimentos do rio Tapajós, principalmente no trecho do canal


principal compreendido a jusante de Jacareacanga até à Foz do rio Jamanxim, com um outro
pico já no baixo Tapajós, na foz do rio Cuparí.

4.3 CONCENTRAÇÃO DE Hg TOTAL NAS CAMADAS DE SEDIMENTO DE LEITO


INDEPEDNTES DE PONTOS E REGIÕES DE COLETA

A característica apresentada pelos sedimentos, através da sua formação, permite extrair


informações sobre o histórico de deposições de contaminantes ao longo de suas camadas
(Mozeto, 2007; Esteves e Camargo, 2011).
Independentemente dos pontos de coleta e das regiões com e sem atividade garimpeira
as análises estatísticas demostraram que não houve uma diferença significativa entre as
concentrações das camadas (F(14, 374)=1,0916, p=0,36348), entretanto é perceptível a existência
de um aumento progressivamente das concentrações de Hg total em direção ao topo de perfil,
sendo os perfis com as maiores concentração do metal estando mais evidentes entre 4-6 cm, 6-
8 cm, 8-10 cm e 10-12 cm conforme a figura 13.

0--2

2--4

4--6

6--8

8--10
Camadas de sedimento (cm)

10--12

12--14

14--16

16--18

18--20

20--22

22--24

24--26

26--28

28--30

1,9 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6

Log [Hg]Total SL <63µm

Figura 9 - Logaritmo decimal das concentrações médias de Hg total por camadas de sedimento de leito (Log
[Hg]Total SL) independente de pontos de coleta e de regiões com e sem atividade garimpeira.
65

Segundo Lima (2008), a formação das camadas verticais de sedimentos pode evidenciar
em termos absolutos o acréscimo ou decréscimo de uma determinada espécie química ao longo
do tempo, dependendo, no entanto da taxa de influxo de certo elemento químico no ambiente
precipitando-se nas camadas.
Baseado nesta premissa verificou-se que existe uma crescimento aparente das
concentrações de mercúrio total no sentido da base para o topo de perfil, sendo condicionado
ao maior e crescente conteúdo de material sedimentar adsorvente, os argilominerais. Essa
capacidade das argilas é potencializada pela associação com a matéria orgânica, evidenciando
o incremento dos valores, em contraposição aos grãos de areia, os quais possuem pouca ou
nenhuma afinidade geoquímica com o mercúrio. Todavia, não se evidenciou uma diferença
significativa entre estas camadas.
Supõem-se que os perfis compreendidos entre 12 e 30 cm tenham uma maior
composição arenosa do que argilosa, sendo que o mercúrio está sendo percolado nesta coluna
não ocorrendo grandes variações de concentrações. Essa premissa se sustenta pelo fato das
proporções de areia serem maiores que 50% que as proporções de sedimento fino (silte e argila).
Bacelar et al., (2013) não encontraram uma diferença significativa entre camadas em perfil de
0–20 cm de sedimento de leito <63µm no canal principal do rio Tapajós.
Dada a enorme quantidade de Hg dentro de muitas bacias hidrográficas e o impacto das
mudanças climáticas, que provavelmente aumentarão a erosão do solo da bacia, a transferência
de Hg e os insumos para os sistemas aquáticos dessas fontes, provavelmente permanecerão
elevados por muitas décadas (Yang et al., 2016).

4.4 CONCENTRAÇÃO DE Hg TOTAL EM SEDIMENTOS EM SUSPENSÃO

Uma das formas de potencializar a avaliação longitudinal dos níveis de mercúrio total
em sedimentos de leito é incluir a análise da carga sólida em suspensão dos ambientes fluviais.
E dessa maneira, investigar possíveis vias de transporte do metal ao longo das drenagens.
Antecedente as determinações das concentrações de mercúrio nos sedimentos em
suspenssão, foram determinadas as concentrações comuns em massa por volume (mg.L-1) como
mostra a distribuição das massas por ponto de coleta e Regiões: Montante, Garimpoe Jusante
(figura 14).
66

200

Região Montante

Região Garimpo
180

Região Jusante
160

140
[SS] (mg.L-1)

120

100

80

60

40

20

0
Tapajós/Apuí

Pacu - Foz

Tapajós/Jusante Creporí

Cuparí - Foz
Creporí - Foz

Rato - Foz

Tapajós/Jatobá
Tropas - Foz

Tapajós/Penedo

Tapajós/Jusante Cuparí
Tapajós/Belterra
Tapajós/Santarém
Arapiuns (CONTROLE)
Tapajós/Jusante Tropas

Tapajós/Montante Cuparí
Tapajós/Jusante Pacu

Jamanxim - Foz
Tapajós/Jacareacanga
Tapajós/Montante Tropas

Tapajós/Jusante Jamanxim
Tapajós/Montante Creporí

Tapajós/Jusante Rato

Tapajós/Pimental
Tapajós/Fordlândia
Tapajós/Montante Jamanxim
Tapajós/Montante Pacu

Tapajós/Montante Rato

Figura 10 - Distribuição da concentração de sedimentos em suspensão ao longo do rio Tapajós.

Com base nisso, as análises das concentrações de Hg total nos sedimentos em suspensão
(SS), levando-se em consideração as Regiões Montante (234 ɳg.g-1), Garimpo (396 ɳg.g-1) e
Jusante (385 ɳg.g-1) e independentemente dos pontos de coleta, não evidenciaram uma
diferença significativa (F(2, 23)=0,32201, p= 0,72790) entre tais regiões, embora ocorra uma
maior concentração de Hg total na Região Garimpo e uma leve redução das concentrações
médias na Região Jusante no sentido longitudinal do rio Tapajós, caracterizando um sistema
hidrodinâmico evidenciado na figura 15.
67

800

700

600
[Hg]Total SS ng.g-1 (peso seco)

500

400

300

200

100

0
Região Montante Região Garimpo Região Jusante

Figura 11 - Concentrações de Hg total em sedimentos em suspensão ([Hg]Total SS) dependentes das Regiões
Montante, Garimpo e Jusante e independentes dos pontos de coleta.

A figura 16 evidencia a distribuição das concentrações de Hg total nos sedimentos em


suspensão por ponto de coleta e observa-se a contribuição das concentrações de mercúrio pelos
tributários do rio Tapajós no gradiente longitudinal deste, com destaque para a foz dos rios Pacu
e Jamanxim, ambos na Região Garimpo, e para a foz do rio Cuparí localizada na Região
Jusante.
68

Região Montante Região Garimpo Região Jusante


900

Região Garimpo
Região Montante

Região Jusante
800

700
[Hg]Total SS ng.g-1 (peso seco)

600

500

400

300

200

100

Jamanxim - Foz

Tapajós/Pimental
Tapajós/Apuí
Tapajós/Jacareacanga

Rato - Foz
Pacu - Foz

Tapajós/Jatobá

Tapajós/Fordlândia

Cuparí - Foz
Tropas - Foz

Creporí - Foz

Tapajós/Penedo

Tapajós/Belterra
Tapajós/Jusante Pacu

Tapajós/Santarém
Tapajós/Jusante Creporí

Tapajós/Jusante Jamanxim
Tapajós/Jusante Tropas

Tapajós/Montante Creporí

Tapajós/Jusante Rato

Tapajós/Jusante Cuparí
Tapajós/Montante Tropas

Tapajós/Montante Pacu

Tapajós/Montante Rato

Tapajós/Montante Cuparí
Tapajós/Montante Jamanxim

Figura 12 - Distribuição das concentrações de Hg total em sedimentos em suspensão ([Hg]Total SS) por pontos
de coleta e por Regiões Montante, Garimpo e Jusante

Os dados totais dos níveis de mercúrio encontrados nos sedimentos em suspensão (SS)
estão expostos na tabela 6. De modo geral o valor médio das concentrações de Hg total
encontrado em SS para o canal do rio Tapajós foi de 347,9 ƞg.g-1, apresentando a menor
concentração do metal (51,0 ɳg.g-1) no ponto extrem Tapajós/Santarém e o maior teor (749,1
ɳg.g-1) no ponto Tapajós/Jusante Cuparí localizados nas Regiões Montante e Jusante
respctivamente.
Em relação aos sedimentos em suspensão coletados na foz dos rios afluentes da margem
direita, a média geral das concentrações de Hg total encontrada foi bem maior (517,3 ɳg.g-1)
em relação a dos pontos dispostos no canal do rio Tapajós, com valor mínimo de 260,6 ɳg.g-1
e máximo de 742,8 ɳg.g-1 encontrados nas foz dos rios Creporí e Cuparí respectivamente.
69

Tabela 6 - Níveis de mercúrio total em sedimentos em suspensão ([Hg]Total SS) ao longo do gradiente
longitudinal estudado.

Rio/local [Hg]Total SS (ɳg.g-1)


Tapajós/Apuí 233,6
Tapajós/Jacareacanga 224,2
Tapajós/Montante Tropas 324,1
Tropas – Foz 466,7
Tapajós/Jusante Tropas 216,1
Tapajós/Montante Pacu 368,8
Pacu - Foz 679,7
Tapajós/Jusante Pacu 384,2
Tapajós/Montante Creporí 384,3
Creporí - Foz 260,4
Tapajós/Jusante Creporí 453,5
Tapajós/Penedo 183,8
Tapajós/Montante Rato 312,5
Rato - Foz 268,3
Tapajós/Jusante Rato 387,1
Tapajós/Jatobá 646,0
Tapajós/Montante Jamanxim 364,4
Jamanxim - Foz 686,0
Tapajós/Jusante Jamanxim 525,0
Tapajós/Pimental 532,1
Tapajós/Fordlândia 191,5
Tapajós/Montante Cuparí 200,0
Cuparí - Foz 742,8
Tapajós/Jusante Cuparí 749,1
Tapajós/Belterra 227,5
Tapajós/Santarém 51,0
Média 517,3 347,9
Arapiuns – Foz (CONTROLE) 121,6

As altas descargas de sedimentos dos rios afluentes estão contribuindo para o transporte
de grandes quantidades de mercúrio advindos de áreas impactadas pela atividade garimpeira,
além de outras de forte impacto como desmatamento ilegal e usos sequentes. Assim
Mascarenhas et al. (2004) encontraram maiores valores de concentrações em sedimentos
suspensos na coluna da água dos rios das bacia do Acre, onde não há indícios de atividade
garimpeira. Eles concluiram que a granulometria fina em suspenssão pode adsorver e trocar
íons com a solução, tronsportando-as ao longo do corpo d’água, depositando-se em outros
sítios. Logo Han et al. (2006) também reafirmaram a significância do efeito do material
particulado suspenso sobre a distribuição do Hg nos sistemas aquáticos.
70

Salienta-se que, durante pesquisa, não foram identificados garigmpos ativos no rio
Cuparí, apesar das elevadas concentrações de Hg nos sedimentos suspensos serem
inversamente proporciais as suas concentrações de sedimentos de leito, inferindo
provavelmente a adsorção de Hg esteja sendo realizadas não só através das partículas de
argilominerais, mas também que o mercúrio esteja sendo transportado a foz do rio Cuparí e
parte do trecho do rio Tapajós pelas forma iônica e coloidal.
Segundo Atkins (2003) quando um íon migra ele carrega consigo moléculas de água de
hidratação e, como os íons pequenos são hidratados mais extensivamente do que íons grandes,
os de raio pequeno têm, na realidade, um raio hidrodinâmico grande. Assim o raio atômico do
mercúrio é relativamente pequeno, da ordem de 150 ρm o que explica essa propriedade. Com
isso há uma alta eletronegatividade comparado ao grupo dos metais alcalinos fazendo com o
Hg tenha uma grande afinidade eletrônica promovendo o processo de quimiosorção na água de
forma mais consistente.
Já a principal característica dos colóides é a sua extensa área superficial comparada a
área de um material comum. Esse enorme aumento da área significa que os efeitos de superfície
são de importância dominante na química dos sistemas dispersos (Atkins, 2003) e que os
colóides hidrofílicos incluem também os sóis metálicos. A formação de sóis em reações de
precipitação é promovida por uma pequena concentração de eletrólitos na água, caso do Cuparí,
pois íons na água tendem a neutralizar a carga elétrica nas partículas do sol, facilitando sua
coagulação.
O elemento mercúrio (Hg) tem um raio atômico pequeno com alta eletronegatividade
comparado ao grupo dos metais alcalinos. Essas propriedades fazem com que o elemento tenha
uma grande afinidade eletrônica promovendo o processo de quimiosorção na água de forma
mais consistente.

4.5 RELAÇÃO DOS TEORES DE Hg TOTAL ENTRE SEDIMENTOS DE LEITO E


EM SUSPENSÃO

Conforme evidencia a figura 17, ao se confrontar a média das concentrações de Hg total


dos sedimentos de leito (0-2cm) com as médias das concentrações dos sedimentos em
suspensão, independentemente das regiões e dos pontos de coleta, a média dos sedimentos em
suspensão (387 ± 210 ɳg.g-1) foi significativamente mais elevada que a dos sedimentos de leito
(258 ± 192 ɳg.g-1) (t 50 = -2,311; p = 0,025).
71

500

450

400
[Hg]Total ng.g-1 (peso seco)

350

300

250

200

150
SL SS

Figura 13 - Médias das concentrações de Hg total em sedimentos de leito (SL) das camadas superficiais (0-2 cm)
e de sedimento em suspensão (SS), independentes de pontos de coleta e das Regiões Montante, Garimpo e Jusante.

O mercúrio dissolvido possui afinidade por materiais particulados e colóidais, nas


superfícies realiza o processo de adsorção.
No presente não se observou diferença significativa das concentrações de Hg total entre
as Regiões Montante, Garimpo e Jusante, o que permite inferir que as partículas em suspensão
são bastante finas, e possivelmente de origem alóctone ao canal principal, estas permanecem
muito mais tempo em transporte suspenso na coluna d’água ao longo do gradiente do canal,
com picos de Hg total nas desembocaduras dos rios afluentes antropizados por garimpos e
outros usos do solo, como nos casos das desembocaduras dos rios Tropas, Pacu, Creporí e
Jamanxim, na Região Garimpo, e do rio Cuparí, na Região Jusante (Figura 10).

A figura 18 compara as distribuições das concentrações de Hg total em sedimentos de


leito (SL) menor que 63 µm das camadas superficiais (0-2cm) de cada ponto de coleta com os
teores de Hg total em sedimentos em suspensão (SS) maior que 0,45µm na coluna d’água no
sentido longitudinal do rio Tapajós.
72

SL <63µm SS >0,45µm
1200

Região Montante

Região Garimpo

Região Jusante
1000
[Hg]Total ng.g-1 (peso seco)

800

600

400

200

0
Tapajós/Jacareacanga

Tapajós/Fordlândia
Tapajós/Apuí

Tapajós/Montante Crepori

Tapajós/Jatobá

Tapajós/Pimental

Tapajós/Belterra
Tapajós/Jusante Crepori

Tapajós/Montante Rato

Tapajós/Montante Jamanxin

Tapajós/Montante Cupari
Tapajós/Montante Tropas

Tapajós/Penedo
Tapajós/Montante Pacú
Pacú - Foz
Tapajós/Jusante Pacú

Rato - Foz
Tapajós/Jusante Rato

Tapajós/Santarém
Jamanxin - Foz

Cupari - Foz
Tapajós/Jusante Cupari
Tapajós/Jusante Tropas

Tapajós/Jusante Jamanxin
Crepori - Foz
Tropas - Foz

Figura 14 - Distribuição das concentrações de Hg total em sedimentos de leito (SL) (0–2cm) e sedimento
suspensão (SS) no sentido longitudinal do rio Tapajós por pontos de coleta e Regiões Montante, Garimpo e Jusante.

Na Amazônia são escassos os trabalhos que investigaram a dinâmica das concentrações


mercuriais simultaneamente em sedimentos de leito e suspensos. Trabalhos desta natureza são
importantes para se detectar as concentrações de metais em sedimentos suspensos em tempo
real como mostra os resultados de mercúrio relativamente alto nessa matriz geológica.
Sedimentos de leito mostram o histórico contemporâneo e passado das deposições de
mercúrio em determinado período de tempo, requerendo também o conhecimento dos
acontecimentos de determinado local.
Mascarenhas et al. (2004) encontraram os maiores valores de concentrações em
sedimentos suspensos na coluna da água dos rios das bacia do Acre do que do leito, em áreas
onde não existe indícios de atividade garimpeira. Eles concluiram que a granulometria fina em
suspenssão pode adsorver e trocar íons com a solução, tronsportando-as ao longo do corpo
d’água, depositando-se em outros sítios. Han et al., 2006 também reafirmaram a significância
do efeito do material particulado suspenso sobre a distribuição do Hg nos sistemas aquáticos.
73

Com base nessa linha de raciocínio, a concentração média de Hg total nos sedimentos
suspensos determinadas em cada ponto de coleta, neste trabalho, foi significativamente mais
elevada que a dos sedimentos de leito, com alguns valores por ponto de coleta ultrapassando
em até três vezes o valor background de referência de 200 ɳg.g-1 para sedimentos de leitos de
rios Amazônicos, defendido por Pfeiffer et al. (1989). Somente dois pontos de coleta de
sedimento de leito obtiveram as maiores médias de concentrações de Hg do que as de
sedimentos suspensos, sendo estes Tapajós/Jacareacanga e Tapajós/Penedo, alcançando uma
razão de 2 e 6 vezes superiores as concentrações de Hg total em sedimentos suspensos
respectivamente.
Em uma pesquisa realada no encontro das águas dos rios Negro Maurice-Bourgoin et
al. (2003) chegaram a concentrações de Hg total extremamentes elevadas em material
particulado da ordem de 1130 a 2074 ɳg.g-1 sendo criticada pelos valores encontrados e que tais
valores foram superestimados como resultado de contaminação durante a amostragem ou a
manipulação das amostras. Na formação Alter do Chão, especificamente na foz do Lago Verde,
que possui desembocadura no rio Tapajós, Silva et al. (2012) determiram teores de Hg total em
material particulado resultando concentrações extremamente elevadas de 12050 a 74880 ɳg.g-
1
, sugenrindo que novos levantamentos sejam realizados para corroborar os índices alcançados
por estes autores. Somente o valor médio de concentração encontrado no ponto Tapajós/Penedo,
porém em sedimento de leito, pode corroborar o valor mínimo 12050 ɳg.g-1 encontrado por
Silva et al. (2012) sugerindo que em algumas áreas na Amazônia possam existir extremos
valores de concentração de mercúrio como foz de rios que sofrem barramento por outros rios
com maiores fluxos de velocidade, ilhas e curvas de meandros. Cabe complementar ao trabalho
de Silva e colabodores que provavelmente os igarapés que sustentam o Lago Verde possam
estar contribuindo também com a elevada carga de mercúrio adsorvido as finas partículas,
provenientes da área do entorno do lago, sujeitas a especulações imobiliárias.
A tabela 7 apresenta dados de concentração de Hg total em sedimentos em suspensão
do rio Tapajós e outras drenagens da Amazônia, bem como as concentrações encontradas nesta
estudo.
74

Tabela 7 - Comparação das concentração de Hg total em sedimentos em suspensão ([Hg]Total SS) do Tapajós
deste trabalho com outros.

Rios com garimpos [Hg]Total SS ηg.g-1 Autor/ano


Tapajós (50km jusante de 167 – 425 Roulet et al., (1998b)
garimpo)
Tapajós 217 Telmer et al., (1999)
Creporí/Tapajós 78 Telmer et al., (1999)
Madeira – AM 10–210 Maurice-Bourgoin et al., (2000)
Creporí/Tapajós 134 Telmer et al., (2006)
Tapajós (Região Montante) 234 Neste estudo
Tapajós (Região Garimpo) 396 Neste estudo
Tapajós (Região Jusante) 385 Neste estudo
Rios sem garimpos [Hg]Total SS ηg.g-1 Autor/ano
Afluentes/Tapajós (sem garimpo) 154 – 355 Roulet et al., (1998b)
Arapiuns /Tapajós (sem garimpo) 288 – 457 Roulet et al., (2001a)
Negro-AM (sem garimpo) 1130 – 2074 Maurice-Bourgoin et al., (2003)
Arapiuns /Tapajós (CONTROLE) 121 Neste estudo

Segundo Roulet et al. (1998) a maioria do Hg presente na coluna d’água do rio Tapajós
está associado a fração de finas partículas. Assim, infere-se que o Hg total dissolvido na coluna
d’água pode elevar as concentrações adsorvidas na superfície dos argilominerais suspensos,
transportando-os pelas correntes com consequente decantação em zonas de sedimentação
incluindo as ilhas no trecho acima da ria fluvial do médio Tapajós.

4.6 RELAÇÃO DOS NÍVEIS DE Hg TOTAL COM AS VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS

Com o intuito de investigar as relações potenciais do mercúrio total dos sedimentos em


suspensão (SS) e dos sedimentos de leito (SL) com as variáveis limnológicas estudadas
realizou-se uma análise de correlação de Pearson, a qual se encontra demonstrada na tabela 5.
O Hg total presente em sedimentos em suspensão (SS) correlacionou-se positivamente
com condutividade elétrica (r = 0,4065; p = 0,0393) e Sólidos Totais Dissolvidos (r = 0,4545;
p = 0,0197), e negativamente com a transparência de Secchi (r = -0,4774; p = 0,0136).
Não houve correlação significativa entre as concentrações de Hg total em sedimentos
de leito e as vareáveis limnológicas consideradas neste estudo. No entanto evidenciou-se 12
correlações clássicas significativas entres as variáveis limnológicas (tabela 8), dando uma maior
consistência a qualidade das investigações realizadas em campo e laboratório refletindo na
dinâmica limnológica fluvial vigente no período de estudo.
75

Tabela 8 - Matriz de correlação de (Pearson) entre a concentração de Hg total em sedimentos de leito e em suspensão com as variáveis limnológicas. Valores em destaque significam coeficiente
de correlação de Pearson significativos a nível de α< 0,05.≥≥

Hg total SL Hg total SS pH Temp. Turb. Cond. TDS Secchi Cor SS


(ɳg.g-1) (ɳg.g-1) (°C) (UNT) (μS.cm-1) (mg.L-1) (m) (mgPt/L) (mg.L-1)

Hg total SL (ɳg.g-1) 1,00


Hg total SS (ɳg.g-1) 0,08 1,00
pH 0,16 0,31 1,00
Temp. (°C) -0,01 -0,03 0,06 1,00
Turb. (UNT) -0,11 0,03 0,27 -0,40 1,00
Cond. (μS.cm ) -1
0,02 0,41 0,25 0,09 0,39 1,00
TDS (mg.L ) -1
0,08 0,45 0,21 0,04 0,28 0,93 1,00
Secchi (m) -0,17 -0,48 -0,25 0,25 -0,41 -0,27 -0,26 1,00
Cor (mgPt/L) -0,05 0,07 0,20 -0,42 0,94 0,50 0,40 -0,42 1,00
SS (mg.L ) -1
-0,12 -0,02 0,07 -0,40 0,93 0,31 0,21 -0,36 0,91 1,00
Hg total SL: mercúrio total em Sedimento de leito; Hg total SS: mercúrio total em sedimento em suspensão; pH: potencial hidrogeniênico; Temp.: temperatura; Turb.:
turbidez; Cond.: condutividade elétrica; TDS: sólidos totais dissolvidos (sigla do inglês); Secchi: transparência da água ao disco de Secchi; Cor: coloração; SS: sedimento em
suspensão.
76

As características morfológicas do canal fluvial e da hidrodinâmica da bacia tem tido


uma importante função como mecanismo de transporte e distribuição de mercúrio nos
sedimentos fluviais.
Para o trecho do hidrosistema Tapajós estudado, as concentrações de Hg total nos
sedimentos de leito não se correlacionaram com as variáveis limnológicas. No entanto, as
concentrações dos sedimentos em suspensão se correlacionaram com três variáveis:
condutividade, sólidos totais dissolvidos e transparência Secchi.
A relação das concentrações de Hg total foi diretamente proporcional com a
condutividade e sólidos totais dissolvidos (41 e 45%) e inversamente com a transparência
Secchi (-48%). A combinação desse sinergismo avaliada por meio de um modelo de regressão
múltipla - {r2 = 0,31; p = 0,002; n = 26; Y= 340,5 + 0,301condutividade + (-0,40 sechhi) +
resíduo}, explicam em torno de 31% das flutuações das concentrações de Hg no gradiente
fluvial, principalmente os picos na água pura dos tributários e a elevação abrupta na zona de
misturas dessas com as águas do canal do rio Tapajós (Figura 10).
Infere-se que os sedimentos finos em suspensão na coluna d’água do canal principal
do rio Tapajós são primariamente terrígenos/litogênicos (gerado no continente). Este material
derivado dos solos terrestres é aparentemente mais refractário e menos biodisponível. Hedges
et al. (1986) demonstraram que o material em suspensão fino (<63 µm) de rios amazônicos é
derivado predominantemente de ambientes terrestres, e encontra-se em um estado altamente
degradado, de baixo valor nutricional que é dificilmente aproveitado por bactérias e
zooplâncton. Todavia, dependendo das mudanças limnológicas encontradas ao longo de seu
percurso fluvial, como nas confluências de rios afluentes, as partículas superficiais deste
material podem ser um importante sítio de matéria orgânica e elementos traços. Nestas
situações o sedimento terrígeno passa momentaneamente para forma de sedimento
hidrogênico (sedimento formado dentro da coluna d’água).
Assim sendo, a água do canal principal do rio Tapajós apresenta baixo conteúdo de
eletrólitos com condutividade elétrica média extraída de trechos do canal principal sem
influência dos tributários, no período do estudo de 12,6 µS/cm. Já a condutividade elétrica
média dos tributários da margem esquerda, para o período foi de 23,5 µS/cm, com destaque
para o rio Cuparí com 43 µS/cm. Assim as águas dos tributários apresentam quase que o dobro
da condutividade elétrica da do canal do rio Tapajós.
Deste modo, as águas do rio Tapajós com menor condutividade, possuem baixo
conteúdo de eletrólitos e as cargas sobre as partículas repelem umas as outras. Quando a água
do rio Tapajós mistura-se com as dos tributários o pH e a composição iônica desta água
77

modificam-se levemente. A água dos tributários tem um maior conteúdo de eletrólitos, e


assim, a repulsão entre as cargas diminui, e quando as partículas colidem, elas se unem
formando flocos e adsorvem o Hg dissolvido. O mercúrio dissolvido tanto da água do Tapajós
quanto dos tributários, uma vez adsorvido a esses flocos de sedimento em suspensão, passa a
ser transportado pelo próprio sedimento, ficando o seu destino controlado pela hidrodinâmica
e pelas reações de partição entre água e sedimento, uma vez que a fase sólida é condicionada
pela sedimentação, que a remove da coluna d’água.

5 CONCLUSÕES

1- A influência da atividade garimpeira sobre os teores de Hg total em sedimentos de


leito no gradiente longitudinal da calha do rio Tapajós foi significativa, sendo as
concentrações mais elevadas na região garimpeira, do que nas regiões à montante e a jusante
desta;
2- Uma curva ascendente das concentrações de Hg total no sentido das camadas mais
profundas (30cm) (antigas) para as camadas mais superficiais (recentes) no sedimento de leito,
apontam para uma acumulação de Hg total contemporânea ativa no sistema fluvial;
3- As concentrações de Hg total nos sedimentos suspensos aumentaram discretamente ao
longo do perfil longitudinal do rio Tapajós, no sentido montante a jusante, com um decaimento
brusco na foz, na região de Santarém. Porém, esta flutuação não foi estatisticamente
significativa.
4- No gradiente longitudinal do rio Tapajós, apesar das concentrações de Hg total nos
sedimentos em suspensão serem mais constantes que as concentrações nos sedimentos de
leito, as primeiras foram significativamente mais elevadas que as segundas;
5- As variáveis limnológicas não evidenciaram nenhuma associação com a dinâmica do
Hg total nos sedimentos de leito, todavia, as variações nas concentrações do elemento nos
sedimentos em suspensão são potencializadas pelas variáveis limnológicas, condutividade,
sólidos totais dissolvidos e transparência Secchi. As duas primeiras com relação direta e a
terceira de forma inversa. As duas primeiras atuando principalmente na confluência do rio
Tapajós com seus afluentes antropizados e a segunda nas zonas de fluxo laminar e
sedimentação do canal principal;
78

6- As concentrações de Hg total analisadas nas camadas de sedimentos do maior afluente


do rio Tapajós (rio Arapiuns), situado na sua margem direita bem preservada, parecem estar
estáveis, comparando-se com dados pretéritos disponíveis na literatura dos últimos quinze
anos. O mesmo não acontecendo com a calha do rio Tapajós e seus tributários impactados da
margem direita, principalmente os rios Jamanxim e Cuparí, que estão contribuindo com cargas
significativas de Hg total para o leito do rio Tapajós, sendo as cargas do Jamanxim
provenientes da atividade garimpeira e desmatamento ilegal e do Cuparí de atividades como
desmatamente e e outras atividades sequenciais.
79

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