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A Constituição Federal de 1988 (CF/88) garante no cenário político


brasileiro formas de participação dos cidadãos que ampliam a
democracia porque incorporam outras formas de atuação cidadã
além do voto (PASSINI, 2015) (Figura 1).

Figura 1 – A participação nas decisões das políticas públicas


empodera os grupos sociais

Fonte:
Google imagens.

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Desta forma, após a CF/1988 iniciativas inovadoras surgidas no Brasil
ampliaram a participação do povo nas decisões do governo no
espaço institucional, abrindo caminho para uma democracia de alta
intensidade (VALANDRO, 2015). Surgiram movimentos sociais que
manifestam esferas de representação social em que cada sujeito
ocupa seu papel de agente dentro da sociedade. Santos e Avritzer
(2003, p. 15) pontuam:

A democracia é uma gramática de organização da sociedade e da relação entre o estado e a


sociedade.

Em consonância com a CF/1988 a capacitação de grupos sociais


através da sua representação na decisão de agendas e na elaboração
de políticas públicas tornou-se importante para a concretização de
um conjunto abrangente de direitos e a distribuição justa dos
recursos essenciais entre os grupos populacionais (CARVALHO, 2013).

Dentre as instituições participativas legalmente constituídas no Brasil,


os conselhos de políticas públicas têm notório papel (AVRITZER,
2007). A cultura da participação na formulação de políticas é criada
entre as comunidades e a sociedade civil, de um lado, e
representantes dos governos, do outro.

Entretanto, diversos obstáculos podem ameaçar o mecanismo de


participação e as formas legais de representação. Alguns governantes
tendem a resistir à gestão participativa e falta diálogo em
determinadas gestões governamentais com a população (JACOBI et
al., 2004).

A democracia deve abranger a participação da sociedade na gestão


governamental e deve ser objetivo central dos governantes, para isso
torna-se necessário implementar mudanças nas práticas do governo e
Empoderar é permitir em suas equipes de trabalho. Neste sentido, a participação de
que grupos sociais, movimentos sociais em conselhos (sociedade civil e governo) tem por
objetivo deliberar e/ou fiscalizar políticas públicas de grupos
dentre eles, os populacionais específicos, por exemplo, dos idosos, de mulheres, da
idosos, tenham voz e tutela de crianças e adolescentes e outros que atualmente têm
abrangência nacional (TOLEDO, 2013). Especificamente para a
decidam sobre temas população idosa, os conselhos e comissões foram criados para
orientar a administração pública com propostas de medidas para
que afetam melhorar a qualidade de vida desse segmento populacional (DEBERT,
diretamente suas 1996).

vidas. O ideal é que governantes estimulem a participação de


movimentos sociais na luta pelos direitos e forneçam meios para o

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empoderamento dos grupos vulneráveis com uma abordagem na
melhoria das condições de vida e saúde (STOTZ; ARAÚJO, 2004).
Nesse contexto, surge a ideia de empoderamento, termo
originalmente vindo da língua inglesa ‘empowerment’, referindo-se
à capacidade de indivíduos e grupos de terem autonomia, ou seja,
poder de decisão sobre o curso de ações a serem destinadas ao seu
bem-estar, definidas no campo de participação política, repercutindo
na esfera econômica, cultural, de saúde, entre outras (HOROCHOVSKI,
2006). Em síntese, empoderar é permitir que grupos sociais, dentre
eles, os idosos, tenham voz e decidam sobre temas que afetam
diretamente suas vidas. De acordo com Paulo Freire apud Valoura
(2011): ‘o empoderamento é a capacidade do indivíduo realizar, por si
mesmo, as mudanças necessárias para evoluir e se fortalecer’.

O contexto demográfico atual do Brasil é visto pela inversão da


pirâmide etária com a diminuição do número de nascimentos, queda
da fecundidade, e, aumento do número de idosos, com maior
longevidade, ou seja, as pessoas estão vivendo mais. As projeções
populacionais mais recentes informam que o grupo de idosos de 60
anos ou mais de idade será maior que o grupo de crianças com até
14 anos de idade após 2030 (Figura 2), e em 2055 a participação de
idosos na população total será maior que a de crianças e jovens com
até 29 anos de idade (IBGE, 2013).

Figura 2 – Pirâmides etárias para a população brasileira no ano


de 2016 e projeção para o ano de 2030

Fonte: O número de idosos com 60 anos ou mais na população, em 2020,


IBGE (2017). será de 28.3 milhões. A esperança de vida do brasileiro – que, em

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2010, era de 71 anos – deverá alcançar, em média, 78 anos em 2030 e
deve atingir os 80 anos em 2041 (IBGE, 2009). No entanto, os anos a
mais de vida alcançados pelos idosos brasileiros não são
acompanhados de boa saúde e qualidade de vida para uma
importante parcela, pois muitos idosos têm doenças crônicas e
incapacidades funcionais, além de baixos níveis de renda (IBGE, 2013).
Juntamente às mudanças demográficas e aumento do número de
idosos na população a velhice vai ganhando maior visibilidade social
e medidas que assegurem o protagonismo da pessoa idosa na
sociedade tornam-se inadiáveis. Dessa forma, a palavra protagonismo
tem sido muito utilizada, advinda do campo das Ciências Sociais, na
denominação de atores sociais que participam ativamente na
construção de uma identidade e de reconhecimento na sociedade
(MINAYO, 2001).

Realidade que exige encarar o envelhecimento com um novo olhar e


valorizar aspectos positivos da velhice, afastando qualquer
preconceito e desvalorização do idoso frente a estigmas sociais
enraizados. A cultura brasileira e muitas outras ainda têm como
prática o "desinvestimento" político e social do idoso, tendendo a
separar esses indivíduos, segregá-los e, real ou simbolicamente, a
desejar sua morte (PASCHOAL, 2007).

A velhice é definida por construção social, sendo vista por diferentes


maneiras dependendo do contexto cultural em diferentes regiões do
mundo. Por conseguinte, a forma de como a velhice é vista
repercutirá no tratamento dispensado aos idosos. A universalidade da
visão ocidental representa a velhice como um processo
marcadamente negativo de deterioração, de incapacidades e perdas.
Assim, originam-se estereótipos sociais que podem engendrar
preconceitos e valorização extrema da jovialidade (Figura 3).

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Figura 3 – Torna-se empoderador ver a velhice como uma fase da
vida como qualquer outra e não a busca pela eterna juventude

Fonte:
Google imagens.

Além do mais, em muitas sociedades a velhice é excluída e fica na


contramão do produtivismo capitalista, pois nessa visão, os idosos
não podem mais agregar como produtores de bens e riquezas.
Contrariamente, em culturas orientais a velhice é um tempo de
aquisição de conhecimento e progresso, delimitando uma cultura de
respeito aos mais velhos por suas experiências de vida e por tudo o
que o idoso pode oferecer à sociedade (BEAUVOIR, 1990; MOREIRA;
NUNES NOGUEIRA, 2008).

O cenário da longevidade ou alargamento da vida humana a


qualquer custo também revigora o conceito de juventude eterna.
Dessa forma, difunde-se a ideia de que o ideal é manter um corpo
jovem e nega-se qualquer atributo advindo da velhice (NUNES
NOGUEIRA, 2008). Lopes et al. (2007, p. 50) pontuam:

O padrão da estética e da beleza baseado somente na ótica do jovem e com a contribuição global
da mídia condena o envelhecimento, exalta a juventude e negligencia a velhice.

Na perspectiva de um novo envelhecer e de empoderamento dos


idosos, na tentativa de se quebrar paradigmas sociais da cultura

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brasileira, tem-se por ideal mostrar à sociedade formas de
envelhecimento positivo, destacando o protagonismo do idoso e
novas capacidades que podem vir com o envelhecimento. Em
consonância com esse propósito, as pessoas idosas, na atualidade,
querem equidade de direitos. Neste sentido, para concretizar as
potencialidades dos idosos é preciso que a sociedade mude as
atitudes e que as práticas políticas sejam construídas com a
perspectiva do ser que envelhece em um país que ainda se mostra
despreparado para a emergência do processo de envelhecimento da
sua população.

Paschoal (2007) assinala: ‘(...) É fundamental garantir a participação


dos idosos na vida econômica, política e social, participação como
cidadãos em plenos direitos e desenvolver plenamente seu potencial,
mediante acesso a recursos culturais, espirituais, educativos e
recreativos’. Os idosos tornam-se agentes de mudança no que se
relaciona às visões negativas sobre a velhice e norteiam avanços nas
políticas públicas brasileiras que assegurem qualidade de vida e bem-
estar sob uma nova forma de se vivenciar o processo de
envelhecimento fisiológico e a velhice.

Logo, atualmente, preconiza-se o envelhecimento ativo que é o


processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e
segurança (Figura 4), com o objetivo de melhorar a qualidade de vida
à medida que as pessoas ficam mais velhas (OMS, 2005).

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Figura 4 – Os três pilares da estrutura política para o
envelhecimento ativo

Fonte:
OMS (2005).

Visando medidas que garantem o envelhecimento ativo e


protagonismo social do idoso, ao longo dos anos, o Brasil tem
estabelecido políticas públicas que têm como foco a nova realidade
sociodemográfica. Neste sentido, muitos avanços já foram alcançados
para regulamentar os direitos dos idosos no Brasil, mas é
fundamental e urgente fazer valer o que está nas Leis. A Política
Nacional do Idoso (BRASIL, 1994) no artigo 1º destaca a finalidade da
Lei: ‘assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para
promover sua autonomia, integração e participação efetiva na
sociedade’. Assim, a partir do momento em que se ressalta a
autonomia busca-se estratégias que resultem no empoderamento, ou
seja, que visem aumentar o poder de decisão do próprio idoso sobre
seu curso de vida. De forma coletiva, tem-se por objetivo a
proposição de ações que garantem o bem-estar e qualidade de vida
dos idosos. O empoderamento implica no rompimento da lógica
dominante que não respeita os direitos e a participação dos idosos.
Aos avanços regulatórios constitucionais soma-se o Estatuto do Idoso
de 1º de Outubro de 2003 (BRASIL, 2003) que reitera no Artigo 8º: ‘O
envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um
direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente’. O
Estatuto do Idoso contempla diferentes aspectos da vida do idoso
assegurando a saúde física e mental, acesso à alimentação, educação,
cultura, esporte, lazer, trabalho, cidadania, liberdade, dignidade,
respeito e à convivência familiar e comunitária. Em suma, embora
ainda se tenha que conquistar muito no sentido da efetividade das
Leis no dia a dia dos idosos, o simples fato da existência desses

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dispositivos constitucionais que buscam resguardar direitos já
representa avanços significativos para a sociedade brasileira.

Atualmente, 64% de todas as pessoas mais velhas vivem em


regiões menos desenvolvidas e deverá aproximar-se de 80% em
2050 (ONU, 2017). A Declaração Política e o Plano de Ação
Internacional sobre o Envelhecimento de Madrid (2002, parágrafo 19)
pontua que: ‘Uma sociedade para todas as idades possui metas para
dar aos idosos a oportunidade de continuar contribuindo com a
Os princípios das sociedade. Para trabalhar neste sentido é necessário remover tudo
nações em favor das que representa exclusão e discriminação contra eles’. O Plano de
Ação orienta que mudanças de atitudes, políticas e práticas em todos
pessoas idosas os níveis são necessárias para atender as enormes potencialidades
propostos pela ONU dos idosos no século XXI. As recomendações específicas para ação
(1991) encorajam os dão prioridade às pessoas mais velhas no intuito de melhorar a saúde
e o bem-estar na velhice, bem como possibilitar ambientes de apoio
governantes a (ONU, 2017).
incorporarem algumas
Já os princípios das nações em favor das pessoas idosas propostos
medidas nos seus pela ONU (1991) encorajam os governantes a incorporarem algumas
programas nacionais na medidas nos seus programas nacionais na tentativa de se garantir
tentativa de se garantir independência, participação, assistência, realização pessoal e
dignidade.
independência,
participação, Princípios que também direcionam a necessidade de se considerar as
diferenças de gênero na velhice. A expectativa de vida dos homens é
assistência, realização de 72 anos ao passo que a de mulheres é de 79 anos (IBGE, 2017). As
pessoal e dignidade. mulheres vivem, em média, 7 anos a mais que os homens, o que
condiciona a feminização da velhice. Esses indicadores de expectativa
de vida direcionam a necessidade de políticas públicas que viabilizem
melhorias na promoção da saúde masculina ao longo da vida e
velhice. Soma-se a necessidade de empoderamento das idosas no
sentido de dar-lhes autonomia e independência, pois muitas
mulheres dessa geração foram dependentes economicamente dos
seus maridos, e, da mesma forma que nos dias de hoje, se veem em
fortes desigualdades de gênero e de direitos. Por sua vez, a discussão
da questão racial também é importante para garantia de direitos na
velhice. Mulheres e homens idosos negros por todo histórico de
desigualdades sociais, sejam econômicas ou educacionais, e,
preconceitos que por ventura tenham sofrido ao longo da vida,
necessitam de maior amparo do estado na garantia de direitos.
Concomitantemente, as diversidades sexuais devem ser consideradas
na perspectiva do indivíduo que envelhece para garantir
empoderamento na velhice. Os idosos homossexuais necessitam
desvencilhar-se de estigmas e preconceitos que se traduzem, na
grande maioria dos casos, em solidão na velhice. Assim, um olhar
mais atento das políticas públicas deve ser direcionado. Também com

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relação à sexualidade, os idosos têm confirmado cada vez mais o
protagonismo em se ter uma vida sexual ativa (Figura 5).

Figura 5 – Os idosos confirmam cada vez mais o protagonismo


em relação à vivência da sexualidade na velhice

Fonte:
Google imagens.

O envelhecimento populacional no Brasil sinaliza a necessidade de


pensar a velhice em uma perspectiva de ciclo de vida, ou seja, na
perspectiva do sujeito que envelhece. Neste sentido, estratégias de
políticas públicas para o envelhecimento bem-sucedido devem ter
cooperações intersetoriais. A intersetorialidade é a ação conjunta de
diversos setores governamentais promovendo a complementariedade
na apresentação de diretrizes para o estabelecimento de políticas
públicas. Desta forma, torna-se necessário a transversalidade de
ações entre setores que tenham como foco o idoso com outros, a
saber: infância e juventude, relacionados às questões de gênero,
direitos humanos e outros.

Nessa perspectiva, as políticas públicas governamentais devem


priorizar investimentos em educação no intuito de garantir melhores
condições de vida e saúde para a população, repercutindo em um
envelhecimento e velhice vivida com saúde e qualidade de vida.
Assim, na atual conjuntura, o país deve priorizar a qualidade do
ensino, levando-se em conta a valorização do professor do ensino
básico. À medida que há investimentos em educação grandes
avanços, ao longo da vida, são alcançados incluindo-se a redução da
desigualdade social. Os países onde se vive muito e com qualidade
de vida são exatamente os que apresentam menor desigualdade
social (OMS, 2011). Quando há bem-estar na velhice existe

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empoderamento do idoso na sociedade aumentando a participação
social e protagonismo nas decisões da vida familiar e comunitária.
Assim, os idosos livram-se do estigma de serem fardos para os filhos,
além de poder ser mais ativos na vida comunitária.

As propostas educacionais também podem ser direcionadas aos


idosos que não tiveram oportunidades em educação formal durante
outras fases da vida, tornando-se estratégia de empoderamento. A
aprendizagem e a compreensão pelos idosos de alguma temática
podem demandar estratégias pedagógicas específicas por parte do
educador. No entanto, trabalhos provenientes de Universidades
Abertas para a Terceira Idade (UnATIs) demostram a habilidade inata
do ser humano em aprender, independente de qualquer fase da vida
(DE OLIVEIRA; SANCHO SIMONEAU, 2012) (Figura 6 e Figura 7).

Figura 6 – Idosos voltam à escola e confirmam seu protagonismo

Fonte:
Google imagens.

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Figura 7 – Aprender computação facilita na interação social dos
idosos na atualidade

Fonte:
Google imagens.

Assim, os idosos se desvinculam de rótulos sociais de incapacidade


de aprendizagem na velhice. Aprender a fazer coisas novas, esportes
que nunca praticou e desvencilhar-se de rótulos é viver uma velhice
empoderada (Figuras 8).

Figura 8 – Alguns idosos veem na velhice um momento para


começar a praticar novas atividades de lazer e esportes

Fonte:
Google imagens.

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O momento de aposentadoria pode fazer com que alguns idosos
voltem ao mercado de trabalho para complementarem ganhos, tendo
em vista os baixos rendimentos. Alguns idosos também se dedicam a
uma segunda profissão após aposentadoria com o objetivo de terem
uma atividade no sentido de ocupar a mente. Novas formas de
trabalho e uma segunda profissão após aposentadoria também são
formas de empoderar o idoso e apresentam-se como novas
possibilidades de se viver a velhice (Figura 9).

Figura 9 – Muitos idosos retornam ao mercado de trabalho após


aposentadoria

Fonte:
Google imagens.

Em conjunto às políticas relacionadas à educação e lazer, estratégias


que visem à saúde devem ser pensadas e ser objetivo em todas as
políticas em busca de sociedades mais inclusivas e produtivas (OMS,
2011). O envelhecimento ativo que inclui a prática de atividades
físicas, alimentação saudável, manutenção dos papeis sociais e
segurança dos idosos deve ser foco das políticas públicas (ARANTES,
2016). Acrescenta-se a importância de garantir o acesso digno da
população idosa aos serviços de atenção à saúde. Os gestores de
serviços de saúde devem propor programas de acolhimento
específicos aos idosos nos diversos níveis de atendimento.

Em 2012 houve 169.673 hospitalizações por causas externas, sendo


que 50,9% delas se deveram a quedas e 9,2% a acidentes de trânsito
(BRASIL, 2014). O alto percentual de morbimortalidade de idosos por
causas externas apontam para a necessidade de garantir
acessibilidade e segurança nas vias urbanas. A limitação física em
idosos frágeis, advinda do envelhecimento fisiológico, ocasiona uma
diminuição da resposta a eventos que geram desequilíbrio, tornando-
os mais propensos às quedas e às repercussões severas desse evento.

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Assim, tornam-se necessárias melhorias nas vias urbanas onde a
população idosa transita, por exemplo, as calçadas com buracos ou
desníveis devem ser reformadas. Além da construção de rampas de
acesso para os idosos e a população em geral que faça uso de
dispositivos que auxiliem na mobilidade, seja cadeira de rodas ou
andadores. Também, o tempo de travessia do sinal verde nos
semáforos urbanos deve ser maior, haja vista as dificuldades motoras
de alguns idosos, e, o alto índice de atropelamentos nessa faixa etária
(LIMA; CAMPOS, 2011). Soma-se a necessidade de adaptação
gerontológica e orientação aos idosos no que se relaciona à melhor
segurança no domicílio. Orientações que incluem a necessidade de
corrimãos no banheiro (Figura 10) e, em outros locais, caso
necessário; luminosidade adequada em ambientes, bem como
tonalidade da luz que pode ofuscar a visão; verificação por parte de
algum profissional de qualquer item que possa provocar queda seja
animal de estimação que pode entrelaçar entre as pernas ou objetos
soltos no chão que facilitem escorregar.

Figura 10 – Exemplo de banheiro com dicas de segurança para


domicílios de idosos

Fonte:
Google imagens.

Hoje em dia, recomenda-se respeitar o ambiente domiciliar do idoso,


contudo, orientando-o com relação à segurança. Por exemplo, se tem
um tapete em algum local, não se deve retirá-lo e sim achar meios
para prendê-lo ao solo com fitas adesivas ou sob algum móvel. Da
mesma forma, em móveis pontiagudos como cama ou mesas o
indicado é colocar protetores de quina emborrachados. A maioria dos
idosos se levanta à noite para irem ao banheiro, assim, deve-se
orientá-los no sentido da necessidade de proximidade de apagadores

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e retirada de objetos que possam facilitar acidentes entre a cama e o
banheiro.

O protagonismo dos idosos também reforça a necessidade de


políticas públicas de combate à violência em suas diversas dimensões
(física, psicológica, medicamentosa, abuso financeiro ou material,
sexual, negligência e abandono). Em 2011, morreram 24.669 pessoas
idosas por acidentes e violências no país, significando por dia 68
óbitos. Os homens representaram 62,2% (15.342) e as mulheres 37,8%
(9.325) das mortes (BRASIL, 2014). Na grande maioria das vezes,
quem pratica a violência ou abuso ao idoso é membro familiar,
principalmente filhos, o que gera alta proporção de subnotificação de
casos por vergonha, medo de retaliação ou represália. Tendo em vista
esses aspectos de violência e negligência contra idosos é importante
incentivar a denúncia. Também tem ocorrido em alta proporção entre
idosos o aumento do número de casos de suicídios, exemplo extremo
de autonegligência com a própria vida. Os principais sinais são a falta
de motivação para viver, o isolamento, a recusa para atividades de
higiene e alimentação, não tomar os medicamentos e a vontade
explícita de morrer (BRASIL, 2014). Esses dados indicam a necessidade
de maior efetividade nas políticas públicas já existentes no sentido de
garantir tratamento aos idosos com indicativo de depressão, pois a
prevalência de depressão nessa faixa etária é comprovadamente alta.

No que se relaciona às redes de relações sociais na velhice, a


aposentadoria também pode ser vivenciada em diferentes
perspectivas seja por perdas ou ganhos. Alguns idosos encaram a
aposentadoria como momento de perda de relações sociais, pois no
trabalho é que se estabelecem muitos dos contatos em uma rede
social, e, por outra perspectiva, pode significar para alguns, perda de
prestígio. Entretanto, outros idosos veem nesse momento de suas
vidas oportunidades para estabelecer engajamento social e poderem
participar de grupos com diferentes atividades recreativas, incluindo
viagens (Figura 11).

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Figura 11 – As viagens podem representar momento de
empoderamento nessa fase da vida

Fonte:
Google imagens.

Fonte: Google imagens.

Neste sentido, o mercado tem se antenado para a potencialidade de


consumo do público idoso e toda a diversidade de empreendimentos
para a oferta de produtos direcionados a esse público, a saber: moda;
indústria alimentícia; atividades recreativas; e, direcionadas à
promoção da saúde de forma preventiva e curativa. Esses
empreendimentos levam em consideração o novo perfil dos idosos e
uma nova concepção do envelhecimento de forma ativa e
participativa, resultando no empoderamento e protagonismo desses.

Empoderar idosos significa mostrar novas possibilidades de se viver


essa fase da vida com todas as potencialidades que podem vir com o
envelhecimento fisiológico. Afirma-se o protagonismo dos idosos à
medida que os governantes e a sociedade começam a olhar a velhice
sem estigmas sociais, desconstruindo qualquer aspecto negativo. A
sociedade se transforma culturalmente com a oferta de uma
educação de qualidade para a população e que valorize os idosos
contemplando os ganhos que as trocas intergeracionais podem
oferecer. É hora de apresentar à sociedade o protagonismo dos
idosos e a partir do momento que se demonstra a preocupação com
a temática, como fazer este curso, já é um indicativo positivo de
mudança de conceitos e quebra de paradigmas relacionados à
velhice! Parabenizo a todos pela iniciativa!

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FORMAÇÃO SOBRE DIREITOS DA PESSOA IDOSA

GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS


Governador  Fernando Damata Pimentel
Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (SEDPAC )
Secretário  Nilmário Miranda
Subsecretária de Estado de Participação Social  Ana Amélia Penido Oliveira
Coordenadoria Especial de Políticas para o Idoso  Dilson José de Oliveira
Diretora de Políticas de Promoção em Direitos Humanos  Luisa De-Lazzari B. P. Resende

Diretoria de Políticas de Promoção em Direitos Humanos


Camila Felix Araujo
Fernanda Márcia de Lima Jales
Rosânia Mirtes de Freitas Verissimo

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO


Presidente Roberto do Nascimento Rodrigues
Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho
Diretora geral  Letícia Godinho de Souza
Diretora adjunta  Laura da Veiga

Núcleo de Educação a Distância


Ana Beatriz Mendes Bartoli
Marco Paulo Vianna Franco
Marconi Martins de Laia
Marcos Antônio Nunes
Max Melquíades da Silva

Expediente
Texto  Rodrigo Caetano
Edição  Max Melquíades da Silva
Projeto gráfico  NEaD FJP

O conteúdo textual desta cartilha é de inteira responsabilidade de seu autor, e não reflete
necessariamente a opinião da Fundação João Pinheiro e da SEDPAC-MG.

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