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Didática do Ensino Superior

Terezinha Lombello Ferreira


Aline Ferreira Campos

Revisado

UFSJ
MEC / SEED / UAB
2010
F383d Ferreira, Terezinha Lombello
Didática do ensino superior / Terezinha Lombello Ferreira, Aline Ferreira
Campos. — São João del-Rei, MG : UFSJ, 2010.
65p.
1. Ensino superior 2. Didática I. Campos, Aline Ferreira. II. Título.
CDU: 371.3:378

Reitor
Helvécio Luiz Reis

Coordenador UAB/NEAD/UFSJ
Heitor Antônio Gonçalves

Comissão Editorial:
Fábio Alexandre de Matos
Flávia Cristina Figueiredo Coura
Geraldo Tibúrcio de Almeida e Silva
José do Carmo Toledo
José Luiz de Oliveira
Leonardo Cristian Rocha
Maria Amélia Cesari Quaglia
Maria do Carmo Santos Neta
Maria Jaqueline de Grammont Machado de Araújo
Maria Rita Rocha do Carmo (Presidenta)
Marise Maria Santana da Rocha
Rosângela Branca do Carmo
Rosângela Maria de Almeida Camarano Leal
Terezinha Lombello Ferreira

Edição
Núcleo de Educação a Distância
Comissão Editorial - NEAD-UFSJ

Capa
Luciano Alexandre Pinto
Eduardo Henrique de Oliveira Gaio
Diagramação
Eduardo Henrique de Oliveira Gaio
SUMÁRIO

Pra começo de conversa... 5

Unidade 1 - O Projeto Político - Pedagógico da Escola – O Planejamento do Ensino 7

Unidade 2 -Concepções Educacionais e Diferentes Perfis de Professores 17

Unidade 3 - Articulação entre Projeto Político- Pedagógico, Concepções


de Educação e Planos de Ensino 37

Pra final de conversa... 60

REFERÊNCIA 63
Pra começo de conversa...

Prezado (a) Estudante:

É com grande prazer que nos dirigimos a você e apresentamos a Disciplina Didática do
Ensino Superior.

Ao ler o Sumário, você pode estar se perguntando: de onde surgiu a necessidade de se


incluir neste Caderno as questões que nele serão trabalhadas?

É uma boa pergunta, que agora tentaremos responder.

Como sabemos, o ensino gera pesquisa, e, essa mesma pesquisa retroalimenta o ensino.
É um processo contínuo, mutável e constante. A este processo damos o nome de
conhecimento.

Analisando “Planos de Ensino” de professores, observamos, em sua maioria, uma


desarticulação entre os seus elementos estruturais, a saber: objetivos, conteúdos,
metodologia e avaliação.

Ao que tudo indica, falta um importante fio condutor que orienta e sustenta a integração
desses elementos. O fio condutor a que aqui nos referimos é a explicitação clara da
Concepção de Educação que fundamentará todo o processo ensino-aprendizagem.

Para corroborar essa afirmação, podemos nos reportar à pesquisa realizada por
Campos (2009), que teve como população-alvo os profissionais de educação que exerceram
a função de tutores do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Federal de São
João del - Rei.

Esses tutores atuaram, no ano de 2008, nos Cursos de Especialização em “Educação


Empreendedora” e “Práticas de Letramento e Alfabetização”.

A análise dos resultados da pesquisa permitiu constatar que, dos tutores pesquisados,
em sua maioria, 83% devolveram o instrumento da pesquisa em branco, ou não
preencheram o mesmo. Uma das hipóteses levantadas pela autora para explicar o alto

5
índice de abstenção foi a de que esse tutor sentiu-se constrangido por não dominar o

conteúdo expresso no instrumento de pesquisa ou por pensar que estaria sendo avaliado

através do referido instrumento. Pelos resultados do estudo foi, ainda, recomendado no

mesmo que o NEAD – UFSJ promovesse estratégias tendo como objetivo a reflexão sobre

os fundamentos da “Concepção de Educação” que orienta o seu Projeto Pedagógico .

Esperamos ter respondido à pergunta feita no início deste texto, ou seja, o porquê da

escolha dos temas a serem trabalhados neste Caderno.

Mas, como dissemos anteriormente, o ensino gera a pesquisa, e a pesquisa retroalimenta o

ensino. Portanto, este é o momento do seu aprendizado. Ao longo de toda nossa disciplina

você será sempre convidado (a) a se perguntar: que Concepção de Educação orienta o

meu fazer pedagógico?

Estaremos juntas a você na procura da resposta a essa pergunta, que será a sua resposta,

única e individual. E durante todo este tempo estaremos encarando este desafio, na

certeza de que você é a pessoa mais importante deste curso.

Aproveite com toda a disposição e energia esta oportunidade que o NEAD – UFSJ está lhe

oferecendo para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

As Autoras,

Terezinha e Aline.
unidade 1

O Projeto Político - Pedagógico da Escola


– O Planejamento do Ensino

Objetivo

• Estabelecer relações entre o “Projeto Político - Pedagógico da Escola” e os “Planos de


Ensino” elaborados pelos professores.

Problematizando

Considerando sua formação anterior e sua prática docente, responda às seguintes questões:
1- O que é um Projeto Político - Pedagógico?
2- Quem o elabora?
3- O que ele deve conter?
4- Qual é a sua importância?
5- Qual é a relação entre o “Projeto Político - Pedagógico” e os
“ Planos de Ensino” dos professores?

7
unidade 1
O Projeto Político - Pedagógico da Escola – O Planejamento do Ensino

A elaboração do Projeto Político - Pedagógico é, ainda, uma ação pouco presente e


valorizada nas escolas.

Denominado Proposta Pedagógica pela Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional) é, hoje, tratado pelos educadores como Projeto
Político - Pedagógico.

SAIBA MAIS
A palavra “político” em Projeto Político - Pedagógico não foi incluída na Lei, usando-
se somente o termo “Proposta Pedagógica”.

Você sabe por quê?

Vamos falar um pouco da História do Brasil, mais especificamente nos anos 80.

FIG. 1: Roosewelt Pinheiro


Fonte: GOOGLE IMAGENS, 2010. FIG. 2: Constituição
Fonte: SUA PESQUISA, 2010.

FIG. 3: Ulisses Guimarães, Dr. Constituinte


Fonte: MUNDO EDUCAÇÃO, 2010. FIG. 4: Democracia
Fonte: PAULO RUBEM, 2010.

De acordo com Oliveira (2007), a década de 1980 foi uma década marcada pelo início dos
movimentos sociais para o restabelecimento do Estado Democrático de Direito no Brasil.
A mobilização popular nacional pela participação na Constituinte culminou com a

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promulgação da Constituição Federal de 1988. Entretanto, assim como existia um imenso
grupo de educadores lutando em defesa da escola pública de qualidade, também existia
um outro grupo com diferentes interesses.

Lobbies foram formados antes e no momento da aprovação da LDB, para que não fossem
aprovados artigos levantados pelos defensores da escola pública. Como não puderam
impedir a aprovação da Lei, foram negociadas alterações no corpo dela, que excluíssem as
escolas privadas e restringissem os avanços apenas às escolas da rede pública de ensino.
No caso do Projeto Pedagógico, incluir o termo “político” era reconhecer o cunho e projeção
que tal elaboração seria capaz de ter, o que não era concebível para o grupo de oposição.
Então, a palavra “político” não foi incluída. No entanto, “para aqueles educadores atentos
ao verdadeiro sentido do ato de educar, todas as ações são políticas, como bem nos
ensinou o nosso mestre Paulo Freire” (FREIRE apud Oliveira, p.47).

SAIBA MAIS
Para você se aprofundar neste tema, analise os artigos da Lei 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que
fundamentam a elaboração da proposta pedagógica:
Artigo IV – Artigos 12,13,14 e 15;
Artigo VI – Artigo 67

Afinal, o que é o Projeto Político - Pedagógico?

Segundo Oliveira (2007), o Projeto Político - Pedagógico é o documento que


detalha objetivos, diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvolvido na escola,
expressando a síntese das exigências sociais e legais do sistema de ensino e os propósitos
e expectativas da comunidade escolar.

Na verdade, o Projeto Político - Pedagógico é muito mais que um documento. Ele reflete
a cultura da escola impregnada de suas crenças, valores, significados, modos de pensar
e agir de todos aqueles envolvidos em sua elaboração. É um documento sim, mas que
transcende o seu caráter formal no momento em que reflete o papel e a relação entre seus
atores - direção, supervisão, orientação educacional, professores, representantes de pais
e estudantes, bibliotecários, supervisores, psicólogos, assistentes sociais, secretaria,

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unidade 1
pessoal da limpeza e serviços gerais, tesouraria e comunidade.

É o Projeto Político- Pedagógico que explicita os fundamentos filosóficos e a consequente


Concepção de Educação que nortearão todos os Planos da Escola, dentre eles os Planos de
Ensino dos professores.

Todos os participantes terão como horizonte, na elaboração dos seus planos, o perfil
de estudante que se pretende formar, perfil esse decorrente da Concepção de Educação
adotada.

Embora isso passe despercebido à maioria das pessoas que trabalham em uma escola,
apresenta-se muito claro e definido em dois sentidos.

De acordo com Furtado (2008, p.102),

• No sentido sociológico, é o que ocorre na prática: não há processo


educativo que se efetive sem um projeto social condutor [...], mesmo
quando as pessoas não têm esse projeto explicitado e, até mesmo
quando negam, estarão educando ou ajudando a educar-se dentro de
uma concepção de homem e de sociedade.

• No sentido filosófico, é o dever-ser que precisa ser indicado; todo esforço


educacional deve propor um futuro humano – deve ser explícito para que
tal projeto guie todo o trabalho que se realize.

Compreender o que representa o Projeto Político - Pedagógico da Escola implica, portanto,


responder a uma questão fundamental:

— que tipo de cidadão a escola pretende formar?

REFLITA
Você é capaz de responder a essa questão? Ou ainda, você sabe responder que
tipo de cidadão a sua escola pretendeu formar ao tomá-lo (a) como um de seus
estudantes?

Sua visão de Homem e de Mundo, sua visão de sociedade, suas preferências políticas
(ou até mesmo a falta delas), seus conceitos de Escola, Conhecimento, Educação, enfim,

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a percepção que você tem de você mesmo (a) e do mundo que o(a) cerca, refletem o
sistema de crenças de quem o (a) educou.

Implícita ou explicitamente esses conceitos determinam suas ações, participam da


construção da sua identidade.

O Projeto Político - Pedagógico é a identidade da escola.

Oliveira (2007, p.23) destaca alguns aspectos relevantes na construção de um Projeto


Político - Pedagógico:

• Identidade da escola;
• Busca de coerência interna no projeto entre a fundamentação teórica com a prática
[...];
• Função social da escola enquanto instituição social;
• Papel do professor;
• Relações interpessoais no espaço escolar;
• Aspectos técnico - pedagógicos coerentes com a escolha metodológica e desta com
a escolha ideológica.

Em última análise, o Projeto Político - Pedagógico constitui-se num processo de ação –


reflexão - ação que supera as dicotomias existentes entre o fazer e o pensar entre teoria e
a prática. (OLIVEIRA,2007)

REFLITA
De que forma os aspectos acima citados poderão ser transformados em atitudes
concretas por você e por sua Escola, na construção de um Projeto Político
– Pedagógico?
Para maior detalhamento acesse: http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.
php?id=14550&chapterid=10905

Numa gestão democrática, o que se pretende é que pais, professores, estudantes, funcionários e demais
membros da comunidade escolar assumam parte da responsabilidade por sua elaboração, execução e
avaliação. O projeto político-pedagógico se concretiza no espaço, escolar e deve ser visto como processo,
mesmo que necessário como produto.

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unidade 1
Oliveira (2007), ao considerar o termo “processo” aplicado ao Projeto Político – Pedagógico, enfatiza que

a escola não é estática nem intocável. A forma que ela assume em cada
momento é sempre o resultado precário e provisório de um movimento
permanente de transformação, impulsionado por tensões, conflitos,
esperanças e propostas alternativas (p.33)

ATENÇÃO
De acordo com o caminhar de nossas reflexões, fica claro que do Projeto Político -
Pedagógico derivam todos os Planos da Escola incluindo-se os Planos de Ensino de
cada professor em cada disciplina.

O PLANEJAMENTO DO ENSINO elaborado pelos professores da escola em cada uma das


disciplinas que compõem o currículo escolar deve ter como referencial o Projeto Político
- Pedagógico da escola.

Nas primeiras semanas que antecedem ao início das aulas é chegada a hora da chamada
“Semana de Planejamento Escolar”. Você já teve a oportunidade de participar de alguma? O
que é feito nesse período? O Projeto Político –Pedagógico da escola é reavaliado, por toda a
comunidade escolar, para adequar-se as novas necessidades que porventura tenham sido
diagnosticadas ao longo do ano anterior? Como o resultado desta avaliação interferirá no
seu Plano de Ensino?

Afinal, para que serve a Semana de Planejamento?

Segundo Borges (2008), nas famosas “semanas de planejamento”, formulam-se planos


que nada têm a ver com as necessidades dos estudantes, sendo mera relação de conteúdos
programáticos copiados de livros didáticos ou planos de anos anteriores.

O que vem acontecendo durante essas semanas é uma verdadeira burocratização do


ensino.

E como superar a visão de planejamento do ensino como algo burocrático preenchido


pelo professor de cada disciplina, através de um formulário entregue à direção da escola
com a sensação de mais uma obrigação cumprida?

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Vale lembrar:

O centro do processo educativo não deve ser o conteúdo preestabelecido


como se tem feito nas escolas ainda hoje. Qualquer professor estaria de
acordo em dizer que o centro do processo não é o conteúdo, mas em
sua prática, a grande maioria faz dele todo o processo. Muitas vezes isso
acontece até contra sua vontade. É que há uma cultura dentro da escola,
junto com os pais e em todo senso comum social, de que se vai para a
escola para memorizar alguma informação, normalmente consideradas
inúteis até pelas pessoas que exigem (FURTADO, 2008, p.101).

O que ocorre na prática é a pouca ou nenhuma articulação desses planos de ensino com
a Concepção de Educação explicitada em seu Projeto Político - Pedagógico. Esses planos
se apresentam, ainda, como entidades autônomas sem nenhuma integração horizontal e
vertical, nada tendo a ver com as séries anteriores e posteriores.

Assumir uma nova postura neste sentido significa considerar o planejamento de ensino
como algo concebido, assumido e vivenciado na prática social docente como um processo
individual e coletivo de reflexão.

Saviani apud Fusari (2010) considera:

A palavra reflexão vem do verbo latino “reflectere” que significa “voltar


atrás”. É, pois, um re (pensar), ou seja, um pensamento em segundo grau
(...). Refletir é o ato de retornar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar,
vasculhar numa busca constante de significado. É examinar detidamente,
prestar atenção, analisar com cuidado. E é isso o filosofar.

Assim, na semana de planejamento, retornem, reconsiderem os dados disponíveis, revisem,


vasculhem numa busca constante de significado para formular o seu Plano de Ensino.

Algumas perguntas podem auxiliá-lo (a) nessa reflexão:

- Como foi a execução do seu plano de ensino no ano anterior?


- Quais foram as dificuldades que você encontrou?
- Seus estudantes atingiram os objetivos propostos?
- O que você entende que precisa ser mudado?
- Aonde você quer chegar com sua nova turma?

14
unidade 1
Mas, afinal, como um momento de reflexão necessário à atividade docente tornou-se algo
com conotações tão adversas?

Vamos retornar ao contexto histórico que marcou sobremaneira as “Semanas de


Planejamento”.

Nos anos 70, em São Paulo, os docentes da Rede Estadual de Ensino participaram de um
curso de treinamento conhecido como “Experimental da Lapa”.

Naquele momento, o Golpe Militar de 1964 já implantava a repressão,


impedindo rapidamente que um trabalho mais crítico e reflexivo, no qual
as relações entre educação e sociedade pudessem ser problematizadas,
fosse vivenciado pelos educadores, criando assim, um “terreno” propício
para o avanço daquela que foi denominada “tendência tecnicista” da
educação escolar. Foi nesse contexto – Ditadura Militar – em que não
havia espaço para reflexão, crítica e problematização para além dos
muros das escolas, que as propostas baseadas nas “teorias de processos
sistêmicos” encontravam terreno fértil para uma adesão acrítica por
parte dos educadores (FUSARI, 2010).

Assim, para superar o “tecnicismo” que afeta o processo Planejamento de Ensino, o autor
propõe a observação de três aspectos a serem levados em conta:

• A conquista de transformação nas condições de trabalho dos educadores.


• As transformações sérias nos cursos que formam o educador garantindo-se uma
formação profissional competente e crítica.
• A capacitação do educador em exercício.

Dessa maneira, na elaboração, execução e avaliação de planos de ensino faz - se necessário


que você, professor (a), tenha clareza da função da escola; da função político – pedagógica
dos educadores efetivamente comprometidos com a formação da cidadania; do valor dos
conteúdos como meios para a formação do cidadão consciente, competente e crítico e
da articulação entre objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação no processo ensino –
aprendizagem.

“A elaboração coletiva/individual dos planos de ensino depende da visão de mundo que temos
e do mundo que queremos da sociedade que temos e daquela que queremos (FUSARI, 2010)”.

15
O autor ainda sugere que é preciso que o grupo de educadores sinta e assuma a necessidade
de transformar a realidade encarando o planejamento de ensino como um dos meios para
alcançar essa transformação.

Ações e reflexões devem ser vivenciadas pelo grupo e não apenas por parte dos profissionais
envolvidos no processo.

Os problemas da escola devem ser adequadamente diagnosticados, buscando - se suas


raízes, a fim de que a situação – problema seja superada. Suas raízes podem ser encontradas
na própria escola, ou além da escola.

Encerramos esta unidade com a seguinte reflexão:

Não existe uma educação neutra e (...) toda vez que o educador evita
a questão política da educação, a vinculação entre o ato político e o
educativo está defendendo uma certa política, camuflando, ingenuamente
ou conscientemente, essa vinculação (GADOTTI,1985, p.34).

ATIVIDADE
Com base nas reflexões elaboradas nesta Unidade sobre “Projeto Político -
Pedagógico” e “Planos de Ensino”, estabeleça relações entre eles. Inicie suas
reflexões de forma simples e direta, isso facilitará a sua compreensão sobre este
tema.

Por exemplo:

1 – O que é Projeto Político - Pedagógico? Quando é elaborado? Quem participa de


sua elaboração? Que itens ele apresenta? O que dele se origina em termos de planos?
Levante outras questões que você considera relevantes.
Faça o mesmo em relação aos Planos de Ensino dos Professores. Assim você estará
estabelecendo relações entre Projeto Político -Pedagógico e Planos de Ensino dos Professores.

16
unidade 2

Concepções Educacionais e Diferentes


Perfis de Professores

Objetivo

• Construir um paralelo entre o perfil do “professor repassador” e do “professor


construtor” do saber.

Problematizando

Baseando-se no seu conhecimento atual, responda:


1 - Que concepções de educação ou tendências pedagógicas você conhece?
2 - Que visões de Homem e de Mundo estas concepções se propõem a formar?
3 – Escolha o perfil de professor com o qual você mais se identifica e justifique a sua
escolha.

17
unidade 2
Concepções Educacionais e Diferentes Perfis de Professores

A Concepção de Educação adotada pela escola e que rege as ações de todos os elementos
envolvidos no processo educativo, é de fundamental importância para que esta mesma
escola “não se transforme em um espaço de reprodução de injustiças, onde o conhecimento
é visto como um pacote fechado a ser transmitido mecanicamente aos estudantes”
(SIGNORELLI, 2010).

Você, Estudante, ao longo da sua vida, já deve ter ouvido (ou até mesmo dito) a seguinte
frase:

Teoria é teoria, na prática a coisa é outra.

Falando francamente, isso não lhe parece uma

Fonte: RANTINGSOFANARABCHICK, 2010.


incoerência?

FIG. 5: Another brick in the wall


Até que ponto é a sua escola um lugar de
construção e transformação social?

Os professores da escola não podem falar em transformar o mundo e em construir uma


nova sociedade, sem mudar o que estão fazendo no espaço escolar onde se concretiza sua
ação educativa.

REFLITA
— Onde está a coerência ao se ensinar sobre Democracia, se a relação entre você,
estudante, e o seu professor, muitas das vezes esteve baseada no medo, descaso ou
negligência?
— Como falar na construção de uma Sociedade participativa, se até mesmo no momento
da elaboração do Projeto Político - Pedagógico da escola e do seu Planejamento

19
de Ensino, o que se parece ter é uma participação pro forma, de todos os envolvidos
(e isso o (a) inclui), apenas para satisfazer as exigências legais dos mesmos?

Teoria e prática devem representar uma mesma realidade, é a isso que


chamamos de práxis.

O planejamento do ensino não é neutro porque sua intenção se revela na prática


pedagógica de todos os elementos envolvidos no processo educativo. E caberá a você,
então, responder:

— Que tipo de cidadão você pretende formar?


— Que sociedade você pretende ajudar a construir?

Tendências Pedagógicas: algumas considerações

Diferentes concepções de educação traduzem em seus conceitos respostas


diferenciadas sobre o tipo de Homem que se pretende formar. Isso implica
admitir uma dimensão axiológica na educação, negando sua neutralidade
e assumindo-a como um ato político (GADOTTI, 1985).

Vamos a um exemplo prático do que estamos falando. Observe a figura ao lado.

— O que você está vendo?


FIG. 6: Grandes heróis da Nação.
Fonte: GOOGLE IMAGENS, 2010

Certamente essa imagem o (a) faz lembrar as aulas de História do Brasil, em que você
aprendeu sobre fatos históricos e os grandes heróis da nossa Nação.

Essa Concepção de Educação, que vê a realidade histórica a partir de grandes personagens


e grandes feitos históricos, pretende formar um tipo de estudante diferente daquele
formado por um outro tipo de Concepção de Educação.

20
unidade 2
Observe agora as imagens ao lado:

Os “caras - pintadas”. Movimento de


mobilização estudantil que em 1992
participou do “fora Collor”.
FIG. 7: Os Caras Pintadas
Fonte: O GLOBO, 2009.

“Diretas Já”. Ano 1988. Movimento pela


redemocratização do Brasil através de
eleições livres e diretas para Presidente
da República.
FIG. 8: Diretas Já
Fonte: RUMO A TOLERANCIA, 2010.

Nessas imagens, você não vê um grande herói, não vê um feito histórico. Você vê um
processo de mobilização popular na defesa de seu ideal de Sociedade.

REFLITA
— Que tipo de estudante essas concepções de educação pretendem formar? Serão
estudantes capazes de agir como Cidadãos na verdadeira acepção do termo?
— Que tipo de Sociedade essas concepções de educação pretendem construir (ou
manter)?

Neste momento, vale lembrar Rossi (1980, p.31):

Há uma opção prévia que todos nós educadores temos que enfrentar, antes de mais nada:

— Com quem é o nosso compromisso?

Podemos também dizer que cada Concepção de Educação significa


o referencial teórico que, implícita ou explicitamente, se encontra
subjacente à ação educativa exercida por professores em situações
formais de ensino-aprendizagem (LIBÂNEO, 2005).

21
Diferentes concepções de educação resultam em diferentes formas de
atuação do professor.

Assim, a multiplicidade de conceitos de educação existentes vem expressar diferentes


concepções de educação que predominam em determinado momento histórico. Podemos
com isso dizer que a Educação é fruto do seu tempo e que toda Concepção de Educação
tem sua origem num sistema de valores.

Diferentes autores tentam, de diversas formas, apresentar uma classificação sistemática


das variadas concepções de filosofia educacional, e consequentemente de Concepção de
Educação. Conhecer essas concepções de educação é, em dada medida, reconhecer o tipo
de Sociedade que as elaborou.

Para refletir sobre esse tema, transcreveremos parte da revisão de literatura elaborada
por Campos (2009, p.5-15), que seleciona entre outros autores, Saviani (2008), Luckesi
(1990), Libâneo (2005) e Mizukami (1986).

Saviani (2008) aponta dois grandes grupos de teorias educacionais: (a) teorias não
críticas; e (b) teorias crítico-reprodutivistas.

O grupo das teorias não críticas concebe a sociedade como sendo fundamentalmente
harmoniosa, na qual a “marginalização do individuo” é uma distorção que cabe à Educação
corrigir. Neste grupo estão presentes:

(a) Pedagogia Tradicional, que vê como causa da marginalidade a ignorância do individuo


em relação ao saber;

(b) Pedagogia Nova, na qual o fator de marginalidade é visto como a rejeição; e

(c) Pedagogia Tecnicista, que atribui à ineficiência e à improdutividade os fatores


causadores da marginalização.

22
unidade 2

DICA DE FILME
Uma dica em relação à Pedagogia Tecnicista...
Vale a pena assistir ao filme Laranja Mecânica. Um filme denso e tenso, mas genial!
Faça você mesmo (a) um paralelo entre o que estamos colocando aqui sobre Escola
e Sociedade e a história de Alex e o “Projeto Ludovico”. Esta é uma ótima dica para
você discutir com sua turma nos Fóruns desta disciplina. Prepare a pipoca e divirta-se!
Ficha Técnica
Filme: Laranja Mecânica
Título original: A Clockwork Orange
Lançamento: 1971 (Inglaterra)
Direção: Stanley Kubrick
Atores: Malcolm McDowell , Patrick Magee, Michael Bates, Warren Clarke, Adrienne
Corri
Duração: 138 min
Gênero: Ficção Científica
Estúdio: Warner Bros. / Hawk Films Ltd. / Polaris Production
Distribuidora: Warner Bros.

Já o grupo das teorias crítico-reprodutivistas postula não ser possível compreender


a Educação senão a partir dos condicionantes sociais e assim encaram como função da
Educação a reprodução da sociedade capitalista. Fazem parte deste grupo os autores
Bourdieu e Passeron, que veem a Educação enquanto violência simbólica, e Althusser, que
a encara como aparelho ideológico do Estado.

Para você conhecer mais sobre as teorias crítico-reprodutivistas fica a sugestão:

• SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia, Campinas: Autores Associados, 2008.

Saviani afirma, ainda ser possível elaborar uma teoria da Educação capaz de superar

o poder ilusório das teorias não críticas e a impotência das teorias crítico-
reprodutivistas, colocando nas mãos dos educadores uma arma de luta
capaz de permitir-lhes o exercício de um poder real, ainda que limitado
(p.35-36).

23
REFLITA
Porque foi utilizado o adjetivo “ilusório” para as teorias não-críticas e o adjetivo
“impotente” para as teorias crítico-reprodutivistas?

Luckesi (1990) explicita de três maneiras a relação entre Educação e Sociedade:

(a) A educação exerce o papel de mantenedora da sociedade integrando, assim os

indivíduos no todo social, promovendo a ‘saúde social’ pela formação das pessoas. Neste

modelo a Educação é vista como elemento “fora” da sociedade. Sua prática independe de

qualquer posicionamento crítico da educação na sociedade, o que torna possível para a

Educação aperfeiçoar e corrigir os desvios desta mesma sociedade, através da formação

de seus indivíduos;

(b) A Educação reproduz a sociedade, não sendo possível a ela transformar esta realidade.

Assim as atividades educativas estão a serviço do saber – e do saber comportar-se – nessa

sociedade, e ainda onde estes saberes são determinados pelos setores dominantes, de

acordo com as necessidades do modelo de produção; e

(c) onde a Educação deve constituir-se em meio de realização de uma concepção de

sociedade, a partir da crítica desta mesma sociedade, reconhecendo a sua real capacidade

de intervir nos condicionamentos históricos e sociais.

24
unidade 2

DICA DE FILME
A vida imita a Arte ou a Arte imita a vida?
E a Educação reflete e mantém a Sociedade em que vivemos, ou pode ser um
instrumento de transformação social?
Vale a pena assistir ao filme O Sorriso de Mona Lisa. E não se esqueça das pipocas...
O Sorriso de Mona Lisa
Titulo original: (Mona Lisa Smile)
Lançamento: 2003 (EUA)
Direção: Mike Newell
Atores: Julia Roberts, Kirsten Dunst, Julia Stiles, Maggie Gyllenhaal, Ginnifer Good-
win e Dominic West
Duração: 125 min
Gênero: Drama
Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Revolution Studios / Red Om Films

Libâneo (2005) por sua vez, categoriza as tendências pedagógicas em dois grandes
grupos:

• Pedagogia Liberal
• Pedagogia Progressista

O autor subdivide ainda o grupo da Pedagogia Liberal em quatro subgrupos: liberal


tradicional, liberal renovada progressivista, renovada não diretiva e liberal tecnicista.
Em comum, essas tendências veem na escola o papel de “modeladora ou ajustadora” do
comportamento humano “visando a produzir indivíduos competentes para a sociedade e/
ou mercado de trabalho” (p.29).

Quanto ao segundo grupo, referente à Pedagogia Progressista, Libâneo classifica três


subgrupos, todos eles tendo em comum “partirem de uma análise crítica das realidades
sociais, para sustentarem implicitamente as finalidades sociopolíticas da Educação”
(p.32). São elas:

• Tendência Progressista Libertadora, que “questiona concretamente a relação do


homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação”(p.33)

25
• Tendência Progressista Libertária, baseada na “transformação da personalidade
dos estudantes num sentido libertário e autogestionário” (p.36); e
• Tendência Progressista Crítico-Social dos Conteúdos, em que o papel da escola é
o de contribuir para a transformação da sociedade através da “apropriação dos
conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida do estudante” (p.39).

Para você conhecer mais sobre a obra de Libâneo sugerimos a seguinte leitura:

• LIBÂNEO, José Carlos. Reflexidade e formação de profesores: outra oscilação do


pensamento pedagógico brasileiro? São Paulo: Cortez, 2002. p. 53-79. BBE.
Mizukami (1986) analisa cinco abordagens do processo ensino-aprendizagem:

(a) tradicional, que prioriza como função da escola a transmissão de conhecimentos que
constituem o patrimônio cultural e que devem ser assimilados pelos estudantes;

(b) comportamentalista, na qual a educação deve ser planejada, controlada e avaliada


cientificamente, uma vez que sua função é a de produzir mudanças comportamentais
socialmente desejáveis para o bom funcionamento do sistema social;

(c) humanista, centrada na pessoa;

(d) cognitivista, que, através de situações-problema, espera que o estudante aprenda por
si próprio; e

(e) sócio cultural, que estabelece que a ação educativa parta de uma reflexão sobre o
homem concreto e uma prática das condições de vida que o cerca.
As classificações acima, lhe servirão como um guia que norteará o seu aprofundamento
teórico em relação às Concepções de Educação.

DICA
Neste trabalho, baseamos em dois autores, Libâneo (2005) e Mizukami (1986),
para estabelecer dois perfis diferentes de professores.

26
unidade 2
O primeiro perfil parte da abordagem realizada pela “Concepção Tradicional de
Educação”. Segundo Libâneo (2005) esta concepção de educação considera o Homem
inicialmente como um ser incompleto e imaturo que se torna pronto e acabado quando
de posse de informações que lhes são transmitidas. Esse patrimônio cultural repassado
por meio da Educação visa à sua reprodução e perpetuação. Considera os conhecimentos
como produto da incorporação de informações acumuladas ao longo dos tempos que
devem ser transmitidas aos indivíduos através da Educação. Uma Educação comprometida
com a cultura, cuja função é transmitir e preservar o patrimônio cultural, preparando
os indivíduos para que possam desempenhar os papéis que lhes são conferidos pela
sociedade, tornando-os bem informados e socialmente ajustados. Considerando o
professor como elemento central do processo educativo, atribui a ele a função de exercer o
papel de elemento intermediário entre o saber e o educando que, numa atitude receptiva,
deve assimilar os conhecimentos que lhe são transmitidos. As atividades de ensino
propostas tem como compromisso possibilitar a reprodução correta dos conhecimentos
transmitidos. A avaliação se coloca como importante e necessária a fim de que o professor
possa constatar se o que foi transmitido foi corretamente reproduzido pelo estudante.

Mafalda

FIG. 9: head band


Fonte: O AVESSO DO ESPELHO, 2010.

SAIBA MAIS
- Você conhece a Mafalda? Criada por Joaquín Salvador Lavado (Quino), em 1962,
é uma garotinha com uma visão aguda da vida que a faz questionar o mundo a sua
volta. O Ministério da Educação, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação – FNDE, enviou às escolas as tiras completas da Mafalda. Vale a pena
conhecê-la!

27
Para Mizukami (1986), nesta Concepção de Educação o homem é considerado no
início de sua vida uma tábula rasa que se torna pronto e acabado ao tomar posse dos
conhecimentos que lhes são transmitidos bem como a partir do momento que seu caráter
estiver solidamente estruturado.

O mundo é harmônico e sua compreensão se dá pela confrontação do indivíduo com


os modelos educativos, representados pelas grandes realizações da humanidade e
considerados indispensáveis à manutenção da sociedade.

O conhecimento resulta da incorporação de informações acumuladas ao longo do tempo,


compondo a herança cultural.

A educação deve estar comprometida com a cultura, e sua função é transmitir essa
herança cultural preparando os estudantes intelectualmente e moralmente. Através da
educação, o indivíduo torna-se capaz de atingir sua plena realização. A ênfase é dada ao
produto e não ao processo.

A escola funciona como agência sistematizadora e a ela compete garantir o ajustamento


social.

Na aprendizagem o estudante assume a importância da existência de modelos, não


havendo necessidade de diversificação de métodos de ensino. As diferenças individuais
são ignoradas. A grande preocupação é com a quantidade de informações a serem
transmitidas e assimiladas. Sendo considerada uma atividade neutra, o ensino não se
relaciona com o contexto sócio - econômico-político.

A relação professor-estudante é vertical, sendo o professor considerado o centro do


processo educativo e cabendo-lhe todo o poder de decisão.

Através de exposições e demonstrações, o conteúdo de ensino, considerado como verdades,


deve ser reproduzido pelo estudante.

A avaliação tem um fim em si mesmo. Sua função é verificar se o que foi transmitido pelo
professor e/ou livros foi assimilado e reproduzido, corretamente, pelos estudantes.

28
unidade 2

DICA DE FILME
Vale a pena assistir ao filme Sociedade dos Poetas Mortos. Nele você conhecerá
um pouco do universo da Educação Tradicional em sua forma original. É um filme
imperdível, que propõe a reformulação de nossas práticas e a revisão de nossas
posturas e condutas. Vale o ingresso. Boa diversão e “Carpe diem”!
Ficha Técnica: Sociedade dos Poetas Mortos - (Deads Poets Society)
País/Ano de produção:- EUA, 1989
Duração/Gênero:- 128 min., drama
Distribuição: Abril Vídeo
Direção: Peter Weir
Elenco: Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke e Josh Charles

No segundo perfil, em que, numa abordagem da “Concepção Progressista de Educação”,


situamos os professores “construtores”. Para Libâneo (2005) Mizukami (1986) esta
concepção de educação considera o Homem situado no mundo material, concreto, social,
econômico e ideologicamente determinado. Um mundo não harmônico, transpassado por
conflitos e interesses de classes sociais diferentes, em que o conhecimento de fato não é
apenas o acúmulo de informações. Ele é fruto da reelaboração mental que o homem faz
de si no mundo, cabendo à Educação elevar o seu nível de consciência a respeito de sua
realidade histórico-social concreta, e onde a Escola é valorizada como instrumento de luta
para a transformação social. O professor, nesse sentido, se coloca como guia-orientador do
processo educativo, mediando a prática social vivida pelo estudante, o seu conhecimento
difuso da realidade, com o saber que ele deverá dominar, a fim de que este saber represente
um saber significativo necessário para a transformação social.

É neste momento que você, Estudante, passa a


ser então o sujeito ativo no processo ensino -
aprendizagem.

Para (PROVESANO; MOULIN, 2002), nesta Concepção de Educação, a prática pedagógica


está voltada ao desenvolvimento da consciência crítica, à emancipação e auto educação.
A relação professor - educando assume uma forma democrática, dialogada, de troca, de
reciprocidade de relações. Predomina o caráter democrático, promovendo a participação
do estudante na construção de critérios e indicadores de resultados, por meio da

29
negociação com o professor, pois há comprometimento com a permanência do estudante
na escola.

DICA DE FILME
“Escritores da Liberdade”
Você, no exercício de sua profissão, acredita que poderá transformar a realidade,
mesmo indo contra as regras do sistema? Você está disposto a arcar com as
consequências dessa sua decisão?
Este filme é baseado em fatos reais e recentes e conta a história da professora Erin
Gruwell. Ele merece ser visto com atenção, principalmente pela ênfase que dá ao
papel da educação como mecanismo de transformações individuais e comunitárias.
E vale aqui a dica: este filme merece ser discutido em seu Fórum da Turma.
Ficha Técnica
Título Original: Freedom Writers
País de Origem: Alemanha / EUA
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 122 minutos
Ano de Lançamento:  2007
Estúdio:  UIP
Direção:  Richard la Gravenese
Elenco: Hilary Swank, Patrick Dempsey,Erin Gruwell, Scott Casey

Na construção do papel de professores-construtores tornam-se necessário, também, as


colocações feitas por Neves (2005), Souza (2004), Almeida (2003) e Silva (2004).

Para Neves (2005), a inserção das NTIC’s (Novas Tecnologias da Informação e Comunicação)
trouxe sérias consequências, ou seja, educar em um mundo sem distâncias passou a
exigir novos paradigmas, e que evoluiremos quando não mais adjetivarmos a educação
como presença ou distância e soubermos integrar harmoniosamente espaços e tempos de
aprendizagens, trabalho individual e colaborativo, a produção de textos, sons e imagens.

Dentre outros desafios, Neves (2005) considera que melhorar a qualidade na educação
significa a formação de cidadãos éticos, capazes de construir conhecimento, ler e interpretar
criticamente o mundo e de agir sobre a realidade, melhorando a própria vida e da

30
unidade 2
comunidade. Uma das estratégias para a qualidade no processo ensino-aprendizagem é
a adoção de uma pedagogia que coloque o estudante como centro da ação educacional.

Acreditando no potencial educativo das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação


- NTIC’s, e com base nas experiências de implantação dos programas de TV Escola, Curso
TV na Escola, dentre outros, a SEED-MEC (1996), definiu como política para suas ações de
capacitação, a partir de 2005, a “Pedagogia da Autoria”.

A “Pedagogia da Autoria” busca concretizar desafios lançados por Freire, Vigotsky, Piaget,
Morin e outros educadores que colocam em relevância a complexidade do ser humano e
sua capacidade de construir significados e gerar projetos e conhecimentos socialmente
relevantes.

O professor se coloca como sujeito ativo neste processo educacional, partindo do


conhecimento que está produzido, disponível em livros, revistas, jornais, televisão, vídeos,
internet, CD-ROMs, DVDs, dicionários etc. A partir da exploração, prática e experimentação
direta desses recursos, os professores e estudantes expressam-se por meio de suas
próprias produções, também utilizando esses recursos, inclusive combinando-os entre si.

A Pedagogia da Autoria incentiva o uso integrado de múltiplas linguagens e promove a


autoria e o respeito à pluralidade e à construção coletiva, reconhecendo nos estudantes,
professores e gestores sujeitos ativos e não passivos.

Para você aprofundar seus conhecimentos sobre a Pedagogia da Autoria sugerimos as


leituras a seguir:

• Moran, J.M., Mastto, M.T. Novas tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas:


Papirus, 2000.
• Neves, C. M. A Pedagogia da Autoria. SENAC: Boletim Técnico, v. 3, set./dez. 2005.

Para Souza (2004), o professor deve possuir domínio da política educacional da


instituição em que está inserido, possuir um conhecimento atualizado das disciplinas sob
sua responsabilidade e exercer uma sedução pedagógica adequada no processo educativo,
investindo na construção de uma relação de respeito e confiança, buscando despertar
amor para o conteúdo, visando, assim, à superação dos obstáculos encontrados pelo

31
aprendiz. O autor enfatiza, ainda, como habilidades necessárias ao professor: facilidade de
comunicação, dinamismo, liderança e iniciativa, saber ouvir e ser empático. Manter uma
atitude de cooperação, oferecendo experiências de melhoria de vida, de participação, de
tomada de consciência e elaboração dos próprios projetos de vida. Ser competente para
trabalhar individualmente e em equipe, para analisar realidades, formulando planos de
ação coerentes, mantendo atitude reflexiva e crítica sobre a teoria e a prática educativa
envolvida no processo. Saber identificar suas próprias capacidades e limitações para atuar
de forma realista, com visão de superação.

Sendo o mediador entre o saber e o aprendiz deve o professor ter a consciência que não
é o detentor exclusivo do conhecimento, mas sim, uma ponte para a fluência dos saberes
em construção.

Almeida (2003) considera a Educação a Distância um processo interativo que propicia a


produção de conhecimentos, individual e grupal, em processos colaborativos favorecidos
pelo uso de ambientes digitais e interativos de aprendizagem os quais permitem romper
com as distâncias espaço – temporais. Viabilizam a recursividade, múltiplas interferências,
conexões e trajetórias não se restringindo à disseminação de informações e tarefas
inteiramente definidas a priori. Uma modalidade educacional cujo desenvolvimento se
relaciona com a administração do tempo pelo estudante, o desenvolvimento da autonomia
para realizar as atividades indicadas no momento em que se considere adequado, desde
que respeitadas as limitações do tempo impostas pelo andamento do curso, o diálogo com
os pares para a troca de informações e o desenvolvimento de produções em colaboração.

O papel do professor é o de orientador do estudante que acompanha seu desenvolvimento


no curso, provoca-o para fazê-lo refletir, compreender equívocos e depurar suas produções.
Não tem o papel de controlar o estudante, o que poderá criar dependência do mesmo em
relação às suas considerações e perpetuará a hierarquia das relações estudante-professor,
mantendo uma abordagem de ensino que, em situações tradicionais, já se mostrou
inadequada e ineficiente.

— Você, em sua prática docente, já se colocou desempenhando o papel de um professor


controlador?
— Você, Estudante, já teve este tipo de relação com seus professores?

32
unidade 2
Silva (2004) coloca a necessidade de uma prática pedagógica que privilegia o sujeito
social, autônomo e inventivo em contraposição a educação bancária tão questionada por
Paulo Freire e outros educadores.

Independentemente de ser a distância ou presencial, cabe à educação propiciar aquisição


de consciência crítica, participativa, questionadora; domínio de conteúdo; compreensão
dos princípios que fundamentam o ensino numa visão globalizada; apresentação de
referências teóricas para análise e interpretação da realidade; vinculação teoria e prática.

Um ambiente de colaboração mútua deve ser estabelecido na relação entre o educador e o


educando, baseando-se em trocas e interações, obtendo autonomia do seu ato de aprender,
o que exige a habilidade de se ter uma aprendizagem autônoma.

Conduzir o educando a uma aprendizagem mecânica, passiva, receptiva, autoritária é


ignorar o pressuposto de que a aprendizagem é pessoal e intransferível.

Na aprendizagem autônoma o estudante deve ser responsável por sua aprendizagem, o


que não significa a eliminação do professor na atividade de ensino, mas, sim, uma
posição de renúncia ao poder centralizador, o que lhe permite a posição de controlar os
estudantes.

Numa aprendizagem autônoma o estudante é visto como um ser ativo, que formula
ideias, desenvolve conceitos, resolve problemas da vida prática, construindo seu próprio
conhecimento, buscando sua independência e autoafirmação.

Enquanto na concepção tradicional de educação o professor determina o que o estudante


deve aprender e como deve responder numa concepção progressista a função da educação
é a de preparar o estudante para exercer a cidadania e realizar opções conscientes
na vida.

Silva (2004) enfatiza ainda três componentes importantes na aprendizagem autônoma:


o “saber”, “o saber fazer” e o “querer”. Quanto ao “saber”, tanto o professor quanto o
estudante precisam entender o seu próprio conhecimento construído, dimensionando
claramente a forma de se concretizar uma melhor aprendizagem nas diversas situações.
Trata-se de um saber sobre o seu próprio processo de aprendizagem, com suas facilidades

33
e dificuldades. Como o saber envolve conhecimentos necessários à execução de uma
prática, ao conhecimento, alia-se à habilidade dos indivíduos de “saber fazer”. Assim o
“saber” sobre o seu próprio processo de aprendizagem deve ser convertido ao “saber
fazer”. Pela avaliação de aprendizagem, numa aprendizagem autônoma, o estudante é
avaliado não só com relação ao seu desempenho em termos acadêmicos, mas também
avalia - se o processo desenvolvido na sua aprendizagem, conforme a sua autoorientação.

No componente “querer”, o desejo e a vontade de aplicar algo é importante para o


sucesso. Sendo o professor o gestor do processo didático, é ele o grande responsável pela
disposição do estudante em querer desenvolver sua aprendizagem autônoma. Finalizando
sua explanação, o autor atribui como tarefa primordial do educador buscar a unidade
entre o “saber”, o “saber fazer” e o “querer”, uma vez que essa unidade, tão necessária,
contribuirá para que o ensino seja construtivo, agradável, desafiador, estimulante, numa
atitude investigativa.

DICA
Segundo o Relatório da UNESCO, realizado pela Comissão Internacional sobre
Educação para o Século XXI, são quatro os eixos estruturais da educação na
sociedade contemporânea:

1 - Aprender a conhecer (como buscar o conhecimento)


FIG. 10: Os quatro pilares da educação

2 - Aprender a fazer (colocar em prática o conhecimento adquirido)


3 - Aprender a viver (aprender junto com o outro e não de forma solitária)
4- Aprender a ser (tudo isso de forma ética, visando o bem estar social)
Quatro Pilares da Educação.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Quatro_Pilares_da_duca%C3%A7%C3%A3o
Acesso em: 05 de Julho 2010

34
unidade 2
Vamos encerrar esta Unidade utilizando um exercício diferente, ou seja, uma reflexão a
partir de imagens.

Observe as imagens a seguir:

Fonte: GOOGLE IMAGENS, 2010

FIG. 12: estudante autônomo


FIG. 11: estudante repetidor

Fonte: EDUCAREDE, 2010.


Estudante repetidor Estudante autônomo

Agora responda:
— Que tipo de educador você é?
— Que tipo de educador você quer ser?
— Que tipo de estudante você é?
— Que tipo de estudante você pretende formar?

ATIVIDADE
Durante toda a Unidade 2 ressaltamos que diferentes Concepções de Educação
originam, também, diferentes práticas educativas. Daí, a necessidade de se ter
clareza do tipo de educando que pretendemos formar.
Construa um paralelo entre o que denominamos “professor-repassador” e
“professor-construtor”do saber.
Mãos à obra e conte conosco!

35
unidade 3

Articulação entre
Projeto Político- Pedagógico,
Concepções de Educação e
Planos de Ensino

Objetivo

• Elaborar Planos de Ensino tendo como referência a Concepção de Educação que


embase as ações de um professor “construtor do saber”.

Problematizando

Responda, baseando-se em sua experiência:


1- A escola em que você atua tem um Projeto Político - Pedagógico construído? Como
aconteceu esta construção?
2- No Projeto Político - Pedagógico construído está claramente explicitada a
Concepção de Educação que norteará todas as ações da escola?
3- Que Concepção de Educação é esta? Que tipo de educando a escola pretende
formar?
4- Você articula todos os elementos estruturais de seu Plano de Ensino com esta
Concepção de Educação?

37
unidade 3
Articulação entre Projeto Político- Pedagógico, Concepções de Educação e Planos de Ensino

Na Unidade 1, você pode ver que a espinha dorsal de todo o processo ensino - aprendizagem
é o Projeto Político- Pedagógico da Escola.

Na Unidade 2, você refletiu sobre as Concepções de Educação que fundamentam os


Conceitos de Homem e de Mundo expressos pelo Projeto Político- Pedagógico da Escola.

Nestas Unidades enfatizamos que elaborar, executar e avaliar os Planos de Ensino exige
do professor que ele tenha claramente explicitada a Concepção de Educação que norteará
a seleção dos objetivos que se espera do educando, a seleção e organização dos conteúdos
de ensino, a metodologia a ser utilizada e o processo de avaliação da aprendizagem.

Assim:

FIG. 13: Projeto Político-Pedagógico e seus elementos estruturais.

39
Esses elementos devem resultar num TODO integrado e coerente.

A partir de agora, veremos os elementos estruturais que compõem o Plano de Ensino.

Objetivos de Ensino

Os objetivos orientam a prática educacional por meio de ações sistemáticas e intencionais.

Libâneo (2004) assim os define:

Os objetivos educacionais expressam [...] propósitos definidos explícitos


quanto ao desenvolvimento das qualidades humanas que todos os
indivíduos precisam adquirir para se capacitarem para as lutas sociais
de transformação da sociedade. [...] podemos dizer que não há prática
educativa sem objetivos (p.120).

Os objetivos de ensino requerem um posicionamento ativo dos educadores em sua


explicitação tanto no Projeto Político - Pedagógico da escola como no Planejamento do
Ensino.

Objetivos de Ensino são ações que, claramente formuladas, favorecem a aquisição de um


aprendizado que corresponde ao que é desejado.

Tendo como referência a Concepção de Educação proposta pela escola, são definidos os
objetivos, o conteúdo a ser selecionado, a metodologia a ser utilizada e o processo de
avaliação da aprendizagem.

A formulação clara e precisa dos objetivos é útil ao professor, pois orientam a organização
do processo de ensino, e, também, aos educandos, permitindo-lhes organizar seus esforços
de aprendizagem.

40
unidade 3
Se um dos propósitos dos objetivos é a comunicação, devemos evitar ambiguidades na sua

formulação.

Os objetivos englobam conhecimentos, habilidades cognitivas e atitudes (cooperação,

autonomia, flexibilidade, disposição para mudança, iniciativa, tomada de decisão,

criticidade, participação, autogestão, entre outras).

De acordo com Fernandes (2010), apesar das críticas elaboradas pelos cognitivistas

e particularmente pelos construtivistas, a “Taxionomia dos Objetivos Educacionais”

(BLOOM,1984), mesmo tendo sido elaborada em meio a uma Concepção Tecnicista de

Educação, pode oferecer aos professores um instrumento importante para que os mesmos

analisem os objetivos que estão propondo e verifiquem se estes estão descrevendo ações

pertencentes apenas à categoria “Conhecimento” e deixando de lado o trabalho com

as outras categorias que constituem as “habilidades cognitivas”, como “compreensão”,

“aplicação”, “análise”, “síntese” e “avaliação”, categorias essas que possibilitarão ao

educando ser um “construtor do saber”.

SAIBA MAIS
Para maiores esclarecimentos, sobre as categorias acima mencionadas, leia:
• TEIXEIRA, Gilberto – Elaboração de Objetivos Educacionais no Ensino Superior.
HTTP://www.serprofessoruniversitario.pro.br/imprimir.php?modulo=16&texto=967 20/04/2010

41
REFLITA
Sobre o debate acima referido, Spector, apud Fernandes et al. (2010) argumenta:

Os que apoiam o construtivismo estão certos em enfatizar a


importância das atividades de aprendizagem e das construções,
mas que estariam errados ao ignorar a importância de se estruturar
experiências para os aprendizes, o que poderia ser mais eficiente no
estímulo as construções na mente destes aprendizes. Planejadores
[...] estão certos ao enfatizar a necessidade de planejamento e
estariam errados ao ignorar a necessidade que os aprendizes têm
de fazer suas próprias construções.

Conteúdos de Ensino

Os conteúdos de ensino são selecionados e organizados tendo em vista o alcance dos


objetivos.

Esses conteúdos são informações, conceitos, valores, práticas educativas


e todas as formas culturais que os estudantes devem aprender para que
o processo educativo se realize de acordo com as intenções traçadas no
Projeto da Escola (SGNORELLI, 2010).

Furtado (2008) assim se posiciona:

O centro do processo de ensino não é o conteúdo preestabelecido


como se tem feito nas escolas, ainda, hoje. Qualquer professor estaria
de acordo em dizer que o centro do processo não é o conteúdo, mas, em
sua prática, a grande maioria faz dele todo o processo. Muitas vezes, isso
acontece, até contra a sua vontade. É que há uma cultura, dentro da escola,
junto com os pais dos estudantes e em todo senso comum social, de que
se vai para a escola para memorizar alguma informação, normalmente
consideradas inúteis até pelas mesmas pessoas que as exigem. (grifo
nosso)

Libâneo (2005), ao propor a chamada “pedagogia crítico – social dos conteúdos”, acredita
que a emancipação das camadas populares requer domínio dos conteúdos culturais
historicamente situados como requisito indispensável para a compreensão da prática
social. Valoriza, pois, a escola enquanto instância transformadora das consciências.
Cumprindo a função que lhe é própria, ou seja, transmissão/assimilação ativa do saber

42
unidade 3
elaborado para todos, a escola estará contribuindo no processo de democratização da
sociedade. Assim, ao lado de outras mediações, poderá se constituir em um instrumento
capaz de elevar o nível do povo e contribuir para a sua inserção num projeto histórico –
social de construção de uma nova sociedade.

Os conteúdos de ensino extraídos da herança cultural, tendo em vista seu valor formativo e
instrumental, constituem o saber escolar. São conteúdos vivos, atualizados e vinculados às
realidades sociais. Este saber está sendo construído socialmente; portanto, não se refere
a algo fechado, acabado, e sim a um saber suscetível de transformação. Um saber crítico
é aquele que não apenas valoriza o significado humano e social da cultura, como também
contribui para desvendar as contradições da estrutura social que sustenta as relações
sociais vigentes. Assim, a criticidade dos conteúdos se refere “menos por formarem
estudantes contestadores e mais por colocarem em condições de participar nas tarefas
sociais e profissionais postos pelo desenvolvimento econômico-social” (LIBÂNEO, 2005,
p.11).

Uma vez que o ponto de partida sobre o qual é introduzido o conteúdo científico das
matérias é a experiência social concreta dos estudantes, o conhecimento se torna vinculado
à prática social e, uma vez reelaborado a essa prática, retorna no sentido de transformá-la.

Você se lembra da pesquisa que originou este


trabalho? É nessa medida que reafirmamos o que
temos colocado até aqui; o ensino gera a pesquisa e a
pesquisa retroalimenta o ensino.

Da prática para a teoria, para regressar à prática: é um movimento de


continuidade do já experimentado e aprendido: mas a continuidade
é reavaliada criticamente por meio da ruptura propiciada pelo saber
organizado trazido pelo professor, o que alimentará novamente a prática
(LIBÂNEO, 2005, p.76).

Dessa forma, o trabalho pedagógico se concretiza em três momentos articulados entre si:

(a) síncrese: “visão global, indeterminada, confusa, fragmentada da realidade” (p.45);

(b) análise: “desdobramento da realidade em seus elementos, a parte como parte do todo” (p.145); e

43
(c) síntese: “integração de todos os conhecimentos parciais num todo orgânico e lógico,
resultando em novas formas de ação” (p.145)

Da correspondência entre conteúdos – métodos de ensino decorre que um método será


considerado eficaz na medida em que promover o encontro do estudante com os conteúdos
de ensino, representando estes um auxílio para a compreensão da prática social.

Como elemento mediador entre o estudante com sua experiência social concreta e
o saber escolar, a tarefa do professor é proporcionar “um ensino que contribua para a
transformação das relações desumanizadas existentes, para a tomada de consciência do
movimento histórico – social do homem” (p.81). A desigualdade caracteriza as relações
professor-estudante, pelo menos no ponto de partida.

O trabalho docente é um processo de mão dupla: de um lado, trata-se de dar


continuidade à experiência já trazida pelo estudante (senso comum - síncrese) e, de
outro, promover a ruptura dessa experiência (análise), para elevá-lo a uma visão
mais elaborada do conhecimentos (síntese). O ato pedagógico requer, portanto,
um trabalho docente sistemático, intencional, planejado, excluindo, assim, a não
diretividade.

Estando o trabalho docente vinculado à prática social, o professor precisa

(a) compreender, de modo crítico, as relações entre educação e totalidade social; e

(b) conhecer e dominar os conteúdos que ensina e os meios adequados para sua
transmissão/assimilação.

O processo pedagógico se dá pela relação dialética entre conteúdos culturais sistematizados


e a experiência social do estudante, o que implica atividade do educando, sendo este
produto e produtor do meio social, ou seja, um elemento ativo do próprio conhecimento,
mas, ao mesmo tempo, um ser social, historicamente determinado.

Você pode estar se indagando — Onde fica o livro didático nesta situação?

Vamos então refletir sobre esta questão: o livro didático é apenas um dos meios de

44
unidade 3
comunicação no processo de ensinar e aprender, embora muitos professores não pensem
assim. O professor não pode se limitar a este meio, pois o livro didático deverá estar a
serviço dos objetivos de ensino e a sua utilidade está vinculada ao atendimento desse
propósito. Isso implica que, antes de adotá-lo o professor deverá fazer uma criteriosa
análise sobre o livro didático e julgar a adequação ou não do seu uso.

SAIBA MAIS
Uma questão importante e que precisamos refletir cuidadosamente é sobre a
ideologia implícita nos conteúdos que trabalhamos em nossa prática educativa.
- Que visão de Homem e de Mundo estamos “inculcando” em nossos educandos?
Para maiores esclarecimentos leia:
• As Belas Mentiras – A ideologia subjacente aos textos didáticos
NOSELLA, M. L. C. D. As Belas Mentiras – A ideologia subjacente aos textos didáticos.
São Paulo: Cortez & Moraes, 1978.
• A Ideologia no Livro Didático
FARIA, Ana Lúcia G. de. Ideologia no Livro Didático. 12 ed. São Paulo: Cortez, 1996

Métodos de Ensino

O processo ensino – aprendizagem depende do trabalho sistematizado do professor que articula


Concepção de Educação, objetivos, métodos de ensino e avaliação. Essa articulação, embora
pareça ser um procedimento óbvio no discurso dos profissionais de educação, na verdade, na
maioria das vezes, ele não se traduz em prática no espaço escolar.

Os métodos de ensino referem-se aos meios que serão utilizados, ou seja, ao “como” se efetivarão
as ações realizadas pelos educandos e pelo professor numa sucessão planejada e articulada.

Para Libâneo (2004),

dizer que o professor “tem método” é mais do que dizer que domina
procedimentos e técnicas de ensino, pois o método deve expressar também
uma compreensão global do processo educativo na sociedade: os fins sociais
e pedagógicos do ensino, as exigências e desafios que a realidade coloca, as
expectativas de formação dos estudantes para que possam atuar de forma
crítica e criadora, as implicações da origem de classe dos estudantes no processo
de aprendizagem e a relevância social dos conteúdos de ensino. (p.150)

45
Ao abordarmos o tema Metodologia de Ensino, não podemos deixar de refletir sobre o Uso
de Novas Tecnologias e sua relação com a Educação.

­— E qual é a relação entre as Novas Tecnologias e a Educação?

Omati (2008) nos traz a seguinte questão:

Como este “novo fazer” vem promovendo um novo pensar em termos metodológicos,
didáticos e curriculares? Como, enfim, as novas tecnologias se relacionam com a construção
de um “novo perfil de professor para um novo perfil de estudante” diante da Moderna
Sociedade em que vivemos?

É necessário desenvolver um olhar crítico sobre o uso das Novas Tecnologias na Educação
a partir do entendimento não somente do que elas representam, mas também do como
aplicá-las, onde e por que. Somente assim é que poderemos orientar aqueles que
serão os seus usuários finais - os nossos estudantes, a fazerem delas um uso crítico e
contextualizado.

A fim de prosseguir esta análise, necessário se faz a definição de termos básicos, a saber
de acordo com Omati (2008):

Método: Etimologicamente falando, método vem do latim methodus, que, tem origem no
grego, das palavras (meta =meta) e hodos (hodos = caminho). Assim, método é o caminho
para se alcançar os objetivos selecionados em um planejamento de ensino.

Por técnica, podemos entender “como fazer algo”.

“Desta forma, método indica caminho e técnica mostra como percorrê-lo, ou seja, a maneira
de conduzir o pensamento e as ações para atingirmos nossa meta preestabelecida” (p.19).

- Tecnologia: Etimologicamente o termo Tecnologia vem do grego UVWXY — “ofício” e \]^_`


— “estudo”. É um termo que envolve o conhecimento técnico e científico e as ferramentas,
processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento. Tecnologia é
um conceito historicamente datado e contextualizado à medida do homem em seu tempo
e com isso, “a história da tecnologia segue uma progressão das ferramentas simples e das

46
unidade 3
fontes de energia simples às ferramentas complexas e às fontes de energia complexas”
(p.09). Percebe-se com isso que as tecnologias atuais de informação e comunicação estão
redefinindo a nossa cultura, e essa redefinição é percebida através de dois fenômenos, a
saber:

1- A revolução nos meios pelos quais a sociedade usa o seu tempo e 2- a mudança no
balanço do poder entre aqueles que detêm os meios de fazer o tempo passar e aqueles que
tentam definir seu próprio tempo, fazendo assim valer o seu próprio gosto.

Tendo em conta, portanto, a dimensão do impacto dessas novas tecnologias em todas as


esferas de vida dos nossos aprendizes em Sociedade, o fundamental agora é definir como
se dará a relação entre a Educação e este novo mundo que se nos apresenta.

A LDB nº. 9394/1996, valoriza em todo o seu contexto a Tecnologia a serviço do ensino.
Em consequência disso, a Escola precisa adaptar-se a este novo momento, ou seja, a escola
precisa

“sensibilizar seus profissionais antes de começar a elaboração e aplicação do projeto tecnológico


para que não haja uma rejeição e sim interesse e envolvimento para que se possa ter a prática do
projeto integrado” (OMATI, 2008, p.16).

Com isso, é importante adaptar o currículo pedagógico ao ambiente tecnológico para que
o estudante possa retirar amplo proveito dessa situação. Afinal, a função da informática
é a de favorecer o raciocínio cognitivo dos estudantes, o que, nos dizeres de NETO
apud Omati (2008) representa a criação de projetos interdisciplinares que desloquem a
ênfase do objeto – o computador – para que este venha a ser usado como um ambiente de
cognição, propício à uma prática inventiva que se estende a toda a coletividade acadêmica,
onde

“estudantes e professores participam ativamente de um processo contínuo de motivação,


colaboração, investigação, reflexão, desenvolvimento do senso crítico e da criatividade, da
descoberta e da reinvenção” (p17).

Assim, a metodologia de ensino, encarada como meio e não um fim em si mesma, passa a
conduzir o estudante à autoeducação, à autonomia, à emancipação intelectual, fazendo-o
andar com as suas próprias pernas e a pensar com sua própria cabeça. Ou seja, levando-o
a fazer um uso crítico e contextualizado dessas tecnologias.

47
Entretanto, a melhoria do sistema educacional pela inclusão dos meios, ou seja, das
novidades tecnológicas, não é por si só garantia de sucesso. Assim, os meios não
podem nem devem constituir o único campo de atuação e pesquisa da tecnologia
educacional. É necessário considerar a intenção do educar, pois tanto a Tecnologia da
Educação como a Tecnologia na Educação são definições que atribuem à tecnologia a
forma de ação humana sobre o meio.

Dessa forma, todos os recursos tecnológicos à nossa disposição, como o computador, a


internet, vídeo, TV e softwares, dentre outros, dependem da “Didática” (do grego, didaktiké,
que quer dizer arte de ensinar) do estudo do conjunto de recursos técnicos que tem em
mira facilitar a aprendizagem do educando e

“levá-lo a atingir um estado de maturidade que lhe permita encontrar-se com a realidade, de
maneira consciente, eficiente e responsável, para nela atuar como um cidadão participante e
responsável” (OMATI, 2008, p.53).

A tecnologia deve estar em sintonia com o modelo de ensino que deve favorecer a uma
aprendizagem colaborativa e cooperativa nos diferentes ambientes de aprendizagem
em que estas tecnologias se apresentam.

Nesse ponto, destaca-se a importância do uso das novas tecnologias no favorecimento


da inclusão social dos estudantes. Softwares e equipamentos afins estão a possibilitar
a educação, e consequentemente, a inclusão das mais diferentes pessoas portadoras de
necessidades especiais, as PNE’s.

E no tocante à inclusão, há que se destacar o uso dessas tecnologias também na formação


e aprimoramento profissional do trabalhador, através dos programas de Apoio à Educação
Profissional.

Diante do que está sendo dito, não se pode deixar de ressaltar a relação entre as novas
tecnologias e a Educação a Distancia.

A Educação a Distância tem cada vez mais contribuído na escolarização e qualificação de


todas as camadas sociais. Superando limitações de ordem geográficas, físicas, sociais e
econômicas, ela representa uma alternativa para a democratização do ensino.
Com a utilização das Novas Tecnologias, hoje, ela se encontra distante daquele ensino

48
unidade 3
por correspondência, que se apoiava em cartilhas, módulos de ensino e em tarefas
comentadas, ou do ensino a distância clássico, que combinava diversos componentes
didáticos, material impresso, rádio, televisão, meios audiovisuais, assistência tutorial
domiciliar e/ou em centros de estudo, ou do ensino a distância grupal, que trabalhava
com programações didáticas através do rádio e televisão e que se desenvolvia através de
atividades presenciais regulares.

A Educação a Distância é assim definida pelo Decreto 5.622, de 19.12.2005, como

a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos


processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e
tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores
desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos
(OMATI, 2008, p.95).

Esta nova concepção de EaD se reflete nos principais aspectos da Educação: o pedagógico,
o organizacional e institucional.

Mediatizada pelas novas tecnologias educacionais o modelo a distância vem provocando


um repensar no modelo pedagógico tradicional de sala de aula. Se antes o professor
ocupava o centro do processo ensino-aprendizagem, atuando como figura central,
detentora do saber, agora cabe ao estudante posição de destaque. É ele que, do outro lado
da tela, decide quando, onde, o que, e como estudar. E, mais ainda, todos os demais
aspectos pedagógicos que abrangem a relação aluno – professor - ensino, passam também
por uma nova reconfiguração, e isso se estende do planejamento e elaboração dos materiais
de ensino, até os modelos avaliativos empregados.

Quanto aos aspectos organizacionais da EaD, eles são tão importantes quanto os aspectos
pedagógicos. A realidade da modalidade a distância não é a realidade de uma sala de aula de
30, 40 estudantes, apenas. Falamos de centenas e mais centenas de estudantes, espalhados
por várias regiões, que, em um determinado momento, estão conectados e aprendendo.
Este panorama é possível graças às novas tecnologias de Educação. Assim, questões como
o tipo de curso a ser implantado, se totalmente a distância ou com momentos presenciais,
o número de estudantes participantes, a estrutura da equipe de produção do curso e o seu
custo final são de fundamental importância para a garantia de sucesso da modalidade.
E quanto aos aspectos institucionais, o panorama da EaD é muito mais sensível a

49
mudanças do que nos cursos presenciais. A perfeita sintonia entre a Instituição e o seu
corpo acadêmico é de fundamental importância.

O planejamento não pode ser algo à parte do fazer pedagógico ou algo


burocrático a ser cumprido, mas sim uma tarefa que deve ser considerada
como o elemento articulador das ações cotidianas dos diversos sujeitos
envolvidos no processo ensino-aprendizagem (OMATI, 2008, p.104).

É através da observação de todos estes aspectos que torna possível a você, Estudante
EaD, estar aqui e agora fazendo este Curso.

Diante do que está sendo dito, é necessário que seja aberto um espaço para refletir sobre
o uso dos softwares educacionais como recurso de Tecnologia Educacional. Lembre-se
de que, por tecnologia educacional, podemos nos referir também ao quadro negro e giz,
ao livro, à televisão, ao vídeo, dentre outros recursos que são utilizados na transmissão-
assimilação ativa do saber.

Quanto à aplicação de recursos tecnológicos como ferramenta de auxilio no processo de


recuperação de estudantes com dificuldades de aprendizagem, por desenvolver o seu
lado cognitivo, o software educativo é um tipo da tecnologia educacional que permite uma
integração entre o estudante e o material de forma diferenciada. Como foi dito acima,
a metodologia do ensino não pode ficar restrita aos meios, no caso o software. Antes, é
necessária a definição da metodologia de ensino na qual ele será inserido, pois, de acordo
com ela, ele adquirirá diferentes conotações.

Para Skinner apud Omati (2008), o software educativo tem que dar uma seqüência ao
ensino, ou seja, a criança tem que ser capaz de responder às instruções de forma acertada
da forma como lhe é pedido (p.180).

Já para Gagné, o software educativo tem que trabalhar a aprendizagem e a memória como
processamento de informação (OMATI, p.180, 2008).

50
unidade 3
Para Bruner apud Omati (2008), ele deve promover a descoberta como objetivo final,
sendo que vários fatores serão analisados e observados (p.180).

E, para Piaget o software educativo deve trabalhar com diferentes estilos de aprendizagem
e a sua prática deve estar vinculada à filosofia pedagógica da escola (OMATI, 2008, p.181).

SAIBA MAIS
Existe uma ampla variedade de softwares que podem ser utilizados no processo
ensino – aprendizagem. A seguir, veja alguns exemplos:

• Softwares de Exercício e Prática, que visam à aquisição de uma habilidade ou à


aplicação de um conteúdo já conhecido pelo estudante, mas não inteiramente
dominado.
• Os Tutoriais, utilizados para introduzir conceitos novos, ou apoio e reforço
para aulas, para preparação ou revisão de atividades.
• Os Games Educativos, que desenvolvem o lúdico na aprendizagem.
• O Hipertexto, que, ao contribuir para o estabelecimento de múltiplas relações
entre as informações, estimula o pensamento crítico e autônomo do estudante,
desde que ele seja trabalhado de forma colaborativa por professores e
estudantes.

A conclusão a que se pode chegar sobre os softwares educativos é que eles são ferramentas
para construção do aprendizado. Devem ser trabalhados pelo professor tendo em vista
as várias teorias de aprendizagem existentes, até chegar à construção de um programa
personalizado que atenda a sua turma e ao Projeto Político- Pedagógico de sua escola.

Finalizando, podemos relembrar Borges (2008) ao enfatizar que embora questões relativas
ao “como” continuem importantes, elas só adquirem sentido dentro de uma perspectiva
que as considere em sua relação com questões que perguntem pelo “porquê”.

Avaliação

Numa concepção tradicional de educação seletiva e alienadora a função da avaliação é


transmitir e preservar a herança cultural, tornando os estudantes reprodutores da cultura

51
que lhes é transmitida e socialmente “ajustados”.

Muitos de nós guardamos na lembrança os momentos tensos que marcavam a hora da


prova escrita ou oral em que o professor procurava constatar se o que foi transmitido
através dos livros e explanações, tinha sido corretamente reproduzido pelos estudantes.
E haja decoreba!...

Vale relembrar... (e, se possível não mais repetir)

­— Como era realizada a avaliação nas escolas pelas quais você passou? Você também
guarda do processo de avaliação a que foi submetido lembranças traumatizantes?

—Você concorda que podemos tornar esse momento do processo ensino - aprendizagem
menos angustiante e mais prazeroso?

A avaliação é um dos elementos estruturais do Plano de Ensino. Esses elementos, como


estamos enfatizando a todo momento, estão interligados entre si e têm como “coluna
vertebral” uma Concepção de Educação assentada numa opção político – pedagógica.

ATENÇÃO
É a partir da definição deste princípio norteador de todo o processo educativo que
será possível delinear o conceito de educação que irá nortear o modelo de avaliação
a ser adotado por toda a escola.

Lembre-se sempre:

É a partir da definição da sua Concepção de Educação que você estará definindo,


também, o seu conceito de Avaliação.

A escola que pretenda fazer do estudante um ser não apenas “reprodutor do saber”, mas,
sim, um “produtor do saber” deve implementar em seu modelo de avaliação aspectos
como:

52
unidade 3
 visão de avaliação como ponto de partida para a tomada de decisão que por sua vez
conduzirá a uma ação;
 consideração pelo “contexto” no qual se dará à avaliação.
 a não neutralidade do processo avaliativo;
 progresso do estudante ao longo do seu trajeto, ou seja, a avaliação do seu
crescimento e dos processos por ele elaborados para chegar ao domínio do
conhecimento;
 estabelecimento de interrelações entre os conteúdos e a visão íntegral e global do
assunto e sua inserção na prática profissional;
 avaliação contínua para verificar se os estudantes estão desenvolvendo habilidades
crítico – analíticas, o que possibilitará a formação de indivíduos autônomos e
competentes;
 avaliação que sirva de base para a reavaliação constante do processo, permitindo
que readequações sejam feitas quando necessárias;
 avaliação que permita perceber o estágio que o estudante já alcançou e também o
quanto ele evoluiu desde o início do processo e o quanto ainda falta percorrer;
 avaliação que cumpra suas funções de diagnosticar: conhecer como e se os
objetivos propostos estão sendo alcançados, identificar os pontos-problema
no aprendizado do estudante e suas causas, promover o autoconhecimento do
estudante e do professor, para que cada um tenha consciência das próprias
limitações e potenciais para decidir sobre o rumo a tomar;
 avaliação processual que permita traçar o perfil do estudante não só quanto a
seus graus de aprendizagem, mas, também, suas motivações, expectativas, grau de
comprometimento e dados sobre sua família;
 avaliação como um desafio cuja superação contribua para o crescimento rumo a
competência;
 avaliação em que os insucessos não devem ser considerados como medidas de
fracasso, mas, sim, como orientações para os novos trajetos a serem percorridos.

Assim, enquanto o planejamento dimensiona o que se vai construir, a avaliação oferece ao


professor subsídios para esta construção.

O professor irá detectando os níveis de aprendizagem atingidos pelos estudantes e


trabalhando para que os objetivos pretendidos sejam alcançados.

53
O educador durante todo o processo de produção do conhecimento em que haja o diálogo,
a confrontação de ideias e pontos de vista estão sempre presentes acompanhando o
educando e avaliando se o mesmo caminha na direção desejada.

Isso retira da avaliação seu caráter seletivo e discriminatório, em que notas e conceitos
os rotulam, estigmatizando-os pela vida afora. Com relação a isso, já ouvi um professor se
referindo aos seus estudantes como “aquele estudante é tipo A, já aquele outro é Tipo C”.
Parece até classificação de leite, não é mesmo?

Além de evitar a função classificatória comparando estudantes entre si, a avaliação deverá
considerar o avanço que aquele educando obteve durante o curso.

A articulação na construção de instrumentos de avaliação deve partir de uma visão do


educando como sujeito de sua aprendizagem. Uma ação reflexiva, dinâmica e interativa
que acontece antes, durante e depois do processo de ensino.

A avaliação diagnóstica propicia o levantamento das condições prévias antes do estudante


iniciar uma nova etapa. Significa que pré-requisitos necessários a nova aprendizagem
estarão presentes no momento em que se fizerem necessários.

A avaliação formativa acompanha os estudantes durante o percurso, faz um diagnóstico


das dificuldades e propõe atividades corretivas.

Nela, não há espaço para posturas autoritárias, nem para o paternalismo


ou a negação a avaliar, mas existe a presença do professor mediador.
Ele está disponível para as atividades colaborativas, para estimular a
autonomia do estudante, para tornar a aprendizagem significativa, e
avaliar de forma coerente e democrática. A ação docente, neste caso, é
libertadora, como propõe Paulo Freire, ou facilitadora, como desejam os
construtivistas (OLIVEIRA, 2007, p.88).

Finalizando nossa reflexão sobre este tema, podemos indagar:

— De onde vem o Poder exercido pelo professor ao avaliar o estudante?

Furlani, apud Oliveira (2007), descreve a autoridade docente com relação ao ato de avaliar
em três momentos:

54
unidade 3
1º - Autoridade baseada em posições hierárquicas e modelos autoritários em que o
professor é visto como controlador e classificador do desempenho do estudante.

2º - Negação da autoridade baseado em formas permissivas de relacionamento com


os estudantes. Práticas paternalistas e subjetivistas executada somente sob a forma de
autoavaliações.

3º - Autoridade baseada na competência profissional e modelos democráticos na relação


professor-aluno. Cooperativas, formativas e emancipadoras.

FIG. 14: Autoridade docente


Adaptado de: MÉTODOS E TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO, 2007, p.87

55
Assim, se por um lado as práticas avaliativas da aprendizagem podem reforçar o poder
autoritário do professor, por outro podem expressar atitudes educativas democráticas.

Mais uma vez cabe a você, Professor (a), uma análise reflexiva sobre sua prática avaliativa,
no sentido de verificar se há coerência entre o que faz e o que é explicitado na Concepção
de Educação expressa no Projeto Político- Pedagógico de sua escola.

Muito teríamos ainda que acrescentar nesta reflexão sobre avaliação. No entanto, não
poderíamos deixar de ressaltar a importância do estudo das diferentes formas de encarar
o “erro” na aprendizagem.

SAIBA MAIS
Para você se aprofundar no tema Formas de Encarar o Erro na Aprendizagem
sugerimos:
• ESTEBAN, M.T. A avaliação no cotidiano escolar. In: ______. (Org.) Avaliação:
uma postura prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro: DP & A,
1999.
• LUCKESI, C.C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições
São Paulo: Cortez, 2003.
• ROMÃO, J. E. Avaliação dialógica: desafios e perspectivas. São Paulo:
Cortez, 2001.
• VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação: concepção dialético libertadora
do processo de avaliação escolar: São Paulo: Libertad, 1993.
• VYGOTSKY,L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Acompanhe a seguir a elaboração de um “Plano de Ensino” tomando como base o perfil de


um “professor construtor do saber”:

Plano de Ensino

Assunto: Fazendo quadrinhos com a internet

Disciplina: Português e informática

56
unidade 3
Objetivos:

 Diferenciar o gênero literário das revistas em quadrinhos de outros gêneros

 Caracterizar e descrever este gênero (das revistas em quadrinhos).

 Elaborar uma tirinha de revista em quadrinho pela internet.

 Utilizar ferramentas do site que são comuns a outros softwares, tais como: arrastar,

selecionar, trazer uma imagem para frente ou para trás, fazer flip na figura, alterar

tamanho da figura, baixar imagem de um arquivo, digitar texto.

 Publicar sua tirinha em um blog.

Conteúdos

• Diferenciar e definir o gênero literário da revista em quadrinhos.

• Utilização da internet como meio de divulgação e de comunicação.

Metodologia

1 - Solicitar aos estudantes que tragam de suas casas gibis.

2 - O professor leva para a classe um livro, um jornal, um folheto. Pede que os estudantes

levantem as características que os gibis apresentam em comum e no que difere dos demais

gêneros literários.

3 - A professora pede a alguns estudantes que leiam em voz alta uma pequena história de

um dos gibis. Assim, é fácil caracterizar a linguagem utilizada.

57
4 - A professora pede então que os estudantes elaborem individualmente uma tirinha de
gibi.

Estas tirinhas podem conter: o balão, personagens, plano de fundo, onomatopéias. Deve
ter no máximo 3 painéis (quadrinhos).

5 - Uma vez elaborada a tirinha, na sala de informática os estudantes são apresentados


para o site www.toondoo.com

6 - Cada estudante deve se registrar.

7 - A professora mostra como utilizar as ferramentas, para que então o estudante crie sua
tirinha (que já foi planejada na sala de aula).

8 - Se a classe tiver um blog, pode publicar as tirinhas.

Segue abaixo um exemplo de tirinha.

Fonte: PLANEJAMENTO EDUCACIONAL, 2008, p.104


FIG. 15: Aprender

• Fonte: FURTADO, Ana M. Planejamento Educacional. ESAB, 2008, p.104.

- Do que você sentiu falta no “Plano de Ensino” apresentado?

Temos certeza de que sua resposta se refere ao item “Avaliação”.

Vamos então explicitar esta questão: como estamos tratando a avaliação como sendo um
procedimento a ser executado ao longo de todo o processo ensino-aprendizagem

58
unidade 3
o professor, após trabalhar a metodologia (ou seja, o como ensinar), irá verificar se os
estudantes estão demonstrando as ações previstas nos objetivos do Plano de Ensino.

Se o estudante mostrar que já é capaz de executar estas ações, o professor dará continuidade
ao processo e passará a desenvolver novos objetivos já previstos para o curso em ação.
Esta é uma alternativa.

Numa segunda alternativa, ou seja, através da avaliação formativa, o professor verifica que os
objetivos ainda não foram alcançados. Os pontos-problemas e suas causas são detectados pelo
professor e, então, um reensino será oferecido.

Como já refletimos anteriormente, os insucessos não devem ser considerados como medidas
de fracasso, mas, sim, como orientações para novos trajetos a serem percorridos. É a chamada
“recuperação paralela”, muito presente no “discurso” dos professores.

REFLITA
Um questionamento aparece com certeza neste momento.
- Como “esgotar” o programa imposto para aquela série pelos “Órgãos Superiores”
se a todo o momento teremos que interrompê-lo para promover o reensino?
- Como resolver esse conflito?

Esse é um tópico importante para a sua vida profissional. Levante esta questão no Fórum da Turma
e troque experiências com seus colegas e tutores sobre como eles têm lidado com essa questão.

ATIVIDADE
Nesta Unidade abordamos os elementos de um Plano de Ensino tendo como
fio condutor a Concepção de Educação que embasará as ações de um professor
“construtor do saber”. Agora, escolha um tema que seja do seu domínio e elabore um
“Plano de Ensino”. Tanto o tema quanto a série para a qual o plano será elaborado
será de sua escolha.

Só aprendemos aquilo que praticamos. Portanto, mãos a obra! E lembre-se, você não está
sozinho (a). Conte conosco!
As Autoras

59
Pra final de conversa...

Prezado (a) Estudante:

Neste Caderno não tivemos a pretensão de apresentar novas teorias ou assuntos


mirabolantes.

Como você deve ter percebido, abordamos apenas o “óbvio”. Mas é justamente esse óbvio
que se revela como uma necessidade a ser refletida, uma vez que a detectamos através da
observação e da pesquisa sobre o que realmente está acontecendo, na maioria das vezes,
no cotidiano da escola. E como foi dito no início deste Caderno, o ensino gera pesquisa,
e essa mesma pesquisa, retroalimenta o ensino. É um processo contínuo, mutável e
constante. A este processo damos o nome de Conhecimento.

Aguardamos pelas suas críticas e contribuições no sentido de aperfeiçoar este material.


Ele só terá valor se puder contribuir para uma prática educativa mais coerente, mais
articulada e mais compromissada com aqueles que muito esperam de nós, os nossos
estudantes.

Colocamo-nos à sua disposição para que possamos estabelecer, através do diálogo, uma
troca de conhecimentos e experiências, pois acreditamos que a produção do saber só
acontece coletivamente.

Deixamos você com as palavras de Neruda. Às vezes, não nos damos conta do quanto
podemos viver a vida plenamente e do quanto a forma como a vivemos é o que realmente
faz a diferença.

As autoras,
Terezinha e Aline.

60
Quem morre?

Pablo Neruda

Morre lentamente quem não viaja,

quem não lê, quem não ouve música,

quem não encontra graça em si mesmo...

Morre lentamente quem se transforma

em escravo do hábito,

repetindo todos os dias os mesmos trajetos,

quem não muda de marca,

não se arrisca a vestir uma nova cor

ou não conversa com quem não conhece...

Morre lentamente quem evita a paixão,

quem prefere o negro sobre o branco

e os pontos sobre os “is”

em detrimento de um redemoinho de emoções

justamente

as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos,

corações aos tropeços e sentimentos.

61
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,

quem não arrisca o certo pelo incerto

para ir atrás de um sonho,

quem não se permite pelo menos uma vez na vida

fugir dos conselhos sensatos,

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se

da má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona

um projeto antes de iniciá-lo,

não pergunta sobre o assunto que desconhece

ou não responde quando lhe indagam

sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,

recordando sempre que estar vivo

exige um esforço muito maior

que o simples fato de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

62
REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério da Educação. Universidade Aberta do Brasil. Brasília: Secretaria de


Educação a Distância, 2005.

____ , Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Ministério da Educação, Dez. 2005b.

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