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Neodesenvolvimentismo como proposta de superação do subproletariado e da subcidadania

Alessandro Rodrigues Chaves1

Resumo
Este trabalho busca evidenciar o emergir da teoria e da política neodesenvolvimentista como
solução para os problemas sociais do país, particularmente, a integração de grande parte da
população “excluída” nas relações efetivamente capitalistas via ampliação do emprego formal e
fortalecimento do mercado interno. O trabalho questiona tais hipóteses, assim como a hipótese de
que a “exclusão” se daria por uma incapacidade ou inadaptabilidade dos indivíduos ao moderno
capitalismo, enfatizando a funcionalidade que os setores subalternos possuem para a acumulação e
reprodução do capital em países dependentes. Partindo do processo especifico de efetivação do
capitalismo no Brasil, em sua característica dependente e subordinada aos países centrais, notamos
que as condições de subcidadania e de subproletários são bases necessárias para o tipo de
capitalismo implantado no país. Dessa forma, concluímos que a intensificação das relações
capitalistas, de modo a incluir os setores antes “excluídos” se dá de forma a continuar e intensificar
a superexploração da força de trabalho, característica inerente aos países dependentes.

Palavras-chave: neodesenvolvimentismo; subcidadãos; subproletários; dependência;


superexploração.

1 – UMA VIA NÃO CLÁSSICA


Grande parte da intelectualidade crítica brasileira se atenta para o fato de que o Brasil deve
ser pensado levando em conta as suas especificidades2. Entendemos pela leitura de autores como
Caio Prado Jr. (2004), Florestan Fernandes (2009 e 2005), Francisco de Oliveira (2003), entre
outros, que a sociedade que se efetivou no Brasil possui particularidades, que são resultado – entre
outros fatores – dos entraves causados para o desenvolvimento do capitalismo em nosso país.
Capitalismo, que segundo os autores, possui uma via particular de efetivação que difere dos casos
clássicos (Inglaterra e França) e também dos casos tardios (Alemanha e Itália), resultando também
em uma configuração especifica de classes sociais.

1
Graduado em ciências sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André e mestrando em ciências sociais pela
UNESP-Araraquara. ale.r.chaves@hotmail.com
2
Exemplo desse fato foi o seminário Como se pensa e Como pensar o Brasil realizado em 2001. Que contou com a
presença de Francisco de Oliveira, Fábio Konder Comparato, Marco Aurélio Garcia, Octávio Ianni e Carlos Nelson
Coutinho, entre outros. As intervenções foram publicadas na revista Lua Nova. n 54.
1
Essa via não clássica que irá configurar e determinar, entre outros fatores, as características
sociais brasileiras é presente na obra de Florestan Fernandes. O sociólogo, ao analisar os efeitos do
capitalismo dependente para as nações latino-americanas percebeu que tal modelo de introdução do
capitalismo (industrial) levava:
“/.../ a exclusão de uma ampla parcela da população nacional da ordem
econômica, social e política existente, como um requisito estrutural e
dinâmico da estabilidade e do crescimento de todo o sistema (essa exclusão
variava, em 1964, de um quarto até a metade ou três quartos da população,
conforme os países).” (FERNANDES, 2009, p. 29)

Percebia Fernandes – e outros, evidentemente – que o processo de implantação do


capitalismo industrial no Brasil não se dava de modo a incluir – mesmo que nas condições
capitalistas – a população em geral como ocorreu nos casos clássicos e tardios. É por esse e outros
motivos que José Chasin (2000a) caracterizará, dentro da sua formulação de via colonial, o
capitalismo de tipo hiper-tardio, no qual prevalece sempre a antítese entre desenvolvimento
nacional e progresso social. Isso por identificar a permanência do elevado grau de desigualdade, da
superexploração do trabalho e da pífia participação política de ampla parcela da população. O que
parece confirmado pela passagem abaixo de Florestan Fernandes, ao analisar as classes sociais na
América Latina:
“No fundo, quer se trate das metrópoles, das cidades ou do campo, as classes
sociais propriamente ditas abrangem os círculos sociais que são de uma
forma ou de outra privilegiados e que poderiam ser descritos, relativamente,
como “integrados” e “desenvolvidos”. Tais setores coexistem com a massa
dos despossuídos, condenados a níveis de vida inferiores ao de subsistência,
ao desemprego sistemático, parcial ou ocasional, à pobreza ou à miséria, à
marginalidade socioeconômica, à exclusão cultural e política etc.”
(FERNANDES, 2009, p. 45)

Percebemos que o elemento fundamental para explicar o cenário descrito acima por
Fernandes se dá pelo modelo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil, consenso para todos os
autores citados. Ou seja, essa forma de exclusão é inerente a este tipo de capitalismo – seja
prussiano, dependente ou colonial – e dele deriva condições como as de subcidadania e de
subproletariado.
1.1 – Subcidadão
A subcidadania, da forma como entende Jessé Souza (2012), encontra suas origens nas
singularidades da implantação do moderno capitalismo no Brasil. Por ser um modelo importado,
não se criou aqui as pré-condições cognitivas requeridas pelo capitalismo moderno. Elementos
próprios de uma ética capitalista do trabalho, a influência efetiva da religião protestante, de uma

2
iniciativa para os negócios e para aquisição de bens e uma poupança não emergiram organicamente
em solo brasileiro3.
A grande maioria da população – período anterior a 1930 – era composta de antigos
escravos ou descendente, ou trabalhadores rurais (brancos e negros libertos) que viviam a rotina de
trabalho do campo, sem ainda incorporar o habitus exigido pelo capitalismo moderno, submetido a
relações de dependência, seja pessoal ou impessoal4. Neste ambiente, mesmo com a posterior
migração para os grandes centros urbanos, esses trabalhadores se iniciam no trabalho dentro da
racionalidade moderna, mas sem ainda ter construído cognitivamente tal racionalidade, é isso que
Souza quer dizer na seguinte passagem: “as ‘práticas’ modernas são anteriores às ‘ideias’
modernas5” (2012, p.96)
Assim como não se desenvolvia a racionalidade necessária para a efetivação do indivíduo
racional moderno, este também não potencializava a existência dos ideais modernos burgueses de
cidadania:
“Inexistia, por exemplo, o consenso acerca da necessidade de homogeneização
social e generalização do tipo de personalidade e de economia emocional burguesa
a todos os estratos sociais, como aconteceu em todas as sociedades mais
importantes da Europa e da América do Norte.” (SOUZA, 2012, p. 97)

O resultado do descrito é não ter se desenvolvido na “nova periferia” o “potencial


generalizador, abrangente e inclusivo” próprio das sociedades centrais do Ocidente (SOUZA, 2012,
p.98) Tal característica se manteve no decorrer das décadas se concentrando nos setores “não
europeizados”, ou seja, nos estratos inferiores da sociedade. O estrato inferior é denominado por
Souza como “ralé”:
“Seres humanos a rigor dispensáveis, na medida em que não exercem papéis
fundamentais para as funções produtivas essenciais e que conseguem sobreviver
nos interstícios e nas ocupações marginais da ordem produtiva.” (2012, p.121)

Os indivíduos da “ralé” são “dependentes formais” por sua relação direta com o proprietário
de terra, ou com o empregador. Na medida em que não há um “código moral compartilhado”,
próprio da modernidade, as relações entre dominantes e dominados é estabelecida como vínculos de
favor e proteção, gerando uma situação de submissão voluntária, desejada. (SOUZA, p.126)

3
Diz Souza sobre a “importação” dos elementos culturais necessários para a formação de um habitus em solo
brasileiro: “/.../ tendo recebido [o Brasil], ao contrário, o influxo dessas sociedades [EUA, Inglaterra, França e
Alemanha] e de seus agentes de “fora para dentro”, essa “nova periferia” é, na verdade, tomada de assalto /.../ por uma
cultura material e simbólica cujo dinamismo e vigor não deixaram muito espaço para compromisso ou reação.” (2012,
p.94).
4
Ver SOUZA (2012) Parte II, capítulos II e III.
5
Em grande medida este fato se assemelha a explicação de José de Souza Martins para descrever o fenômeno da
aparição fantasmagórica de um “demônio”, visto pelos trabalhadores, em uma fábrica de cerâmica do ABC paulista na
década de 1950.
3
O processo modernizador de 1930 que não alcançou o status de uma revolução política, não
desembocou em um processo de inclusão dos subcidadãos efetivamente ao processo produtivo de
modo que pudesse beneficiá-los. O ponto a ser mencionado na obra de Souza que merece atenção
recai sobre o modo de viver dos setores subalternos. Segundo o autor, por exemplo, é característica
da cultura negra, de sua estrutura familiar, em última instância da condição de seu “ponto de
partida” para adentrar no capitalismo moderno, que o condiciona a não incorporar o habitus
promovido pelo processo modernizador, assim este acaba por “escolher”, devido à sua inadaptação,
a eventual vadiagem, o ócio, e residir nas favelas. (SOUZA, 2012, p.156)
Podemos dizer – com todo o cuidado – que as ocupações que serão exercidas pela “ralé” se
assemelham de alguma forma, com o avanço da efetivação do capitalismo industrial, a do
subproletariado, que veremos abaixo. Excluindo aqui as questões relacionadas a cor da pele – já que
em grande medida assim faz também Souza (2012, p.160) – as mulheres da ralé se ocuparão da
venda de sua força de trabalho para o trabalho doméstico e para a prostituição. Para os homens
restavam as ocupações marginais, como já mencionado, sem importância efetiva no processo de
produção.
Contudo, a explicação central de Souza prevalece na inadaptabilidade da ralé ao moderno
modelo capitalista de produção, muito por sua “incapacidade de atender às demandas da disciplina
produtiva do capitalismo.” (2012, p. 160) Daí o autor utilizar o conceito de habitus precário em
oposição ao habitus primário que se refere aos países centrais. O primeiro, característico da “nova
periferia”
“seria aquele tipo de personalidade e de disposições de comportamento que não
atendem às demandas objetivas para que, seja um indivíduo, seja um grupo social,
possa ser considerado produtivo e útil em uma sociedade de tipo moderno e
competitivo, podendo gozar de reconhecimento social com todas as suas
dramáticas consequências existenciais e políticas.” (SOUZA, p. 168)

A permanência dessa inaptidão resultará na não superação da condição de subcidadania. O


ponto é que ela permanece nos dias atuais de capitalismo globalizado, tanto que Jessé Souza vai
dedicar uma obra a este setor (SOUZA, 2009). Na obra citada, podemos notar as ocupações
destinadas a “ralé”, para as mulheres trabalho doméstico e prostituição, para homens, lavador de
carros, catador de lixo depois da falência de uma fábrica de sapatos ou garis.
Para se pensar em uma eventual superação desta condição, deveríamos levar em
consideração os valores emergentes do capitalismo moderno, e a incorporação desses valores pelos
indivíduos, de modo a se aproximar dos setores “europeizados”, já que “/.../ a linha divisória passa a
ser traçada entre os setores ‘europeizados’ – ou seja, os setores que lograram se adaptar às novas
demandas produtivas e sociais – e os setores ‘não europeizados’ que tenderam, por seu abandono, a
uma crescente e permanente marginalização.” (SOUZA, 2012, p. 172) A pergunta central, para
4
nossos objetivos, que deve ser feita à complexa teoria de Jessé Souza, é em que medida o
capitalismo moderno implantado na “nova periferia” permite que se ultrapasse a linha divisória. E
se é possível tal ascensão, em que condições ela se dá?
Pensamos que Jessé Souza, pelas limitações de seus pressupostos teóricos não consegue
compreender fundamentalmente a funcionalidade de tal setor para a economia brasileira, como
veremos no caso do subproletariado. Assim como Bourdieu, Souza não identifica o processo de
exploração, ou superexploração do trabalho6. Em outros termos, Souza identifica a não ascensão
social dos indivíduos, a permanência da subcidadania através da não incorporação de um habitus, e
não como um papel exercido, pelos setores subalternos, para o processo de acumulação de capital.
Assim fala-se em “inadaptabilidade” e “incapacidade” ao invés de funcionalidade. A última aparece
na formulação do conceito de subproletários. Vejamos com mais atenção.
1.2 – Subproletários
Paul Singer, ao analisar o “tamanho das classes no Brasil” e a “transformação da estrutura
de classes” no período de 1960 até 1976 tomando por base os dados das PNADs e dos Sensos de
1960 e 1970 parece nos fornecer indícios de compreender – aqui de maneira simplória e geral – a
causa da não possibilidade de ascensão social das classes subalternas pela especificidade do
capitalismo brasileiro. Diz o economista que o proletariado é “uma classe que se define em termos
negativos”, se encontram “excluídos da propriedade ou, mais especificamente, de propriedade
suficiente para a reprodução “normal” de sua força de trabalho”. (SINGER, 1981, p. 22).
Tal concepção é agravada pelo fato de o capitalismo produzir um excedente de proletários
maior do que o que pode ser absorvido pelo seu modo de produção. Nas palavras de Singer, “o
capitalismo tende inerentemente a produzir uma população excedentária, colocada inteira ou
parcialmente à margem da vida econômica” (idem.). Para deixar mais claro, existe uma parte da
população, entre os trabalhadores, que é integrada ao modo de produção, são, portanto, os
proletários propriamente ditos, e um excedente que fica à margem da vida econômica, causando
uma divisão dentro do que identificamos como proletariado. Seguiremos com a elucidativa
passagem de Singer: “Esta população excedentária ou superpopulação relativa não se distingue, em
termos de classe, da parte efetivamente empregada do proletariado pois ambas são essenciais ao
funcionamento do sistema, ou seja, à acumulação do capital7.” (idem.) Neste momento o autor
recorre a uma passagem de O Capital de Karl Marx para esclarecer sua formulação:

6
Burawoy buscando aproximações possíveis entre a teoria de Marx e a de Bourdieu, diz que para o último autor “O
capital é sim uma relação, porém, nesse caso, é mais uma relação entre capitalistas do que uma relação entre capitalistas
e trabalhadores”. Mais adiante, “Claramente, a análise que Bourdieu faz da economia é destinada a realçar sua
dimensão cultural.” (2011, p. 37).
7
Grifo nosso para ressaltar que Singer percebe, como já havíamos insistido antes, que a acumulação do capital no Brasil
se dá pela exclusão de parte significativa da população brasileira. Ou seja, o modo de produção capitalista em sua
5
“O sobretrabalho da parte ocupada da classe trabalhadora incha as fileiras de
sua reserva, enquanto inversamente a pressão multiplicada exercida pelos
últimos mediante sua concorrência com os primeiros, força a estes a se
submeter ao sobretrabalho e aos ditados do capital. A condenação de uma
parte da classe trabalhadora ao ócio forçado pelo sobretrabalho da outra
parte, e vice-versa, torna-se meio de enriquecimento capitalista individual e
acelera ao mesmo tempo a produção do exército industrial de reserva num
ritmo correspondente à acumulação social”. (MARX, apud. SINGER, 1981,
p. 22)

Diante do exposto, Singer identifica uma outra parte do proletariado:


“composta pelos que de fato ou potencialmente oferecem sua força de
trabalho no mercado sem encontrar quem esteja disposto a adquiri-la por um
preço que assegure sua reprodução em condições normais, constituindo
assim um proletariado virtual ou subproletariado. O subproletariado ou
exército de reserva não é integrado apenas pelos desempregados /.../ os que
são recrutados para o referido exército são pobres que trabalham, embora
seu trabalho não lhes proporcione meios suficientes para assegurar a
reprodução normal de sua força de trabalho.” (SINGER, 1981, p. 22)

Para alguma indicação do tipo de trabalho exercido pelos subproletários, vale recorrer a uma
passagem de Singer:
“Nas áreas urbanas, boa parte dos subproletários recebe, além de salário
monetário, casa e/ou comida, como é o caso das empregadas domésticas e
dos “peões” da construção civil. Os dados indicam que o marginalizado
típico é cada vez menos representado pelo autônomo não-estabelecido
(vendedor de rua, engraxate etc.) e cada vez mais pelo assalariado de
emprego precário /.../” (SINGER. 1981, p. 133. Grifo nosso)

Diante da passagem de Singer percebe-se que o subproletariado pode ser também


identificado como assalariado de emprego precário, e mais que isso, segundo o autor, parece ser
uma tendência já analisando os dados das décadas de 1960/70. Isso nos leva a uma nova formulação
do problema em termos conceituais. Ora, se subproletários é definido por Singer como vimos
acima, a saber, como “aqueles que oferecem sua força de trabalho no mercado sem encontrar quem
esteja disposto a adquiri-la por um preço que assegure sua reprodução em condições normais”,
isso não exclui a possibilidade de ele ser um assalariado, no entanto, precário. A dúvida que surge,
para realmente podermos definir os subproletariados, está na formulação assalariado de emprego
precário. Pois como se definir emprego precário? Esse é, como dá a entender Paul Singer, o
emprego que não pague um preço que assegure sua reprodução em condições normais, ou
poderíamos dizer também que emprego precário é aquele em que o trabalhador é submetido a
situações degradantes que causam danos psicológicos e físicos? Nota-se assim a necessidade de se

especificidade brasileira tende a não incluir grande parte da população. Para o tipo de acumulação no Brasil é funcional
que exista essa população excedentária.
6
discutir o conceito de subproletariado sem excluir a possibilidade de serem, esses sujeitos,
empregados – mesmo que sejam empregos considerados formais – precariamente8.
Veremos mais a frente que o ideário neodesenvolvimentista retoma essa questão. De forma
similar ao antigo desenvolvimentismo, o ideário neodesenvolvimentista trabalha com a
possibilidade de ao fortalecer a economia, alcançando significativas taxas de crescimento, a
condição de subproletariado pode ser superada. (SINGER, 2012)
2. – A tentativa de solução (neo)desenvolvimentista
As teses propriamente desenvolvimentistas emergem com a possibilidade da industrialização
do país. A expectativa de superação do subdesenvolvimento se dava através desta industrialização,
assim, após 1930 – para marcar um período – a intelectualidade brasileira passava a se debruçar
sobre as condições propícias para a superação dos entraves que conduziria o Brasil a ser um país
industrializado.
Pensavam os desenvolvimentistas – e isso é o essencial para este trabalho – que o
desenvolvimento econômico, fazer do Brasil um país efetivamente industrializado, com altas taxas
de crescimento, conduziria a uma melhoria das condições de vida da maioria da população. Não se
tratava apenas de superar o “atraso” econômico, mas também o social. Essa maneira de pensar foi
predominante, principalmente, a partir de meados dos anos 1940 até o inicio da década de 1960, ou
seja, no período de auge do desenvolvimentismo. Neste período
“Era quase como se, no nível das intenções, se objetivasse tender ao Welfare State
do tipo que se anunciava nas notícias que chegavam da Inglaterra de Laski, só que
sem correr o risco das democracias europeias avançadas.” (BIELSCHOWSKY,
2012, p. 303)

O ideário descrito era compartilhado tanto pelos empresários9 quanto pelas organizações dos
trabalhadores, predominantemente o Partido Comunista Brasileiro10. O fato é que a crise
econômica, social e política que caracteriza o inicio da década de 1960 e o golpe frustram a
expectativa desenvolvimentista. O período de meados de 1940 até o inicio de 1960 demonstra altas
taxas de crescimento, estabilidade política, mobilização popular, mas não evidencia a melhora

8
Ruy Braga ao ser entrevistado sobre as formulações de seu mais recente livro (A política do precariado). Definiu o
precariado como “trabalhadores que, pelo fato de não possuírem qualificações especiais, entram e saem muito
rapidamente do mercado de trabalho /.../ mesmo com o recente avanço da formalização do emprego, as taxas de
rotatividade, de flexibilização, de terceirização e o número de acidentes de trabalho no país subiram na última década”.
(in: http://blogdaboitempo.com.br/category/colunas/ruy-braga/ acessado em 22/02/2013). Percebe-se, dessa forma, que
a inclusão do subproletariado no trabalho formal não elimina o que se entende por trabalho precário, para Braga, trata-
se de precariado.
9
Dizia a carta dos empresários: “Não só por motivo de solidariedade social mas de conveniência econômica, deve ser o
mais rapidamente possível aumentado o poder aquisitivo da população, principalmente rural, visando incrementar a
prosperidade do país e fortalecer o mercado interno consumidor.” (Carta da Paz, p. 15 apud. Bieschowsky, 2012, p.
304).
10
Veja pronunciamento de Luis Carlos Prestes: “/.../ é ilusório pensar em industrialização do Brasil enquanto o mercado
interno não crescer de uma maneira considerável... Concidadãos! O problema, portanto, que aí temos, é de ampliar,
consideravelmente, o mercado interno em nossa terra. Ampliar, tornar maior o mercado, como? Pela elevação do nível
de vida das grandes massas.” (Prestes, apud. BIESCHOWSKY, 2012, p. 304).
7
efetiva das condições de vida da grande maioria da população brasileira. Convive com a
industrialização um crescente número de indivíduos que se encontram a margem das condições
efetivas de “inclusão” no sistema capitalista. Ficou evidente, que o crescimento econômico e a
industrialização não, necessariamente, desembocam na resolução dos problemas sociais. Tal
aspecto fica mais claro na política econômica da ditadura militar, o “milagre” econômico.
O período do “milagre” é significativo para compreendermos as condições necessárias para
um efetivo desenvolvimento econômico em um país de capitalismo hiper tardio. O Brasil
experimentava altas taxas de crescimento (que chegavam aos 9% ao ano) no período que vai de
1968 à 1973/74. No entanto, o modelo de crescimento era voltado ao consumo de bens duráveis de
luxo, o qual somente as classes “privilegiadas” e “integradas” de fato ao capitalismo podiam
adquirir, e mais, o modelo evidenciou que o crescimento econômico se dava pela superexploração
do trabalho11, e não temos conhecimentos de nenhum projeto que buscasse incluir as grandes
massas subalternas com a intenção de diminuir a desigualdade; permanecia as condições de
subcidadão e de subproletário.
2.1 – O Neodesenvolvimentismo
Ainda não pode ser afirmado com segurança que existe uma teoria neodesenvolvimentista
articulada que resulte em um conceito. O que pode ser dito com segurança – para o caso brasileiro –
é que as ideias e políticas neodesenvolvimentistas buscam se diferenciar da ortodoxia neoliberal12.
Sem questionar o tripé econômico basilar do neoliberalismo – superávit primário, metas de inflação
e cambio flutuante – o neodesenvolvimentismo proclama uma maior participação do Estado nas
atividades econômicas, uma política internacional que privilegia as relações não com os países
centrais, mas com os países do Sul e maior ênfase nas políticas sociais, principalmente de combate a
pobreza13.
O neodesenvolvimentismo se confunde com o governo liderado pelo Partido dos
Trabalhadores (PT), principalmente a partir de 2006, com a entrada de Guido Mantega – de
formação desenvolvimentista – na Secretária da Fazenda e da – agora Presidente – Dilma Rousseff

11 Do qual a tomada de consciência dos trabalhadores metalúrgicos é exemplo, pois já percebiam o que ocorria desde
1974 pelo menos, como demonstra a fala dos metalúrgicos em uma passagem do texto de Maurício Tragtenberg: “/.../
pelo contrário, somos dele (do crescimento) parte integrante, e sabemos que sem nossa participação ativa corporificada
pelo nosso trabalho diurno nas fábricas, aquelas taxas de crescimento jamais seriam alcançadas”. (Tragtenberg, 2004, p.
160) A superexploração do trabalho também é evidente em uma passagem em que Lula explica o motivo principal da
eclosão da greve de 1978/79: “A causa mais imediata da greve foi que o estômago do trabalhador estava colando. Foi a
verdade que tivemos corajem de dizer ao trabalhador e que poucos haviam dito antes. A greve aconteceu pela franqueza
que essa palavra foi colocada dentro das fábricas.” (Luis Inácio (Lula) da Silva. apud. Chasin. 2000b, p. 82)
12
“O novo desenvolvimentismo é um “terceiro discurso” entre o velho discurso desenvolvimentista e a ortodoxia
convencional. É a alternativa à ortodoxia convencional que vem se desenvolvendo na América Latina desde o inicio dos
anos 2000, com a participação dos economistas keynesianos e economistas do desenvolvimento. (BRESSER-
PEREIRA, 2011, p. 17)
13
Ver Sader 2009, e para uma argumentação alternativa, ver Chaves 2013.
8
na Casa Civil – também de formação desenvolvimentista. Embora com significativas diferenças,
intelectuais desenvolvimentistas atuam ou atuaram no atual governo ou em institutos ligados à
esfera federal, para citar alguns: Luis Gonzaga Belluzzo, Luciano Coutinho, Nelson Barbosa,
Aloízio Mercadante, Marcio Pochmann, entre outros.
Dessa forma, podemos encontrar em um documento do próprio PT a síntese do aspecto
social da teoria neodesenvolvimentista:
“Na contracorrente dos governos neoliberais emergiu o projeto desenvolvimentista
que desde 2003 ousou inverter as prioridades até então perseguidas. Assim, para
que houvesse crescimento sustentável da produção nacional, a distribuição da
renda se tornou o imperativo nacional. E, com isso, a possibilidade de viabilizar o
projeto de Brasil para todos, cujo processo de inclusão social se transformou em
mola propulsora da economia.” (O DECÊNIO QUE MUDOU O BRASIL, 2013, p.
13)14

Tem-se assim ideário semelhante ao do antigo desenvolvimentismo no que se refere a


questão social, mas com uma diferença fundamental: há em discurso, uma inversão do aspecto
privilegiado. Se no desenvolvimentismo tradicional a fórmula era a partir do crescimento
econômico se criar o mercado consumidor, agora é fortalecendo a renda das grandes massas que se
impulsiona a economia. É por isso, que o aspecto social do atual governo e do
neodesenvolvimentismo tem a aparente forma de ser um projeto econômico e político de inclusão
social, causando confusão conceitual. Ora pode ser denominado neodesenvolvimentismo, ora
social-desenvolvimentismo, ora social-liberalismo.
O governo se valeu de um momento econômico favorável, de alta de preços das
commodities e aumentou significativamente o salário mínimo, implantou de forma generalizada o
Bolsa Família e ampliou as possibilidades de crédito, principalmente o consignado (SINGER,
2012). Disso resulta o fortalecimento do mercado interno, tão desejado pelos desenvolvimentistas
em geral15.
O que o neodesenvolvimentismo não percebe é que, para o capitalismo dependente, tal como
a formula a teoria marxista da dependência – e ainda autores como Francisco de Oliveira e
Florestan Fernandes – a “exclusão” é funcional e pré-condição para a acumulação e reprodução do
capital nos países considerados não desenvolvidos. Vejamos de forma rápida.

14
Formulação semelhante pode ser encontrada em Mercadante (2010a e 2010b), Barbosa (2013) e Singer (2012).
15
Desde os clássicos, como percebemos em Furtado: “Nossa política econômica deveria adotar como objetivo
estratégico o crescimento do mercado interno, o que significa privilegiar os interesses da população. O componente
principal do mercado interno é a massa salarial.” (2007, p. 80) Para a permanência deste ideário e consequentemente
desta política basta o recente pronunciamento de Lula diante dos empresários do agronegócio, diz o líder petista:
"Quando nós fizemos o Bolsa Família, aumentamos o salário mínimo, geramos empregos, nós criamos mais
consumidores. E mais consumidores compram mais carne, óleo de soja, arroz, feijão, compram tudo que eles produziam
e não tinham pra quem vender". (Folha de São Paulo, 'Latifundiário devia votar na Dilma', diz Lula em berço do
agronegócio, 22/10/2014) disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1536718-latifundiario-devia-
votar-na-dilma-diz-lula-em-berco-do-agronegocio.shtml acesso em 09/11/2014.
9
3. – Teoria marxista da dependência e superexploração do trabalho
A teoria marxista da dependência, através de seus maiores expoentes, a saber, Theotônio dos
Santos e Ruy Mauro Marini, identificam como estrutural para o processo de expansão do
capitalismo no Brasil a superexploração do trabalho16. A relação de dependência na qual os países
não desenvolvidos estão submetidos em relação aos países centrais, devido ao atraso tecnológico e a
dependência de capital externo para efetivar o processo de implantação do moderno capitalismo no
Brasil – dependência que percorre toda a história brasileira, desde a época colonial, ver Fernandes
(2009) – acabou por gerar e intensificar o singular o processo da superexploração da força de
trabalho e a utilização de diversos mecanismos para rebaixar o preço da mão de obra. Isso devido,
grosso modo, a diferença tecnológica entre as empresas oriundas dos países centrais e as da
periferia; ao ter, as primeiras, uma maior incorporação de capital constante do que do variável, o
que faz com que as empresas com que tem o capital constante predominante, no processo
concorrencial entre setores e entre países, se apropriem da mais-valia gerada pelos setores no qual o
capital variável predomina – condição na qual a produtividade do trabalho é inferior em
comparação com as de tecnologia mais avançadas. Dessa forma as empresas na qual predomina o
capital variável, para se manter no processo concorrencial e obter a sua parte da mais-valia gerada,
necessitam superexplorar a força de trabalho17.
Diante deste fato, qualquer oportunidade, qualquer condição que favoreça a superexploração
do trabalho, o rebaixamento do valor do salário, é funcional a acumulação do capital em países
dependentes. Pode-se notar facilmente – como já mencionado no exemplo dos subproletários – a
funcionalidade que tem para o rebaixamento dos salários a existência de um grande número de
indivíduos que não se insere efetivamente nas relações de produção capitalista, isso de duas
maneiras: a) primeiro por compor um exército de reserva; segundo por a maior parte deste setor –
composto de subcidadãos e de subproletários – se estabelecer no setor de serviços, contribuindo
para os baixos valores da reprodução da força de trabalho18.
Teríamos, com esse pressuposto teórico, a efetivação de um capitalismo que, diferente dos
países centrais, não tinha as condições e a intenção política de que as classes subalternas

16
Para uma abordagem geral da teoria marxista da dependência e seu contraste diante da teoria da dependência de
Fernando Henrique Cardoso, ver Cotrim (2005).
17
Para os detalhes deste processo ver Amaral e Carcanholo (2012).
18
Isso é muito bem exemplificado por Oliveira (2003) e Cardoso e Novais (2009). Um bom exemplo se dá no
tradicional trabalho doméstico; devido ao baixo valor de renumeração dessas funções, eles rebaixam o valor de
reprodução da força de trabalho. No capitalismo atual, globalizado, e após a reestruturação produtiva, nota-se que
diversas funções ligadas à realização do valor também cumprem essa função. O trabalhador “autônomo” cotidianamente
visto nos semáforos das grandes metrópoles não são incorporados como capital variável para o processo da realização
do valor como antes. Desprovido da formalidade – que garantia um adiantamento sobre a realização do valor pelo
capitalista – este deve realizar o valor por sua própria conta. Fato que evidentemente o deixa em situação vulnerável
contribuindo para o rebaixamento da sua própria reprodução e dos eventuais compradores, realizadores do valor.
10
ascendessem econômica, política e socialmente. Trata-se da singular condição de setores explorados
se valendo da superexploração dos setores ainda mais “marginalizados”.
Diante deste cenário a “ralé”, assim como o subproletariado, cumpriria um papel funcional
para o processo de acumulação capitalista. Mais do que não ter desenvolvido as condições culturais
para se “adaptar” ao capitalismo moderno, a “ralé”, que vive de trabalhos domésticos, de bicos, do
trabalho precário, deveria assim ser mantido para que a acumulação continuasse ocorrendo. Não se
trata, como pensa Jessé Souza, de um setor inútil (SOUZA, 2012, p. 52), mas sim funcional.
Levando em consideração a teoria exposta acima se percebe que qualquer intenção de
aprofundamento das relações capitalistas no Brasil, tal como quer os neodesenvolvimentistas,
pressupõe e intensifica a superexploração do trabalho. Não é difícil evidenciar tal fato. A
informalidade, o trabalho precário, a intensificação da jornada e do trabalho em geral demonstram
este feito, mesmo sob o significativo avanço do trabalho formal, que em geral se dá em condições
de precariedade e de alta rotatividade19.
É necessário ressaltar ainda os impactos advindos da implantação do neoliberalismo e da
reestruturação produtiva no país, minimizando a ação sindical, flexibilizando leis trabalhistas
oficializando a informalidade. Ou seja, assiste-se a intensificação das formas que possibilitam a
superexploração do trabalho20.
O aumento do emprego formal tão proclamado pelo ideário neodesenvolvimentista, se dá,
intensivamente, em setores precários, nos quais a alta rotatividade prevalece. Este fato é
reconhecido por um de seus principais ideólogos Marcio Pochmann (2012) que nos mostra que a
grande maioria dos empregos criados durante o governo liderado pelo PT se dá no setor de
serviços21 e, também, na construção civil22, ou seja, setores com alta rotatividade de mão de obra e
com baixa renumeração. O setor industrial que, em tese, cria os empregos com maior renumeração e
com maior estabilidade, evidencia um recuo e consequentemente diminui a criação de empregos 23,

19
Assim se entende por qual motivo a maioria dos empregos criados no país se dão em funções como servente de obras,
alimentador de linha de produção, faxineiro e etc. Funções que não ultrapassam o valor de dois salários mínimos. Folha
de são Paulo, “Menos qualificado sustenta boom de empregos no país”, 10 de agosto de 2014, primeira página. Ou
ainda, podemos notar que mesmo com a aprovação da exigibilidade da formalidade do trabalho doméstico, esse, ainda é
majoritariamente informal, contribuindo, como vimos para o rebaixamento do valor da reprodução da força de trabalho.
Estado de São Paulo o, Desemprego cai a 6,8% no 2º trimestre, 07 de novembro de 2014, Economia e Negócios, p. B7.
20
Ver Antunes (2005;2011)
21
Sendo que o setor de serviços é o responsável por maior parte dos empregos criados, que ainda permanece com
salários baixos. Ver Setor de Serviços Cresce, mas Salário ainda é baixo. In: Folha de São Paulo de 1º de novembro de
2012, caderno Mercado, B6. Vale citar também que o setor de telemarketing, um dos que mais contratam na atualidade,
mesmo esperando uma rentabilidade menor em 2012, esperava aumentar em 10% o número de contratações em
dezembro de 2012. Ver Setor de telemarketing espera rentabilidade menor em 2012. In: Folha de São Paulo de 26 de
novembro de 2012, B2.
22
Setor que como vimos acima é responsável pelo maior número de empregos criado, mas que não chegam a dois
salários mínimos.
23
A indústria brasileira, mesmo com os incentivos do governo, não anda tão bem. Ver Indústria patina em 2012 e
produção encolhe 2,7%. In: Folha de São Paulo de 2 de fevereiro de 2013, B1.Evidentemente o emprego na indústria
acompanha o ritmo de sua produção. Ver Emprego na indústria cai pelo 15º mês e fecha 2012 negativo em 1,4%. In:
11
frustrando assim expectativas como as de Singer (2012) que enxerga no emprego industrial a
superação do subproletariado.
Mesmo quando se enxerga a possibilidade de “chances” – devido a integração de setores
antes subalternos no processo efetivo do capitalismo, propiciado pelas novas formas do atual
sistema do capital, neoliberal – possibilitada, como quer Jessé Souza, pela incorporação de uma
ética – ou um habitus – do trabalho, ou seja, ainda na terminologia de nosso autor, de uma
“europeização”, o que se observa é a superexploração do trabalho:
“Nossa pesquisa mostrou que essa classe [os btalhadores] conseguiu seu lugar ao
sol à custa de extraordinário esforço: à sua capacidade de resistir ao cansaço de
vários empregos e turnos de trabalho, à dupla jornada na escola e no trabalho, à
extraordinária capacidade de poupança e de resistência ao consumo imediato e, tão
ou mais importante que tudo que foi dito, a uma extraordinária crença em si mesmo
e no próprio trabalho.” (SOUZA, 2012, p. 50)

Trata-se dos batalhadores, uma classe que está acima da “ralé” e abaixo da classe média,
segundo Souza. O autor não percebe a funcionalidade que tanto a “ralé”, quanto os batalhadores
tem para a acumulação de capital em países dependentes.
4. – Considerações finais
Tentamos demonstrar que o processo de efetivação do capitalismo no Brasil gerou um
grande número de indivíduos (a maioria da população do país) que se insere nas relações
capitalistas de forma “marginal”. Em termos conceituais essa grande massa pode ser identificada
como subcidadãos (“ralé”) e subproletários. Ambos são identificados pela não inclusão de fato nas
relações capitalistas modernas.
Diferente do trato dado rotineiramente pela sociologia, entendemos que, diante das
determinações que caracterizam um capitalismo de tipo hiper tardio e dependente, esses setores
tratados como “excluídos” possuem uma funcionalidade que propicia a forma de acumulação, de
extração de mais-valia em países dependentes.
Sem se atentar para este fato, as teorias (neo)desenvolvimentistas divulgam através de seu
ideário a possibilidade de que com o fortalecer o mercado interno, via emprego formal, e aumento
da renda, teríamos a possibilidade de superar a condição social de subcidadania e de
subproletariado. De maneira diferente, autores como Jessé Souza, pensam que com a incorporação
de uma ética do trabalho, de um habitus, alguns setores tem a “chance” de alcançar seu lugar ao sol,
se diferenciando em modos de vida e economicamente dos subcidadãos.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1228047-emprego-na-industria-cai-pelo-15-mes-e-fecha-2012-negativo-em-
14.shtml. Acessado em 08/02/2013. Dados mais recentes evidenciam a continuidade do fenômeno, ver Produção de
veículos recua 16% no ano e montadoras cortam 10 mil vagas, Estado de São Paulo, 7 de novembro de 2011,
Economia e Negócios, p. B11.
12
É nítido que quando levamos em consideração a teoria marxista da dependência,
percebemos a funcionalidade e o papel fundamental exercido pelos setores subalternos, de modo a
intensificar a superexploração do trabalho, e ao rebaixar o valor de reprodução da força de trabalho.
Deste modo, concluímos que a solução (neo)desenvolvimentista, assim como a expectativa
por uma incorporação de um habitus próprio do capitalismo moderno, não propiciam a superação
das condições de subcidadania e de subproletários, pelo contrário, diante do capitalismo atual,
neoliberal, essas condições são aprofundadas.

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