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Gabriel Lima de Oliveira 084380

Unicamp- Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de Antropologia
HZ467 B Antropologia e estudo do parentesco
Prof° Ricardo Cavalcanti-Schiel

LÉVI-STRAUSS, Claude.1986. Minhas palavras. São Paulo: Brasiliense.


(Capítulos “A noção de casa” e “Considerações sobre a Indonésia”: 185-195).

LEA, Vanessa. 1993. “Casas e Casas Mebengokrê (Jê)”. In: Eduardo Viveiros
de Castro & Manuela Carneiro da Cunha (ed’s.). Amazônia. Etnologia e História
Indígena: 265-282. São Paulo: NHII-USP/ FAPESP.)

O curso de Lévi-Strauss acerca da noção de casa visa “sociedades formadas


por unidades q eu ão se deixam definir como famílias, nem como clãs ou linhagens”
(p.185). A noção de casa de Lévi-Strauss não se limita à residencia, mas é
fundamentalmente uma pessoa moral, sujeito de direitos e deveres. Utilizando o sentido
de casa como o das casas nobres medievais europeias, Lévi-Strauss leva esse conceito
ao campo da etnologia.

O autor exemplifica com o caso yorok, que “apareceram aos observadores


como desprovidos de uma regra de descendencia bem delimitada, de governo, de
autoridade e até mesmo de organização social” (p.186). Pontua que é um erro procurar
entender essa sociedade a partir dos traços que nela falta, nesse contexto Lévi-Strauss
lança a noção de casa:

Pessoa moral detentora de um domínio, que se perpetua pela


transmissão do seu nome, de sua fortuna e de seus títulos em
linha real ou fictícia, considerada como legítima somente na
condição de que essa continuidade possa se expressar na
linguagem do parentesco ou da aliança e, na maioria dos casos,
das duas em conjunto. (p.186)

Embora as casas nessas sociedades se perpetuam através da filiação, pela


aliança e pela adoção, não são esses elementos isoladamente que garantem sua
existência. A noção de casa “objetivação de uma: relação instável de aliança, que,
enquanto instituição, a casa tem a função de imobilizar, ainda que sob forma fantástica.”
(p.191). Assim Lévi-Strauss traz um novo conceito para o estudo de parentesco:

“Instituição específica que merece um lugar na nomenclatura,


pois ela não deve sua existência nem à filiação, nem à
propriedade, nem à residências tomadas em si, isoladamente,
mas é projeção de uma relação suscetível de se manifestar sob
uma dessas formas ilusórias ou sob várias” (p.191)

O texto de Lea traz a discussão da noção de casa de Lévi-Strauss (embora com


certas adequações) para o estudo da organização social dos Mebengokre. Segundo a
concepção dessa sociedade, “cada aldeia concreta remete a uma aldeia ideal, contituída
pela totalidade das Casas dispersas pelas aldeias que compõe a sociedade mebengokre.”
(p.266), “cada Casa tem um lugar de origem numa determinada porção do círculo
aldeão, onde seus membros erguem as habitações desde tempos imemoriais” (p.273).
Como dito na noção de casa de Lévi-Strauss, essas casas possuem um conjunto de bens
simbólicos inalienáveis que as identificam ou distinguem entre si composto por nomes
pessoais, prerrogaticas (nekrets) e referências mitológicas e/ou históricas. Para se referir
à determinada casa remete a algum atributo da casa em questão.

Nessa sociedade os laços são herdados a partir da Casa da mãe, quando o


homem se casa ele se instala na habitação de sua esposa. O homem transmite seus
nomes (ou seja, de sua Casa) para os filhos de suas irmãs e primas paralelas
matrilaterais que estão na mesma Casa, ou seja, são as irmãs de ego que produzem seus
herdeiros. Os indivíduos só podem retransmitir os nomes de sua própria Casa, para
membros dessa (“nomes e nekrets devem sempre voltar à casa de origem” - p.270),
sendo que os genitores nunca podem retransmitir os nomes aos seus filhos, podendo, no
entanto aos netos. Em sua:

“nomes e nekrets passam exclusivamente das categorias


nhènget (irmão da mãe, pai da mãe e pai do pai) e kwatèy (irmã
do pai, mãe da mãe e mãe do pai) aos tabdzwè (filhos dos
filhos; filhos da irmã para Ego masculino; filhos do irmão para
Ego feminino)” (p.270)

Nesse contexto podemos notar mulheres que cedem seus irmãos para outras
Casas, fazendo com que estes gerem filhos e em troca recuperam os nomes e nekrets de
seus irmãos para os seus próprios filhos. O patrimônio de cada Casa pode ser
enriquecido ou mesmo roubado, quando o nomes e nekrets passam a circular em uma
outra casa, ou seja, perdem sua função diferenciadora, perdem seu “poder”, não sendo
considerado mais “puro”.

Por fim destaco as “relações de substância” que dizem respeito a um “laço


místico”, este que une certos indivíduos e os transformam em pessoa. O corpo é
constituído a partir do sêmen do pai e nutrido pela mãe. Os nomes e nekrets formam
uma “essência imaterial”, que são transmitidos pelos descendentes da Casa, como dito
acima. Dessa forma são usados nomes e nekrets de antepassados, o que cancela o vácuo
temporal entre mortos e vivos. Cito a autora:

“Nomes e nekrets são considerados como um envoltório do


organismo, uma segunda pele que a sociedade recupera do
indivíduo na ocasião de sua morte para poder se
reproduzir”(p.274)

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