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Universidade Estadual de Campinas

Letícia Bona Travagin – RA: 103057

25/08/2011

Disciplina HZ352 – Metodologia e Técnicas de Pesquisa.

Profª Drª Rosana Baeninger

FICHAMENTO – “A ESCOLHA DO TEMA”

ECO, Umberto. “A Escolha do Tema”. In: Como se faz uma tese. São Paulo:
Perspectiva, 1983. Pp. 7 – 34.

Umberto Eco sistematiza no texto os passos e requisitos fundamentais para a


escolha do tema de uma tese científica. O autor analisa diferentes aspectos do processo
de escolha, como a extensão do assunto, o período histórico que o caracteriza, a
viabilidade de encontrar as fontes, a sua natureza (histórica ou teórica, científica ou
política), a necessidade de conhecimento de idiomas estrangeiros, o tempo que requer
uma tese, e a relação do aluno com seu orientador. De forma muito clara, após a análise
de cada aspecto, o autor demonstra as seguintes conclusões:

 “Quanto mais se restringe o campo, melhor e com mais segurança se trabalha.


Uma tese monográfica é preferível a uma tese panorâmica” (ECO, p. 10).
Enquanto a primeira apoia-se sobre um único tema, recortado e pontual, a
segunda busca explicar períodos muito longos sobre um mesmo tema, onde
podem aparecer outros temas relacionados, o que necessitaria mencionar todos
os grandes intelectuais do assunto, oriundos de várias épocas históricas, para
minimizar as chances de críticas por parte dos examinadores, o que torna a
pesquisa praticamente impossível.

 As teses teóricas, aquelas que trabalham com conceitos muito amplos e


abstratos, são perigosas. Elas acabam transformando-se em teses panorâmicas
incompletas, ou em pequenos resumos que querem resolver grandes problemas,
como a existência de Deus, o conceito de liberdade, a natureza humana. Deve-se
então recortar tais conceitos, gerando uma tese historiográfica. Por exemplo: “A
noção de liberdade” torna-se “A noção de liberdade em Kant”. Embora um
estudo desse nível ainda precise de um conhecimento panorâmico prévio, a
segunda opção é bem mais viável.

 “Trabalhe sobre um contemporâneo como se fosse um antigo, e vice-versa.”


(ECO, p.14). O autor aposta nesse conselho dado que ambas as opções têm prós
e contras, e não há uma regra de qual seja melhor. Eco afirma que ler um
contemporâneo é mais difícil porque supõe o conhecimento de todas as suas
influências, que podem ser muitas, obrigando o aluno a recorrer aos clássicos, o
que também pode ser muito proveitoso. A leitura dos antigos, por sua vez, é
mais cansativa e as fontes podem ser de difícil acesso, porém o estudante tem
maiores chances de encontrar estudos completos e esquemas já organizados
sobre eles.

 O tempo necessário para se fazer uma tese, desde a escolha do tema até sua
conclusão, é “não mais de três anos e não menos de seis meses” (ECO, p. 14).
Se não foi possível concluir a tese em três anos, existe algum problema com o
tema ou com o estudante, ao passo que seis meses é pouco tempo para coletar
todas as fontes, discutir os passos com o orientador, executar o plano de trabalho
e concluir a tese. Eco ainda acrescenta que o ideal é escolher o tema “por volta
do final do segundo ano de estudos” (ECO, p. 14). Entretanto, há casos em que a
tese precisa ser feita em seis meses, e para isso o tema deve ser ainda mais
circunscrito, passível de análise marginal, e cujas fontes estejam facilmente
disponíveis.

 O conhecimento de outros idiomas é requisito quando se deseja fazer uma tese


sobre um autor estrangeiro, pois ele deve ser lido no original, ou quando os
intelectuais autores das grandes obras sobre o tema escolhido são estrangeiros.
Se apenas um livro da bibliografia selecionada estiver em outra língua, pode-se
ler uma tradução, mas a pesquisa não deve se pautar muito nessa obra.
 Quanto à dúvida entre fazer uma tese científica ou uma tese política, Eco parte
do esclarecimento acerca da cientificidade. Um estudo científico é aquele cujo
objeto é “reconhecido e definido de tal maneira que seja reconhecível
igualmente pelos outros” (ECO, p. 21). Além disso, “deve fornecer elementos
para a verificação e a contestação das hipóteses apresentadas” (ECO, p. 23).
Sendo assim, uma tese política pode ser ao mesmo tempo científica se obedecer
todas as regras metodológicas de observação, descrição e verificação empírica.
Ou seja, um acontecimento político recente pode gerar uma tese se o estudante
submetê-lo a uma abordagem científica, o que requer certa imparcialidade, tendo
o cuidado de não transformar a sua pesquisa em um manifesto. Para
exemplificar esta afirmação, Eco explica no texto os passos necessários para
tornar uma pesquisa sobre as Rádios Livres contemporâneas em um estudo
cientifico, não apenas em um relato estatístico. Vale lembrar que qualquer
pesquisa deve acrescentar algo novo sobre o objeto em questão, e deve ser útil
aos que a ela recorrem, caso contrário, a tese não passa de uma reprodução
desinteressante de pesquisas já existentes.

 Por fim, o autor trata sobre a relação orientando-orientador, apontando os


problemas que geralmente aparecem quando o estudante decide participar da
pesquisa do orientador, em vez de executar sua própria pesquisa. Nesses casos, o
aluno pode frustrar-se trabalhando com um tema que não é do seu interesse,
transformar-se num simples coletor de dados, ou ainda deparar-se com um
professor desonesto que usa o trabalho do orientando como se fosse o seu. O
conselho de Eco é que, antes de definir um orientador, o aluno procure as
referências sobre ele e os temas das teses que já orientou, para que seja possível
julgar se é interessante seguir uma pesquisa coordenada por este professor.

No capítulo, o autor analisa minuciosamente cada um dos aspectos enumerados


acima, exemplificando-os e estabelecendo argumentos sólidos e objetivos. No mais,
trata-se de um texto aplicável a todas as áreas do conhecimento, pois traz os passos
necessários para a escolha do tema de uma forma imparcial que abrange as ciências
humanas, exatas e biológicas, constituindo um documento de consulta fundamental para
todos os estudantes em época de escolha do tema para suas teses.

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