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GLAUCIO JOSÉ COURI MACHADO

CONVERSA DE VINIL
o universo dos discos de vinil

VirtualBooks Editora
© Copyright 2016, Glaucio José Couri Machado.

1ª edição

(publicado em novembro de 2016)

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei no 9.610, de


19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia
por escrito do detentor dos direitos, poderá ser reproduzida ou
transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos,
mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Machado, Glaucio José Couri

CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil. Glaucio


José Couri Machado. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora,
Publicação 2016.14x20 cm. 100p.

ISBN 978-85-434-0922-1

1 - Música. Brasil. Título.

CDD- 780

_______________
Livro editado pela
VIRTUALBOOKS EDITORA E LIVRARIA LTDA.
Rua Porciúncula,118 - São Francisco
Pará de Minas - MG - CEP 35661-177 -
Tel.: (37) 32316653 - e-mail: capasvb@gmail.com
http://www.virtualbooks.com.br
Índice

Prefácio – 5

Uma crônica vinílica ou escutar vinil é um novo


aprendizado! – 7
Quem pensa que o vinil morreu? – 9
Não! O disco de vinil não é modismo! Questões para
pensarem sobre o assunto – 13

Alguns aspectos da cultura e da história do vinil


21 de junho de 1948 o dia que nasceu o vinil e os seus
65 anos no Brasil – 20
Abril, o mês do disco – 22
1987, 1996 e 1997: nascimento do Compact Disc no
Brasil, o fim(?) do vinil e a morte do CD? – 25
Uma história interessante e sem desfecho: quando o
vinil e a Polysom iriam virar Patrimônios do Brasil –
27
O rock brazuca dos anos 80: o último grande
movimento musical do vinil brasileiro – 30

Tecnologia, manuseio e dicas


Para quem vai iniciar (ou reiniciar) sua vida musical
com o vinil – 32
Cuidados, limpeza e armazenamento – 34
Qualidade sonora do vinil streaming, MP3 e CD – 37
Toca-discos e vitrolas – 42


Aparelhos de som vintage para tocar vinil, vale a pena?
– 44
Som vintage e manuais: um problema! Mas…
sugerimos soluções! – 47
Agulhas e cápsulas: prepare o bolso, mas damos uma
dica! – 50
Fábricas de vinil pelo mundo – 53
Compacto: o disquinho de 7 polegadas – 57
10 problemas existentes no vinil – 59
12 mitos que envolvem o mundo do vinil – 62

Economia do vinil
Como comprar vinil usado pela internet – 65
11 dicas para você comprar seu novo toca-discos – 67
As feiras de vinil que pipocam pelo país afora! – 71
A trilha sonora e a indústria fonográfica – 73
O vinil no Brasil: entre a cruz e a espada! Imposto,
dólar alto e duas únicas fábricas brasileira – 75
O que faz o preço do vinil novo e usado – 78
Comparação entre os preços dos toca-discos no Brasil e
nos EUA: um papo de arrepiar os cabelos – 82

Futurologia
Um alerta: O mercado de música mundial entre a
expectativa e a decadência – 89
Onde estaria o vinil no futuro do mercado de música? -
94

CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Prefácio

Em outubro de 2015, mais precisamente, no dia 25 do


referido mês, nascia o site Universo do Vinil1 - que organizei e
coordeno até hoje - com a proposta de ser uma espécie de
revista digital sobre cuidados e limpeza, história, tecnologias,
cultura, indústria fonográfica, resenhas e críticas sobre músicos,
músicas, discos novos e antigos, onde comprar e tudo mais que
se possa imaginar sobre este vasto mundo dos discos de vinil;
está presente nas Redes Sociais, principalmente no Facebook2
e no Instagram.
O Universo do Vinil, também conhecido, por UV contém
nos seus espaços na Internet mais de 1000 conteúdos postados e
tem como carro chefe a seção semanal Conversa de Vinil que
sai aos domingos. Muitos dos artigos deste livro são oriundos
desta seção e outros vieram de diversas partes do site.
Falando de números, a visita diária do Portal do UV
ultrapassa a média de mil visitantes dia; semanalmente o
alcance no Facebook vai além de 20 mil pessoas e tem hoje
mais de 33 mil curtidores.
Ora ora, estou falando de conteúdo atual e voltado para
discos de vinil (e, por conseguinte, para a música analógica) e
estes números são surpreendentes, pois, estas audiências são
fantásticas para algo desta natureza, afinal, esta mídia é muita
usada por seus aficionados, mas não é uma mídia muito popular
no uso, apesar de estar impregnada na memória e na cultura
brasileira.
Este livro é uma pequena parte deste universo de assuntos
que o UV vem trazendo diariamente sobre os bolachões. Todos

1
www.universodovinil.com.br
2
fb.com/universodovinil
-5-
Glaucio José Couri Machado

os temas são artigos de minha autoria que já foram publicados


no site entre outubro de 2015 a outubro de 2016, porém, foram
reorganizados para se adequarem à linguagem e formato de um
livro, assim como, quando necessário, novos dados foram
incorporados para a atualização do conteúdo e alguns escritos
foram unidos para facilitar o entendimento e procurei
sistematizar em seções, na esperança que possa servir como
uma obra para complementar e auxiliar a experiência do leitor-
leitora com o vinil.
Espero que aproveitem e se divirtam, pois, música é assunto
que envolve finanças, negócios e tecnologias, mas, antes de
tudo é para nosso deleite e alegria.

O autor

-6-
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Uma crônica vinílica ou escutar vinil é um novo


aprendizado!

Filha: Pai, como se coloca um disco na vitrola?


Pai: Pega o disco, com cuidado, não encoste os dedos no
meio do disco, pegando só pelas bordas, coloque no prato e
deixe o braço do toca-discos encostar bem de leve no vinil.
Filha: Que prato?
Pai: Esse disco redondo com um feltro e um pino! Coloque o
disco nele, apoiando-o pelo pino!
Filha: Pai, não tá tocando! O braço não encosta no disco!
Vai o pai, observa o ocorrido e percebe que a filha deixou de
soltar o braço pela alavanca, ficando o mesmo no alto do
disco…
Outra cena, agora, o pai com o namorado da filha:
Pai: Vira o disco para mim?
O namorado da filha pega o braço com toda a força, quase
quebrando e passa a agulha pelo disco fazendo aquele barulho
que todos conhecem… por um fio não detonou agulha, braço e
disco!
É, caro leitor-leitora, essas cenas podem acontecer em
qualquer família que tenha tirado seus vinis dos depósitos e
passado a usá-los com mais frequência nos últimos tempos.
Manipular o vinil, a vitrola, o braço, a agulha e até mesmo
ligar o aparelho de som (principalmente se for um vintage – que
será tratado mais adiante) são experiências que muitos com
menos de 25 anos não têm, porém, ao ouvirem o som do vinil
passam a gostar desse “novo barato”.
O vinil atrai curiosidade!
-7-
Glaucio José Couri Machado

Mas, passar a usar o vinil como uma opção de mídia


sonora requer novas instruções, muitos que tem mais de 25 já
esqueceram, imaginem os que têm menos.
O disco de vinil e tudo que está no seu universo reivindicam
atitudes simples mas, a operacionalização é bem diferente
daquilo que é feito hoje em dia! Escutar música a partir dos
CDs, pelo streaming, tocadores de MP3 ou no próprio
computador é tarefa bastante amigável e os mais novos já
foram “alfabetizados” para a manipulação do digital.
Contudo, o que venho observando é que a juventude quando
se depara com o universo do vinil passa a gostar tanto das
“bolachonas” quanto das outras mídias e a sonoridade que sai
destes disquinhos os agrada muito (uma grande especulação
que faço é que o som mais grave os motiva bastante, pois, nas
mídias digitais esta frequência é aparentemente artificial por
demasia), entretanto, não trocam seus players MP3 e seus
celulares com Deezer, Spotify ou outros, ou seja, essa
juventude, os menores de 25 anos, conseguem conviver com o
analógico e o digital em matéria de música sem qualquer pudor
ou distanciamento e aprendem fácil fácil as questões que
envolvem os vinis.
Minha filha e seu namorado em menos de 10 minutos já
aprenderam a usar o toca-discos e adoram “escutar um som”! O
disquinho de plástico passou a fazer parte da vida deles e, de
quebra, estão descobrindo um novo universo musical com
artistas e conjuntos que jamais tinham ouvido falar!
Que a juventude se sinta bem vinda e aconchegada no
universo do vinil!

-8-
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Quem pensa que o vinil morreu?

Dire Straits com seu disco Brothers in Arms de 1985 pode


ser considerado como um dos marcos da passagem do vinil
para o CD. Dizem por aí e espalhado pelos sete cantos da
Internet, entre blogs e portais sobre música, que as vendas em
Compact Disc deste álbum ultrapassavam o número de players
para CD existentes no mundo e era uma das primeiras vezes
que um disco fora feito totalmente no sistema digital.
Brothers in Arms era o agente que praticamente inaugurava
a mudança mais significativa (até o MP3) do formato de venda
de música: do vinil para o CD.
A partir daí, todo mundo lembra. Os discos de plástico
pretos foram deixados num canto ou jogados fora e as
“aparelhagens de som” mudavam de perfil: saia o toca-discos e
colocava em seu lugar um tocador de CD.
Nessa mudança de tecnologia algumas fábricas e marcas, até
então consideradas fortes e imbatíveis, caiam junto com as
minguadas vendas de vinil e davam lugar a outras, mais
“antenadas” com a nova era. Quem não se lembra da
Gradiente? Esse é o maior exemplo disso! A indústria
fonográfica fechava as fábricas de vinil e abria outras com a
nova tecnologia digital. Saía a música analógica e entrava o
sistema digital!
Mas, espera ai? Realmente todos os vinis foram jogados fora
ou deixados em um canto? Todas as fábricas de vinil fecharam?
No Brasil, praticamente, sim. No mundo, particularmente,
nos EUA e em alguns países da Europa, nem tanto.
O vinil continuou vivo pelas mãos e ouvidos daqueles que
gostavam do timbre do disco de plástico preto e essa parcela
manteve viva vendas e produções.

-9-
Glaucio José Couri Machado

A partir de 2007 – também propagado pelos 7 cantos da


Internet – um movimento nos EUA chamado Record Store Day
começou a mostrar ao mundo que o vinil não tinha morrido,
apenas estava um pouco adormecido e para uma legião
continuava vivo e forte. Os números mostravam isso. Ano após
ano as vendas de vinil começavam a recolocar cifras na
indústria fonográfica, pois, esta passara a perder milhões de
lucros com a entrada de um novo formato de emitir som por
meio da Informática: o MP3.
As vendas de CD que antes eram na casa dos milhões
passavam a cair cada vez mais. Lojas especializadas fechavam
e as prateleiras para venda de música dos grandes magazines e
supermercados davam lugar a outros produtos.
Da revolução do vinil para o CD e do CD para o MP3, veio
a nova era: o streaming de música. O MP3 fez a indústria
fonográfica amargar prejuízos, já que este formato era
facilmente pirateado e distribuído para download gratuito em
várias páginas, blogs e sites especializados em armazenagem
nas nuvens (mesmo que ilegalmente).
O streaming deu um novo respiro para a indústria da música
e mantém até hoje sucesso na comercialização, pois, é uma
tecnologia que se paga para ouvir as músicas ou, quando
gratuito, há a presença de propagandas que mantém as finanças
do empreendimento vivas.
Mas, e o vinil?
Pois bem… o vinil, de verdade, de verdade, jamais morreu,
jamais esteve dormindo, apenas saíram do cenário as notícias
que envolviam este universo, mas saíram por 10 anos ou, talvez
no máximo, 15 anos. Hoje o vinil comemora as altas vendas e
está de volta firme e forte e nas mãos não apenas dos
saudosistas e dos maiores de 40 anos. A juventude consome
vinil; artistas, inclusive populares, passaram a privilegiar as

- 10 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

gravações em vinil e as fábricas (as poucas restantes) não dão


conta do volume de encomendas.
Para se ter uma ideia, nos EUA, os últimos números (de
2015 e não parciais como o apresentado pelo 1º semestre de
2016) sobre a indústria fonográfica (fornecidos pela RIAA –
Recording Industry Association Of America) demonstram que
o formato de plástico, redondo e preto que armazena música, é
o mais lucrativo (na porcentagem de rendimentos que gera).
Mais que o streaming! E as vendas de CD, ano após ano,
despencam.
No Brasil, a única fábrica de vinil3 (Polysom) não abre a
caixa preta dos lucros, mas basta dar uma olhada atenta na sua
produção que vemos que vai de vento em popa, inclusive
coleções (comumente chamadas por caixas ou box) com preços
considerados de alto valor estão sendo lançadas; sem contar que
mês a mês sai um ou mais novos títulos.
Para exemplificar incisivamente a representação do vinil no
mercado de música, rapidamente comento da economia paralela
que está “bombando”: a venda de aparelhos vintage (os
aparelhos de som das décadas de 80 e 90, principalmente –
passem os olhos no Mercado Livre ou na OLX); de toca-discos
novos (dê uma olhada em qualquer grande loja na Internet que
encontrará uma variedade de modelos) e de discos usados (o
Mercado Livre anunciou em 2015 que a venda de LPs é o
maior negócio da parte de música do portal de vendas).
Dizem que estamos numa crise, que ninguém compra mais
nada. Nada? Não, senhores! Tudo, do universo do vinil, como
falam por aí, está “vendendo horrores”!
Isso seria um modismo? Creio que não! Porque o que as
pessoas querem é “pegar a música”, ou seja, colocar nas mãos a
mídia de onde a música sairá, bem como, ver os encartes, com
3
Até a escrita deste artigo a Vinil Brasil ainda não tinha sido inaugurada
- 11 -
Glaucio José Couri Machado

as fotos e imagens do álbum, fichas técnicas e mais ainda:


ritualisticamente, colocar o disco pra rodar e ouvir!
Sou da teoria que o MP3, o streaming e o CD têm seu
espaço de importância, qualidades (isso é discutido mais
adiante) e servem para alguns momentos onde escutar vinil é
quase impossível4 ou muito difícil, como ao fazer caminhadas,
no carro e etc. Porém, o vinil com suas características, para
mim, oferece um prazer muito maior e sua lógica de construção
entre os lados A e B permitem um maior requinte do artista ao
montar seu disco, compondo uma construção mais elaborada da
obra, além disso, por mais que o CD seja de alta fidelidade,
não tem o apelo sensorial que um LP ou compacto têm.

4
Alguns mais radicais apontam a fita K7 como a saída para estas ocasiões, porém,
não precisamos irmos tão longe na escolha entre música analógica e digital. Mas,
cada um na sua...
- 12 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Não! O disco de vinil não é modismo! Questões


para pensarem sobre o assunto

Nas últimas semanas dos meses de maio e junho de 2016, li


pelo menos umas 3 reportagens falando bem do disco de vinil e
no final sempre um “senão”, um “porém”, um “vai que é
modismo” ou um “isso não durará muito”.
Que engano destes excelentes jornalistas.
Fico a pensar se realmente conhecem a história do vinil no
Brasil, o que essa história carrega como legado para os dias de
hoje e todos os melindres e meandros do consumo de música
no país.
Então, vamos dar apenas 5 questões para pensarem sobre o
assunto:
Primeiro e talvez o mais fundamental: o Brasil foi um dos
últimos grandes consumidores de música do mundo a largarem
o hábito do vinil para o CD. Chegamos a ser o maior
consumidor dos disquinhos pretos de plástico do planeta. Este
fato pode ter sido motivado pelo nosso menor poder aquisitivo
perto dos grandes como EUA e países europeus e, por isso,
enquanto estes países já estavam com CDs nos seus players,
nós ainda escutávamos bolachão. Ora, este “acontecimento” fez
com que o LP se mantivesse muito mais tempo nas nossas
vidas, se impregnando no nosso consciente coletivo e, portanto,
o “passado” é mais recente e a idade do acesso não é tão velha.
Sem contar que fomos também um dos pioneiros na produção
de vinil. Assim, o “objeto vinil” é algo bastante presente e
longevo na nossa cultura.

- 13 -
Glaucio José Couri Machado

Segundo: a pesquisa que o UV5 fez com mais de 700


respondentes e publicou no dia 07 de agosto de 2016 sobre o
perfil do fã e colecionador de discos de vinil nos aponta:
• O fã de vinil é predominantemente do sexo masculino e os
fãs estão, em sua maioria, na faixa acima dos 33 anos
• A renda familiar é acima dos 3 mil Reais
• 53,2% têm curso superior e apenas 1,7% tem o ensino
fundamental incompleto.
• 83% gostam do vinil desde sempre
• 97% dos respondentes têm vinil em casa
• Destes que têm vinil em casa apenas 13,1% tem menos de
50 discos
• 18,1% compram até 4 vinis por ano e 42,5% compram
mais de 12
• 76,6% compram vinis novos e usados e 21,2% compram só
usados
• 83,5 % afirmam não ter preferência em comprar vinil
nacional ou importado perto dos 8,3% que afirmam comprar só
nacionais e 6,1% compram somente importados
• Sobre como comprar vinis (esta questão podia ter mais de
uma resposta) 78,3% vão às lojas físicas comprar; 63,1%
compram em lojas brasileiras pela Internet; 26,9% afirmam
importar em e-commerce internacional e 17,5% compram
diretamente em viagens ao exterior ou encomendam de alguém
que irá a outros países.

5
Aceso à pesquisa:
http://universodovinil.com.br/2016/08/07/perfil-fa-colecionador-discos-de-vinil/ -
organizada e elaborada pelo autor deste livro
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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

• 30,5% dos compradores de mídia de música adquirem


somente vinil e 53,6% compram CD e 40,5% DVD legais. A
compra de CDs piratas é de apenas 4,1% e de DVD nesta
mesma situação é de 4,4%, em contrapartida, 42,6% fazem
download ilegal. 19,9% são assinantes de algum streaming de
música e 24,1% utilizam o streaming gratuito.
• 49,1% dos que ainda não compraram vinil afirmaram não
ter adquirido, pois, ainda não encontraram aquele que desejam.
20% não têm dinheiro para gastar com vinil e apenas 7,3%
disseram não ter pretensão de compra.
• 91,8% dos respondentes têm toca-discos. Destes 49,2%
têm mais de um em casa.
• 45,3% não sabem a idade do seu player de vinil e 8,1%
recém o comprou
• 40,1% escutam vinil todos os dias e somente 7,5% escutam
raramente
• Apenas 23,9% escutam seu vinil sozinho.
• Dos que disseram não ter toca-discos, a causa de não os ter
está ligada à falta de finanças para comprar (60,3%)
• Destes que não tem toca-discos 49,5% não têm onde
escutar e 50,5% escutam em outro local, tais como: em casa de
amigos 77,2%; em casa de parentes ou namorada(o) 22,8%;
15,8% em bibliotecas ou no trabalho e 7% no local de estudo.
• Nas escolhas da preferência musical (podia escolher mais
de uma) o rock internacional, seguido do rock nacional, da
MPB e do blues são os estilos prediletos do fã do vinil.
• Os amantes do vinil abaixo dos 27 anos superam os da
faixa de 53 anos em diante.
Não podemos negar que esta pesquisa nos dá pistas e é bom
aprofundarmos alguns pontos:

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Glaucio José Couri Machado

O fato é que em sua maioria o fã de vinil é homem com


curso superior e renda familiar acima de 3 mil Reais (a média
da renda familiar nacional segundo o IBGE – dados de 02/2015
- é de R$ 1.052,00); compra vinil regularmente em lojas físicas
e pela Internet e os tem em quantidade em casa. Ao
compreender que o fã do vinil também adquire CD e DVD
musical e legalmente, pode nos fazer pensar que a falta de
títulos em vinil seja um empecilho para aumentarem as
compras.
Levando em consideração que existe uma parcela com renda
inferior a R$ 3000,00 e somando àqueles que afirmaram que
ainda não adquiriram vinil por falta de grana, nos inclina a
imaginar que o preço do vinil não consegue chegar a todos que
gostam dele, podendo atrapalhar o enraizamento mais profundo
e a consequente distribuição desta cultura nas distintas classes
sociais e faixas etárias.
A questão entre demanda, oferta e valor são fatores que,
obviamente, precisam ser mais bem estudados e deve ser
acrescentado nesta análise as preferências de estilos musicais e
a importância dos diferentes extratos etários e sociais para a
manutenção do vinil como um modo longevo e
economicamente atrativo para a indústria fonográfica, artistas e
o comércio especializado, bem como, para o colecionador e fã.
Mas, o gosto pelo vinil não é uma tendência elitista só por
causa do seu preço existente hoje em dia, pois, mesmo os fãs
das classes economicamente desprivilegiadas se desdobram
para adquirir seus desejados discos e muitos já os possuem em
casa.
O grande número de pessoas que responderam comprar em
lojas físicas indica a veracidade do rejuvenescimento do
mercado de discos, outrora em franca decadência.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Outro fato que nos chama a atenção são as marcas de toca-


discos fora de fabricação predominarem nos resultados sobre
aquelas que têm em casa (Technics; Gradiente – Garrard;
Philips; Sony e se juntarem todas as vintage veremos que a
maioria é de modelos antigos) e marcas mais novas e de
renome pouco surgirem na pesquisa. Neste quesito a campeã é
a Audio-Technica - talvez este fator esteja ligado à falta de
toca-discos de qualidade com preços acessíveis, bem como da
oferta de variadas marcas no mercado brasileiro.
Entre os toca-discos mais recentes presentes nos lares dos
fãs do bolachão, modelos da Crosley, CTX e Ion predominam e
a engenharia de construção e materiais usados na fabricação de
alguns modelos destas marcas podem atrapalhar a experiência
com o disco, se tornando um problema. Porém,
paradoxalmente, pelo seu preço mais baixo, eles atuam como
uma espécie de chamariz pare este mundo, tendo um papel
importante na ampliação da cultura do vinil.
Uma análise superficial sobre o número de toca-discos
antigos e o levantamento nos indicar que muitos tem mais de
um em casa, pode nos sugerir que existe uma desproporcional
relação entre a venda de discos e a venda de toca-discos novos,
afinal, um não pode viver sem o outro e deveria ser um
mercado visto praticamente como único.
Na questão de como escutam música, o ato da audição é
eminentemente social e quem tem o hábito do vinil não se
prende a um único aparelho tocador e socializa sua escuta com
outros.
Os fãs do vinil são roqueiros por excelência e depois vem a
MPB e o blues - provavelmente isto responde os motivos do
sucesso de relançamentos de títulos destes estilos em vinil e
pode indicar às gravadoras e selos que esta é uma tendência
incrustada na preferência do fã.

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Glaucio José Couri Machado

Um fator que me instigou bastante é que grande parte do fã


do vinil que ainda não se tornou consumidor foi por não estar
atraído por nenhum álbum que esteja para venda. Quem sabe
este não é um indicador para perceber melhor os catálogos em
vigor e cruzar com a preferência de estilos? Provavelmente,
faltam muitos títulos de rock, MPB, blues, jazz, soul e outros
na escala das predileções para venda e, quiçá, alguns estão
“encalhados” nas lojas por não estarem nas inclinações de
compras dos fãs ainda não consumidores?
Por fim, a cena vinil precisa atrair mais as mulheres e os
jovens. Mesmo 26,3% serem abaixo dos 32 anos, apenas 7,5%
tem menos de 22 anos e a juventude é quem poderá perpetuar
esta magnífica e clássica tecnologia.
Vamos ao terceiro ponto: nunca largamos o vinil! Enquanto
a indústria fonográfica jogava pesado no CD, os consumidores
de gospel, de músicas de religiões de descendência afro, de
músicas regionais (como forró e gauchesco), DJs e os
incrédulos que o vinil acabaria, continuaram a consumir estes
discos. A pesquisa nos aponta esta afirmativa e mostra que
existe uma parcela considerável de consumidores de música
que nunca largaram o formato. Quando não tínhamos mais
fábricas nas Terras que Cabral Descobriu, o consumo de usados
e as compras no estrangeiro continuaram fomentando essa
mídia.
Quarto, quando dizem que o vinil é para um nicho de
mercado, respondo que excetuando o streaming gratuito e a
pirataria, qualquer forma de compra de mídia de música é hoje
de nicho. CD? Cai a 14% ao ano e só compra quem é fiel ao
formato – não tem mais outro consumidor. Streaming pago no
Brasil é muito relacionado, por incrível que pareça, ao plano de
telefonia celular que o sujeito tem. Então, cresce o streaming
pago na mesma proporção que crescem as ofertas de planos de
telefonia – apesar de estar iniciando um tipo de “divórcio’ nesta
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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

relação e o streaming pago começa a dar os primeiros passos


sozinho, mas, nem a indústria fonográfica sabe o que fazer com
este streaming e as próprias empresas ainda não tem esse
modelo perfeitamente rentável e maduro. E, ao contrário do
CD, o vinil cresce e espantosamente aumentam as vendas
mesmo sendo 4 vezes (ou mais) caro que um CD – a compra
por download no Brasil jamais alavancou e no mundo vem
decaindo drasticamente!
Então, como concluímos? O vinil nunca saiu de cena! Só
saiu dos noticiários! Só deixou de frequentar as páginas dos
jornais e revistas!
Falar que o vinil é modismo, que há um porém nessa
“onda”, é subestimar este tipo de armazenamento de música
que, na verdade, nunca foi embora!
Obviamente, acredito que o vinil dificilmente terá os
números do passado, pelo menos nas Terras Tupiniquins, pois é
um artigo caro e tem gargalos que ajudam a frear sua subida –
esbarra na falta de oferta de toca-discos e sistemas de som
decente e de preço acessível para venda; no dólar alto e na
capacidade pequena de produção causada pelo número de
fábricas incipientes. E olhem, com todos estes gargalos, o vinil
cresce a cada ano.
A quinta e última é um aviso: o consumo de música dos dias
de hoje é plural! É multiplataforma! Não estamos mais nos
tempos em que a indústria fonográfica é quem determinava as
regras do mercado musical, por sinal, os maiores e mais
famosos streamings de música nem pertencem às grande
gravadoras e muitos artistas são cultuados por causa da sua
força na Internet. Esta indústria, perdeu as rédeas e quem
ganhou fomos nós, que podemos escolher como e onde
queremos escutar nossas músicas!

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Glaucio José Couri Machado

Alguns aspectos da cultura e história do vinil

21 de junho de 1948 o dia que nasceu o vinil e os


seus 65 anos no Brasil

Muitos dizem, mas não foi Frank Sinatra que fez a primeira
gravação de um LP. Na verdade, seu disco The Voice of Frank
Sinatra foi o primeiro a ser comercializado no novo formato.
“A Voz” como é conhecido este grande cantor, foi um dos
responsáveis por emprestar seu talento ao novo tipo de disco
que entraria para a história, porém, não foi o precursor e sim
um dos precursores!
A Columbia Records no dia 21 de Junho de 1948, no Hotel
Waldorf Astoria, em Nova York, apresentou o primeiro Long
Play (LP) de 33 1/3 rpm (rotações por minuto) com 12
polegadas e este ato fez com que os discos de acetato de 78
rotações que existiam desde 1890 passassem paulatinamente
para o desuso.
Foi uma semana depois da apresentação da Columbia que,
de acordo com Sean Wilentz no seu livro 360 Sound: The
Columbia Records Story, o disco Concerto para Violino em Mi
menor de Mendelssohn (gravação de Nathan Milstein;
condução de Bruno Walterna com a New York Philharmonic)
entraria para a história como o primeiro LP a ser gravado e até
o final de 1948, a Columbia teria comercializado 1 milhão e
250 mil LPs.
Interessante é que, também de acordo com Sean Wilentz, a
RCA Vitor (uma das pioneiras na pesquisa e fabricação de
discos e vitrolas) num primeiro momento não acreditou no
formato e só em janeiro de 1950 que resolveu entrar na onda do

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

vinil, mas, depois de perder alguns milhões de dólares e


artistas.
Os Long Plays diferenciavam no tamanho e apresentavam
uma maior durabilidade já que os discos de acetato
costumavam arranhar facilmente e quebravam a qualquer
batidinha. Outra coisa importante da diferença entre o vinil e o
disco de acetato é a qualidade sonora superior, a capacidade de
gravação maior e, por isso, podia conter até 22,5 minutos de
música, coisa anteriormente impossível.
No Brasil os primeiros vinis vieram em 1951 e os discos de
acetato 78 rpm foram deixados de fabricar a partir de 1964. O
primeiro registro de um disco gravado no Brasil foi em 1902
comandado pelo cantor Manuel Pedro dos Santos, mais
conhecido como Bahiano (1870-1944 – natural de Santo Amaro
da Purificação/BA) e foi o quarto país a aderir ao novo sistema
inventado pela Columbia (EUA, Inglaterra e França e logo
depois o Brasil).
Em janeiro de 1951, Carnaval em Long-Playing foi o
primeiro LP brasileiro lançado pela Capitol/Sinter com artistas
e grupos do naipe de Heleninha Costa, Geraldo Pereira, Os
Cariocas e outros. Era um disco de sambas e marchas feitos
para o carnaval daquele ano. Desta forma, em janeiro de 2016
comemorávamos os 65 anos da entrada dos vinis no Brasil!

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Glaucio José Couri Machado

Abril, o mês do disco

Dois eventos são importantes para o disco de vinil no mês de


abril: o Record Store Day no mundo e o Dia do Disco no
Brasil.
A data do Record Store Day (RSD) é volante, podendo
ocorrer em dias diferenciados, mas o mês de abril é sempre a
preferência e a referência.
No dia 20 é a vez do Dia do Disco no Brasil
O RSD foi criado em 2007 como um encontro de
proprietários independentes de lojas de discos. Era uma forma
de ampliar a cultura fonográfica ao redor das quase 1.400 lojas
de discos independentes nos EUA e milhares de lojas
semelhantes no mundo.
Segundo o site oficial, o primeiro Record Store Day
aconteceu no dia 19 de abril de 2007 e hoje existem lojas
participantes em todos os continentes, exceto na Antártida. Ao
longo de seus nove anos, cidades dos Estados Unidos,
incluindo Nova York, Los Angeles, Boise, Charleston e Las
Vegas declararam o Record Store Day como um feriado oficial.
É uma festa!
No evento inaugural uma pequena lista de títulos de LPs e
CDs foi lançada e tem crescido ano a ano incluindo artistas e
gravadoras grandes e pequenas, de todos os gêneros e com
preços promocionais. No ano passado (2015) 60% da lista de
lançamentos veio de discos independentes.
O RSD é um dia para as pessoas que gostam de música,
discos e para os artistas. Todos unidos para celebrarem a
cultura única da loja de discos. Lançamentos de vinil e CD
especiais e vários produtos promocionais são feitos

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

exclusivamente para a data. As festividades incluem


performances, gastronomia, desfiles, DJs e artes em geral.
Dia 20 de abril é o Dia do Disco no Brasil. Uma data muito
importante que remota ao final dos anos 70.
Em 1978, no Rio de Janeiro, foi instaurada o Dia do Disco,
uma homenagem a Ataulfo Alves que morrera no dia 20 de
abril de 1969.
O Dia do Disco foi criado pelo vereador carioca Edgar de
Carvalho a partir da Lei 78 de 23 de dezembro de 1978 e depois
revogada para ser incluída na Lei nº 5.146 de 07/01/2010 (que
está em vigor) e dispõe sobre a consolidação municipal
referente a eventos, datas comemorativas e feriados da cidade
do Rio de Janeiro, instituindo o Calendário Oficial de Eventos e
Datas Comemorativas. Contém no § 4º, número VIII – letra A,
a seguinte redação:
O Dia do Disco, quando as sociedades arrecadadoras de
direitos autorais, gravadoras e lojas revendedoras poderão
participar da organização do evento, promovendo sua
divulgação e doando prêmios. As Escolas da Rede Municipal
do Rio de Janeiro poderão realizar concursos sobre a história
da música popular brasileira e de seus compositores, sem ônus
para o Município.
Mas, há controvérsias!
Para alguns o Dia do Disco é 12 de agosto, dia que Thomas
Edison anunciou a invenção do primeiro fonógrafo em 1877 e
pode ser considerada uma data mundial, porém, hoje é no
Record Store Day que, de fato, o mundo celebra a mídia
analógica de música. É bom perceber que o 20 de abril é uma
data específica da legislação da cidade do Rio de Janeiro, mas
este evento é celebrado nacionalmente, basta darmos uma
olhadela na Internet e veremos uma enormidade de blogs, sites
e redes sociais com alusões ao dia 20/04 como o Dia do Disco.

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Glaucio José Couri Machado

Independente de qual data você escolher como a oficial,


perguntamos: Qual a importância destas datas? Uma só:
celebrar o disco de vinil e sua cultura!

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

1987, 1996 e 1997: nascimento do Compact Disc no


Brasil, o fim(?) do vinil e a morte do CD?

Em 1987 o Brasil começa a colocar (verdadeiramente) no


mercado os primeiros Compact Disc (os famosos CDs). Neste
ano foram vendidos6 55,2 milhões de LPs e somente 200.000
CDs – apenas no ano de 1989 que a fabricação de LPs terá um
número maior que este com 56,7 milhões, mas, já vendia 2,2
milhões de CDs.
O primeiro Compact Disc fabricado no país foi em 1986 e
era o álbum Garota de Ipanema com Nara Leão e Roberto
Menescal, porém, sem muito apelo comercial, já que haviam
pouquíssimos players para tocá-lo. Foi a Philips que inventou o
CD em 1979, todavia, a “inauguração” veio com The Visitors,
do grupo Abba pela Polydor alemã em 1982 e seria Dire Straits
que faria o formato entrar de vez na vida dos amantes de
música com Brothers in Arms em 1985, alcançando o primeiro
milhão de venda de um único título.
Do surgimento do CD para vendas em 1982 até 1987 foram
apenas 5 anos para sua efetivação no mercado brasileiro e entre
1987 (considerado o ano da “inauguração comercial brasileira”)
até 1997 chegaram a 106,8 milhões de cópias vendidas nas
Terras Tupiniquins (talvez o maior ano de vendas de todos os
tempos do formato do disquinho digital por aqui). Nesta
caminhada do CD, os números das vendas7 dos LPs iam
vertiginosamente caindo chegando a 1 milhão e 600 mil cópias
em 1996 e praticamente zero em 1997. Aliás, em 1997 as

6
de acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Discos – ABPD
7
A maioria destes dados foram retirados da tese de doutorado de Eduardo Vicente -
Música e Disco no Brasil:
 A trajetória da indústria nas décadas de 80 e 90. USP,
03/2002 e do verbete sobre vendas de discos da wikipédia
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Glaucio José Couri Machado

fábricas de vinil são quase totalmente fechadas restando apenas


uma grande fábrica no Brasil que hoje é a Polysom.
Mas, todos conhecem o final desta história: os CDs do
sucesso estrondoso de vendas passam a ser, por causa do seu
formato digital, seu próprio vilão.
Em 1997 a Sony (umas das maiores da indústria fonográfica
no mundo) padroniza o MP3 e, assim, a invenção que era para
aumentar mais ainda as vendas de música acaba por decretar o
início da morte(?) do CD. A pirataria de Compact Disc
(estimava-se que a partir dos anos 2000 a cada 3 CDs vendidos
somente 01 era original) e o surgimento de sites como o
Napster em 1999 vão fazer as vendas do disquinho prateado
caírem vertiginosamente e tornarem-se praticamente sem
lucros.
Só para ilustrar, veja um recorte do Relatório da ABPD de
2003: de acordo com a IFPI (Federação Internacional da
Indústria Fonográfica), o mercado mundial de música no
varejo indicou em 2003, pelo quarto ano consecutivo, queda
nas vendas. No ano passado, registrou-se uma redução de
7,6% em valores (U$) e 6,5% em unidades vendidas. Esse
resultado é atribuído aos efeitos combinados da pirataria
digital e física e à concorrência proveniente de outros produtos
para o entretenimento.
Porém, como todos também já sabem, em meados dos anos
2000 os LPs voltam à tona como produtos vendáveis e
lucrativos, tornando-se em 2014 mais rentáveis para a indústria
fonográfica que qualquer outro formato.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Uma história interessante e sem desfecho: quando


o vinil e a Polysom iriam virar Patrimônios do
Brasil

Antes de qualquer coisa, um aviso: este é um assunto que


merecia uma grande campanha e pesquisa! Alguém se
habilitaria a começar? Vamos lá:
No dia 13 de novembro de 2007, no Circo Voador, no Rio
de Janeiro, durante a gestão de Gilberto Gil à frente do MinC
(Ministério da Cultura), houve uma cerimônia de apresentação
de propostas para a preservação pelo IPHAN (Instituto de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) da única fábrica
brasileira de discos de vinil, a Polysom, que estava em pleno
processo de falência e tornar o disco de vinil um “Patrimônio
Imaterial Brasileiro”.
Sabemos que o único desfecho disso é que a fábrica fora
comprada tempos depois pela gravadora Deck Disc e passou a
produzir também para outros selos e hoje está a mil por hora.
Pesquisando pela Internet nos deparamos com reportagens
até na revista Rolling Stones falando sobre isso e nos sites do
IPHAN e do Ministério da Cultura (MinC) pouca coisa se
encontra, exceto os primeiros passos dados por Gil. Também
foi encontrada uma reportagem do Instituto do PVC (pois, é a
matéria prima do vinil)
Vejam com seus próprios olhos o que encontramos nestes
dois órgãos (não foi uma pesquisa profunda):
Preservação da Polysom *
Brasil quer voltar ao LP *
Polysom do Brasil *
Discos de Vinil *
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Glaucio José Couri Machado

Ministério da Cultura anuncia estímulo à produção de discos


de vinil no país*8
Na Rolling Stones, a reportagem fala de uma “força-tarefa”
para criarem propostas encabeçadas pelos Racionais MC’s, na
época o senador Eduardo Suplicy, o ministro da Cultura
Gilberto Gil e o IPHAN.
O que chama a atenção não é o problema da fábrica, afinal,
isso foi resolvido, porém, a questão de tornar o disco de vinil
um Patrimônio Imaterial Brasileiro parece que foi esquecido.
O conceito de patrimônio Imaterial é importante para
preservar um bem cultural. Segundo o IPHAN, Patrimônio
Imaterial são os bens culturais de natureza imaterial que dizem
respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se
manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações;
formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e
nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam
práticas culturais coletivas) e isso deve ser preservado pelo
Estado em parceria com a sociedade.
Como muitos sabem, a produção de vinil pode estar em
crescimento, mas ela tem um limite que é o número de fábricas
(menos de 60 no mundo todo) e pouco pessoal qualificado para
tal. Produzir vinil não é simples e demanda conhecimentos
técnicos que não se aprendem mais e muito menos se fabrica
em escala peças e máquinas para as indústrias.
Outro fator importante a se levar em conta é que foi o vinil
que, de fato, popularizou a audição de músicas nos domicílios
em um formato diferente do rádio (que foi o pioneiro). O vinil
está no imaginário coletivo das pessoas e se encontra como
uma espécie de representação social da música.

8
Para ler estes artigos, deve o leitor colocar na busca do MinC as frases com *.
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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Sou completamente a favor em tornar o disco de vinil um


Patrimônio Cultural Imaterial, afinal, por mais que pensemos
que este formato está com vigor pleno, não podemos esquecer
que ele sofre com as minguadas fábricas e com pouquíssima
mão de obra especializada. Para se ter uma ideia sobre isso, o
músico e DJ Michel Nath da Vinil Brasil (que se tornou a
segunda fábrica brasileira) precisou contratar técnicos da antiga
RCA que estavam a mais de 20 anos lidando com outros
afazeres, pois, não existe mais formação para novos
trabalhadores do ramo e isto ocorreu com a Polysom também!
O vinil é um formato que amamos e está aí com força
aparentemente total, mas é frágil na sua cadeia produtiva e para
continuar existindo, compreendendo suas dificuldades e
importância, precisa de apoios e políticas públicas diferentes
das outras formas de arquivar e escutar música.
Quem sabe não estaria na hora de se levantar novamente a
bandeira para o disco de vinil tornar-se um Patrimônio
Imaterial Brasileiro? E, também, não estaria na hora de se tirar
o imposto de importação dos vinis, agulhas, cápsulas e toca-
discos já que as minguadas fábricas (de tudo que envolve o
vinil) e produções localizadas em poucos países e com os
impostos altos, retira a possibilidade do brasileiro curtir seu
disquinho numa boa sem precisar gastar fortunas? E estes dois
atos, juntos popularizariam mais o vinil e, assim, ajudaria o
artista, pois, o vinil é uma das poucas mídias que hoje dá
alguma grana e satisfação para eles, sem contar que vem
alavancando muitas carreiras de artistas independentes e DJs.

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Glaucio José Couri Machado

O rock brazuca dos anos 80: o último grande


movimento musical do vinil brasileiro

Início dos anos 80, diria André Midani9: No início da


década de 1980, chamei o Liminha , que eu acabara de
promover a diretor artístico da Warner, e o Pena Schmidt,
contratado para a mesma posição em São Paulo, para traçar
um plano de ação. Decidimos fazer o que melhor sabíamos: ir
para a rua e descobrir novos talentos aos quais ninguém
prestava atenção, e, assim, surpreender e reconquistar um
lugar decente no mercado. Eles saíram à luta, visitando os
botecos da vida, os bares e os galpões de São Paulo e do Rio.
Liminha, por ser um extraordinário músico e, Pena, por ser um
“rato da noite”, encontraram rapidamente o que estava diante
dos olhos de todos, mas ninguém via: roqueiros de nomes
estranhos como Kid Abelha & os Abóboras Selvagens, Ultraje
a Rigor, Titãs do Iê-Iê, Ira!, Camisa de Vênus, Kid Vinil e,
posteriormente, o Barão Vermelho. Kid Abelha e Lulu Santos
foram os primeiros sucessos que deram à companhia uma nova
alma e a confiança de haver descoberto artistas para uma nova
geração de público jovem.10
Sim, é mais ou menos assim com as palavras de um dos
maiores nomes da indústria fonográfica brasileira que nasceria
o movimento rock dos anos 80 que curtimos até hoje. Não quer
dizer que no Brasil anteriormente aos anos 80 não existia rock,
aliás, acompanhávamos este ritmo muitos anos antes e já
despontaram nomes importantes para o cenário (até mesmo
internacional) como os Mutantes e o Tropicalismo que também
tem uma influência rock muito forte. Porém, o fato é que o rock

9
André Midani foi alto executivo da Warner
10
MIDANI, Andre. Música, ídolos e poder: do vinil ao download. (edição web)

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

dos anos 80 foi um movimento fantástico que fez surgir bandas


de norte a sul do país que modificava a nossa cultura musical,
os costumes da juventude e alavancava as vendas de discos.
Nunca mais fomos os mesmos depois deste período!
Um fato importante é que o rock desta época foi,
praticamente, o último grande acontecimento musical/cultural
da Era dos Vinis. As grandes gravadoras e também as
independentes, a partir da metade dos anos 80, seriam
praticamente todas compradas por grandes conglomerados de
comunicação, mudando a raiz e a forma do negócio da música,
saindo da premissa da qualidade, do carisma e da sensibilidade
estética do artista para uma música comercial, instantânea e no
caso brasileiro, mais ainda, a necessidade de impor artistas
internacionais para dirimirem custos com estúdios e etc., já que
bastava vir o material pronto do exterior para ser apenas
prensado e distribuído, aumentando os lucros do que era
considerado um dos maiores mercados de música do mundo.
Depois do rock dos anos 80 teremos outros movimentos que
despontaram a partir dos anos 90, como o Axé, Pagode,
Sertanejo e criações musicais independentes das grandes
gravadoras como, por exemplo, o Mangue Bit, porém, já era
tarde, o vinil estava saindo de cena e entrava de cabeça desde
1987 a música digital: o Compact Disc (CD)!

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Glaucio José Couri Machado

Tecnologia, manuseio e dicas

Para quem vai iniciar (ou reiniciar) sua vida


musical com o vinil.

Muitas pessoas ainda têm seus vinis e toca-discos guardados


e pretendem recomeçar a escutar seus discos ou são pessoas
que do zero querem entrar neste universo “diferenciado” e
acabam ficando meio perdidas nesse emaranhado de
“novidades” (nem tão novas assim) que é a vida musical com o
vinil. Por isso, este capítulo é sobre alguns toques para quem
vai adentrar pela primeira vez no mundo do vinil ou anda meio
esquecido em como recomeçar.
Uma coisa a entender é que tudo no vinil é diferente do
MP3, streaming ou CD. Tudo, mesmo! Do tocador (toca-
discos) ao manejo da mídia. Então, você precisará de algumas
dicas:
1) O disco de vinil não é uma mídia imune a problemas e
precisa de cuidados e limpeza (no próximo capítulo você
entenderá mais sobre isso).
2) É importante um bom aparelho de som (conjunto entre
toca-discos, receivers e/ou amplificadores, equalizadores e etc).
3) Aparelhos ruins vão gerar um som que afetará
negativamente seu prazer em escutar um disco. Portanto, a
qualidade do som está diretamente ligada à qualidade da sua
aparelhagem e, mais ainda, da agulha, cápsula e caixas de som.
É importante frisar: o som do vinil não é necessariamente
melhor que do MP3, streaming ou CD, tudo dependerá do
conjunto entre aparelho, qualidade da mídia, caixas, agulhas e
etc. (leia sobre a qualidade sonora mais adiante).
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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

4) O disco de vinil não é uma coisa tão barata, muito menos


um bom toca-discos, agulhas e cápsulas.
5) A agulha tem vida útil limitada e precisará ser trocada de
tempos em tempos.
6) Não existe uma grande quantidade de títulos à venda.
Existem pouquíssimas fábricas de vinil no mundo. A maior
parte dos discos à venda são usados e quanto aos novos, a
maioria é fabricada e vendida fora do país.
7) Fique atento onde comprar e como comprar seus vinis
usados e pela internet. As feiras de discos são locais legais para
interagir e adquirir novos títulos.
8) O disco de vinil não é só LP (12 polegadas), há outros
tipos de tamanho e também diferem quanto ao peso e a cor.
9) Pensar que ouvir um vinil é mais legal que um CD, podes
crer, não é mito!
10) Exibir com orgulho sua coleção de discos é muito
gratificante e as artes das capas, encartes e as mais variadas
cores do vinil são experiências táteis e visuais que vão te fazer
apaixonar de vez pelo vinil.
Muitos dos toques dados neste capítulo vão ser mais
aprofundados no livro. Portanto, avante até o fim para ajudar na
sua experiência com esse disquinho que tanto gostamos

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Glaucio José Couri Machado

Cuidados, limpeza e armazenamento

Antes de qualquer coisa lembre-se: seu disco de vinil é um


plástico, por isso, não o deixe em locais ou próximos a coisas
quentes (como, por exemplo, perto de aquecedores e onde o sol
bate) e, por isso, ele poderá derreter ou enrugar, inutilizando-o
para sempre.
Qualquer atrito num plástico pode arranha-lo ocasionando
problemas. Por consequência, o disco fica o que popularmente
chamamos de “arranhado” e, por este motivo, músicas podem
ficar inaudíveis, sendo a pior das hipóteses danificá-lo
totalmente para sempre.
As capas e encartes são de papelão e papel, normalmente
plastificados. Os cuidados com esses materiais são
permanentes, sem contar que devem ficar longe de qualquer
fonte de calor, líquidos e umidade.
Manuseio: o disco deve ser pego com a palma da mão, com
o dedo polegar na lateral e os outros dedos apoiando no centro
(rótulo). Evite de todas as formas encostar na mídia, pois a
gordura natural do corpo pode se instalar nas trilhas do vinil e,
assim, atrapalhar a grandiosidade do som e necessitar de uma
limpeza.
Limpeza do vinil: para isso, nada melhor que água, sabão
neutro e uma esponja bem fina (aquelas que limpam sem riscar
ou pode ser usado um chumaço ou pano de algodão). Molhe o
vinil, passe a esponja molhada com sabão, sem fazer força, bem
delicadamente, na mesma direção dos sulcos do disco e
enxague-o. Muito cuidado para não passar a esponja e/ou
deixar molhar muito o rótulo, pois, isso pode danificá-lo para
sempre. Faça essa operação nos dois lados do disco.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Passe um pano fino e de algodão de forma leve e superficial


para retirar o excesso de água e deixe o vinil em pé para secar
bem.
Pronto! Está limpo o seu vinil! Se perdurarem os chiados
repita a operação de limpeza.
Atente que ao escutar o disco logo após a limpeza, a agulha
pode ficar impregnada de resíduos que ainda restaram. Não
pense que isso é um problema! Isso é bom sinal, pois a sujeira
está sendo totalmente retirada. Limpe com muito cuidado a
agulha (há no mercado algumas escovas especiais para limpeza
de agulha) e continue desfrutando de seu disco.
De forma alguma use sabões ou detergentes fortes. Eles
podem queimar as trilhas do disco!
Se não tem certeza sobre a qualidade do sabão ou
detergente, dilua-o com água antes de usá-lo.
Discos novos também devem ser lavados. E o ato de limpeza
deve ser constante, pois a sujeira sempre fica impregnada.
Existem outras formas de limpeza, inclusive, máquinas para
lavar vinil e são vendidos em lojas especializadas alguns tipos
de limpadores, porém, a limpeza com água e sabão neutro é
fácil, barata e muito eficaz.
Armazenamento: o disco deve ser armazenado sempre em pé
e acomodado em dois sacos plásticos. Um que protege a capa e
outro que protege o vinil. Os sacos que protegem o vinil servem
para evitar a entrada de sujeira, assim como os que envolvem a
capa, bem como, para evitar atritos.
Sacos plásticos ou envelopes de papel internos: prefiro os
sacos plásticos, pois os envelopes de papel (mesmo aqueles que
vêm em discos novos), com o tempo, soltam resíduos que
podem impregnar seu vinil e o atrito com esse tipo de “poeira”

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Glaucio José Couri Machado

pode riscar seu disco. Porém, com uma frequência maior, os


sacos plásticos internos devem ser trocados já que se desfazem.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Qualidade sonora

O vinil e o CD (e DVD):
No fundo a qualidade do vinil e do CD é a mesma (mas eu
prefiro o vinil. Leia o capítulo todo que entenderá os motivos
da minha escolha). Pois, as frequências maiores que o CD diz
alcançar e, por isso, os entusiastas dessa mídia insistem em
dizer que é melhor, não são audíveis pelo ouvido humano. Por
outro lado, alguns defendem que o vinil é aquele que tem o som
mais próximo do real, já que, a forma de captação e tratamento
do som é a que apresenta maior aproximação com a realidade
sonora audível (o som real emitido no momento da captação) e
consegue alcançar graves mais profundos – este caso último eu
acredito, pois é bem perceptível o grave emitido pelas bolachas
de plástico sem a sensação de um som artificial.
Mas, ao colocar na balança o vinil e o CD veremos que em
matéria de qualidade sonora a escolha é bem pessoal. Quem
gosta de mais agudo e uma sensação de um som mais aberto,
terá provavelmente escolhido o CD como seu meio preferido de
escutar música. Na outra margem da preferência, quem gosta de
som mais grave e, aparentemente, mais encorpado, com certeza
escolherá o vinil. Mas, tudo isso depende e é pura especulação.
Depende de que?
Não adianta discutirmos se o CD ou o vinil é melhor, porque
isso é discutir o ato de escutar a música apenas embasado na
mídia separadamente, o que, verdadeiramente, não pode ser o
caso. Existe um enorme número de artigos, inclusive
científicos, debatendo qual é o melhor e, no fundo, parece mais
uma discussão de torcida de futebol em que cada um argumenta
para defender a sua própria torcida e diminuir a do outro.

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Glaucio José Couri Machado

Ora, o ato de escutar música é a junção de várias


tecnologias: o player (tocador de CD, toca-discos ou vitrola), a
mídia (o vinil ou o CD). No caso do vinil, a agulha e a cápsula
e de todos os tipos, as caixas de som, sem falar na acústica do
local. Todos estes aspectos vão influenciar diretamente na
qualidade sonora da música que você estará escutando, bem
como, a forma e como foi tratada e gravada a música na mídia.
Há vinis que são horrendos, uma verdadeira aberração no
modo como a música foi gravada e, assim, projetada para
nossos ouvidos, como há CDs da mesma forma. O carinho e a
responsabilidade de gravar a música da melhor forma possível,
seja no CD ou no vinil, depende de como a gravadora ou
responsável pela gravação compreendem o usuário final.
Resumindo: respeita o ouvinte ou não? É comum pegarmos
CDs ou vinis que “doem” nossos ouvidos devido a péssima
qualidade técnica da mídia. Mas, também, não adianta termos
uma excelente gravação nas mãos se nossos aparelhos não
ajudam.
Por isso, para falar da qualidade sonora do vinil ou CD é
preciso verificar a qualidade das mídias, dos aparelhos
tocadores, das agulhas, das cápsulas e das caixas de som, pois é
este conjunto que fará o ato de escutar música ser prazeroso ou
apenas “ruidoso”.
Sem contar que ambos podem arranhar e mofar, ou seja,
vinil e CD necessitam de limpeza e cuidados constantes.
Todavia, há fatores que o vinil ganhará sempre do CD: a
parte gráfica e o tempo!
A parte gráfica: não tem como comparar por causa do
tamanho. Neste ponto, enxergar e curtir mais as fotos,
acompanhar a letra da música no encarte (normalmente em
fontes maiores), explorar as notas técnicas, em suma, manusear

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

um disco de vinil sempre será uma experiência mais marcante e


mais divertida.
O tempo, outra diferença crucial entre o vinil e o CD: este
último tem comprovadamente vida útil bem menor que o vinil.
Você já deve ter se deparado com um CD que perdeu os dados
e, talvez, tenha tirado do armário um LP com mais de 50 anos
que toca normalmente.
Streaming e MP3 (e o AAC da Apple11):
O MP3 é uma abreviação de MPEG Audio Layer 3, um
formato de compressão de áudio digital que pretende minimizar
a perda da qualidade em músicas ou outros arquivos de áudio
ao compactá-los para serem reproduzidos no computador ou em
algum player específico (os famosos tocadores de MP3).
Porém, como o próprio significado diz, o MP3 por compactar,
acaba deixando de lado algumas informações da música, já que,
diminui de tamanho o arquivo original de áudio. Para se ter
uma ideia, um arquivo original de um CD (que também é
música digital) pode ser 3, 4, 5 ou mais vezes maior que um
MP3 e, por isso, terá mais quantidade de informações no
arquivo e, obviamente, quando comprime tem perdas.
O streaming (de áudio) é a transmissão de música pela
Internet e faz a sua reprodução à medida que os dados (pacotes,
na linguagem técnica) chegam ao usuário por intermédio de
alguma interface no computador, smartphone ou tablet.
Muitos atribuem a qualidade sonora do streaming como a
mesma do MP3, porém, a grande maioria dos ouvintes sabe que
esta qualidade é inferior, principalmente se sua banda de
Internet é fraca. Mas, como o MP3 pode ser um arquivo mais
ou menos compactado de alguma música, caso a compactação

11
O AAC da Apple: este é um arquivo de compactação de música como o MP3,
porém, é proprietário da Apple e usado nos seus aparelhos e computadores.

- 39 -
Glaucio José Couri Machado

seja maior, menor será a qualidade dela, podendo, inclusive, ser


muito pior que a do streaming.
Resumindo:
A qualidade sonora do vinil e do CD (também do DVD) é,
sem dúvida alguma superior à do streaming e do MP3 no que se
refere ao aspecto técnico. Porém, na experiência de escutar a
música, tudo depende.
Depende dos equipamentos que você tem (às vezes um
tocador de MP3 pode proporcionar uma qualidade muito
superior se seu vinil ou CD e os equipamentos para tocá-los
forem de baixa qualidade) e do momento e local que você está.
A música é por uma de suas naturezas, algo que nos traz a
representação de alguma coisa ou acontecimento. Muitas
pessoas têm suas músicas preferidas e muitas destas existem
porque representam o momento em que foram escutadas.
Alguns, dizem que “música é o momento” e eu não duvido
muito disso, apesar de achar que é mais que isso, afinal, a
música está no campo da estética, mas, deixemos para lá o
aprofundamento deste fato.
Para concluir, vejo que o vinil nos preenche com algumas
características que outras mídias não nos proporcionam mais.
O ato de escutar um vinil é bem diferente dos outros. O
vinil, você precisa, necessariamente tirá-lo da embalagem
(como o CD também) e ao fazer isto já te faz encontrar outras
informações, como ver os encartes, perceber as fotos e imagens
contidas, coisas que no MP3 e no streaming não existem.
Mesmo isso existindo também no CD, a percepção é
diferente. No vinil tudo é maior, é mais intenso e, por isso,
visualmente mais agradável. Contudo, há uma característica
que não existe no CD: o ato de “virar” o disco.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Para “virar” o disco e escutar o outro lado, você precisa estar


necessariamente prestando atenção na música – não é um caso
mecânico e automático. É uma atividade sensorial mais intensa
que no CD e, por isso, “ouvir” a música do vinil torna o ato
mais veemente.
Se você não estiver prestando atenção no disco,
simplesmente, seu vinil não “vira” e se não “virar” é sinal que
você não está mais escutando música. Está fazendo qualquer
coisa, menos escutando a sua música e ela se tornará apenas
“um pano de fundo” daquilo que está fazendo no momento.
Por isso, eu prefiro o vinil. Com o vinil eu passei a “escutar”
mais música, sem contar que passei a “ver” melhor tudo que
está no entorno do disco: capa, encartes e, até mesmo sua cor,
pois, existem discos pretos, amarelos, azuis e etc.
O vinil não é só a mídia que contem a música, o vinil é um
universo de informações e sensações.

- 41 -
Glaucio José Couri Machado

Toca-discos e vitrolas

Muitos dizem que toca-discos, vitrolas e eletrolas são


sinônimos. Mas, não são.
A palavra vitrola é derivada da marca Victrola da RCA
Vitor, um dos primeiros aparelhos a substituírem os antigos
gramofones. Com o passar dos anos, a palavra Vitrola passou a
ser sinônimo de um tipo de tocador de vinil que tinha tudo
acoplado (caixas de som e controles) num único bloco.
Os toca-discos são tocadores separados do restante da
aparelhagem de som. Podem ser de três tipos: aqueles em que
seus pratos (o local onde se coloca o disco) são movidos por
um motor via uma correia – o chamado Belt-drive, e também o
modelo mais vendido hoje em dia; os Idler-whee onde os pratos
são movidos por uma polia entre o motor e o próprio e os
Direct-drive onde o eixo do motor é o eixo do prato.
Na literatura encontrada na Internet, alguns afirmam que os
Direct-drive são melhores, mas, há muita controvérsia nisso,
pois os aparelhos Belt-drives vendidos e fabricados hoje em dia
apresentam uma evolução muito boa se comparado aos
modelos antigos.
O que precisa ser levado em consideração ao comprar um
toca-discos ou uma vitrola é a qualidade sonora que este
tocador irá apresentar.
Para se verificar isso, deve se levar em conta o preço.
Aparelhos muito baratos tendem a ser piores. Quando for
comprar um tocador de vinil tome muito cuidado com a
variedade que existe no mercado hoje em dia. Alguns são muito
bonitos, mas que deixam a desejar na qualidade sonora,
trazendo uma péssima experiência no ato de ouvir um disco.

- 42 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Uma alternativa para quem não quer gastar muito é comprar


toca-discos usados dos anos 80 e 90 – que falarei mais
especificamente no próximo capítulo. Há inúmeros sendo
vendidos por aí e podem custar menos de mil reais. Mas, é
preciso verificar se estão funcionando 100%. Caso não estejam
é complicado achar em algumas cidades técnicos que consigam
colocar o aparelho em boas condições. Não arrisque. Só compre
se estiver 100%.
Fique atento ao comprar um toca-discos:
Verifique se ele já vem pré-amplificado e se o aparelho onde
você vai pluga-lo (seja um micro-system, um receiver ou um
amplificador) tem entradas amplificadas para ele. Caso o
tocador de vinil não venha pré-amplificado e o aparelho que irá
conectá-lo não tenha entradas pré-amplificadas, será necessário
comprar um pequeno aparelho pré-amplificador (vendido nas
casas do ramo), também, chamado por preamp.
Uma parte vital dos toca-discos e vitrola são as agulhas e as
cápsulas fonocaptoras - cuide bem delas.

- 43 -
Glaucio José Couri Machado

Aparelho de som vintage para tocar vinil,


vale a pena?

Para começo de conversa: vale e muito a pena comprar um


som vintage.
Mas, alguém pode estar perguntando o que é um aparelho de
som vintage? O significado de vintage não se remete a coisas
propriamente velhas de idade, mas a um design que segue
padrões antigos, porém, costumam chamar de “aparelhos de
som vintage” os aparelhos fabricados em meados dos anos 90
para trás.
Compreendendo seu significado vamos em frente:
Os novos toca-discos não diferem muito em matéria de
tecnologia dos antigos. A diferença está na incorporação de
novas funções, como, por exemplo, digitalizar as músicas do
vinil. Porém, a parte que apenas toca o disco é praticamente
idêntica aos similares antigos, pois, a indústria ainda não está
desenvolvendo novas tecnologias, exceto na escolha de
materiais e métodos de produção. Nesse mercado do novo há
coisas boas, excelentes e horríveis, assim como há nos
aparelhos vintage.
Um fator positivo nos novos aparelhos é que neles,
normalmente, já vêm com pré-amplificador.
O que é isso?
O som que passa do vinil para ser reproduzido a partir do
atrito da agulha com os sulcos do disco é, num português sem
vocabulário técnico, muito baixo. Este som precisa de um
amplificador para que a altura seja satisfatória. Os toca-discos
vintage para conseguirem uma altura boa da sonoridade
precisam ser acoplados a receivers ou amplificadores que

- 44 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

tenham uma entrada especial para amplificar seu som


(habitualmente denominada “phono”, não adianta ter apenas a
entrada “auxiliar”). Sem essa entrada, o som emitido chega a
ser extremamente baixo ou ausente.
Os novos aparelhos de som costumam não ter essa entrada,
por isso, a maioria dos toca-discos antigos provavelmente não
irá funcionar nestes aparelhos. Para solucionar isso é necessária
a compra de outro aparelhinho (custa aproximadamente cento e
poucos reais) que alguns chamam de preamp, pré-amp ou pré-
amplificador. Já os novos toca-discos costumam vir com esta
questão resolvida, pois, podem ter o pré-amplificador
embutido.
Compreendendo a questão da pré-amplificação vamos a
outro ponto: preço.
Os novos toca-discos de qualidade são caros. Comprar toca-
discos novo com preço abaixo de R$900,00 (em média) é um
risco ao descontentamento. Para se ter uma ideia, a parte mais
sensível dos toca-discos é um conjunto feito por agulha e
cápsula. Um conjunto de qualidade razoável custa acima de
R$300,00 (podendo chegar a preços estratosféricos), portanto,
se você comprar um toca-discos novo e barato algo foi
substituído com qualidade ruim, pense nisso. E, por isso, a
experiência de escutar uma música com qualidade poderá ser
negativa.
Dando uma olhada rápida no Mercado Livre ou na OLX
(análise realizada em meados de 2016) encontramos inúmeros
toca-discos e conjuntos de som usados com preços bastante
convidativos. É possível encontrar estas maquininhas que
emitem som perto dos R$350,00 ou um pouco mais e de marcas
excelentes que lhe darão uma audição muito boa do seu vinil.
Mesmo que você precise comprar um preamp, a soma dos dois
será com certeza menor que o que gastará com um toca-discos
novo de preço semelhante, mas de qualidade duvidosa.
- 45 -
Glaucio José Couri Machado

Fiquem atentos: é preciso saber das condições do som


vintage, afinal, ele é usado. Se precisa de reparos, se tudo
funciona bem, se a serigrafia está boa, em suma, verificar a
qualidade do “bichinho”.
Se você for comprar na sua própria cidade, peça para fazer
um teste de audição e verificar todos os controles antes. Se for
comprar pela Internet tente observar a responsabilidade do
vendedor em dizer as reais condições dos aparelhos. Tomadas
estas devidas precauções, fará um bom investimento.
Uma questão para chamar atenção sobre os aparelhos
vintage: eles foram desenvolvidos na era áurea do vinil
(meados dos anos 90 para baixo) são, portanto, aparelhos
construídos e preparados para o áudio analógico que difere do
digital por isso, excetuando os aparelhos de hoje mais caros
para os audiófilos aficionados, a qualidade dos vintage tende
sempre a exercer uma experiência do ato de ouvir um vinil
melhor, principalmente pela forma que trabalha com os sons
mais graves.
E para terminar: o estilo vintage está na moda. Pelo menos é
isso que vemos por aí.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Som vintage e manuais: um problema


mas, sugerimos soluções

Recentemente fui indagado por um amigo sobre onde


poderia conseguir manual para seu toca-discos CCE DD 8080
que, provavelmente, tem mais de 30 anos.
Olha? Tarefa difícil!
Um dos maiores problemas dos aparelhos vintage é
justamente a falta de manuais e, como consequência disso, o
seu proprietário fica sem saber as especificações técnicas e
modos de uso. Assim, quais cápsulas e agulhas são adequadas,
quantos ohms precisa ter a caixa de som, qual a potencia e etc.
são perguntas frequentes e caso alguma delas fique sem
resposta, danificar o aparelho não é uma hipótese inexistente e
se danificar onde obter os esquemas eletrônicos e de
montagem?
Iiiiiiiih! É muito séria essa coisa!
Nesse conjunto de equipamentos se encontram os toca-
discos, receivers, amplificadores, caixas de som (sim, você
precisa saber suas especificações), equalizadores e toda a gama
de tecnologias do passado que hoje se encontram em pleno
funcionamento nesta nova Era do Vinil e, quem sabe, da fita
K7.
Mediante esta necessidade apontada, este capítulo traz
sugestões que poderão ser uma mão na roda para quem precisa
de respostas técnicas sobre seus aparelhos. E para encontrar
estas páginas na Internet, basta colocar os nomes delas nas
buscas do Google, por exemplo.
1ª - O Hifiengine que comporta o Vinylengine.

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Glaucio José Couri Machado

São, provavelmente, os melhores sites repositórios de


manuais e de esquemas elétricos do mundo. Se você não achar
neles o que procura, reze para que possa encontrar em outro
lugar.
No Hifiengine, muito provavelmente, você encontrará
manuais e esquemas em línguas diferentes do português, mas,
na necessidade urgente do manual isso não pode ser um
problema e é pedido que se faça um pequeno registro para fazer
os downloads.
2ª - O site brasileiro Audiorama.
Este site tem um “museu virtual” com fotos e especificações
técnicas de vários aparelhos vintage, além de ser um site de
comércio onde são vendidos aparelhos novos e usados, fazem
projetos de salas de som e etc.
Para o tema deste artigo o que nós vamos focar é no “museu
virtual”, na seção de manuais, nos tutoriais sobre regular o
braço do toca-discos e como instalar cápsulas.
O museu tem as mais importantes marcas que já foram
comercializadas no país. É muito interessante e vale uma visita
só por curiosidade.
Quanto aos manuais, eles são vendidos - porém, o que é
gastar R$30,00 (preço médio) mediante o problema? Vale
muito a pena.
Sobre os tutoriais: são importantes e, é bom fazer uma
leitura.
O Audiorama também te dá dicas de sites que você poderá
encontrar esquemas eletrônicos.
3ª - O Manuals Lib. É um repositório, mas, muito
provavelmente você não encontrará marcas como Gradiente,

- 48 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

CCE e outras brasileiras, porém, sempre é bom dar uma olhada


lá.
4ª - Não é um site, e sim dois fóruns de discussão, que são
repletos de informações e você pode interagir em um deles.
HT Fórum – fórum brasileiro com seções específicas para
som analógico.
Fórum Hifi – fórum português, que foi descontinuado em
2014, mas ainda podem pesquisar as informações (e não são
poucas)
5ª - Os sites:
Casa dos Toca-discos Catodi. Além de ser uma das mais
tradicionais lojas na Internet (e física) para toca-discos tem uma
seção com tabela sobre agulhas e cápsulas para cada tipo de
toca-discos.
Eletrônica Jannisar tem uma seção de fotos de aparelhos
vintage com uma espécie de notas sobre a qualidade do
aparelho e algumas especificações técnicas.
Há mais inúmeros sites por aí. Essas foram algumas
sugestões para, pelo menos, ajudar nesta empreitada difícil que
é conseguir os manuais e esquemas eletrônicos e elétricos dos
seus aparelhos.
Espero que seja útil.

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Glaucio José Couri Machado

Agulhas e cápsulas: prepare o bolso, mas damos


uma dica

Nós adoramos o vinil, amamos pegar um LP ou Compacto e


colocar na vitrola, ficamos extremamente gratificados quando
escutamos um som de primeira e com qualidade. Mas, o valor
econômico com gastos para criar essa satisfação é uma das
piores coisas para se falar sobre este mundo. Infelizmente, nada
é muito barato neste universo. Se vocês querem qualidade para
ouvir seus amados bolachões, preparem o bolso.
Um bom toca-discos, um LP novo (principalmente se for
importado), a aparelhagem, as caixas de som, nada disso é
barato. E com o dólar nas alturas? Piorou!
Óbvio que existem alternativas para driblarmos os preços
altos. Já falamos bastante das aparelhagens e toca-discos
vintage e dos vinis usados, porém, existe uma coisa que não
tem muita escapatória, é cara e não tem como economizar
muito: as agulhas e cápsulas.
O fato resumidamente e num português nada técnico é este:
é a agulha que está em contato com o disco e seu atrito nos
sulcos emite informações para a cápsula, que é a responsável
em converter a energia mecânica (produzida pelo contato da
agulha com o disco) em energia elétrica, para ser amplificada
pela aparelhagem de som e se converter em energia sonora que
sai pelas caixas. Ou seja, quem está em contato com o disco é a
agulha e quem entrega a informação que a agulha extrai pelo
atrito é a cápsula, isto quer dizer que: se você usa um material
ruim, logicamente, o som sairá ruim e não há aparelhos que
consigam melhorar este som substancialmente, pois, a
informação passada para os receivers, amplificadores e até
mesmo com o uso de equalizadores não é “entregue” com
qualidade.
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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

A história é a seguinte: não tem como economizar com


agulhas e cápsulas. De um conjunto ruim sairá som ruim. Não
existe milagre. E este conjuntinho de agulha e cápsula não é
barato.
A má notícia: as agulhas não duram muito. Duram de acordo
com o tempo que você as usa. As agulhas são descartáveis. E
agulha ruim pode estragar o disco.
A boa notícia: as cápsulas podem durar uma eternidade.
Acaba-se a agulha, pode trocá-la e continuar com a mesma
cápsula. Ou seja, gasta-se um pouco mais quando compra o
conjunto de cápsula e agulha, mas a manutenção envolverá o
desembolso só para comprar agulhas novas e isso é mais barato.
Outra boa notícia: existe uma espécie de padrão entre os
principais fabricantes de toca-discos (de hoje e do passado:
suporte P, suporte ½ polegada e universal) para acoplarem o
conjunto de cápsulas e agulhas nos toca-discos. O conjunto de
½ polegada é anexado num suporte que se chama shell e os
fabricantes construíram os braços com entradas praticamente
universais para este modelo.
Existem marcas boas e ruins. Porém, não é qualquer lugar
que as vendem. Normalmente em cidades grandes existem
comércios específicos para tudo que envolve o vinil e fora essa
situação precisamos comprar pela Internet.
Outra questão a ser levantada é que existem modelos de
marcas famosas que muitas pessoas acham que servirá para
aquele que quer escutar seus vinis. Tome cuidado com a fama e
procure saber sobre a serventia da agulha. Há modelos
específicos para serem usados em discos para discotecagem por
DJs (scratch), portanto, não servirão a contendo e até podem
danificar seu disco, já que estes modelos são específicos para o
tipo de atrito que os DJs elaboram durante suas apresentações.

- 51 -
Glaucio José Couri Machado

Um bom conjunto de agulhas e cápsulas junto com sua shell


no tipo “quase padrão” que é o ½ polegada pode custar muito
mais que R$ 1000,00. Espantaram, né? Alguns podem até
contestar: mas eu comprei um toca-discos vintage e paguei
metade deste preço. Pois é, tem razão, essa é a realidade de
muitos dos que estão lendo este artigo agora.
Então vamos direto à dica:
Agulha e cápsula AudioTechnica AT 95e para suporte ½
polegada.
Somos adeptos do “nem 8 nem 80”, por isso, apresentamos
este modelo. Ou seja, pensamos num conjunto que trará
bastante satisfação para nossos ouvidos, porém, se você é um
audiófilo de primeira e superexigente poderá usar como um
sobressalente para o caso de sua agulha predileta acabar no
meio de uma audição.
Este conjunto pode custar um pouco mais ou um pouco
menos que R$ 350,00 (na Internet – preço de setembro de
2016) e agradar bastante. É considerado pelos especialistas
como um modelo de entrada. Quer dizer: é o conjunto que não
tem toda a qualidade dos mais caros, logicamente, não servirá
para os mais exigentes como o modelo principal, porém, dará
bastante alegria e gerará um som perto do perfeito para aqueles
que não se consideram audiófilos de primeira linha.
Resumindo: serve bem para quem quer curtir um som com uma
qualidade quase 100%, sem gastar muito.
Esse problema do custo de agulhas e cápsulas tende a afastar
muitos dos que gostam dos vinis. Mas, a escolha é sua e,
provavelmente, você tem opinião própria sobre marcas e
modelos.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Fábricas de vinil pelo mundo12

Apenas 16 países no mundo possuem fábricas de vinil


(Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, EUA, França,
Holanda, Inglaterra, Itália, Argentina Jamaica, Japão, México,
República Tcheca e Suécia), portanto, é uma atividade
industrial bastante escassa.
No Brasil temos duas fábricas, a Polysom e a Vinil Brasil. A
primeira está em pleno funcionamento e a segunda está no
início de suas atividades (dados de outubro de 2016) e não
podemos confundir fábricas com empresas que fazem discos,
um por um, em processos quase artesanais, a partir, de
máquinas que gravam a música diretamente no PVC com corte
em agulha de diamante ou outros metais, como a Lombra
Records e a Vinil Lab (ambas nas nossas Terras Tupiniquins).
Vejamos as fábricas espalhadas pelo mundo:
Alemanha
• Celebrate – Stollberg
• MMP – Neunkirchen - Seelscheid
• Optimal Media Production – Röbel
• Pallas Group– Diepolz
• R.A.N.D. Muzik – Leipzig
Austrália
• Vinyl factory - Marrickville, New South Wales
• Zenith record Pressing- Albion, Victory
Bélgica

12
Fonte: site da Polysom acrescido de pesquisas pessoais do autor
- 53 -
Glaucio José Couri Machado

• VIinylium - Mouscron
• Disco Press - Herk-de-Stad
Brasil
• Polysom – Rio de Janeiro
• Vinil Brasil – São Paulo
Argentina
• Laser Disc Argentina – Buenos Aires (em início de
implantação até a escrita deste capítulo)
Canadá
• RIP-V - St-Lambert, Quebec
EUA
• Brooklyn Phono - Brooklyn, NY
• EKS Manufacturing - Brooklyn, NY
• NSL / Alpha Records - Plantation, FL
• Dynamic Sun - Newark, NJ USA
• A&R Record Manufacturing - Dallas, TX USA
• Archer Record Pressing - Detroit, MI
• Gotta Groove Records - Cleveland, OH
• MUSICOL RECORDING - Columbus, OH
• PALOMINO RECORDS - Shepherdsville, KY
• UNITED RECORD PRESSING (URP) - Nashville,TN
• Bill Smith Custom Records - El Segundo, CA
• Capsule Labs - Santa Monica, CA
• Erika Records - Downey, CA

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

• Rainbo Records - Canoga Park, CA


• Record Technology INC (RTI) - Camarillo,CA
França
• MPO Group – Averton
• Magnetic Mastering - Aix-en-Provence, Marseilles
Holanda
• Record Industry – Haarlem
Inglaterra
• Curved LTD - Hackney, London
• Vinyl Factory - Hayes, Middlesex
• Quickpress Production – Balham, South London
• Amstore Creative Media Production
• JTS Studios – Londres
Itália
• Microwatt srl - Vimercate
• Phonopress – Paullo
Jamaica
• Tuff Gong – Kingston
Japão
• Toyokase CO., LTD - Yokohama, Kanagawa
México
• Retro Activo Records
República Tcheca
• GZ Media – Lodenice

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Glaucio José Couri Machado

Suécia
• Tail Records Vinyl - Göteborg,

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Compacto: o disquinho de 7 polegadas

Os mais velhos vão se lembrar com um certo saudosismo do


compacto. Aquele disquinho de vinil com duas ou quatro
músicas que se vendia muito no passado. Inclusive eles têm
nomes diferentes. Com duas músicas é o “compacto simples”
(uma música em cada lado) e o com quatro é o “compacto
duplo” (duas músicas de cada lado) e ambos possuem 07
polegadas.
No Brasil, os compactos deixaram de ser vendidos no
nascimento dos anos 90. Foi durante os anos 70 e início dos 80
o auge das vendas deste modelo de disco. Para se ter uma ideia,
nos anos 70 foram vendidos 136 milhões e 600 mil álbuns
destes disquinhos e nos anos 80, 56 milhões e 210 mil (fonte:
Associação Brasileira de Produtores de Discos – ABPD).
Porém, o cálculo para o número de cópias é diferente. A
ABPD seguia para a contabilidade a orientação da IFPI
(International Federation of the Phonographic Industry) onde
cada 3 cópias equivaleria a 01 álbum. Com esta contabilidade
podemos chegar aos estrondosos números de quase 500
milhões de compactos vendidos nos anos 70 e
aproximadamente 169 milhões nos anos 80. Mas, há um porém
nestas contas e datas: a fábrica brasileira Polysom não
abandonou o formato e ele ainda é fabricado e vendido no país,
porém, com números bem mais modestos.
A alegação da indústria fonográfica para extinguir as vendas
e produções do compacto é que nele se vendia a música e no
Long Play, o artista. Mas, este último modelo rendia muito
mais lucros às gravadoras fazendo com que, a partir dos LPs,
alcançassem cifras monstruosas em lucratividade, o que fez
penderem para o fim das vendas dos disquinhos com duas ou
quatro músicas. Para o artista isto também foi bom, pois, pode

- 57 -
Glaucio José Couri Machado

mostrar seu trabalho com mais amplitude. Porém, o disco de 7


polegadas servia (e ainda serve) como “carro de entrada” de
novos talentos e nos períodos do auge da sua produção
desempenhava também a importante função para os produtores
de discos avaliarem se deveriam ou não produzirem um LP
levando em conta o sucesso ou o malogro de um determinado
artista, banda ou conjunto.
Todavia, o fato é que estes disquinhos têm seu charme. Sua
forma diminuta é esteticamente interessante e continua no gosto
do fã dos discos pretos de plástico.
Assim como o LP não morreu, o compacto continua muito
vivo e trazendo alegria para os amantes da boa música. Óbvio
que ambos os modelos não alcançam mais os números de
produção dos anos 60, 70 e 80 (devido, inclusive, ao número
reduzido de fábricas), mas a lucratividade dos LPs é fator
primordial na indústria fonográfica atual. O compacto tem seu
lugar, contudo, é muito moderado em número de vendas.
Cá para nós: é muito legal um compacto! Não acham?

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

10 problemas existentes no vinil

Nós adoramos disco de vinil, isso é fato. Mas, nem tudo são
flores neste mundo e é bom chamarmos atenção para alguns
problemas, pois, conhecendo-os fica mais fácil
compreendermos este universo. E não vamos discutir o óbvio, a
ponto de avisar que disco de vinil “nem pode passar perto” de
calor excessivo, não é esta a intenção.
E antes que os críticos do vinil cheguem e digam: Eu não
disse? O vinil é cheio de problemas! Já logo avisamos, não
existe uma forma poderosa de escutar música imune a
dificuldades, sejam elas quais forem. Nem ao vivo. Afinal,
alguém pode desafinar e doer nossos ouvidos, né?
E pode parecer paradoxal, mas quando sabemos dos defeitos
isso nos facilita lidar com essa mídia que tanto gostamos e, com
certeza, é nossa preferida fonte para escutarmos música.
Sabendo das adversidades entendemos que toda e qualquer
mídia tem suas complicações. Não tem como negar.
Então, vamos lá:
1 - Não existe segurança em compras de toca-discos. Seja
antigo ou novo, a presença de problemas é uma constante: os
antigos pela óbvia falta de peças e a quase total falta de novos
técnicos especialistas para consertos e manutenção. Nos atuais,
a instável continuidade das importações, inclusive de peças,
falta de treinamento técnico para manutenção e preço sempre
acima do existente no mercado mundial.
2 - Pela própria natureza do modus operandi dos toca-discos,
escutar um vinil não é tão simples, pois, além do tocador,
precisaremos de outros aparelhos para serem acoplados nele.

- 59 -
Glaucio José Couri Machado

3 - O preço dos discos. De fato, não existe ainda uma


fórmula mágica para baixá-los. Há inúmeros fatores que
falamos aqui neste livro.
4 - Há pouquíssimas fábricas de vinil no mundo (não chega
a 60) e pela capacidade de fabricação limitada, estamos
praticamente no ápice da produção.
5 - No Brasil só temos duas fábricas em funcionamento.
6 - Alguns vinis por ausência de esmero na sua confecção
e/ou a regulagem mal feita dos braços e das cápsulas pode
ajudar a ocorrer o quase desconhecido Inner Groove Distortion
que deixa as músicas finais de cada lado com qualidades
inferiores e diferentes do restante do disco. Isso, às vezes não
tem muita solução e pode estar em todo e qualquer disco do
álbum problemático, mas se o problema for do ajuste de braços,
cápsulas e agulhas, ele pode ser solucionado com um simples
acerto da regulagem ou a compra de cápsulas melhores.
Normalmente, os toca-discos tangenciais são mais imunes a
este tipo de problema pela forma e ângulo que seus braços
tocam os discos.
7 - O vinil tem um tempo limitado para gravar músicas e,
normalmente, um disco de 12” terá a capacidade de no máximo
40 min. (20 minutos para cada lado), porém, quanto mais tempo
de música gravada, pior será a qualidade do disco.
8 - Limpar, limpar e limpar. Sim. Isso deve ser sempre e
continuamente feito.
9 - Não existem cápsulas e agulhas boas e baratas. Nem as
de entrada, pois, até estas, vão ser sempre mais caras que as
“meia boca”.
10 - A realidade brasileira sobre a quantidade de discos
novos ofertados para compra é muito ruim. Estamos longe da

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

oferta de títulos existente nos EUA e na Europa e chegamos


até, às vezes, estarmos pior que o mercado argentino.
Esses “problemas” não afetam a imagem do vinil. Muito
pelo contrário. Nos tornam realistas e nos permitem lidar com
estes disquinhos que tanto gostamos de forma honesta, realista
e responsável. Só falta colocar um disco no toca-discos e curtir
a boa música que sai dele.
Bom proveito.

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Glaucio José Couri Machado

12 mitos que envolvem o mundo do vinil

Você já deve ter se deparado com situações que vamos


apresentar aqui e algumas se tornaram verdadeiros “folclores”.
Vamos a elas?
1 - O som do chiado é um charme no vinil - Você até pode
achar um charme, mas, o chiado não vem gravado no vinil
(exceto se houver um erro técnico no momento da gravação ou
prensagem). Isso pode ser sujeira incrustada nos sulcos onde
passa a agulha (tente lavar umas 2 ou 3 vezes para ver se o
chiado não diminui ou acaba?) ou micro arranhões.
2 - O envelope de papel é o melhor meio de se guardar o
vinil na capa - O papel cria uma poeira que com o tempo entra
nos sulcos, mofa com mais facilidade e, dependendo da
qualidade do papel, pode se tornar uma verdadeira lixa,
riscando seu vinil toda vez que você tira ou coloca no envelope.
3 - O plástico protegerá meu vinil eternamente - De tempos
em tempos você deve trocar o plástico interno, pois, por ser
mais fino, ele se desfaz. A capa do vinil, por ser papelão,
amarelar-se é um fator natural e independe do plástico da capa
(neste caso o plástico só ajuda a preservar por mais tempo as
qualidades do papel/papelão).
4 - Qualquer toca-discos é bom. Jamais! Há toca-discos que
são uns verdadeiros engodos e podem até danificar seus discos.
5 - Vinil estrangeiro sempre é melhor que o nacional - Esse
é um dos maiores mitos e faz parte da própria cultura brasileira
de achar que tudo de fora é melhor. O vinil sempre será bom se
a fábrica e seu modo de fazer for eficiente e caprichoso. Isso
não depende da nacionalidade.

- 62 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

6 - Vinil mais pesado é melhor que os mais leves ou vinil


180 ou 200 gramas é sempre melhor - Vinis mais pesados são,
obviamente, melhores para manusear e conservar, bem como,
para “firmar” mais no prato do toca-discos (alguns audiófilos
dirão que isso pode ajudar a apurar o som). Porém, quanto à
qualidade sonora do disco, podes crer, ela não está na dose de
matéria usada para construir o disco, pois a profundidade do
sulco que a música fica gravada é sempre a mesma, portanto, as
informações audíveis não variam de acordo com o peso. Basta
você analisar o comprimento das agulhas e verá que sempre é a
mesma, portanto, não há sulco mais profundo e, com isso, um
disco com quantidades maiores de informações gravadas. Ou,
alguns dirão, que as “paredes” dos sulcos ficam mais firmes
evitando verberação da agulha. A resposta é simples para isso:
se o plástico utilizado for de qualidade, as “paredes” jamais
serão “molengas”. O que faz a qualidade do vinil ser boa é a
utilização de matéria prima de primeira; a captação do som em
bons estúdios e a sua posterior mixagem (onde se acerta os
níveis e equalização de cada pista) com esmero e cuidado; a
audição primorosa após a gravação nos estúdios; a
masterização (que seria uma espécie de “pente fino” final nas
pistas para verificar quaisquer problemas) com zelo e cuidado;
o master (gravação original de onde saem as cópias) ser bem
feito e exemplarmente elaborado e, por fim, a prensagem ser
meticulosamente calibrada e caprichosa. Estes itens, de acordo
com seu grau de aperfeiçoamento, que farão um vinil ser bom
ou ruim.
7 - CD é melhor que vinil - As frequências que dizem que o
CD alcança são inaudíveis para o humano, portanto, não as
percebemos.
8 - O vinil é melhor que CD - Isso sempre dependerá da
qualidade técnica do vinil e do CD. Há casos e casos

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Glaucio José Couri Machado

9 - A durabilidade do CD é muito grande - De acordo com


especialistas, a química existente no CD ainda não foi
comprovada se a durabilidade dela é superior a 50 anos.
10 - O vinil é muito frágil - Depende. Se você seguir as
recomendações sobre limpeza e conservação, pode ter certeza,
terá vinil para mais de 100 anos.
11 - Vinil lacrado é a garantia que ele é novo - Nem sempre.
Para enganar, basta o vendedor lacrar e há muitas fábricas que
não entregam o vinil novo lacrado. A garantia é a honestidade
do vendedor ou loja, por isso sempre é bom pesquisar a
idoneidade antes da compra.
12 - Agulhas e cápsulas para DJs são sempre melhores -
Agulhas e cápsulas especificas para DJs tem peso e dureza
diferentes, pois, para fazerem os scratchs com qualidade
precisam de uma engenharia própria para a fabricação e podem
danificar seus discos. O ideal é sempre utilizar agulhas e
cápsulas específicas para cada ocasião (assim como as agulhas
e cápsulas para vinis 45, 78 rpm e mono)

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Economia do vinil

Como comprar vinil usado na internet

Cinco dicas sobre compra de vinil usados:


Primeiro: se for comprar um disco antigo veja o estado de
conservação dele. Normalmente, os vendedores sérios são
muito honestos quanto às informações sobre a forma que o
disco se encontra e disponibilizam fotos reais do disco, da capa
e do encarte (ou avisam o estado de alguma forma).
Quando se fala em estado de conservação, fala-se da mídia
(o disco), da capa e do encarte (se houver).
Fuja de lojas ou vendedores que não avisam sobre o estado
de conservação. Você corre sério risco de pagar “gato por
lebre”.
Segundo: o preço nem sempre recai sobre a qualidade da
conservação do vinil usado. A precificação é feita pelo grau de
raridade do vinil, obviamente também, pela conservação e a
presença ou não do encarte original. É possível encontrar vinil
sem encarte em ótimas condições e ver outro, mais caro, em
pior estado, porém, com o encarte.
Terceiro: cuidado com aventureiros que passam a vender
pela Internet da noite para o dia. Este é um mercado que vem
crescendo muito e o vendedor deve conhecer bem o tipo de
negócio que está inserido, pois demanda um alto conhecimento
sobre questões técnicas de gravação, conservação de objetos
usados (especificamente o vinil e papel/papelão) e história da
música e da indústria fonográfica.

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Glaucio José Couri Machado

Quarto: procure conhecer como o vendedor ou loja embala e


expede o disco comprado. Há embalagens que protegem
bastante o vinil. São envelopes especiais de papelão duro que
dão maior proteção para que o transporte de sua compra seja
seguro e não sofra danos como o calor ou descuido da empresa
transportadora. Porém, nada impede de seguir embalado de
outra forma, desde que o comprador sinta que seu produto será
expedido com segurança e sem correr maiores riscos. Não
podemos esquecer que o vinil é um plástico e que sua capa é
um papelão, normalmente fino.
Quinto: atente para o prazo de entrega. Perceba esta frase:
“menos dias, menos perigos”. Por isso, privilegie optar por
SEDEX, mas se a loja só vende por PAC, acredite, os Correios
costumam preservar bem as suas encomendas, mas, como se
diz: “o seguro, morreu de velho”. Quanto menos tempo o seu
disco de vinil passar viajando, melhor.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

11 dicas para você comprar seu novo toca-discos

Já falamos sobre toca-discos e vitrolas13, porém, este é um


assunto que nunca se esgota, até mesmo porque, as tecnologias
e os modelos mudam de tempos em tempos, portanto, este é um
tema que não tem término e estará sempre em discussão e neste
capítulo vamos falar somente de toca-discos novos.
Uma questão importante na particularidade brasileira é a
escassez de marcas de fabricantes diferenciados e bons toca-
discos no comercio varejista e isso dificulta (e muito) a escolha
e às vezes as análises podem confundir mais do que ajudar.
São 11 dicas que acreditamos serem universais e
provavelmente vão ajuda-lo na escolha de um player para seus
discos, portanto, cada leitor deve ficar atento se as dicas a
seguir se aplicam ou não ao seu gosto.
1 – Primeiro procure entender (e assumir) qual a sua relação
com o toca-discos:
Este é um pensamento tabu, mas é necessário, estando no
lado subjetivo da coisa e é de fórum íntimo, pessoal, indo direto
para a relação entre desejos, gostos, preferências e utilidade. A
experiência com o vinil, hoje, ultrapassa o ouvir discos e recai
em alguns casos às tendências estéticas, de decoração e design
de interiores, já que há um modismo no entorno de tudo que é
vintage. Não que o vinil seja vintage, ele até pode ter este “ar”,
porém, muito pelo contrário, ele é uma retomada de uma
tecnologia que acreditavam ultrapassada, mas, com o passar do
tempo, o amadurecimento das pesquisas, novos costumes,

13
Toca-discos são diferentes de vitrolas. As vitrolas já veem com caixas de som
embutidas e, por isso, emitem som sem precisar de outros aparelhos para auxiliar na
escuta.

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Glaucio José Couri Machado

manuseios e práticas com as tecnologias vigentes,


compreenderam que é uma tecnologia que ainda se aplica e está
além de sua época, tornando-se algo clássico, portanto,
atemporal.
Entendendo qual é a sua verdadeira relação e desejo com o
que está direcionado ao vinil e assumindo pra si mesmo, tudo
ficará mais fácil e a consciência fica mais tranquila para
adquirir seu toca-discos ou vitrola e dar a importância e o
objetivo que deseja. Neste caso, se você quer um toca-discos
levando em conta apenas sua beleza e design e não sua
qualidade sonora, não se preocupe. Se é o que quer, está
valendo e muito!
2 – Se você não é um DJ, não se importe muito se o toca-
discos é Belt drive (que usa correias para fazer o prato girar) ou
Direct-drive (o prato é girado diretamente pelo motor). Para os
DJs há muita importância nisso e os Belt-drives, normalmente,
não lhes são indicados. As técnicas de produção de hoje
permitiram fazer verdadeiras obras de arte e com muita
eficiência tecnológica na construção destes players movidos por
correias que, em épocas anteriores, eram vistos como aparelhos
menos desenvolvidos. Há inclusive uma conversa entre os
audiófilos (interminável e não consensual, como tudo sobre o
vinil) que os Direct-drives podem, em alguns casos e conforme
a engenharia do aparelho, interferirem diretamente na emissão
do som. Portanto, muito cuidado com a “propaganda” que se
utiliza para vender um tocador a partir dele ser um Direct-
drives! Você pode estar comprando gato por lebre! Direct-
drives tem que ser muito bom para se tornar um excelente e
acima da média toca-discos e isso é muito mais caro!
3 – Cuide do tipo de cápsula e agulha que vem no, como
chamam os portugueses, gira-discos. Há, em alguns casos, uma
enganação para diminuir o preço final dos toca-discos e
colocam um conjunto de cápsulas e agulhas de qualidade
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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

inferior, barateando o produto e, no final, você terá que adquirir


novas e melhores agulhas e cápsulas para ter um som de
qualidade (e isso não é barato, portanto, faça logo as contas se
compensa a compra ou não).
4 – Analise sempre a questão da assistência técnica, afinal
de contas, você estará adquirindo um produto para durar muito
tempo e como 100% dos toca-discos vendidos no Brasil são
importados, avalie sempre esta questão.
5 – Além da assistência técnica, repare nas vendas e na
sempre continuidade delas para os componentes como correias
de reposição, tampas, dobradiças, agulhas, cápsulas e etc.
Lembre-se que o tempo e o contínuo manuseio são inimigos
disso tudo.
6 – Já compreendendo o item 1, cuide muito da forma como
foi construído o aparelho (sua engenharia). Se possível,
pesquise e escute-o antes para ver se a sua beleza externa
condiz com o som que sai dele. Em alguns casos pode ser um
aparelho bonitinho, mas ordinário…
7 – Avalie em qual conjunto de som você acoplará seu toca-
discos e, normalmente, os novos já veem com o amplificador
interno para a emissão do áudio. Caso não venha, você
precisará saber se seu conjunto de som tem o local apropriado
para plugar o player. Este local, nos conjuntos antigos se chama
“phono”. Caso não tenha esta entrada, você precisará comprar
um “preamp”.
8 – Este item anterior fará você lembrar que não adianta ter
um bom toca-discos e um conjunto de som miserável. Portanto,
veja se seu conjunto é condizente com seu novo toca-discos e
se não precisará, no final das contas, comprar novas caixas,
receivers e etc.
9 – Avalie se comprar um toca-discos em lojas brasileiras
será ou não mais em conta que importar. Há casos onde um

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Glaucio José Couri Machado

bom tocador custa lá fora uns 200 a 300 dólares e aqui mais de
3 mil reais. Coloque na ponta do lápis o preço brasileiro, a
conversão do valor no exterior para o Real, o imposto sobre
importação, IOF, o tempo de entrega e o frete, bem como leve
em consideração os itens 4 e 5. Analise isso tudo, junte com os
possíveis riscos e veja se vale a pena comprar. Em alguns
casos, creia, vale muito a pena.
10 – Não entre na conversa que toca-discos bom não pode
vir equipado com transformador automático do som do vinil em
áudio digital. Isso é papo antigo, como era nos primórdios dos
telefones celulares quando diziam que tirar fotos boas só em
câmeras fotográficas. Hoje há excelentes smartphones que
tiram ótimas fotografias como há excelentes toca-discos que
emitem um ótimo som e que transformam seu disco em arquivo
digital de qualidade. Não se esqueçam que a tecnologia se
desenvolve e o que importa é qual a serventia que você quer dar
para seu tocador e, obviamente, um bom player resultará um
arquivo melhor - vide o novo da Sony.
11 – Por fim, não se esqueça de ver o local onde colocará
seu novo toca-discos. Não pode bater sol, maresia, vento (perto
de janelas pode ser um perigo! Já vi um toca-discos com a
tampa aberta e numa rajada de ventos quase voar!) e saiba que
o conjunto de som precisará ficar junto. Antes de comprar veja
onde o colocará.
Pois bem, essas são algumas dicas e este assunto jamais se
esgotará. Se levar em consideração alguns destes pontos, sua
experiência com seu novo toca-discos poderá ser muito melhor
e agradável.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

As feiras de vinil que pipocam pelo país afora!

Uma característica muito legal da cultura do vinil são as


feiras de vendas que acontecem cada vez mais em várias
cidades brasileiras.
Estes eventos vão além da simples venda direta dos discos e
acabam trazendo outras atrações. Normalmente tem shows,
quiosques com comidinhas variadas e tudo que está no entorno
do vinil, como camisetas, pôsteres e uma infinidade de coisas –
mas, existem feiras que vendem somente discos.
Não faz muito tempo que uma reportagem de uma grande
emissora brasileira apontou o vigor financeiro destas feiras. São
cifras razoavelmente elevadas! Ou seja, são bons negócios para
quem vende e quem compra. Sem contar que a maioria permite
a presença de vendedores pessoa física ou jurídica (vendedores
autônomos ou lojistas).
As feiras permitem um contato direto e frente a frente entre
os variados setores da economia do vinil: comprador, vendedor
de discos, vendedor de moda (camisetas, vestidos e outras), de
decoração (pôsteres, almofadas, arte em vinil e etc.) e tudo que
couber neste tema. É quase um termômetro para verificarmos a
efervescência e a diversidade deste mercado.
No capítulo Quem pensa que o vinil morreu apontamos que
o Record Store Day é o que, de fato, inaugurou as grandes
vendas de vinil, mas podemos dizer que também ajudou a
alastrar este fenômeno das feiras.
O Record Store Day, na verdade, é um dia para celebrar o
artista, seus discos, suas gravadoras, selos e lojas e não
propriamente uma feira, já que tudo acontece em vários
endereços distintos, porém, foi este evento que praticamente
relançou a forma comercial de impacto dos vinis e demonstrou

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Glaucio José Couri Machado

que esta mídia de música poderia ser um bom negócio. Seu


ensinamento para as feiras ocorreu a partir do momento que
perceberam que uma data específica poderia ser especialmente
importante para esta economia (houveram outros fatos que
auxiliaram na expansão deste tipo de acontecimento, porém
seria exaustivo enumerar todos num capítulo deste tamanho e
desta natureza).
Além das feiras, outro fenômeno interessante deste mercado
são as “manhãs”, “tardes” ou noites” do vinil que vem
ocorrendo em espaços como universidades, bares, clubes,
restaurantes e locais similares. Estes, diferente das feiras, são
acontecimentos onde geralmente é um vendedor que promove e
os produtos expostos são específicos deste vendedor – também
podem ter outras atrações além da simples venda de discos – e,
normalmente, rola muito som proveniente dos discos para
venda ou apreciação.
No Brasil basta darmos uma olhada na Internet e veremos
que as feiras estão pipocando em várias cidades. Dos pequenos
municípios aos grandes, muitos estão com suas feiras
acontecendo com certa regularidade. Há feiras que já estão na
sua décima edição ou até mais. É o vigor do vinil mostrando
que ele é bom para as finanças especializadas em artigos
ligados à música.
Procure ver onde ocorrem as feiras de discos de sua cidade e
vá lá prestigiar. Tenho certeza que você não se arrependerá! E
dê uma passadinha no VinylHub – um site colaborativo onde
você pode colocar sua feira predileta ou loja no mapa mundial
de vendas de vinil e descobrir locais e eventos interessantes. É
muito legal!

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

A trilha sonora e a indústria fonográfica

Vamos aproveitar que quando este artigo foi escrito era a


época do Oscar e falar um pouco sobre as trilhas sonoras.
Não! Não vamos apontar e listar quais são as melhores ou
piores, mas sim o que isso representou para a indústria do vinil
e suas vendas.
Cinema e música, na maioria das vezes é algo indissociável!
A música dá vida às cenas e as pessoas querem ouvir em suas
casas as melodias de seus personagens e/ou das partes dos
filmes que mais gostaram. A indústria fonográfica
compreendeu isso e tratou de colocar nos discos!
Em particular no Brasil as telenovelas e suas músicas foram
muito importantes e renderam bastante para gravadoras como a
Som Livre (que nasceu basicamente para lançar as trilhas das
novelas da Rede Globo) e Polydor. Ao vermos os números de
vendas de trilhas de filmes dos anos 70, 80 e 90 vemos que este
estilo musical rendeu cifras e mais cifras para as gravadoras e
pela lista podemos considerar que teve seu auge na “Era de
Ouro do Vinil”.
Veja na Wikipédia a lista das categorias de trilhas sonoras e
alguns ganhadores de prêmios importantes como Oscar,
Grammy e etc.
Eis a listas das trilhas sonoras mais vendidos de todos os
tempos (em números de álbuns vendidos e retirados da
Wikipédia):
1. Whitney Houston – O Guarda-Costas – 45 milhões (1992)
2. Andrew Lloyd Webber – O Fantasma da Ópera (trilha de
teatro) – 40 milhões (1986)

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Glaucio José Couri Machado

3. Bee Gees – Os Embalos de Sábado à Noite – 40 milhões


(1977)
4. Vários – Ritmo Quente – 40 milhões (1987)
5. James Horner – Titanic – 30 milhões (1997)14
6. Vários – Grease: nos tempos da brilhantina – 28 milhões
(1978)
7. Prince – PurpleRain – 20 milhões (1984)
8. Vários – Top Gun : Ases Indomáveis – 20 milhões (1986)
9. Vários – ForrestGump – 19 milhões (1994)15
10. Elton John – O Rei Leão – 15 milhões (1994)

Com essa lista já temos uma ideia do quanto as trilhas de


cinema, teatro e telenovelas foram rentáveis. Podemos afirmar
que continuam gerando lucros, pois, muitas trilhas de filmes e
séries têm sido lançadas em vinil, como recentemente Narcos,
Game Of Thrones, Planeta dos Macacos, Stranger Thing e
tantas outras.

14
único da lista que não foi lançado em vinil apenas em CD e K7
15
Lançado originalmente em CD e K7, porém, com relançamento em vinil em 2014
pela SRC Vinyl – Epic

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

O vinil no Brasil: entre a cruz e a espada! Imposto,


dólar alto e duas únicas fábricas brasileira.

Todo mundo já sabe que o disco de vinil hoje é uma


realidade comercial e vem gerando altos dividendos para a
indústria fonográfica, vendendo cada vez mais.
Todo mundo já sabe, também, que todo mundo adora vinil!
Ok! Porém…
Nossa realidade não é das mais tranquilas. Vejam só:
A – Tendo uma única fábrica no Brasil16 (Polysom) a
produção, por questões óbvias, é pequena e não atende todos os
públicos e suas particularidades de gosto musical. Ficamos à
mercê do que esta fábrica produz.
B – Se você comprar um vinil no exterior corre o risco de
ser taxado em 78% sobre o preço dele (em geral, 60% como
imposto mais 18% de ICMS) e este preço varia de 20 a 40
dólares em média. Esta questão da taxação e o dólar alto cria
uma combustão no seu bolso: dólar alto + altos impostos =
explosão da conta bancaria!
Veja um exemplo:
Se você comprar numa loja na web sediada em outro país
um LP de 25 dólares custará no final R$186,90 (dólar a 4,20
Reais quando o artigo foi escrito. Hoje o dólar transita na faixa
entre R$3,15 a 3,50) sem contar o frete… Ou seja, pagará
acima de 200 pratas na boa… Um preço muito alto e injusto!

16
Quando este artigo foi escrito a Vinil Brasil ainda não tinha sido inaugurada,
porém, seus números de produção também não irão mudar efetivamente o cenário e a
quantidade de títulos continuará incipiente para um mercado de música do tamanho
do brasileiro.
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Glaucio José Couri Machado

O maior problema é que as leis brasileiras não seguem a


tendência do mercado.
O disco de vinil já foi considerado um bem cultural como é
hoje o livro. Livros não pagam impostos de importação!
Mas o que levou o vinil a ser taxado? Como sempre, a
confusão na cabeça de legisladores!
Nos anos 90 os CDs passaram a ser taxados, pois, neles
vinham os softwares. Nesta mistureba do que é CD de música e
CD de software, colocaram tudo no mesmo balaio e definiram:
é CD? Tem taxa! Nisso vieram junto os discos de vinil, pois, na
mente destes ilustres “entendidos” deve ter passado a seguinte
ideia: tem música gravada? É CD! É CD? Tem taxa!
E nós assistindo as vendas de bolachões no mundo
aumentando junto com a oferta cada vez maior de títulos e
ficamos fazendo pensamentos positivos para que nossas únicas
fábricas coloquem no mercado discos de artistas que gostamos
e com preços, no mínimo, razoáveis!
Como plateia, ficamos vendo LPs de nossos artistas
preferidos serem relançados no exterior (inclusive títulos
brasileiros), bem como, novos trabalhos, mas, na maioria das
vezes, apenas observamos isso acontecer lamentando que não
podemos comprar – exceto se você tiver uma conta bancária
gorda. Aí, não há preço impeditivo para adquirir seus amados
disquinhos de plástico preto (ou até mesmo coloridos).
Sem contar outro fator: como os preços são altos, os lojistas
que importam repassam este preço para o consumidor final,
portanto, não há mágica que barateie os vinis importados.
Sobre os vinis fabricados em outros países, enquanto
continuar essa política de altas taxas e dólar alto, sempre terão
preços caros, seja comprando no e-commerce estrangeiro ou em
lojas daqui!

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

E não é só isso! Neste mesmo raciocínio entram os toca-


discos, agulhas e cápsulas!
Qual tem sido a saída brasileira? O mercado de vinis usados
e toca-discos vintage! Este sim vem nos contemplando, porém,
os preços vem subindo também já que seguem a lógica da
oferta e da procura: muita gente procurando, aumenta-se o
preço para obter mais lucros!
Mas, agulhas e cápsulas… prepare o bolso, caso queira
comprar novas!
Pobre de nós, mortais!

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Glaucio José Couri Machado

O que faz o preço do vinil novo e usado

Mundialmente o preço do vinil (novo e LP) tem o número


20 (ou perto dele) como a base: 20 Euros, 20 Dólares, 20
Libras… Essa é uma média que o Portal UV vem reparando nos
sites espalhados pelo mundo que vendem vinil.
No Brasil, o preço do vinil novo (álbum simples), de acordo
com a única fabricante que está vendendo vinis até o
fechamento deste artigo (e na sua loja virtual), varia de 59,90 a
89,90 Reais.
Mas o que precifica o vinil?
Primeiro, precisamos entender que a matéria prima do vinil é
um derivado de petróleo. Então, de início já entendemos que
seu valor é internacionalizado e dolarizado.
Segundo, a óbvia do mercado: a lei da oferta e da procura.
Esta é sem dúvida o maior problema do preço do vinil, pois, a
demanda e a oferta são o gargalo do preço: alta procura e
poucas fábricas – no mundo são menos de 60 capazes de
produzir o tão querido disquinho.
Terceiro, para vinis importados, existe o somatório do preço
no mercado de origem, relação Real e Dólar, impostos sobre
importação, frete e IOF. Isso tudo afeta o valor do disco
importado no Brasil.
Quarto, a política de preços da gravadora ou selo e do
comércio. Cada gravadora e/ou selo têm uma política específica
e própria para precificarem seus produtos e, assim, procuram
obter mais ou menos lucro no valor final. Este ponto é bem
específico de cada empresa e a lógica nisso tudo é somente o
desejo da gravadora ou selo e a relação com o seu consumidor e
o lucro. Este ponto recai, também, sobre o comércio e sua
política de lucros.
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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Quinto, o peso do vinil e outros materiais pra a fabricação.


Vinis mais pesados, obviamente, usam mais matéria prima e
tendem a serem mais caros, bem como a qualidade dos insumos
e materiais usados para os encartes e capas.
Sexto, as relações com a propriedade intelectual e o valor
dos profissionais envolvidos. As questões da propriedade
intelectual estão ligadas ao valor que os detentores da obra
exigem para que ela seja comercializada. Isso também serve
para percebermos o valor dos profissionais envolvidos na
confecção do disco – de locação de estúdio, equipe técnica a
designers e músicos.
Os itens quarto e sexto também diferem muito se o disco é
uma obra independente ou se está atrelado a uma gravadora ou
selo.
Ou seja, o preço do vinil não é uma coisa tão simples!
Petróleo, dólar, pouca capacidade de produção, valor da
obra, peso do vinil, impostos, demanda em alta e etc. fazem o
preço do vinil não ser uma das coisas mais baratas da indústria
fonográfica e, como consequência disso, já li em alguns artigos
do jornalismo especializado em música e sua economia que esta
relação pode ser uma bomba que vai explodir o vinil e fazê-lo
passar a ser como no final dos anos 90 quando o LP e o
Compacto eram praticamente objetos de culto de uma pequena
parcela dos amantes da música, pois, essa lógica do mercado,
com a escassez e a procura em alta, freará o consumo e,
consequentemente, a desistência da compra (não vou entrar
aqui nas explicações que as Ciências Econômicas nos dão sobre
esta questão). Até pode ser, mas o mercado do vinil usado tem,
por teoria, por muitos anos uma grande quantidade de
“produtos” para serem vendidos e/ou trocados, todavia, tudo
tem um limite e isso um dia pode acabar!

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Glaucio José Couri Machado

Para se ter uma ideia, 1993 que é considerado o início da


derrocada da produção dos bolachões no Brasil (antes das
fábricas daqui fecharem totalmente) vendeu-se 17 milhões de
LPs e a produção em massa, obviamente, diminuindo ano após
ano foi até 1998 – de 2000 até 2016 passamos a ter apenas uma
fábrica de vinil nas Terras Tupiniquins e agora soma-se a Vinil
Brasil e de uma para duas não muda efetivamente o cenário,
apenas cria uma pequena melhora. Mas, imagine o que não tem
de vinil por aí dos anos 70, 80 e 90 para venda? Mesmo que
muitos tenham sido jogados fora, também se conclui que
muitos estão guardados por aí.
Sim, leitores e leitoras, o vinil usado é um produto altamente
vendável e lucrativo! E muitos, mas muitos em excelente
estado, como se fossem “zero bala”!
Mas, e o preço do vinil usado?
O vinil usado também segue a lógica da oferta e da procura.
Determinado vinil que fora anteriormente pouco produzido e
hoje muito cultuado pode elevar-se a preços estratosféricos.
Coisa de 3 mil Reais é pouco para alguns LPs e/ou compactos.
Porém, observando por aí o preço médio do vinil usado no
Brasil tem o número 20 como mágico também: 20 Reais é a
média de um vinil usado em bom estado, com encarte (caso
tenha), mas pode ser encontrado em torno de 10 a 30 Reais (e já
vi sendo vendidos por menos).
Existem 2 tipos de mercado de vinil usado: aquele do
especialista e outro do sebo de livros, CDs e bugigangas usadas
que somente compra e revende os discos sem entender a
importância que cada título tem (mas este modelo está
acabando). O preço do especialista é, obviamente maior, pois
carrega pesquisa sobre a relação procura X qualidade da mídia
X quantidade produzida sendo esta a relação que dará o preço
final do vinil.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Há preços para qualquer tipo de bolso para comprar vinis


usados e basta procurarem nas lojas físicas e na Internet que
tem um bom contingente de vendedores e lojas honestas com
preços justos. Mas há, também, os bem injustos… o que nos
leva a um porém nisso: muitos vendedores estão abusando dos
preços e elevando a valores estratosféricos sem ter razão para
tal, simplesmente, motivados pelo aquecimento do mercado
criando uma relação meio desequilibrada, pois, a maioria dos
amantes do vinil não são os colecionadores que dão fortunas a
determinados discos. O colecionador de hoje é, também,
jovem! E juventude e dinheiro não são coisas que combinam
muito e isso poderá atrapalhar todo um rejuvenescimento do
disquinho de plástico preto.

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Glaucio José Couri Machado

Comparação entre os preços dos toca-discos no


Brasil e nos EUA: um papo de arrepiar os cabelos

Neste capítulo17 falarei de uma coisa muito importante que é


a questão dos preços dos toca-discos no Brasil comparando
com os exercidos no exterior, particularmente nos EUA, bem
como, o detalhamento dos impostos para que possamos ver a
realidade do mercado de toca-discos brasileiro, seu valor frente
grandes magazines americanos e as consequências que isso
provoca na cadeia produtiva do vinil.
Analiso os preços de quatro toca-discos na Amazon ou na
BH PhotoVideo – na situação do tocador não existir na
primeira – comparando-os com os preços exercidos por aqui.
Nossas condições para análise:
• Dólar do dia 14/10/2016 cotado pelo site tributado.net a
3,18 Reais
• Tipo de envio (frete) “courrier”
• Taxa do “courrier” cobrada, normalmente, por este tipo de
envio por 100 Dólares pela Amazon e na BH
• Unidade Federativa Rio de Janeiro – RJ (pegamos o RJ
como exemplo por ter um dos maiores valores de ICMS do país
– 19% – porém, não deixo de lado a totalidade dos estados e
trato sobre as diferenças de ICMS na parte da conclusão)
• Imposto de Importação 60%

17
Este artigo originalmente foi escrito com as figuras dos toca-discos, você
poderá acessar no link a seguir e lá ver as imagens dos tocadores
http://universodovinil.com.br/2016/10/16/comparacao-entre-os-precos-dos-toca-
discos-no-brasil-e-nos-eua/.

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

• ICMS – 19%
• IOF – 6,38%
• Os preços brasileiros são aqueles cotados na pesquisa
realizada no texto de 20/08 publicado no Portal UV que usou
como critério de escolha a existência do toca-discos em pelo
menos 3 lojas diferentes (excluindo o Mercado Livre e sites
congêneres).
Vamos lá?

Pro-JectDebutCarbon DC
• O preço brasileiro varia de R$ 4.299,00 a R$ 3599,00
• Preço Amazon: 399,00 Dólares
Comprando na Amazon (em Reais)
• Valor do produto sem impostos: 1268,82
• Custo do frete: 318,00
• Total da compra: 1586,82
Tributos:
• Imposto de importação: 952,09
• ICMS: 595,55
• IOF: 101,24
• Total de Tributos: 1648,88
Valor final com impostos: 3235,70

Audio-Technica At-LP120
• O preço brasileiro varia de R$ 5999,00 a R$ R$ 2999,00
• Preço Amazon: 299,00 Dólares
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Glaucio José Couri Machado

Comprando na Amazon (em Reais)


• Valor do produto sem impostos: 950,82
• Custo do frete: 318,00
• Total da compra: 1268,82
Tributos:
• Imposto de importação: 761,29
• ICMS: 476,20
• IOF: 80,95
• Total de Tributos: 1318,44
Valor final com impostos: 2587,26

Stanton T55 USB


• O preço brasileiro varia de R$ 1463,02 a R$ R$ 1721,20
• Preço Amazon: 199,00 Dólares
Comprando na Amazon (em Reais)
• Valor do produto sem impostos: 632,82
• Custo do frete: 318,00
• Total da compra: 950,82
Tributos
• Imposto de importação: 570,49
• ICMS: 356,85
• IOF: 60,66
• Total de Tributos: 988,01
Valor final com impostos: 1938,83

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CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

ION Pure LP
• O preço brasileiro varia de R$ 717,53 a R$ R$ 746,9
• Preço BH PhotoVideo: 69,95 Dólares
Comprando na BH (em Reais)
• Valor do produto sem impostos: 222,44
• Custo do frete: 318,00
• Total da compra: 540,44
Tributos
• Imposto de importação: 324,26
• ICMS: 202,83
• IOF: 34,48
• Total de Tributos: 561,58
Valor final com impostos: 1102,02
Conclusões:
Pode ser óbvia a conclusão: o que eleva o valor dos toca-
discos no Brasil são os impostos que recaem sobre eles. Porém,
isso não diz tudo sobre as consequências destes altos preços.
Vejamos abaixo:
Esta situação faz com que os americanos possam adquirir
um toca-discos por preços muito menores que no nosso país e
isto, com toda certeza, auxilia muito no crescimento dos discos
de vinil nas Terras do Tio Sam. Por exemplo: se uma família
com uma renda mais apertada gastar 69,95 Dólares num
tocador de vinil, tem um impacto no orçamento efetivamente
menor que o mesmo tipo de família brasileira ao desembolsar
entre R$ 717,53 a R$ R$ 746,9 – isto é quase o mesmo valor de
um salário mínimo! Agora, imaginemos o fã do vinil podendo
comprar um excelente tocador como o Pro-Ject Debu Carbon

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Glaucio José Couri Machado

por R$1268.82? Ah! Isso seria o céu – deve estar pensando o(a)
leitor(a)! No céu estão os americanos do norte! Nós pagamos
por este mesmo aparelho o exorbitante valor de R$ 4.299,00 a
R$ 3599,00 (estes preços foram averiguados em lojas na
Internet).
A soma dos tributos (Imposto de Importação, ICMS e IOF)
são superiores a 100% do valor do produto! Ou seja, quando
importamos um tocador de vinil estamos pagando mais que o
dobro dele em impostos! E quando compramos em lojas
brasileiras – somando o acréscimo do lucro que é justíssimo, já
que as lojas precisam dele para sobreviverem – provocam
preços praticamente proibitivos para a maioria dos brasileiros
em ambos os casos.
Sobre a importação dos toca-discos pelas lojas brasileiras
para a revenda por aqui, a questão não é muito diferente do que
uma compra feita por Pessoa Física no que tange aos valores
dos impostos mencionados acima. A vantagem das lojas
perante a situação de um comprador comum está ligada ao
preço mais baixo que ela consegue junto aos fornecedores e o
valor do frete. Com certeza uma loja compra os aparelhos com
preços na fonte fornecedora menores.
O que essa situação faz?
Primeiro, ela eminentemente provoca a procura de toca-
discos com preços mais próximos da capacidade de compra do
brasileiro. Portanto, os tocadores de pior qualidade se tornam os
preferidos para compra e isso, necessariamente, recai numa
experiência por parte de quem vai ouvir o vinil nestes aparelhos
muito ruim, provocando desconfortos que podem até ocasionar
na desistência do uso desta mídia.
Segundo, que as lojas precisam, para venderem seus
tocadores, diminuírem drasticamente seus lucros e isso faz com
que elas optem, naturalmente, em oferecer um portfólio menor,

- 86 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

propiciando a nós reles mortais das terras que Cabral descobriu,


poucas opções de marcas para compras.
Terceiro, para as lojas sobreviverem aos enormes impostos
ou, até mesmo, conseguirem lucrar mais com a volta do vinil,
muitas estão comprando players de marcas desconhecidas no
mercado internacional ou de fabricantes que vendem os
chamados “genéricos” e “batizam” estes tocadores com uma
chancela própria, revendendo-os – isto dificulta o comprador
destes produtos a terem conhecimento da forma de fabricação e
da qualidade de seus componentes eletroeletrônicos, da mesma
forma que confunde a capacidade para poderem avaliar e
comparar com outros semelhantes e a encontrarem acessórios,
assistência técnica e etc. fora das lojas que fizeram suas
aquisições.
O quarto ponto recai sobre o valor do ICMS. Apesar da
pesquisa ter sido feita sobre o cálculo do estado do Rio de
Janeiro que é de 19%, a maioria dos estados brasileiros cobram
17%. Mas, isso no final das contas não cria muita diferença
para os compradores fluminenses e os do restante do país,
exceto que terão que desembolsar uma pequena grana a mais.
Só a título de curiosidade faço as contas do Audio-Technica At-
LP120 com a alíquota de 17% que terá o preço final em R$
2526,87 diferente dos R$ 2587,26 – uma diferença de R$ 60,39
(que já daria para comprar uns bolachões usados dependendo
do preço).
O quinto ponto é uma suposição, mas, é possível que
existam lojas que retirem valores maiores dos lucros dos toca-
discos e repassem no preço final dos discos de vinil,
encarecendo-os, para chegarem no “fim das contas” com os
dividendos planejados, afinal, discos de vinil e seus tocadores
fazem parte de uma relação entre produtos que é indissociável.
Sexto e último, quando que as fábricas de aparelhos
eletrônicos brasileiros vão apostar em fabricar toca-discos por
- 87 -
Glaucio José Couri Machado

aqui? Isso, efetivamente diminuiria drasticamente o preço do


tocador, iria aumentar as vendas dos discos de vinil e traria uma
alegria imensa para os fãs. Temos certeza que o Brasil é capaz
de fabricar excelentes toca-discos!
Então, essa história para nós que gostamos de um vinil “véi
di guerra” arrepia ou não nossos cabelos? É uma história
desagradável, né? E ela precisa ter uma saída, do contrário
sempre teremos dificuldades para termos toca-discos melhores
e sequer o mercado de usados tem ajudado mais, pois, até ele
está começando a saturar e encarecer. Quem tem um bom toca-
discos em casa não quer vendê-lo e se for o caso de vender,
com certeza, não será mais baratinho como era um tempo atrás.

- 88 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Futurologia

Um alerta: o mercado de música mundial entre a


expectativa e a decadência

O primeiro semestre de 2016 já acabou e agora começam a


aparecer os primeiros números sobre o mercado de música,
principalmente, sobre o americano que é mais organizado neste
quesito.
A poderosa associação das grandes gravadoras das terras do
Tio Sam (RIAA) mostra uma realidade que nos remete ao
início dos anos 2000 quando o advento da pirataria de CDs e
downloads de MP3 ilegais fizeram um estrago enorme nesta
indústria musical e mudou radicalmente o cenário e sua forma
de agir. Estamos, portanto, novamente assistindo esta indústria
se adaptar ao novo e, neste caso, o novo são as relações com as
empresas de streaming, a derrocada das mídias digitais como
CDs, DVDs musicais e downloads legais de álbuns completos
ou singles, bem como o impasse do vinil frente à questão da
oferta e da procura ou, até mesmo pode ser, uma freada nas
vendas.
Vejamos o que está acontecendo:
A primeira questão é a queda anual ininterrupta das vendas
de CDs. Alguns especialistas começam a indicar que esta mídia
que está em pleno declínio começa sua caminhada para fim.
Seria mais ou menos a história do gato que subiu no telhado,
afinal, são anos e anos caindo uma média superior a 10%.
Inclusive este fato mudou drasticamente a forma como as
gravadoras trabalham com os artistas nos dias de hoje.
Antigamente o elenco das gravadoras era muito maior e se
investia muito mais no artista. Hoje, são raros aqueles que
- 89 -
Glaucio José Couri Machado

conseguem assinar contratos e grande parte é praticamente um


sócio – ambos entram com dinheiro e repartem os possíveis
lucros ou é o artista que banca de fato seu disquinho digital.
A segunda questão são os downloads definitivos e legais de
música. A queda vem sendo vertiginosa nos últimos 3 anos o
que fez a “quase inventora” disso, Apple, via iTunes, mudar sua
forma de comercializar, criando em seu portfólio de vendas um
modelo parecido ao Spotify, Deezer, Radio e etc.
A briga pelo uso dos direitos autorais no Youtube faz com
que este lance cada vez mais filtros para descobrir as obras que
são emitidas em sua plataforma via usuário comum, indicando
uma perspectiva para o fim deste tipo de uploads sem
autorização, dificultando cada vez mais a veiculação de música
gratuita sem os devidos direitos e o Facebook vem
acompanhando a mesma tendência de filtros e proibições para
os vídeos upados por seus usuários.
Os maiores “vendedores” de música hoje são os serviços de
streaming e estes não pertencem às grande gravadoras e seus
conglomerados da indústria de entretenimento. Pela primeira
vez na história as grandes precisam procurar parcerias com
estes serviços e acabam ficando reféns ao invés de serem
protagonistas como no passado recente. Obrigando-as a se
reinventarem e diversificarem suas formas de administração da
gestão entre seu artista e as empresas de streaming.
As vendas de vinil no mercado americano subiram apenas
5% no primeiro semestre de 2016 frente aos 14% do mesmo
período de 2015 – uma queda de 9%. Este é um resultado que
já prevíamos, pois a grande demanda e a falta de fábricas
suficientes para a produção do vinil vêm criando dificuldades
em entregar as encomendas e, assim, abastecer o mercado. Há
atrasos enormes nas entregas gerando grande frustração e
decepção neste mercado.

- 90 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Avaliando o mercado do vinil, o ano de 2017 será o


derradeiro para entender se este tipo de mídia está realmente
fixado ou entrará no rol do declínio de vendas de álbuns (como
os CDs e downloads pagos), pois, as novas fábricas já estarão
em funcionamento (como recentemente a Laser Disc na
Argentina, a Vinil Brasil, as plantas da GZ Media nos EUA e
Canadá e etc.) e saberemos ver se sua produção, de fato,
conseguiu suprir este mercado.
Quais conclusões podemos chegar com isto tudo, juntando a
situação brasileira?
A primeira é que o mercado de mídias musicais físicas está
em sinal de alerta. O CD e o vinil (particularmente este último
no primeiro semestre de 2016, pois nos anos anteriores não
havia queda semestral), cada um com seus motivos, encontram-
se em dificuldades.
O disquinho digital vem desde o início dos anos 2000 caindo
vertiginosamente e já não é o formato que mais rende lucros.
A alta demanda dos últimos anos do vinil com a falta de
fábricas estão contribuindo para uma certa desmotivação e isso
já começa a aparecer nos números americanos do primeiro
semestre de 2016, porém, ainda é cedo para falarmos em uma
queda anual das vendas de vinil, já que ainda não temos o
resultado das novas plantas que começaram a produzir, como
por exemplo no Brasil, a Vinil Brasil. No caso brasileiro soma-
se a “intrigante” (entre aspas, já que todos nós sabemos os
motivos) inexistência de toca-discos de qualidade a preços
acessíveis e isso é fator de impedimento para o aumento do
vinil nas nossas terras tropicais.
Porém, o sinal de alerta é claro. Durante 3 meses o UV
semanalmente monitorou a quantidade de álbuns à venda no
catálogo da loja da Polysom e o que antes era realizado em 5 a
6 páginas da loja virtual estava, ultimamente, em 3 a 4 páginas

- 91 -
Glaucio José Couri Machado

(até a escrita deste artigo em meados de outubro de 2016) com


títulos ofertados ao consumidor. Nossa questão é se isso foi
gerado pela baixa demanda e a consequente não reposição dos
estoques ou se está sendo gerado pela alta? Já que a fábrica não
consegue repor seus títulos, pois, precisa dar conta dos pedidos
terceirizados? Fica a questão!
Nas Terras Tupiniquins a ausência de toca-discos de
qualidade com preço acessível e o alto valor dos vinis –
inclusive os usados – vem gerando verdadeiros desconfortos e
isso pode e já está afetando este mercado, afinal, o consumidor
precisa de um tocador para escutar seus discos e a crise
financeira brasileira afeta diretamente a compra de artigos de
entretenimento. A sorte é que existe um típico comprador de
vinil que é mais abastado ou é colecionador e/ou aficionado “de
carteirinha” e estes não se afetam com crise mantendo viva a
economia, porém, pensar em trazer outros tipos de
compradores, como o consumidor normal da classe média que
ainda não está na onda do vinil é um caso mais difícil nestes
tempos que vivemos e para trazê-lo? Só com tocadores de
qualidade e com valor ajustado ao seu orçamento e uma revisão
dos preços dos vinis usados e novos. Porém é fundamental que
tenhamos fábricas suficientes para abastecer a demanda. Sem
isso, com certeza, o vinil entrará num estágio conflituoso e
difícil e o público cativo é exigente e ávido e não quer saber
dos problemas das fábricas. Ele quer é seu vinil tocando no seu
toca-discos!
Esperemos o final de 2017 para sabermos o fim desta
história, pois neste ano de 2016 as novas fábricas de vinil estão
se adaptando ou terminando de serem implantadas e que o
mercado passe a se redesenhar para a realidade do vinil
brasileiro, principalmente colocando à venda toca-discos e
aparelhos de som de qualidade e com preços alcançáveis pelo
bolso das classes menos abastadas. É desalentador ver um

- 92 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

tocador de vinil com preço de 297,97 dólares no exterior


(equivalente a aproximadamente R$ 1100,00) ser vendido aqui
por mais de R$2800,00 (veja o exemplo do Audio-Technica
AT-LP120 e compare na Amazon e na maioria das grandes
lojas brasileiras – cotação de 10/2016). Isso é uma piada de
mau gosto!

- 93 -
Glaucio José Couri Machado

Onde estaria o vinil no futuro do mercado


de música?

Leio e ouço muitas pessoas dizendo que vinil é um


modismo. Que não durará muito, que logo logo todo esse boom
do bolachão irá acabar e voltaremos às vendas do início do final
dos anos 90 quando, praticamente, se extinguiu. Mas, alguns
esquecem que esse “boom” vem de aumento de vendas
sucessivas desde o início dos anos 2000. Contudo, sabemos a
partir do pensamento exposto no capítulo anterior Um alerta: o
mercado de música mundial entre a expectativa e a decadência
que a coisa não está muito boa para as mídias físicas e os
downloads legais de música (pelo menos nos dados americanos
do norte).
Mas, quanto dizer que o vinil é um modismo, que não durará
muito ou que ele já está em decadência é um exercício de
futurologia tão grande quanto o que farei adiante. Pode ser que
estejam certos, mas as pistas que temos hoje nos indicam
completamente o contrário. O vinil tem e terá um espaço cada
vez maior na indústria fonográfica e os dados da RIAA
decorrentes do primeiro semestre de 2016 apontam problemas
sim, mas não são dados da realidade mundial – na Europa, os
patamares de vendas de vinil ano após ano aumentam – e
aparentemente demonstram os novos arranjos da indústria do
vinil frente aos desafios da relação entre oferta, demanda e
capacidade produtiva das fábricas. Sem contar que para os
artistas a mídia vinil é a que lhes oferece maior capacidade de
lucros (o streaming ainda não oferece lucros substantivos para
os artistas e isso vem sendo um grande fator de críticas por
parte deles sobre este formato e estilo de negócios).
E quais seriam os motivos que me dão quase que uma
certeza sobre a permanência e longevidade do vinil?
- 94 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

No dia 1 de junho de 2016 aconteceu o Hi-Res Symposiu 18


da DEG (The Digital Entertainment Group), nas instalações da
Capitol em Hollywood. Estavam presentes representantes de
gravadoras e eletrônicas como Sony e Capitol Studios,
produtores e engenheiros da Academia Americana de
Gravação. O assunto deste simpósio: discutir o futuro do áudio
digital de alta resolução.
Vejamos 3 grandes momentos deste simpósio apontados por
Michael Fremer - um dos jornalistas americanos mais
importantes sobre música analógica – no seu blog Analog
Planet:
1 - Marc Finer (Diretor Sênior da DEG) explanou durante
este seminário sobre uma recente pesquisa da CTA (Consumer
Technology Association) sobre o consumo de música e esta
pesquisa teria indicado que “90% dos consumidores citaram a
qualidade do som como o mais importante”, e que “mais de
60% estavam dispostos a pagar mais para obter um som
melhor”.
2 - Outro momento importante foi o painel intitulado “As
perspectivas para o Hi-Res Music” moderado pelo mesmo
Finer, com os debatedores Nate Albert (Executive VP, A&R
Capitol Records), Jim Belcher (VP, Technology & Production,
Universal Music Group) e Maureen Droney (Managing
Director, The Recording Academy). O resultado do debate foi
que a música armazenada em arquivos para manter a qualidade
deveria ser na maior resolução possível e que novas gravações
devem ser produzidos em uma resolução de 24 bits,
independentemente da taxa de amostragem, mas que ela
também deve ser pelo menos 48 kHz. Também mencionado
frequentemente foi a importância do ressurgimento do vinil

18
Hi-Res é áudio em alta resolução e seria um áudio digital em qualidade melhor que
a do CD

- 95 -
Glaucio José Couri Machado

para o consumidor que tem interesse por um som com melhores


padrões de excelência.
3 - E o mais interessante foi uma sessão de audição onde o
engenheiro de áudio da Capitol, Steve Genewick, fez uma
comparação de uma transferência de vinil de um mono de
Frank Sinatra para a primeira versão em CD e depois para uma
versão mais recente também em CD e, finalmente, para uma
transferência para um arquivo 192/24 bits. Michael Fremer,
indagou que tipo de plataforma giratória, cápsulas e pre-amp
foram utilizados para a transferência e Genewick não soube
responder. Provavelmente, diria o jornalista, era nada de
especial, mas ainda soava melhor o vinil e o arquivo de altas
taxas do que ambas as versões do CD.
Michael Fremer frisa que, como alguém que lutou para
salvar o vinil, ao ver críticas à resolução do CD, o Hi-Res
Syposium era música para seus ouvidos. Outra observação que
faz é que as gravadoras estão ouvindo e discutindo. Não sabe se
ouvem diretamente os consumidores. Isso só o tempo dirá.
Mas, para aqueles que se preocupam com a qualidade do som,
estes são os melhores tempos.
Quais as conclusões que podemos tirar disso?
Primeiro que a indústria já sabe que o ouvinte de música
quer uma música de qualidade e uma boa percentagem destes
permite gastar mais por ela (pelo menos no mercado
americano).
Segundo que num simpósio que fala de áudio digital, falar
de vinil poderia soar estranho, mas, por ser voltado para o áudio
de qualidade, quando menciona e demonstra o vinil superior ao
CD em situações semelhantes à apresentada sobre o disco de
Sinatra, tem como motivação, obviamente, a procura pela
qualidade. Isso quer dizer que o vinil é uma das respostas ao

- 96 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

consumidor de música que está atrás de uma audição que lhe


permita alcançar padrões mais elevados.
Terceiro, que neste mesmo evento, empresas como a Sony
demonstraram produtos que estão sendo elaborados e alguns já
à venda, especificamente para o áudio de qualidade. Entre eles
está, inclusive, um toca-discos (PS-HX500) que transforma o
som do vinil num arquivo Hi-Res (já sendo vendido na Europa
e em outros países fora deste continente), sem contar os
investimentos de outras empresas como a Panasonic via
Technics no som analógico.
Apresento mais algumas pistas para você perceber que o
vinil é para ficar. Então, vamos a elas:
1 - A abertura de novas fábricas como, por exemplo; no
Brasil, a Vinil Brasil; na Argentina, a Laser Disc, a divulgação
da Crosley afirmando a pretensão em construir sua própria
fábrica, além da já anunciada fundação de novas plantas da GZ
Média nos EUA e Canadá
2 - Grandes investimentos (com milhões de dólares
envolvidos) em novas tecnologias para a fabricação de vinis.
Exemplo disso são as máquinas da Newbilt Machinery
(empresa alemã) e a canadense Viryl Tecnologies e, também, o
desenvolvimento de novas tecnologias para o vinil. A Ulvac
(empresa japonesa) com sua nova tecnologia que pretende
evitar arranhões e cargas estáticas causadas pelo manuseio e o
High Definition Vinyl ou Vinil HD da Rebeat Digital
recentemente patenteado, ilustram esta tendência.
3 - O investimentos em álbuns e caixas cada vez mais
ousados, lindos e caros. Vide a caixa do Queen (inclusive há
uma versão que acompanha um toca-discos personalizado), a
nova dos Rolling Stones e o álbum A Moon Shaped Pool , do
Radiohead, entre vários outros.

- 97 -
Glaucio José Couri Machado

4 - A produção cada vez maior de toca-discos de qualidade


vista com ênfase na High End 2016 (maior feira europeia de
aparelhos eletrônicos Hi Tec para som) na Alemanha e o
investimento de grandes da eletrônica mundial como já disse da
Sony e Panasonic (Technics) no desenvolvimento de toca-
discos.
5 - O investimento em vendas de vinil não só na abertura de
lojas especializadas, como em lojas de departamentos e outros
tipos e em acessórios para estes discos. As máquinas de lavar
vinil - que são aparelhos nem tão baratos - mostram bastante
esta realidade.
Como conclusão final, podemos fazer o nosso exercício de
futurologia juntando tudo que foi escrito até agora, as minhas
inúmeras interações diárias com os leitores e leitoras do UV,
principalmente no Facebook, a própria vivência de
colecionador e estudioso/curioso do assunto e o que o mercado
em geral apresenta sobre investimentos e inovações para os
discos de vinil:
Isso não é imaginação, é fato: o amante de música quer uma
música de qualidade e até se predispõe a pagar mais por ela,
porém, no caso brasileiro se os preços fossem menos
exorbitantes, com certeza, o vinil e os aparelhos que oferecem
esta qualidade melhor teriam um público maior e quanto à
compra de música, uma considerável parte do brasileiro amante
da qualidade musical adquire vinil, mesmo que seja muito mais
caro aqui do que nos EUA ou Europa.
Basta olharmos o mercado brasileiro dos disquinhos pretos
de plástico novos que cresce mais de 15% ao ano para
verificarmos que esta situação de crescimento não é específica
dos americanos e europeus, bem como, os resultados da
pesquisa que apresentei nos demonstram caminhos ainda bem
largos para o vinil nos próximos anos.

- 98 -
CONVERSA DE VINIL: o universo dos discos de vinil

Começamos a ver com mais nitidez que a indústria


fonográfica, ao contrário de anos anteriores em que se
propunha muito mais a busca por maiores lucros, passa a fazer
outra busca: aquela pela qualidade e se localizar na nova
realidade deste mercado. Também pudera, foi essa procura por
lucros maiores que fez ela quase sumir…
Acredito que pelos inúmeros tombos que esta indústria
passou e pelo aprendizado que isso lhe proporcionara, estamos
vivendo realmente uma época de redefinição do mercado de
música e neste ponto está o vinil firme e forte e se despontando
como o novo formato capaz de aglutinar uma legião de
consumidores.
A revisão da indústria fonográfica, de suas atitudes, se
estabelece a partir de: a) o streaming – afinal, não foram as
gravadoras e selos que passaram a oferecer música por este
instrumento e sim outro tipo de empresas, b) o aumento das
vendas de vinil e a queda das vendas de CD e c) ao perceberem
que o consumidor também mudou e ele, por incrível que
pareça, está largando a pirataria de MP3 via downloads na
Internet por sistemas (streaming, Youtube e etc.) pagos ou
gratuitos bancados por propaganda, portanto, totalmente legais
e lucrativos.
Obviamente que essa pequena análise e discussão de fatos
são apenas pistas e não respondem todos os fenômenos e
possibilidades da indústria fonográfica - ela é de uma
complexidade sem tamanho. Mas, neste exercício de
futurologia, embasado nas questões aqui apresentadas, é que
vamos captando aos poucos o que o mercado de música está
procurando, propondo e suas possíveis tendências.
Teríamos mais para mostrar e discutir, mas só estas pistas
nos mostram o (re)enraizamento do vinil como mais uma opção
para ouvirmos e armazenarmos música, mesmo estando em
pleno século XXI! O vinil tem muito chão pela frente!
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Glaucio José Couri Machado

Sobre o autor:

Glaucio José Couri Machado é mineiro de nascimento e


professor na Universidade Federal de Sergipe, doutor na
docência e na ciência, ministra aulas da graduação até o
doutorado e atua como pesquisador nas áreas de Ciências
Sociais e Informática (sim, é multidisciplinar por formação).
Mas, em relação aos discos de vinil é um aficionado e
colecionador que resolveu levar mais a sério o gosto por este
formato de armazenamento de música, idealizando o site
Universo do Vinil que coordena e, também, é o organizador do
Seminário Música e Vinil que teve sua primeira edição em
2016 - evento que procura levantar a discussão sobre a música
analógica, sua economia e cultura para dentro da universidade.

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