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VITIMOLOGIA

A VITIMOLOGIA E A CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS

A Vitimologia visa oferecer à coletividade em geral e à pessoa humana


em particular meios mais seguros de sobrevivência diante da escalada da
violência que assola os países emergentes. A ação continuada de estudos
vitimológicos fará com que esta ciência encontre métodos eficazes de
combate ao crime e reduza a patamares aceitáveis a criminalidade.

Surgiu entre nós logo após a II Guerra Mundial, quando o mundo


assistiu, perplexo, a uma das maiores atrocidades já registradas contra a
humanidade: o extermínio de 6 milhões de judeus nos campos de
concentração nazistas, comandados por Adolf Hitler.

Sua fundação deve-se a Benjamin Mendelson, professor de


Criminologia e advogado em Jerusalém, que pronunciou na Universidade de
Bucareste, em 1947, sua famosa conferência “Um horizonte novo na ciência
biopsicossocial – a Vitimologia”. Nela, Mendelson deixa consignado que a
vítima não poderia mais ser considerada mera coadjuvante de uma infração
penal, não mais ficar limitada a ser sujeito passivo de um crime.

Por outro lado, o professor enfatiza a necessidade de estudar o


comportamento da vítima, sua impulsividade, os atos conscientes ou
inconscientes que podem levar ao crime, bem como propõe a sistematização
de pesquisas e estudos sobre o assunto, subordinados não a um ramo da
Criminologia, mas a uma ciência própria com a denominação de Vitimologia.

É cediço em Direito Penal que crime é a ofensa a um bem jurídico


penalmente tutelado.

Toda vez que se infringe uma norma penal surge para o Estado o
dever de punir seu autor para restabelecer a ordem violada e reparar o mal
causado pelo crime.

Se o agente tinha consciência da ilicitude de sua conduta e mesmo


assim, contrariando os princípios gerais de direito, praticou a ação, agiu com
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culpabilidade, devendo ser responsabilizado. E não apenas criminalmente,
mas reparando o dano causado pelo crime.

Todavia, existem crimes como o desabamento, o incêndio, a explosão,


o cometido por quadrilhas dentro das prisões etc., que, devido à ausência
fiscalizatória do Estado, ocasionam inúmeras vítimas fatais e prejuízos
financeiros acentuados à coletividade.

Inúmeros fatos ocorridos no Brasil dão conta do descaso do Poder


Público, da ganância de empresários e imprudência de comerciantes,
resultando centenas de mortes e dramas inesquecíveis àqueles que sofreram
com as tragédias. Ora, sendo o Estado responsável pelo bem-estar social,
assegurando aos cidadãos o direito à vida, à liberdade, à segurança, à
propriedade, como também pela preservação de seus bens e a paz, a vítima,
atingida porque o Estado negligenciou na execução de seus serviços, deve
ser indenizada.

A reparação do dano às vítimas coletivas é, antes de tudo, medida de


justiça social. Nada impede que o Estado ingresse com ação regressiva
contra o co-responsável pelo crime, mas repare com a urgência necessária
os danos causados pelas mortes e tragédias, sem prejuízo, evidentemente,
de ação por improbidade administrativa e criminal contra o próprio Estado, a
ser intentada pelo Ministério Público após apuração dos fatos pela Polícia.

Não dá para assistir passivos à insensibilidade do Poder Público com


os dramas de seus tutelados. As leis precisam ser modificadas em benefício
da população. Cidadania é isso. É confiar no Estado, é receber dele a
assistência necessária e imediata em casos graves nos quais ocorreu sua
participação, direta ou indiretamente, no evento.

A evolução da Vitimologia mostrará que muita coisa poderá ser feita


para diminuir a criminalidade nos países emergentes, principalmente com
uma legislação moderna e que melhor ampare as vítimas.

A classificação das vítimas é uma delas. Todas as espécies de vitimas


dos estudiosos abaixo estão embutidas em nosso trabalho. Servirá para
conhecê-las melhor no contexto do crime e diferenciá-las de acordo com sua
conduta.

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CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS

Classificação de MENDELSON -
La Victimología y las Tendencias de la SociedadContemporanea, Illud, 1981,
p. 21.

a) Vítima completamente inocente;

A primeira espécie de vítima, também chamada de ideal, é aquela que


não tem nenhuma participação no evento criminoso. São aqueles casos em
que o delinqüente é o único culpado pela produção do resultado, pois a
vítima em nada colaborou para o crime. Exemplo: seqüestros, roubos
qualificados, terrorismo, vítima de bala perdida, abuso de incapazes,
abandono de recém-nascido, infanticídio, maus-tratos, calúnia etc.

No Rio de Janeiro, principalmente nas favelas situadas nos morros,


são comuns os tiroteios entre criminosos e traficantes; outras vezes, entre
estes e a Polícia, que vai à região para prendê-los, e, não raras vezes,
resultam ferimentos e mortes de pessoas inocentes.

b) Vítima menos culpada do que o delinquente;

A segunda definição de vítima, igualmente conhecida como vítima por


ignorância, refere-se àquela que contribui, de alguma forma, para o resultado
danoso; ora freqüentando locais reconhecidamente perigosos, ora expondo
seus objetos de valor sem a preocupação que deveria ter em cidades
grandes e criminógenas.

c) Vítima tão culpada quanto o delinqüente;

Na terceira modalidade de vítima situa-se a chamada provocadora,


aquela classificada como tão culpada quanto o delinqüente. Sem a
participação ativa da vítima, o crime não teria ocorrido. É o que ocorre no
estelionato, na sedução, na corrupção, na rixa etc.

d) Vítima mais culpada que o delinqüente;

A quarta definição mostra a hipótese em que a vítima é considerada


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mais culpada que o criminoso. As lesões corporais e os homicídios
privilegiados cometidos após injusta provocação da vítima são os exemplos
mais freqüentes. Menachen Amir analisou 646 casos de estupro registrados
pela Polícia de Filadélfia ocorridos entre 1958 e 1960.

Constatou-se que 19% dos casos foram comprovadamente


precipitados pelas vítimas. Adverte Menachen que muitas vezes a resistência
é apenas para simular que a vítima não se entregou de pronto à sugestão do
autor - Edmundo Oliveira, Comentários ao Código Penal, p. 112.

e) Vítima como única culpada.

A última espécie de vítima é a que é considerada como única culpada


no evento.

Na legítima defesa o agente, moderadamente, repele injusta agressão,


atual ou iminente, através dos meios de que dispõe. Logo, quem se defende
de um ataque injusto age de acordo com o direito e não comete crime.

A vítima que nesses casos sofre a influência de seu ato é considerada


a única culpada. Cite-se, também, o indivíduo embriagado que atravessa
avenida movimentada, vindo a falecer atropelado, ou aquele que toma
medicamento sem atender o prescrito na bula, as vítimas de roleta-russa, de
suicídio etc.

O Japão é o país com o maior número anual de suicídios com 24


casos para cada 100 mil pessoas. As razões são variadas: competição nas
escolas e universidades, dificuldade para achar trabalho e pressão de uma
rigorosa sociedade. Em 2005, 32.552 pessoas se suicidaram naquele país.

No Brasil, os registros policiais dão conta de inúmeros suicídios


motivados por ciúme, desemprego, abandono, repressão familiar etc., não
havendo, pois, necessidade de buscar em Shakespeare relatos de dramas
em que as vítimas são, quase sempre, as únicas culpadas. Jimenez de
Asúa - Jimenez de Asúa, La Ley y el Delito, § 203, 1945, Buenos Aires, p.
406.
Citado por Heitor Piedade Júnior, no seu livro Vitimologia, conclui que
em todo suicídio há sempre uma outra vítima, que ele chama de oculta, além
do próprio suicida. Traz como exemplo o suicídio do marido ou da mulher
enganada, que visa, com seu gesto, punir o parceiro infiel - O suicídio para
vingar-se do companheiro é prática não rara no Brasil. A cantora sertaneja
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Sula Miranda e posteriormente a atriz Ana Paula Arósio praticamente
presenciaram o suicídio de seus companheiros por motivo de abandono e
ciúme.

Alude ainda o penalista espanhol ao gesto do presidente Vargas,


que pretendeu atingir com sua atitude dramática seus adversários políticos.

Na peça After Breakfast de Eugene O’Neill, drama em um único ato e


um só personagem, uma mulher que está em cena o tempo todo em
progressiva tensão recrimina, escarnece, insulta e acusa o marido – que não
aparece no palco, mas que se supõe estar ao lado, no banheiro, barbeando-
se – imputando-lhe todas as desgraças, misérias, vergonhas, aperturas
econômicas, injustiças e indignidades que podem se abater sobre uma
família. Desde a inaptidão para o trabalho, à desatenção de seus deveres
como cabeça do casal, e até mesmo os desapontamentos do relacionamento
sexual, tudo é destilado perversamente, ou gritado em histéricos paroxismos.

O homem, afinal, não pode mais resistir e acaba por se degolar com a
mesma navalha com a qual se barbeava. O estertor do suicida, que se ouve
por duas ou três vezes nesse momento, é o único som estranho que fez eco
ao tremendo libelo da mulher - Eduardo Mayr, “Vitimologia”, in Boletim da
Sociedade Brasileira de Vitimologia, julho/agosto de 1988.

Classificação de VON HENTIG

a) Vítima resistente;

Casos comuns de legítima defesa em que a vítima reage a uma injusta


agressão, como num caso que atendemos em Itapevi, em que uma mulher,
bem mais velha que o amásio, após ser violentamente espancada por ele,
reagiu, e, com um cano de ferro, o feriu mortalmente.

b) Vítima coadjuvante e cooperadora.

A vítima, por imprudência, concorre para a produção do resultado. O


fato trágico ocorrido com o jogador Serginho que morreu em pleno estádio do
Morumbi, em São Paulo, vitima de miocardiopatia, - dilatação do coração- é o
exemplo vivo (ou morto) de vitima coadjuvante. O atleta sabia que não
poderia exercer, sem riscos, sua atividade profissional, mas mesmo assim,
em que pesem os exames realizados pelo INCOR que constataram a
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doença, resolveu prosseguir, aonde veio a falecer. Não se pode, porém,
desconsiderar, que se tratou neste episódio de uma espécie de vitima
coadjuvante ou cooperadora.

Classificação de JIMENEZ DE ASÚA

a) Vítima indiferente;
 
Vítima indiferente é a comum, desconhecida pelos criminosos como no
roubo, furto, estelionato etc.
 

b) Vítima indefinida ou inominada;

É a chamada vítima da sociedade moderna, do desenvolvimento e do


progresso científico. Exemplo: terrorismo, propaganda enganosa, dos crimes
contra o consumidor etc., em que o crime atinge a coletividade em geral e o
indivíduo em particular.
A ausência do Estado em tema prisional, tem proporcionado o
surgimento de organizações criminosas no interior de cadeias, facilitando
com isso a criação de um Estado paralelo com leis próprias e que vem
causando instabilidade social e produzindo essas categorias de vitimas.

c) Vítima determinada.

É aquela vítima conhecida do agente como na extorsão mediante


seqüestro, nos furtos com abuso de confiança, na apropriação indébita,
homicídio praticado por vingança etc..No final de junho de 2006, a Policia
Civil de São Bernardo,SP ,a partir de um apurado trabalho de
inteligência,conseguiu evitar o massacre de 15 agentes penitenciários do
CDP daquela cidade, fatos rotineiros nos dias que correm, determinado por
uma organização criminosa denominada PCC - Primeiro Comando da
Capital.
Antecipando-se ao ataque dos bandidos, e no momento em que os
três primeiros agentes se dirigiam ao ponto de ônibus, quando saíam de seus
locais de trabalho policiais enfrentaram a quadrilha e em legitima defesa
mataram 13 bandidos, prendendo outros 5. Vidas salvas de vitimas
determinadas.

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NOTA: A polícia gravou uma conversa através do sistema de teleconferência
de 2 presos que cumprem pena em presídios diferentes, os quais
encomendam a um “piloto”, chamado Marcinho, contatado em uma favela em
São Bernardo do Campo, que assassine agentes penitenciários:
Preso 1- “Aí, meus irmãos, uma saudação para todos, sem exceção. Nós
estamos repassando um salve do comando. É um salve para todas as
quebradas e em especial para a região do ABC. O comando está
decepcionado com o ABC, porquê da 1ª vez o ABC foi uma vergonha. Foi
uma vergonha total. Todo mundo participou, vários irmãos morreram
guerreando e o ABC deixou a desejar. Não fez a sua parte. Agora é a hora de
fazer a coisa certa. Nessa quebrada sempre foi tudo lindo e elegante, não é
agora que vai ficar quadrado, certo meus irmãos? Então é o seguinte, este
salve é prioridade e o irmão que não acatar vai ser cobrado
à altura.
O salve é para ficar todo mundo na sintonia, sem exceção. Quando chegar a
hora de ir para o arrebento, todo mundo tem que estar na sintonia. Quem
deixar o telefone na caixa postal vai ser cobrado à altura.”
Preso 2- “ Vamos falar a real. Tá todo mundo sabendo que é o seguinte:
quem der caixa postal vai pagar com a vida, entendeu? É isso. Aí,
maloqueiro, o ABC envergonhou na outra situação. Não vou ficar citando
nomes, mas cada um sabe o que fez, e o que não fez.”
Marcinho - “Certo irmão. Quanto a essa situação, não vai ter nenhum
problema, o salve chegou até mim, e não vai deixar de ser resolvido. Não vai
ter nenhum problema, até já estou falando com mais dois moleques aqui da
área para eles fecharem comigo. Eles vão fechar comigo e nós vamos para o
arrebento.”
Preso 1- “ Você entendeu o salve, meu irmão?” Marcinho- “ Entendi tudo,
sem problema.”
Preso 1- “ É para fazer de 5 a 15 agentes, irmão.” Marcinho- “Entendi. Vai ser
cumprido.”
A promessa não foi cumprida pois Marcinho foi morto, com mais 12 homens,
quando preparava o ataque preparado a agentes do Centro de Detenção
Provisória de São Bernardo do Campo, no dia 26 de junho de 2006, às 6h30.

Classificação de GUGLIELMO GULOTTA

a) Vítima falsa – simulada ou imaginária;

São aquelas que provocam a ação da autoridade pública


comunicando-lhe ter sido vitima de um crime que sabe não ter ocorrido. Muito
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comum nesta categoria de vitimas simuladas a alegação de que foi atacada,
ofendida e até estuprada para vingar-se de seu inimigo ou simplesmente para
exteriorizar seu ódio, inveja ou ciúmes contra alguém da própria família.

Acrescente-se a esta modalidade os casos de invenções, mentiras,


unicamente para chamar a atenção de pessoas próximas, como alegar que
foi seqüestrada, quando na verdade permaneceu escondida em motéis ou
em casa de amigos, etc. Como Delegado na Vila Clementino, tivemos a
oportunidade de esclarecer um falso seqüestro em que a vitima, auxiliada por
um conhecido, para vingar-se do pai que, segundo ela, tinha uma amante e a
desprezava, simulou o próprio seqüestro. Não estamos diante de casos
isolados, mas do que parece ser uma estratégia cruel para extorquir
familiares com razoável condição financeira.

 
b) Vítima real – fungível e não fungível.

A vítima fungível é dividida em acidental e indiscriminada e a não


fungível é desmembrada em imprudente, alternativa, provocadora e
voluntária. Vitimas acidentais são aquelas escolhidas aleatoriamente pelo
criminoso. Muito comum em nossos dias casos de supostos seqüestradores
que ligam para residência da vitima e mediante ameaça, afirmam que estão
com membros da família e exigem uma quantia em dinheiro que deverá ser
depositada numa conta bancária aberta com documentos falsos.

Muitas vitimas nesses casos ficam sem reação devido a rapidez como
se desenrola a ação criminosa e acabam por atender as determinações dos
bandidos. Posteriormente é que a vitima se dá conta que seu familiar
encontra-se bem e nada ocorreu com sua integridade. Vitimas
indiscriminadas são as vitimas comuns, do dia a dia, como nos casos de furto
ou roubo.

No tocante a vítima não fungível, que podem ser imprudentes,


alternativas, provocadoras e voluntárias, suas espécies se encaixam
perfeitamente e ao mesmo tempo, em fatos que ocorrem em dias de
pagamento, ou seja, no 5º dia útil de cada mês e nos dias 10 e 25, quando as
empresas geralmente pagam seus funcionários. Nessas ocasiões aumenta
muito o número de vítimas de traumatismos e ferimentos a bala e a faca nos
hospitais. A causa é decorrente do elevado consumo de bebidas alcoólicas,
transformando bares e bailes em focos de violência.

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6. Classificação de VASILE STANCIU
Les Droits de la Victime, pp. 45 e ss.

a) Vítimas de nascimento;
b) Vítimas dos pais;
c) Vítimas da civilização;
d) Vítimas do Estado;
e) Vítimas da tecnologia.

Vitimas da tecnologia em geral são as vitimas do computador. A


utilização criminosa de computadores e da Internet tem produzido vitimas em
todo o mundo.

Os chamados Hackers conseguem acesso a computadores e


subtraem dados, introduzem vírus e destroem sistemas de informática das
vítimas quer pessoas físicas, quer jurídicas, estas principalmente na
espionagem industrial e nas fraudes, como vem ocorrendo nos grandes
bancos brasileiros.

Também as vítimas de crimes contra a propriedade intelectual e de


cópias não autorizadas de software e de dados, podem ser mencionadas . A
declaração de Viena sobre a criminalidade e justiça firmado em 2001, realça
a necessidade de lutar contra a lavagem de dinheiro, a criminalidade
relacionada a informática, prevenir e controlar os crimes do computador e a
tomada de medidas para prevenção da criminalidade, proteção das vítimas
de crimes e a reforma do tratamento dos criminosos.

*As demais espécies de vitimas acima mencionadas encontram-se no


capitulo VI deste estudo - Fatores que afetam o desenvolvimento de uma
nação emergente.

Classificação de STEPHEN SCHAFER


Victimology, p. 75.

a) Vítimas sem qualquer relação com o agente vitimizador;


b) Vítimas provocativas;
c) Vítimas precipItadoras;
d) Vítimas débeis do ponto de vista biológico;
e) Vítimas débeis do ponto de vista social;
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f) Vítimas denominadas autovítimas;
g) Vítimas políticas.

Vítimas débeis do ponto de vista social, conhecidas como vitimas da


periferia, são pessoas vindas de famílias pobres, desestruturadas, com
escassa inserção no mercado de trabalho. São mais vulneráveis aos crimes
praticados por armas de fogo.

*As demais espécies de vitimas classificadas por Schafer são


encontradas neste capitulo e no Capitulo VI - Fatores que afetam o
desenvolvimento de uma nação emergente.

Classificação de HILDA MARCHIORI


Psicología Criminal, p. 15.

a) vítimas que fazem parte do grupo familiar do vitimário;


b) vítimas que são conhecidas pelo autor;
c) vítimas absolutamente desconhecidas do autor.

Vitimas que fazem parte do grupo familiar do vitimário são as vitimas


de crimes sexuais, dos maus-tratos contra vitimas idosas, do abandono
material, etc.

O vitimário, que é o sujeito ativo do delito, o pratica, em detrimento de


seus familiares.

Classificação de Lola Aniyar de Castro

a) Vítima singular e coletiva;

Vitima singular é aquela em que a ação do vitimário atinge apenas o


ofendido, como na ameaça, no furto ou roubo, lesão corporal etc...

Vitimas coletivas são aquelas em que a ação do vitimário atinge várias


pessoas ao mesmo tempo, como nas ações terroristas, omissão de
empresários nos desabamentos, ações organizadas contra agentes públicos,
etc...

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b) Vítima de si mesma e vítima de crimes alheios;

Vitimas de si mesma são aquelas em que a ação do vitimário se


verifica diante do seu comportamento agressivo ou provocador ou ainda
constatados em casos de dependentes de drogas. Acrescente-se á essa
espécie de vitima a que aceita com naturalidade a sua condição de
inferioridade diante daqueles com que convivem. Em casos de violência, a
fraqueza e a passividade a impedem de romper com a situação existente
perpetuando sua condição de vitima.

Vitimas de crimes alheios são aquelas em que a ação do vitimário, por


erro na execução, lhe produz resultado danoso. A troca de tiros que ocorrem
com freqüência nas grandes cidades e favelas brasileiras em que
muitíssimos inocentes são alvejados são os exemplos mais comuns. As
vitimas de bala perdida também se aplicam nessas espécies de vitimas.

c) Vítima por tendência, reincidente, habitual e vítima profissional;

Vitimas por tendência são aquelas mais vulneráveis ao ataque


vitimário.São comuns em ataques ocorridos via Internet. No Brasil ocorrem
aproximadamente 30 invasões a cada 10mil usuários. Os criminosos ao
explorar os serviços comuns adotados por usuários domésticos, fazem com
que o número de vitimas potenciais sejam bem mais alto. Acidentes do
trabalho são as espécies mais visíveis destas vitimas.

Vitimas reincidentes são aquelas que já foram vitimas em duas ou


mais ocasiões por crimes idênticos ou diversos.
Vitimas habituais são aquelas geralmente lesadas por empresas, como nos
crimes contra o consumidor ou contra a economia popular. São também
vitimas do descaso do poder público, como se verá neste estudo.

Vitimas profissionais são aquelas em que a ação do vitimário vai de


encontro á sua atividade, como nos casos que atingem certas categorias
profissionais com mais freqüência como a verificada com gerentes de banco
em casos de seqüestro, com motoristas de táxi em casos de roubo, com
garçons em caso de agressões, etc..

d) Vítima que atua com culpa inconsciente, vítima consciente e vítima


que age com dolo.

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Vítimas que atuam com culpa inconsciente são as verificadas
principalmente nos acidentes de trânsito e domésticos.

Vítimas conscientes são aquelas que sabem perfeitamente da situação


de risco em que se encontram. O motorista que não se utiliza de cinto de
segurança e em conseqüência se fere numa colisão ou aquele que sem
preservativos mantém relações sexuais com outra pessoa e vem a se
contaminar são os casos mais conhecidos.

Vítimas que agem com dolo são aquelas que com seu comportamento
ganancioso buscam obter vantagens, desconhecendo muita vezes, que
estão ,na verdade,sendo enganadas pelo vitimário. É a chamada torpeza
bilateral, em que mesmo sendo vitima, atuam com dolo. Vitimas que
provocam o vitimário e morrem devido á reação deste também são
modalidades desta espécie de vitimas.

Classificação de ABDEL EZZAT FATTAM


Towards a Criminological Review, p. 209, apud Heitor Piedade Júnior,
ob. cit., p. 103.

a) Vítima não participante;


b) Vítima provocativa;
c) Vítima participante ou precipitadoras;
d) Vítima falsa;
e) Vítima latente ou predisposta.

Vítima latente é aquela que contribui na produção de um resultado


criminoso devido ao seu comportamento contrário às regras sociais. Latente
significa escondido, oculto, disfarçado. No momento em que a latência se
manifesta, essa espécie de vítima pode ser considerada como nata. Dá-se,
principalmente, nos casos de desvio de personalidade, como os
homossexuais, travestis e prostitutas, ou com distúrbio físico-psicológico
resultante de intoxicação pelo álcool ou pelas drogas e mais fadadas a
acidentes em virtude de seu procedimento imprudente, como nos casos de
rachas automobilísticos.

As denominadas vítimas latentes são, não raras vezes, espancadas e


mortas em diversos países da América do Sul. A imprensa noticia que, entre
1997 e 1998, foram assassinados na Argentina 80 prostitutas e travestis e 52
no Uruguai.
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Vitimas participantes ou precipitadoras são aquelas que, pela sua


conduta, causam a sua própria vitimização. Seu comportamento é necessário
e suficiente para provocar a prática de um ato criminoso. Em regra não
conhecem seus agressores, diferentemente das vitimas provocativas que
geralmente conhecem o vitimário, como o ocorrido na final da Copa do
Mundo de 2006, em que o francês Zidane desferiu uma forte cabeçada no
peito do atleta italiano Materazi após ser provocado por este.

É cediço que a policia não desperta a simpatia do delinqüente. Será


sempre um obstáculo para a sua ilícita atividade criminosa. Ademais,
reprimindo o crime ou impedindo que ele ocorra, contraria seus interesses e,
por isso, passa a olhar a instituição em geral e o policial em particular, como
um inimigo potencial. Não hesitam, portanto, tendo oportunidade, de eliminar
agentes públicos. A vitima precipitadora, muitas vezes, se coloca numa
situação de risco, advindo em conseqüência um resultado lesivo. A execução
covarde e impiedosa de 42 policiais por uma facção criminosa ocorrida em
maio de 2006, pode ser mencionada como exemplo de vitimas
precipitadoras.

Classificação de GUARACY MOREIRA FILHO

a) Vítimas Inocentes: são aquelas que não contribuem para o fato delituoso.
Em nada colaboram na consumação do crime. Podem ser citadas como
inocentes as vítimas de infanticídio, de abandono (de incapaz, intelectual,
material), de extorsão mediante seqüestro, de maus-tratos, de produtos
adulterados ou falsificados etc. Vem crescendo assombrosamente no País as
vitimas de Assédio Moral. São aquelas pessoas ofendidas, humilhadas,
menosprezadas continuadamente pelos seus superiores hierárquicos
causando tristeza e sofrimentos prolongados. Ameaças constantes de perda
do emprego, constrangimentos, brincadeiras agressivas são algumas
espécies de assédio que desestabilizam e abalam a auto-estima da vitima.

Não são isolados os casos em que superiores tratam seus vendedores


de modo desrespeitoso e agressivo por não atingirem as metas estipuladas
pela empresa.

Também podem ser consideradas inocentes as vítimas de preconceito


racial, do ataque de animais e do trabalho escravo que vem crescendo no
Brasil. Em depoimento à agência Carta Maior, em 19.6.2003, o presidente do
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Tribunal Superior do Trabalho Francisco Fausto defendeu a idéia de criação
de uma vara itinerante integrada por juízes, procuradores do trabalho e
policiais federais, de modo que, num mesmo local e de uma só vez, seja
lavrado o flagrante, efetuada a prisão, feita a representação de ação civil
pública e julgado o acusado por prática de crime de trabalho escravo. O
responsável pelo crime seria julgado na frente dos trabalhadores para
conferir a esses últimos uma noção mais direta e clara de cidadania. A
experiência começaria no Pará, onde se concentram os maiores focos de
trabalho forçado entre as regiões rurais do país. Defrontamo-nos uma vez
com o crime em tela, em que a pessoa humana é reduzida a condição
semelhante à de escravo, tipo previsto no art. 149 do Código Penal. No início
dos anos 80, em Itapevi, indiciamos em inquérito policial os responsáveis por
uma empresa de construção civil que obrigava os operários recrutados da
cidade, em sua maioria migrantes nordestinos, a trabalhar o dia inteiro,
oferecendo-lhes apenas um cafezinho e um pedaço de pão e sem nenhuma
remuneração.

b) Vítimas Natas: também conhecidas como provocadoras, são as que


contribuem para a consumação de uma infração penal. Com temperamento
agressivo, algumas vezes simulado, e personalidade insuportável, precipitam
a eclosão do crime.

A imprudência verificada nos crimes de trânsito, a prepotência ao


expor seus objetos de valor em locais perigosos, a desinformação constante,
a provocação habitual e a homossexualidade são as suas mais visíveis
características. São incontáveis as agressões decorrentes de provocação da
vitima, podendo ser classificada também como quase tão culpada quanto o
agressor.

A literatura policial é vasta em histórias de crimes sexuais e mortes em


que as vítimas concorrem de forma marcante com o delinqüente. Registrou-
se recentemente o caso de uma moça de 16 anos que com o intuito de fazer
ginástica dirigiu-se ao Parque da Aclimação, à noite, em trajes sumaríssimos,
exibindo praticamente todo o corpo, ocasião em que foi estuprada e ferida
gravemente pelo delinqüente.

O criminoso, ocasional, não precisou procurar sua caça. Ela se fez


presente onde ele se encontrava. A falta de orientação, principalmente
familiar, aliada à imprudência da vítima, contribuiu para a consumação do
crime.

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Num trabalho específico de prevenção ao crime contra o patrimônio
que realizamos em Delegacias de Polícia de São Paulo pudemos constatar
que dois componentes básicos, sem contar a ignorância, atuam no
comportamento de pessoas propensas a se tornar essa espécie de vítimas: a
imprudência e a prepotência.

Verificou-se a imprudência quando expuseram seus objetos de valor


nos veículos e nas ruas sem o mínimo cuidado e a prepotência pela maneira
ostensiva de portar suas jóias nos veículos objetivando mostrar aos
desafortunados sua ilusória superioridade.

A experiência demonstrou que, quando alertávamos pelo megafone69,


as pessoas imprudentes prontamente fechavam os vidros dos carros e
agradeciam a nossa presença, enquanto as pessoas prepotentes relutavam
em nos atender, demonstrando pouco caso e ao mesmo tempo insatisfação
com nosso trabalho. Apesar disso, não se pode deixar de reconhecer que,
em caso de crime, serão consideradas vítimas menos culpadas que os
delinqüentes.

c) Vítimas Omissas: assim se denominam as que não participam da


sociedade em que vivem não se integram no meio social.
São pessoas que não denunciam à autoridade pública quando agredidas ou
subtraídas, não reclamam quando incomodadas nem reagem quando
violentadas, enfim, desprezam a cidadania. A solidariedade, por outro lado,
não se manifesta em sua conduta.

As vítimas omissas, em regra, são localizadas mais facilmente nas


regiões mais carentes da sociedade onde o Poder Público não se faz
presente. Mas não são poucos os casos em que se situam em classe sociais
mais elevadas. Os crimes que mais as atingem são os furtos, roubos e
atentados sexuais. Ao não romperem com o silêncio permitem que, nos
casos de violência doméstica, maridos ou companheiros continue
impunemente aterrorizando suas vidas, o que representa milhares de
mulheres no Brasil.

d) Vítimas da Política Social: acoimadas de vítimas do Estado, as vítimas


da política social ou da negligência do Poder Público são encontradas não só
em países de regimes políticos instáveis e pobres onde predominam guerras
e revoluções, como também nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

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É o denominado crime branco, é o poder público organizado contra o
povo.

A inversão de prioridades, a corrupção verificada nos mais altos


escalões do governo e a ausência de políticas públicas voltadas para o
indivíduo, principalmente, podem ser mencionadas para caracterizar essas
espécies de vítimas.

Num regime democrático de direito, o representante do povo, o


exercente do poder que lhe foi outorgado, tem obrigação de prestar contas de
sua administração. Sua conduta deve ser pautada por inúmeros princípios,
destacando-se, dentre outros, o da legalidade, moralidade e interesse
públicos. Em 2005 o brasileiro pagou R$731 bilhões de impostos, taxas e
contribuições ao governo e, infelizmente, não teve retorno na forma de
serviços públicos. Além de pagar elevadíssimos tributos ainda tem de gastar
com planos de saúde, educação e segurança. Segundo economistas a
arrecadação dos governos (federal, estaduais e municipais) está além da
capacidade contributiva da sociedade. Exemplo disso é a informalidade
crescente no País. Os números mostram que o Brasil é o país que tem
apresentado a menor taxa de crescimento entre os demais emergentes.
Deve, portanto, agir de acordo com a lei, visando sempre o bem comum sem,
contudo, se afastar das normas estabelecidas. É doloroso constatar pela
mídia que maus administradores públicos têm furtado de seus administrados
o que eles mais necessitam: assistência médica, educação, moradia etc.,
para usufruir em benefício próprio ou de outrem, geralmente familiares, do
dinheiro público para aquela finalidade. É a chamada improbidade
administrativa que há muitos anos envergonha o país, colocando-o como um
dos mais corruptos do planeta.

A Constituição Federal prevê (art. 37, § 4º) para os atos de


improbidade administrativa a suspensão dos direitos políticos, a perda da
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário; mas
até agora, infelizmente, pouco se viu de punição ao administrador público e
muito se vê de fome, muito se viu de enriquecimento ilícito e pouco se vê de
combate à desnutrição infantil, muito se viu de malversação de dinheiro
público e pouco se vê de punições implacáveis, único remédio eficaz de
proteção às vítimas da improbidade. Numa palavra: se vê muito o verbo
infringir e pouco o verbo infligir.

Uma amostra das constantes derrotas do desenvolvimento do país e


vitória da miséria do nosso povo é a chamada corrupção institucionalizada
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verificada em alguns Estados da Federação. Em Roraima funcionava um
esquema desde 1998, quando cerca de 6 mil funcionários que não
trabalhavam – os laranjas – foram incluídos na folha de pagamento do
Estado. Cada deputado participante do esquema apresentava uma lista de
“laranjas” para receber salários entre R$ 400 e R$ 4 mil. Cada “laranja” tinha
que assinar uma procuração em branco cujo outorgado viria a ser uma
pessoa ligada ao deputado: funcionário, parente ou amigo de confiança.
Todos os meses o procurador ia até o caixa e recebia o salário em nome do
“laranja”. Geralmente moradores de regiões pobres de Boa Vista, os
“laranjas” recebiam uma recompensa média de R$ 50 por mês. O resto ia
direto para o bolso do deputado, que às vezes ficava até com a restituição do
imposto de renda do “laranja”.I sso certamente contribui para que 45 milhões
de brasileiros continuem na miséria absoluta.

A operação da Polícia e do Ministério Público resultou na prisão do ex-


governador do Estado, de um ex-conselheiro do Tribunal de Contas daquele
Estado e de vários ex-deputados estaduais, num prejuízo que pode passar
de R$ 500 milhões para o Estado.

Em Fortaleza, o prefeito, um deputado estadual e outras seis pessoas


foram indiciados pela Polícia acusados de desviar R$ 1,8 milhão da verba
destinada à merenda escolar no período entre 1998 e 2000. Por sua vez, 57
deputados e 3 senadores estão envolvidos no desvio de recursos do
orçamento da União para compra superfaturada de ambulâncias pela
empresa Planam. As verbas eram liberadas mediante emendas de deputados
federais. Os chamados “sanguessugas” recebiam propinas em troca da
inscrição de emendas. Enquanto isso,a cada ano morrem no País 400 mil
crianças de desnutrição infantil.

O presidente do Tribunal de Contas do Espírito Santo, o ex-presidente


da Assembléia Legislativa e o ex-secretário estadual da Educação,
juntamente com inúmeros empresários, estão sendo acusados de participar
de um esquema armado para fraudar licitações, desviar dinheiro de obras
públicas superfaturadas e ainda receber propina para abrandar o julgamento
dos processos que tramitam naquele tribunal e aprovar contas irregulares em
prejuízo dos cofres do Estado. Não é á toa que temos 35 milhões de
analfabetos funcionais, os que não entendem o que lêem e 16 milhões de
analfabetos jovens e adultos.

A Controladoria Geral da União – CGU – fiscalizou no ano de 2003,


após sorteio, 81 prefeituras e constatou em todas elas focos de corrupção,
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fraudes e irregularidades. Entre os programas com mais indícios de fraude
estão os convênios da FUNASA (Fundação Nacional da Saúde) para
construção de redes de água e esgoto e instalação de banheiros domiciliares
em regiões carentes, no programa de erradicação de doenças. Talvez por
isso temos 6 milhões de crianças que vivem em pobreza absoluta com falta
de água potável e com condições sanitárias precárias.

Outros dois grandes focos de irregularidades são os repasses de


verbas dos Ministérios da Educação e o da Integração Nacional. Dos 4.500
convênios da FUNASA com municípios brasileiros, 500 estão suspeitos de
desvios e fraudes. Mencione-se, por procedente, que temos 10 milhões de
crianças sem escola primária.

A desnutrição infantil, o analfabetismo, a seca, a superpopulação


carcerária, a precária assistência médica, as enchentes, os desabamentos,
os blecautes etc. são os exemplos mais comuns de vítimas resultantes da
improbidade administrativa no País. Não se pode olvidar que 740 mil famílias
são atingidas pela seca no Nordeste e 1 milhão de prostitutas infantis
constituem atração turística naquela região.

Pela convenção da ONU realizada em Mérida em 8.12.2003 e


assinada por 125 países, dentre os quais o Brasil, ficou estabelecido um
marco de consenso para combater internacionalmente crimes como a
lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, tráfico de influências, suborno e a
má administração dos fundos públicos. Os signatários deverão cooperar com
o fornecimento de provas de atos de corrupção, congelar contas bancárias,
confiscar bens e extraditar suspeitos de corrupção. A convenção não
considera a corrupção como simples crime, mas como uma força de
desestabilização dos países.

Por sua vez, as dificuldades encontradas pelo cidadão quando se


defronta com o Poder Público são tão grandes que desestimulam qualquer
resgate de cidadania plena. Assim, acidentes causados por veículos oficiais,
doenças e ferimentos decorrentes do mau funcionamento dos serviços
públicos são protelados arbitrariamente, tornando a reparação do dano um
terrível pesadelo ao ofendido. Quem sabe tal descaso corrobore para que 9
milhões de pessoas sofram de depressão, doença associada a tristeza.

Em São Paulo, através da Lei nº. 10.177/98, o cidadão, mesmo sem


advogado, pode requerer uma indenização amigável (sem uma ação judicial).

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O governo tem 120 dias para tomar uma decisão. Se a mesma for
reconhecida, o Estado terá até dezembro do ano seguinte para fazer o
pagamento.

Existem prazos e responsabilidades definidas para cada fase do


processo e o seu não-cumprimento pode acabar na demissão do funcionário
responsável.

O governo desembolsa quase o valor original porque apenas atualiza


monetariamente o débito, ficando desobrigado de pagar juros e honorários.
Embora tal lei, a nosso ver, seja uma tática do Estado para fugir das dívidas
dos precatórios, que já somam 5 bilhões de reais; é inegável que beneficiará
aquele desprovido de recursos.

Citem-se também como vítimas de política social que na África e em


alguns países do Oriente Médio é comum a prática de mutilação nos órgãos
genitais das mulheres, fato que também ocorre em comunidades de
imigrantes em países latino-americanos, asiáticos, europeus, no Canadá e
nos EUA.

Podem ser mencionados ainda como exemplos de casos em que o


Estado produz vítimas as perseguições e assassinatos de pessoas de origem
albanesa na Iugoslávia, os massacres de curdos no Iraque e o
desaparecimento de prisioneiros de consciência na Índia.

e) Vítimas Inconformadas ou Atuantes: diferentemente das omissas, que


fazem do silêncio a arma dos criminosos, que estimulam a atrocidade dos
delinqüentes, as vítimas inconformadas exercitam plenamente a cidadania e
buscam, incessantemente, a reparação judicial dos danos sofridos. Nem
sempre atuam solitariamente. A principal característica dessa espécie de
vítima é a união com pessoas que tiveram os mesmos problemas e
adversidades, e não conseguiram respostas efetivas do Poder Público. Para
poder valer seu direito, informam-se, pesquisam, procuram advogados e
acabam conhecendo quem teve traumas parecidos e fundam ou ingressam
em associações com o objetivo de defender seus interesses junto ao Poder
Judiciário. São exemplos de vítimas inconformadas ou atuantes as que fazem
parte da Associação Brasileira de Parentes e Amigos das Vítimas de
Acidentes Aéreos, da Associação Nacional de Proteção a Vítimas de
Explosões e Desabamentos, da Associação de Vítimas de Acidente de
Trânsito etc. Também se encaixam nesta espécie de vítima aquelas que

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tiveram seus entes queridos assassinados e buscam mudanças na legislação
penal brasileira.

Por: Guaracy Moreira Filho


Atualização e revisão: Juliana Moreira
Obra: Criminologia e Vitimologia Aplicada

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