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investigação
1- Introdução
Para trabalhar essa questão há que se desenvolver, para além do que já está
consagrado como uma relação dialética entre os métodos de tratamento e de
investigação, a condição de tensão nela implicada que faz ter que considerar a
presença do real como hiância e des-continuidade entre eles.
Uma primeira consideração a ser feita no que tange a esta definição freudiana
refere-se ao caráter de indissociabilidade entre estes três planos. Isto conduz a pensar
que qualquer modificação em um dos planos necessariamente implicará em
transformações nos demais (Sauret, 2003). Este caráter de indissociabilidade, que se
sustenta historicamente desde Freud, se mantém presente também nas articulações de
diversos psicanalistas contemporâneos. Como descreve Pinto (2001, p. 78), “se a
psicanálise é, ao mesmo tempo, teoria, técnica e método de investigação, sua
descrição já traria intrinsecamente uma maneira de produzir saber, seja na clínica, na
Academia ou mesmo na polis. Assim, toda tentativa de formalização que revelasse as
características próprias da psicanálise seriam, automaticamente, descrições de seu
método”.
Sendo assim, mais do que pensar naquilo que especifica cada um dos três planos,
temos aqui a radicalidade inerente ao campo da psicanálise.
Podemos então pensar que mesmo que Freud tenha sustentado essa coincidência
entre o tratamento e a investigação cientifica na psicanálise, posto que “ambas
consistem na prática de um método que envolve a produção de um saber, ambas
presumem a natureza real de um objeto, ambas envolvem considerações prática e
teórica sobre o sujeito deste saber” (Dunker, 2011, p. 320), ainda assim podemos
divisar que entre eles se produz um campo de tensão, o que nos aproxima do
impossível do real.
Esta posição vem demarcar uma condição de irredutibilidade presente neste laço, uma
vez que nos faz vislumbrar a posição da psicanálise tanto no que se refere ao modo
como ela há responder com rigor ás exigências acadêmicas e também pelo que ela
“revela de um real para além do que pode ser literalizado, suportado pelo sujeito
como trauma” (Idem, p. 32).É por esta condição do sujeito dividido, atravessado pela
linguagem,corpo e gozo, que a Psicanálise não se deixa reduzir pelo discurso da
ciência.
Com isso Lacan nos permite divisar que o desejo do analista, em sua posição
transferencial, se faz remeter à queda da posição de sujeito suposto saber no momento
da sustentação do ato psicanalítico. De outro modo, “o desejo do analista é o de obter
o que há de mais singular naquilo que faz seu ser [do analisante](..).É o desejo de
obter a diferença absoluta” que está remetida àquilo que, contraído no encontro
contingencial com o Outro, e sobre o qual nada queremos saber, remete-se ao objeto
‘a’. (Miller, 2011, p. 35).
Em estreita consonância com o que Lacan nos faz evocar quanto à posição do
sujeito em análise, encontramos na proposição de Pinto (2009) a reafirmação da
condição do pesquisador-analisante como sujeito de exceção em relação aos ideais do
Outro. Para ele,
Neste contexto, a proposta deste trabalho implicou em precisar, por meio das
proposições de Lacan no Seminário XV, o que do âmbito do tratamento
psicanalítico vem demarcar o campo da investigação em psicanálise. Ao fazermos
esta delimitação, pudemos evidenciar as condições de emergência do real como um
elemento de des-continuidade entre a clínica e a pesquisa.
Bibliografia
ELIA, L. Psicanálise: clínica e pesquisa. In: ALBERTI, S.; ELIA, L. (Org.) Clínica e
pesquisaempsicanálise. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2000.
LACAN, J. (1966) A Ciência e a verdade. In: _______ Escritos. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar, 1998.
MILNER, J-C. A obra clara: Lacan, a ciência, a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1996.
SAURET, M-J. A pesquisa clínica em psicanálise. Psicologia USP. São Paulo,v. 14, n.
3, p. 89-104, 2003.