You are on page 1of 31

INSTITUTO TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA

Departamento de Aerodinâmica
Mecânica dos Fluidos

Camada Limite em Placa Plana

Daniel Chin
David Araujo Holanda
Fidel Esteves do Nascimento
Geune Vieira Quintino
Lorenzo Pellizzaro Lima
Rafael Barreto Mendes
Victor Régis Mesquita

Professores:
Vitor Kleine
Cap. Rodrigo Moura

São José dos Campos - SP


23 de Junho de 2018
Lista de Tabelas
1 Condições ambientes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2 Resultados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
3 Posições e velocidade escolhidas pelo grupo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1
Lista de Figuras
1 Ilustração da medição do fio quente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2 Ilustração de estágio da transição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3 Amplitude das oscilações de velocidade medidas pelo fio quente. . . . . . . 9
4 Amplitude das oscilações de velocidade medidas pelo fio quente. . . . . . . 9
5 Amplitude das oscilações de velocidade medidas pelo fio quente. . . . . . . 10
6 Espressura teórica da camada limite para U∞ /ν = 372000 m−1 . . . . . . . 10
7 Auto similaridade do regime turbulento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
8 Comparação de Log(cf ) com Log(Re) para o regime laminar . . . . . . . . 13
9 Comparação de Log(cf ) com Log(Re) para o regime de transição . . . . . . 14
10 Comparação de Log(cf ) com Log(Re) para o regime turbulento . . . . . . . 14
11 Perfil de transição de escoamento para x = 0,6 m e Re = 4, 66 × 105 . . . . 16
12 Perfil de transição de escoamento para x = 0,7 m e Re = 5, 27 × 105 . . . . 16
13 Perfil de transição de escoamento para x = 0,8 m e Re = 4, 55 × 105 . . . . 17
14 Perfil de transição de escoamento para x = 0,7 m e Re = 3, 77 × 105 . . . . 17
15 Perfil de transição de escoamento para x = 1 m e Re = 4, 06 × 105 . . . . . 18
16 Perfil de laminar de escoamento para x = 0,7 m e Re = 2, 92 × 105 . . . . . 18
17 Perfil de laminar de escoamento para x = 0,4 m e Re = 1, 63 × 105 . . . . . 19
18 Perfil de laminar de escoamento para x = 0,6 m e Re = 2, 61 × 105 . . . . . 19
19 Perfil de laminar de escoamento para x = 0,7 m e Re = 2, 55 × 105 . . . . . 20
20 Perfil de laminar de escoamento para x = 0,8 m e Re = 3, 39 × 105 . . . . . 20
21 Perfil de turbulento de escoamento para x = 0,6 m e Re = 6, 86 × 105 . . . . 21
22 Perfil de turbulento de escoamento para x = 0,7 m e Re = 6, 95 × 105 . . . . 21
23 Perfil de turbulento de escoamento para x = 0,8 m e Re = 7, 56 × 105 . . . . 22
24 Perfil de turbulento de escoamento para x = 0,9 m e Re = 6, 04 × 105 . . . . 22
25 Perfil de turbulento de escoamento para x = 1,05 m e Re = 7, 14 × 105 . . . 23
26 Flutuações de velocidades normalizadas para os perfis laminares . . . . . . 23
27 Nı́vel de turbulência para os perfis laminares. . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
28 Flutuações de velocidades normalizadas para os perfis de transição. . . . . 24
29 Nı́vel de turbulência para os perfis de transição. . . . . . . . . . . . . . . . 25
30 Nı́vel de turbulência para os perfis turbulentos. . . . . . . . . . . . . . . . 25
31 Flutuações de velocidades normalizadas para os perfis turbulentos. . . . . . 26
32 Flutuações de velocidades normalizadas para os perfis laminares . . . . . . 26
33 Variação do fator de intermitância γ na camada limite turbulenta para
placa com o ângulo de inclinação 0°. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
34 Propagação de spots turbulentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

2
Conteúdo
1 Introdução 4
1.1 Objetivos do Experimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Aparato Experimental e Instrumentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Condições Ambientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2 Metodologia 6

3 Análise dos Resultados 7


3.1 Camada limite laminar e de transição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.2 Camada limite turbulenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.3 Fonte de erros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.3.1 Aparato experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.3.2 Nı́vel de turbulência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4 Conclusão 29

3
1 Introdução
Motivo de estudo de um caso particular desta prática, a camada limite foi enunciada
pela primeira vez por Ludwig Prandlt em 1904. Ela é definida como um camada de fluido
que se forma nas imediações de uma superfı́cie delimitadora.
Sua importância para a construção de aeronaves e outros veı́culos está relacionada
ao fato de se controlar a formação da camada para se minimizar o arrasto. Além disso,
deve-se considerar dois efeitos importantes nos projetos de engenharia. O primeiro é que a
camada limite aumenta a espessura efetiva do corpo, o que aumenta a pressão de arrasto.
Em segundo lugar, tem-se que as forças de cisalhamento na superfı́cie da asa criam arrasto
de fricção na superfı́cie.
Para esta prática, estudou-se os efeitos do desenvolvimento da camada limite sobre
uma placa plana com ângulo de ataque nulo nos regimes laminar, de transição e turbulento.
Considerou-se um escoamento imcompresı́vel, sendo o padrão de escoamento uma função
do número de Reynolds.

1.1 Objetivos do Experimento


No experimento em questão serão realizadas medidas de velocidade ao longo da camada
limite em uma placa plana com os seguintes objetivos, de acordo com [1]:
1. Estimar o intervalo de número de Reynolds correspondente à faixa de transição
natural (i.e. na ausência da faixa rugosa que induz perturbações);
2. Obter e discutir os gráficos de U/U0 vs. y/δ, urms /U0 vs. y/δ e urms /U vs. y/δ
(sendo este último denominado nı́vel de turbulência) para todos os perfis de veloci-
dade medidos, verificando sua conformidade com previsões da teoria (e.g. Blasius
ou perfil raiz sétima, cf. [5]);
3. Investigar a auto-similaridade dos perfis de velocidade medidos, dentro de cada um
dos regimes considerados (laminar, de transição e turbulento);
4. Analisar as flutuações de velocidade medidas, discutindo sua origem e efeito em
cada um dos regimes considerados (laminar, de transição e turbulento);
5. Estimar valores do coeficiente de frição local cf e compará-los graficamente com as
previsões da teoria, i.e. gerar curvas de log10 (cf ) vs. log10 (Re), sendo Re = xU0 /v.

1.2 Aparato Experimental e Instrumentação


Os instrumentos utilizados no experimento, de acordo com [1], são:
• Túnel de vento Plint & Partners;
• Placa plana acrı́lica de 1,2m de comprimento e de largura igual à da seção de testes;
• Anemômetro de fio quente;
• Sistema de posicionamento eletrônico, trata-se da estrutura que suspenderá o anemômetro
de fio quente e que, através dos seus dispositivos eletrônicos, será também res-
ponsável pela variação da posição vertical do fio quente;
• Manômetro Betz.

4
1.3 Condições Ambientes
Ao todo, ao longo da realização do experimento foram tomadas 5 leituras da Pamb e
da Tamb . Os valores expressos na Tabela 1 são as médias dos valores lidos.

Tabela 1: Condições ambientes.

Pressão Temperatura
946,54 mbar 23,93 ºC

A partir dos valores ambientes determinou-se a viscosidade e a densidade do ar. A


viscosidade dinâmica do ar (µ) é expressa pela lei de Sutherland [2]. Já a densidade (ρ)
é bem expressa pela manipulação da equação geral dos gases [2].
  32  
µ T T0 + 110
= (1)
µ0 T0 T + 110
P
ρ= (2)
RT
kg
Em que µ0 = 1, 72x10−5 m.s
, T0 = 273,15 K e R = 287 J
kg.K
, referência [2].

Os valores expressos na Tabela 3 são os valores da viscosidade e densidade obtida.

Tabela 2: Resultados.

Viscosidade Densidade
1, 84x10−5 kg/m.s 1,11 kg/m3

5
2 Metodologia
A metodologia aplicada para este experimento visou, a priori, obter os perfis de velo-
cidade para a camada limite sobre a placa plana, de modo a avaliar a auto similaridade
dos mesmos.
Para isso, foram estimadas previamente as posições sobre a placa e velocidades do
escoamento para que pudessem ser capturados todos os regimes (laminar, transição e
turbulento). Esses valores se encontram na tabela abaixo:

Tabela 3: Posições e velocidade escolhidas pelo grupo.

v (m/s) x (m) Re (105 ) Regime


6, 75 0,40 1, 62 Laminar
6, 00 0,70 2, 53 Laminar
9, 00 0,70 3, 80 Transição
6, 80 1,00 4, 10 Transição
11, 20 0,90 6, 08 Turbulento
11, 30 1,05 7, 16 Turbulento

Após a calibração do anemômetro, uma alteração no aparato experimental foi ne-


cessária. Devido aos baixos valores de velocidade utilizados ao longo do experimento,
uma placa circular foi utilizada para obstruir parcialmente a entrada de ar do túnel.
O posicionamento foi realizado algumas vezes até que se obtivesse uma configuração na
qual todos os regimes de escoamento desejados pudessem ser obtidos sem posterior mo-
vimentação da placa, visando manter as condições do escoamento semelhantes durante
todo o experimento.
Os regimes de escoamento foram observados com o posicionamento do anemômetro a
aproximadamente 1 mm da placa, tendo em vista as variações da espessura da camada
limite de acordo com o Re. Para o posicionamento da sonda, optou-se por adotar o marco
zero das medidas da seguinte maneira: posicionou-se a extremidade da placa no vão
presente nos trilhos de apoio, e alinhou-se a borda superior da placa com o fio visualmente,
calibrando a posição adotada como zero para o sistema de aquisição de dados. Com a
placa já corretamente posicionada, a primeira medida foi obtida sempre alinhando o fio
quente com uma pequena placa de 1 mm de espessura, posicionada sobre a placa de ensaio.
Isso foi necessário porque entre posicionamentos da placa de ensaio, a superfı́cie desta se
desloca pequenas distâncias verticais.
Foi então iniciada a coleta de dados. Cada medição começou com o posicionamento da
sonda na posição correta sobre a placa, que era fixada com o auxı́lio de calços. Ajustou-se
a sonda na posição inicial, utilizando uma placa com espessura de 1 mm, altura mı́nima
de leitura da sonda no escopo do experimento. Em cada ensaio, buscou-se realizar em pelo
menos 12 posições distintas, com ênfase nas regiões de maiores gradientes de velocidade.
Quando notou-se que o valor da velocidade medida se tornava aproximadamente constante
em relação ao eixo y, tomou-se uma medida adicional de velocidade em um ponto bem
afastado da placa, de modo a utilizar esse valor de velocidade como referência para as
adimensionalizações, e não o valor teórico calculado. Além dos perfis de velocidade,
foram capturados os dados referentes às flutuações da velocidade dentro da camada limite,
informação que foi utilizada em paralelo com as previsões teóricas para determinar o
regime de escoamento de cada ensaio.

6
3 Análise dos Resultados
Inicialmente, foi feita a calibração. Como o processo de calibração dos equipamentos
é complexa e demorada, o professor a realizou de ante-mão, cabendo ao grupo preparar
uma planilha para encontrar os coeficientes de calibração linear com base no material
entregue pelo professor.
Primeiramente, foi determinada a faixa de valores de Re correspondentes à transição.
Para isso fixou-se o anemômetro em uma posição especı́fica da placa e variou-se a veloci-
dade de forma a obter uma grande faixa de números de Reynolds. Com base na literatura,
como mostra a Figura 1, foi possı́vel identificar em tempo real, pelo software LabView,
os regimes laminar, de transição e turbulento, e assim estimar a faixa de Re para o re-
gime laminar, obtido na Figura 4. A Referência [6] caracteriza os regimes laminar, de
transição e turbulento, percebidos pelo anemômetro de fio quente. O regime de transição
caracteriza-se pela intermitência de grandes variações do módulo da velocidade medida
pelo anemômetro, causada pelos spots de turbulência. O regime de transição começa
a partir da presença, ainda menos frequente, dos spots, e termina quando eles dominam
completamente os escoamento. A faixa de transição foi estimada então em Re = 2, 95×105
a 4, 98 × 105 . O regime turbulento foi obtido na Figura 5. Como pode ser observado na
Figura 3, notamos a presença de ondas de de Tollmien-Schlichting para Re ligeiramente
menor que 2, 95 × 105 . Conforme indicado na referência [6], Figura 2. Essas ondas são
bidimensionais, e causam flutuações de velocidade menores que os spots turbulentos.
O inı́cio dessas ondas marca o fim do regime laminar. Para maiores valores de Re utili-
zados, obtivemos curvas de tensão vs. tempo como a indicada na Figura 5. Aumentando-
se ainda mais o número de Reynolds, mais especificamente fazendo-o chegar a 4,98 x 105 ,
pudemos notar a presença de ondas de amplitude considerável, notando-se assim o inı́cio
da turbulência, Figura 4.

7
Figura 1: Ilustração da medição do fio quente
A - laminar ; B - Transição ; C - Turbulento
Fonte: [6]

Figura 2: Ilustração de estágio da transição.


Fonte: [6]

8
Figura 3: Amplitude das oscilações de velocidade medidas pelo fio quente.
Perfil tı́pico das ondas Tollmien-Schlichting.

Figura 4: Amplitude das oscilações de velocidade medidas pelo fio quente.


Perfil tı́pico do regime de transição.

9
Figura 5: Amplitude das oscilações de velocidade medidas pelo fio quente.
Perfil tı́pico do regime turbulento.

Figura 6: Espressura teórica da camada limite para U∞ /ν = 372000 m−1 .

10
3.1 Camada limite laminar e de transição
As Figuras 16, 17, 18, 19 e 20 correspondem aos gráficos obtidos para o perfil de
velocidades no regime laminar seguidos pelos gráficos do nı́vel de turbulência. Observa-se
que o nı́vel de turbulência máximo ocorre para y/δ aproximadamente meio.
Embora o regime seja laminar nas figuras indicadas há a presença de um certo grau de
turbulência por volta de 0,03. Tal resultado é explicado pelo surgimento ”spots”turbulentos
rapidamente amortecidos. Uma vez que o alto fator de forma H = 2.59 [3] do regime tur-
bulento implica em um alto fluxo de momentum, os ”spots”são rapidamente dissipados.
Perturbações no escoamento amplificam a frequência e a intensidade de pequenas ondas
propagantes. No regime laminar, são predominantes ondas bi-dimensionais denominadas
de ondas de Tollmien-Schlichting, que carregam o processo de transição [3]. O processo de
transição pode ser entendido como uma sucessão de ondas de Tollmien-Schlichting, sendo
sucedido por estruturas em vortex de maior amplitude e maior frequencia, predominantes
na transição, e, mais a jusante da transição e predominantes no regime turbulento, pelos
’spots’. As perturbações acrescentam energia às ondas do escoamento e o processo de
transição acima acontece mais a montante do escoamento.
Em todos os perfis de escoamento laminar, o nı́vel de turbulência teve comportamento
semelhante, tendo picos no meio da camada-limite com valores não muito altos.
Os perfis de velocidade mostrados à esquerda das figuras mostram um alto grau de
auto-similaridade, com os pontos experimentais tendendo à curva teórica calculada nume-
ricamente. Dessa forma, pode-se afirmar com segurança que perfis de velocidade laminar
estão associados a um baixo grau de turbulência.
As Figuras 11, 12, 13, 14 e 15 correspondem aos gráficos obtidos para o perfil de
velocidades no regime de transição seguidos pelos gráficos do nı́vel de turbulência. Observe
que, para a Figura 11, o perfil de velocidades experimental se aproxima muito mais do
regime turbulento. Dessa forma, como o esperado, o nı́vel de turbulência é bem maior
que aquele notado no regime laminar, dessa vez próximo de 0,11. O mesmo é notado nas
Figuras 12, 13 e 14.
A Figura 15, por sua vez, se aproxima mais do regime laminar, com leves tendências
ao turbulento. Nesse caso, o nı́vel de turbulência não chega a 0,05, embora seja maior
que o observado para a camada limite laminar. Além disso, o seu pico está para um valor
de y/δ próximo de 0,6. Na Figura 15, é possı́vel observar que a curva para este ponto
se assemelha bastante a uma curva caracterı́stica de perfil laminar. Isso permite afirmar
que este perfil apresenta um caráter laminar acentuado, mesmo não apresentado uma
correlação tão forte quanto àquela dos perfis laminares preciamente mencionados. Desta
forma, o ponto estudado deve estar no inı́cio da transição.
Observa-se um padrão entre os perfis do nı́vel de turbulência entre as Figuras 11
e 14 entre 12 e 13. O primeiro par apresenta um nı́vel de turbulência praticamente
constante acima dos 10% da espessura, iniciando uma redução suave a partir dos 50% da
espessura da camada limite, até que fosse alcançado o escoamento completamente fora da
camada-limite, onde a turbulência é desprezı́vel. Essa região (entre 10 e 50% da camada-
limite) tem um comportamento que pode ser associado à formação de ondas de Schlichting
deformadas, como o mostrado na referência da Figura 2. De fato, o par de gráficos das
Figuras 11 e 14 são relacionados a números de Reynolds de transição menores que aqueles
utilizados nas Figuras 12 e 13. Nota-se que para números mais altos de Reynolds de
transição, a turbulência continua se formando acima dos 10% da camala-limite, embora
tenha um comportamento diferente. O desenvolvimento de instabilidades não-lineares [5]
marca o fim do regime de transição. O perfil do nı́vel de turbulência para esse caso pode

11
ser plotado e exibiu um padrão.
Como o esperado, o regime de transição não exibe auto-similaridade entre medidas
para diferentes Re. Isso se dá pois, conforme aumenta-se o número de Reynolds, o perfil
de transição se afasta daquele esperado para a camada limite-laminar e se aproxima do
perfil para camada-limite turbulenta, não havendo um meio termo em comum para todos
os regimes de transição.
A espessura da camada limite foi calculada teoricamente, como apresentado na Figura
6. Para isso, foi desenvolvido um método simples de interpolação das derivadas parciais
das espessuras, δ, com relação ao comprimeto x. Buscou-se assim uma curva de δ suave
em todo o domı́nio. Não foi possı́vel, entretanto, comparar essa curva teórica com as
medidas experimentais, pois estas apresentam valores de Re e x diversos. A curva teórica
foi feita levando em conta o Re e a posição x = 0,8 m, utilizados na determinação da
faixa de transição. É possı́vel visualizar na Figura 6 que a espessura da camada limite
cresce rapidamente quando no regime turbulento, uma previsão teórica confirmada pelas
medidas experimentais desta prática.

3.2 Camada limite turbulenta


As Figuras 21 a 24 correspondem aos gráficos obtidos para o perfil de velocidades
no regime de turbulento seguidos pelos gráficos do nı́vel de turbulência. Nesse regime
é observado um achatamento na sub-camada laminar convorme aumenta-se o número
de Reynolds. Isso ocorre devido ao aumento dos turbilhões gerados e propagados com
o aumento de Re. Uma boa auto-similaridade está presente no nı́vel de turbulência dos
gráficos 22, 23 e 24. Neles pode-se observar uma turbulência nula na parede, explicada pela
condição de não-penetração e não escorregamento. Por outro lado, em uma região próxima
à parede pode-se notar um alto nı́vel de turbulência. Isso se dá pois, as rugosidades e
imperfeições da parede geram perturbações que são propagadas e intensificadas. Tais
perturbações têm orgigem próxima à parede esão difundidas no sentido x e y positivos.
Assim, o alto nı́vel de turbulência próximo à parede era um resultado esperado.
A auto-similaridade entre as curvas experimentais e o resultado obtido numericamente,
embora apresente uma tendência, não é tão exato quanto o turbulento. Isso se dá por
dois fatores.
Primeiramente, os parâmetros adimensionais para análise da auto-similaridade não são
os mesmos que aqueles usados no regime laminar. O gráfico de auto-similaridade para
os escoamentos turbulentos encontra-se com os parêmetros corretos na Figura 7. Além
disso, o cálculo do perfil de velocidades para o regime turbulento possui um caráter muito
experimental, com alto ı́ndice de incerteza e dependência das condições do experimento.
Uma boa proposta de estudo é identificar qual das disponı́veis formulações para o perfil
de velocidades melhor se adequa ao experimento, podendo escolher entre a raı́z quinta [2],
raiz sétima [5] e alguma outra formulação disponı́vel na literatura.
Conforme observado na Figura 31, as flutuações para a camada limite turbulenta são
fortes próximas à superfı́cie. Isso pode ser descrito usando o fator de intermitância γ(x, y),
vide Figura 33. O valor define a probabilidade do escoamento turbulento ser encontrado
na posição x, y. Em experimentos, γ(x, y) descreve a fração do tempo para o qual o
escoamento turbulento é observado neste ponto. Na superfı́cie da placa, γ(x, y) = 1.
Neste sentido, pontos na superfı́cie apresentam perturbações por uma fração de tempo
maior do que aqueles mais acima, não sendo amortecidas.

12
Figura 7: Auto similaridade do regime turbulento.

Figura 8: Comparação de Log(cf ) com Log(Re) para o regime laminar

13
Figura 9: Comparação de Log(cf ) com Log(Re) para o regime de transição

Figura 10: Comparação de Log(cf ) com Log(Re) para o regime turbulento

14
Dos dados obtidos em laboratório foi possı́vel realizar a estimativa do coeficiente de
atrito local. Utilizaram-se dois métodos para tal estimativa: um método numérico para
os dados experimentais, cuja descrição encontra-se em [1]; e a abordagem teórica. A
abordagem teórica utilizou as soluções de Blasius para o caso turbulento e as soluções da
raiz sétima e a solução de Prandtl da raiz quinta, todas encontradas em [4].
Da literatura, sabe-se que os valores de cf são maiores para o regime turbulento do
que para o regime laminar. Com isso, é razoável supor que os valores para o regime
de transição se encontrem entre os outros dois, devido ao fato de ser um intermediário
entre eles, apesar de não existir uma estimativa teórica definitiva para esse caso. Por
isso, optou-se por comparar os resultados experimentais desse caso tanto com a solução
do regime laminar quanto com as soluções do regime turbulento. Assim, os gráficos de
Log(Re) vs. Log(cf ) para cada um dos modos de escoamento encontram-se abaixo:
Como esperado, os valores de cf para o regime de transição se encontram entre os
tratamentos numéricos de caso laminar e turbulento. Com exceção ao ponto abaixo da reta
laminar, os dados apresentam forte tendência linear, mas que não pode ser corroborada
por falta de embasamento teórico. Porém, tanto para o caso laminar quanto para o
caso turbulento, verifica-se grande divergência dos valores experimentais com os valores
estimados pela teoria. Para ambos os casos, houveram medidas dos dois primeiros pontos
que comprometeram análise de tendência dos pontos. A parábola deveria se adequar não
somente aos primeiros três pontos do perfil, mas deveria manter certa proximidade com
o perfil de maneira geral, para que fosse válido o cálculo da derivada em y = 0. Porém,
não era o que acontecia, até com casos que a parábola tinha concavidade oposta à direção
que era ditada pelo perfil de velocidades. Para o caso turbulento em especı́fico, em que
houve maior divergência, o tratamento ainda foi mais prejudicado pois na região próxima
à parede; na qual uma maior definição de dados é necessária para uma estimativa mais
coerente, não foi possı́vel capturar os dados devido às restrições do laboratório. Por fim,
apesar das divergências, os pontos para o caso laminar se concentraram em torno da reta
teórica, o que indica que o método numérico foi mais adequado para a estimativa para o
caso laminar do que para o caso divergente.

15
Figura 11: Perfil de transição de escoamento para x = 0,6 m e Re = 4, 66 × 105 .

Figura 12: Perfil de transição de escoamento para x = 0,7 m e Re = 5, 27 × 105

16
Figura 13: Perfil de transição de escoamento para x = 0,8 m e Re = 4, 55 × 105 .

Figura 14: Perfil de transição de escoamento para x = 0,7 m e Re = 3, 77 × 105 .

17
Figura 15: Perfil de transição de escoamento para x = 1 m e Re = 4, 06 × 105 .

Figura 16: Perfil de laminar de escoamento para x = 0,7 m e Re = 2, 92 × 105 .

18
Figura 17: Perfil de laminar de escoamento para x = 0,4 m e Re = 1, 63 × 105 .

Figura 18: Perfil de laminar de escoamento para x = 0,6 m e Re = 2, 61 × 105 .

19
Figura 19: Perfil de laminar de escoamento para x = 0,7 m e Re = 2, 55 × 105 .

Figura 20: Perfil de laminar de escoamento para x = 0,8 m e Re = 3, 39 × 105 .

20
Figura 21: Perfil de turbulento de escoamento para x = 0,6 m e Re = 6, 86 × 105 .

Figura 22: Perfil de turbulento de escoamento para x = 0,7 m e Re = 6, 95 × 105 .

21
Figura 23: Perfil de turbulento de escoamento para x = 0,8 m e Re = 7, 56 × 105 .

Figura 24: Perfil de turbulento de escoamento para x = 0,9 m e Re = 6, 04 × 105 .

22
Figura 25: Perfil de turbulento de escoamento para x = 1,05 m e Re = 7, 14 × 105 .

Figura 26: Flutuações de velocidades normalizadas para os perfis laminares

23
Figura 27: Nı́vel de turbulência para os perfis laminares.

Figura 28: Flutuações de velocidades normalizadas para os perfis de transição.

24
Figura 29: Nı́vel de turbulência para os perfis de transição.

Figura 30: Nı́vel de turbulência para os perfis turbulentos.

25
Figura 31: Flutuações de velocidades normalizadas para os perfis turbulentos.

Figura 32: Flutuações de velocidades normalizadas para os perfis laminares

26
Figura 33: Variação do fator de intermitância γ na camada limite turbulenta para placa
com o ângulo de inclinação 0°.
Fonte: [3]

Figura 34: Propagação de spots turbulentos.


Fonte: [6].

27
3.3 Fonte de erros
Nesta seção será apresentado possı́veis erros que influenciaram nas diferenças, ainda
que poucas, entre resultados teóricos e experimentais na obtenção da espessurra da ca-
mada limite e na identificação do regime de transição.
Além disso, a temperatura da superfı́cie da placa influencia na espessura da camada
limite. Se a placa está fria, de acordo com a equação de estado p = ρRT , a densidade
do ar próximo à placa é maior. Neste caso, a massa do ar na camada-limite pode ser
acomodada dentro de uma menor espessura de camada-limite; então, o efeito de uma
placa fria é afinar a camada-limite; o efeito de uma placa mais quente é o aumento da
espessura da camada-limite, em consequência da diminuição da densidade do ar próximo
à placa. Outrossim é a umidade relativo do ar. A presença de vapor no ar faz com que
este, de acordo com a Lei de Dalton, apresente uma pressão total menor do que aquela
se estivesse sem a presença de vapor, ar seco; sendo a pressão menor, a função de estado
mostra que a densidade do ar é menor, o que tem por consequência um aumento da
espessura da camada limite.

3.3.1 Aparato experimental


Obteve-se espessuras para a camada limite da ordem de milı́metros, sendo que a
distância mı́nima do anemômetro para a placa era de 1 mm. Logo, nota-se que isso traz um
grande reflexo na obtenção dos resultados, já que para que pudessem ser completamente
caracterizadas, seria necessário uma varredura completa de todo o comprimento da placa.
Uma sugestão seria medir as velocidades através de um anemômetro a raio laser, baseado
na técnica experimental da Velocimetria laser. Dessa forma, a nova técnica reduziria a
interferência no escoamento e aumentaria a precisão das medidas.

3.3.2 Nı́vel de turbulência


Por definição [3], tem-se que a intensidade de turbulência é:

u02
Tu = (3)
U∞
Em que u0 é a perturbação não permanente e U∞ é a velocidade do escoamento.
Quando a intensidada da turbulência está em torno de T u = 0, 001 a transição do
escoamento sobre a placa ocorre por volta de Rexcrit = 3, 9 × 106 [3]. Como nosso expe-
rimento apresenta uma turbulência muito maior, o Reynolds crı́tico ocorre para valores
muito menores, em torno de Re = 3 × 105 . Nota-se que quanto menor a velocidade para
o ensaio, maior será a turbulência devido as imperfeições.
No entanto, o único regime afetado de modo significativo por perturbações externas
seria o de transição, sendo possı́vel alterá-lo o regime do escoamento já que este é instável.
Isso é refletido pois o túnel de vento da presente prática não fornece um escoamento
perfeito, sendo suscetı́vel a tais perturbações. Vale ressaltar que o regime laminar tem as
perturbações amortecidas por conta de suas forças viscosas internas que predominam no
escoamento. O regime turbulento também não sofre tanta influência das perturbações.

28
4 Conclusão
Primeiramente, pode-se afirmar que a prática forneceu resultados aceitáveis, ocor-
rendo poucas divergências inerentes do método experimental utilizado bem como fatores
externos não levados em conta no experimento: temperatura e rugosidade da superfı́cie,
umidade relativa do ar, gravidade e outros fatores.
Para a estimativa da faixa de transição natural, obtivemos valores do número de
Reynolds próximos aos da teoria, onde o valor encontrado do número de Reynolds de
transição foi 4, 98 × 105 , enquanto que o valor teórico é 5 × 105 .
Quanto aos gráficos elaborados com base nos dados do anemômetro, foi encontrado
uma boa precisão com a teoria para o regime laminar, houve divergências no regime tur-
bulento, enquanto que foi encontrado padrões intermediários para o regime de transição.
Quanto a auto-similaridade, apenas no regime laminar foi possı́vel obtê-la, algo que já
era esperado pela análise teórica. Para o de transição, não há parâmetros para a análise de
auto-similaridade. Quanto ao turbulento, houve auto-similaridade aproximada, ou seja,
houve algumas divergências.
Em todos os ensaios, foi feita a análise de flutuações, obtendo resultados que corres-
pondem a teoria. No regime laminar, as flutuações tendem a ser atenuadas, no regime
turbulento as flutuações tendem a crescer, enquanto que no regime de transição as flu-
tuações existem, mas não predominam. A análise das flutuações indica que, de fato, a
turbulência se origina devido à presença da parede, que causa uma restrição geométrica
para o crescimento dos turbilhões, o que pode ser amplificado ou atenuado dependendo
do tipo de forças que predominam no escoamento.
Foram estimados os valores do coeficiente de fricção local. Os mesmos apresentaram
um comportamento fora do esperado, fugindo do comportamento linear quando traçada
a curva log10 (cf ) vs. log10 (Re). Isso foi devido ao método empregado, pois foi feito
uma aproximação quadrática utilizando os primeiros dois pontos e o ponto zero, porém
a parabola obtida não se adequava bem ao perfil de velocidades, gerando um valor de
du/dx não confiável.

29
Referências
[1] Departamento de Aerodinâmica. Apostila de Laboratório de AED-01. 2018.

[2] J. John D. ANDERSON. Fundamentals of Aerodynamics. McGraw-Hill, New York, 3


edition, 2001.

[3] H. SCHLICHTING. Boundary-layer theory. McGraw-Hill, New York, 7 edition, 1979.

[4] F. M. WHITE. Viscous fluid flow. McGraw-Hill, New York, 3 edition, 2006.

[5] F. M. WHITE. Fluid mechanics. McGraw-Hill, New York, 6 edition, 2007.

[6] A. D. YOUNG. Boundary Layers. BSP Professional Books, Oxford, 1989.

30

You might also like