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Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Relações Internacionais
Trabalho de Conclusão de Curso

A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA PARA A COMPETITIVIDADE DO


SETOR INDUSTRIAL BRASILEIRO, COM ANÁLISE
COMPARATIVA À CHINA E ÍNDIA (1994 - 2012)

Autor: João Felipe Jacinto Urbanski


Orientador: Prof. Msc. Francisco A. Wollmann

Brasília - DF
2013
JOÃO FELIPE JACINTO URBANSKI

A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA PARA A COMPETITIVIDADE DO


SETOR INDUSTRIAL BRASILEIRO, COM ANÁLISE COMPARATIVA
À CHINA E ÍNDIA (1994 - 2012)

Monografia apresentada ao Programa de


Graduação em Relações Internacionais da
Universidade Católica de Brasília, como
requisito parcial para obtenção do certificado
de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Msc. Francisco A. Wollmann

Brasília
2013
Monografia de autoria de João Felipe Jacinto Urbanski, intitulada “A INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA PARA A COMPETITIVIDADE DO SETOR INDUSTRIAL
BRASILEIRO, COM ANÁLISE COMPARATIVA À CHINA E ÍNDIA (1994 - 2012)”,
apresentada como requisito parcial para obtenção de Título de Bacharel em
Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, defendida e aprovada,
em 26 de novembro de 2013, pela banca examinadora constituída por:

__________________________________________________________

Prof. Msc. Francisco A. Wollmann

Orientador

Relações Internacionais – UCB

__________________________________________________________

Prof. Msc. Sérgio Oliveira da Silveira

Relações Internacionais - UCB

__________________________________________________________

Prof. Dr. Fábio Albergaria de Queiroz

Relações Internacionais - UCB

BRASÍLIA

2013
Dedico este à minha família, que sem ela
eu não teria base para me dedicar nesses
quatro anos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao universo por toda positividade concedida, fortalecendo em


momentos mais difíceis e propiciando bons momentos assim como pessoas do bem
ao meu redor.

Agradeço à minha família pelo apoio prestado nesses anos de estudo


contínuo, principalmente pela minha irmã Juliana que é minha segunda mãe e
sempre esteve comigo pra tudo, ao meu cunhado Wendel o qual sempre foi um
grande amigo e conselheiro, à minha mãe Joana que é minha heroína e guerreira
além de ser um grande exemplo de mulher, e agradeço finalmente ao meu padrasto
Mauro que sempre foi o principal apoiador para a minha dedicação aos estudos,
exercendo um papel que muitos pais de sangue não fazem.

Agradeço aos meus amigos e colegas que conheci durante estes quatro anos
no campus universitário já que sem eles seria muito mais complicado o caminho
traçado, e aspiro que muitos continuem a fazer parte da minha vida. Agradeço aos
meus amigos Anderson Campos, Thiago Bacelar, Rômulo Araújo, Guilherme
Cassimiro, Jéssica Portes e Angelo Freire e, principalmente, aos meus amigos
André “Gauthier”, Eric Pinheiro, Gabriela Iwata, Hellen Sandra, Leonardo “Mitt”,
Marco Felipe, Renata Menezes, Vitor Assunção e Vivian Oliveira que fizeram o
ambiente ser muito mais motivador. Agradeço também aos demais colegas que
fizeram parte de todo esse processo.

Agradeço finalmente, aos meus professores que propiciaram o meu


desenvolvimento acadêmico até este momento presente. Agradeço principalmente
aos professores Fábio Duval, José Romero, aos irreverentes e contagiantes Egidio
Lessinger, Sérgio Oliveira, Fábio Albergaria e Ironildes Bueno e, finalmente, deixo
meu especial agradecimento ao professor Francisco Wollmann, que foi de
fundamental importância para a realização deste trabalho.
“A mente que se abre a uma nova ideia
jamais voltará ao seu tamanho original”
(Albert Einstein).
RESUMO

Referência: URBANSKI, João Felipe Jacinto. A inovação tecnológica para a


competitividade do setor industrial brasileiro, com análise comparativa à China
e Índia (1994-2012). 2013. Monografia de Bacharel em Relações Internacionais –
UCB, Brasília, 2013.

Esse estudo discorre acerca da inovação tecnológica, e como esta acarreta a


competitividade do setor industrial de manufatura do Brasil entre o período de 1994-
2012. Para isso, analisou-se a importância desse tema, o mercado industrial
interno, a economia internacional e sua dinâmica. Identificando quais foram as
políticas governamentais adotadas sobre o tema, além da análise de mercados
externos, de modo comparativo, listando os resultados obtidos em cada caso.

Palavras-chave: Inovação Tecnológica. Indústria Manufatureira. Brasil.


Competitividade.
ABSTRACT

Referência: URBANSKI, João Felipe Jacinto. A inovação tecnológica para a


competitividade do setor industrial brasileiro, com análise comparativa à China
e Índia (1994-2012). 2013. Monografia de Bacharel em Relações Internacionais –
UCB, Brasília, 2013.

The present study makes an exposition about the technological innovation,


and how this leads to the competitiveness of the manufacturing industry of Brazil
from the period 1994-2012. In order to do it, an analysis on the importance of this
issue, the domestic industrial market, the international economy and its dynamics.
Identifying which government policies were adopted on the subject, as well as
analysis of foreign markets, in a comparative way, and also lists the obtained results
in each case.

Keywords: Technological Innovation. Manufacturing industry. Brazil.


Competitiveness.
LISTAS DE TABELAS

Tabela 1 - Principais programas relativos à inovação tecnológica no Brasil.............37

Tabela 2 – Contribuição setorial para o PIB do Brasil em termos relativos...............42

Tabela 3 – Contribuição setorial para o PIB da China em termos relativos...............44

Tabela 4 - Contribuição setorial para o PIB da Índia em termos relativos.................48

Tabela 5 – Valor total de produtos de alto valor agregado exportados......................52

Tabela 6 - Exportações de alta agregação tecnológica.............................................53


LISTAS DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Desempenho da indústria manufatureira brasileira................................42

Gráfico 02: Desempenho da indústria chinesa..........................................................45

Gráfico 03: Desempenho da indústria manufatureira indiana....................................49

Gráfico 4: % de P&D sobre o PIB de Brasil, China e Índia........................................52


LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Interação entre Estado, Empresas e Instituições de Pesquisa.................25


LISTA DE SIGLAS

ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BRICS – Cúpula formada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

CIA – Central de Inteligência Americana

CNI - Confederação Nacional da Indústria

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CT&I – Ciência, Tecnologia e Inovação

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICT – Instituições de Ciência e Tecnologia

IED – Investimento Externo Direto

IIIT’s - Institutos Indianos de Tecnologia da Informação

IIM’s - Institutos de Medicina Integrada

IISER’s - International Institute for Species Exploration

IIT’s - Institutos Indianos de Tecnologia

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

OMC – Organização Mundial do Comércio

PIB – Produto Interno Bruto

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

ONU – Organização das Nações Unidas


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11

1.1 PROBLEMA E IMPORTÂNCIA ........................................................................ 11


1.2 HIPÓTESE ...................................................................................................... 14
1.3 OBJETIVOS .................................................................................................... 14
1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 15

1.3.2 Objetivos Específicos ...................................................................................... 15

1.4 METODOLOGIA .............................................................................................. 15


2. MARCO TEÓRICO ........................................................................................... 17

2.1 A VANTAGEM COMPETITIVA DAS NAÇÕES ................................................ 17


3. DESENVOLVIMENTO ..................................................................................... 20

3.1 ANÁLISE E CONCEITUAÇÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, E AS


FORMAS DE IMPLEMENTÁ-LA NO SETOR INDUSTRIAL MANUFATUREIRO ...... 20
3.1.1 Conceito de inovação ...................................................................................... 20

3.1.2 Formas de implementar a inovação tecnológica no setor industrial


manufatureiro ............................................................................................................ 23

3.2 POLÍTICAS E AÇÕES GOVERNAMENTAIS VOLTADAS, A PARTIR DE 1994,


PARA A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA BRASILEIRA ....................... 29
3.2.1 Importância do Estado na Fomentação de Inovação para as Empresas ....... 29

3.2.2 As Fontes de Linha de Crédito para as Empresas Brasileiras e os Desafios


estabelecidos ............................................................................................................ 32

3.2.3 Os Incentivos do Governo Brasileiro por meio de Programas e Leis que


Beneficiam a Inovação da Indústria Manufatureira, a partir de 1994. ....................... 34

3.3 A DIFUSÃO TECNOLÓGICA PARA A CADEIA PRODUTIVA NO BRASIL EM


RELAÇÃO À CHINA E ÍNDIA..................................................................................... 38
3.3.1 A difusão tecnológica para a cadeia produtiva na China ................................ 43

3.3.2 A difusão tecnológica para a cadeia produtiva na Índia ................................. 47

3.3.3 Análise comparada de P&D e produtos de alto valor tecnológico agregado


nas indústrias de transformação do Brasil, China e Índia ......................................... 51
4. CONCLUSÃO ................................................................................................... 55

5. REFERÊNCIAS: ............................................................................................... 58
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1. INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMA E IMPORTÂNCIA

Na atual conjuntura, o Brasil se destaca no cenário internacional como um


dos países de maior PIB (Produto Interno Bruto) nominal entre as nações
emergentes. Esta atuação colocou o país no seleto grupo de países como Índia,
China e Rússia, que se portaram bem quando comparados a muitos países
desenvolvidos em relação à crise financeira mundial iniciada em 2008. No entanto, o
país sofre com a infraestrutura industrial de manufaturados estabelecida que recebe
baixo investimento em inovação, o que acarreta aumento no custo dos seus
produtos, e em uma qualidade inferior. Isso, no cenário internacional, faz com que os
produtos industrializados brasileiros sejam menos competitivos que os de outras
nações, tanto no exterior, quanto no próprio mercado. Nesse sentido, este trabalho
será orientado pelo problema: Como o baixo investimento em inovação industrial no
Brasil, inibe uma melhor competitividade dos seus produtos, tanto no comércio
internacional quanto no mercado local?

Neste sentido, Fuck e Vilha (2012) conceituam a inovação como “o ato de


inovar, o ato de fazer algo novo”, e dão ênfase à inovação e a sua importância para
as empresas e instituições que se preocupam com as pesquisas cientificas e o
desenvolvimento (P&D). A inovação surge como elemento essencial nas estratégias
de diferenciação e competitividade das empresas, e como essas podem obter
vantagens comparativas de concorrentes quando inovam.

É necessário entender que o ato de inovar não deve estar restrito somente às
empresas. É fundamental o papel de instituições de cunho governamental e das
universidades, pois produzem conhecimento e desenvolvem novas tecnologias. O
desafio das políticas públicas voltadas para ciência, tecnologia e inovação é articular
a cooperação entre esses atores.
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Em um cenário onde os países possuem uma estreita relação de


interdependência, procurar mecanismos para fortalecer a indústria nacional é uma
questão vital para o desenvolvimento. Esses mecanismos podem ser adquiridos de
algumas formas, mas no caso brasileiro está muito relacionado com a técnica e
infraestrutura limitadas. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2011), os
desafios para desenvolvimento da indústria são baseados no câmbio valorizado,
juros altos, elevada carga tributária e pelas deficiências na infraestrutura do país.

Nesse sentido, a infraestrutura brasileira é ineficiente no que se refere à


inovação tecnológica, pois há pouco investimento em pesquisa e desenvolvimento,
tanto da iniciativa privada quanto de políticas públicas. Segundo Negri e Lemos
(2010) há também poucas opções de linha de crédito para inovação das empresas,
visto que no Brasil, quando se refere à linha de crédito em longo prazo, existe
apenas o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outro
fator fundamental para as limitações do desenvolvimento tecnológico do país está
relacionado com o pouco conhecimento absorvido pela indústria nacional em
alianças com indústrias de países desenvolvidos. Então, o baixo know how adquirido
por joint venture com empresas com alta agregação tecnológica evidenciam essa
fragilidade da indústria brasileira. Nesse contexto, os bens produzidos no Brasil
ganham maior preço e uma menor qualidade se comparados com muitos produtos
fabricados no exterior.

Entre os países do grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul (BRICS), que representam uma das maiores economias emergentes do globo, o
setor industrial no Brasil representava, em 2010, 28%, enquanto o setor industrial na
Rússia representava 40%, o da Índia 28%, o chinês 47% e o sul-africano 30%, de
seus respectivos Produto Interno Bruto, segundo o Banco Mundial. Isso é refletido
no saldo da balança comercial, uma vez que produtos de menor valor agregado,
como matérias-primas e semimanufaturados, ocupando maior espaço na
composição do PIB resultam em menor valor recebido pela exportação, se
comparado à balança de países em que a indústria manufatureira ocupa maior
destaque na porcentagem do PIB. No caso dos BRICS, ainda segundo dados do
Banco Mundial (2010), as balanças comerciais negativas do Brasil (US$ - 47,2
bilhões), Índia (US$ - 52,2 bilhões) e África do Sul (US$ - 10,1 bilhões) e as
balanças comerciais com saldo positivo da Rússia (US$ 67,4 bilhões) e China (US$
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237,8 bilhões), refletem que, dentro do bloco, a balança positiva ocorre entre os
países em que o setor industrial sustenta o maior espaço junto ao Produto Interno
Bruto.

Para aumentar a competitividade nacional, o governo aplica diversas políticas


para incentivar a indústria, como a diminuição de tributos, subsídios e a defesa
comercial contra produtos vindos do exterior, que atrapalhem a produção interna. No
entanto, para os industriais, essas políticas são só um começo de medidas para
dinamizar a indústria nacional. A política industrial deve buscar o aumento da
competitividade do país, estimulando a inovação, pois, apesar das políticas
implementadas, novas ações deverão complementá-las a fim de reduzir os custos
de produção (CNI, 2011).

Então, é necessária uma maior atenção para a inovação na indústria nacional


que, primeiramente, estaria baseada em um aumento do apoio governamental para
as empresas no que se refere a maiores fontes de linhas de crédito, aumento da
eficiência de sistemas financeiros, apoio externo às firmas nacionais, aumento da
competência de rede entre receptores e fornecedores de matéria, e mão de obra
qualificada (NEGRI; LEMOS, 2011). O caso da China, país em desenvolvimento com
maior destaque internacional na atual conjuntura, ilustra os benefícios de políticas
bem aplicadas pelo governo, voltadas para a exportação, que inseriram o gigante
asiático como uma das maiores economias do mundo.

Em um segundo momento, a outra via para o desenvolvimento tecnológico da


indústria é a aplicação de joint ventures com países e indústrias mais desenvolvidos.
Essa aliança é benéfica para indústrias nacionais, pois, adquirindo conhecimento
técnico, pode-se utilizá-lo em função de sua própria produção, acarretando em
menores custos de produção e de bens com maior valor agregado, ocasionando o
crescimento da firma, da indústria se for em larga escala, e por final no
desenvolvimento da nação. Para as indústrias externas, que cedem o conhecimento
tecnológico, os benefícios podem vir em forma de isenções tributárias e fiscais, que
facilitam a sua inserção ou a sua ampliação em território estrangeiro
(CHERNAVSKY; LEÃO, 2011). Em um país como o Brasil, com diversas
possibilidades de recursos e um mercado de consumo interno de grande proporção,
é grande o atrativo para essas empresas transnacionais, mas que precisa ser
melhor explorado visando também, o desenvolvimento nacional.
14

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012,


houve uma queda de 2,7% da produção industrial no Brasil. Isso demostra que a
crise econômica mundial de 2008 afetou duramente o setor, pois diminui também os
investimentos externos dentro do país. Então é importante observar que mesmo
sofrendo menos com a crise do que os países desenvolvidos, os países emergentes
dependentes de commodities, como o Brasil, não podem deixar de dar atenção
devida à indústria, uma vez que bens primários e semimanufaturados somam uma
quantia de menor valor agregado para o país. Os manufaturados conseguem anexar
um maior valor, pois carregam conhecimentos técnicos no processo de produção.
No entanto, o Brasil se limita em dedicar grande parte de suas exportações aos
produtos primários, não dando a devida importância aos bens industrializados.

Nesse sentido, é necessário investir em uma reforma industrial que foque em


uma estrutura desenvolvida tecnologicamente, para um melhor desempenho e
competitividade dos bens produzidos no Brasil. Essa é a tendência do comércio
internacional, que pelo dinamismo existente não permite a estagnação do
conhecimento. Segundo o ex-embaixador da China no Brasil, Qiu Xiaoqi, “As
indústrias brasileiras têm de fortalecer sua competitividade econômica e comercial. É
preciso investir, melhorar a infraestrutura” (ESTADÃO, 2011). Este estudo abordará
essa análise, com dados empíricos, em prol de evidenciar como as barreiras da
infraestrutura industrial do Brasil atrapalham a ampliação de inovação nas firmas,
fragilizando-as internamente e em suas competições externas, o que acarreta nas
limitações do desenvolvimento da nação.

1.2 HIPÓTESE

Quanto maior for a inovação na indústria do Brasil, maior será o


desenvolvimento deste, logo, a sua competitividade em relação a concorrentes
externos.

1.3 OBJETIVOS
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1.3.1 Objetivo Geral

O objetivo geral deste estudo é analisar o desenvolvimento da inovação


tecnológica do setor industrial de transformação no Brasil entre 1994 e 2012,
enfocando a sua importância para a competitividade e desenvolvimento do setor.

1.3.2 Objetivos Específicos

 Analisar e conceituar a inovação tecnológica, e as formas de implementá-la no


setor industrial manufatureiro;

 Identificar, a partir de 1994, as políticas e ações governamentais voltadas para


a inovação tecnológica na indústria brasileira;

 Analisar, comparativamente, a difusão tecnológica para a cadeia produtiva no


Brasil em relação à China e Índia.

1.4 METODOLOGIA

O presente estudo segue um método hipotético-dedutivo como instrumento


para avaliação da hipótese. Essa abordagem baseia-se na construção de
conjecturas que devem ser submetidas a testes e comparadas com fatos empíricos
na tentativa de explicar o contexto de um fenômeno. Segundo Popper (1975), este
método procura uma solução por meio de tentativas (testes, hipóteses, premissas,
teorias) e eliminação de erros.

Este trabalho é, também, uma pesquisa histórico-descritiva acerca do


processo de inovação da indústria no Brasil entre 1994 a 2012 para determinar o
nível da competitividade de bens produzidos no setor. Nesse sentido, é por meio da
análise histórico-descritiva que se obtém os instrumentos necessários para a
aplicação do método hipotético-dedutivo no tema. Assim, esta pesquisa é norteada
por uma investigação qualitativa e baseada em fontes primárias e secundárias, tanto
governamentais como privadas, considerando as regras da Associação Brasileira de
16

Normas Técnicas (ABNT), com a finalidade de padronizar e uniformizar este trabalho


acadêmico.

Como fontes, serão utilizados artigos, publicações e dados do Instituto de


Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial (ABDI), Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Confederação
Nacional da Indústria (CNI), bem como aqueles disponíveis em livros, monografias,
sítios da Internet, dissertações, revistas e jornais, relacionados à temática da
inovação no setor industrial brasileiro, como o jornal Valor Econômico, e também
organismos de outros países e instituições de cunho internacional como a Central de
Inteligência Americana (CIA) e a Organização das Nações Unidas (ONU).
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2. MARCO TEÓRICO

Enfocando a importância da inovação para a indústria nacional, este trabalho


é orientado pela abordagem teórica que remete à vantagem competitiva das nações.

2.1 A VANTAGEM COMPETITIVA DAS NAÇÕES

A teoria de Michael Porter (1993), parte da premissa de que as empresas


devem classificar a melhoria e a inovação em métodos e tecnologia como elementos
centrais para se obter vantagem competitiva no mercado internacional. Nesse
sentido, ele atribui que há diferenças entre a natureza da competição adotada entre
as indústrias, ou entre empresas da mesma indústria. As empresas que conseguem
obter vantagem competitiva são, na maioria dos casos, aquelas que identificam e
agem previamente em relação a um novo mercado ou tecnologia em potencial. A
natureza da competição está ligada a cinco “forças competitivas”:

(1) A ameaça de novas empresas, (2) a ameaça de novos produtos e


serviços, (3) o poder de barganha dos fornecedores, (4) o poder de
barganha dos compradores e (5) a rivalidade entre os competidores
existentes (MARINHO, 2011, p.79).

Porter criou um sistema denominado como “diamante”, onde quatro fatores


têm que ser analisados para um país ter vantagem competitiva: (1) Condições de
fatores, (2) condições de demanda, (3) indústrias correlatas e de apoio, e (4)
estratégia, estrutura e rivalidade das empresas. Esses fatores indicam que:

Os determinantes, individualmente e como um sistema, criam o contexto no


qual as empresas de um país nascem e competem: a disponibilidade de
recursos e competência necessários à vantagem numa indústria; as
informações que condicionam quais as oportunidades percebidas e as
direções nas quais os recursos e a competência são orientados; as metas
dos proprietários, diretores e empregados que estão envolvidos na
competição e a realizam; e, o mais importante, as pressões sobre as
empresas para investir e inovar (PORTER, 1993, p.175).

O papel do país, por meio de taxa de câmbio, taxas de juros, déficits e


políticas governamentais, ou pela mão de obra barata e abundante, recursos
naturais e pelas práticas administrativas que se diferem entre os países, são levados
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em consideração sobre a vantagem competitiva, mas não são o conceito básico.


Este conceito estaria relacionado com a capacidade das empresas de um
determinado país em promover inovações constantes.

Então, se o setor industrial de um país depender, significativamente, de


políticas governamentais para ter vantagem competitiva, por meio de subsídios,
proteção e incentivos fiscais, os benefícios são apenas de curto prazo, pois, cria-se
um vício dependente por parte do setor para com o governo. No médio e longo
prazo essa dependência inibe a busca pela inovação e, em consequência, a
competividade da indústria. Segundo Porter, para a que o país cresça em
competitividade, ele depende:

Da sua indústria inovar e melhorar, e a prosperidade, não são algo herdado,


não é algo que emana dos dotes naturais de um país, de sua força de
trabalho, das taxas de juros, ou do valor da moeda, como insistem os
economistas clássicos, mas sim o produto do esforço criativo humano. No
mundo de competição global crescente, os países se tornaram mais e não
menos importantes (MARINHO, 2011, p.73).

Nesse contexto, o comércio internacional tem função essencial para o


aumento na produtividade da indústria, busca pela inovação, e consequentemente,
para o desenvolvimento do país, pois:

Permite ao país aumentar sua produtividade, eliminando a necessidade de


produzidos os bens e serviços dentro do próprio país. Com isso, a nação
pode especializar-se nas indústrias e segmentos nos quais suas empresas
são relativamente mais produtivas e importar os produtos e serviços em
relação aos quais suas empresas são menos produtivas do que as rivais
estrangeiras, aumentando dessa forma a produtividade média da economia
(MARINHO, 2011, p.77).

As importações e exportações são partes intrínsecas do processo de


produtividade. Então, cabe ressaltar que nenhum país é capaz de obter êxito em
todos os setores, pois por diversas variáveis outros países podem levar vantagem
em determinado setor. Nesse sentido, deve-se buscar a dinamização da
produtividade, pois esta é diretamente relacionada com a economia de um país, que,
produzindo bens de maior valor agregado, por meio da inovação, obtém maiores
receitas pela produção.

Tendo em vista uma conjuntura global em que o setor econômico é cada vez
mais dinâmico e conectado, é preciso obter as melhores condições nesse cenário
para conseguir se destacar. Essas condições estão ligadas a construções de
economias modernas, guiadas pela capacidade do país em inovar tecnologicamente
19

nos seus mais diversos setores. Dentre os setores de uma economia, o setor
industrial é um dos mais importantes e requer bastante atenção por parte dos
países.
20

3. DESENVOLVIMENTO

3.1 ANÁLISE E CONCEITUAÇÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, E AS


FORMAS DE IMPLEMENTÁ-LA NO SETOR INDUSTRIAL MANUFATUREIRO

Tendo em vista uma conjuntura global em que o setor econômico é cada vez
mais dinâmico e conectado, é preciso obter as melhores condições nesse cenário
para conseguir se destacar. Essas condições estão ligadas a construções de
economias modernas, guiadas pela capacidade do país em inovar tecnologicamente
nos seus mais diversos setores. Dentre os setores de uma economia, o setor
industrial é um dos mais importantes e requer bastante atenção por parte dos
países. Nesse sentido, se aborda acerca da inovação tecnológica; e algumas formas
de executá-la no setor industrial manufatureiro.

3.1.1 Conceito de inovação

Para entender a importância da inovação dentro do aspecto industrial das


economias nacionais, é necessário compreender primeiramente o que é inovação.
Sendo assim, inovação remete ao ato de inovar, fazer algo novo. Em um cenário
onde qualquer introdução de algo novo pode desencadear uma vantagem sobre um
mercado concorrente, faz com que esse tema seja abordado com atenção. Porém, o
termo pode ser bastante amplo e por isso requer prudência quanto à sua aplicação,
pois:

Em um mundo em que o processo de mudança é bastante presente, a


inovação figura no centro de análises de diversos tipos, sendo discutida em
diversos meios, muitas vezes sem o devido cuidado conceitual. Na internet,
por exemplo, o termo é bastante utilizado. Uma pesquisa rápida utilizando o
famoso Google indica mais de 20 milhões de resultados para a palavra
“inovação”. Se a pesquisa for feita com a palavra “innovation”, o número é
ainda mais surpreendente: mais de 315 milhões de resultados. É claro que
os números em si não captam o real significado do que está acontecendo
na atualidade, mas eles nos dão uma pista interessante sobre a importância
que vêm sendo atribuída ao tema (FUCK; VILHA, 2012, p.3).
21

Então o conceito de inovação é bastante variável, pois dependerá diretamente


da área em que for aplicado. Dentre esses campos de aplicação possíveis, os que
se referem a inovações de um produto ou de processos são conhecidos como
inovações tecnológicas, e esse tipo de inovação é o guia deste estudo. No entanto,
vale ressaltar que para que uma inovação seja caracterizada como tal, é necessário
que esta implique um impacto significativo no mercado na qual for inserida, mude de
forma benéfica a receita da empresa, modifique as estruturas de preço do segmento
etc. Resumidamente, inovação pode ser entendida como a exploração com sucesso
de novas ideias (INVENTTA, 2013).

Para o Ministério das Comunicações, inovação tecnológica se refere a “toda a


novidade implantada pelo o setor produtivo, por meio de pesquisas ou
investimentos, que aumenta a eficiência do processo produtivo ou que implica em
um novo ou aprimorado produto” (BRASIL, 2013). Ou seja, é possível a inovação por
três formas diferentes: a de um novo produto, a de um aprimoramento do produto, e
do processo. A inovação de um produto tecnologicamente novo se baseia em
características distintas de quaisquer outros produtos produzidos anteriormente. A
inovação de um produto tecnologicamente aprimorado se baseia em produtos
existentes, mas com sua eficiência e desempenho significativamente melhorados. Já
a inovação tecnológica por meio do processo se refere a métodos de produção
novos ou significativamente elevados.

O sucesso que se busca na área econômica em relação a esse tema é a


vantagem sobre um concorrente, desta forma é preciso para uma empresa, um setor
específico do mercado (como o abordado nesse trabalho, o industrial manufatureiro),
criar instrumentos para a aquisição dessa vantagem e, em consequência, do
sucesso. Portanto, a inovação tecnológica, como artifício, é um meio e um fim, pois,
é um meio que atualmente não pode ser deixado de lado para se obter sucesso
perante outras empresas ou outros mercados, e é um fim, pois, baseando nessa
conceituação demonstrada só é possível declarar que uma inovação é tida como tal
apenas quando esta consegue atingir um nível que na prática modifique o sistema
em que ela foi inserida, crie algo novo de fato.

A partir do viés econômico, Fuck e Vilha (2012) creditam a origem do conceito


de inovação ao economista Joseph Schumpeter (1883-1950) que observou que
inovar é produzir outras coisas, ou as mesmas coisas de uma maneira diferente,
22

combinando diferentes materiais e forças, realizando novas combinações. Ele


acreditava que o desenvolvimento econômico é impulsionado por um conjunto de
inovações que, ao mesmo tempo em que cria e revoluciona a estrutura econômica,
destrói a estrutura vigente anteriormente, havendo, portanto uma dinâmica
permanente de inovação. Assim, é importante ressaltar que a inovação tecnológica
não é estática, é um processo dinâmico e que expõe riscos, pois nunca se sabe
como o público consumidor e o mercado irão reagir a algo novo.

Para Schumpeter as inovações, que configuram a revolução geradora do


desenvolvimento das estruturas econômicas, partem de dentro pra fora, ou seja, são
guiadas por quem as criam, os produtores. Os consumidores tem seu papel de
importância no contexto, cabendo a eles a decisão final se a inovação será
realmente absorvida e aprovada, porém essa é uma função apenas passiva quando
se trata do processo de criação, pesquisa e desenvolvimento de um novo produto
(FUCK; VILHA, 2012).

Cabe ao produtor buscar algo que inove e agrade ao público, mas isso requer
riscos. Risco da criação não ser bem recebida, e ser um fracasso. Outro risco que
também é bastante frequente, que é o fato de outras firmas ou mercados
concorrentes também inovarem, seja em produtos no primeiro caso, seja na
estrutura econômica no segundo. Isso acontece porque é inerente ao dinamismo do
processo inovativo, e acontece principalmente se a empresa ou mercado criador de
algum produto ou processo novo obtiver sucesso. Pois, os concorrentes também
irão querer esse sucesso, e buscarão instrumentos para isso, seja procurando criar
algo que inove ou imitando o precursor do processo. Isso reflete as incertezas e
riscos do sistema econômico, onde por meio da diferenciação do processo e
aspiração por inovação pode diminuir essa insegurança.

Segundo Fuck e Vilha (2012) a inovação tecnológica é intrínseca no processo


de diferenciação, competitividade e desenvolvimento na atual conjuntura. Por isso é
fundamental para conseguir obter vantagens em relação a competidores, não
deixando, também, de somar no cálculo estratégico que os concorrentes
provavelmente poderão utilizar desses instrumentos para conseguir mercado
consumidor, então cabe essa percepção ao criador da inovação.
23

3.1.2 Formas de implementar a inovação tecnológica no setor industrial


manufatureiro

Segundo Negri e Lemos (2011), atualmente, a construção de economias


industriais modernas depende cada vez mais de vantagens comparativas
construídas pela capacitação tecnológica das firmas e pelos sistemas de inovação
setoriais e nacionais.

Nesse contexto, os autores indicam que economias mais ricas e avançadas


tecnologicamente têm mostrado que o desenvolvimento econômico está cada vez
menos determinado por estáticas dotações de recursos - tais como localização
geográfica e recursos naturais - e mão-de-obra barata e abundante. As grandes
empresas industriais modernas construíram uma estrutura própria e privada capaz
de explorar economias de escala e escopo em dimensões mundiais. Eficientes
sistemas financeiros, infraestruturas externas às firmas, rede de pequenos e médios
fornecedores e oferta de mão-de-obra qualificada, cria esse aporte necessário para
as empresas inovarem.

O processo decisório da empresa é um elemento central na análise das


estratégias das firmas. Quando a empresa decide investir ela faz opções por fazer
mais do mesmo produto e/ou investir na busca de novos recursos para competição:

Se a firma decidiu por buscar novos recursos para competição, os recursos


originários desta estratégia poderão se materializar em inovação. Se a firma
obtiver êxito na sua estratégia de inovação os novos recursos e
competências acumuladas pela empresa se transformam em novos
produtos ou processos e terão valor econômico para a empresa. Por sua
vez, a inovação afeta um dos principais indicadores de desempenho da
empresa: a sua produtividade (NEGRI; LEMOS, 2011, p.28).

Sendo assim, quando as firmas optam por investir em inovação, o mercado


todo pode ser beneficiado, pois, há competição, mesmo que de formas distintas,
entre as diferentes empresas. E se um mercado nacional é beneficiado, logo a sua
competição frente a concorrentes externos também é acrescida de valor qualitativo.
Mas isso só seria possível caso os países focassem na internalização da revolução
técnico-científica no processo de produção. A revolução técnico-cientifica é possível
24

por intermédio da inovação tecnológica, e essa pode acontecer de formas distintas


dentro de um mercado. Entre as principais formas de implementação de inovação
tecnológica estão: os esforços em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D); aquisição de
conhecimentos tecnológicos advindos do exterior; assim como também por meio de
aquisição de máquinas, equipamentos, softwares e sistemas advindos do exterior.

3.1.2.1 Esforços em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)

Nesse sentido, atividade de P&D é tratada em um primeiro momento pela


Pesquisa e em um segundo momento pelo desenvolvimento, sendo assim, pesquisa
se refere a um artifício para aquisição de novos conhecimentos, e o
desenvolvimento se refere no que diz respeito à aplicação desses conhecimentos
adquiridos, ou seja, na pesquisa colocada em prática. Isso no contexto global, pode
explicar o contraste entre nações mais desenvolvidas e outras com um menor nível
de desenvolvimento. Para que ocorra uma melhor disseminação da pesquisa
realizada é importante haver uma inter-relação entre o processo tecnológico com os
processos econômicos e sociais, e isso significa que para que haja uma aplicação
na prática da inovação é preciso que os setores econômico e social sejam
envolvidos de maneira construtiva, ou seja, que propiciem um melhor ambiente para
facilitar o processo (FUCK; VILHA, 2012).

No campo econômico trata-se de modificar positivamente algo dentro da firma


ou no mercado em quem que esta está inserida. No campo social, trata-se da
aceitação e da demanda dos agentes sociais pelo produto ou processo inovativo,
caracterizando a pesquisa feita em um primeiro momento e a sua aplicação guiada
pela inter-relação dos agentes na prática que resulta no desenvolvimento. É
necessário entender que o ato de inovar não deve estar restrito somente às
empresas. É fundamental o papel de instituições de cunho governamental e das
universidades, pois produzem conhecimento e desenvolvem novas tecnologias. O
desafio das políticas públicas voltadas para ciência, tecnologia e inovação é articular
a cooperação entre esses atores (ZAMBERLAN; SONAGLIO, 2004).

Esse processo é o diferencial entre o desenvolvimento das nações, e, por


conseguinte pela competitividade entre as empresas desses países. Para a
25

aplicação de P&D é necessário, além da interação do processo de inovação com os


agentes econômicos e sociais, investimento para tal fim. Tanto investimento
financeiro, como de ideias e recursos humanos. Nesse sentido, os atores envolvidos
são: as empresas, que estão no centro da inter-relação dos atores, buscam inovar
por meio de algum processo ou de produto, e determinam a velocidade do processo
de mudança tecnológica; as instituições de pesquisa como, por exemplo, a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, e as universidades, que geram o
conhecimento necessário no processo de inovação e devem caminhar lado a lado
com as empresas para se concretizar o desenvolvimento; e o Estado que atua como
o principal fomentador para a difusão tecnológica e o desenvolvimento do país
(ZAMBERLAN; SONAGLIO, 2004).

O Estado age, continuam Zamberlan e Sonaglio (2004), para fomentar essa


interação entre os atores, motivando as partes envolvidas por meio de redução de
tributos, fornecimento de crédito e implementação de linhas de crédito que
impulsionem às empresas a investirem em P&D por meio propagação da inovação
na economia, ou seja, contribuindo assim para a formação de um sistema de
inovação como se pode observar na figura 1.

Figura 1: Interação entre Estado, Empresas e Instituições de Pesquisa na fomentação de inovação


por meio de P&D.

FONTE: ZAMBERLAN; SONAGLIO, 2004, p.111.


26

Por meio desse processo onde se privilegia a Pesquisa e o Desenvolvimento


para se obter inovação é visto uma inter-relação entre diferentes agentes, fazendo
parte o Estado, empresas e as instituições de pesquisa, que criam um sistema, uma
cadeia inovativa. Em países desenvolvidos essa prática é bastante utilizada para se
almejar o desenvolvimento das firmas e dos mercados nacionais. Por isso os
governos investem em instituições de pesquisa, como as universidades, e no elo
delas com as firmas, por meio de subsídios e menores taxas de impostos.

Essa prática é formada de maneira endógena, ou seja, sem a participação


direta advinda do exterior, uma vez que o Estado é guiado pelo governo nacional,
que fomenta empresas e instituições de pesquisa nacionais para gerar um
conhecimento e colocá-lo em prática em prol de se beneficiar as firmas nacionais e o
mercado local. Em um segundo momento fazer com que tanto as empresas do país
quanto o mercado interno tenham, por meio da inovação de processos e produtos
adquiridos por P&D, vantagens competitivas com outras empresas e mercados
externos. O que acarreta em um maior dinamismo no comércio internacional, maior
grau de competitividade de empresas nacionais e, por conseguinte, em um maior
desenvolvimento econômico da nação. No Brasil, essa prática voltada para a
indústria manufatureira ainda é pequena se comparada a de países mais
desenvolvidos, o que faz o país ter uma menor fatia no fluxo do comércio global, e
menos competitividade frente à empresas externas. Há baixos investimentos em
instituições de pesquisa, e uma limitação de subsídios concedidos pelo Estado,
assim como poucas fontes de créditos para se obter investimento, mas isso será
melhor abordado no capítulo seguinte.

3.1.2.2 Aquisição de Conhecimentos Tecnológicos Advindos do Exterior

Outra forma de se obter conhecimento tecnológico é por meio de experiências


e de know how trazidos do exterior. Pode ser uma forma menos clássica e atingir um
menor número de agentes envolvidos, se comparado com a aplicação de P&D.
Porém, é uma maneira em alguns casos mais prática de se adquirir um processo
inovativo, principalmente quando o país tem dificuldades de criar mecanismos
suficientes de P&D e a inter-relação entre estes atores.
27

Exemplo disso é o caso chinês, que teve essa percepção e, aproveitando da


economia global vigente, fez a abertura para os investimentos estrangeiros através
de alianças com empresas estatais, que além de fazer competir seus produtos de
forma plena, absorveu conhecimento técnico, difundindo para a sua cadeia de
produção maiores valores tecnológicos. Nesse sentido, a inserção de Investimento
Externo Direto (IED) fez com que aumentasse a participação mundial das
exportações chinesas no mundo, favorecendo o acesso às fontes externas e de
capital e tecnologia avançada e introduzindo modernas técnicas administrativas nas
empresas chinesas. Assim, esses fatores foram determinantes para a nova estrutura
do gigante asiático, pois, era concedida às firmas externas a permissão apenas com
a associação com empresas nacionais chinesas, por meio de joint-ventures. A
atração dos investimentos externos veio com benefícios fiscais e tarifários por parte
do governo. Mas em um primeiro momento, o governo chinês limitou esse acesso
apenas nas províncias costeiras do país, o que permitia executar e analisar os
impactos da entrada de IED se era benéfico, e se poderia mais adiante se expandir
para outras províncias no país (IPEA, 2011).

Assim, continua a pesquisa do IPEA (2011), aquisição de IED é uma opção


para se adquirir fomentação necessária para se investir em inovação, porém essa
alternativa ser um fim em si mesma pode tornar essa prática parte de um clico
vicioso, no qual as empresas nacionais, e o mercado do país no geral dependam
sempre de fundos advindos do exterior, o que significa ficar à mercê de outro ator
estrangeiro. E em um mercado global que na atual conjuntura é extremamente
dinâmico, depender de um agente externo que é, ou poderá ser em um dado
momento, seu concorrente na corrida mercantil, faz dessa prática quando constante
e por longo período um malefício para o mercado nacional. Por isso, há maneiras
mais benéficas de se utilizar de IED, como a empregada pelo gigante asiático, que
na forma joint venture obteve investimento externo, abrindo seu mercado interno,
mas com o passar dos anos exigiu em troca experiências e know how dos
investidores externos para as suas empresas nacionais.

Joint venture se trata então de uma aliança entre empresas com o objetivo de
realizar uma atividade econômica visando o lucro de ambas, mas além disso, essa
parceria proporciona know how que permite obter vantagens e superar obstáculos
em um mercado, tanto nacional quanto internacional, beneficiar de novas
28

tecnologias, e se tornar mais competitiva no ambiente em que estão inseridas. Cabe


então por parte dos países receptores de IED, e de seus respectivos governos,
barganhar a sua abertura de mercado com opções mais favoráveis e rentáveis para
o seu mercado interno, seja em médio ou longo prazo.

3.1.2.3 Aquisição de Máquinas, Equipamentos, Softwares e Sistemas Advindos do


Exterior

Esse procedimento ocorre quando uma empresa inserida em determinado


país adquire máquinas, equipamentos, softwares, sistemas etc. vindos de outro país.
A inovação ocorre quando a empresa desse país compra algum desses itens
advindos do exterior para usar na sua produção. Esse tipo de prática é comum na
inovação de processo e principalmente na indústria produtora de bens de capital.
Mas em um primeiro momento sendo apenas uma alternativa para a inovação de
processo, pode acarretar em uma inovação de produto, pois:

Outra questão relevante é a forte relação entre inovação de processo e


inovação de produto. A aquisição de máquinas novas pode induzir a
inovação de produto na mesma firma. Uma nova máquina em geral tem
maiores possibilidades técnicas e maior grau de flexibilidade. Atualmente, o
coração das máquinas e, mais importante ainda, dos sistemas de máquinas
é o software que as opera. A capacidade de criação de novos produtos é
potencializada com a introdução de novas máquinas e sistemas, abrindo
oportunidades para a criatividade de operários, engenheiros e empresários
(PROCHNIK; ARAÚJO, 2005, p.20).

Portanto, essa forma de implementação de inovação é mais prática e a curto


prazo não exige investimentos em P&D, no entanto não significa que em um médio
ou longo prazo essa alternativa não se transforme em algo mais complexo e com
maior investimento e geração de conhecimento. Então essa pode ser a maneira de
algumas empresas em desenvolver inovação. Mas essa forma não é tão “nobre”
quanto a inovação por meio de P&D. Podendo a inovação ser por meio do produto,
do processo de produção, ou por ambos.
29

3.2 POLÍTICAS E AÇÕES GOVERNAMENTAIS VOLTADAS, A PARTIR DE


1994, PARA A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA BRASILEIRA

Na atual conjuntura é necessária por parte das nações, a compreensão de


que a economia nacional é parte de uma grande integração internacional. Nesse
cenário, destaca-se que para romper as fronteiras nacionais e conseguir competir no
mercado internacional, os Estados nacionais devem se fortalecer além do espaço
interno para se desenvolver, ou seja, a política do Estado também deve criar um
caráter transnacional no que se refere à competição de produtos. Mas isso só seria
possível caso os países focassem na internalização da revolução técnico-científica
no processo de produção para poderem fazer frente a concorrentes internacionais.

No Brasil há restrições importantes nos processos decisórios, uma vez que as


empresas têm restrição de crédito para financiar seu investimento de longo prazo e
este fator é particularmente relevante para o financiamento de atividades que
busquem novos conhecimentos, como Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) próprio.
É importante ressaltar, no entanto, nem todo investimento em máquinas e
equipamentos está associado à inovação tecnológica. Uma parcela significativa do
investimento em bens de capital está associada à expansão da capacidade
produtiva da firma, ou seja, produzir mais do mesmo produto. Nesse sentido, este
capítulo abordará a importância do Estado na fomentação de inovação para as
empresas; as fontes de linha de crédito para as empresas brasileiras e os desafios
estabelecidos; e os incentivos do governo do Brasil por meio de programas e leis
que beneficiam a inovação da indústria manufatureira, a partir de 1994.

3.2.1 Importância do Estado na Fomentação de Inovação para as Empresas

Em uma época de comércio internacional extremamente dinâmico, os países,


visando trazer o máximo de benefícios para seus interesses, buscam diversos
mecanismos para conseguir obtê-los. Um dos principais interesses para as nações
é a riqueza, e isso se gera por meio do desenvolvimento econômico, que por sua
30

vez pode ser obtido por diferentes formas, e uma delas é por meio de um setor
industrial forte. Um setor industrial forte significa que o país consegue competir de
maneira simétrica com concorrentes externos, tanto no mercado nacional quanto em
âmbito global. Nesse sentindo, é comum por parte dos Estados criarem instrumentos
em prol de aumentar o desempenho da sua indústria, tal como o fornecimento de
subsídios, diminuição de taxação de impostos, linhas de crédito com juros mais
baixos, programas de fomento à inovação etc.

Outra importância atribuída ao Estado é a proteção que este exerce sobre seu
mercado, logo, sobre sua indústria nacional. Essa proteção existe para inibir a
expansão desenfreada de empresas externas dentro do mercado interno, mas há
condições estabelecidas para o uso deste artificio para que não haja irregularidades,
segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Cada país, visando seus
próprios interesses, pratica esse tipo de proteção de forma distinta, uns em maior
grau como o Brasil e outros em menor grau como o Chile, e em diferentes setores
como o industrial, agropecuário, financeiro etc. que mais os beneficiam
especificamente. Alguns métodos de protecionismo são: o aumento da carga
tributária sobre a importação de gêneros agrícolas e manufaturados; criação de
diversas regras e normas para a entrada de produtos estrangeiros; utilização de
subsídios para baratear os produtos nacionais.

Nesse sentido, ao mesmo tempo em que o Estado defende o mercado interno


dos concorrentes estrangeiros das suas empresas nacionais, ele promove subsídios
que podem facilitar a inserção de produtos e serviços produzidos no mercado local
para outros mercados externos. No entanto, como o protecionismo já existe há
alguns séculos, pois foi muito utilizado na Europa durante a fase do mercantilismo,
os países competidores da atual conjuntura global perceberam essa prática e a
utilizam, encarecendo produtos estrangeiros no mercado nacional e barateando
produtos internos no exterior. Essa prática pode ocorrer de maneira legítima,
fundamentada nos critérios da OMC, ou ser utilizada de forma “desleal” como
configura o órgão, o que pode acarretar em sanções para os países infratores.

Entre as desavenças comerciais entre os países ao redor do globo, podem-se


destacar dois grandes grupos onde essas nações estão inseridas: O grupo de
países desenvolvidos, que em sua maioria busca implantar seus produtos industriais
em outros países, mas ao mesmo tempo não dando a devida abertura (segundo as
31

nações em desenvolvimento) do seu mercado local para produtos advindos do


exterior, principalmente de cunho agropecuário; e o grupo de países emergentes, no
qual está inserido o Brasil, que em sua maioria tentam fixar suas commodities nos
mercados estrangeiros, mas em contrapartida (segundo as nações mais ricas) não
dão o devido grau de liberalização de produtos externos, principalmente de cunho
industrial. Isso ocorre porque países mais desenvolvidos já passaram pelo processo
de ampliação e fortalecimento da sua indústria, o que gera muito mais valor
agregado dos seus produtos frente às commodities exportadas pelas nações menos
desenvolvidas.

O desenvolvimento de uma indústria só é possível por meio de inovação


tecnológica, e há diferentes formas de inseri-la em um mercado, como foi
observado. O papel do governo estatal é de fundamental importância nesse
processo, pois por meio dele que é articulado planos, estratégias políticas,
programas de fomento à inovação, leis criadas referentes ao tema, e a interação
entre os diferentes agentes envolvidos no procedimento inovativo como instituições
de pesquisa e as empresas nacionais.

No Brasil esse processo ainda é tímido e polarizado em apenas algumas


regiões do país, o que dificulta a disseminação do desenvolvimento industrial. Nesse
sentido, é necessário por parte do governo investir nessa revolução tecnológica, que
é mutável e quem melhor se adaptar à dinâmica global do comércio levará
vantagens competitivas com a concorrência externa. Portanto, se o fator inovação é
crucial para o desenvolvimento, os investimentos são para a P&D. Só por meio
desses investimentos, é possível obter a difusão tecnológica.

Esse processo como o diferencial entre o desenvolvimento das nações, e, por


conseguinte pela competitividade entre as empresas desses países. No Brasil, no
entanto, P&D é financiado em sua grande maioria pela iniciativa privada, e não pelo
Estado. Os investimentos fomentados pelo Estado são em sua maioria realizados
pelo BNDES, mas essa concentração torna essa fonte menos acessível. Diferente
do que ocorre em muitos países mais desenvolvidos, como acontece na Coréia do
Sul, por exemplo, que apesar de ter maior parte de investimentos da própria
empresa, o Governo cede apoio significante em inovação até a empresa ter
capacidade para auto investir (ZAMBERLAN; SONAGLIO, 2004).
32

No Brasil, a inovação está presente nas áreas mais industrializadas, havendo


uma polarização em regiões específicas da nação, o que dificulta a disseminação
desta para o país como um todo. Nesse sentido, o fomento à inovação precisa ser
realizado em maiores proporções pelo Estado brasileiro, investindo em P&D e
aumentando o processo inovador na economia, e por consequência, na
competitividade de suas empresas.

3.2.2 As Fontes de Linha de Crédito para as Empresas Brasileiras e os


Desafios estabelecidos

O atual contexto econômico necessita de investimentos massivos para


aumentar a capacidade das empresas em competir. Seja no mercado local com
competidores externos, seja no comércio internacional com atores de diversos
países. Investimentos esses, baseados em conhecimento que geram a inovação
tecnológica. Porém, para que esse procedimento seja concretizado são necessários
investimentos, que podem ser traduzidos em alguns tipos de incentivo, como em
linhas de crédito ofertadas às empresas de um determinado país. Assim, o crédito
tem um papel muito importante para a abertura de possibilidades, no que se refere
ao desenvolvimento econômico e a inovação tecnológica, pois:

O crédito tem papel fundamental nas inovações, permitindo ao empresário


gerar novas combinações de meios produtivos que serão aplicadas em: i)
introdução de um novo bem, ou de uma nova qualidade de um bem; ii)
introdução de um novo método de produção, ou uma nova maneira de
comercializar uma mercadoria; iii) abertura de um novo mercado; iv)
conquista de uma nova fonte de matérias-primas, ou de bens
intermediários; e, v) estabelecimento de uma nova forma de organização de
qualquer indústria (ZAMBERLAN; SONAGLIO, 2004, p. 108-109).

No caso da economia brasileira, o mercado ainda é pouco desenvolvido em


comparação com países desenvolvidos. Isso muito se deve aos poucos
investimentos realizados em P&D, pois, há muito tempo que considerável parte de
fonte para investimentos em longo prazo vem do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Então, para se inovar em tecnologia
o melhor caminho é P&D, e para se obter P&D é necessário investir e para investir é
33

indispensável a criação de novos mecanismos de obtenção de crédito por parte das


firmas (NEGRI; LEMOS, 2011).

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2010) o crédito à


Indústria brasileira enfrenta dois problemas estruturais, que são as altas taxas de
juros e a dificuldade no acesso do financiamento. A partir da década de 1990 o
Brasil conseguiu superar alguns entraves que justificavam o elevado valor dos
empréstimos realizados à indústria, pois estabeleceu uma nova moeda (o Real) e
conseguiu estabilizar a economia e a superinflação decorrente da década anterior.
Porém a taxa de juros básica da economia (Selic) ainda continua elevada para os
padrões internacionais, o que dificulta o acesso das empresas (principalmente para
as micro e pequenas) ao crédito, diminuindo por consequência a competitividade
destas.

Outros empecilhos que atrapalham a captação de crédito pelas empresas


nacionais são o alto teor burocrático inerente (é necessário atualmente a
apresentação de um grande número de documentos o que torna o procedimento
lento e caro) do país e a insegurança jurídica. Cabe ao empresário, então, duas
opções: financiar com seus recursos próprios a sua empresa ou desistir do
investimento

Nesse sentido, para sanar algumas deficiências que limitam o


desenvolvimento da indústria manufatureira nacional, e o desenvolvimento
econômico do Brasil cabem algumas estratégias, principalmente por parte do
governo estatal, que visem beneficiar a nação. O crédito é fundamental para se
investir em inovação e desenvolver o setor, portanto é imprescindível no resultado
final. Há a maior parte dos investimentos feitos pelas próprias empresas, mas existe
também a fomentação de cunho público que deve ser maior para estimular o
mercado a inovar (ZAMBERLAN E SONAGLIO, 2011).

Outras opções alternativas podem ser favoráveis para a aplicação do


processo inovativo, como a criação de parcerias (joint ventures) e a captação de
investimentos advindos do exterior como acontece em outras regiões do globo.
Assim, entre os principais desafios para crescimento do setor no país estão:

 Promover um cenário macroeconômico que conduza a taxas de juros


reduzidas e compatíveis às praticadas no mercado mundial;
34

 Desenvolver políticas que façam com que a redução dos juros


básicos da economia leve também à diminuição das taxas de juros
bancárias;
 Facilitar o acesso ao crédito de forma mais igualitária e justa,
beneficiando os bons pagadores, pela aprovação do cadastro positivo;
 Estimular a expansão do mercado de capitais e ampliar o acesso das
empresas a formas alternativas de financiamento não bancário;
 Promover segurança jurídica e regulatória para credores, poupadores
e acionistas (CNI, 2010, p. 97)

Nesse sentido, essa sessão abordou as principais fontes de linhas de crédito


para a indústria de transformação no Brasil e os desafios necessários para a
aplicação desse fator no processo inovativo. Conclui-se que há limitação em
distintos tipos de fontes para crédito, e que os desafios são diversos, visto a
dinâmica da economia, e só com a participação interativa do Estado com as
empresas será possível superá-los.

3.2.3 Os Incentivos do Governo Brasileiro por meio de Programas e Leis que


Beneficiam a Inovação da Indústria Manufatureira, a partir de 1994.

A abertura comercial no país, de forma mais intensa, começou a partir da


década de 1990, no governo Collor com a abertura econômica e no seu sucessor,
Itamar Franco com a implantação do Real como moeda nacional, superando a
instabilidade inflacionária e estabilizando a economia (ZAMBERLAN; SONAGLIO,
2004).

Visto as fragilidades da indústria, o Governo brasileiro tomou algumas


medidas para dinamizá-la. Nesta sessão serão abordadas as principais Leis e
programas de fomentação por parte do governo brasileiro em prol da inovação do
setor industrial de transformação no Brasil, que apesar de ainda limitado se
comparado com concorrentes externos, busca almejar um patamar de maior nível no
cenário internacional.

Nesse sentido, cabe destacar primeiramente, a constituição de Fundos


Setoriais de Ciência e Tecnologia (1999), que são instrumentos de financiamento de
projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no Brasil, melhorando
35

significativamente o sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). Segundo a


Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP):

Desde sua implementação nos anos recentes, os Fundos Setoriais têm se


constituído no principal instrumento do Governo Federal para alavancar o
sistema de CT&I do País. Eles têm possibilitado a implantação de milhares
de novos projetos em ICTs, que objetivam não somente a geração de
conhecimento, mas também sua transferência para empresas. Projetos em
parceria têm estimulado maior investimento em inovação tecnológica por
parte das empresas, contribuindo para melhorar seus produtos e processos
e também equilibrar a relação entre investimentos públicos e privados em
ciência e tecnologia. A criação dos Fundos Setoriais representa o
estabelecimento de um novo padrão de financiamento para o setor, sendo
um mecanismo inovador de estímulo ao fortalecimento do sistema de C&T
nacional. Seu objetivo é garantir a estabilidade de recursos para a área e
criar um novo modelo de gestão, com a participação de vários segmentos
sociais, além de promover maior sinergia entre as universidades, centros de
pesquisa e o setor produtivo. Os Fundos Setoriais constituem ainda valioso
instrumento da política de integração nacional, pois pelo menos 30% dos
seus recursos são obrigatoriamente dirigidos às Regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste, promovendo a desconcentração das atividades de C&T e a
consequente disseminação de seus benefícios (FINANCIADORA DE
ESTUDOS E PROJETOS, 2013).

Outra importante Lei que se destaca no que se refere ao incentivo de


financiamento é a Lei nº 10.973/2004, conhecida como Lei da Inovação. Ela
representou um novo paradigma para uma maior disseminação do conhecimento
gerado pelas universidades e outras instituições de pesquisa em interação com o
setor produtivo (MORAIS, 2008). Assim, a Lei da Inovação conseguiu instituir um
amplo conjunto de ações para o desenvolvimento tecnológico:

a) Criou as condições legais para a formação de parcerias entre universidades,


instituições privadas de C&T sem fins lucrativos e empresas;
b) Concedeu flexibilidade às instituições de ciência e tecnologia (ICT) públicas para
participar de processos de inovação, ao permitir-lhes a transferência de
tecnologias e o licenciamento de invenções para a produção de produtos e
serviços, pelo setor empresarial, sem a necessidade de licitação pública;
c) Estabeleceu condições de trabalho mais flexíveis para os pesquisadores de ICT
públicas, que, a partir de então, podem afastar-se do trabalho para colaborar com
outras ICT, ou mesmo para desenvolver atividade empresarial inovadora própria;
e;
d) Criou modalidade de apoio financeiro por meio de subvenção econômica direta
para as empresas, com vistas ao desenvolvimento de produtos ou de processos
inovadores, entre outros mecanismos para a modernização tecnológica dos
agentes públicos (MORAIS, 2008, pag. 71-72).

A Lei 11.196/05, conhecida como Lei do Bem, concede incentivo fiscal às


pessoas jurídicas que realizem P&D de inovação tecnológica. Sendo esse conceito
amplo, foram definidos três grupos que se enquadram nesse incentivo:
36

 Pesquisa básica ou fundamental: consiste em trabalhos experimentais


ou teóricos realizados principalmente com o objetivo de adquirir novos
conhecimentos sobre os fundamentos dos fenômenos e fatos
observáveis, sem considerar um aplicativo ou um uso em particular.
 Pesquisa aplicada: consiste na realização de trabalhos originais com
finalidade de aquisição de novos conhecimentos; dirigida
principalmente a um objetivo ou um determinado propósito prático.

 Desenvolvimento experimental: consiste na realização de trabalhos


sistemáticos, baseados em conhecimentos pré-existentes, obtidos por
meio de pesquisa e/ou experiência prática, tendo em vista a fabricação
de novos materiais, produtos ou processos, sistemas e serviços ou
melhorar significantemente os já existentes (F. INICIATIVAS, 2013).

No Brasil, em âmbito federal, as principais agências de fomento à inovação


são: a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que são vinculados ao Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Há de se destacar que o nome desse
Ministério acrescentou-se o termo “Inovação” apenas em 2011, sendo anteriormente
chamado apenas de Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o que indica a
importância do tema (FUCK; VILHA, 2012).

Alguns dos principais programas relativos à inovação realizados por essas


agências vinculadas ao MCTI, criadas apenas a partir do começo dos anos 2000,
buscam fomentar a prática da inovação tecnológica das empresas nacionais.
Programas esses que abordam alguns principais grupos dentro do mercado, como:
empresas de grande porte como no programa Pró-inovação que busca financiar
empresas que respeitem os requisitos e que contenham projetos de P&D; empresas
que queiram investir em mestres e doutores dentro de seu interior, como o programa
Subvenção Pesquisador na Empresa de 2004; e também sobre pequenas e médias
empresas que busquem inovar o seu produto ou processo de produção, como no
projeto Juro Zero. Como pode ser evidenciado na tabela 1:
37

Tabela 1: Principais programas relativos à inovação tecnológica no Brasil.

Programa Agência Anos Objetivo


Responsável Operados

RHAE – CNPq A partir de Atender a demanda de empresas em relação ao


Inovação 2002 engajamento e à capacitação tecnológica de
recursos humanos necessários às suas atividade de
P&D, buscando melhoria tanto no mercado interno
quanto externo.

PAPPE Finep A partir de Financiar atividades de P&D de produtos e


2004 processos inovadores, empreendidos por
pesquisadores que atuem diretamente ou em
cooperação com empresas.

Subvenção Finep A partir de Ampliar as atividades de inovação, desenvolvimento


Econômica 2006 de processos e produtos inovadores e incrementar a
competitividade nas empresas e da economia do
país.

Subvenção Finep A partir de Apoiar atividades de pesquisa tecnológica e de


pesquisador na 2004 inovação, mediante a seleção de propostas para
empresa apoio financeiro a projetos que visem estimular a
inserção de mestres e doutores nas empresas.

Pró-inovação Finep A partir de Financiamento com encargos reduzidos para


2004 projetos de P&D por empresas brasileiras com
faturamento acima de R$ 10,5 milhões.

Juro Zero Finep A partir de Estimular o desenvolvimento de médias e pequenas


2004 empresas inovadoras nos aspectos gerenciais,
comerciais, de processo ou de produto, viabilizando
o acesso ao crédito por parte dessas empresas.

Inovação BNDES A partir de Apoiar projetos tecnológicos de empresas que


Tecnológica 2006 busquem o desenvolvimento de produtos e/ou
processos novos ou significantemente aprimorados.

Capital Inovador BNDES A partir de Apoiar empresas para a construção da


2008 infraestrutura física e do capital tangível e intangível
necessários à realização de atividades de inovação.

Projeto Inovar Finep A partir de Promover o desenvolvimento das pequenas e


2000 médias empresas brasileiras de base tecnológica,
por meio de desenvolvimento de instrumentos para
o seu financiamento.

CRIATEC BNDES A partir de Fundo de investimento em novas empresas


2007 voltadas à inovação.

Fonte: MACANEIRO; CHEROBIM, 2009, p.297. Baseado em dados do MCTI (BRASIL, 2008), da
Finep (2008), do BNDES (2008) e do CNPq (2008).
38

Sendo assim, pode-se identificar essas estratégias políticas por meio de leis e
programas a partir da década de 1990 para impulsionar a pesquisa e inovação no
Brasil. Porém, os esforços no país ainda se deparam com grandes obstáculos, pois
o norte das inovações em âmbito mundial é ditado pelos países mais desenvolvidos.
Se a agenda mundial é ditada pelos países desenvolvidos, os bens produzidos por
esses países detém, por consequência, maiores possibilidades de competitividade
(FUCK; VILHA, 2012). Então, para países emergentes como o Brasil é necessário
superar essa desigualdade.

3.3 A DIFUSÃO TECNOLÓGICA PARA A CADEIA PRODUTIVA NO BRASIL EM


RELAÇÃO À CHINA E ÍNDIA.

A adoção de estratégias e práticas inovativas são vistas, na atual conjuntura,


como essenciais no processo de diferenciação, competitividade e em um aumento
cada vez maior de negócios. A adoção dessas estratégias e práticas inovativas nas
empresas está fundamentalmente associada com a busca de diferenciação, que
gera uma capacidade de competitividade de produtos e serviços produzidos em
relação a outros competidores (FUCK; VILHA, 2012). Nesse sentido, a aplicação da
inovação nas empresas e, por conseguinte, em determinados setores da economia
(como o industrial), cria um maior grau de competitividade das empresas inseridas
nesse contexto.

No caso da indústria de transformação, esse fator é de suma importância,


pois nesse setor o valor do bem produzido é medido de acordo com sua agregação
tecnológica, seja por meio do produto em si, seja por meio do processo de produção
do bem. Produtos e processos de produção de baixo teor tecnológico têm menor
valor agregado porque possuem menos conhecimento técnico na realização da sua
produção. Já produtos e processos de fabricação com alto grau de técnica, onde
diversas pesquisas são realizadas para a concepção do produto, possuem um valor
mais alto no mercado. Isso reflete na competição entre produtores que, ao mesmo
tempo que, irão querer produzir produtos que no final gerem mais receita, irão
39

querer também ter um menor custo para essa produção, o que vai resultar em um
produto de alto valor agregado e com um menor preço no mercado. Por meio dessa
agregação tecnológica, portanto, as empresas adquirem qualidade necessária para
serem competitivas no mercado em que estão inseridas.

Para isso é necessário existir o fator inovação, que gera a revolução técnico-
científica, e permite a competição das empresas, e dos países nos quais estão
inseridas essas empresas em um comércio extremamente dinâmico, como é o que
as nações estão presentes na atualidade (IPEA, 2011).

No caso do Brasil, há problemas e desafios para uma maior competitividade


da sua indústria de transformação, tanto no comércio internacional, como na
concorrência com indústrias estrangerias implantadas no país. Os problemas partem
de uma dificuldade de interação das empresas, instituições de pesquisa e do
governo que são os três eixos fundamentais da prática inovativa na indústria, como
visto nos capítulos anteriores. Os desafios são muitos, mas estão ligados a esses
três atores que permeiam a difusão tecnológica dentro do país. Por parte deles há
esforços para uma maior presença da inovação no setor, mas ainda é baixo se
comparado com concorrentes externos mais desenvolvidos (ZAMBERLAN;
SONAGLIO, 2011).

As empresas brasileiras são as principais fomentadoras de inovação, e que


na maioria das vezes utilizam recursos próprios para a aquisição de um novo
produto ou processo de produção, seja por meio de P&D, seja pela obtenção de
máquinas advindas do exterior. É interessante por parte das empresas uma maior
pressão sobre o governo e as políticas voltadas para essa temática, assim como é
também, uma maior proximidade com instituições de pesquisa, pois assim como em
países mais desenvolvidos, é preciso mais universidades e demais instituições de
pesquisa nas empresas, e mais empresas nas universidades e demais instituições
de pesquisa. Exemplo disso são países como EUA, que possui grande quantidade
de empresas e de instituições de pesquisa por trás delas, e Coréia do Sul, onde
apesar de ter maior parte de investimentos da própria empresa, o governo cede
apoio significante em inovação até a empresa ter capacidade para auto investir
(ZAMBERLAN; SONAGLIO, 2011).

As instituições de pesquisa no Brasil, que deixando de lado as pesquisas


realizadas no campo agropecuário, são basicamente relacionadas às Universidades.
40

No entanto, é necessário que estas se aproximem mais do mercado, prestando


serviços e elaborando pesquisas científicas, que é a maneira mais sólida de traçar
em longo prazo o desenvolvimento do setor industrial, delineando uma maior
capacidade de inovação tecnológica e promovendo o desenvolvimento da economia
do país. No entanto, continuam Zamberlan e Sonaglio (2011), atualmente as
instituições de pesquisa no Brasil, principalmente as universidades, não são
aproveitadas da melhor forma, o que acarreta em um desperdício intelectual que
poderia gerar maior desenvolvimento para o setor e para o país em um todo. Outro
fator que pode explicar a distância do Brasil para outros atores no cenário
internacional e as dificuldades em se ampliar a relação entre as instituições de
pesquisa (nesse caso as universidades) e as empresas, e o porquê da deficiência de
patentes geradas pela indústria brasileira, é:

Os gastos públicos em P&D estão relacionados ao financiamento de


pesquisas em nível de pós-graduação e em Instituições Públicas de
Pesquisa. Aproximadamente três quartos dos cientistas trabalham no setor
acadêmico. Em 2008, cerca de 90% dos artigos científicos que colocaram o
Brasil em destaque no cenário internacional foram gerados em
universidades públicas. Além do pequeno número de pesquisadores no
setor privado, apenas 15% deles possuem mestrado ou doutorado (FUCK;
VILHA, 2012, p. 17).

O papel de gerenciador e promotor de interação entre as instituições de


pesquisa e as empresas deveria ser melhor protagonizado pelo Estado e suas
políticas econômicas, porém na prática ainda há grandes limitações nesse processo.
O Estado brasileiro procura promover a inovação tecnológica para a indústria
nacional, mesmo porque é o que ocorre nos demais países onde o setor é relevante
na economia. Mas essa promoção por parte do governo começou de forma mais
incisiva a partir da década de 1990, com a estabilização da inflação, com a adoção
do Plano Real, e uma maior abertura comercial do país (ZAMBERLAN; SONAGLIO,
2011). Nesse período o governo adotou algumas medidas públicas relacionadas
com ciência, tecnologia e inovação, como: a constituição dos Fundos Setoriais
(1999), Lei da Inovação (2004/05) e a Lei do Bem (2005), que apesar das suas
respectivas especificidades foram criadas para impulsionar a pesquisa e inovação
no Brasil.

Porém, em contrapartida é observado que os esforços no país ainda se


deparam com grandes obstáculos, pois o norte das inovações em âmbito mundial é
41

ditado pelos países mais desenvolvidos E se a agenda mundial é ditada pelos


países desenvolvidos, os bens produzidos por esses países detêm, por
consequência, maiores possibilidades de competitividade. Então, para países
emergentes como o Brasil é necessário superar essa desigualdade, e o governo tem
parcela fundamental nesse processo, estimulando o setor com políticas de incentivo,
diminuição de taxas de juros de empréstimos, maior número de financiadores de
crédito, subsídios para empresas que estão enfrentando forte concorrência
internamente, assim como apoio necessário para aquelas que querem se inserir no
mercado internacional, etc.

O setor industrial no Brasil é de grande importância para a economia,


gerando empregos, e fazendo parte de uma porcentagem significativa do PIB
nacional. Porém, apenas no período abordado (1994-2010) houve uma queda de
30% da participação do setor industrial na economia do país como é evidenciado na
tabela 2. Isso pode ser analisado com base nas limitações do processo inovativo no
Brasil, que está inserido em um ambiente econômico global extremamente dinâmico,
e assim se necessita de uma melhor adaptação dos países. Apesar dessa queda da
participação do setor relativa ao PIB nacional, o desempenho da indústria
manufatureira, em valores totais no período analisado (1994-2010), aumentou
conforme ilustrado no gráfico 1. Isso reflete que se o setor tivesse maior e melhor
atenção por parte do Estado, isso poderia gerar em mais riqueza para o Brasil.
42

Tabela 2: Contribuição setorial para o PIB do Brasil em termos relativos, entre 1994-2010, mas por
período.

Contribuição Contribuição Contribuição Contribuição Contribuição


para o PIB para o PIB para o PIB para o PIB para o PIB
Setor
(%), 1994 (%), 1998 (%), 2002 (%), 2006 (%), 2010

Agricultura 10 6 7 5 5

Indústria 40 25 27 29 28

Serviços 50 69 66 66 67

Total 100 100 100 100 100

Fonte: Elaboração própria baseada em dados do Banco Mundial.

Gráfico 1: Desempenho da indústria manufatureira brasileira em valores totais entre 1994-2010, por
períodos.

Indústria Manufatureira (1994-2010)


350 298
US$ Bilhões

300
250
200 162
125 117 Desempenho da
150 indústria manufatureira
73
100
50
0
1994 1998 2002 2006 2010
:

Fonte: Elaboração própria baseada em dados da UNSTATS.

Em um cenário global onde o comércio é extremamente dinâmico, as nações


necessitam de estratégias que visem obter vantagens competitivas com
concorrentes externos. No entanto, há diversas distinções estruturais e conjunturais
43

entre os países, o que acarreta em um panorama de países desenvolvidos


economicamente e outros ainda em desenvolvimento. Nesse sentido, cabem aos
países traçarem as melhores políticas que se adequem a sua realidade dentro do
contexto, observando mercados possíveis, assim como exemplos de sucesso a
serem seguidos de acordo com as similaridades existentes. Assim, o Brasil pode
exercer um papel mais importante no comércio global, assim como outros países
emergentes como a China e a Índia que fazem parte dos BRICS. Esse bloco tem
relevância na economia internacional, e isso se deve pelo papel de segunda força
econômica mundial (China), a sétima (Brasil), e a nona (Índia), em PIB, no ano de
2010, segundo o Banco Mundial. Nesse sentido, cabe ao Brasil se espelhar nos
exemplos que forma bem sucedidos no setor industrial desses outros dois países
emergentes.

3.3.1 A difusão tecnológica para a cadeia produtiva na China

A China é a segunda economia mundial (2010, Banco Mundial), e é a


principal e mais bem sucedida economia emergente na conjuntura estabelecida.
Essa condição só foi possível por estratégias estabelecidas pelo governo do país,
pois é importante recordar que a China é uma economia de mercado, mas com um
governo centralizado e unipartidário, o Partido Comunista da China. No atual cenário
é necessário, por parte dos países, a percepção que estes estão integrados em um
grande sistema internacional, complexo, e com uma gama de oportunidades a
serem preenchidas. Nesse sentido, a China teve essa percepção e, aproveitando da
economia global vigente, fez a abertura para os investimentos estrangeiros através
de alianças com empresas estatais, que além de fazerem competir seus produtos de
forma plena, absorveu conhecimento técnico, difundindo para a sua cadeia de
produção maiores valores tecnológicos (IPEA, 2011).

Na China, os setores da economia que fatiam o PIB do país tiveram sua


porcentagem entre 1994-2010, como evidenciado na tabela 3, onde pode se
observar em análise comparativa com o Brasil que, apesar da mudança de fluxo da
agricultura para o setor de serviços como ocorreu no país latino, houve uma relativa
estabilidade no setor industrial do país, e que corresponde à maior fatia do PIB
chinês. Isso reflete a posição da China no atual cenário econômico internacional,
44

onde por meio de planejamento estratégico e força do setor industrial fez com que
esse país tivesse grande desenvolvimento do PIB. O desempenho da indústria
chinesa em valores totais no período entre 1994-2010, conforme o gráfico 2.

Tabela 3: Contribuição setorial para o PIB da China em termos relativos, entre 1994-2010, mas por
período.

Contribuição Contribuição Contribuição Contribuição Contribuição


para o PIB para o PIB para o PIB para o PIB para o PIB
Setor
(%), 1994 (%), 1998 (%), 2002 (%), 2006 (%), 2010

Agricultura 20 18 14 11 10

Indústria 46 46 45 48 47

Serviços 34 36 41 41 43

Total 100 100 100 100 100

Fonte: Elaboração própria baseada em dados do Banco Mundial.


45

Gráfico 2: Desempenho da indústria chinesa em valores totais entre 1994-2010, por períodos.

Indústria chinesa (1994-2010)


2,374
2,500
US$ Bilhões

2,000

1,500
1,145 Desempenho de
Mineração, Manufatura e
1,000
573 Utilidades ¹
411
500 227

0
1994 1998 2002 2006 2010

Fonte: Elaboração própria baseada em dados da UNSTATS.1

A grande escalada chinesa no comércio internacional, com o resultado de se


tornar uma das principais potências econômicas vigentes, ocorreu a partir do final da
década de 1970, com o governo de Deng Xiaoping, até sua grande ascensão no
comércio mundial nos anos 2000. A posição central da China foi assumida pelo
comércio exterior. O comércio passava a ter um objetivo único da busca pela
autossuficiência, o que acarretou em um impulso fundamental para o
desenvolvimento do país. Mais do que aumentar as exportações, o governo
incentivou para que elas fossem direcionadas para os setores mais dinâmicos da
escala global (CHERNAVSKY; LEÃO, 2011). Os principais fatores que modificaram
esse cenário foram:

Primeiro se refere à rápida expansão dos fluxos de comércio e da


participação chinesa no comércio global, resultante da liberalização
comercial fortemente administrada pelo Estado nacional, que culminou na
drástica diminuição da quantidade e alcance dos controles existentes,
levada a cabo pelas políticas governamentais adotadas no período. O
segundo processo, que se inicia num momento à frente e passa a ocorrer
simultaneamente ao primeiro, do qual é em parte produto, consiste na
sofisticação da pauta do comércio externo do país, que resultou na
consolidação de um setor exportador dinâmico e com crescente intensidade

1
Entre o período de 1994 e 2002, não foi disponibilizado pelo UNSTATS os dados referentes ao setor
manufatureiro chinês. Por isso, no gráfico foi demonstrado o setor de manufatura juntamente a outros setores.
Nos períodos posteriores observados o setor de manufaturados teve um desempenho de valores em 2006 de
US$ 893 bilhões (onde o desempenho de mineração, manufatura e utilidades foi de US$ 1.145 bilhões), e em
2010 o desempenho de valores totais do setor de manufatura foi de US$ 1.924 bilhões (onde o desempenho de
mineração, manufatura e utilidades foi de US$ 2.373 bilhões) segundo a UNSTATS. Isso reflete a força da
manufatura na China, e em comparação com os outros setores (mineração e utilidades) é o principal do
conjunto, por isso a utilização dos valores, mesmo que em conjunto, do gráfico 2.
46

tecnológica. O terceiro, que responde não somente à progressiva


liberalização do comércio, mas também às transformações geopolíticas e à
redefinição da divisão regional do trabalho na Ásia, concerne ao
redirecionamento dos fluxos de comércio, em especial das exportações.
(CHERNAVSKY; LEÃO, 2011, p.3).

Em um primeiro momento a China se transformou em uma plataforma de


montagem de produtos eletrônicos e de informática, uma vez que possui abundância
no fator mão de obra. Mas nos últimos anos, observou-se o crescimento das
exportações de máquinas e equipamentos de transporte, além da diversificação e
sofisticação das exportações de eletrônicos, setores de caráter mais intenso de
tecnologia. Para esse fim, a China combinou a expansão das exportações das
empresas estatais com a descentralização administrativa, que permitiu uma rápida
ampliação das corporações dedicadas às exportações e à incorporação de novas
regiões voltadas para o comércio exterior. A segunda medida tomada, mas não
menos importante, foi a extensão dos direitos de comércio a outros tipos de
companhias que não empresas do Estado (CHERNAVSKY; LEÃO, 2011).

Nesse sentido, a inserção de Investimento Externo Direto (IED) foi permitido


para alcançar o aumento da participação mundial das exportações chinesas no
mundo, favorecer o acesso às fontes externas e de capital e tecnologia avançada e
introduzir modernas técnicas administrativas nas empresas chinesas. Consideram
que esses fatores foram determinantes para a nova estrutura do gigante asiático,
pois, era concedida às firmas externas a permissão apenas com a associação com
empresas nacionais chinesas, por meio de joint-ventures. A atração dos
investimentos externos veio com benefícios fiscais e tarifários por parte do governo.
Mas em um primeiro momento, o governo chinês limitou esse acesso apenas nas
províncias costeiras do país, o que permitia executar e analisar os impactos da
entrada de IED se era benéfico, e se poderia mais adiante se expandir para outras
províncias (CHERNAVSKY; LEÃO, 2011), como é evidenciado:

Se, por um lado, o governo permitia que as empresas multinacionais


usufruíssem das vantagens econômicas estabelecidas e de uma imensa
oferta de mão de obra relativamente qualificada e de baixíssimo custo,
assim como, posteriormente, explorassem o potencial do enorme mercado
consumidor chinês, por outro lado, direcionava-as para atuarem em setores
exportadores de bens de maior intensidade tecnológica. Este
direcionamento atendia aos objetivos de modernização econômica,
aumentando a competitividade do parque produtivo e a sofisticação dos
bens produzidos e exportados pelo país (CHERNAVSKY; LEÃO, 2011,
p.24).
47

O governo chinês, continuam Chernavsky e Leão (2011), agiu de forma


pragmática ao abrir gradualmente o seu comércio, podendo assim controlar o ritmo
da liberalização das importações e da promoção das exportações. Com a permissão
da inserção de empresas estrangeiras e a liberdade para importar, somando-se à
concessão de benefícios fiscais, financeiros e cambiais concedidas para que elas se
voltassem para a exportação, acarretou, segundo os autores, na principal inovação
do governo para o desenvolvimento das exportações.

É percebido então, que a prática inovativa na China, e principalmente no setor


industrial, ocorreu na forma de aquisição de investimentos externos diretos e na
concessão de licenças para empresas estrangeiras, que em um segundo momento
acarretou em parcerias joint ventures para as empresas chinesas, que puderam
assim adquirir o know how advindos do exterior. Com o conhecimento e a técnica
absorvidos, coube ao gigante asiático o seu boom no comércio internacional. Isso
ocorreu também por questões intrínsecas do país, como uma grande população e
logo mão de obra abundante, além de um governo centralizado e unipartidário, o
que facilita uma planificação de médio e longo prazo em um Estado. Outro fator que
auxiliou na grande expansão chinesa no comércio internacional, foi a conjuntura
global favorável ao tipo de inserção comercial que o país almejava. Esses fatores,
somados às estratégias planificadas pelo Estado chinês resultaram em um das mais
impressionantes evoluções econômicas da história, dado o relativo curto período de
tempo desse processo.

Nesse sentido, o que o Brasil pode absorver dessa experiência, é que um


país pode desenvolver sua indústria, e a sua economia em um todo, com diferentes
tipos de modelos, não só por meio de P&D. É importante observar no entanto, quais
são os contextos e particularidades tanto do viés interno quanto no cenário
internacional, para assim, melhor se adaptar ao dinamismo comercial global.

3.3.2 A difusão tecnológica para a cadeia produtiva na Índia

A Índia tem se destacado no cenário internacional como uma das principais


nações emergentes na economia global. Ocupa o nono lugar dentre as principais
48

economias do mundo (Banco Mundial, 2010), possui uma extensa população, um


grande território e abriu de forma mais dinâmica o seu mercado a partir da década
de 1990 (ABDI, 2011). Essas especificidades e algumas similaridades com o Brasil
como as fatias setoriais relacionadas ao PIB e a trajetória parecida desses setores
entre 1994 e 2010, como evidenciado na tabela 4, contribuem para se analisar
alguns aspectos da inovação tecnológica na indústria indiana. Já o gráfico 3 mostra
o desempenho da indústria manufatureira indiana entre 1994-2010, sendo muito
similar à da indústria brasileira.

Porém, ambas estão bastante distantes do desempenho da indústria


manufatureira da China, onde segundo dados da UNSTATS em 2010, o valor da
indústria chinesa alcançou o valor total de US$ 1.924 bilhões, enquanto a do Brasil e
Índia chegaram a marcas bem inferiores, sendo o valor total de US$ 298 bilhões e
US$ 234 bilhões, respectivamente. Isso certamente influi na capacidade de inserção
do mercado industrial de transformação da China que, em comparação ao Brasil e
Índia, evidencia mais que 7 vezes o valor médio da indústria de transformação
desses dois países no ano de 2010.

Tabela 4: Contribuição setorial para o PIB da Índia em termos relativos, entre 1994-2010, mas por
período.

Contribuição Contribuição Contribuição Contribuição Contribuição


para o PIB para o PIB para o PIB para o PIB para o PIB
Setor
(%), 1994 (%), 1998 (%), 2002 (%), 2006 (%), 2010

Agricultura 28 26 21 18 18

Indústria 26 26 26 29 28

Serviços 45 48 53 53 54

Total 100 100 100 100 100

Fonte: Elaboração própria baseada em dados do Banco Mundial.


49

Gráfico 3: Desempenho da indústria manufatureira indiana em valores totais entre 1994-2010, por
períodos.

Indústria Manufatureira (1994-2010)


234
250
US$ Bilhões

200
144
150
84 Desempenho da
100 72 indústria manufatureira
51
50

0
1994 1998 2002 2006 2010

Fonte: Elaboração própria baseada em dados da UNSTATS.

Nesse país sul-asiático, desde a sua independência do domínio britânico, em


1947, o Estado manteve forte presença na economia, com um grande número de
empresas estatais, caráter de autossuficiência e preferência por produtos locais
mesmo com produtos inferiores aos estrangeiros, e proteção aos seus produtores.
Os impostos se mantinham altos, que se somando a fortes restrições à empresas
externas, fechava um provável mercado em potencial, visto o grandioso mercado
consumidor. Isso acarretava em níveis baixos de crescimento do PIB, que entre as
três décadas seguintes à independência giraram em torno de 4% (Brasil, 2012).

Porém, no início da década de 1990, dado uma crise financeira e na balança


de pagamentos, o país adotou uma série de reformas políticas e econômicas
voltadas para a abertura da economia, abrindo o mercado para a competição
internacional e também para o investimento estrangeiro dentro do solo indiano. O
que se observou foi um grande dinamismo na economia do país, onde os salários
passaram a ser mais altos e os produtos produzidos internamente foram
aprimorados por meio de avanços tecnológicos. Esse processo desencadeou em
uma grande alteração no estilo de vida da população do país, que tem mais de 1
bilhão e 200 milhões de habitantes (CIA, 2013). Estilo esse, a partir da década de
1990, voltados para o consumo, que entre 2000 e 2011 cresceu a uma taxa média
de 10,73% e representou cerca de 60% do PIB do país em 2011 (Brasil, 2012).
50

Nas duas décadas que seguiram a liberalização econômica do país, foram


evidenciadas melhoras no crescimento do PIB, sendo em média 5,9% na década de
1990, e de 7,68% nos anos 2000 (Brasil, 2012) No segundo maior país asiático e do
mundo em população (atrás apenas da China), atualmente, a economia é orientada
pelo setores de serviços e da indústria, que somados representaram 82% do PIB do
país em 2010 (UNSTATS). A partir do início da década de 1990, foi percebida uma
transferência da força de trabalho da população do campo para os grandes centros
urbanos, da agricultura para os setores de serviço e industrial. Nesse sentido, o
setor industrial (que é o objeto desse estudo) é guiado pela manufatura e
infraestrutura, onde do viés manufatureiro podem-se destacar o setor automobilístico
e o farmacêutico.

Essa mudança no país asiático, ocorreu muito em resultado da abertura


econômica planejada e elaborada pelo Estado que, apesar de não ser um governo
centralizado e unipartidário (como o caso chinês) que facilita uma planificação
econômica, conseguiu consolidar essa estratégia em um ambiente democrático e
com grandes disparidades sociais. Nessas especificidades, é interessante para o
Brasil analisar as similaridades com a Índia, e agregar o que foi realizado com
sucesso. Entre os objetivos das políticas econômicas voltadas para a indústria
indiana estão:

Manutenção do crescimento sustentado da produção; estímulo ao emprego


assalariado; utilização ótima de recursos humanos; alcance de
competitividade internacional e transformação da Índia em um dos principais
parceiros e participantes do mercado global (ABDI, 2011, p. 44).

Foi percebido que, a partir da década de 1990, o governo da Índia, deixou de


investir em empresas estatais, uma vez que grande parte delas davam retornos com
prejuízos ou baixa lucratividade. Esse processo também ocorreu no Brasil, uma vez
que em um ambiente contextual dinâmico e com extrema velocidade de informação,
muitas vezes empresas privadas específicas de cada campo se adaptam melhor a
este cenário.

Nesse sentido, cabe analisar que apesar das similaridades econômicas entre
Brasil e Índia, o governo estatal do país sul-asiático introduziu políticas adequadas
acerca da inovação tecnológica e de P&D e interação entre empresas, governo e
instituições de pesquisa, já o Brasil ainda deixa a desejar nesse prisma interacional,
51

mas pode absorver com algumas das estratégias bem sucedidas da Índia. Elas
aconteceram com a diminuição de tributos, oferta de mercado para empresas
externas mas sem deixar de auxiliar as empresas locais para um crescimento cada
vez maior, e incentivando a pesquisa básica e aplicada, e principalmente na
interação entre as instituições de pesquisa com as empresas. Em relação a essa
interação e ao planejamento de políticas voltadas para esse campo, visto algumas
debilidades estratégicas, o governo indiano planejou o estabelecimento de:

30 novas universidades centrais, 5 novos IISER’s (International Institute for


Species Exploration – Instituto Internacional de Exploração de Espécies), 8
novos IIT’s (Institutos Indianos de Tecnologia), 20 novos IIIT’s (Institutos
Indianos de Tecnologia da Informação), 7 novos IIM’s (Institutos de
Medicina Integrada), dentre outras. Lançou também uma Missão Nacional
de Desenvolvimento de Habilidades, que pretende oferecer treinamento
vocacional para jovens (ABDI, 2011, p.50).

Sendo assim, cabe por parte do governo brasileiro a aplicação de modelos de


sucesso, que apesar de algumas similaridades, possuem características
particulares. No caso da Índia, o Brasil pode acumular a experiência desse país em
uma planificação econômica mesmo em uma democracia, utilizando do know how
de empresas estrangeiras para agregar valor na indústria nacional, seja por joint
ventures, seja por aplicação de investimentos em P&D, fomentando a inovação no
mercado industrial nacional, e promovendo a interação entre governo, empresas e
instituições de pesquisa.

3.3.3 Análise comparada de P&D e produtos de alto valor tecnológico


agregado nas indústrias de transformação do Brasil, China e Índia

Após a análise do Brasil, China e Índia, cabe ressaltar que por meio de
aplicação de investimentos em P&D na indústria acarreta na inovação e/ou melhora
de produtos e processos. E isso ocorre, pelo valor que um bem manufaturado com
alto valor agregado pode gerar. As especificidades da porcentagem de P&D
investido sobre o PIB de cada país no período (1996-2007)2 pode ser evidenciado no
gráfico 4, assim como o valor total em dólares de produtos de alto valor agregado na
exportações e a porcentagem desses produtos de alto valor agregado em relação

2
Não há disponibilidade do período 1994-1995, assim como de 2008-2010 para todos os três países, segundo o
Banco Mundial, por isso essa abordagem temporal.
52

aos manufaturados totais exportados por cada país (entre 1994-2010) que são
evidenciados nas tabelas 5 e 6.

Gráfico 4: % de P&D investido sobre o PIB de Brasil, China e Índia.

1.6 Porcentagem de P&D investido em


1.4 relação ao PIB (1996-2008) 1.4
1.2 1.23
1.1
1 1.02
0.86 0.9
0.8 0.76
0.72 0.75 0.74
0.6 0.63
0.57 China
0.4 Índia
0.2 Brasil

0
1996 2000 2004 2007
China 0.57 0.86 1.23 1.4
Índia 0.63 0.75 0.74 0.76
Brasil 0.72 1.02 0.9 1.1

Fonte: Elaboração própria baseada em dados do Banco Mundial.

Tabela 5: Valor total de produtos de alto valor agregado exportados em milhões de US$.

Países 1994 1998 2002 2006 2010

Brasil 1.097.107 2.609.822 5.223.572 8.418.095 8.121.872

China 8.258.761 24.639.526 69.226.431 273.131.515 406.089.687

Índia 959.201 1.414.828 2.353.666 4.876.300 10.086.626

Fonte: Elaboração própria baseada em dados do Banco Mundial.


53

Tabela 6: Exportações de alta agregação tecnológica (% dos manufaturados exportados)

Países 1994 1998 2002 2006 2010

Brasil 5 9 17 12 11

China 8 15 24 31 28

Índia 5 6 6 6 7

Fonte: Elaboração própria baseada em dados do Banco Mundial.

Conforme o gráfico e as tabelas, é possível inferir que o Brasil possuía o


maior investimento em P&D no meio da década de 1990 entre os três países. Com
os anos seguintes, visto as políticas econômicas aplicadas, os países aumentaram a
fatia de P&D sobre o PIB do país, mesmo a Índia que teve um tímido crescimento. O
Brasil teve um crescimento razoável, mas aquém de um país que visa maior
inserção na economia global. A China por sua vez, demonstrou que as políticas
econômicas aplicadas no país obtivessem sucesso, visto o aumento de quase 1%
do valor total do seu PIB em relação à P&D. É importante ressaltar que a China,
como visto, adota diferentes formas de inserção tecnológica na sua indústria e por
isso esse percentual não é maior, e outra questão é que em comparação ao PIB do
país que em 2007 foi de US$ 3.494 trilhões, 1,4% disso significou mais de US$ 48
bilhões investidos em P&D, segundo dados do Banco Mundial.

Assim, esse processo refletiu nas exportações dos países, como visto na
tabela 5 e 6. Pode-se analisar que entre 1994-2010 houve aumento expressivo
desses três países nas exportações de produtos com alto valor tecnológico. O Brasil
cresceu nessas exportações em mais de 7 vezes em valores correntes, e dobrou a
participação desses produtos no total de manufaturados exportados. Mas se
comparado à Índia e China, o Brasil não obteve um crescimento tão amplo, e foi o
mais afetado pela crise econômica de 2008 no setor de manufaturados de alto valor
agregado. A Índia, apesar de manter praticamente estável a fatia de manufaturados
de alto valor tecnológico durante o período, cresceu em valores correntes em mais
54

de 10 vezes. Já a China traduz de forma exemplar, apesar das condições internas


que facilitem esse processo, a aplicação da inovação tecnológica dentro da indústria
manufatureira do país. No período deste estudo, o país dobrou a participação de
produtos com alto valor tecnológico agregado nas exportações de manufaturados,
crescendo de 8% em 1994 para 28% em 2010. E em valores correntes, o país
aumentou as exportações em números estratosféricos, crescendo mais de 49 vezes
o valor de produtos com alto valor tecnológico agregado entre 1994 e 2010,
passando de mais de 8 bilhões de dólares em 1994 para mais de US$ 406 bilhões
em 2010.
55

4. CONCLUSÃO

Este estudo partiu da análise que para se obter vantagens na economia


internacional, uma nação deve se adaptar às demandas do contexto vigente,
buscando formas de conseguir melhores resultados competitivos para a sua
economia interna. Nesse sentido, uma das maneiras para essa aspiração é por meio
do fortalecimento da indústria local, que é um dos principais ramos de uma
economia. No Brasil, esse setor é de grande importância para um desenvolvimento
econômico, onde gera muitos empregos e uma parte significativa do PIB. Nesse
estudo, foi abordado o ramo industrial de transformação como objeto de pesquisa, e
como a inovação tecnológica pode configurar o desenvolvimento do setor e, por
conseguinte, acarretar em um maior grau de competitividade dos produtos
brasileiros no exterior.

Nesse contexto, existem diferentes formas de se aplicar a inovação


tecnológica no setor industrial de transformação, como foi observado.
Primeiramente, é necessário ter compreensão do que vem a ser inovação
tecnológica e para que ela pode ser utilizada. Após essa compreensão, parte-se
para a reflexão de qual é a melhor forma a ser introduzida dentro de uma empresa,
dentro de um mercado específico, ou dentro de um país, por meio da inovação de
um produto ou de um processo de produção. Nesse sentido, foi analisado que
dentre as maneiras de aplicabilidade desse recurso na indústria de transformação
brasileira, destacam-se: a inovação tecnológica adquirida por P&D, onde pesquisas
são elaboradas e aplicadas para resultar em algo novo, seja um produto ou um
processo; a inovação tecnológica por meio de alianças com empresas externas (por
ex.: joint ventures) a fim de conseguir agregação tecnológica por meio do know how
que o país provedor possa conceder; e a inovação tecnológica por meio de compra
de equipamentos, máquinas, softwares, etc. advindos do mercado externo (esse
modelo se aplica na forma de inovação de processo produtivo).

O Estado brasileiro, a partir da década de 1990, aumentou sua participação


no processo de inovação da indústria, por meio de políticas e programas para
fomentar esse instrumento. Mesmo que em comparação com países mais
desenvolvidos essa participação ainda seja tímida, tanto em número de programas
56

como nas fontes para financiamento da inovação tecnológica da indústria. Parte por
meio do governo, o papel de promover a interação entre as empresas e os institutos
de pesquisa que realizam os estudos para aplicação da inovação. Em outros países
há diferentes tipos de participação do governo, e também dos modelos que as
empresas adquirem a inovação.

Exemplos desses países são a China e Índia, que tem adotado políticas
comerciais de fomentação da inovação, buscando uma maior consolidação da
economia interna, fazendo com que o país se desenvolva, o que acarreta em um
maior destaque internacional. A China demonstra uma política econômica para a
inovação da sua indústria de maneira planejada que, apesar de ter um governo
unipartidário facilitador de uma planificação, acarretou em uma exponencial
expansão da economia interna, se tornando nos últimos anos a segunda economia
no globo. Adotou uma política de abertura econômica baseada na parceria com
empresas estrangeiras, que em médio e longo prazo acarretou em know how
adquirido e, em consequência, uma agregação tecnológica em produtos chineses. A
Índia por sua vez, teve processo de abertura mais massiva da economia em um
momento temporal similar ao do Brasil (no início dos anos 1990), onde o governo
traçou planos para a inovação industrial por meio de alianças com empresas
estrangeiras e pela elaboração de P&D, que somados ao grande mercado
consumidor, fez o setor de indústria ganhar um alto grau tecnológico, principalmente
o automobilístico e o farmacêutico. Nesse sentido, cabe ao Brasil e as suas
empresas detectarem os exemplos e experiências que obtiveram sucesso no
processo inovativo desses países para aplica-los internamente, com particularidades
endógenas do mercado interno brasileiro.

Sendo assim, esse estudo adotou o método hipotético-dedutivo, fazendo por


meio de comparações com outros atores a possibilidade da empregabilidade de
modelos e experiências externas que podem configurar um maior grau de
competitividade da indústria manufatureira nacional. Somada a este método, foi
utilizado a metodologia histórico-descritiva para se analisar o processo de inovação
tecnológica no Brasil, entre 1994-2012, e as estratégias, modelos, e programas
utilizados pelas empresas e pelo governo nacional para promover esse instrumento
que visa o desenvolvimento da competitividade. Resultante desses métodos, a
hipótese foi comprovada, onde foi percebido que o quão maior for a aplicação de
57

agregação tecnológica na indústria de transformação no país, maior será o


desenvolvimento desse setor, e por consequência, o aumento da competitividade
dos produtos nacionais, tanto no ambiente interno quanto no externo, o que acarreta
em um maior grau do desenvolvimento da nação.

Desse modo, esse trabalho obteve respostas similares a outros trabalhos e


pesquisas relacionados à prática da inovação na indústria brasileira. Advertindo
sobre o problema sistêmico que envolve a aplicação da inovação tecnológica no
país, que no período analisado demonstrou limitações nas três bases desse
processo que são as empresas, o Estado e as instituições de pesquisa. Assim, as
limitações percebidas nesse estudo estão vinculadas à estrutura sistêmica em que
estão inseridas essas bases, pois as empresas quando buscam a inovação, não tem
o auxílio necessário por parte do Estado, que por sua vez se limita em alguns
programas e políticas relacionadas ao tema, que apesar de existirem, são aquém da
magnitude territorial e populacional do país. Recomenda-se então, o fomento para
uma maior interação entre os atores envolvidos, e isso só poderá ocorrer com uma
reforma estrutural, relacionando o poder do Estado por meio do Legislativo e
Executivo para promoverem esse processo, que terá nas instituições de pesquisa o
meio ideal para a revolução intelectual e tecnológica ligada à temática inovativa, e
que terá as empresas nacionais como o objetivo final nesse procedimento de
agregação tecnológica.
58

5. REFERÊNCIAS:

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