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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

Curso de Direito

EUTANÁSIA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

LETÍCIA SANTOS DE ALMEIDA

São Gonçalo
2017.2
LETÍCIA SANTOS DE ALMEIDA

EUTANÁSIA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

Artigo Científico Jurídico apresentado à


Universidade Estácio de Sá, Curso de
Direito, como requisito parcial para a
conclusão da disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso.

Orientador (a): Prof. (a) Cristiane Dupret


Filipe Pessoa

São Gonçalo

Campus Alcântara

2017.2
RESUMO

O trabalho descreve sobre a discussão da Eutanásia no Direito Penal Brasileiro, com


o intuito de apresentar reflexões sobre este assunto. Aborda-se a eutanásia sob o
enfoque jurídico, ético, religioso e moral, enfatizando o tema tanto frente ao Direito
Penal Brasileiro e suas sanções, quanto aos Princípios da Dignidade da Pessoa
Humana e da Inviolabilidade à Vida. Trata-se de assunto complexo, e de extrema
relevância, ainda que seja necessário um estudo de forma mais ampla, para que se
faça respeitar os direitos fundamentais garantidos pela nossa Constituição Federal.
Demonstram-se neste artigo, alguns dos Estados onde a prática é permitida, bem
como os Estados onde a prática é proibida e penalizada, assim como é no nosso
ordenamento jurídico. A metodologia utilizada no trabalho é a pesquisa bibliográfica,
a partir de livros, legislações brasileiras, artigos, resoluções e documentos
disponibilizados na internet.

Palavras-chave: Eutanásia. Suicídio Assistido. Dignidade da Pessoa Humana.


Direito à Vida.
SUMÁRIO

1 Introdução. 2 Eutanásia: Morte Digna ou Suicídio Assistido? 2.1 Conceitos. 2.2


Classificações. 2.3 A Historicidade da Eutanásia. 3 A Eutanásia no Direito Penal
Brasileiro. 3.1 Consequências Jurídicas da Eutanásia. 4 A Eutanásia e a
Constituição Federal. 4.1 A Eutanásia Frente aos Princípios Constitucionais. 4.2
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. 4.3 Princípio da Inviolabilidade do
Direito à Vida. 4.4 Princípio da Proporcionalidade. 5 A Visão da Sociedade e da
Igreja Católica. 6 Conclusão. 7 Referências.
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1 INTRODUÇÃO

Este projeto de pesquisa busca analisar a complexidade e os aspectos da


prática da eutanásia do ponto de vista do Direito Penal Brasileiro, tendo em vista que
o tema envolve um enorme conflito de valores, não apenas jurídico, mas também
moral e religioso, fundamentar as consequências dessa prática, examinando o tema
à luz do Código Penal, buscando identificar se a tipificação é a adequada para o
caso.
O presente trabalho visa também definir a eutanásia frente aos Princípios
Constitucionais, verificando se há violação ao Princípio da Inviolabilidade à Vida e
como o tema é visto perante a sociedade, já que é um assunto muito discutido e
ainda não superado por tratar-se de valores jurídicos, éticos e morais.
A proposta deste artigo científico é aprofundar os estudos sobre o tema,
indagando o direito à vida e o direito à morte, bem como a qualidade e a quantidade
de vida do paciente que se encontra em estado terminal em questão.
Cabe enfatizar, que o objetivo desta pesquisa não é resolver a problemática
que envolve o tema, e sim ampliar o campo do conhecimento em relação aos
direitos e vontades da vítima de doença incurável, mostrando-se um assunto de
suma relevância para que se possa chegar a um consenso, se deve ou não, ser um
direito assegurado pelo Estado já que nossa legislação é omissa.
Para tanto, a pesquisa foi realizada através de livros, legislações brasileiras,
artigos, resoluções e documentos que podem ser analisados a partir da bibliografia
ao final do trabalho que enfocam as discussões sobre a eutanásia.
No primeiro tópico, falaremos do conceito de eutanásia, suas classificações,
um pouco da sua historicidade em todo o mundo, e como a prática vem sendo
exercida há séculos, e chegando até os dias atuais.
Em seguida, faremos uma análise do tema sob o prisma do Direito Penal
Brasileiro, sua tipificação e quais são as reais consequências jurídicas dessa prática
no nosso ordenamento.
No tópico seguinte, visualizaremos as características da eutanásia sob o
ponto de vista da Constituição Federal, bem como faremos um comparativo entre os
princípios constitucionais e o tema, buscando identificar seus prós e contras.
5

Por fim, falaremos do assunto sob a ótica da Igreja Católica, que se posiciona
contra a prática da eutanásia, em defesa da vida por ser um dom dado por Deus, e
como a sua visão exerce forte influência sobre a opinião da sociedade.

2 EUTANÁSIA: MORTE DIGNA OU SUICÍDIO ASSISTIDO?

Segundo a Jurisprudência, Eutanásia é a morte provocada com a finalidade


de abreviar o sofrimento do doente em fase terminal. Por esse motivo foi
recepcionada pelo sinônimo de morte piedosa, tendo em vista que antecipa a morte
do paciente em estado terminal, para cessar seu sofrimento, porém, entendimentos
doutrinários são controversos quanto à sua aplicação, já que no Código Penal, esta
prática está tipificada como crime de homicídio privilegiado.

2.1 CONCEITOS

A eutanásia, que vem do grego “euthanatos”, significa boa morte, ou seja,


morte sem sofrimento, sem dor, morte calma e piedosa.
Segundo Maura Roberti, em seu artigo científico “Eutanásia e Direito Penal”, o
termo distanásia, é o oposto da eutanásia, consistindo na utilização dos meios
cabíveis para se prolongar a vida de alguém que está no leito de morte.
A prática da eutanásia é considerada um meio de evitar que um doente
tomado por uma enfermidade incurável tenha uma vida dolorosa por tempo
indeterminado, sendo providenciados os meios necessários para reduzir o tempo de
vida deste, com o intuito de diminuir seu sofrimento, seja de forma direta ou indireta.
A enfermidade incurável e o sofrimento insuportável destacam-se como
elementos principais da eutanásia, em regra, são esses os motivos que levam um
terceiro por piedade provocar a morte de outro ou auxiliar o paciente em estado de
incansável dor a interromper sua própria vida.
A eutanásia se divide em duas espécies: ativa e passiva, sendo que esta
segunda não é vedada no nosso país, pois não se trata de uma ação para dar fim à
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vida do paciente, mas sim de uma omissão, pois se deixa de usar artifícios para sua
sobrevivência, porém, várias são as classificações que se subdivide o termo
eutanásia.
De acordo com Pinan Y Malvar em “Direito de Matar”, definem o conceito de
eutanásia como: “[...] aquele ato em virtude do qual uma pessoa dá morte a outra,
enferma e parecendo incurável, ou a seres acidentados que padecem, a seu rogo ou
requerimento e sob impulsos de exacerbado sentimento de piedade e humanidade”.
(MENEZES, 1977, p. 63).

2.2 CLASSIFICAÇÕES

A eutanásia é subdividida em: ativa, quando ocorre uma ação, o ato de


provocar a morte sem sofrimento do paciente, de forma piedosa, como por exemplo,
uma injeção letal; passiva, é aquela em que há uma omissão proposital, na
suspensão do prolongamento da vida de forma proposital, como a interrupção do
tratamento, ou o desligamento dos aparelhos necessários para a continuidade da
vida, por exemplo; de duplo efeito que ocorre nos casos em que o médico ministra
uma dose superior à necessária no paciente no intuito de aliviar seu sofrimento, não
visando sua morte, mas sim, a abreviação do sofrimento, como por exemplo, o
emprego de morfina para controle da dor, gerando, secundariamente, depressão
respiratória e óbito. (SOUZA, 2007, p. 15).
Existem ainda, outros termos usados, como a morte ou suicídio assistido, que
é a facilitação do doente de proporcionar sua própria morte, deixando ao seu
alcance as ferramentas necessárias para tal; e a eugenia, que era comum em
sociedades primitivas, consistindo no extermínio de pessoas deficientes e de
pessoas com doença grave, também conhecida como profilaxia social.
De acordo com Stolberg (2007), vários são os termos usados para classificar
as diversas áreas da prática da eutanásia, porém a eutanásia ativa é a questão que
gera mais discussão na era contemporânea, pois abrange a ética médica, legislação
e política. Desde os últimos 20 anos, vários artigos acadêmicos e livros vêm
abordando esse tema, explorando e debatendo as áreas filosóficas e teológicas, os
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processos judiciais e novas legislações para um levantamento de atitudes práticas


reais no mundo. (BATISTA, 2009).
Entre os séculos I e II, d. C., Suetónio defendeu a eutanásia quando
descreveu a morte do Imperador Augusto, dizendo que: "Sua morte foi suave, tal
como sempre a tinha desejado, porque quando ouvira dizer que alguém tinha
morrido rapidamente e sem dor, ele desejava o mesmo para si e os seus, usando a
expressão euthanasia." (BATISTA, 2009).
No século XVII, a prática de eutanásia também foi defendida por Frank
Bacon, que dizia que a seu ver, quando os médicos percebessem não haver mais
meios de curar uma doença, deveriam poder optar por diminuir o sofrimento e a
agonia de seus pacientes em estado terminal, proporcionando-lhes uma morte
tranqüila e sem dor.
No nosso dicionário, o significado de eutanásia é: Morte sem dor e nem
sofrimento; Teoria que defende o direito a uma morte sem dor nem sofrimento a
doentes incuráveis; Ação que põe em prática essa teoria. (FERREIRA, 2004, p.
2122).

2.3 A HISTORICIDADE DA EUTANÁSIA

Platão, no seu terceiro livro "República", em Atenas, 400 anos a.C., pregava o
sacrifício de velhos, fracos e inválidos, com fundamento no interesse do
fortalecimento do bem-estar e da economia coletiva. Licurgo, antes disso, matava
crianças aleijadas ou débeis que, de forma cruel, eram sacrificadas apenas pelo
desígnio único de produzir homens robustos e aptos para a guerra. (SILVA, 2000).
Em razão das inúmeras epidemias e pestes, na época da Idade Média a
prática da eutanásia era comum, tendo em vista que as doenças se espalhavam
com facilidade, em decorrência do estado de miséria em que se vivia a população no
período de decadência do feudalismo. (SILVA, 2000).
Vários países europeus debatem sobre a aceitação da regulamentação da
eutanásia. A Holanda foi o primeiro país a autorizar oficialmente a prática da
eutanásia, em 28 de novembro de 2000, porém há restrições para que os médicos
recorram à eutanásia. Segundo Clowes (1977), o enfermo deve estar acometido por
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doença incurável e sem qualquer esperança de sobrevivência e, acima de tudo,


querer pôr fim a vida, onde terão o auxílio de médicos treinados para praticar a
eutanásia, através do manual “Como praticar a Eutanásia” distribuída pela
Sociedade Holandesa Real de Farmacologia. (BATISTA, 2009).
Na Bélgica, a eutanásia também foi legalizada após muito debate. A lei belga
sobre eutanásia foi promulgada com o objetivo de discutir como decidir os pedidos
de eutanásia dentro de hospitais. Assim, os profissionais da saúde tornaram-se mais
conscientes da complexidade e da ética quando de sua decisão, ultrapassando
assim a relação entre o médico e o paciente, e resultando amplitude da
responsabilidade do profissional e do hospital, conforme Lemiengre (2007).
(BATISTA, 2009).
A Alemanha também tentou legitimar a eutanásia em 1903 no Parlamento da
Saxônia, mas a proposta não foi aceita. Em 1922, foi apresentado projeto de lei ao
Parlamento Inglês, através do Comitê Municipal, para criar um tribunal médico que
tivesse autoridade para abreviar o sofrimento de pacientes que sofriam de mal
incurável. (SILVA, 2000).
Segundo Caritas Flandres, a eutanásia deve ser limitada a casos
excepcionais, como o estado de necessidade, cabendo-a apenas a doentes
terminais, e não em casos onde os pacientes assim se julgam. (BATISTA, 2009).
Mesmo não sendo a prática criminalizada, o Oregon é o único Estado dos
EUA, que permite a eutanásia. Esta prática foi elaborada e aprovada em 1994,
através de um plebiscito, porém, sua regulamentação foi feita apenas em 1996. Para
tanto, os doentes deveriam ser declarados em fase terminal e requererem o pedido
formalmente a um tribunal do Estado. (SILVA, 2000).
A primeira lei que autorizou a prática da eutanásia recebeu o nome de “Lei
dos Direitos dos Pacientes Terminais” e esteve em vigor de 1º de julho de 1996 a 24
de março de 19997, nos Territórios do Norte da Austrália, porém, foi derrubada por
voto e pesquisas de opinião, apesar dessas mesmas pesquisas mostrarem que a
maioria dos australianos eram favoráveis à prática. (GOLDIM, 2008).
Na Colômbia, a prática é tipificada como homicídio piedoso, descrito no artigo
326 de seu Código Penal. Quem mata alguém para por fim ao sofrimento constante,
decorrente de lesão corporal ou de doença grave e incurável, incorre na pena de
reclusão de seis meses a três anos. (BATISTA, 2009).
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De acordo com Ceaser (2008), na Colômbia, a eutanásia é praticada há mais


de 10 anos de forma informal, depois que o Tribunal decidiu que a prática não era
considerada crime dependendo das circunstâncias. Porém, seus defensores
consideram que a prática ainda precisa ser regulamentada, justamente para diminuir
as oportunidades de abuso. (BATISTA, 2009).
Ronald Dworkin fala sobre uma interessante prática adotada nos Estados
Unidos:

Hoje, todos os estados americanos reconhecem alguma forma de diretriz


antecipada: ou os “testamentos de vida” (documentos nos quais se estipula que
certos procedimentos médicos não devem ser utilizados para manter o signatário
vivo em circunstâncias específicas) ou as “procurações para a tomada de decisões
em questões médicas” (documentos que indicam outras pessoas para tomar
decisões de vida e de morte em nome do signatário quando este já não tiver
condições de tomá-las). (DWORKIN, 2003, p. 252).

Muitos são os países que ainda tentam implantar a prática em seu


ordenamento, porém esta ainda deve ser analisada com cuidado e regulamentada
para que evite casos de abuso ou finalidades escusas, enquanto isso, alguns deles
se utilizam da prática de maneira informal.
Desta forma, podemos verificar que nosso ordenamento jurídico, ao não
admitir a eutanásia, age de maneira retrógrada, tendo em vista a aplicação da
prática e a legislação de outros países.

3 A EUTANÁSIA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

A eutanásia nunca foi regulamentada pelo nosso ordenamento jurídico, tanto


que, como já mencionado antes, a mesma foi tipificada como crime de homicídio, o
que nos leva a concluir que a legislação se preocupou mais com a conduta daquele
terceiro que leva ou induz a vítima a tirar a sua própria vida, do que com o suicida
em si.
No Brasil, a eutanásia é tipificada pelo Código Penal como homicídio
privilegiado, descrito no artigo 121, §1º, 1ª parte, que dispõe que, se o agente
comete o crime por motivo de relevante valor social ou moral, o juiz pode reduzir a
pena de um sexto a um terço”.
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Assim sendo, podemos verificar que o agente que pratica a eutanásia, age
por impulso de relevante valor moral, desejando realizar último pedido do paciente,
que já não tem mais força de continuar a vida eis que em estado incessante de
doença incurável.
Por outro lado, o suicídio é visto como um fenômeno social, que ainda desafia
os pesquisadores que os estudam, pois sempre são abordadas as possibilidades de
auxílio, instigação ou induzimento ao suicídio.
Em 1830, o Código Criminal do Império do Brazil em seu artigo 196, instituiu
pena de 2 a 6 anos, como punição do auxílio de qualquer tipo ao suicídio.
Já no Código Penal dos Estados Unidos do Brazil de 1890, foi instituída a
pena de 2 a 4 anos, para o terceiro que induzisse ou auxiliasse verbal ou fisicamente
o suicídio, porém não era considerado crime se o induzido ou instigado não
obtivesse êxito na morte.
A chamada morte assistida, atualmente, no nosso Código Penal de 1940,
considera-se crime de induzimento, em seu artigo 122, onde afirma que induzir ou
instigar alguém a se suicidar ou prestar qualquer tipo de ajuda para que o faça, a
pena é de reclusão em duas hipóteses: de dois a seis anos, se o suicídio se
consuma; de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de
natureza grave.
A pena para essa conduta, ainda é duplicada se praticada por motivo
egoístico, se a vítima for menor de idade ou se tiver diminuída, por qualquer causa,
sua capacidade de resistência, conforme dispõe os incisos I e II do mesmo
dispositivo.
Há tempos, houve um Projeto de Reforma do Código Penal, que tramitou
perante o Congresso Nacional, na qual a eutanásia seria descrita no §3º do artigo
121, de forma que se o autor do crime agisse por compaixão, a pedido da vítima,
imputável e maior, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável, em razão de
doença grave, a pena de reclusão seria de três a seis anos.
Podemos observar que se a proposta de reforma fosse aprovada pelo
Congresso Nacional, a eutanásia seria instituída como causa de diminuição de pena
para o homicídio.
Já no §4º do mesmo artigo desse projeto de reforma, a conduta seria tratada
como ortotanásia, e não constituiria crime deixar de manter a vida de alguém por
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meio artificial, desde que a morte fosse iminente e inevitável, atestada por dois
médicos e tivesse o consentimento do paciente e de seus familiares.
Importante ressaltar que esse projeto, foi criado na tentativa de regulamentar
a eutanásia, pois previa a possibilidade da prática desde que autorizado pelo
paciente e com a aprovação de uma junta médica, frisando que os parentes também
poderiam requerer a eutanásia pela via judicial, porém o projeto de lei não foi
aprovado.

3.1 CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DA EUTANÁSIA

A eutanásia é tipificada como homicídio privilegiado, por isso, tem causa de


diminuição de pena, entretanto, constata-se que a eutanásia ativa caracteriza crime
com pena de reclusão de três a seis anos, enquanto a eutanásia passiva não é
passível de punição, segundo a legislação brasileira.
Acredita-se que existem muitos casos onde familiares promoveram a prática
da eutanásia ativa sem que essa conduta seja divulgada, ou até mesmo, casos de
médicos que compelidos pela compaixão atenderam ao pedido seu paciente em
estado de dor incessante.
Todavia, entre as várias classificações da eutanásia, aquelas praticadas com
a justificativa selecionadora e econômica são tipificadas como homicídio qualificado
pelo nosso Código Penal.
Já o auxílio de qualquer tipo ao suicídio como supracitado, é punido com
reclusão de dois a seis anos quando consumado, e de um a três anos se resulta de
lesão corporal de natureza grave, tendo ainda causa de aumento de pena, sendo
esta duplicada se cometida por motivo egoístico, se a vítima for menor ou se tiver
diminuída, por qualquer causa, sua capacidade de resistência.
De acordo com Luiz Flávio Gomes, o legislador deveria dar mais atenção ao
assunto, pois considera a eutanásia e a morte assistida condutas não criminosas,
haja vista que não existe o resultado sem valor ou arbitrário. Ao contrário disso, o
agente age pelo sentimento mais nobre, pois visa a dignidade da pessoa humana,
não se tratando, portanto, de morte arbitrária. (GOMES, 2007)
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Já o jurista brasileiro Edgar Magalhães Noronha, se posiciona contrariamente


à prática da eutanásia, pois entende que não existe direito de matar, nem o de
morrer, pois a vida tem função social. (NORONHA, 1994, p. 412)
Para esse doutrinador, a missão da ciência, não é exterminar, mas sim lutar
contra o extermínio.

4 A EUTANÁSIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição Federal de 1988 assegura no caput do artigo 5º que a


inviolabilidade do direito à vida é garantida constitucionalmente a brasileiros e
estrangeiros residentes no país igualmente.
Santoro (1968) defendeu que: “o direito a vida é indisponível pelo titular desta
e mesmo com o consentimento para sua supressão, não elimina a antijuridicidade
do fato”. (BATISTA, 2009).
O direito a inviolabilidade à vida é em regra assegurado a todos, sendo assim
consagrado em nosso ordenamento jurídico, pois é a base, o alicerce da pessoa, por
estas e outras razões, o Estado protege o direito a vida humana, desde sua
concepção, até a morte do indivíduo.
Sua principal característica vem a ser sua indisponibilidade, pois é vista como
dom divino, que deve ser preservada a todo custo, portanto, a eliminação da vida
tanto pelo homem, quanto pelo Estado, é inaceitável aos olhos da sociedade.
Todavia, sabemos que a própria Constituição, em algumas hipóteses admite
que em razão de certa conduta, uma pessoa tire a vida de outra, quais sejam: o
estado de necessidade; a legítima defesa; e em alguns casos, o aborto legal.
Como verificamos, o direito à vida não pode ser analisado apenas sob um
prisma, tendo em vista que nosso ordenamento jurídico possui diversos princípios
que os norteiam, como é o caso do princípio da dignidade da pessoa humana e o
princípio da autodeterminação.
De acordo com o artigo 1º, III, da CRFB/88 podemos ver que a dignidade da
pessoa humana vem em primeiro lugar, e esta é a tese mais defendida pelos
estudiosos que apóiam a pratica, visando diminuir o sofrimento do paciente em
estado terminal.
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Desta forma, seria justo uma pessoa que na certeza de sua morte, tendo em
vista que não há recursos suficientes capazes de proporcionar a cura para sua
doença, sofrer física e psicologicamente até último dia de sua vida, sem que possa
ela mesma decidir se quer continuar vivendo assim, ou não?
Seria justo, ainda, oferecer ao paciente terminal a prática da eutanásia na
intenção de proporcionar uma “boa morte”, sem dor ou sofrimento, como única
opção para o fim de sua agonia?
Muitas são as opiniões que dividem o tema eutanásia, inclusive a discussão
sobre a indisponibilidade ou a disponibilidade da vida humana toda vez que o
assunto é abordado.

4.1 A EUTANÁSIA FRENTE AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

A CRFB/88 garante os direitos e garantias de todos, porém a doutrina e a


jurisprudência confirmam que essas garantias não se restringem apenas aos direitos
consagrados no texto do artigo 5º, mas também através dos princípios expressos e
tácitos adotados pela Constituição e pelos Tratados Internacionais.
Neste diapasão, é correto afirmar que qualquer decisão a respeito da
eutanásia que venha a ser tomada, deve estar harmonizada com os direitos e
garantias fundamentais e com os princípios norteadores principais, quais sejam, o
princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio da inviolabilidade do direito à
vida.
Tendo em vista que não se pode eliminar um princípio constitucional para
resguardar outro, faz-se necessário aplicar a harmonização entre princípios de forma
que seja proporcional, adequada e razoável ao caso concreto.

4.2 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Este é um dos principais princípios fundamentais elencados na CRFB/88, pois


trata diretamente dos direitos e garantias inerentes à pessoa, tais como a vida, a
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intimidade, a liberdade, a honra e a autodeterminação da própria vida e o bem


jurídico vida, é ponderado em face desses valores constitucionais igualmente
básicos.
De acordo com Fernando G. Jayme:

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral, que é inerente à


condição de ser humano, e se manifesta através da capacidade de
autodeterminação consciente da própria vida. Constitui-se em um mínimo
invulnerável juridicamente protegido que são os direitos de personalidade. (JAYME,
2005, p. 120).

O próprio artigo 5º da Constituição assegura a inviolabilidade da vida, mas é


certo que não existem direitos absolutos. A Convenção Americana de Direitos
Humanos em seu artigo 4º, por exemplo, diz que ninguém pode ser privado da vida
arbitrariamente.
Assim entendemos que a morte não deve ser arbitrária, abusiva ou
desarrazoada, portanto, havendo interesse relevante e razoável à lesão ao bem
jurídico vida, trata-se de resultado aceitável.
Como já dito antes, o princípio da dignidade da pessoa humana é a base para
quem defende a eutanásia, por acreditarem que todos têm direito de viver com
dignidade, podendo optar por uma morte digna e sem sofrimento, e que não é justo
negar ao paciente em estado terminal o direito de interromper sua vida.
Se posicionando a favor da eutanásia, o jurista Evandro Correia de Menezes
defende a isenção da pena para quem age com intuito de diminuir o sofrimento de
outrem, e completa: “Não nos basta o perdão judicial; queremos que a lei declare
expressamente a admissão da eutanásia, que não seria um crime, mas, pelo
contrário, um dever de humanidade”. (MENEZES, 1977, p. 63).
Manifesta-se ainda, Dworkin da seguinte forma:

Três problemas distintos giram em torno das decisões sobre a eutanásia.


Devemos ter a preocupação de respeitar ao máximo a autonomia do paciente, seus
interesses fundamentais e o valor intrínseco ou a santidade de sua vida. Contudo,
corremos o risco de não entendermos adequadamente nenhuma dessas questões,
ou de não percebermos se elas são favoráveis ou contrarias à eutanásia em uma
circunstancia dada, enquanto não compreendermos melhor por que algumas
pessoas querem permanecer biologicamente vivas enquanto puderem fazê-lo,
inclusive em circunstancia terríveis, e por que outras, nas mesmas condições,
insistem em morrer tão logo lhes seja possível. (DWORKIN, 2003, p.36).
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4.3 PRINCÍPIO DA INVIOLABILIDADE DO DIREITO À VIDA

Por outro lado, opiniões contrárias à prática, dizem que deste princípio
derivam todos os direitos fundamentais assegurados pela Constituição, inclusive o
direito à vida, e por isso esta deve ser protegida a qualquer custo, principalmente do
próprio indivíduo.
Se mostrando contrariamente à prática por médicos, Genival Veloso de
França diz que: “O médico não pode nem deve, de forma alguma e em nenhuma
circunstância, contribuir ativamente para a morte do paciente, pois isso se contrapõe
ao seu compromisso profissional e à sua formação moral”. (FRANÇA, 2007, p. 491).
Sendo o direito à vida, o direito mais fundamental de todos, haja vista que
sem ela não há possibilidade de haver direitos fundamentais, está previsto no caput,
do artigo 5ª da CRFB/88, e é assegurado a todos os brasileiros e estrangeiros
residentes no país.
Temos como exceção a esta regra a autorização da pena de morte em caso
de guerra declarada, expressamente descrita na CRFB/88 em seu artigo 84, que é
quando por se tratar do direito à vida, nenhum outro direito poderá ser garantido,
cabendo a Carta Maior autorizar que se tire a vida de outrem.
Segundo Pedro Lenza: “O direito à vida, previsto de forma genérica no art. 5º,
caput, abrange tanto o direito de não ser morto, privado da vida, portanto, o direito
de continuar vivo, como também o direito de ter uma vida digna”. (LENZA, 2011, p.
872).
Desta forma, a doutrina ressalta que vida digna, é aquela no nível de vida
adequado de condição humana, que garanta suas necessidades vitais, como a
alimentação, vestuário, educação, saúde e lazer.
No entendimento de Alexandre de Moraes:

O direito à vida tem um conteúdo de proteção positiva que impede configurá-lo como
um direito de liberdade que inclua o direito à própria morte. O Estado, principalmente
por situações fáticas, não pode prever e impedir que alguém disponha de seu direito
à vida, suicidando-se ou praticando eutanásia. Isto, porém, não coloca a vida como
direito disponível, nem a morte como direito subjetivo do indivíduo. (MORAES, 2003,
p.91).
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Em contrapartida, os defensores da prática da eutanásia enfocam que não se


pode exigir de um paciente em estado terminal, que permaneça sofrendo por tempo
indeterminado, sem previsão de melhora, portanto antecipar sua morte se trataria de
exercer seu direito de autodeterminação.
Luiz Flávio Gomes explica o seguinte:

Todos esses temas (eutanásia, morte assistida ou ortotanásia) continuam muito


nebulosos no nosso ordenamento jurídico. Grande parte dos doutrinadores (com
visão puramente formalista do Direito penal) afirma que estaríamos diante de um
crime. Formalmente a outra conclusão não se pode mesmo chegar. Mas esse
enfoque puramente formal da questão merece ser totalmente revisado. (GOMES,
2007).

4.4 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

Quando os princípios constitucionais entram em colisão, é necessário buscar


a harmonização entre eles, desta forma, aplica-se o princípio da proporcionalidade
para que nenhum deles seja totalmente destituído para que outro seja preservado, e
assim tenham uma solução proporcional e adequada ao caso.
O acima exposto, está de acordo com Maria Denise Abeijon Pereira
Gonçalves em artigo publicado, que diz:

Os direitos e garantias fundamentais, algumas vezes, podem apresentar colisão


entre si, entretanto sua harmonização deve ser perseguida e para tanto se deve
aplicar o princípio da proporcionalidade de forma a que nenhum desses direitos e
garantias seja totalmente aniquilado para preservação de outro. As restrições que
venham a ser aplicadas em relação a um direito em favor de outro devem ser
proporcionais, adequadas e razoáveis. (GONÇALVES, 2012)

O professor Pedro Lenza, nos ensina ainda, o seguinte sobre o princípio da


proporcionalidade:

Como parâmetro, podemos destacar a necessidade de preenchimento de 3


importantes elementos:
Necessidade: por alguns denominada exigibilidade, a adoção da medida que possa
restringir direitos só se legitima se indispensável para o caso concreto e não se
puder substituí-la por outra menos gravosa;
Adequação: também chamado de pertinência ou idoneidade, quer significar que o
meio escolhido deve atingir o objetivo perquirido;
Proporcionalidade em sentido estrito: sendo a medida necessária e adequada, deve-
se investigar se o ato praticado, em termos de realização do objetivo pretendido,
supera a restrição a outros valores constitucionalizados. Podemos falar em máxima
efetividade e mínima restrição. (LENZA, 2011, p. 151)
17

5 A VISÃO DA SOCIEDADE E DA IGREJA CATÓLICA

Considerando que nossa sociedade é estruturada na fé cristã, onde a vida


humana foi criada por Deus e somente por vontade Dele pode ser ceifada, a
eutanásia não é vista pela sociedade com bons olhos.
Uns defendem a prática para garantir que o paciente em fase terminal goze
de uma morte indolor, entendendo ser uma atitude de piedade em prol de uma morte
digna.
Outros por sua vez, criticam a prática afirmando que a vida é um dom e que
devemos fazer de tudo para prolongá-la.
Muito se discute sobre o assunto, porém esse tema está longe de ser
superado, tendo em vista que diversas são as discussões jurídicas, médicas e
principalmente morais acerca do assunto.
Embora o Estado seja classificado como laico, de acordo com o que prevê
a Constituição Federal, devido a costumes e fatos históricos, o Brasil tem em sua
maioria a população formada por católicos e evangélicos, o que causa grande
influência contrária à regulamentação da eutanásia.
Em 1956, a Igreja Católica se posicionou contra a prática da eutanásia por
considerá-la “contrária a lei de Deus”.
O Vaticano define a eutanásia como: “Uma ação ou omissão que, por sua
natureza, ou nas intenções, provoca a morte a fim de eliminar a dor. A eutanásia
situa-se, portanto no nível das intenções e no nível dos métodos empregados".
(VATICANO, 1980).
Sua visão sobre a eutanásia se exterioriza através de dois documentos: o da
Conferência Episcopal da Alemanha, que surgiu em 1978, e o Documento da Santa
Sé sobre a Eutanásia, de 1980.
Os dois documentos são acordes em dizer que ninguém pode autorizar a
morte de um ser humano, seja ele velho, adulto, criança, feto, doente incurável ou
em agonia, de forma que nenhuma autoridade, por mais legítima que seja, pode
impor nem permitir a prática, haja vista que viola a lei divina, ofende a dignidade da
pessoa e se trata de crime contra a vida e a humanidade.
De forma alguma o Vaticano aprova a legalização da eutanásia. O
representante do Papa a descreveu da seguinte forma: “Essa lei contradiz a
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declaração de Genebra de 1948 da Associação Mundial dos Médicos, assim como


os princípios éticos médicos aprovados por doze países da Comunidade Européia
em 1987”. (VATICANO, 1980).
Em 1957, numa alocução de médicos, o Papa Pio XII considerou a
possibilidade de se encurtar a vida através da utilização de medicamentos como
efeito colateral, porém de forma não intencional, com a intenção de livrar o paciente
das insuportáveis dores, ou seja, podemos verificar a utilização da eutanásia de
duplo efeito.
Já o Papa João Paulo II, na década de 1980, em seu depoimento divulgado
na Declaração sobre Eutanásia, onde existia proposta pelo Vaticano de duplo efeito
e descontinuação de tratamento considerado fútil, afirmou que nenhuma lei poderia
jamais tornar lícito um ato intrinsecamente ilícito. “Estas leis carecem de autêntica
validade jurídica”. (VATICANO, 1980).
Para a Sagrada Congregação Para a Doutrina da Fé entende-se que: “A
eutanásia é uma acção ou omissão que, por sua natureza ou nas intenções, provoca
a morte a fim de eliminar toda a dor. A eutanásia situa-se, portanto, ao nível das
intenções e ao nível dos métodos empregados”. (VATICANO, 1980).
Na opinião da Sagrada Consagração Para a Doutrina da Fé, ninguém pode
supor esse gesto homicida para si ou para outrem, ou consentir implícita ou
explicitamente esta prática a pessoa que esta sob sua responsabilidade.
Porém, a Igreja Católica concorda que a determinação do momento da morte
é ato específico do médico, pois a ciência define por quanto tempo um paciente
ainda terá de vida, sendo certo que esta vida deve ser em condições dignas.
Nos hospitais, há também muita resistência Católica com relação aos pedidos
de eutanásia dos doentes que se encontram em fase terminal, isso por acreditarem
que seria “contra a lei de Deus”.
Entretanto, estudos comprovaram que em 28 a 38% dos casos, católicos
após se utilizarem de filtros paliativos aceitam a prática da eutanásia.
Todavia, esse número de aceitação da prática é significativamente maior em
relação a pessoas sem religião ou neutras, o que nos leva a perceber o quão grande
é a influência da religião sobre o tema, tendo em vista que na maioria das rejeições,
o motivo é a filiação religiosa do indivíduo. (BATISTA, 2009).
A Igreja Católica não condena a suspensão do tratamento de um paciente
com morte encefálica certificada, pois acredita que para a medicina, a irreversão da
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morte cerebral é a definição de morte do paciente, sendo assim, dado o paciente


como morto, o desligamento das máquinas que mantém sua vida, não é considerado
como eutanásia.
Importante ressaltar, no nosso país, a Resolução nº. 1480/97 do Conselho
Federal de Medicina estipulou um procedimento para que fosse constatada a morte
encefálica do paciente de forma precisa.
Acredita-se que por motivo de razões afetivas, ou pelo fato de saber que o
paciente sofre de dores insuportáveis e sem previsão de término, alguém pode de
boa-fé, pedir a morte para si ou para outrem, na certeza de que com isso, ela
mesma ou o enfermo incurável próximo afetivamente a ela, encontrará a paz de uma
morte piedosa e sem sofrimento, mas isso não modifica a natureza homicida desse
gesto, que para a Igreja Católica é inconcebível.
Para a Igreja, entende-se que as súplicas pela eutanásia dos enfermos em
estágios terminais, não podem ser consideradas como expressão da sua
autodeterminação, mas sim como um ato de desespero de alguém que já não
suporta mais conviver com as dores intermináveis de um tratamento, e que estes
necessitam de amor, carinho e compreensão dos familiares, da equipe médica, além
dos cuidados médicos necessários para sua “recuperação”.
Em 1980, na Declaração Sobre a Eutanásia, a Igreja Católica, se posicionou
de forma decisiva sobre a prática, afirmando que: “nada nem ninguém pode
permitir de qualquer forma que um ser humano seja morto, seja ele feto ou um
embrião, uma criança ou um adulto, um velho ou alguém sofrendo de uma doença
incurável, ou uma pessoa que está morrendo”. (VATICANO, 1980).
Como podemos observar, este é um tema muito complexo e amplo devido à
divisão de ideologias, e que ainda está longe encontrar uma solução, até mesmo
porque, nunca se encontrou uma interpretação consensual, pois as várias áreas
divergem em suas opiniões.
Há quem defenda que a antecipação da morte daria ao paciente o direito de
morrer com dignidade, através do princípio da autodeterminação, o que permitiria
que o enfermo em estado de dor e sofrimento incessantes, pudesse decidir sobre
sua própria morte.
Já a doutrina contrária, teme que a prática dê espaço à comercialização de
saúde, aos abusos e as finalidades escusas, como por exemplo, negar
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medicamentos e procedimentos que supostamente dariam ao paciente uma vida


digna até seus últimos dias para poupar recursos hospitalares.
É incontestável que o assunto precisa de um aprofundamento em seus
estudos na tentativa de se chegar a uma conclusão lógica que favoreça a todos.
Enquanto isso, alguns estudiosos tentam encontrar lacunas na lei para que se
possam implementar a prática no meio social, enquanto que outros, se utilizam de
princípios expressos na lei para tentar vetar sua legalização.

6 CONCLUSÃO

Nesse trabalho, abordamos o assunto eutanásia e seus principais aspectos,


visando analisar a complexidade do tema, que é muito polêmico, discutido em todo o
mundo, porém que ainda está longe de ser resolvido, devido à divisão de ideologias,
aos valores éticos, morais, religiosos e jurídicos que o envolvem, sendo sua
discussão de suma importância.
Fica evidente a necessidade de um estudo mais intenso e analítico quanto
aos resultados, considerando as decorrências obtidas nos países em que a
eutanásia é permitida, bem como a importância da proposta de alteração da
legislação para que este processo possa ou não, vir a ser aceito no país.
A eutanásia trata-se de por fim a vida de pacientes em estágio terminal de
doença incurável, mediante uma ação, visando cessar instantaneamente sua aflição,
portanto, o tema partilha das mais diversas controvérsias no mundo jurídico, pois
enquanto uns se posicionam a favor da morte com dignidade e que esta seria a base
para exercer sua capacidade de autodeterminação consciente da própria vida,
outros se baseiam nas leis e nos princípios constitucionais para defender a sua não
legalização, pois legalizar a eutanásia seria atestar a incapacidade de se lutar pela
própria vida.
Apesar de este ser um assunto muito discutido, mesmo sendo uma realidade
social, muitos países assim como o Brasil condenam a prática, tanto que aqui, a
eutanásia é tipificada como crime de homicídio privilegiado.
Entretanto, podemos verificar que o número de pessoas que aprovam a
prática tem aumentado bastante em todo o mundo, já que cada vez mais, países
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vêm adotando a eutanásia em seu ordenamento, ainda que cada caso necessite de
certos pressupostos para que a mesma seja aprovada.
Cabe ressaltar que é clara a influência direta da religião na formação de
opiniões dos seguidores religiosos, que dividem as mais diversas crenças e pontos
de vistas sobre o tema, ficando os mesmos divididos acerca do tema.
O Brasil, apesar de ser considerado um Estado laico, possui a maioria da
população composta por adeptos de religiões como o catolicismo e protestantes,
religiões estas, que são contrárias a prática, desta forma, evidencia-se que a religião
ainda possui grande influência na opinião da sociedade.
Sem dúvida ainda há muito a ser discutido, visto que questões como direito à
vida e dignidade da pessoa humana, influenciam muito nesse contexto, bem como
as questões religiosas, sociais e ideológicas.
Assim, nota-se que ainda há muita pesquisa a ser feita acerca do assunto até
que se chegue a um consenso e para que seus parâmetros sejam definidos, ou
ainda, ao menos para que se chegue à conclusão se a prática deverá ser adotada
ou não pelo nosso ordenamento jurídico.
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