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Curso de Direito
São Gonçalo
2017.2
LETÍCIA SANTOS DE ALMEIDA
São Gonçalo
Campus Alcântara
2017.2
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Por fim, falaremos do assunto sob a ótica da Igreja Católica, que se posiciona
contra a prática da eutanásia, em defesa da vida por ser um dom dado por Deus, e
como a sua visão exerce forte influência sobre a opinião da sociedade.
2.1 CONCEITOS
vida do paciente, mas sim de uma omissão, pois se deixa de usar artifícios para sua
sobrevivência, porém, várias são as classificações que se subdivide o termo
eutanásia.
De acordo com Pinan Y Malvar em “Direito de Matar”, definem o conceito de
eutanásia como: “[...] aquele ato em virtude do qual uma pessoa dá morte a outra,
enferma e parecendo incurável, ou a seres acidentados que padecem, a seu rogo ou
requerimento e sob impulsos de exacerbado sentimento de piedade e humanidade”.
(MENEZES, 1977, p. 63).
2.2 CLASSIFICAÇÕES
Platão, no seu terceiro livro "República", em Atenas, 400 anos a.C., pregava o
sacrifício de velhos, fracos e inválidos, com fundamento no interesse do
fortalecimento do bem-estar e da economia coletiva. Licurgo, antes disso, matava
crianças aleijadas ou débeis que, de forma cruel, eram sacrificadas apenas pelo
desígnio único de produzir homens robustos e aptos para a guerra. (SILVA, 2000).
Em razão das inúmeras epidemias e pestes, na época da Idade Média a
prática da eutanásia era comum, tendo em vista que as doenças se espalhavam
com facilidade, em decorrência do estado de miséria em que se vivia a população no
período de decadência do feudalismo. (SILVA, 2000).
Vários países europeus debatem sobre a aceitação da regulamentação da
eutanásia. A Holanda foi o primeiro país a autorizar oficialmente a prática da
eutanásia, em 28 de novembro de 2000, porém há restrições para que os médicos
recorram à eutanásia. Segundo Clowes (1977), o enfermo deve estar acometido por
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Assim sendo, podemos verificar que o agente que pratica a eutanásia, age
por impulso de relevante valor moral, desejando realizar último pedido do paciente,
que já não tem mais força de continuar a vida eis que em estado incessante de
doença incurável.
Por outro lado, o suicídio é visto como um fenômeno social, que ainda desafia
os pesquisadores que os estudam, pois sempre são abordadas as possibilidades de
auxílio, instigação ou induzimento ao suicídio.
Em 1830, o Código Criminal do Império do Brazil em seu artigo 196, instituiu
pena de 2 a 6 anos, como punição do auxílio de qualquer tipo ao suicídio.
Já no Código Penal dos Estados Unidos do Brazil de 1890, foi instituída a
pena de 2 a 4 anos, para o terceiro que induzisse ou auxiliasse verbal ou fisicamente
o suicídio, porém não era considerado crime se o induzido ou instigado não
obtivesse êxito na morte.
A chamada morte assistida, atualmente, no nosso Código Penal de 1940,
considera-se crime de induzimento, em seu artigo 122, onde afirma que induzir ou
instigar alguém a se suicidar ou prestar qualquer tipo de ajuda para que o faça, a
pena é de reclusão em duas hipóteses: de dois a seis anos, se o suicídio se
consuma; de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de
natureza grave.
A pena para essa conduta, ainda é duplicada se praticada por motivo
egoístico, se a vítima for menor de idade ou se tiver diminuída, por qualquer causa,
sua capacidade de resistência, conforme dispõe os incisos I e II do mesmo
dispositivo.
Há tempos, houve um Projeto de Reforma do Código Penal, que tramitou
perante o Congresso Nacional, na qual a eutanásia seria descrita no §3º do artigo
121, de forma que se o autor do crime agisse por compaixão, a pedido da vítima,
imputável e maior, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável, em razão de
doença grave, a pena de reclusão seria de três a seis anos.
Podemos observar que se a proposta de reforma fosse aprovada pelo
Congresso Nacional, a eutanásia seria instituída como causa de diminuição de pena
para o homicídio.
Já no §4º do mesmo artigo desse projeto de reforma, a conduta seria tratada
como ortotanásia, e não constituiria crime deixar de manter a vida de alguém por
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meio artificial, desde que a morte fosse iminente e inevitável, atestada por dois
médicos e tivesse o consentimento do paciente e de seus familiares.
Importante ressaltar que esse projeto, foi criado na tentativa de regulamentar
a eutanásia, pois previa a possibilidade da prática desde que autorizado pelo
paciente e com a aprovação de uma junta médica, frisando que os parentes também
poderiam requerer a eutanásia pela via judicial, porém o projeto de lei não foi
aprovado.
Desta forma, seria justo uma pessoa que na certeza de sua morte, tendo em
vista que não há recursos suficientes capazes de proporcionar a cura para sua
doença, sofrer física e psicologicamente até último dia de sua vida, sem que possa
ela mesma decidir se quer continuar vivendo assim, ou não?
Seria justo, ainda, oferecer ao paciente terminal a prática da eutanásia na
intenção de proporcionar uma “boa morte”, sem dor ou sofrimento, como única
opção para o fim de sua agonia?
Muitas são as opiniões que dividem o tema eutanásia, inclusive a discussão
sobre a indisponibilidade ou a disponibilidade da vida humana toda vez que o
assunto é abordado.
Por outro lado, opiniões contrárias à prática, dizem que deste princípio
derivam todos os direitos fundamentais assegurados pela Constituição, inclusive o
direito à vida, e por isso esta deve ser protegida a qualquer custo, principalmente do
próprio indivíduo.
Se mostrando contrariamente à prática por médicos, Genival Veloso de
França diz que: “O médico não pode nem deve, de forma alguma e em nenhuma
circunstância, contribuir ativamente para a morte do paciente, pois isso se contrapõe
ao seu compromisso profissional e à sua formação moral”. (FRANÇA, 2007, p. 491).
Sendo o direito à vida, o direito mais fundamental de todos, haja vista que
sem ela não há possibilidade de haver direitos fundamentais, está previsto no caput,
do artigo 5ª da CRFB/88, e é assegurado a todos os brasileiros e estrangeiros
residentes no país.
Temos como exceção a esta regra a autorização da pena de morte em caso
de guerra declarada, expressamente descrita na CRFB/88 em seu artigo 84, que é
quando por se tratar do direito à vida, nenhum outro direito poderá ser garantido,
cabendo a Carta Maior autorizar que se tire a vida de outrem.
Segundo Pedro Lenza: “O direito à vida, previsto de forma genérica no art. 5º,
caput, abrange tanto o direito de não ser morto, privado da vida, portanto, o direito
de continuar vivo, como também o direito de ter uma vida digna”. (LENZA, 2011, p.
872).
Desta forma, a doutrina ressalta que vida digna, é aquela no nível de vida
adequado de condição humana, que garanta suas necessidades vitais, como a
alimentação, vestuário, educação, saúde e lazer.
No entendimento de Alexandre de Moraes:
O direito à vida tem um conteúdo de proteção positiva que impede configurá-lo como
um direito de liberdade que inclua o direito à própria morte. O Estado, principalmente
por situações fáticas, não pode prever e impedir que alguém disponha de seu direito
à vida, suicidando-se ou praticando eutanásia. Isto, porém, não coloca a vida como
direito disponível, nem a morte como direito subjetivo do indivíduo. (MORAES, 2003,
p.91).
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6 CONCLUSÃO
vêm adotando a eutanásia em seu ordenamento, ainda que cada caso necessite de
certos pressupostos para que a mesma seja aprovada.
Cabe ressaltar que é clara a influência direta da religião na formação de
opiniões dos seguidores religiosos, que dividem as mais diversas crenças e pontos
de vistas sobre o tema, ficando os mesmos divididos acerca do tema.
O Brasil, apesar de ser considerado um Estado laico, possui a maioria da
população composta por adeptos de religiões como o catolicismo e protestantes,
religiões estas, que são contrárias a prática, desta forma, evidencia-se que a religião
ainda possui grande influência na opinião da sociedade.
Sem dúvida ainda há muito a ser discutido, visto que questões como direito à
vida e dignidade da pessoa humana, influenciam muito nesse contexto, bem como
as questões religiosas, sociais e ideológicas.
Assim, nota-se que ainda há muita pesquisa a ser feita acerca do assunto até
que se chegue a um consenso e para que seus parâmetros sejam definidos, ou
ainda, ao menos para que se chegue à conclusão se a prática deverá ser adotada
ou não pelo nosso ordenamento jurídico.
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7 REFERÊNCIAS
BATISTA, Américo Donizete. A eutanásia, o direito à vida e sua tutela penal à luz
da Constituição. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2009-dez-21/eutanasia-
direito-vida-tutela-penal-luz-constituicao>. Acesso em: 18 ago. 2017.
BRASIL. Código Criminal do Império do Brazil de 1830, Art. 196. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM-16-12-1830.htm>. Acesso em: 18
ago. 2017.
BRASIL. Código Penal dos Estados Unidos do Brazil de 1890, Art. 299. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d847.htm>. Acesso em:
18 de agosto, 2017.
FRANÇA, Genival Veloso de. Direito Médico. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2011.
SILVA, S.M.T. Eutanásia. Jus Navigandi, Teresina, dez. 2000. Disponível em:
https://www.jurisway.org.br/monografias/monografia.asp?id_dh=6651. Acesso em:
12 set. 2017.