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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL 1 I M I N A S GERAIS

Recurso Criminal no 392-57.2013.6.13.0213


Zona Eleitoral: 213a, de Pedra Azul, Município de achoeira de Pajeú - MG
Recorrente: Fábio Ferraz Franco
Recorrido: Ministério Público Eleitoral
Relator: Juiz Paulo Rogério Abrantes
Revisor: Juiz Ricardo Torres Oliveira

RECURSO CRI1 NAL. ELEIÇÕES 2008. AÇÃO


PENAL. ART. 9 DO CÓDIGO ELEITORAL.
CORRU PÇÃO ELEITORAL. SENTENÇA
CONDENAT~RI
PRELIMINAR. I lidade absoluta por ofensa a
ampla defesi diante da ausência de
oferecimento suspensão condicional do
processo qUi do do recebimento da
denúncia.
IVulidade relati' que deveria t e r sido arguida
e m tempo opo jno. Preclusão. Existência de
processo e m idamento que inviabiliza a
concessão da suspensão condicional do
processo ao re rrente.
Rejeitada.
IYÉRITO.
Para a configi ição do crime de corrupção
eleitoral, alem ser necessária a ocorrência
de dolo espec :o, qual seja, obter ou dar
voto, consegu ou prometer abstenção, é
necessário quc I conduta seja direcionada a
eleitores identi ados o u identificáveis, e que
o corruptor ele )ral passivo seja pessoa apta
a votar.
Realização de festa de aniversário com
distribuição de 2bidas e de comida, além de
shows artístic I ocorrida e m dois dias.
Evento que j ocorria na municipalidade.
Convite feito todos os munícipes sem
qualquer dii -iminação. Ausência de
demonstração que na festa houve discurso
1
político ou me: o pedido de votos a futura
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eleição. Ausên ia do especial f i m de agir.


Conduta
Recurso pro do. Absolvição. Art. 386,
111, do Códig de Processo Penal.
I

Vistos, relatados e discutidos os autos d processo acima identificado,


ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral e Minas Gerais e m rejeitar a
preliminar de nulidade absoluta por ofensa 21 a pla defesa e, no mérito, a
~-.
unanimidade, dar provimento ao recurso, nos t e r m do voto do Relator.
i

Juiz Paulo Rogério A


Relator
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL E M I N A S GERAIS

I
Sessão de 23/10/2017

Recurso Criminal no 392-57.2013.6.13.0213 1


Zona Eleitoral: 213a, de Pedra Azul, Município de achoeira de Pajeú - MG
Recorrente: Fábio Ferraz Franco
Recorrido: Ministério Público Eleitoral
Relator: Juiz Paulo Rogério Abrantes
Revisor: Juiz Ricardo Torres Oliveira
-

O JUIZ PAULO ROGÉRIO ABRANTES - F~BIO FERRAZ FRANCO, então


Prefeito Municipal e candidato a reeleição, nas E ões de 2008, e m Cachoeira
do Pajeú, recorre da sentença proferida pelo IYM. , da 213a Zona Eleitoral, de
Pedra Azul, que o condenou nas penas do art. do Código Eleitoral a dois
anos e seis meses de reclusão e 10 dias-multa fi o o dia-multa em l/2 salário
mínimo vigente a época dos fatos, em regime cumprimento aberto, com
substituição da pena privativa de liberdade por du enas restritivas de direitos,
com base no art. 44, €J 40, do Código Penal, s : prestação de serviços a
comunidade nos termos do art. 46 do Código Pen restação pecuniária de 10
salários mínimos, por ter realizado festa de an rio nos dias 22 e 23 de
março, praticamente um mês da data efetiva de iversário (28 de fevereiro
de 2008), além de ter enviado convites a todos e, em ano eleitoral, com
distribuição de bebida alcóolica ou não, churra a realização de shows
de artistas de renome, com obtenção indevida
Suscita preliminar de nulidade abs fensa a ampla defesa,
diante da ausência de oferecimento da su ndicional do processo
quando do recebimento da denúncia. Afir MN
IS
I~
-ÉRO
I PÚBLICO
ELEITORAL tem a faculdade ou não de ofere io, mas caso opte por
não o apresentar, o Poder Judiciário pode r os fundamentos da r'
r

I!

Gr Recurso Criminal no 392-57.2013.6. 1


i
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recusa submetidos ao Juízo da legalidade. De :aca que o art. 89 da Lei


no 9.099/1995 é perfeitamente aplicável aos proc jimentos regidos pelo Código
Eleitoral e que a ausência da proposta de suspens o condicional do processo lhe
trouxe prejuízo, já que poderia ter usufruído de n benefício legal que teria o
condão de afastar o perigo de risco a violação dc seu status Ijbertatjs por uma
sentença condenatória.
Quanto ao mérito, afirma que os preser 2s procuradores assumiram a
causa já em fase recursal e que, desde o início dr procedimento, se fazia viável
-
pedido de trancamento da ação penal, em razão a inépcia da denúncia, já ela
não identificou nenhum eleitor que tivesse sidc pretensamente aliciado pelo
recorrente, mas que com a prolação da sentença questão se tornou preclusa,
matéria que constitui, por esse motivo, o mérito dc recurso.
Repisa que a denúncia não pontuou ienhum eleitor que tivesse
supostamente sido aliciado pelo recorrente. Ale< que, nos dias 22 e 23 de
março de 2008, meses antes do registro de cai lidaturas eleitorais, fato que
somente ocorreu em julho daquele ano, o recorr i t e realizou, como já o fazia
por diversos anos, sua festa de aniversário. Afirr 3 que para o evento, toda a
população de Cachoeira do Pajeú, independentemc t e de o cidadão estar apto ou
não a votar, foi convidada; que o evento fc realizado na única quadra
- poliesportiva da cidade, sendo que os poucos c( 3boradores que contribuíram
para o evento eram seus amigos. Faz referê :ia a prova testemunhal e
argumenta que a sentença proferida deve ser reformada, porque ela não
demonstrou a elementar implícita no tipo penal do irt. 299 do Código Eleitoral, a
saber, a indicação de eleitores identificados ou jentificáveis que teriam, em
tese, sido aliciados a votar no recorrente. Ente de que essa ausência torna
atípica a conduta. Menciona julgados que entendc aplicáveis ao caso e entende
que o julgado ofende a Lei Federal, especifica e n t e o art. 299 do Código
Eleitoral, na medida em que afasta a necessidade l e uma de suas reconhecidas
elementares para a caracterização do de1 3, Requer, desde já, o
prequestionamento da matéria. Com base nes :s apontamentos, pede sua

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0o*. ~4 0R %

absolvição nos termos do art. 386, 111, do Códigc Je Processo Penal, em razão
da conduta não se amoldar no tipo penal do art 299 do Código Eleitoral por
ausência de uma de suas elementares, já que a 'esta por ele patrocinada foi
aberta ao público em geral, apto ou não ao oto, não havendo eleitores
identificados ou identificáveis que atestem uma prc 2nsa corrupção eleitoral.
Alem disso, afirma que ausente esta a t i cidade diante da inexistência
do especial fim de agir (dolo específico) que r o se encontra presente na
denúncia, qual seja, a de praticar a conduta di "dar, oferecer ou prometer
-
vantagem" somado a finalidade específica da conc ita que deve ser a de "obter
ou dar voto ou para conseguír ou prometer a b ~?nção". Menciona julgados.
Sustenta que, não obstante a ausência de provas :erca do especial fim de agir,
o MM. Juiz Eleitoral, sem fundamentar sua decisão fez uma ilação no sentido de
que o fato de o recorrente ter organizado uma fe a aberta ao público, apto ou
não ao voto, com distribuição gratuita de comida de bebida, seria prova cabal
da prática do art. 299 do Código Eleítoral. S i tenta que o Magistrado se
aproxima da malfadada teoria da imputação obje va e que o Juiz Eleitoral de
primeiro grau não estruturou sua conclusão 3s provas. Apresenta suas
considerações a respeito da prova testemunt 11 e menciona trechos de
depoimentos e conclui que "o douto Juizo a quo tír, uma condenação 'da cartola ;
não lastreando o seu decísum naquílo que de cono to há nos autos",
Por argumentação rechaça a colação fc a pelo Juiz Sentenciante da
decisão proferida no REspE no 445480 do E porque no julgamento
mencionado tem-se uma situação de u m candidat a Prefeito que realizou doze
bingos em diferentes bairros de uma cidade, prorr vendo discursos políticos em
cada evento, fazendo referência a candidatura e edindo votos aos presentes,
sendo que o caso do recorrente é totalmente diferc te, pois pela prova produzida
não há uma testemunha sequer que tenha afirrr do a realização de qualquer
manifestação política na festa de aniversário d recorrente. Nesse sentido,
requer sua absolvição com base no art. 386, 111, CPP, diante da ausência do
i'
especial fim de agir.

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Caso vencidas as teses acima, no tocant a dosimetria da pena, afirma


que o Juiz incorreu e m bis in idem ao exasperar pena base a partir de uma
circunstância judicial que se põe como elementar ( I próprio tipo penal. Sustenta
que a elevada majoração da pena se justifico com base e m uma única
circunstância judicial, qual seja, os 'motivos do c me". Assevera que a norma
penal incriminadora identifica como elementar próprio tipo penal que a
conduta seja praticada "para obter ou dar voto t para conseguir ou prometer
abstenção, ainda que a oferta não seja aceita" e q i isso se justifica e m razão de
- +

os motivos do crime já terem sido considerad ; na formação do juízo de


culpabilidade sobre a conduta de corrupção eleito 31 quando da criação do tipo
penal pelo legislador. Menciona julgados do Supr ior Tribunal de Justiça e do
Supremo Tribunal Federal. Por argumento, alega ue nem mesmo poderia ser
considerada a questão como "as circunstâncias dc jelito", porque senão seria o
caso de flagrante vedação ao princípio da proit ;ão da reformatio in pejus.
Assim, requer a reestruturação da pena bac tendo como favorável a
circunstância judicial 'os motivos do crime", r a z i pela qual pede para que a
pena base seja fixada no mínimo legal ( u m ano de ?clusão).
De forma subsidiária, pede pela reduçã da exasperação, porque, no
presente caso, o Magistrado a quo, ao proceder i etapa da dosimetria descrita
no art. 59 do Código Penal, elevou a pena de form desproporcional e m razão de
uma Única circunstância judicial. Argumenta que eria razoável o aumento de
quatro meses e 15 dias por cada circun :ância judicial considerada
negativamente e que, no caso, procedeu-se a u m i imento de mais de três vezes
esse patamar.
Pede pela diminuição do patamar de aur ento pela única circunstância
judicial negativa constatada pelo Juiz de 10 grau i que seja considerado que se
aumente a pena e m quatro meses e 1 5 dias.
Ao final, pede:
'i
1. Preliminarmente: que se anule o presente feito a partir do t

recebimento da denúncia diante da ausência d manifestação do Ministério

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Público acerca do oferecimento da suspensão cond ional do processo;


2. Caso superada a preliminar, no méritc
a) a absolvição do recorrente nos term ; do art. 386, 111, do CPP já
que não ficou demonstrado eleitores identificados u identificáveis que tivessem
sido pretensamente aliciados, de forma que tal pontamento é elementar da
conduta e que sua ausência implica em conduta at ica;
b) Caso superada a tese acima, a absol ção do recorrente, com base
no art. 386, 111, do CPP, já que o MPE quanto o l u o a quo não demonstraram a
- ..-
presente do especial fim de agir, o que demonstra i r a conduta atípica;
c) se vencidas as teses anteriores, req i r que a pena seja reduzida
para seu patamar mínimo, já que os 'motivos do c me" já é elemento do próprio
tipo penal, de forma que sua utilização na primeira ase constituiu bis in idem;
d) por fim, se as teses anteriores forem uperadas, que o quantum de
aumento da pena base seja reformado já que apc as uma circunstância judicial
representou u m aumento de pena superior ao pi prio mínimo legal estipulado
pelo art. 299 do Código Eleitoral.
O MN
IS
ITÉRO
I PÚBLICO ELEITORAL i resentou contrarrazões (fls.
346-350 e v.).
A Procuradoria Regional Eleitoral ~anifestou-se pelo parcial
provimento do recurso para rejeitar a prelimin r e, no mérito, absolver o
recorrente do crime de corrupção eleitoral, ou, cai I assím não se entenda, para
que seja excluída a valoração da circunstância judi al 'motivo do crime" sendo a
pena fixada em seu mínimo legal (fls. 353-357 e v
É o relatório.

VOTO

O JUIZ PAULO ROGÉRIO ABRANTES - I ,610 FERRAZ FRANCO, então


Prefeito Municipal e candidato a reeleição, nas El ções de 2008, e m Cachoeira
do Pajeú, recorre da sentença proferida pelo VIM. : iz, da 213a Zona Eleitoral, de

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Pedra Azul, que o condenou nas penas do art. 19 do Código Eleitoral a dois
anos e seis meses de reclusão e 10 dias-multa fi) do o dia-multa e m l/2 salário
mínimo vigente a época dos fatos, e m regime e cumprimento aberto, com
substituição da pena privativa de liberdade por du; penas restritivas de direitos,
com base n o art. 44, 54O, do Código Penal, se do: prestação de serviços a
comunidade, nos termos do art. 4 6 do Código Peni e prestação pecuniária de 1 0
salários mínimos, por t e r realizado festa de anil ?rsário nos dias 2 2 e 23 de
março, praticamente u m mês da data efetiva de s A aniversário (28 de fevereiro
de 2008), além de t e r enviado convites a todos d; cidade, e m ano eleitoral, com
distribuição de bebida alcóolica ou não, churrascc 2 com a realização de shows
de artistas de renome, com obtenção indevida de \ tos.
O recurso é próprio e tempestivo, dele c! iheço.
Inicialmente, destaco que não incidem r presente caso nenhuma das
causas de prescrição da pretensão punitiva, s a pela pena cominada e m
abstrato seja com base na pena aplicada e m concr :o.
Assim sendo, inicialmente, passo a an2 se da preliminar de nulidade
do processo.

PRELIMINAR DE NULIDADE ABSOLUTA F IR OFENSA A AMPLA DEFESA,


DIANTE DA AUSÊNCIA DE OFERECIMENTO DA s SPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO QUANDO DO RECEBIMENTO DA DENÚP :IA
O recorrente argumenta que é faculta 10 ao MN
IS
ITÉRO
I PÚBLICO
ELEITORAL oferecer a suspensão condicional dc processo, mas que ele não
poderia deixá-la de ofertar sem qualquer justific; iva. Além disso, alega que a
justificativa do órgão ministerial estaria sobre a i álise da legalidade que seria
realizada pelo Magistrado.
Iriicialmente, destaco que a nulidade n questão é relativa e não
absoluta como quer fazer crer o recorrente. Para t, ito, deveria t e r sido suscitada
\
e m sua defesa realizada e m l a instância e nS somente agora no recurso :
.>
:
eleitoral apresentado. Menciono julgado do TSE: /

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ELEIÇÕES 2008. AGRAVO REGIME TAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME


ELEITORAL. CORRUPÇÃO ELEITORAL. SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO. ART. 3 DA LEI NO 9.096195. NULIDADE
RELATIVA. PRECLUSÃO. DESPROVIM ITO.
1. A jurisprudência deste Tribunal e I Supremo Tribunal Federal é firme
no sentido de que, por se tratar 2 nulidade relativa, a ausência de
proposição de suspensão condicioni do processo pelo Ministério Público
Eleitoral torna a matéria preclusa, se não suscitada pela defesa no
momento oportuno.
2. Agravo regimental desprovido. (1 E. AgR-REspe - Agravo Regimental
e m Recurso Especial Eleitoral no 4095 - Pacatuba/SE, Acórdão de
3/8/2015, Relatora: Min. LUCIANk CHRISTINA GUIMARÃES LOSSIO,
Publicação: DJE - Diário da Jui ça Eletrônico, Tomo 201, Data
22/10/2015, Paginas 3 1 e 32.)

E mesmo que se supere o entendimentc icima, é fato que há Certidão


de Antecedentes Criminal - CAC (fls. 103-106) quc demonstra que se encontram
em tramitação os Autos no 0168763-48.2005.8.1 ,0487 perante a Comarca de
Pedra Azul, o que impediu a propositura do benefíc t.

O art. 89 da Lei no 9.099/1995 dispõe q~ !:

Art. 89. Nos crimes e m que a pena i nima cominada for igual ou inferior
a u m ano, abrangidas ou não po esta Lei, o Ministério Público, ao
oferecer a denúncia, poderá propor suspensão do processo, p o r dois a
quatro anos, desde que o acusado io esteia sendo processado ou não
tenha sido condenado por outro crim presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicio 11 da pena ( a r t . 77 do Código
Penal). (Sem grifos e sem destaque: io original.)

Assim sendo, não há falar em qualquer 3rejuizo ao recorrente, ainda


mais quando ele, de forma inequívoca, não fazia j~ ao benefício.
Diante disso, rejeito a preliminar.

MERITO
Narra a denúncia que:

Nos dias 2 2 e 23 de março do ano 2 2008, na cidade de Cachoeira do


PajeÚ/MG, o denunciado deu/oferec i, para outrem, dádivas/vantagens
para obter votos na disputa eleitor ao cargo de Prefeito Municipal do
referido município.
Segundo consta dos autos, o d e n ~ :iado, na época dos fatos prefeito
municipal do município de Cacho -a do PajeÚ/MG e candidato e m

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potencial a reeleição (como de fatt ocorreu), resolveu promover uma


festa na cidade supracitada sob o fa ,o motivo de estar comemorando o
seu aniversário.
Definida a data, o denunciado não I )upou esforços para que a referida
comemoração reunisse a maior quai idade de pessoas possíveis, já que
representaria u m maior número de I ssíveis votos na sua candidatura a
reeleição.
Primeiramente, tratou de conseguir n espaço amplo para receber seus
'convidados'. O local escolhido foi o inásio poliesportivo de propriedade
do município de Cachoeira do Pajeú! IG. Após, contratou a instalação de
toldos, de um palco para apresentaçi 1 de bandas musicais, bem como de

equipamentos de som.
Como forma de divulgar o evento, o ;r. FÁBIO FERRZ FRANCO contratou
u m carro de som que, dias ante! da festividade, percorreu toda a
extensão do município 'conclamandc toda a população para que fosse
'prestigiar' o denunciado afirmando q 2 haveria a apresentação de grupos
musicais ao longo dos 02 (dois) dias Je festa, eis que alguns trechos do
CD de divulgação: 'O amigo Fabil (Fabinho - eco-) tem a imensa
satisfação de convidar toda a popul' .ão de Cachoeira e região, para as
festividades de comemoração de seu niversário/música/ que acontecerão
nos dias vinte e dois e vinte e três de março na quadra
poliesportiva/música. Dia ,vinte e dc ;, sábado, AS vinte horas Agnaldo
Timóteo cover/música/ As vinte e três horas banda Pisadinha sem
Vergonha da Bahia/música/ dia vint e três, domingo, as dezoito horas
banda Puro Swingue/música/ e as V I te e duas horas o maior fenômeno
do forró, banda Suco de Pimenta/mi ica/. Venha, traga toda sua família,
a sua presença será o maior presente núsica:
Saliente-se que durante as comemt ações, que de fato ocorreram nos
dias referidos, houve a distribuição c 3tuita de alimentação (churrasco) e
bebidas alcóolicas, contando ainda zom a participação de servidores
municipais para servir os 'convidados
Apesar do motivo declarado par, justificar o evento ter sido a
comemoração do aniversário do dent iciado, restou evidente a conotação
política e eleitoral da festa. A verdai ?ira intenção do Sr. FÁBIO FERRAZ
FRANCO era oferecer/dar a popul ção local dádivas para obter os
respectivos votos na próxima eleição ~unicipal.

O art. 299 do Código Eleitoral dispõe:

Art. 299. Dar, oferecer, prometer, 2 licitar ou receber, para si ou para


outrem, dinheiro, dádiva, ou qualque outra vantagem, para obter ou dar
voto e para conseguir ou prometer al ,tenção, ainda que a oferta não seja
aceita :
Pena - reclusão até quatro anos e agamento de cinco a quinze dias-
multa.

Ao analisar o caderno probatório, concl o que a conduta narrada na


'\
denúncia é atípica. É que a dádiva atingiu todo e I iialquer cidadão que quisesse i-

ir à festa. Pelos depoimentos prestados e m Juízo 1 :ou claro que a população foi v

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convidada de maneira geral, sem qualquer discr ninação ou individualização.


Veja-se :

(...) que sabe que a população foi co vidada para a festa; que a festa foi
aberta ao público; (...) que o con t e foi aberto; que quase toda a
sociedade de Cachoeira que costuma .equentar festas, se fez presente na
festa; (...) (Paulo César Matos- fls. 1f I e V.).

(...) que a festa foi aberta ao público (...) (Teodoro Pereira da Silva Neto
- fl. 181.)

O TSE já decidiu que:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE : ISTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL.


CONDEIUAÇÃO CRIMINAL. CORRUPÇ~ I ELEITORAL.C~DIGO ELEITORAL.
ART. 299. PROVIMENTO.
1. Para a configuração do crime d corrupção eleitoral, além de ser
necessária a ocorrência de dolo e pecífico, qual seja, obter ou dar
voto, conseguir ou prometer é ~stenção, é necessário que a
conduta seja direcionada a eleitores identificados
ou identificáveis, e que o corrup ,r eleitoral passivo seja pessoa
apta a votar. Precedentes.
2. Não há falar em corrupção elei bral mediante o oferecimento de
serviços odontológicos a populaçi I em geral e sem que a denúncia
houvesse individualizado os eleitc es supostamente aliciados.
3. Agravos regimentais providos. (TI f . AgR-AI - Agravo Regimental e m
Agravo de Instrumento no 749: .9 - TeresÓpolis/RJ, Acórdão de
11/12/2014, Relatora: Min. MARIA 1 IEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA,
Relator designado: Min. JOSE ANTÔR 3 DIAS TOFFOLI, Publicação: DJE -
Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 3: Data 23/2/2015, Página 54, fonte:
síte do TSE na internet, consultado n 29/5/2017.) (Sem destaques n o
original.)

O próprio Órgão ministerial que oficia pl -ante este Tribunal chegou a


mesma conclusão: "Como se vê, a benesse abra1 j e u todo e qualquer cidadão
que quisesse ir na festa, ainda que não fosse pe soa apta a votar, não sendo
crível falar e m corrupção eleitoral".
Além disso, a conduta é atípica também ,ela ausência do especial fim
de agir. De fato, o recorrente realizou a festa c convidou toda a população.
Ofereceu comidas e bebidas e, ainda, shows arti ticos.
conduta do art. 299 do Código Eleitoral seja típic I
Contudo, para que a
é necessário que haja dolo
4
-.._
-2"

específico consistente no oferecimento da benesse 30 eleitor com a finalidade de ,

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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL D : MINAS GERAIS

obter o voto do eleitor. O julgado acima menc onado do Tribunal Superior


Eleitoral traz justamente esse entendimento.
No caso, as testemunhas afirmaram que ião houve pedido de voto dos
convidados e que sequer houve discussão sob : política ou foi falado em
eventual reeleição do recorrente. Veja-se:

(...) que os cumprimentos se davi n de forma natural; (...) que na


ocasião, não se falava em reeleição aquela época; (...) que desde que
conhece o Fábio, ele tem o hábito de 'azer essa festa todos os anos; que
conhece o Fábio desde o ano de 200; U
I 2003 e desse (sic.) essa época o
Fábio realizava essa festa; que nos lias da festa não tiveram discurso
político nem pedido de votos; que j i falavam que a testemunha seria o
possível candidato a prefeito de 2OOE mas nada formal e nenhum desses
assuntos foi tratado durante a festa; ...) (Paulo César Matos - fls. 180 e
v.).

(...) que não viu nem ouviu algut n falar de política na festa; que
ninguém falou com o declarante a speito de intenção de votos, nem
mesmo de forma implícita (...) que o ábio sempre fazia essa festa no seu
aniversário; que o Fábio realiza há ( to a nove anos essa festa; que as
festas, normalmente, seguem o mes o padrão, com churrasco e banda;
que no dia não teve discurso político, :...) que sabe que neste ano a filha
do atual prefeito realizou neste mesr 1 espaço sua festa de quinze anos;
(...) (lesuíno Dias Neto - fls. 1 8 2 e v,

Conforme concluiu o próprio Parquet, nos autos somente se tem


provada a realização da festa, não havendo qualc ler elemento que aponte u m
aspecto essencial: o aliciamento dessas pessoas. Por tudo isso, não havendo
prova do elemento s~ibjetivo especial do tipo, onsistente na finalidade de
obtenção de vantagem eleitoral, deve a sentenc ser reformada para que o
recorrente seja absolvido (. . .)".
Demais disto, a realização da festa ocor ?u fora do período eleitoral e
até então o Réu sequer era candidato, não haver o falar, portanto, em pedido
de voto.
Diante disso, dou provimento ao 'ecurso para absolver o
recorrente do crime de corrupção eleitoral prf risto no art. 299 do Código
Eleitoral, com base no art. 386,111, do Código de Processo Penal. ,/,
'.
j

E como voto.

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'TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL t i MINAS GERAIS

Sessão de 23/10/2017

EXTRATO DA ATI

Recurso Criminal no 392-57.2013.6.13.0213


Relator: Juiz Paulo Rogério Abrantes
Revisor: Juiz Ricardo Torres Oliveira
-.
Recorrente: Fábio Ferraz Franco
Advogados: Drs. Oséas Souza Soares; Juliano F drigues Veloso Porto; Felipe
Daniel Amorim Machado; Felipe Marques Salgado
Recorrido: Ministério Público Eleitoral

Decisão : O Tribunal rejeitou a preliminar de n idade absoluta por ofensa a


ampla defesa e, no mérito, a unanimidade, de1 provimento ao recurso, nos
termos do voto do Relator.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Pedro Bernardes. esentes os Exmos. Srs. Des.
Rogério Medeiros e Juízes Paulo Rogério Abra es, Ricardo Torres Oliveira,
Ricardo Matos de Oliveira, Antônio Augusto Mesc ita Fonte Boa e João Batista
Ribeiro e o Dr. Ângelo Giardini de Oliveira, Procuri 3r Regional Eleitoral.

Recurso Criminal no 392-57.2013.E


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORA^ DE M I N A S G E R A Í ~
COORDENADORIA DE S E ~ S Õ E S
Seção de Publicação - S

Certifico e dou fé que o acórdão dd fls. 3651377, foi


disponibilizado no Diário da Justica Iletrônico - DJE -
(www.tre-mq.ius. br) na data /le 08111/2017,
considerando-se publicado no ia 0911112017,
inicíando-se o prazo processual n primeiro dia útil
seguinte a publicação, nos te os da Lei no
11.419/2006. art 40. Ej 40. Belo Horizonte,
08/11/2017.

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