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RELATÓRIO
VOTO
Aduz, por fim, que o v. Acórdão hostilizado mostra-se omisso, pois não houve
manifestação quanto ao pedido de revisão da causa de aumento de pena, decorrente da
continuidade delitiva, aplicada pelo juiz de piso.
Por ocasião da sessão de julgamento dos presentes embargos, na data de 05.07.17,
o Embargante apresenta petição (fls. 490/502) na qual requer o reconhecimento: (i) da ilegalidade
na valoração das circunstancias judiciais culpabilidade e motivo; (ii) da possibilidade de
concessão de habeas corpus de ofício; (iii) da violação dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade na fixação da pena-base; (iv) da impossibilidade de execução antecipada da pena
aplicada pelo Juízo de 1º grau.
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Em decorrência desses requerimentos, os autos foram baixados de pauta e
encaminhados para conhecimento e manifestação da douta Procuradoria Regional Eleitoral, em
estrita observância do art. 10, do CPC1.
O Parquet manifestou-se (fls. 506/516) pelo indeferimento dos pedidos
formulados.
Assim sendo, antes de analisar os Embargos de Declaração, faz-se necessário
decidir sobre os requerimentos apresentados.
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
CULPABILIDADE E MOTIVO – MATÉRIA DE ORDEM
PÚBLICA
2
Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 1390295/RJ, Relator Ministro Marco Buzzi, 4ª Turma,
acórdão publicado em 23.05.17.
3
Recurso Especial Eleitoral nº 6527, Relator Napoleão Nunes Maia Filho, acórdão publicado em 25.04.17.
Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 31-26/MG, Relatora Ministra Luciana Lóssio, acórdão
publicado em 19.12.16.
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recursais, pois “em sede penal, é possível a apreciação de questões de ordem pública a qualquer
momento e em qualquer grau de jurisdição, em razão do disposto no art. 654, § 2º, do CPP.”
O art. 654, § 2º do CPP dispõe que:
O Requerente afirma que o art. 147 da Lei de Execuções Penais5 não foi objeto de
declaração de não recepção pelo STF, continuando vigente, motivo pelo qual a execução
antecipada da pena restritiva de direito, aplicada ao Requerente pelo Juízo de 1º grau, resta
impossível.
No caso dos autos, a pena foi estabelecida em 03 (três) anos e 09 (nove) meses de
reclusão, mas foi substituída pela pena restritiva de direitos, na modalidade prestação de serviços
à comunidade e pagamento de multa.
O STF, através do Agravo em Recurso Extraordinário nº 964.246/SP, reafirmou
em repercussão geral reconhecida que “a execução provisória de acórdão penal condenatório
proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não
compromete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso
LVII da Constituição Federal.”
4
Habeas Corpus nº 226703/ES, Relatora Ministra Laurita Vaz, acórdão julgado em 03.10.13.
5
Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício ou
a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando necessário, a
colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares.
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No entanto, a 3ª Seção do C. STJ6, por maioria de voto, nos Embargos de
Divergência em Recurso Especial nº1619087 pacificou entendimento de que “o Supremo
Tribunal Federal, ao modificar sua jurisprudência, não considerou a possibilidade de se
executar provisoriamente, especificamente, a pena restritiva de direitos. [...] a análise se
restringiu à reprimenda privativa de liberdade, na medida em que dispôs tão somente sobre a
prisão do acusado condenado em segundo grau, antes do trânsito em julgado.”
Logo, a condenação não deverá ser executada de pronto, devendo aguardar seu
trânsito em julgado.
FIXAÇÃO DA PENA-BASE
[...].
Assim, com acerto a douta Procuradoria Regional Eleitoral quando afirma que “a
gravidade dos crimes eleitorais cometidos, o número de infrações penais perpetradas e o
objetivo da prática criminosa demonstram que a culpabilidade do embargante é elevada.
Ademais os motivos do crime, que apontam para a tentativa de se eleger a qualquer custo,
também são claramente desfavoráveis ao embargante.”
Não houve circunstâncias atenuantes e agravantes.
Por conseguinte, acertadamente o MM. Juiz Eleitoral fixou, em definitivo, a pena
privativa de liberdade em 03 (três) anos e 09 (nove) meses de reclusão.
A fundamentação do aumento de pena decorre da continuidade delitiva, sendo que
o esquema de corrupção eleitoral no caso denota a reiteração da conduta criminosa por seguidas
vezes, a justificar a incidência da causa de aumento acima.
Comunga do mesmo entendimento o C. TSE9 segundo o qual “o aumento da pena
pela continuidade delitiva se faz, quanto ao art. 71, caput, do Código Penal, com base em
critérios objetivos, em razão do número de infrações praticadas.”
Esse, também, é o entendimento jurisprudencial do C. STJ10 quando expõe que
“para a majoração da pena do crime continuado específico, previsto no parágrafo único do art.
71 do CP (cujo aumento pode ser até o triplo), deve haver fundamentação com base no número
de infrações cometidas.”
Verifico, ainda, que o STJ possui o entendimento consolidado de que, em se
tratando de aumento de pena referente à continuidade delitiva, aplica-se a fração de aumento de
1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações;
1/2 para 6 infrações e 2/3 para 7 ou mais infrações.
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Habeas Corpus nº 376089/PB, Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, acórdão julgado em 15.12.2016.
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CRIMES EM CONTINUIDADE DELITIVA. QUATRO CRIMES. FRAÇÃO
DE AUMENTO DE 1/2. DESPROPORCIONALIDADE. REGIME DE
CUMPRIMENTO DA PENA. PENA-BASE NO MÍNIMO LEGAL. RÉU
PRIMÁRIO. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA PARA A IMPOSIÇÃO DO REGIME
FECHADO. SÚMULA/STJ 440. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO.
4. A exasperação da pena do crime de maior pena, realizado em
continuidade delitiva, será determinada, basicamente, pelo número de infrações
penais cometidas, parâmetro este que especificará no caso concreto a fração de
aumento, dentro do intervalo legal de 1/6 a 2/3. Nesse diapasão esta Corte
Superior de Justiça possui o entendimento consolidado de que, em se
tratando de aumento de
pena referente à continuidade delitiva, aplica-se a fração de
aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4 para 4
infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para 6 infrações e 2/3 para 7 ou mais
infrações. (grifo meu)
(Habeas Corpus nº 289.310/SP, Relator Ministro RIBEIRO
DANTAS, acórdão publicado em 07.04.2017).
11
Embargos de Declaração em Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 18768/PR, Relator Ministra
Luciana Lóssio, acórdão publicado em 20.0417.
12
Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de pré-
questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal superior
considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.
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VOTO
PEDIDO DE VISTA
DECISÃO: Adiada em virtude de pedido de vista formulado pelo Dr. Rodrigo Marques de
Abreu Júdice.
*
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SESSÃO ORDINÁRIA
04-09-2017
VOTO-VISTA
1
Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 1390295/RJ, Relator Ministro Marco Buzzi, 4ª Turma, acórdão publicado em
23.05.17.
2
Recurso Especial Eleitoral nº 6527, Relator Napoleão Nunes Maia Filho, acórdão publicado em 25.04.17.
Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 31-26/MG, Relatora Ministra Luciana Lóssio, acórdão publicado em 19.12.16.
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impugnadas nas razões recursais, pois “em sede penal, é possível a apreciação de
questões de ordem pública a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição,
em razão do disposto no art. 654, § 2º, do CPP.”
O art. 654, § 2º do CPP dispõe que:
Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer
pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.
[...].
§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício
ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre
ou está na iminência de sofrer coação ilegal.
Assim sendo, a aplicação do habeas corpus de ofício é instrumento
adequado à análise da dosimetria da pena na hipótese de flagrante ilegalidade, mas
esse não é o caso dos presentes autos.
O STJ3 entende que “excetuados os casos de patente ilegalidade ou
abuso de poder, é vedado, em habeas corpus, o amplo reexame das circunstancias
judiciais consideradas para a individualização da sanção penal [...].”
Nessa linha de raciocínio, revela-se acertado o entendimento do
Parquet quando aduz que “não se trata de hipótese de aplicação do art. 654, § 2º do
CPP, o qual permite a concessão de habeas corpus de ofício quando se verificar que
alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal no curso do processo. Isso
porque não há qualquer ilegalidade manifesta ou mesmo teratologia a demandar a
concessão da ordem.”
Portanto, o argumento não deve ser acolhido. [...]”
Após ouvir atentamente o voto proferido pelo Membro que me antecedeu, pedi
vista dos autos, na sessão plenária do dia 15/08/2017, e passo a expor a minha convicção sobre a
matéria em debate.
Em que pese a fundamentação do voto do eminente Relator, peço vênia para dele
divergir. Explico.
Objetivando rememorar os fatos, transcrevo abaixo excertos do voto proferido pelo
Eminente Relator, na parte que toca ao Relatório, litteris:
3
Habeas Corpus nº 226703/ES, Relatora Ministra Laurita Vaz, acórdão julgado em 03.10.13.
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aclaratórios, na data de 05.07.17, apresenta petição (fls. 490/502) na qual requer
apreciação de questões de ordem pública.
Em decorrência desse requerimento, o processo foi baixado de pauta e
encaminhado para manifestação do Ministério Público Eleitoral.
A douta Procuradoria Regional Eleitoral manifesta-se (fls. 506/516)
pelo não conhecimento do requerimento e, caso seja conhecido, pugna pelo seu
indeferimento. [...]”
4
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. I) AGRAVO DE
R G F DA S: FUNDAMENTOS DA DECISÃO MONOCRÁTICA NÃO REFUTADOS. SÚMULA
182/STJ.INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. NÃO
OCORRÊNCIA. DEMANDA POR REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL
NÃO DEMONSTRADO. PLEITO ABSOLUTÓRIO. CRIME DE QUADRILHA OU BANDO. REEXAME DE PROVAS.
DIMINUIÇÃO DA PENA. ART. 29, §1º, DO CP. PARTICIPAÇÃO. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA
7/STJ. DOSIMETRIA DA PENA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA.NECESSIDADE DE PREQUESTIONAMENTO.
PRECEDENTE. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 400 E 531 DO CPP. REALIZAÇÃO DE NOVO INTERROGATÓRIO. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. II) AGRAVO REGIMENTAL DE F R G F DA S: INTERPOSIÇÃO FORA DO PRAZO LEGAL
DE 5 DIAS. INTEMPESTIVIDADE. Agravo de R G F da S improvido. Agravo de F R G F da S não conhecido. (AgRg no
AREsp 822.279/PE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 17/05/2016, DJe 09/06/2016)
5
Cf. entendimento do Colendo STJ, ex vi REsp 987.598/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 27/08/2013, DJe 19/09/2013.
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Da mesma forma, em sede de embargos de declaração, à fl. 468, questionou a
omissão do v. acórdão decorrente da ausência de “enfrentamento acerca da dosimetria da pena
aplicada”, nos seguintes termos:
A referida norma penal tutela o livre exercício da liberdade dos direitos político,
especificamente do direito ao voto. A regra incrimina tanto a denominada corrupção eleitoral
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ativa (nas modalidades dar, prometer e oferecer) como a corrupção eleitoral passiva (nas
modalidades solicitar e receber).
DECLARAÇÃO de IMPEDIMENTO
VOTOS
DECISÃO: Por maioria de votos, conhecer da Questão de Ordem, para ainda, por igual
votação, conhecer do recurso e dar provimento, designando o Dr. Rodrigo Marques de
Abreu Júdice para a lavratura do v. Acórdão.
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