Professional Documents
Culture Documents
C
informando que as impressões colhidas pela pes-
www.institutoagronelli.org.
onhecer, compreender e valorizar o espaço quisa são relatadas pelos estudantes em diversos
br/projeto.
em que se vive é condição essencial para formatos (desenhos, pinturas, poemas, paródias)
o exercício pleno da cidadania. É a partir escolhidos por seus autores. “Quem comanda o
desse princípio que se estrutura o projeto processo são os alunos”, diz.
Cultura e história do meu bairro, parceria entre Os relatos são diagramados e organizados
o Instituto Agronelli de Desenvolvimento Social em livros, editados com o título Meu bairro tem
(Iades) e o Arquivo Público de Uberaba (APU), em história, eu tenho futuro (já foram lançados seis
Minas Gerais, que promove o despertar de crian- volumes, desde o início do projeto, em 2008). Cada
ças e adolescentes de escolas públicas para o seu publicação reúne histórias de sete ou oito bairros
entorno, a partir do conhecimento da história do de Uberaba. Para seu lançamento, são organizadas
bairro em que vivem e das relações que estabelecem noites de autógrafos nas comunidades, quando os
entre essas memórias e suas vidas. livros são distribuídos gratuitamente e seus alunos-
O projeto se inicia com a visita de professores -escritores organizam apresentações culturais.
ao Arquivo Público, onde são resgatados docu- Até hoje, o projeto já alcançou cerca de 1,2 mil
mentos referentes à história do bairro e avaliadas crianças e adolescentes do ensino fundamental e
suas potencialidades e fragilidades; passo seguinte médio e 50 professores (que recebem formação de
é a elaboração de um roteiro de pesquisa, em con- multiplicadores); 40 bairros tiveram suas histórias
junto com os alunos, com questões que servirão resgatadas. São elegíveis para o projeto escolas
de guia para a entrevista de um antigo morador públicas e instituições comunitárias, mas também
do local. Com as informações fornecidas pelo escolas particulares, sob a condição de contra-
entrevistado, fotos e documentos em mãos, pro- partida em relação ao transporte dos alunos e os
fessores e estudantes partem para uma pesquisa custos dos livros.
de campo, na qual comparam a realidade atual Lilia avalia que o projeto promove o exercício da
com o passado registrado. cidadania, ao sensibilizar crianças e os adolescentes
Nesse processo, eles se deparam com a histó- para as carências e potencialidades do espaço onde
ria dos monumentos, a evolução das ruas, avenidas vivem e capacitá-las como participantes da vida em
e prédios, a vida de personagens e as mudanças na comum e também responsáveis pelo destino do
gestão da cidade, e têm oportunidade de relacionar ambiente em que vivem. “O projeto aumenta nas
Estudantes fazem pesquisa
de campo no bairro e
esses elementos com sua autobiografia, explica a crianças e nos adolescentes a percepção do que é
conferem o trabalho pronto tecnóloga em Desenvolvimento Social Lilia Coelho, preciso melhorar e ajuda a formá-los como sujeitos
na noite de autógrafos: coordenadora do projeto. “A gente passa pelos de transformação do espaço”, avalia Lilia.
protagonismo e cidadania fotos: divulgação/iades
cartum
da União, que assume o processo e dá próprias mãos. Quem sabe assim nossos
‘Radis’ também agradece
andamento à sua resolução. O índice de
resolutividade extrajudicial vem sendo de
cerca de 43%. Já está implantado em Natal,
políticos se atentem para isso e façam
alguma coisa para nos ajudar. Socorro!
• Heraclito Alves Lima, Camacan, BA
G ostaria de parabenizar a todos pelas exce-
lentes matérias, principalmente da edição
nº 145, sobre regionalização e sobre a refor-
Caicó, Mossoró e Parnamirim. ma sanitária. Parabéns a à revista Radis, um
• Eufrásia Ribeiro, jornalista, servidora excelente e efetivo meio de comunicação.
pública da Secretaria de Estado de Saúde,
Aleitamento materno • Carine Ferrari, Ijui, RS
Natal, RN
P
São João de Meriti, as drogarias NÃO arabenizo a excelente revista pela du- NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA
recebem medicamentos para descarte, pla, oportuna e justa homenagem aos A Radis solicita que a correspondência
como seria de se esperar. Os farmacêuti- dois médicos gigantes da saúde pública no dos leitores para publicação (carta,
cos de plantão não souberam explicar por país: os mestres David Capistrano Filho e e-mail ou facebook) contenha nome,
quê. Ouvi dizer que em Duque de Caxias Gilson Carvalho (Radis nº 143, agosto de endereço e telefone. Por questão de
a Rede Raia de farmácias cuida bem do 2014). Homens desse calibre não podem espaço, o texto pode ser resumido.
descarte. Como mudar a situação em mesmo ser esquecidos. Uma pena não
EXPEDIENTE
www.ensp.fiocruz.br/radis
® é uma publicação impressa e online da
Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo Programa Documentação Jorge Ricardo Pereira e Sandra
Benigno /RadisComunicacaoeSaude
Radis de Comunicação e Saúde, da Escola
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp). Administração Fábio Lucas e Natalia Calzavara
Uso da informação • O conteúdo da
Presidente da Fiocruz Paulo Gadelha revista Radis pode ser livremente reproduzido,
Diretor da Ensp Hermano Castro Estágio Supervisionado Diego Azeredo (Arte) acompanhado dos créditos, em consonância com
a política de acesso livre à informação da Ensp/
Editor-chefe e coordenador do Radis Assinatura grátis (sujeita a ampliação de Fiocruz. Solicitamos aos veículos que reproduzirem
Rogério Lannes Rocha cadastro) Periodicidade mensal | Tiragem 82.200 ou citarem nossas publicações que enviem
exemplares | Impressão Ediouro exemplar, referências ou URL.
Subcoordenadora Justa Helena Franco
Ouvidoria Fiocruz • Telefax (21) 3885-1762
Edição Eliane Bardanachvili Fale conosco (para assinatura, sugestões e • www.fiocruz.br/ouvidoria
Reportagem Adriano De Lavor (subedição), críticas) • Tel. (21) 3882-9118 | Fax (21) 3882-9119
Bruno Dominguez (subedição interina), Elisa • E-mail radis@ensp.fiocruz.br
Batalha, Liseane Morosini e Ana Cláudia Peres • Av. Brasil, 4.036, sala 510 — Manguinhos,
Arte Carolina Niemeyer (subedição) e Felipe Rio de Janeiro / RJ • CEP 21040-361
Plauska
Trabalho decente: OIT Brasil lança sistema com dados por município
O escritório da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) no
Brasil lançou(28/11) sistema de indica-
municipais estão organizados em dez
áreas, que correspondem às dez di-
mensões de mediç ão do trabalho
Curitiba (4,7%) e Florianópolis (4,9%), e
os maiores, em Salvador (12,9%) e Recife
(12,5%). A desocupação é maior entre
dores municipais, reunindo dados que decente:oportunidades de emprego; as mulheres e a população negra. Há,
possibilitam identificar oportunidades rendimentos adequados e trabalho ainda, informações sobre trabalho infantil
e desafios relacionados à promoção do produtivo; jornada de trabalho decente; (das 888,4 mil crianças e adolescentes
trabalho decente, em cada um dos 5.565 conciliação entre o trabalho, vida pes- de 14 ou 15 anos que trabalhavam,
municípios do país, informou o site da soal e familiar; trabalho a ser abolido; apenas 2,7% faziam isso na condição de
organização. Trata-se de um trabalho iné- estabilidade e segurança no trabalho; aprendiz); jovens (um de cada cinco não
dito no mundo, de acordo com a diretora igualdade de oportunidades e de trata- trabalhava nem estudava em 2010); inclu-
da OIT no Brasil, Laís Abramo, com infor- mento no emprego; ambiente de traba- são de pessoas com deficiência no mer-
mações completas e específicas. Segundo lho seguro; seguridade social; e diálogo cado formal de trabalho (inexistentes em
ela, as informações reveladas por esse social e representação de trabalhadores 31,5% dos municípios); e educação (em
sistema constituem recurso estratégico e empregadores. 81% dos municípios mais da metade da
para implementação da Agenda e do O sistema revelou, entre outras população de 15 anos de idade ou mais
Plano Nacional de Emprego e Trabalho informações, que um grupo de apenas não tinha instrução ou tinha o ensino
Decente, bem como das agendas esta- 24 municípios abrigava 6,8 milhões de fundamental incompleto), entre outras.
duais e municipais de trabalho decente pessoas ocupadas em trabalhos infor- As informações do sistema podem
e de programas de âmbito federal como mais, o correspondente a 20,5% do total ser acessadas e baixadas, por município,
Brasil Sem Miséria e Pronatec. nacional (33,2 milhões), apontando que em http://simtd.oit.org.br.
Baseado no Censo de 2010 e em ou- um esforço concentrado nesses locais
tros dados do IBGE, além de estatísticas pode reduzir significativamente o nú- D.A.
dos ministérios do Trabalho e Emprego, mero de trabalhadores e trabalhadoras
Previdência Social e do Desenvolvimento em situação de informalidade no país.
Social e Combate à Fome, entre ou- Metade dos municípios com taxa de in-
tras fontes, o Sistema de Indicadores formalidade acima de 50% localizava-se
Municipais de Trabalho Decente permite na região Nordeste.
análise integrada das dinâmicas laboral, Foi observado, ainda, nos dados
espacial, econômica e social de cada que, ao final de 2013, todos os municípios
município. O conceito de trabalho de- brasileiros contavam com trabalhadores e
cente relaciona-se à promoção de opor- trabalhadoras formalizados na condição
tunidades para que homens e mulheres de microempreendedor individual, o que
obtenham um trabalho produtivo e de contribuiu expressivamente para a redu-
qualidade, em condições de liberdade, ção da informalidade laboral.
equidade, segurança e dignidade. Os menores índices de desocupação
Os dados do sistema de indicadores entre as capitais foram registrados em
Radis Adverte
reprodução
om tantos direitos ainda por serem asse- mas encontrar “um meio termo” entre o
gurados – água, saneamento, moradia, que a lei determina e o que ele considera
saúde, educação –, o deputado Cláudio que a população deseja como de direito
Cajado (DEM-BA) resolveu aumentar a lista à defesa de sua segurança (sic). Traduzido
e incluir o direito ao porte de armas, com em números, o meio termo do deputado,
o Projeto de Lei 3722/12, que revoga o no entanto, significava, por exemplo, am-
Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826, de pliar de 50, como está no estatuto, para
2003). Foram muitas as tentativas de votar 5.400 o número de balas a serem adquiri-
o texto na Câmara antes do fim do ano, das por ano pelo cidadão. Como afirmou
uma vez que isso não ocorrendo o projeto o pesquisador Antônio Rangel Bandeira,
seria arquivado. Opositores do projeto e autor do livro Armas de fogo: proteção
defensores da paz e da segurança consegui- ou risco?, por trás do discurso de “direito
ram obstruir as votações. A sociedade civil à defesa do cidadão de bem” propagado
também se mobilizou pelas redes sociais. pelos defensores do projeto, está a ten-
O último cancelamento se deu em 17/12. tativa de aumentar o comércio de armas
Segundo Cajado, sua proposta não e munições no Brasil. Mais um caso em
era revogar o Estatuto do Desarmamento, que o lucro é colocado na frente da vida.
As caras da
injustiça
ambiental
Evento destaca populações
atingidas por conflitos territoriais
como sujeitos de resistência, não
como objetos de pesquisa
Bruno Dominguez
A
injustiça ambiental tem cara. A de Antônio Filho, morador do bairro
de Piquiá de Baixo, em Açailândia, Maranhão, destruído a partir da Mobilização por direitos:
instalação de indústrias siderúrgicas ao redor das casas da comu- injustiça ambiental e
nidade. Ou a de Patrícia Generoso, de Conceição do Mato Dentro, suas consequências pela
em Minas Gerais, por onde passa um mineroduto de 525 quilômetros. Ou as ótica dos que vivem
de tantos outros atingidos por projetos que opõem desenvolvimento, justiça nos territórios
ambiental e saúde (ver relatos na pág. 14). Essas caras foram apresentadas
no 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente (Sibsa), organizado pela
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), em outubro, em Belo
Horizonte. O encontro teve como marca a articulação da academia com os
movimentos sociais, reconhecendo os envolvidos em conflitos territoriais não
como objetos de pesquisa, mas como sujeitos de resistência.
Da abertura do simpósio à aprovação da Carta de Belo Horizonte (ver box
na pág. 17), a interação entre ciência e saber popular foi destaque. O presidente
do 2º Sibsa, Hermano Castro, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio
foto: marcelo cruz
Inovação e necessidade
Os movimentos sociais não participaram do evento somente como
convidados falando em mesas-redondas, mas também na organização e na
comissão científica. “É uma inovação, um sonho e uma necessidade para
entendermos integralmente o processo de desenvolvimento social com as
populações que são sujeitos dele”, ressaltou Hermano.
O diretor da Ensp apontou as implicações do atual modelo para a saúde:
interfere na determinação saúde/doença, levando a adoecimento e morte,
especialmente de grupos mais vulneráveis — indígenas, afrodescendentes,
comunidades tradicionais, camponeses e camponesas, trabalhadores e
trabalhadoras de baixa renda, moradores e morado- e os grandes empreendimentos, que avançam pelo
ras das zonas de sacrifício no campo, nas florestas, país, gerando desterritorialização e desapropria-
nas águas e nas cidades. ção, com respaldo governamental, em nome do
O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, refor- crescimento econômico.
çou que saúde e ambiente são temas simbióticos. Na reflexão do filósofo, a desterritorializa-
“Não se pode pensar saúde e ambiente como ção não é apenas física, mas também simbólica.
questões desconectadas, pois ambos sofrem as “Quando povos são expulsos de seus territórios,
consequências perversas do modelo de desenvolvi- eles perdem mais do que a posse da terra; perdem
mento e do processo de organização da produção o que têm de mais profundo: suas raízes”, disse,
e do trabalho”, disse. indicando como exemplo a destruição de uma
Daí surge a necessidade de se colocar a saúde cachoeira sagrada para os Munduruku com vistas
no centro do modelo, tarefa que a Fiocruz tem a se construir uma barragem no rio Tapajós.
levado à frente, como ele apontou, especialmente “Quando se fala em desterritorialização de
nos debates da Conferência das Nações Unidas povos tradicionais, alguns dizem: ‘são apenas dez
sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20 famílias atingidas aqui e dez ali; o que representam
(Radis 118 e 121), e na formulação dos Objetivos diante do tamanho das nossas cidades?’ Porém, ao
de Desenvolvimento Sustentável (Radis 113, 121, cortar raízes, corta-se junto a possibilidade de con-
127 e 147). “Os indicadores da saúde qualificam tinuar um projeto de vida de integração profunda
a medição de um desenvolvimento sustentável com a natureza”, argumentou. Essas vidas perdem o
e trazem no seu bojo as noções de direito e de sentido: passam a ser “vidas em suspenso” ou “vidas
políticas sociais”. não reconhecidas”, na definição do pesquisador.
Vídeo – 'Conceição:
Minas, que incluiu a construção de uma tubulação guarde nos olhos'
Processo de violência
de 529 quilômetros ligando a mina da sua cidade, www.youtube.com/
Conceição do Mato Dentro (MG), ao Porto do Açu, “Para aplacar a resistência, chegou à cidade watch?v=kLxQjBsvQdo
em São João da Barra (RJ). O que é hoje o maior uma palavra que nunca se falava: inevitável”, conta
mineroduto do mundo, usado para o transporte de Patrícia. E não se conseguiu evitar: seu Ary passou
minério de ferro, atravessa 33 municípios mineiros a viver ao lado de um alojamento com 5 mil traba-
e fluminenses. A cidade de Patrícia, com 18 mil lhadores; dona Vilma deixou de pegar água e lavar
habitantes e a 167 quilômetros de Belo Horizonte, roupas no córrego que passava perto de sua casa
estava no começo do caminho. — a água ficou com aspecto enlameado. Mais de
“A empresa responsável explicou que mine- 30 famílias precisaram conviver com o risco de morar
roduto era um canozinho. As pessoas na cidade abaixo de uma barragem de rejeitos ambientais de 85
achavam que seria da espessura de uma mangueira metros de altura. A empresa de engenharia diz que é
até que chegaram as máquinas para passar canos seguro, mas a comunidade tem medo de que desabe.
enormes”, relatou ela, que logo se engajou na Conceição do Mato Dentro, que segundo ela
luta contra a destruição do lugar. “Não tínhamos não tem sequer escola, hoje é a cidade com mais
experiência de resistência, porque morávamos alto índice de mães solteiras do estado. A obra do
no paraíso”. mineroduto trouxe também sucessivos registros de
Era 2008 quando a Anglo American Brasil trabalho escravo. Os que resistiram foram crimina-
conseguiu financiamento para a obra com o Banco lizados e processados, incluindo a própria Patrícia.
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social “Ninguém avalia o risco de não se ter mais
(BNDES), antes mesmo de obter licenças e quando boas perspectivas de vida, que consome a gente
a mina ainda estava em fase de estudos — “porque de uma forma que eu não consigo entender que
era interesse dos governos”, na opinião de Patrícia. seja possível”, observou ela, emocionada. “É um
Os grossos canos que
A licença acabou saindo, apenas com coordenadas processo de violência, do qual não se sai inteira. compõem o mineroduto:
geográficas do trajeto, impossibilitando que se com- Mas se eu não tivesse me dedicado a essa luta, não projeto foi anunciado
preendesse totalmente o projeto. “Não dizia nem teria entendido a imoralidade disso tudo”. (B.D.) à população como
um 'canozinho'
B
e nem as monoculturas, por exemplo. Ela explicou
iodiversidade, inovação e saúde foram ainda que o ambiente da biodiversidade também
os temas que nortearam as discussões exige variedade genética, já que o código genético
propostas pelo 1º Seminário Tecnologias das espécies pode se modificar a partir da sua in-
Sociais, promovido pelo Centro de Pesquisa teração com o contexto. “Deveríamos ouvir mais a
Gonçalo Moniz (CPqGM/Fiocruz Bahia), em par- antropologia e menos a hereditariedade” orientou.
ceria com a Secretaria estadual de Promoção da “A quem pertence a biodiversidade e o uso
Igualdade Racial (Sepromi), que aconteceu em sobre ela? Ao Estado? Às multinacionais farmacêu-
Salvador entre 4 e 6 de novembro. O objetivo do ticas e de cosméticos? ou aos povos tradicionais
evento era ampliar a interação e o debate social que a conservaram ao longo da história?”, ques-
em torno das tecnologias sociais, reunindo repre- tionou Ângela, lembrando que alta biodiversidade
sentantes da sociedade civil, gestores públicos e será sempre garantia de equilíbrio do ambiente, o
especialistas, em uma programação que combinou que por sua vez é sinônimo de baixa incidência de
conferências, debates e relatos de experiências, doenças. É que a variedade de espécies confere ao
e que situou a temática dentro do contexto das sistema maior resistência às “pequenas perturba-
comunidades tradicionais. ções”, além de maior capacidade para se renovar
O seminário dialogou com outros eventos e se regenerar sem a ajuda do homem, explicou.
da 8ª edição do chamado Novembro negro no A pesquisadora criticou a visão que considera
estado, movimento que homenageia a memória de “mato” qualquer ambiente natural que não tenha
Zumbi dos Palmares, e teve sua relevância destaca- sido planejado pelo homem, e que é resultante de
da por Manoel Barral, diretor da Fiocruz Bahia, que vários fatores: da cultura antropocêntrica e civili-
destacou a importância em centralizar os debates zatória europeia, segundo a qual a natureza teria
nas questões relacionadas às populações tradicio- como função exclusiva servir ao homem; da ciência,
nais, normalmente negligenciadas do ponto de que explica o mundo em partes, separando homem
vista das políticas públicas. Maria Teresa Gomes e natureza; da ideologia capitalista, que enxerga a
do Espírito Santo, coordenadora executiva de natureza como mercadoria; e da crença na globa-
Políticas para as Comunidades Tradicionais (CPCT) lização, que almeja a criação de seres vivos iguais,
da Sepromi, ressaltou que é possível promover a negando complexidade genética e divisão histórica,
inclusão destas populações através da articulação dentre outros fatores – como a negação de outras
de vários setores da sociedade, apontando como matrizes culturais e a defesa de que aquilo que é
essencial discutir as questões propostas pelo limpo e moderno está ligado necessariamente ao
Projeto de Lei 7735/2014, que regulamenta a cimento e ao asfalto, destacou Ângela.
Convenção sobre Diversidade Biológica e dispõe “A biodiversidade é uma questão política”,
sobre o acesso ao patrimônio genético, a proteção defendeu. Segundo ela, está em curso uma neoco-
e o acesso ao conhecimento tradicional associado, lonização que se legitima com práticas de “sequestro
além da repartição de benefícios para conservação do saber” – apropriação científica de conhecimentos
e uso sustentável da biodiversidade. tradicionais – discursos promotores das biotecnolo-
gias e investimento em um tipo de agricultura quí-
mica, onde “seres vivos têm sido manipulados para
mais do que variedade
que algumas espécies sobrevivam sozinhas”, criticou.
Boa parte destes temas foi aprofundada pela
engenheira florestal Ângela Maria da Silva Gomes,
Crise ecológica racista
doutora em geografia e integrante do Conselho
Nacional de Política de Igualdade Racial, na confe- Ela salientou que discursos coloniais sem-
rência “Biodiversidade e ecoafricanidade: saberes e pre se apoiaram nas ciências, citando como os
tecnologias sociais”. A pesquisadora criticou o uso colonizadores portugueses se apropriaram, no
que se dá ao conceito “biodiversidade”, consideran- Brasil, de saberes que vieram da África e investi-
do que a ciência moderna o faz de modo incom- ram na nomeação de espécies, em um processo
pleto, equiparando-o à ideia de homogeneidade. que definiu como “taxonomia do poder”. Ângela
Para haver biodiversidade, esclareceu, é necessário, advertiu que também é possível encontrar traços
além de variabilidade de seres vivos, boa quantidade de racismo na definição das causas da chamada
Diversidade distante
Ângela considera que
biodiversidade é uma Neste contexto, a pesquisadora chamou aten- Sobre o assunto, o advogado Júlio Rocha,
questão política e denunciou ção para as contribuições de matriz africana, como professor de Direito Ambiental no Mestrado em
o 'sequestro de saberes' das as práticas de etnomedicina e demais sistemas de Geografia da Universidade Federal da Bahia, decla-
comunidades tradicionais cura, agroecologia e cosmovisão. Ela disse acreditar rou que o governo brasileiro não sabe lidar com a
que a biodiversidade está relacionada aos espa- diversidade étnica a social. Ele defendeu que traba-
ços de referência identitária onde são cultivados lhar a repartição de responsabilidades é trabalhar a
sistemas vivos, como os quintais de vilas e favelas equidade, e questionou: “Quem são os injustiçados
e as roças de candomblé. “É preciso reconhecer e vulneráveis de hoje?” Para o pesquisador, são as
estas tecnologias sociais de matriz ecoafricanas vítimas das injustiças ambientais.
como saberes urbanos migrantes de revegetação O cacique tupinambá Ramon Souza Santos,
ecológica”, acentuou. Nestes espaços (os quintais representante do Conselho Estadual dos Povos
e as roças), explicou, há aproveitamento de solo Indígenas, defendeu o direito de estas populações
e valorização e conservação de variadas espécies permanecerem nos territórios tradicionais de
nativas, construindo um verdadeiro sistema de manguezais e praias, para continuar mantendo a
biodiversidade urbana. biodiversidade e a qualidade de vida do ecossistema
local. Ele citou a importância da preservação dos
conhecimentos tradicionais e criticou a “curiosidade
potencial
invasiva” e a especulação imobiliária em torno do
A discussão sobre acesso ao patrimônio ge- território onde seu povo vive – na região de Ilhéus,
nético, aos conhecimentos tradicionais e repartição litoral Sul baiano. “Eles vêm devastando a mãe terra
de benefícios foi abordada pela bióloga Beatriz com autorização dos municípios e sem consulta dos
de Bulhões Mossri, da Sociedade Brasileira para o povos”, denunciou.
Progresso da Ciência (SBPC). Doutoranda em Política Ramon reclamou que as comunidades só têm
Científica e Tecnológica na Universidade Estadual o poder consultivo, mas nunca com autoridade de
de Campinas (Unicamp), ela chamou atenção para embargar obras ou desmatamentos. Além disso,
a grande diversidade representada por mais de 2 segundo ele os índios nunca são convidados a
milhões de espécies no planeta – das quais cerca de participar da elaboração de leis. “Quando a gente
20 mil ainda não são conhecidas – e seu potencial vai saber, já está tudo pronto”. O cacique informou
na produção de substâncias para uso farmacêuti- que eles somente são escutados quando promovem
co, têxtil, alimentar, biotecnológico, entre outros manifestações e reclamou do processo de criminali-
usos. “Toda essa riqueza representa potencial para zação das lideranças, além de cobrar maior empenho
pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e de para que se valorize a medicina tradicional indígena.
Relação de
Marca do sistema de radiodifusão brasileiro,
coronelismo eletrônico expõe elos entre
políticos e a mídia nacional que emperram o
processo democrático
Liseane Morosini Arthur de Lima, da Universidade de Brasília (UnB),
A
que vê a atualidade do fenômeno dentro de um
relação visceral de clientelismo entre contexto maior. “O coronelismo eletrônico faz parte
políticos e os meios de comunicação da constituição da cultura e da prática política, da
esteve no centro do debate Coronelismo nossa história social e econômica. Ele parte do
Eletrônico: teoria e prática política no pressuposto que a mídia, com seu controle, desem-
Brasil, ocorrido em novembro de 2014, na Casa da penha papel preponderante no processo político.
Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro Como o espaço público é dominado pela mídia,
(UFRJ). A expressão, criada por acadêmicos no final não há nenhum interesse em qualquer mudança
da década de 1970, descreve prática anterior a esta na situação. Esse ciclo vicioso reproduz a situação
data e procura explicar o vínculo existente entre anterior a cada novo Congresso que é eleito”, disse,
os grupos familiares das elites políticas locais ou lembrando que o artigo 54 da Constituição Federal
regionais, os meios de comunicação e os diversos proíbe que deputados e senadores sejam diretores
interesses político-partidários. Longe de ter ficado ou tenham cargos remunerados em empresa con-
no passado, o fenômeno ainda hoje se faz presente cessionária de serviço público, caso das rádios e
– e se manifestou fortemente nas últimas eleições. televisões, e o artigo 55 pune com a perda do man-
“Ele permanece porque o sistema privado de mídia dato quem descumprir o artigo anterior. Contudo,
no Brasil é controlado e tem várias distorções que nenhum dos dois artigos têm tido efeito na prática.
são antidemocráticas”, explicou o professor Venício Suzy dos Santos, professora do Grupo de
Coronelismo
em documentos
O seminário organizou, em paralelo, uma exposição
de imagens de documentos que comprovam a
prática do coronelismo eletrônico — reproduções de
cartas, denúncias e investigações realizadas pelo Serviço
Nacional de Informações (SNI) que mostram como a
política de barganhas e o tráfico de influências fundou a
construção de muitos meios de comunicação no Brasil.
Acervo FGV/CPDOC
[2] [3]
Radis 148 • jan / 2015 [25]
fotos: caroline leite
PâmPâmela (E): exemplos de
como a mídia se estruturou
a partir da TV; André: figura uma divisão entre os que têm acesso à internet patologia existente no sistema de mídia no país”,
do coronel como alterego e à TV por assinatura e os que permanecem se diagnosticou Daniel.
da sociedade brasileira; Suzy: alimentando com a TV aberta, controlada pelos
concessões para premiar bom coronéis. Se a hipótese se confirmar, teremos
comportamento do mercado Coronel, coronéis
uma sociedade dividida”, alertou. Segundo ele, o
coronelismo eletrônico “não é apenas uma ques- O termo coronelismo eletrônico foi criado por
tão de o governo dizer isso ou aquilo, mas é todo militantes pela democratização da comunicação e
um conjunto de relações sociais que se cria, se acadêmicos, baseado no estudo de Victor Nunes Leal
sustenta e se retroalimenta”. O professor Edgard que publicou, em 1949, o livro Coronelismo, Enxada
Rebouças complementou: “A comunicação não é e Voto, que se debruça sobre o principal sustentáculo
só uma atividade econômica, é uma construção. político da República Velha (1889-1930) e mostra
Tem implicações no processo democrático”. como sucessivos governos estaduais e federais se ele-
Daniel Fonsêca concorda que não houve al- geram com os “votos de cabresto” dos grotões. Para
teração no panorama da radiodifusão. “A internet, Suzy dos Santos, a dimensão simbólica do coronel na
a telefonia e mesmo os novos serviços, como o mídia, na política e na identidade nacional deve ainda
whatsapp [aplicativo de mensagens instantâneas ser estudada. A professora questionou, inclusive, se,
para smartphones], não acabam com a influência em vez de coronelismo eletrônico, o mais adequado
do rádio e da TV ou rompem com os grupos que não seria utilizar o termo “coronelismo em tempos
controlam essa produção de conteúdo. Tanto que eletrônicos”, e ressaltou a particularidade do uso da
os principais portais de informação na internet patente: “O fato de alguém ser proprietário de um
são vinculados aos grandes grupos de mídia”. canal de televisão não faz dele um coronel”.
O que de fato vai ocorrer, segundo ele, e tende Na opinião de André Ricardo Heráclio do
a gerar um efeito mais impactante no mercado Rêgo, pesquisador da Universidade de Paris Ouest
de mídia no país, é o crescimento dos grupos de Nanterre-Arch de la Défense, na França, a figura do
telecomunicações, sobretudo os transnacionais, coronel talvez seja o alterego da sociedade brasi-
que vêm concorrer com o mercado de radiodifu- leira, desde a sua formação até os dias de hoje. “É
são brasileiro. “A sociedade civil tentava intervir líder, chefe, guerreiro, presente desde o começo da
nesta relação promíscua entre o parlamento e colonização. Esse fenômeno existe em todo o Brasil
os empresários de radiodifusão; hoje a grande e também fora dele, mas com outros nomes. E a
disputa é entre os grupos de telecomunicações e imagem desse coronel depende da competência
o grupo de radiodifusão”, disse. de quem a projeta”, afirmou o pesquisador, autor
Mas a questão não é só de mercado, salien- de livro no qual apresenta o coronelismo a partir
tou. Atualmente, mais do que o voto de cabresto, da investigação de um dos mais famosos coronéis
o que está em jogo é a produção de sentidos, brasileiros: o pernambucano Chico Heráclio, seu
ou seja, a forma como a mídia tenta promover e tio-avô. Para André Ricardo, o coronel é uma figura
manter seu poder de influência junto à socieda- ambígua, multivalente e, na maior parte das re-
de. Ele identifica que as mídias sociais ainda são giões, autoritária. Ele narrou o caso do major Cosme
pautadas por temas propostos pela televisão, de Farias, que era um benemérito: amava os pobres
mas que também já acontece o reverso: as TVs e era reconhecido por isso, e ressaltou que coronel
serem pautadas pelas mídias sociais, o que ele não se autoproclama. “Por mais que tenha o título
considera “retroalimentação de mídias”. “Este é da Guarda Nacional e patentes militares, quem dá
um país que depende muito desse sistema, que o título é o outro, é o povo. O coronel nunca se
nunca passou por reforma legislativa”, afirmou, chamava coronel por causa dele. Quem legitima o
lembrando que as leis datam do período em que coronel são seus correligionários e eleitores – ou
a TV era um meio precário, em preto e branco, e seus adversários. E isso vale para o bem e para o
não funcionava em rede nacional. “O coronelismo mal. Ou era intitulado coronel pelo lado positivo,
eletrônico é só um dos sintomas de uma grande ou pelo aspecto negativo”, resumiu.
Um dos idealizadores
do SUS, o sanitarista
participou ativamente de
movimentos políticos que
resultaram no desenho do
sistema público de saúde
E
Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), foi inteira-
le já foi chamado de “pescador de utopias”. Mas mente dedicado a sua vida e obra. Na ocasião, o sanitarista
também era conhecido como “o mais pragmático e ex-presidente da Fiocruz, Sérgio Arouca, escreveu uma
dos pragmáticos”. Talvez para embarcar de corpo e carta emocionada ao seu “irmão, camarada”, lembrando
alma na luta pela Reforma Sanitária Brasileira fosse da participação de Eleutério na 8ª Conferência Nacional
preciso ser um pouco as duas coisas. Eleutério Rodriguez de Saúde (CNS).
Neto era assim. Defensor obstinado da saúde pública no Arouca dizia: “Estamos organizando a 12ª CNS, e você
Brasil e um dos idealizadores do SUS, costumava dizer que vai fazer uma falta danada na Comissão Organizadora. Na
lutava pelo sistema único possível naquele momento – eram Oitava, você deixou sua marca – deu o maior apoio como
meados da década de 1980, o país ainda vivia a transição secretário geral do Ministério da Saúde, fazendo o meio de
para uma democracia, mas ele não media esforços para campo com o ministro, escrevendo o texto preparatório para
tentar assegurar o direito universal à saúde em um sistema a discussão do tema Reformulação do Sistema Nacional de
democrático, descentralizado e participativo. Saúde, fechando o relatório final e também, nós sabemos
Há pouco mais de um ano, em dezembro de 2013, quanto, no discurso de abertura do presidente José Sarney”.
quando morreu vítima da Doença de Pick, Eleutério acu- Dono de uma retórica singular, Eleutério escreveu – e o então
mulava histórias em nome desse projeto de transformação presidente leu – o texto de boas vindas do evento, que aca-
social. Dez anos antes, em 2003, enquanto a doença neuro- bou se transformando em um marco para a saúde coletiva
-degenerativa já afetava seu comportamento causando fazendo com que a discussão sobre a saúde passasse a ser
esquecimento e alterações de humor, o número 28 da assumida pela sociedade de maneira mais ampla.
Reunião de sanitaristas:
Hésio Cordeiro (E),
oficialização, desejada pelo setor suplementar, que do Cebes todas as segundas-feiras, à noite; o mo- Sebastião Loureiro, Luiz
os defensores do SUS devem lutar, como sempre vimento sanitário; as Diretas Já; a Nova República; Humberto, Eleutério
fizemos ao lado do Eleutério”. a legalização do PCB; a 8ª Conferência Nacional Rodriguez e Lúcia Souto
de Saúde; a Constituinte; a Lei do Sangue e a Lei
Orgânica da Saúde. Em cada um desses momentos,
Militante e revolucionário
uma causa que ele abraçava, uma nova concorrente
Nascido em Campinas, em 21 de julho de para dividir a atenção do papai. Dentro do possível,
1946, Eleutério Rodriguez Neto foi aluno de uma comungávamos destes movimentos, com ele e,
das primeiras turmas do curso de Medicina da desta forma, estávamos mais próximos”
Universidade de Brasília (UnB). Depois de participar
SAIBA MAIS
de expedições pela região amazônica, abandonou a
Ações Integradas de Saúde
residência em Clínica Médica, que cursava na UnB, Divulgação em Saúde
para fazer mestrado em Medicina Preventiva, na Numa outra época, no início dos anos para Debate – Caderno
CEBES em homenagem a
Universidade de São Paulo (USP). É lá que mergulha 1980, Eleutério também ocupou funções no
Eleutério Rodriguez Neto
na chamada medicina social, em sua abordagem antigo Instituto Nacional de Assistência Médica http://goo.gl/0QMb0N
sobre os problemas médico-sanitários, e nunca da Previdência Social (Inamps), onde estruturou
mais abandona o campo. Eleutério foi professor da as Ações Integradas de Saúde (AIS). Amigo de
Documentário: 'Histórias
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Eleutério, o ex-ministro da Saúde José Gomes
do SUS – Eleutério
Departamento de Saúde Coletiva da UnB, onde fun- Temporão dividiu com ele essa experiência. Rodriguez Neto'
dou o Núcleo de Estudos em Saúde Pública (NESP). “Embora as AIS não trouxessem em si nenhuma http://goo.gl/t7lSuI
Foi também um dos criadores do Cebes, inovação, elas rompiam com a visão de atenção
presidindo a entidade por duas gestões distintas, primária como espaço de construção de modelos
ocupando ainda a vice-presidência de 1994 a 1996. alternativos, propondo-se a pensar toda a rede, o
“Ele entendia que era importante ter uma entida- setor privado, a incorporação tecnológica”, conta
de que agregasse e difundisse o pensamento da Temporão em artigo para a revista Divulgação.
Reforma Sanitária”, disse Ana Maria Costa, atual Segundo ele, o grupo de jovens sanitaristas
presidente do Cebes, no documentário Histórias convidados por Eleutério a fazer história dentro de
do SUS, realizado pelos integrantes do NESP/UnB uma instituição como o Inamps baseava sua ação
para relembrar a trajetória de Eleutério. No mesmo no ideário do que viria a ser, anos depois, a Reforma
vídeo, o professor Mourad Ibrahim Belaciano, do Sanitária. “Eleutério foi o cérebro por trás de todo o
Departamento de Saúde Coletiva da UnB, diz que processo”, diz. “Com sua liderança, capacidade de
Eleutério é a personificação de um revolucioná- análise e de coordenação, mantinha em níveis ele-
rio. “Ele realmente revolucionava onde quer que vados a motivação da equipe. Conjugava alto senso
estivesse, nas instituições ou movimentos sociais, de responsabilidade, carisma e bom humor”. Com
propondo reformulações que pudessem atingir à Eleutério, Temporão compartilhou ainda almoços
pessoa humana”, sugere o professor. “Sua ideia era e jantares oferecidos pelo amigo que não hesitava
criar espaços políticos institucionais para trabalhar em exibir seus dotes culinários, o gosto por bons
as tensões que havia no campo da saúde, buscando charutos, inúmeras confraternizações.
sempre as alternativas, as mudanças”. Se o SUS ainda não é uma experiência pronta
Militante 24 horas por dia, Eleutério teve dois e acabada, mas um projeto sempre em constru-
filhos com a companheira da vida inteira, Lúcia ção, Eleutério segue sendo uma referência. Talvez
Ypiranga. Em relato para a publicação do Cebes, a por isso, Arouca finalizou assim a carta que fez
filha Sylvia, que também é médica, dava conta da ao amigo: “Eu queria te escrever uma carta para
rotina em família, desde a época das reuniões clan- lhe dizer que toda a briga que você brigou, que o
destinas do Partidão: “Depois, veio o movimento trabalho que você investiu, que o projeto que você
pela Anistia ‘ampla geral e irrestrita’; as reuniões participou, deu certo!”
A
abordagem sistêmica que forneça cuidados como
edição especial da revista científica inglesa um todo. Isso requer trabalho de equipe multidis-
The Lancet, de junho de 2014, é taxativa ciplinar e integração entre hospital e comunidade.
ao afirmar a importância e a eficácia da A Midwifery é definida nessa série como
assistência prestada a mulheres e bebês cuidado qualificado e contínuo ao longo da pré-
pela figura da midwife, em português, a obstetriz -concepção, gravidez, parto, pós-parto e nas
ou parteira com formação profissional. Segundo primeiras semanas de vida do recém-nascido, ba-
a publicação, elaborada por 35 especialistas em seado no conhecimento e empatia com gestantes,
um grupo multidisciplinar, a assistência ao pré- recém-nascidos e famílias. “Em alguns países, esse
-natal, parto e pós-parto – conceito que em in- cuidado integral é limitado por barreiras culturais
glês é condensado na palavra midwifery – é vital e existem sobreposições de papéis entre médicos
para enfrentar os desafios de fornecer cuidados obstetras, médicos de família, enfermeiras, parteiras
materno-infantis de alta qualidade a todas as mu- tradicionais, obstetrizes, agentes comunitários de
lheres e recém-nascidos, em todos os países. Para saúde e enfermeiras obstetras”, diz o texto.
os autores do estudo, investir nesse profissional
especialista no manejo do parto tem retorno tão
Redução de cesarianas
eficaz quanto o investimento em vacinação. “Desde
1990, os 21 países que foram mais bem sucedidos No Brasil, os estudos mostram que a presença
em reduzir as taxas de mortalidade materna, fize- de enfermeiras obstetras reduz o excesso de cesaria-
ram isso facilitando o parto através do emprego nas desnecessárias. Em maternidades onde os par-
de midwives”, afirmam. tos são assistidos por enfermeiros ou obstetrizes, a
As conclusões da publicação apoiam a mu- taxa de cesariana é 78% menor quando comparada
dança de uma assistência que atualmente é, na aos hospitais onde não há presença desse profis-
maior parte dos países, fragmentada, focada na sional no momento do parto, conforme apontou a
pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública
foto: bel junqueira
das Clínicas da Faculdade de Medicina da cidade do Recife nas três últimas gestões
Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), do Partido dos Trabalhadores, tendo como
o evento discutirá temas como dor e objeto de análise ciência, ética e política.
transtornos psiquiátricos no idoso e in- E ndereços
tervenções para cuidadores de pacientes
idosos, em mesas-redondas, e terá a
Direitos humanos Editora UFPE
participação do conferencista Aartjan T.F. Parceria entre Ministério da (81) 2126.8397 e (81) 2126.8930
Beekman, do Departamento de Psiquiatria Cultura, Governo Federal, www.ufpe.br/edufpe
da Universidade de Amsterdã (Holanda). Caixa Econômica Federal livraria@edufpe.com.br
Destinado a clínicos gerais, geriatras, e Editora Instituto Vladimir Editora Instituto Vladimir Herzog
neurologistas, psiquiatras, gerontólogos, Herzog, Declaração (11) 2894.6650
psicólogos, neuropsiquiatras, terapeutas Universal dos Direitos http://vladimirherzog.org/vlado-editora
ocupacionais, enfermeiros e demais profis- Humanos – 30 artigos contato@vladimirherzog.org
sionais da área de saúde, recebe resumos ilustrados por artistas EdUFSCar
até 10 de março. tem design gráfico assinado por Chico (16) 3351-9621 e (16) 3351.9623
Data 20 e 21 de março de 2015 Homem de Melo e traz cada um dos artigos www.editora.ufscar.br/
Local Anfiteatro do Instituto de Psiquiatria do documento ilustrados por renomados contatos@ufscar.br
HC FMUSP, São Paulo, SP artistas brasileiros. A obra também inclui
Editora Fiocruz
Informações www.blcongressoseventos. textos da jurista Flávia Piovesan, reconheci- (21) 3882-9039 e (21) 3882-9006
com.br, (11) 2046.0314 e (11) 99882.9988 da por sua militância na causa dos direitos editora@fiocruz.br
ou bleventos@uol.com.br e blcongresso- humanos, que escreve sobre a história da www.fiocruz.br/reditora
seventos@gmail.com Declaração da ONU e suas consequências,
Sinédoque
da SAÚDE
do homem
Para ser eleita como rastreável, portanto, essa doença precisa
Bruno Pereira Stelet
ser frequente na população, ter um desfecho grave (causar