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CONTRAFISSURA E PLASTICIDADE

PSÍQUICA
Antonio Lancetti

Profª Nathalie Giovannini


 PREFÁCIO- Antonio Nery Filho
 “Clínica Peripatética”  praticada em movimento,
fora dos espaços de reclusão convencionais, com o
que se inauguram outras formas de engate
terapêutico
 Furor proibicionista
 “Fissura”  “impulso incoercível para consumir
drogas”
 CONTRAFISSURA  tentativas desesperadas de
tantos “apoiados por uma mídia sensacionalista,
para resolver de modo simplificado, problemas
complexos, voltados, todos, para as drogas
 “PLASTICIDADE PSÍQUICA  capacidade
técnica de responder de outro modo
 Nascida na Reforma Psiquiátrica e consolidada
nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps),
dando origem aos Caps AD  PRIMEIRA resposta
da saúde mental, na substituição dos tratamentos
morais e reducionistas centrados na abstinência,
na elisão da subjetividade dos corpos e da
cidadania das pessoas usuárias de crack
 Práticas redutoras de danos  encontro dos
usuários, sem censurar o uso de drogas e a aceitar
essas pessoas do modo como elas eram
 Experiências de “baixa exigência” 
caracterizadas por práticas que induzam a novas
subjetividades, longe das propostas que
desconsideram o saber e a experiência de cada um,
sobretudo, longe da contrafissura
 Acolhimento em momentos de crise, atendimento
sem preconceito na unidade de saúde, entrada e
permanência em um local provisório para dar
tempo a uma reorganização, passeios esportivos e
culturais, projetos de moradia, alimentação e
trabalho  PRIMEIRO DISPARO
 Segundo disparo  circunstâncias inusitadas,
enigmáticas, e inexplicáveis que impelem alguns a
fugirem do circuito: zona de uso, cadeia, clínica de
recuperação, abrigo, Caps
 Exemplo destas novas possibilidades plásticas
 “Programa Terapêutico Singular”
 “Consultório na Rua” X “Consultório de Rua”
1. A CONTRAFISSURA

 Corrente entorpecedora em favor do


enfrentamento da chamada epidemia do crack 
predominantemente midiática
 A disseminação do crack pode ser considerada
uma epidemia?
 Aumento de determinadas doenças num
determinado lugar e num determinado tempo
cronológico
 Doenças transmissivas geradas por vírus ou
bactérias que se transmitem de um ser para outro
 Ponto de vista da epidemiologia dos séculos XIX e
XX  epidemias causadas por doenças
transmissivas e por doenças não transmissivas
 Argumentos que comparam a quantidade de
pessoas que se tornaram consumidores
compulsivos de crack, com seus agravos à saúde,
como os dependentes de álcool, servem para
desmontar o exagero da mídia e de governantes
Simulacro de epidemia
 1970, nos EUA, em pleno furor proibicionista
 Utopia de um mundo sem drogas
Enfrentamento desse sintoma social não se resolve
mudando de problema de segurança para
problema de saúde

uma das raízes do proibicionismo

Autoridade médica moral


 Everett Gordon  conceito de epidemiologia
fundamentado na tríade agente, hospedeiro e
meio ambiente
 Conceito de epidemia foi expandido para doenças
Psicossociais e doenças da nutrição
 Noção de epidemia como uma peste que se
alastra
 Campanhas alarmistas fazem parte da guerra às
drogas, produzem o efeito contrário ao
supostamente desejado e têm contribuído para
expandir o mercado negro, o mercado branco e o
consumo de drogas ilícitas e lícitas
 Afã por resolver IMEDIATAMENTE E DE MODO
SIMPLIFICADO problemas de TAMANHA
COMPLEXIDADE  CONTRAFISSURA
 Não se manifesta somente em matérias
sensacionalistas de jornais, revistas e televisão, ela
orienta também programas de governo
 O programa é tão eficaz do ponto de vista da
propaganda política como fracassado na prática,
porque é focado na droga e não na pessoa
 A contrafissura também se manifesta em cada
cuidador e terapeuta que imagina salvar a vida das
pessoas
 O consumo de crack pode ou não ser considerado
uma epidemia  modo como essa noção de
epidemia atua, a sua eficácia imediata e os riscos
que acarreta
 Considerar SIMPLESMENTE o crack uma DOENÇA
CRÔNICA E RECIDIVANTE QUE AGE NO
CÉREBRO PRODUZINDO TOLERÂNCIA É UM
REDUCIONISMO PERIGOSO que, aliado às
POLÍTICAS PROIBICIONISTAS, DEMAGÓGICAS E
MIDIÁTICAS, alimentam a CONTRAFISSURA por
TODA A SUPERFÍCIE EXPRESSIVA SOCIAL
inserindo-se nos PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO
DOS DROGADOS E DOS NÃO DROGADOS
 Reforma Psiquiátrica desenvolveu uma poiésis
 Mobilização social, participação de usuários e
familiares fundada na utopia de uma sociedade
sem manicômios
 A contrafissura é uma das causas da criação de
numerosas chácaras e outros locais mais ou menos
isolados que se auto-denominam comunidades
terapêuticas
 Conjunto de pessoas consideradas doentes e outro
conjunto de pessoas consideradas terapeutas
 A contrafissura também se manifesta na
tergiversação dos termos
 Comunidades terapêuticas atuais  base moral,
retornam às velhas concepções psiquiátricas que
entendiam a doença mental como desvio da
razão
 Controle social não se exerce mais por meio de
instituições que foucault chamou de disciplinares
 Vivemos sob a égide da sociedade de controle
 Prática de exceção
 Corrente dos que entram no mundo da droga
como uma cruzada de salvadores ou corretores de
almas une-se às correntes cientificistas que fazem
uma leitura contrafissurada das neurociências
 Psicologia comportamentalista
 Psiquiatria autoproclamada científica e moderna
 Drogado  sujeito sem subjetividade que precisa
ser sequestrado, reprogramado segundo
procedimentos baseados na abstinência
prolongada e na reengenharia da vida
 As comunidades terapêuticas não são o simples
retorno dos manicômios
 Fazem parte do conjunto-droga: produção-
comercialização-judicialização-repressão-cuidado-
terapêuticas-exposição mediática
 Deleuze  drogado é o eterno abstinente
 Eficácia sempre relativa do primeiro dos doze
passos
 Outra das maneiras da expressão da contrafissura
é a violentação do Direito
 Ideia de focar o tratamento numa substância não é
somente equivocada  opera como álibi para criação de
novos territórios de estado de exceção
 Noias das cracolândias, maltrapilhos e confundidos com o
asfalto e suas extravagâncias, como os muçulmanos dos
campos de concentração, ocupam o lugar de sujeito sem
voz; sem direito e sem desejo  porta para a constituição
de campos de exceção
 Na história mais recente  proibicionismo está
intimamente ligado à incisividade do poder psiquiátrico,
ao oportunismo político e à própria subjetividade
contemporânea francamente compulsiva
 Contrafissura  não se manifesta exclusivamente
nos proibicionistas
 É A PRIMEIRA BARREIRA A SER ENFRENTADA
POR GESTORES E CUIDADORES
Assinale a alternativa incorreta:
a) As campanhas alarmistas fazem parte da guerra às drogas,
produzem o efeito contrário ao supostamente desejado e têm
contribuído para expandir o mercado negro, o mercado branco e o
consumo de drogas ilícitas e lícitas.
b) A contrafissura é uma das causas da criação de numerosas chácaras
e outros locais mais ou menos isolados que se auto-denominam
comunidades terapêuticas.
c) A contrafissura também se manifesta na tergiversação dos
termos.
d) Na nossa história mais recente o proibicionismo está intimamente
ligado à incisividade do poder psiquiátrico e a motivações religiosas
e econômicas.
2. A FORMAÇÃO DO CARÁTER DO
TRABALHADOR DE CAPS AD
 Mario Tommasini  um dos precursores da
Redução de Danos ao ir ao encontro dos usuários
sem censurar o uso de drogas e por aceitar essas
pessoas
 Dupla postura de reprimir e cuidar ao mesmo
tempo está fadada ao fracasso
 As experiências fundadoras foram marcadas por
alta intensidade e transitaram transbordando os
limiares da clínica, da pedagogia e da política
 Advento da epidemia de crack
 As políticas não fascistas que se iniciaram com a
práxis da REDUÇÃO DE DANOS resistiram e
resistem bravamente às tentativas de reinstituir a
internação e as soluções simplificadoras e
punitivas
 O nascimento dos Caps AD
 Antes da criação dos abrigos para adolescentes 
experiência de produzir agenciamentos entre
meninos e meninas em situação de rua e pacientes
crônicos do hospital
 Convivência entre uma população nômade e outra
sedentária  conceito de agenciamento de
desejo
 Em Santos foi criada uma casa para pessoas
infectadas pelo vírus da aids que funcionava com
uma metodologia grupal
 Distribuição de seringas e de insumos para
redução de danos foi proibida por ação do
ministério público  a lei sempre anda de
contramão com a vida
 Enquanto os leitos de hospital psiquiátrico se
desativavam, a rede nacional de Caps se expandia
 Caps AD  primeira resposta dada pela Saúde
Mental, convocada para substituir os tratamentos
morais e as estratégias reducionistas centradas na
abstinência e na elisão da subjetividade, dos
corpos e da cidadania
 Comunidades Terapêuticas intensificaram a sua
expansão
 Em momento de pressão proibicionista e de
aumento do consumo de crack, de judicialização
da saúde, da política e da vida, o Ministério de
Saúde promoveu uma rede de atenção  um dos
pontos estratégicos dessa política de Estado
 Os caps AD não são simples substitutos dos
manicômios e comunidades terapêuticas
 Casos bem-sucedidos são aqueles que escapam do
circuito — zona de uso, internação em
comunidades terapêuticas e outras instituições,
prisão
 Os Caps AD são instituições abertas  primeira
tensão que se cria no dia a dia
 Priorizam as situações de maior risco
 Os casos de ofício
 Joana Pagliarini queixava-se de os atendimentos se
tornarem “fabris”
 Além das crises familiares, das tensões das ruas, do
acompanhamento de pessoas que estão em regime de
hospital noite em cuidado intensivo, dos egressos de
comunidades terapêuticas, atendem também a ansiedade
contrafissural de juízes e promotores
 Plasticidade psíquica e atletismo afetivo
 Freud se preocupa com os limites da terapia psicanalítica
 Rigidez psíquica
 Plasticidade ou rigidez psíquica não é privativa dos
neuróticos  uma espécie de traço único
 PLASTICIDADE PSÍQUICA  imprescindível para
lidar com a angústia diante da repetição das mal
chamadas recaídas ou das manipulações, roubos,
traições e sofrimento
 Constante mudança de situações, ora repetitivas,
ora explosivas, as diversas crises que os
profissionais acolhem, o encontro com histórias de
vida terrificantes ou situações de horror tornadas
habituais ou banalizadas
 ATLETISMO AFETIVO  admitir, no ator, uma
espécie de musculatura afetiva que corresponde a
localizações físicas dos sentidos
 Ao organismo do atleta corresponde um
organismo afetivo análogo, e que é paralelo ao
outro
 O conceito de atletismo afetivo de Artaud refere a
potência do corpo do ator
 O ator vai ao corpo orgânico para produzir um
corpo sem órgãos que lhe permita sair da
representação e alcançar o interlocutor
 O conceito de atletismo afetivo nos remete ao
corpo do terapeuta
 O terapeuta ou o redutor de danos não dá
sermões, olha o corpo, escuta suas expressões, se
interessa pela biografia
 Antonio Nery Filho  o Redutor de Danos deve ter
inteligência emocional
 Eles buscam alcançá-lo onde o usuário menos
espera
 É o corpo do usuário que o terapeuta busca
encontrar
 o Consultório na Rua opera tecnologias leves
 Baixa exigência opera com alta exigência dos
redutores de danos e trabalhadores de saúde
mental
 A escuta do terapeuta de Caps AD se orienta para
aquém dos discursos dos drogados e dos não
drogados  plano dos corpos
 Por mais estropiadas que estejam as pessoas que
são atendidas no serviço público, é de seus corpos
que partirá alguma mudança
 Encontro de corpos terapeutas-usuários, mas
também encontro de corpos em situações grupais
 Nesses grupos se produzem novas sociabilidades
e o comum gerado é o único dispositivo
antidroga
 O trabalhador de Caps é como uma pilha
 Mais importante  operar em superfícies não
submetidas à moral e à contrafissura
 Mas para isso é preciso transitar por caminhos
cheios de arapucas; uma das mais complexas é a
denominada empoderamento de usuários e
funcionários
3. CONVERSAÇÕES COM DAVI BENETTI SOBRE
CONSULTÓRIOS DE E NA RUA
 Benetti  ações vinculadas à questão educativa, à
escuta, conversar com usuário, fazer o vínculo 
base principal da Estratégia da Redução de Danos
 Consultório de Rua
 Lancetti  Antonio Nery enunciou os conceitos
fundamentais do Consultório de Rua e na rua
 As pessoas não se drogam para morrer
 Estabeleceu bases para a metodologia
 Benetti  o Consultório na Rua ganhou toda a
potência dentro da Saúde ao se tornar um
dispositivo do SUS
 Ele é o veículo e o principal difusor da Estratégia de
Redução de Danos
 Acesso à rede de saúde aos usuários e circulamos
pelas zonas de uso, pelas redes de saúde, pelas
zonas de prostituição e pelas baladas de
adolescentes
 Ação mais incisiva em situações de crise
 Lancetti  análise da demanda de todos os
implicados
 O que é eficaz é o trabalho em Rede
 O que é mais difícil no consultório?
 Benetti  Redução de Danos Preventiva
 Lancetti
 Clínica peripatética  ampliação da vida
 Antonio Nery  função do Consultório de Rua é
tornar visíveis as pessoas que estão em situação de
rua
 Se tivesse de dar um nome ao modo de operar, à
metodologia?
 Benetti  tecnologias leves
 Félix guattari  novas suavidades. Não são menos
intensas, mas sem dúvida são mais velozes
4. MAIS DUAS QUESTÕES SOBRE OS CONSULTÓRIOS
NA RUA
 Tensão metodológica entre o Projeto Meninos e
Meninas de Santos, na Prefeitura de Santos e o
Projeto Axé, de Salvador
 Educadores do Projeto Axé  versão lacaniana de
desejo
 Consistia numa ideia-força: o menino só vai sair da
rua quando desejar
 Espécie de ampliação e transposição da prática
psicanalítica de consultórios para a rua
 Como provocar no outro desejos e afecções vitais e
enriquecedoras
 Projeto Axé  um projeto vencedor, entre outras
coisas, porque expôs a questão do desejo dessas
crianças e jovens
 Questão do desejo está ligada imediatamente à
questão ética
 Princípios Éticos enunciados no Guia do Projeto
Consultório de Rua:
1. “toda conduta humana é portadora de
significação pessoal”
2. “respeito ao sofrimento e ao ethos humano”
3. ter “responsabilidade dos atos”, ou conduzir o
cuidado dos danos associados ao álcool e outras
drogas de modo não assistencialista
 Os territórios conhecidos como zonas de uso são
muito diferentes
 Cracolândia paulistana, junto com a invisibilidade
das pessoas e suas vidas e histórias criou uma
hipervisibilidade
5.“DE BRAÇOS ABERTOS”, PROJETO DE UMA
NOVA POLÍTICA PÚBLICA
 Gestão da prefeita marta Suplicy  trabalho com
bases de política pública e princípios de cidadania,
e alguns abrigos melhoraram
 Gestão do prefeito Serra  meninos e meninas
foram se tornando mais agressivos
 2009, na gestão do prefeito Kassab  equipes de
agentes de saúde e enfermeiras, uma espécie de
Pacs de rua
 As equipes de PSF de rua eram recebidas com
reticências pelas profissionais de saúde
 A cracolândia paulistana foi constituindo-se como
um território controverso — de um lado, um
exército de trabalhadores de saúde se implicaram
no cuidado, de outro, a repressão
 As pessoas em situação de rua vivem em outra
temporalidade
 O início do Programa “De Braços Abertos”
 No início da gestão municipal, em 2013, em
sintonia com o Programa do Governo Federal
Crack é Possível Vencer, foi criado o GEM (Grupo
Executivo Municipal) composto por 13 secretarias
municipais e de representantes de centros de
estudos e pesquisas.
 Ponto de Apoio intensificou e ampliou o vínculo de
confiança entre os moradores da região e agentes
de saúde, médicos, enfermeiros e outros técnicos
dos dois Consultórios na Rua e os assistentes
sociais
 Cada tauba que caía “não” doía no coração
 A pesquisa nacional sobre uso de crack mostrou
em 1º lugar que a média de tempo de uso dos
frequentadores das zonas de uso das capitais
brasileiras é de aproximadamente oito anos
 2ª  80% são homens, não brancos, de baixíssima
escolaridade, 50% já estiveram encarcerados
 Maioria dessas pessoas são integrantes de uma
parte da sociedade que Jessé Souza chamou de
ralé brasileira
 “De braços abertos”, em vez de FOCAR na DROGA
VAI DIRETAMENTE AO PROBLEMA, ao oferecer o
que Tykanori, Garcia & Vitore chamaram de
PACOTE DE DIREITOS: Moradia, Alimentação,
Trabalho E Cuidados De Saúde
 Os conceitos inspiradores
 Ideias-força  baixa exigência, pacote de direitos,
ação integrada dos dirigentes e trabalhadores da
prefeitura e relacionamento a uma rede de saúde,
de assistência e a iniciativas de trabalho
fundamentadas na metodologia da economia
solidária e outras estratégias
 Housing First
 Pessoas que foram morar nessas casas, onde NÃO
se exigia abstinência, aderiam a programas de
saúde em proporção sumamente maior dos que
estavam sendo atendidas por equipes ambulantes,
e também diminuíram significativamente o
consumo
 Diminuição da violência, as intercorrências de
chamada de ambulâncias e a desordem urbana
 É um Programa de baixa exigência
 DBA  acrescentou à moradia e aos cuidados de
saúde trabalho e alimentação

chamado disparo ou lançamento de uma


nova experiência subjetiva

 Low threshold service  baixo limiar de entrada, ou


de exigência e disparo
 PRIMEIRO DISPARO
 Outro aspecto importante  feitos de
contratualidade
 Contrato operou introduzindo uma nova dimensão
temporal
 Perspectiva de pagamento opera introduzindo
uma duração diferente ao imediatismo
 Pessoas que estavam à margem da dinâmica das
trocas locais passaram a participar da circulação
de mercadorias e de trocas afetivas com a
comunidade local
 O DBA introduziu um fluxo no fluxo
 Já podem ser observados importantes passos:
1. Ter conseguido operar de maneira integrada:
saúde, trabalho, assistência e direitos humanos 
única maneira de superar o empurra-empurra dos
encaminhamentos burocráticos
 Uma das metodologias adotadas é a dos trios
2. Muitos familiares apareceram e dezenas de
pessoas deixaram o local para reunir-se com seus
seres queridos
3. A adesão aos tratamentos de doenças
sexualmente transmissíveis aumentou
significativamente
 4. Há oficinas ambulantes ligadas aos direitos
humanos que mantêm uma tensão constante com
as ações de segurança, o que mostra a
heterogênese do projeto
 Atividades culturais
 Construção de coletivos que são o contrário que o
narcisismo do uso
5. Outro êxito do DBA foi anunciado pela Folha que
afirmava que depois de mais de um ano de
trabalho quarenta por cento dos usuários tinham
abandonado o Projeto
6. O trabalho de varrição tem um forte simbolismo
7. A transformação do trabalho de assistentes sociais
não só para que operar de maneira integrada
 A assistência social também está implementando
projetos de moradia e geração de renda que visam
a autonomia dos usuários
 O Programa desenvolve-se em terreno
controverso
 Um dos principais obstáculos é a insidiosa pressão
da mídia
 Dificuldade  Oposição permanente do programa
da prefeitura e do estado de São Paulo
 Um dos maiores impasses do DBA  se não há
presença das forças municipais de segurança, os
traficantes do penúltimo escalão tomam o
território. E cada vez que há repressão e
enquadramentos na região, os usuários ficam mais
arredios
 A entrada no DBA e sua permanência implica uma
mudança de identidade, ou induz a produção de
subjetividade ou de mudanças subjetivas difíceis
de perceber
 Avaliar a persistência da identidade  lembrar que
há algo do que Guattari chamou de não garantido
 A maior dificuldade interna é a desintegração da
guarda civil metropolitana
 Este é o maior dos perigos: a TENTAÇÃO
REPRESSIVA ante a imensa pressão política e
midiática
 redução de danos NÃO É redução de pedras 
uma das consequências da Redução de Danos
 Mostrar para a sociedade que, independentemente
da redução do consumo, o IMPORTANTE é a
elevação da vida e da dignidade
 Êxito do DBA depende da maior integração:
• com a adoção de primazia da AUTORIDADE e não
do AUTORITARISMO que ocorrerá com a
integração da GCM ao grupo condutor do DBA;
• com a sistematização e mensuração;
• com a capacitação desses funcionários;
• com a sistematização da produção de novas
sociabilidades e promoção real de autonomia
7. O SEGUNDO DISPARO
 Paralelismo entre as teorias etiológicas
monocausais focadas na droga e na abstinência;
entre as teorias do demônio e do neurônio 
MORAIS
 Condições sociais
 Claude Olievenstein  verdadeiro toxicômano foi
gerado por narcisismos mal constituídos 
espelho quebrado
 Não existe uma causalidade única
 Subjetividades mais estragadas e violentadas na
família, na escola, nos interstícios da trama social,
sejam mais aptas para se internarem em territórios
marginais
 Clínica peripatética  mimados ou sujeitos criados
sem pulso e sem afeto ou com afetos duvidosos
 Pesquisa Nacional de Uso de Crack e as
experiências desenvolvidas pela corrente nacional
que adotou a filosofia e a práxis da Redução de
Danos  produção social de subjetividade é
decisiva para entender as pessoas
 Singularidade e na história de cada pessoa
 O que cura não é a pena, é o perdão
 Como entender essas mudanças e a produção de
subjetividades livres ou com altos índices de
liberdade e autonomia à luz da experiência da
Redução de Danos?
 A baixa exigência está relacionada a um ponto de
partida ou disparo: no acolhimento ativo do
consultório de rua ou na rua; acolhimento do Caps
em momentos de crise; atendimento sem
preconceitos nas unidades de saúde; entrada numa
casa para se organizar por um tempo e participar
de uma vida coletiva como nas UAs; ida à Represa
para participar do Programa Remando para a Vida
e mais claramente no DBA com o pacote inicial de
direitos
 Pelas razões mais inesperadas, pessoas
anteriormente fogem do circuito: zona de uso,
cadeia, clínica de recuperação, abrigo, Caps 
Segundo Disparo
 Emergem do corpo dos seus protagonistas
 O segundo disparo, ou disparo de segunda ordem
 na maioria das vezes fica fora do campo de
visão dos profissionais de saúde, de saúde mental e
de outros setores
8. ALGUMAS QUESTÕES SOBRE O PROGRAMA
TERAPÊUTICO SINGULAR
 PTS  ferramentas consagradas como
FUNDAMENTAIS para a práxis da saúde mental
proposta pela Reforma Psiquiátrica Brasileira
 Instituições e práticas substitutivas da prática
asilar  dispositivos de uma política pública e de
Estado
 Conceito de PTS como um organizador do
cuidado
 PTS  organizador do cuidado que inclui a família,
a biografia, o território geográfico, os recursos
desse território e o território existencial do usuário
e seu contexto. E, por fim, a potencialidade do
sujeito individual e coletivo
 Elaboração  das produções mais complexas da
prática clínica que acontece na Raps
 A organização do PTS depende, em primeiro lugar,
da prioridade adotada
 Para menor exigência  maior complexidade e
maior intensidade  maior chance de vinculação
consistente
 É fundamental intervir no território e mais
incisivamente no domicílio
 As intervenções familiares provocam um duplo
efeito-surpresa:
1º) Alguém se interessar por conhecer o grupo
familiar
2º) pode ou não pode acontecer e consiste nas
insólitas maneiras de aderir ao PTS quando ele
funciona
 Para o PTS não ser reduzido a um procedimento
burocrático  analisar as demandas, avaliar as
necessidades e descobrir as potencialidades
 PTS  flecha propulsora, mas para ser certeira
precisa contar com o conhecimento e a
participação dos usuários
 SINGULAR NÃO É OPOSTO DE COLETIVO NEM
É SINÔNIMO DE INDIVIDUAL
 As pessoas não mudam só porque ressignificam
as suas histórias numa clínica puramente
memorial, os de focos mutantes de subjetividade
se inserem no PTS com agenciamentos de desejo

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