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AULA 3 – 17.03.

2012

Bibliologia
ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO 2

2 INSPIRAÇÃO 2

3 CARACTERÍSTICAS 8

4 CÂNON 14

5 MANUSCRITOS 21

6 TRADUÇÕES 24

7 ARQUEOLOGIA 34

8 PERGUNTAS 38

9 BIBLIOGRAFIA 39

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AULA 3 – 17.03.2012

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1. Introdução

A maioria dos cristãos concorda que a Bíblia seja a nossa autoridade em algum sentido. Mas
exatamente em que sentido a Bíblia afirma ser nossa autoridade? E como podemos nos convencer
sobre as declarações da Escritura faz dela mesma afirmando ser a Palavra de Deus? Estas são as
principais questões que iremos tratar nesta aula.

1.1 Etimologia

a) Bíblia
A palavra Bíblia é derivada da palavra grega [biblos], que significa "livro" ou "pergaminho".
O nome vem de Byblos, se referindo as plantas do papiro, que cresciam em pântanos ou às
margens dos rios, principalmente ao longo do rio Nilo, e essas plantas eram utilizadas para fazer
longos rolos ou pergaminhos. Os cristãos de língua latina acabaram utilizando o plural da palavra
no latim [bíblia].

b) Escritura

A palavra Escritura é derivada do grego [graphe], cognato de [graphõ], que significa


simplesmente "escrever". A forma verbal [graphõ] ocorre cerca de 90 vezes, em referência à
Bíblia, enquanto o substantivo [graphe] é usado cerca de 50 vezes para se referir à Bíblia. O termo
[gramma], que significa “letra” é usado acerca das escrituras (2 Tm 3.15).

2. Inspiração

Por trás de toda inspiração existe uma autoridade que é fonte dessa inspiração.

“A autoridade divina e infalível das Escrituras ocorrem pelo fato de elas serem a palavra de
Deus; e é a palavra de Deus porque foram dadas pela inspiração do Espírito Santo” 1

A doutrina comum na Igreja é que a inspiração foi uma influência do Espírito Santo nas
mentes dos homens que escreveram a Bíblia, que se entregaram a Deus para comunicarem a
mente e vontade do Senhor.

Assim, quanto às linhas teológicas da inspiração, podemos apontar:

Ortodoxia • A Bíblia é a Palavra de Deus.

• A Bíblia contém a Palavra de


Modernismo Deus.

• A Bíblia torna-se a Palavra de


Neo- Ortodoxia Deus.

1
Hodge, C. (2008). Systematic Theology Vol1. Hendrickson Publishers, Inc. p.158

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a) Ortodoxia – A Bíblia é a Palavra de Deus

Teólogos ortodoxos ao longo dos séculos vêm ensinando, todos de comum acordo, que a
Bíblia foi inspirada verbalmente, isto é, o registro escrito por inspiração de Deus. No entanto, tem
havido tentativas de procurar explicação para o fato de o registro escrito ser a Palavra de Deus e
ao mesmo tempo em que o Livro foi composto por autores humanos, dotados de estilos diferentes;
essas tentativas conduziram os estudiosos ortodoxos a opiniões divergentes.

Alguns abraçaram a idéia do “ditado verbal”, afirmando que os autores humanos da Bíblia
registraram apenas o que Deus lhes havia ditado, palavra por palavra. Outros estudiosos preferiam
a teoria do “conceito inspirado”, segundo qual Deus só concedeu aos autores pensamentos
inspirados, e estes tiveram liberdade de revesti-los com palavras próprias.
Porém a teoria mais aceita é a da Inspiração “plena ou verbal”, e ensina que todas as
partes da Bíblia são igualmente inspiradas; e afirma que homens santos escreveram a Bíblia com
palavras de seu vocabulário, porém sob uma influência tão poderosa do Espírito Santo, que o que
eles escreveram foi Palavra de Deus.

b) Modernismo – A Bíblia contém a Palavra de Deus (Liberalista)

Opondo-se à opinião ortodoxa tradicional que a Bíblia é a Palavra de Deus, os modernistas


ensinam que a Bíblia meramente contém a Palavra de Deus. Certas partes dela são divinas, outras
são obviamente humanas e apresentam erros.

c) Neo-Ortodoxia – A Bíblia torna-se a Palavra de Deus

No início do século XX, a reviravolta nos acontecimentos mundiais e a influência do pai


dinamarquês do existencialismo, Soren Kierkegaard, deram origem a uma nova reforma na
teologia européia. Estudiosos começaram a voltar-se de novo para as Escrituras, a fim de ouvir
nelas a voz de Deus. Sem abrir mão de suas opiniões críticas a respeito da Bíblia, começaram a
levar a Bíblia a sério, por ser a fonte da revelação de Deus aos homens.
Criando um novo tipo de ortodoxia, afirmavam que Deus fala aos homens, mediante a
Bíblia. À semelhança das outras teorias a respeito da inspiração da Bíblia, a neo-ortodoxia
desenvolveu duas correntes. Na extremidade mais importante estavam os “demitizadores”, que
negam todo e qualquer conteúdo religioso importante, factual ou histórico, nas páginas da Bíblia, e
crêem apenas na preocupação religiosa existencial sobre a qual desenvolve os mitos. Na outra,
procuram preservar a maior parte dos dados factuais e históricos das Escrituras, mas sustentam
que a Bíblia de modo algum é revelação de Deus.

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2.1 Teorias da Inspiração Bíblica

Como a Bíblia pode ser infalível se ela foi escrita por humanos falíveis?

O fato de a Bíblia ter sido escrita por seres humanos falíveis, não faz dela um Livro
defeituoso. Afinal de contas, mesmos seres humanos imperfeitos podem fazer coisas perfeitas
algumas vezes, e em especial se forem supervisionados por Alguém que é infalível.
Os cristãos não afirmam que os homens que escreveram os livros da Bíblia estavam sempre
certos em tudo que disseram ou fizeram. Nós simplesmente acreditamos que a Bíblia está certa
quando ela afirma que Deus guiou estes homens em sua tarefa de escrever as Escrituras de modo
que o resultado é um livro infalível. O apóstolo Pedro certamente disse muitas coisas erradas
durante sua vida, mas Deus não permitiu que ele cometesse nenhum erro quando lhe coube a
tarefa de escrever suas duas epístolas.
Paulo, inspirado por Deus, ao escrever sua segunda epístola a Timóteo, afirmou clássica que
a Bíblia foi produzida por Deus e não por homens: “Toda Escritura é inspirada por Deus, e é útil
para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça” (2Tm 3:16)
“Podemos definir a inspiração como sendo a supervisão divina sobre os autores humanos de
modo que, usando suas personalidades individuais, eles compuseram e registraram sem erro a
revelação de Deus ao homem nas palavras dos autógrafos originais”.2
Nós não sabemos exatamente como Deus trabalhou para cumprir o seu propósito de nos
prover com uma Bíblia totalmente acurada. Mas o apóstolo Pedro nos fornece algum
esclarecimento: “Nenhuma profecia jamais foi dada por vontade humana, mas homens santos,
movidos pelo Espírito Santo, falaram de Deus” (2Pe 1:21).
Quanto à inspiração da Bíblia, há várias teorias falsas, que não podemos simplesmente
ignorar, porque se não as identificarmos, poderemos até ser influenciados por elas em alguns
comentários que lemos. Umas são muito antigas, outras bem recentes, e ainda outras ainda estão
surgindo. Em algumas dessas teorias, a verdade vem junto com a mentira, de maneira que muitos
descuidados se deixam enganar.
Será que Deus encontrou homens excepcionais, dotados de visão espiritual e dons naturais
para garantir que a Bíblia fosse uma obra perfeita? Ou será que a mente do escritor ficou vazia de
suas próprias idéias enquanto Deus transferia misticamente todo o conteúdo do que deveriam
escrever?

Vejamos, então, as principais teorias da Inspiração Bíblica.

2.1.1 Teoria da Inspiração Natural

Procura explicar a inspiração como sendo um discernimento superior das verdades


morais e religiosas por parte do homem natural. Assim como tem havido, intelectuais,
filósofos, artistas, músicos e poetas excepcionais, que produziram obras de arte e de escrita
que nunca foram superadas, também em relação às Escrituras houve homens excepcionais
com visão espiritual que, por causa de seus dons naturais, foram capazes de escrever as
Escrituras.

Refutação: Esta é a noção mais repulsiva de inspiração, pois enfatiza a autoria humana a
ponto de excluir a autoria divina. Esta teoria foi defendida pelos pelagianos e unitarianos. Ë
bom que se diga que os escritores da Bíblia, fossem eles homens simples ou extremamente
cultos, afastaram de si toda glória, confessando ser Deus o verdadeiro autor de suas
palavras (2Sm.23:2; At.1:16; 28:25; Jr.1:9).

2
Charles C. Ryrie, A Survey of Bible Doctrine (Chicago: Moody, 1972), p. 38.

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2.1.2 Teoria da Inspiração Mística ou Iluminação

Inspiração, segundo essa teoria provém da intensificação ou elevação das


percepções religiosas de um crente. Cada crente tem sua iluminação até certo ponto,
dependendo do seu grau de maturidade espiritual e intimidade com Deus, e mesmo assim
alguns teriam mais percepção do que outros, ainda que fossem maduros na fé.

Refutação: Se esta teoria fosse verdadeira, qualquer cristão em qualquer tempo, através
muita “vida devocional”, poderia estar capacitado a escrever livros e cartas no mesmo nível
de autoridade que encontramos nas Escrituras. Schleiermacher foi quem disseminou esta
teoria. Para ele inspiração é "um despertamento e excitamento da consciência religiosa,
diferente em grau e não em espécie da inspiração piedosa ou sentimentos intuitivos dos
homens santos".

2.1.3 Teoria da Inspiração Divina Comum

Compara a inspiração que atribuímos aos escritores da Bíblia ao que hoje


entendemos como sendo uma “iluminação” concedida aos cristãos piedosos, em momentos
de oração, adoração, meditação e reflexão na Palavra, e que os capacita a escrever,
ensinar, compor, etc...

Refutação: De fato, existe um tipo de “inspiração comum” concedida pelo Espírito Santo aos
que crêem e se dedicam ao SENHOR, mas ela se distingue da inspiração conferida aos
escritores da Bíblia e, pelo menos dois sentidos:

 Trata-se de uma “inspiração gradativa”, isto é, o Espírito pode conceder maior ou


menor conhecimento e percepção espiritual ao crente, à medida que este ora, se
consagra e se santifica; ao passo que a inspiração dos escritores da Bíblia não
admite graus: o escritor era ou não era inspirado.
 A “inspiração comum” pode ser permanente (1Jo 2:27), enquanto que a
inspiração concedida aos escritores da Bíblia era temporária. Centenas de vezes
encontramos esta expressão dos profetas "e veio a mim a palavra do Senhor...",
indicando o momento em que Deus os tomava para transmitir sua mensagem.

2.1.4 Teoria da Inspiração Parcial

Ensina que partes da Bíblia são inspiradas e outras não. Afirma que a Bíblia não é a
Palavra de Deus, mas que apenas contém a Palavra de Deus.

Refutação: Se esta teoria fosse verdadeira, estaríamos em grande confusão, porque quem
poderia dizer quais as partes que são inspiradas e as que não o são? A própria Bíblia refuta
essa idéia: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino...” (2Tm 3:16); e
também “...nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca
jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram
da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (1Pe 1:20,21).

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2.1.5 Teoria do Ditado Verbal

Segundo esse pensamento, a inspiração da Bíblia aconteceu como um ditado literal


da Palavra de Deus aos escritores, como uma espécie de “transe”, onde praticamente não
havia lugar para a atividade intelectual, para a formação acadêmica, nem mesmo para o
estilo de cada escritor.

Refutação: Mas esta atividade e este estilo são patentes em cada livro. Lucas, por exemplo,
fez cuidadosa investigação de fatos conhecidos (Lc 1:4). Pedro, que tinha uma maneira
simplificada de escrever, fez menção ao estilo mais elaborado do apóstolo Paulo: “...como
igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada,
ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas,
nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam,
como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (1Pe
3:15,16).
Esta falsa teoria faz dos escritores verdadeiras máquinas, que anotam o que lhes é
ditado, sem qualquer noção do que estão fazendo. Deus não falou com os escritores como
quem fala através de um auto-falante. Ele usou também as faculdades mentais dos que
escreveram. A inspiração não anulou a participação do autor, nem a intenção do escritor
diminuiu o poder da inspiração: “Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-
vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me
convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé...” (Jd 1:3).

2.1.6 Teoria da Inspiração das Ideias

Ensina que Deus inspirou as idéias contidas na Bíblia na mente dos autores, apenas
as idéias, mas nenhuma Palavra. Segundo essa teoria, as palavras registradas por escrito
são de responsabilidade exclusiva dos escritores, eles teriam colocado no papel, à sua
maneira, as idéias que lhes foram inspiradas.

Refutação: Ora, qual seria a definição mais precisa de PALAVRA?


Palavra é a expressão do pensamento! Ë a verbalização daquilo que se pensa! Mas, como é
que uma idéia pode ser formulada sem o uso de palavras, ainda que no pensamento? E
como é que uma idéia pode ser exposta, em sua exatidão, sem o uso das palavras que
deram vida a essa idéia? Portanto, uma idéia ou pensamento inspirado só pode ser expresso
por meio de palavras inspiradas. Se Deus deu “idéias inspiradas”, Ele as deu através de
“palavras inspiradas” Ninguém há que possa separar a palavra da idéia. A inspiração da
Bíblia não foi somente "pensada", foi também "falada".

“porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens
santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. porque nunca jamais
qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da
parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:21).

“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho...” (Hb 1:1).

“Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas
ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais” (1Co 2:13).

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2.1.7 A Teoria Correta da Inspiração da Bíblia

É a chamada teoria da inspiração plena ou verbal. Ensina que todas as partes da


Bíblia são igualmente inspiradas; que os escritores não funcionaram quais máquinas
inconscientes; que houve cooperação vital e contínua entre eles e o Espírito de Deus que os
capacitava. Afirma que homens santos escreveram a Bíblia com palavras de seu
vocabulário, porém sob uma influência tão poderosa do Espírito Santo, que o que eles
escreveram foi Palavra de Deus. Assim, a inspiração plena ou verbal é o poder inexplicado
do Espírito Santo orientando e conduzindo os escritores escolhidos por Deus na transcrição
do registro bíblico, quer seja através de observações pessoais (1Jo.1:1-4)., fontes orais ou
verbais (Lc.1:1-4; At.17:18; Tt.1:12; Hb.1:1), ou através de revelação divina direta
(Ap.1:1-2; Gl.1:12), preservando-os de erros e omissões, de maneira a garantir a
inerrância das Escrituras, e dando à Bíblia autoridade divina.

RESUMINDO:

Inspiração é a operação divina que influenciou os escritores bíblicos, capacitando-os a


receber a mensagem divina, e que os moveu a transcrevê-la com exatidão, impedindo-os de
cometerem erros e omissões, de modo que ela recebeu autoridade divina e infalível, garantindo a
exata transferência da verdade revelada de Deus para a linguagem humana inteligível (2Co.10:13;
2Tm.3:16; 2Pe.1:20,21).

2.1.8 Provas da Inspiração Bíblica

 O Testemunho da Arqueologia – Dr. Melvin Grove Kyle, um famoso arqueólogo


internacional, já disse que nenhuma descoberta arqueológica nos últimos cem anos
invalidou de algum modo qualquer simples declaração da Bíblia. Pelo contrário, as
descobertas tem confirmado as Sagradas Escrituras de modo admirável.
 O Testemunho das Vidas Transformadas – Sua influência sobre o caráter e a
conduta de milhares de pessoas ao longo da história.
 O Testemunho da Unidade – O fato de ter sido escrita num período de cerca de
1600 anos por 40 autores diferentes, sem qualquer contradição, faz-nos pensar um
pouco.
 O Testemunho das Profecias Bíblicas – João 10: 35. Mais de 300 profecias do
Antigo Testamento convergem para a pessoa do Senhor Jesus Cristo (Lucas 24: 27,
44 –49). “O problema dos opositores da Bíblia é que eles não têm nada melhor para
oferecer!”

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3. Características

Dentre as características da Bíblia podemos citar:

• Relaciona-se à fidedignidade, à credibilidade,


Inerrância afastando o erro e a falsidade.

• “A autoridade das Escrituras significa que todas as


palavras nas Escrituras são palavras de Deus, de modo
Autoridade que não crer em alguma palavra da Bíblia ou
desobedecer a ela é não crer em Deus ou desobedecer a
ele."3

• mesmo os mais simples têm acesso a ela, pois sua


Clareza compreensão depende da revelação do Espírito
Santo e não da sabedoria humana.

• para sustentar nossa fé espiritual e para o


Necessidade conhecimento seguro da vontade de Deus.

• no sentido de que ela nos basta para sabermos a


Suficiência vontade de Deus.

3
Manual de Teologia Sistemática – Wayne Gruden, pg 33

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3.1 A inerrância das Escrituras

A Bíblia é a inerrante Palavra de Deus. Os ímpios e incrédulos têm feito de tudo para
encontrarem erros nos textos bíblicos. Pode ser que hajam falhas nas traduções,
interpretações ou na gramática das cópias manuscritas, pois a Bíblia foi escrita
originalmente em linguagem antiga: hebraico, grego, e aramaico. Todavia, essas possíveis
incorreções, ou dificuldades, jamais podem ser consideradas "erros" quanto à mensagem
bíblica. Menos de um por cento dessas inexatidões dos manuscritos, encontram-se na
transmissão da mensagem, portanto, não afetam a integridade da Palavra de Deus.

3.1.1 Conceituação Teológica de Inerrância

 O que é "inerrância bíblica"? Significa que a Bíblia é totalmente isenta de erros;


quer no campo lógico ou no histórico. Ela é inerrante nos fatos que apresenta e nas
doutrinas que declara. Afirmar que a Bíblia não contém erros é também reconhecer
sua inspiração, autoridade e infalibilidade divinas. Jesus afirmou categoricamente: "A
Escritura não pode falhar" (Jo 10.35).
 Inerrância e infalibilidade. O conceito de inerrância da Bíblia está intimamente
associado ao de infalibilidade. Pelo fato de não conter erros, ela é infalível. Tudo o
que a Bíblia diz cumpre-se cabalmente: "Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a
palavra do Senhor permanece para sempre" (1 Pe 1.24,25). Essa infalibilidade é
consequência de a Palavra de Deus nunca ter sido "produzida por vontade de homem
algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2 Pe
1.21).

3.1.2 Razões pelas quais a Bíblia é Inerrante

 Autoria divina. A autoria divina da Bíblia é o fundamento e a garantia de sua


inerrância e infalibilidade. Há milhões de livros espalhados pelo mundo (Ec 12.12); e
todos foram escritos por autores falhos, propensos a cometerem todo tipo de erro.
Porém, o Autor da Bíblia, jamais falta: "Deus não é homem, para que minta [...]
porventura, diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria?" O Eterno não
mente, não falha e não erra (Nm 23.19; Tg 1.17). Quando ele diz, faz; quando ele
promete, cumpre.
 Supervisão e orientação do Espírito Santo (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.19-21). Os livros
da Bíblia foram escritos sob a supervisão e orientação do Espírito Santo (Mc 12.36; 1
Co 2.13). As Escrituras não são produto da perspicácia e criatividade da mente
humana, mas é o resultado da ação sobrenatural de Deus sobre ela: o Espírito
inspirou (2 Pe 1.19-21), ensinou (1 Co 2.13) e revelou seus mistérios (Gl 1.12; Ef
3.2,3).
 A Bíblia é a exata Palavra de Deus. Do limiar ao fechamento do Cânon Sagrado,
os escritores bíblicos reproduziram exatamente o que haviam recebido da parte de
Deus: "Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para
que guardeis os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que eu vos mando" (Dt 4.2).
A Bíblia é a precisa Palavra do Senhor: ela é correta (Sl 33.4), perfeita (Sl 19.7),
pura (Sl 119.140), e eterna (Is 40.8; Lc 21.33).

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3.1.3 O Cumprimento da Bíblia demonstra sua Inerrância

 O cumprimento das profecias. O principal fato que atesta a inerrância das


Sagradas Escrituras é o cumprimento de suas profecias. Vejamos, pois, algumas das
mais de 300 profecias messiânicas cabalmente cumpridas: a) a concepção virginal de
Jesus (Is 7.14; Mt 1.22); b) o local do nascimento de Jesus (Mq 5.2; Mt 2.6); c)
mãos e pés de Jesus furados e sua túnica sorteada (Sl 22.16,18; Jo 19.24,37), etc.
Além dessas, muitas outras profecias cumpriram-se literalmente na história dos
impérios antigos, das nações modernas, e na vida de muitos indivíduos.
 A História confirma a Bíblia. Centenas de fatos e eventos bíblicos têm sido
confirmados pela história secular. Entre tantos, encontramos: a) as duas
deportações, de Israel e Judá, pelos assírios e babilônicos respectivamente (2 Rs
17.6; 2 Rs 24.10-17; Jr 25.11); b) a destruição de Jerusalém, profetizada por Jesus
e cumprida no ano 70 d.C. (Mt 24.2); c) a restauração de Israel, predita em Ezequiel
36.25-27 e cumprida em Maio de 1948.

3.1.4 Os Autógrafos

 Os autógrafos. Tratam-se dos manuscritos originais da Bíblia. Eles já não existem.


Todavia, os originais do Antigo Testamento, por exemplo, foram meticulosamente
copiados, originando os manuscritos mais antigos de que dispomos.
 Falhas na transmissão escrita das palavras da Bíblia. Se compararmos as
cópias dos textos originais entre si, encontraremos algumas variações entre elas,
mesmo diante das mais rigorosas normas impostas aos escribas. Esses copistas não
podiam escrever uma só palavra de memória. Antes de registrarem um vocábulo
tinham de pronunciá-lo bem alto e, ao escreverem o nome do Senhor, tinham de
limpar a pena com muita reverência. Cada letra e cada palavra eram contadas
cuidadosamente e, caso encontrassem um único erro, inutilizavam imediatamente
aquelas folhas, ou até mesmo todo o rolo. Há mais de duzentas mil variantes
textuais nas cópias. Nessa quantidade, observa-se, desde a troca de uma letra por
outra até a de um nome por um pronome e vice-versa. Contudo, as incorreções
encontradas nas cópias dos manuscritos, e repassadas a diversas versões dos textos
bíblicos (variantes textuais), quando analisadas à luz do contexto geral da Bíblia, em
nada comprometem o valor da mensagem sagrada, nem se constituem motivos para
descrer da inerrância da Bíblia. Podemos afirmar com absoluta certeza, que os textos
das Escrituras são plenamente confiáveis, e que as possíveis contradições são
aparentes e humanas.

A Bíblia é a inerrante e infalível Palavra de Deus. Sua correção, autoridade e


infalibilidade decorrem de sua inspiração divina. Podemos, com alegria e confiança, afirmar
como o salmista Davi: "Louvarei o teu nome, por causa da tua misericórdia e da tua
verdade, pois magnificaste acima de tudo o teu nome e a tua palavra" (Sl 138.2).

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3.2 A Autoridade das Escrituras

Dizemos que a Bíblia é um livro que tem autoridade porque ela tem influência, prestígio e
inerrância (quanto a pureza na transcrição ou tradução), por isso deve ser obedecida porque
procede de fonte infalível e autorizada.

3.3 Clareza das Escrituras

O princípio da clareza [da Escritura] significa simplesmente que a Bíblia é suficientemente


clara em si e por si mesma para que os crentes a compreendam. Como disse J. Stafford Wright, o
princípio implica em três coisas:

 A Escritura é clara o suficiente para que seja vivenciada por pessoas simples;
 A Escritura é profunda o suficiente para que se torne mina inesgotável para
leitores da mais alta capacitação intelectual;
 A clareza da Escritura consiste no fato de que Deus quis que toda ela fosse a
revelação de si mesmo ao homem.

A Escritura, em qualquer tradução fiel, é suficientemente clara para mostrar nosso pecado,
os fatos básicos do evangelho, o que devemos fazer se quisermos ser parte da família de Deus e
como viver para Cristo. Isso não significa, porém, que com a constatação (e compreensão) dessas
verdades tenhamos exaurido o ensinamento da Palavra. Também não quer dizer que a solução de
toda a questão complexa referente à Escritura ou à vida seja simples, muito menos simplista. O
que se pretende é assegurar que, a despeito das dificuldades que encontramos nas Escrituras, seu
ensinamento é mais do que suficientemente claro para manter bem nutridos os fiéis.
Uma história atribuída a Dwight L. Moody diz que ele foi abordado certa vez por uma
senhora que lhe perguntou visivelmente decepcionada:

“– Senhor Moody, o que devo fazer em relação às coisas difíceis da Bíblia que não entendo?
– A Senhora já comeu frango alguma vez na vida? – respondeu Moody.
Atônita com a indagação aparentemente disparada, a mulher respondeu hesitante:
– Sim.
– E o que a senhora fez com os ossos? – perguntou-lhe Moody.
– Coloquei-os de lado – disse ela.
– Então faça o mesmo o mesmo com os versículos difíceis – advertiu Moody.
– Há muita comida mais do que suficiente a ser digerida no restante que pode ser
compreendido.”

“Nisso se resume o princípio da clareza.”

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3.4 Necessidade das Escrituras

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. No entanto Pilatos, num incrédulo


registro, perguntou em tom de quem pretendia crer que ninguém nunca pudesse responder
afirmativamente a essa pergunta.
A Bíblia, neste e em tantos os textos, esclarece: “as Sagradas Escrituras podem fazer-te
sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus”. (2 Tm. 3.15). O homem precisa de uma
revelação.

 Essa revelação é desejável. A sabedoria de Deus, um de seus perfeitos atributos


nos leva à certeza de que Ele criou o universo e o homem com um objetivo. Mas,
que objetivo seria esse O homem não consegue descobrir esse propósito através de
elaborados estudos mentais. A palavra chave é Revelação.

 A revelação é de se esperar. Raciocinemos: se Deus é bom, é natural crermos que


ele se revele pessoalmente às criaturas. Podemos reconhecer através da natureza.
através de exercícios mentais diversas manifestações de Deus. Não podemos crer
que um pai se oculte para comunicar com ele. Criando o homem à sua própria
imagem, é absurdo pensar que o Criador permanecesse oculto à criatura. A idéia de
um deus misterioso só encontra eco no paganismo.

 Revelação divina em forma escrita. A forma escrita é a mais razoável que existe
para preservação documental. Todas as outras estão sujeitas a rápida corrupção,
especialmente a tradição oral e a memória humana. É razoável concluir que Deus
mesmo inspiraria os portadores de sua revelação a registrarem-na em forma escrita.

3.5 Suficiência das Escrituras

Podemos definir assim suficiência das Escrituras: dizer que as Escrituras são suficientes
significa dizer que a Bíblia contém todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em
cada estágio da história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que precisamos
para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele obedecer.
Podemos encontrar tudo o que Deus disse sobre temas específicos e também respostas às
nossas perguntas
Logicamente, temos consciência de que jamais obedeceremos perfeitamente a todas as
palavras das Escrituras nesta vida (ver Tg 3.2; 1Jo 1.8-10). Portanto, de início pode não parecer
muito significativo dizer que tudo o que temos de fazer é o que Deus nos ordena na Bíblia, pois de
qualquer modo jamais seremos capazes de obedecer-lhe plenamente nesta vida.

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3.5.1 Aplicações práticas da suficiência das Escrituras

A doutrina da suficiência da Escrituras tem várias aplicações práticas na vida cristã. A


seguinte lista se pretende útil, mas não exaustiva:

 A suficiência das Escrituras deve-nos incentivar

Ao tentar descobrir aquilo que Deus quer que pensemos (sobre uma questão
doutrinária específica) e façamos (numa dada situação). Devemos nos convencer de que
tudo o que Deus quer nos dizer sobre essa questão se encontra nas Escrituras. Isso não
significa que a Bíblia responde a todas as dúvidas que possamos conceber, pois “as
coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus” (Dt 29.29).

 A suficiência das Escrituras nos lembra de que não devemos acrescentar nada à
Bíblia nem equiparar algum outro escrito à Bíblia.

Esse princípio é violado por quase todas as seitas. Os mórmons, por exemplo,
afirmam crer na Bíblia, mas também reclamam autoridade divina para O Livro de
Mórmon. Os seguidores da Ciência Cristã, igualmente, afirmam crer na Bíblia, mas na
prática equiparam às Escrituras o livro Science and Health With a Key to the Scriptures
[Ciência e saúde com uma chave para as Escrituras], de Mary Baker Eddy, ou o colocam
até acima da Bíblia em termos de autoridade. Como isso viola a ordem divina de nada
acrescentar às suas palavras, não devemos pensar que encontraremos nessas obras
mais palavras de Deus para nós.

 A suficiência das Escrituras também nos diz que Deus não exige que creiamos em
nada sobre si mesmo ou sobre sua obra redentora que não se encontre na Bíblia.

Entre os escritos do tempo da igreja primitiva acham-se algumas coleções de


supostos dizeres de Jesus não preservados nos evangelhos. É provável que pelo menos
alguns dos “dizeres de Jesus” encontrados nesses escritos sejam registros mais ou
menos precisos de coisas que Jesus de fato falou (embora hoje nos seja impossível
determinar com um grau elevado de probabilidade quais são esses dizeres).

 A suficiência das Escrituras nos mostra que nenhuma revelação moderna de Deus
deve ser equiparada à Bíblia no tocante à autoridade.

Em vários momentos ao longo da história, e especialmente no moderno movimento


carismático, muitas pessoas já afirmaram que Deus transmitiu revelações por meio
delas para benefício da igreja. Seja como for que avaliemos essas alegações, precisamos
tomar o cuidado de jamais permitir (na teoria ou na prática) a equiparação dessas
revelações às Escrituras.

 A suficiência das Escrituras também nos diz que Deus nada exige de nós que não
esteja determinado explícita ou implicitamente nas Escrituras.

Isso nos lembra que nossa busca da vontade de Deus deve-se concentrar nas
Escrituras, ou seja, não devemos buscar orientação pelas orações que peçam alteração
das circunstâncias ou dos sentimentos, ou ainda orientação direta do Espírito Santo fora
das Escrituras.

13
AULA 3 – 17.03.2012

Bibliologia
4. Cânon da Bíblia

A palavra "cânon", expressão latina, deriva-se do termo grego [kanõn], que significa
literalmente "vara reta de medir" ou "régua de carpinteiro". Em outras palavras, este termo denota
um padrão de medida excelente e rigoroso.
Aplicado às Escrituras o Cânon significa aquilo que serve de norma, regra de fé e prática.
Deste modo, o Cânon Sagrado é uma coleção de livros que foram aceitos por sua autenticidade e
autoridade divinas. Isto significa que os livros que hoje formam a Bíblia satisfizeram o padrão, ou
seja, foram dignos de serem aceitos e incluídos.
Os livros da Bíblia são denominados canônicos para não serem confundidos com os
apócrifos, escritos não inspirados por Deus.

Gálatas 6.16 – “E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra
(kanon), paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.”

O uso mais antigo da expressão “cânon” carrega o sentido de um grupo de livros que
funcionam como uma regra a fé e a vida. Foi no Concílio de Laodicéia em 363 d.C. (Herzog &
Schaff, 2010). Naquele documento, lê-se o seguinte:
“Nenhum salmo de autoria privada pode ser lido nas igrejas, nem livros não canônicos, mas
apenas os livros canônicos do Antigo e Novo Testamentos”.4

4.1 - O cânon do antigo testamento

a) A forma do cânon judaico

O cânon hebraico tradicionalmente tem 24 livros, que incluem todos os nossos 39 e não
mais, e estes são divididos em três partes: Lei, Profetas e Escritos (Tanach: Torá, Nebiim,
Chetuvim).

Torá Profetas Escritos

• Gênesis • Josué • Salmos


• Êxodo • Juízes • Jó
• Levítico • Samuel (1/2) • Provérbios
• Números • Reis (1/2) • Rute
• Deuteronômio • Isaías • Cântico dos Cânticos
• Jeremias • Eclesiastes
• Ezequiel • Lamentações
• Os Profetas Menores • Ester
(= um livro: Oseias, • Daniel
Joel, Amós, Obadias, • Esdras e Neemias (=
Jonas, Miquéias, um livro)
Naum, Habacuque,
• Crônicas (1/2)
Sofonias, Ageu,
Zacarias, Malaquias)

4
Herzog, J. J., & Schaff, P. (2010). The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge I. Nabu Press.

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Bibliologia
Assim, o cânon dos judeus começou com Gênesis e termina com 2 Crônicas, e não (como o
que temos hoje), com Malaquias. Nossa ordem segue a tradução grega do Antigo Testamento
chamada Septuaginta, mas as primeiras testemunhas cristãs, bem como Josefo e Philo (que usou a
LXX, mas não conferiu autoridade aos Apócrifos) mostram que os livros apócrifos incluídos na LXX
não foram contados como canônicos
“Desde Artaxerxes (c. 435 a.C.) até os nossos dias foi escrita uma história completa, mas
não foi julgada digna de crédito igual ao dos registros mais antigos, devido à falta de sucessão
exata dos profetas”. (Flávio Josefo historiador judeu).5
Paulo assumiu a legitimidade das “Escrituras” que estavam sendo ensinadas às crianças
judias. ( 2Tm 3.14-15)
Não há registro de qualquer disputa entre Jesus e os líderes judeus de sua época sobre qual
seria a extensão das Escrituras. Ele parecia pensar que a Bíblia deles era a sua Bíblia, e fez
afirmações notáveis sobre a sua autoridade (”A Escritura não pode falhar”, João 10.35).
A divisão em três partes que os judeus fizeram do Antigo Testamento foi assumida por
Jesus. (Lc 24.44)
A ordem judaica do cânon fechado é assumida por Jesus:
“Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, e a
alguns deles matarão e a outros perseguirão, para que desta geração se peçam contas do sangue
dos profetas, derramado desde a fundação do mundo; desde o sangue de Abel até ao de Zacarias,
que foi assassinado entre o altar e a casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta
geração.” (Lc 11.49-51)
Mas, cronologicamente o último mártir do Antigo Testamento foi Urias, o filho de Semaías,
cuja morte é descrita em Jeremias 26.20-23. Ele morreu durante o reinado de Jeoaquim, que
reinou de 609-598 a.C.
No entanto, em 2 Crônicas, o último livro do cânon judaico do AT, fala que houve um
Zacarias que foi morto no pátio do templo. (2Cr 24.20-21). Este é um forte indício de que Jesus
estava familiarizado com o cânon judaico do AT, que inclui os livros que temos hoje.

b) Classificação dos escritos


•aceitos por todos sem questionamentos (34 dos 39, excetuados Cantares, Eclesiastes,
Ester, Ezequiel e Provérbios)
homologoumena
•rejeitados por todos: documentos judaicos que circulavam entre a antiga
comunidade judaica e eram dotados de carga fantasiosa e de tradição religiosa. São
pseudepígrafos 17 livros escritos entre 200 a.C. e 200 a.D.

•questionado por alguns, tendo sido objeto de controvérsia entre os rabis, mas que,
por fim, foram aceitos. São eles: Cantares (por suposta sensualidade), Eclesiastes (por
antilegomena suposta carga cética), Ester (pela ausência do nome de Deus), Ezequiel (alguns o
julgavam contrário a trechos da lei mosaica e com tendências gnósticas) e provérbios
(por aparente contradição e incoerência entre eles).

•aceitos por alguns: mais precisamente pelos católicos romanos.

apócrifos

5
Douglas, J. D. (2006). O Novo Dicionário da Bíblia. Vida Nova.

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Bibliologia
c) Apócrifos do Antigo Testamento

De acordo com a contagem feita por Roger Nicole, mais de 295 vezes o Novo Testamento
cita várias partes do Antigo Testamento como divinamente autorizada, mas não cita nenhuma vez
os livros apócrifos ou quaisquer outros escritos como tendo autoridade divina.6
Judas 14-15 faz uma citação de 1 Enoque 60.8 e 1.9, e Paulo cita autores pagãos em Atos
17.28 e Tito 1.12, mas estas citações não são tidas como Escritura nem autorizadas por causa de
suas fontes. Elas são mais para propósito de ilustração que de prova. Deve-se observar também
que nem 1 Enoque nem os autores citados por Paulo fazem parte dos escritos apócrifos. Nenhum
livro apócrifo, portanto, é mencionado no NT.
É certo que alguns livros do AT também não são citados no NT (por exemplo: Obadias).
Porém, a mensagem destes livros não contradiz a mensagem do NT em nenhum momento
(Obadias, por exemplo, narra como o orgulho precede o juízo e como o Senhor exalta o humilde;
Mt 5.3; Lc 1.51-52).
Já os livros apócrifos apresentam várias contradições em relação à mensagem do NT:

• justificam a falsidade, a fraude, a mentira, e fazem


Judite e Tobias com que a salvação dependa de obras meritórias.

Eclesiástico •uma moralidade baseada em conveniências. Ensina que


dar esmolas propicia expiação pelo pecado (3.30].

Sabedoria de •ensina a criação do mundo a partir de matéria preexistente [cf. Sabedoria 11.17;
compare agora com Hb 11.3, onde aprendemos que Deus cria o universo a partir
do nada (creatio ex nihilo), ou seja, Deus não cria a partir de algo físico

Salomão preexistente, Deus cria, como nos coloca o escritor de Hebreus, a partir de algo
“que não aparece”, o seu próprio poder].

Baruque •diz que Deus ouve as orações dos mortos (3.4 confrontar
com Hb 9.27)

Os livros apócrifos também apresentam erros históricos, cronológicos e geográficos (como é


o caso de Judite, Tobias e 1 Macabeus).
O testemunho da Igreja primitiva e dos Pais da Igreja afirma o cânon judaico do AT
Melito, bispo de Sardes, cerca de 170 d.C.:
“Quando eu vim para o leste e atingi o lugar onde estas coisas eram pregadas e vividas, e
aprendi com precisão os livros do Antigo Testamento, estabeleci os fatos e os enviei a vocês. Estes
são os seus nomes: cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio;
Josué, filho de Num, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos, dois livros das Crônicas, os Salmos de
Davi, Provérbios de Salomão contendo sua sabedoria, Eclesiastes, o Cântico dos Cânticos, Jó, os
profetas Isaías, Jeremias, os Doze em um único livro, Daniel, Ezequiel e Esdras.” 7

6
Henry, C. F. (1959). New Testament Use of the Old Testament. Tyndale Press
7
Citado em Cesareia, E. D. (1997). História Eclesiástica. Cpad.

16
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Bibliologia
Nenhum livro apócrifo é mencionado, e o livro que falta de nosso cânon do AT é Ester, que
por algum tempo foi controverso e pode ter sido suprimido por motivos políticos, porque falava de
um levante judaico.
Esses escritos apócrifos não se encontram na Bíblia Hebraica, mas foram incluídos na
Septuaginta (a tradução do AT para o grego, usada por muitos judeus de fala grega na época de
Cristo).
O fato de que estes livros foram incluídos por Jerônimo em sua tradução da Bíblia, a Vulgata
Latina (completa em 404 d.C.), serviu de apoio à sua aceitação, embora o próprio Jerônimo tenha
dito que eles não eram “livros do Cânon”, mas apenas “Livros da Igreja”, úteis e proveitosos para
os crentes em pesquisas históricas, dados linguísticos, e para leituras inspirativas, já que estes
contêm numerosas histórias a respeito da coragem e da fé de muitos judeus durante o período
posterior ao encerramento do AT.
Grande parte dos Pais da Igreja (teólogos que viveram até poucos séculos depois da era
apostólica e da Igreja Primitiva) confirma a maioria dos livros do nosso presente cânon do AT, mas
nenhum dos apócrifos é declarado canônico. Entretanto, outros líderes da igreja antiga citam vários
desses livros como escrituras, porém, vale a pena ressaltar que nenhum dos Pais da Igreja latinos
ou gregos que citaram os apócrifos como escrituras conhecia o Hebraico (lembrem-se de que a
Bíblia Hebraica não continha os apócrifos). Portanto, tinham acesso somente à Septuaginta e à
Vulgata Latina, ambas, como mencionamos acima, continham os apócrifos.
Não foi senão em 1546, no Concílio de Trento, que a Igreja Católica Romana (ICR)
declarou oficialmente que os apócrifos fazem parte do cânon. É significativo lembrar que o Concílio
de Trento foi a resposta da ICR aos ensinos de Martinho Lutero e da Reforma Protestante que se
espalhavam rapidamente, e os livros apócrifos contêm apoio para o ensino católico de oração pelos
mortos e de justificação pela fé com obras, não pela fé somente.
Ao declarar que os apócrifos são parte do cânon, os católicos romanos estariam alegando
que a igreja tem autoridade para designar uma obra literária como “Escritura”, enquanto os
protestantes têm sustentado que a igreja não pode levar nada a se tornar Escritura, mas apenas
reconhecer o que Deus já determinou que fosse escrito como palavra dele próprio.
Deve-se observar que os católicos romanos usam o termo deuterocanônico em vez de
apócrifo para se referir a estes livros. Entendem que isso significa “acrescentado mais tarde ao
cânon” (o prefixo deutero significa “segundo”).
Para concluir, com respeito ao cânon do AT os cristãos hoje não precisam ter nenhum receio
de que algo necessário tenha sido deixado do lado de fora ou que alguma coisa que não a Palavra
de Deus tenha sido incluída no cânon. Jeremias 36.1-4 e Jeremias 36.27-32 nos dão uma
demonstração de como Deus e os profetas foram cuidadosos em manter cada palavra do cânon do
AT.

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Bibliologia

4.2 – O cânon do Novo Testamento

O Novo Testamento assume a existência de Escrituras canônicas. O conceito não era


estranho para eles, nem foi adicionado depois. Veja em (Lc 24.27;Jo 5.39; At 17.2; Rm 15.4).
Para a igreja começar a governar a sua vida e doutrina, pautada em documento autorizado,
além do cânon das Escrituras (Antigo Testamento), algo parecido em autoridade e escopo seria
necessário, ou seja, um cânon complementar.
A Igreja Primitiva reconheceu que Jesus tinha autoridade igual e superior às Escrituras do
Antigo Testamento. Veja em (Mt 7.29; Mt 5.38-39;Mc 13.31; Mt 12.41-42; Jo 14.6; Hb 1.1-2).
Teologicamente, um cânon fechado do Novo Testamento é o que esperaríamos de acordo
com o que Deus tem inspirado e preservado por nós no Antigo Testamento.

“Se aceitamos o testemunho [de Jesus] sobre a autoridade dada por Deus ao Antigo
Testamento, parece intrinsecamente improvável que o evento mais estupendo da história da
humanidade – vida, morte e ressurreição do SENHOR encarnado... teria sido deixado por Deus,
que revelou tudo com antecedência, sem qualquer registro oficial ou uma explicação para as
gerações futuras.” (Anderson, 1981)8

O próprio Jesus apontou nessa direção ao instigar a Igreja Primitiva a esperar que ele não
só planejara um cânon contendo ensino sobre si mesmo e sua palavra, mas que ele também o
daria através de apóstolos autorizados e inspirados. Veja em (Lc 6.13-16; At 1.26; Jo 14.24-26; Jo
16.12-14)
A Igreja Primitiva viu o ensinamento que emergiu a partir de Jesus e dos apóstolos como
compreendendo um corpo completo de verdade sobre a fé.
Paulo viu o ensino apostólico como a fundação da igreja (= Canon) e viu o seu próprio
ensino como a expressão exata das palavras e dos mandamentos do SENHOR. (Ef 2.19-20; 2 Co
13.3; 1 Co 14.37; 1 Co 2.12-13).
Pedro viu os escritos de Paulo como parte de um cânon ampliado das Escrituras, ao lado das
Escrituras do Antigo Testamento. (2 Pe 3.15-16).
Com esta trajetória em direção à construção de um novo cânon que daria o registro
autorizado da vida e dos ensinamentos de Jesus e os ensinamentos fundamentais de seus porta-
vozes oficiais, o que restou para a Igreja Primitiva fazer foi discernir quais escritos eram o
cumprimento da promessa de Jesus aos apóstolos. A ascensão de doutrinas heréticas e o uso de
livros distorcidos (Marcião, 140 d.C.), estimulou o processo de canonização. Mas como a igreja
faz isto?

8
Anderson, N. (1981). God’s Word for God’s World. Hodder and Stoughton.

18
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Bibliologia

a) Critérios de seleção

O critério principal foi a apostolicidade. Não apenas: “O livro foi escrito por um apóstolo?”,
mas também: “O livro foi escrito na companhia de um apóstolo, supostamente com a sua ajuda e
apoio?”.

• Apóstolo.
Mateus
• Intérprete de Pedro e assistente.
Marcos
• Colaborador próximo e parceiro de Paulo.
Lucas
• Apóstolo.
13 Cartas de Paulo
• A partir do Círculo Paulino (Hb 13.22-24).
Hebreus
• Irmão de Jesus e chamado apóstolo (Gl 1.19).
Tiago
• Apóstolo.
1e 2 Pedro
• Apóstolo.
1,2,3 João
• Irmão de Tiago.
Judas
• por João, o Apóstolo.
Apocalipse
Os livros mais controversos, que levaram mais tempo para serem confirmados por toda a
igreja, foram: Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Judas. Mas no final a Igreja discerniu sua
harmonia com os outros, sua antiguidade e apostolicidade essencial.
A lista dos livros, à parte dos livros controversos, foi conhecida, o mais tardar, no final do
século segundo (por Irineu de Lion, cerca de 180 d.C.).
A primeira lista com todos os 27 livros está na Trigésima Nona Carta Pascal de Atanásio,
bispo de Alexandria em 367 d.C. Esta lista foi afirmada pelo Sínodo de Hipona em 393 d.C.

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Bibliologia
b) Classificação dos escritos

• a maioria. As omissões encontradas em alguns


manuscritos antigos devem-se ao
desconhecimento de algumas cartas pelas igrejas
do oriente ou ocidente e não por uma discordância
homologoumena acerca de sua canonicidade.

• surgiram vários. Produzidos pelos


gnósticos, docetas ou monofisistas.
Muitos carregam erroneamente o
pseudepígrafos nome de alguns apóstolos. Mas, em
absoluto foram de sua autoria, pois
produzidos posteriormente.

•conforme o historiador Eusébio, os seguintes livros só


conseguiram o reconhecimento universal por volta do Séc. IV.
São eles: Hebreus (dúvida sobre a autoria), Tiago (dúvida
sobre a autoria e autenticidade e aparente conflito com as
antilegomena cartas paulinas), 2 Pedro (dúvida sobre autenticidade, por
diferença de estilo com 1 Pedro), 2 e 3 João (aparente
anonimato), Judas (por fazer referência ao pseudepígrafo de
Enoque – Jd 14:15) e Apocalipse (confiabilidade). Foram,
contudo, aceitos desde o princípio pela maioria das
comunidades cristãs primitivas.

•foram aceitos por alguns em locais e tempos limitados.


São eles: Epístola pseudo-Barnabé, Epístola aos coríntios
de Clemente de Roma, Homilia antiga (2ª Carta de
Clemente), O pastor, de Hermas, O didaquê ou Ensino
apócrifos dos doze Apóstolos, Apocalipse de Pedro, Atos de Paulo
e Tecla, Carta aos Laodicenses, Evangelho segundo os
hebreus, Epístola de policarpo aos filipenses, Sete
epístolas de Inácio.

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Bibliologia

5. Manuscritos da Bíblia

A história da Bíblia e como chegou até nós, é encontrada em seus manuscritos. Manuscritos são
rolos ou livros da antiga literatura, escritos à mão. O texto da Bíblia foi preservado e transmitido
mediante os seus manuscritos. Nos tratados sobre a Bíblia, a palavra manuscritos é sempre
indicada pela abreviatura MS, no plural MSS ou MSs. Há, em nossos dias, cerca de 5.000 MSS da
Bíblia, preparados entre os séculos II e XV.

a) Material gráfico dos MSS bíblicos.

Há dois materiais principais: papiro e pergaminho. O linho era usado também, mas não tanto
como os dois citados. O centro da indústria de papiro era o Egito, onde teve início o seu emprego,
cerca de 3.000 a.C.
Outros materiais foram usados para a escrita nos tempos antigos, mas de menor importância,
como:
• Linho. Tem sido encontrado nas descobertas arqueológicas.
• Ostraco, fragmento de cerâmica. É mencionado em Jó 38.14; Ezequiel 4.1.
• Madeira.
• Pedra (Êx 24.12; Js 8.30-32).
• Tábuas recobertas de cera (Is 8.1; Lc 1.63).

A tinta usada pelos escribas era uma mistura de carvão em pó com uma substância
líquida semelhante a goma arábica. (Ver Jeremias 36.18; Ezequiel 9.2; 2 Coríntios 3.3; 2 João 12;
3 João 13.)

b) O formato dos MSS

Quanto ao formato, os MSS podem ser códices ou rolos.


Códice é um MS em formato de livro, feito de pergaminho. As folhas têm normalmente 65
cm de altura por 55 de largura. Este tipo de MS começou a ser usado no Século II. O rolo podia ser
de papiro ou pergaminho. Era preso a dois cabos de madeira, para facilitar o manuseio durante a
leitura. Era enrolado da direita para a esquerda. Sua extensão dependia da escrita a ser feita.
Portanto, antigamente não era fácil conduzir pessoalmente os 66 livros como fazemos hoje.

c) A caligrafia dos MSS

Há dois tipos de caligrafia ou forma gráfica nos MSS bíblicos, o que os divide em unciais e
cursivos. Uncial é o MS de letras maiúsculas e sem separação entre as palavras. Cursivo é o de
letras minúsculas, tendo espaço entre as palavras. Tal diferença na forma gráfica deu-se no século
X. Palimpsesto é um MS reescrito, isto é, a escrita primitiva era raspada e o novo texto escrito por
cima. Isso ocorria devido ao alto preço do pergaminho.
Inutilizava-se assim uma escrita para se usar o mesmo material. Os manuscritos originais
também não tinham sinais de pontuação. Estes foram introduzidos na arte de escrever em época
recente. É claro, pois, que a pontuação moderna não é inspirada, e por isso não dá, às vezes,
sentido às palavras do original.

d) MSS originais da Bíblia.

MSS originais saídos das mãos dos escritores não há nenhum conhecido. É provável que se
houvesse algum, os homens o adorassem mais do que ao seu divino Autor.

A falta de MSS originais provém do seguinte:

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Bibliologia
1) O costume dos judeus de enterrar todos os MSS estragados pelo uso ou qualquer outra
coisa; isto para evitar mutilação ou interpolação espúria.
2) Os reis idolatras e ímpios de Israel podem ter destruído muitos, ou contribuído para isso.
(Veja o episódio de Jeremias 36.20-26.)
3) Antíoco Epifânio, rei da Síria (175-164 a.C), dominou sobre a Palestina durante seu
reinado. Foi extremamente cruel, sádico; tinha prazer em aplicar torturas. Decidiu exterminar a
religião judaica. Assolou Jerusalém em 168, profanou o templo e destruiu todas as cópias que
achou das Sagradas Escrituras.
4) Nos dias do imperador Diocleciano (284-305 d.C), os perseguidores dos cristãos
destruíram quantas cópias acharam das Escrituras. Durante dez anos, Diocleciano mandou
vasculhar o Império para destruir todos os escritos sagrados. Ele chegou a julgar que tivesse
destruído tudo, pois mandou cunhar uma moeda comemorando tal "vitória".

e) MSS do AT em hebraico.

Até a descoberta dos MSS do mar Morto, em 1947, os mais antigos MSS do AT hebraico
eram:

• Códice dos primeiros e últimos profetas. Está na Sinagoga Caraíta, do Cairo. Foi
escrito em Tiberíades, em 895 d.C, por Moses Ben Asher, erudito judeu de renome. (Caraítas são
os judeus que rejeitam a doutrina ortodoxa dos rabinos e reclamam liberdade na interpretação da
Bíblia.) Contém os primeiros profetas, segundo a organização do cânon hebraico do AT: Josué,
Juizes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis. Contém também os últimos profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel, e
os Doze.
• Códice do Pentateuco. Escrito cerca de 900 d.C, está no Museu Britânico, sob número
4445. Foi escrito por um filho de Moses Ben Asher: Arão.
• Códice Petrogradiano. Escrito em 916 d.C. Contém apenas os últimos Profetas. Veio da
Criméia. Está na biblioteca de Leningrado (a antiga Petrogrado), donde o nome.
• Códice Aleppo. Contém todo o texto do Antigo Testamento. Copiado por Shelomo Ben
Bayaa. Seus sinais vocálicos foram colocados por Moses Ben Asher, cerca de 930 d.C.
Foi contrabandeado em anos recentes da Síria para Israel. Será utilizado como base da
nova Bíblia Hebraica, em preparo pela Universidade Hebraica, de Jerusalém.
• Códice 19 A. Está na biblioteca de Leningrado (Rússia). Data: 1008 d.C. O original foi
escrito por Moses Ben Asher, cerca de 1000 d.C. Foi copiado no ano 1008, no Cairo, por Samuel
Ben Jacob. Quando a Rússia o adquiriu, o comunismo ainda não dominava ali. Este é o mais antigo
MS completo do AT em hebraico. (Isto é, mais antigo datado.)
• O rolo de Isaías, mar Morto, 1947. Nos rolos descobertos, nas proximidades do mar
Morto, em 1947, foi encontrado um MS de Isaías, em hebraico, do ano 100 a.C, isto é, 1.000 anos
mais velho que o mais antigo MS até então existente. Uma vez que o texto de tal rolo concorda
com o das nossas Bíblias atuais, temos nisso uma prova singular da autenticidade das Escrituras,
considerando-se que esse rolo de Isaías tem agora mais de 2.000 anos de existência!

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f) MSS do Antigo e Novo Testamento em grego.

É digno de nota que os MSS mais antigos da Bíblia estão em grego. Esses manuscritos não
são originais, são cópias. Os originais saídos das mãos dos escritores, perderam-se. Pela ordem
cronológica, vamos citar os mais antigos MSS existentes da Bíblia em grego:
• Códice Vaticano ou "B". Pertence à biblioteca do Vaticano. Data: 325 d.C. O AT é cópia
da Septuaginta. Contém os apócrifos em separado. Essa biblioteca foi fundada em 1488, e no seu
primeiro catálogo, publicado em 1475, aparece esse MS. Ê uncial.
• O Códice Sinaítico ou "Álefe". Pertence ao Museu Britânico. Data: 340 d.C. Foi
descoberto pelo erudito cristão Tischendorf, em 1844, no Mosteiro de Santa Catarina, no sopé do
Monte Sinai. A história de sua aquisição é muito impressionante. Foi o Czar da Rússia que o
adquiriu, em 1899. O Governo inglês comprou-o dos russos, em 1933, por 100.000 libras
esterlinas, equivalentes então a 510.000 dólares. Um dos livros mais caros do mundo. É uncial.
• Códice Alexandrino ou "A". Pertence ao Museu Britânico. Data: 425 d.C. Tem este
nome porque foi escrito em Alexandria e também pertenceu à sua biblioteca. Em 1621, foi levado a
Constantinopla por Cirilo Lúcar, patriarca de Alexandria. Em 1624, Cirilo presenteou-o ao rei Tiago
I da Inglaterra, o mesmo rei que autorizou a famosa versão inglesa de 1611. Em 1757, o rei Jorge
II doou a biblioteca da família real à nação, e assim o famoso MS chegou ao Museu Britânico. É um
MS uncial.
• O Códice Efráemi ou "C". Pertence ao Museu do Louvre, Paris. Data: 345 d.C. É um
palimpsesto. Ao ser restaurada a primeira escrita, constatou-se serem ambos os Testamentos
incompletos. O doutor Tischendorf publicou-o em 1845. É bilíngüe: grego e latim.
• Códice Bezae ou "D". Pertence à biblioteca da Universidade de Cambridge, Inglaterra.
Data: Século VI. Contém os Evangelhos, Atos e parte das Epístolas.
• O Códice Claromontanus ou "D2". Pertence ao Museu do Louvre, Paris. Data: Século
VI. Contém as epístolas paulinas. Estes três últimos são também unciais.

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6. Traduções da Bíblia

Era preciso a tradução da Bíblia para dar cumprimento às palavras do Senhor Jesus após
ressuscitar: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Mc 16.15). Ora, o mundo
está dividido em nações, tribos e povos, cada qual com suas línguas. Hoje, quando vemos as
Escrituras traduzidas em mais de 1.700 línguas, sabemos que Aquele que comissionou os
discípulos para tão grande obra, proveria também os meios para a sua realização.

a) Versões semíticas.

- O Pentateuco Samaritano.
- Os Targuns.

b) Versões gregas.

- A Septuaginta.

É comumente designada por "LXX". O nome vem do latim "Septuaginta", que quer
dizer "70". Aristeas, escritor da corte de Ptolomeu Filadelfo, que reinou de 285-246 a.C,
escrevendo a seu irmão Filócrates, conta que o referido monarca, por proposta de seu
bibliotecário, Demétrio de Falero, solicitou ao sumo sacerdote judaico, Eleazar, que lhe
enviasse doutores versados nas Sagradas Escrituras para preparar-lhe uma versão delas,
em grego. Ele muito ouvia falar das Escrituras e queria uma versão delas, para enriquecer
sua vasta biblioteca, em Alexandria. O sumo sacerdote escolheu 72 eruditos (6 de cada
tribo) e enviou-os a Alexandria, os quais completaram a versão em 72 dias. Josefo registra
o fato com detalhes que o espaço não nos permite registrar. De 72 derivou-se o nome
"Septuaginta."

- A versão de Áqüila

- A versão de Teodocião

- A versão de Símaco

c) Versões siríacas.

A partir de agora, entra nas versões o NT. Poucos anos após a fundação da Igreja havia
igrejas espalhadas em regiões remotas como Ásia Menor, Roma, Antioquia, etc, isso devido
ao zelo inflamado pelo Espírito Santo nos crentes de então. Eles percorriam as estradas
acima e abaixo contando a história de Jesus. A disseminação das Escrituras era por meio de
cópias manuscritas. Os apóstolos de Jesus ainda viviam quando as primeiras versões
siríacas foram feitas.

- A Peshito. Significa simples. Foi feita diretamente do hebraico, pela Igreja Siríaca
de Edessa, no Nordeste da Mesopotâmia, no século II.

- A versão Filoxênia. Traduzida por Filoxeno, em 508, bispo de Hierápolis na Ásia


Menor. Compreende só o Novo Testamento.

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d) Versões latinas.

O latim era a língua falada pelos romanos. Foi língua importantíssima, especialmente
considerando-se que o último império mundial foi o romano. O latim foi implantado à
medida que o império romano realizava suas conquistas. João, em seu Evangelho, diz-nos
que o título posto sobre a cruz de Jesus estava escrito também em latim (Jo 19.20). Foram
as seguintes as versões latinas:

- A Antiga Versão Latina. É também chamada Versão Africana do Norte.


- A ítala. Também conhecida por Vetus ítala (em latim).
- A Revisão de Jerônimo. É uma revisão da Antiga Versão Latina, feita por Jerônimo em
382-387 d.C.
- A Vulgata. É uma nova versão da Bíblia por Jerônimo. O AT foi traduzido diretamente do
hebraico, e do NT revisto. Em assuntos bíblicos, foi Jerônimo o homem mais sábio do seu
tempo. Era também dotado de grande piedade e valor moral. Para realizar esta obra, ele
instalou-se num mosteiro, em Belém. Baseou-se na Héxapla de Orígenes. A versão foi feita
em 387-405 d.C. Tinha Jerônimo 60 anos quando iniciou a tarefa. Já antes, em Belém,
fizera a revisão da Antiga Versão Latina.
A Vulgata foi a Bíblia da Igreja do Ocidente na Idade Média. Foi também ela o primeiro livro
impresso após a invenção do prelo, saindo à luz em 1452, em Mogúncia, Alemanha. Devido
à popularidade e difusão que teve, foi, no tempo de Gregório o Grande (604 d.C),
denominada "Vulgata", do latim "vulgos" = povo, isto é, versão do povo, popular, corrente.
Por mil anos a Vulgata foi a Bíblia de quase toda a Europa. Foi ela também a base de
inúmeras traduções para outras línguas. Foi decretada como a Bíblia oficial da Igreja
Romana no Concilio de Trento, em 8 de abril de 1546; decreto este somente cumprido em
1592 com a publicação de nova edição da Vulgata pelo Papa Clemente VIII. Jerônimo
nasceu em 342 e faleceu em Belém, em 420.

e) Outras versões orientais

- As versões egípcias ou cópticas. São 3 as de primeira ordem. Foram feitas até o ano
500 d.C.
- A Etíope, feita em 330, abrangendo ambos os Testamentos, com base na LXX.
- A Gótica, feita em 350, de ambos os Testamentos também, com base na LXX.
- A Armênia, feita no Século V. Base: os LXX.
- A Georgina, feita no Século V. Preparada por meio de cópias da versão Armênia.
- A Eslavônica, feita no Século IX. Base: os LXX

Além destas versões orientais, há ainda as versões árabes, mas, de pouca importância.

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AULA 3 – 17.03.2012

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f) Versões européias

Após um intervalo de 300 anos, começaram no Século XV as traduções nas línguas


da Europa, tais como o francês (1487), o italiano (1432), o alemão (1534), o sueco (1541),
o dinamarquês (1550), o holandês (1560), o espanhol (1602), o finlandês (1642), o
português(1681), etc. Hoje em dia a Bíblia está traduzida não só em todas as principais
línguas da Europa, como também em todas as principais do mundo.
Em muitos dos países acima mencionados, houve tradução das Escrituras em datas
bem anteriores, mas em porções e com diminuta circulação. A base da maioria das
traduções que acabamos de mencionar foi a Vulgata.
Das versões europeias, vamos destacar apenas três, devido à sua importância, que
são:

g) Versões inglesas: A Versão Autorizada ou Versão do Rei Tiago. A Versão Revisada


(English Reuised Version). A Versão Revisada Americana (American Standard Version). A
Versão Padrão Revisada (Revised Standard Version).

h) Versão alemã. Lutero preparou-a traduzindo dos originais. Concluiu-a em 1534. Houve
antes outra versão derivada da Vulgata, de tradução literal. Lutero executou o trabalho
em plena Reforma, publicando a versão em 1522. Esta Bíblia foi de inestimável valor
para o Movimento da Reforma. Foi tão bem feita que serviu de base para o alemão
literário. Na Alemanha, a Bíblia é considerada como o começo da literatura alemã.

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i) Versões em português.

- A Versão de Almeida

João Ferreira d'Almeida foi ministro do Evangelho da Igreja Reformada Holandesa, em


Batávia, então capital da ilha de Java, na Oceania. (Batávia é agora a moderna Djakarta, capital da
Indonésia) Java era então domínio holandês, conquistada aos portugueses.
Almeida traduziu primeiro o Novo Testamento, terminando-o em 1670; em 1681 foi ele
impresso em Amsterdam, Holanda, isto é, 100 anos antes da primeira edição católica da Bíblia - a
de Figueiredo, 1781. Almeida traduziu o Antigo Testamento até Ezequiel 48.21, quando então
faleceu em 1691. Missionários seus amigos completaram a tradução, especialmente Jacob
Opden Akker.
Almeida fez sua tradução do grego e hebraico, línguas que estudou após abraçar o
Evangelho. Utilizou também a versão holandesa (de 1637) e a espanhola (de Valera, 1602). Seu
Antigo Testamento foi publicado em 1753, em Amsterdam. A Sociedade Bíblica Britânica e
Estrangeira começou a publicar o texto de Almeida em 1809, publicando a Bíblia completa pela
primeira vez, em 1819.
O texto de Almeida foi revisado em 1894 e 1925. Em 1951, a Imprensa Bíblica Brasileira
(organização batista independente) publicou a "Edição Revista e Corrigida", abreviadamente ARC.
Uma comissão de especialistas brasileiros trabalhando de 1945 a 1955 apresentou
recentemente a "Edição Revista e Atualizada" de Almeida (ARA).

- A Versão de Figueiredo.
- A Tradução Brasileira.
- A Versão de Rhoden
- A Versão de Matos Soares.

Alguns outros informes sobre a Bíblia em português.

• A Bíblia foi impressa a primeira vez no Brasil, em 1944, pela Imprensa Bíblica Brasileira.
• Entre as Bíblias mais populares do mundo está a em português. As outras são: a Vulgata,
a de Lutero, e a Versão Autorizada (inglesa).
• Há no Brasil três entidades evangélicas publicadoras e distribuidoras de Bíblias. A primeira
é a Imprensa Bíblica Brasileira fundada em 1940. A segunda é a Sociedade Bíblica do Brasil
fundada em 10-06-1948, resultante da fusão das agências da SBA e SBBE que funcionavam
no Brasil. A terceira é a Sociedade Bíblica Trinitariana, com sede em São Paulo.
• A primeira agência distribuidora de Bíblias no Brasil foi a da SBBE, em 1856; a segunda foi
a da SBA, em 1876, ambas na cidade do Rio de Janeiro. Antes disso, vinham Bíblias para o
Brasil através de comandantes de navios, que as entregavam a casas comerciais para
revenda. A mais antiga Sociedade Bíblica do mundo é a SBBE fundada em 1804; a segunda
é a SBA, fundada em 1816.
• Na distribuição de Bíblias em todo o mundo, o Brasil ocupa o segundo lugar.

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AULA 3 – 17.03.2012

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6.1 Tipos de Bíblia

Por que existem diferenças entre algumas Bíblias?

Basicamente possuímos dois tipos de Bíblia:

a) Baseadas no Texto Tradicional ou Texto Bizantino


- Antigo Testamento >> Texto Massorético (hebraico)
- Novo Testamento >> Textus Receptus (TR) (grego)
- Preservado pela cultura Oriental

b) Baseadas no Texto Moderno ou Texto Alexandrino:


- Antigo Testamento >> Septuaginta (grego)
- Novo Testamento >> Texto Crítico (TC) (grego)
- Preservado pela cultura Ocidental

6.1.1 Antigo Testamento / Texto Massorético

- Os Massoretas eram escribas judeus que se dedicaram a preservar e cuidar das


escrituras (Antigo Testamento)
- Substituíram os escribas por volta do ano 500 d.C. até 1.000 d.C..
- No hebraico antigo escrevia-se somente com consoantes, e as vogais eram
somente pronunciadas, isto é, as vogais eram transmitidas através das gerações do povo
judeu oralmente e não de forma escrita.
- Os Massoretas foram os responsáveis pela adição de vogais no texto hebraico
moderno.

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AULA 3 – 17.03.2012

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6.1.2 Antigo Testamento / Septuaginta (Resumo do que falamos anteriormente)

- É o nome de uma tradução do Antigo Testamento para o idioma grego, feita no


século III a.C..
- Foi encomendada por Ptolomeu II, rei do Egito, para ilustrar a recém inaugurada
Biblioteca de Alexandria.
- A tradução ficou conhecida como os Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que
significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos trabalharam nela.
- A Septuaginta foi usada como base para diversas traduções da Bíblia do Ocidente

6.1.3. A Recuperação do Texto Bíblico


·
- Na idade Média, a Igreja Romana só permitia o uso do Latim, e o povo não tinha
acesso à Bíblia nem aos textos em grego.
- A igreja Romana preservou a Bíblia em Latim, por meio da tradução de Jerônimo, a
“Vulgata Latina”.
- No período entre 400 a 1400 d.C a Bíblia oficial do Ocidente era a Vulgata Latina.

6.1.4. Precursores da Reforma que lutaram pela divulgação da Bíblia (1376-1416)

- John Wyclif (traduz a Bíblia para o Inglês)


- Jan Hus (condenado à fogueira por apoiar Wyclif)
- Jerônimo de Praga (condenado à fogueira por apoiar Jan Hus)

6.1.5 O Textus Receptus (Texto Recebido)

- No Império Bizantino (Império Romano do Oriente) a cultura grega foi preservada


nos períodos de 333 d.C a 1453 d.C.
- Os Bizantinos conservaram muitas cópias dos manuscritos do Novo Testamento em
sua língua original. Cerca de 5.000 manuscritos.
- Com a invasão dos Muçulmanos em 1453, e o fim do Império Bizantino, os eruditos
cristãos fugiram para o ocidente levando consigo as cópias dos textos gregos.
- Esse fato reavivou o estudo do grego no Ocidente.
- Após a invenção da prensa móvel por Gutenberg (1454), o Evangelho expandiu
poderosamente.
- Erasmo de Roterdã, um estudioso do grego, preparou um edição do Novo
Testamento tendo como base os melhores manuscritos bizantinos.
- Esse texto foi posteriormente denominado Textus Receptus (Texto Recebido) ou
simplesmente TR.
- O TR foi editado por Erasmo (1516), depois por Estéfano (1546-51), depois por
Beza (1598) e os irmãos Elzevir (1624/1633)
- O Textus Receptus (TR) foi o texto Grego usado na Reforma

a) Bíblias produzidas na Reforma Protestante:


- Bíblia de Lutero – Alemão (1522)
- Reina Valera – Espanhol (1569)
- Rei Tiago (King James) – Inglês (1611)
- Diodati – Italiana (1649)
- João Ferreira de Almeida – Português (1681)

- Muitas Bíblias foram destruídas pela Igreja Romana e muitos crentes foram mortos
por causa das novas traduções da Bíblia.
- William Tyndale foi condenado e morto em 6 de Outubro de 1536 por traduzir a
Bíblia para o inglês.

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AULA 3 – 17.03.2012

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- Por cerca de 400 anos (de 1500 a 1900), o maior avivamento do planeta, o
Protestantismo, usou um mesmo tipo de Bíblia, ou seja, Bíblias baseadas no texto
preservado pelo Oriente

6.1.6 Como surgiu o Texto Crítico

- Cerca de 400 anos após a Reforma Protestante, o pesquisador Tischendorf


descobriu mais dois manuscritos gregos datados do quarto século:
 o Códice Sinaiticus (1844) no convento de Santa Catarina no monte
Sinai. Esses manuscritos estavam numa cesta de lixo prestes a se
tornarem combustível para o fogão do convento.
 o Códice Vaticanus (1866) guardado em uma biblioteca do Vaticano
(onde está até hoje).
- O Vaticano só permitiu que ele consultasse durante 14 dias, 3 horas por dia.

- Em 1882, dois bispos anglicanos, Westcott e Hort, fizeram um trabalho de Crítica


Textual baseando-se principalmente nesses dois manuscritos. A partir daí lançaram uma
versão revisada do texto grego.
- Esse texto passou a ser chamado de Texto Crítico (TC)
- O TC possui 7% de diferença do TR
- O trabalho de Crítica Textual consiste em determinar qual a versão mais provável
do texto original dentre as variantes dos manuscritos disponíveis.
- Porém foi dado um peso maior aos dois manuscritos descobertos (Sinaiticus e
Vaticanus) por serem mais antigos e mais completos. Daí surgiu o termo “melhores
manuscritos”.
- A partir 1882, foram lançadas novas Bíblias no mundo inteiro baseadas no TC
- Só após o ano de 1882, com o trabalho de Westcott e Hort é que houve toda a
influência nas Bíblias atuais.
- Essa diferença de 7%, no geral, não afeta nenhuma doutrina fundamental do
Cristianismo.

6.2 Métodos de Traduções

Temos dois métodos:


- Método por Equivalência Formal
- Método por Equivalência Dinâmica

6.2.1 Método por Equivalência Formal:

Traduz-se palavra por palavra do texto bíblico seguindo a estrutura do grego ou


hebraico, mas respeitando as regras do português. Acrescentam-se palavras em caracteres
itálicos para indicar que uma específica palavra não consta no texto base, mas que precisou
ser adicionada para dar melhor fluência ao texto.

–Ex: Bíblia ACF da SBTB; RC da IBB; RC da SBB

a) Exemplo de tradução por Equivalência Formal

“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas
me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam” (1 Coríntios 10:23-ACF)

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AULA 3 – 17.03.2012

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6.2.2 Método por Equivalência Dinâmica:


Este princípio tenta usar uma tradução que se aproxime do sentido original do texto
usando a fluência da língua para a qual se está traduzindo, sem, contudo seguir a estrutura
do grego ou hebraico.
Ex: NTLH da SBB, NVI da SBI

a) Exemplo de tradução por Equivalência Dinâmica

Alguns dizem assim: “Podemos fazer tudo o que queremos.” Sim, mas nem tudo é
bom.”Podemos fazer tudo o que queremos”, mas nem tudo é útil. (1 Coríntios 10:23-NTLH)

6.2.3 Tradução Formal - Vantagens e desvantagens

- É uma tradução Fiel ao texto base:


 Palavra no grego <->palavra no português

- Passa maior confiança ao leitor


- Possui uma leitura mais difícil, pois exige um nível cultural maior (leitura erudita)
- Possui expressões não tão comuns aos nossos dias:
 “mó de atafona” <-> “pedra de moinho”
 “não se te dá” <-> “não te importas”
 “com razão o sofrereis” <-> “o tolerais facilmente”

6.2.4 Tradução Dinâmica - Vantagens e desvantagens

- É uma tradução mais fácil de entender


- Facilita a leitura para as pessoas mais simples
- A fidelidade da tradução depende da fidelidade do tradutor
- Nem sempre há uma correlação de palavras entre o texto base e o texto traduzido

6.2.5 Bíblias em português

- ACF = Almeida Corrigida Fiel da SBTB


100% TR (tradução formal)

- ARC = Almeida Revista Corrigida da IBB e SBB


98% TR e 2% TC (tradução formal)

- AEC = Almeida Edição Contemporânea da Ed.VIDA


96% TR e 4% TC (tradução mista) - Ex: Bíblia Thompson

- ARA = Almeida Revista e Atualizada da SBB


93% TR e 7% TC (tradução mista)
Usa “[ ]” colchetes para indicar o que fazia parte da edição original de João Ferreira
de Almeida, ou seja, o TR.

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AULA 3 – 17.03.2012

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6.2.6 Bíblias totalmente baseadas no TC e que usam o método de tradução


dinâmica:

- NTLH (Linguagem de Hoje) - SBB


- Bíblia Viva - Editora Vida
- NVI (Nova Versão Internacional) - SBI
- Bíblia Católicas (todas)

6.2.7 Comparando o TR e o TC

 Mateus 9:13
- (ACF) “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque
eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores , ao arrependimento.”
- (ARA) “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois
não vim chamar justos e sim pecadores [ao arrependimento].”
- (NVI) “Vão aprender o que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’. Pois eu não
vim chamar justos mas pecadores.”

 1 Timóteo 3:16

- (ACF)“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em


carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo,
recebido acima na glória.”
- (ARA) “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na
carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado aos gentios, crido no
mundo, recebido na glória.”

 Filipenses 4:13

- (ACF) “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”


- (ARA) “tudo posso naquele que me fortalece”
- (ARC) “Posso todas as coisas naquele que me fortalece"

 Atos 8:37

- (ACF) “E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse:
Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus”
- (ARA) “[Filipe respondeu: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele,
disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus]”
- (NTLH) “-” (novas edições usam colchetes)
- (BJ) “-” (e as demais católicas)

 Romanos 8:1

- (ACF) "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus,
que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito”
- (NVI) "Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus."

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 1 Pedro 2:2

- (ACF) "Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional,


não falsificado, para que por ele vades crescendo”
- (NVI) "Como crianças recém-nascidas, desejem intensamente o leite espiritual puro,
para que por meio dele cresçam para salvação"

 1 João 5:7-8
- (ACF) "Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e
estes três são um. E três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e
estes três concordam num”
- (NVI) "Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são
unânimes"

 Efésios 3:9
- (ACF) “E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os
séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo”
- (ARA) “e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em
Deus, que criou todas as coisas”
- (RC) “e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os
séculos, esteve oculto em Deus, que tudo criou”
6.2.8 Outras comparações entre o TR e o TC

Versículos completos que estão


Versículos que contêm
faltando nas bíblias baseadas no
diferenças entre o TC e TR.
TC
• Mateus 17:21 • Mateus 1:25
• Mateus 18:11 • Marcos 1:2
• Mateus 23:14 • Marcos 2:17
• Marcos 7:16 • Lucas 4:4
• Marcos 9:44 e 46 • João 3:13
• Marcos 11:26 • Lucas 22:43-44
• Marcos 15:28 • Efésios 3:9
• Lucas 17:36 • Apocalipse 1:11
• Atos 15:34 • Apocalipse 21:24
• Atos 28:29 • Apocalipse 22:14

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7. Arqueologia

a) Manuscritos do Mar Morto

Num dia de verão, em 1947, o pastor beduíno árabe, Muhammad ad Dib, da tribo dos
Taa'mireh, que se acampa entre Belém e o mar Morto, saiu a procura de uma cabra desgarrada
nas ravinas rochosas da costa noroeste do referido mar, e encontrou um inestimável tesouro
bíblico. Estava o pastor junto à encosta rochosa do uádi Qüm-ram. Ao atirar uma pedra numa das
cavernas ouviu um barulho de cacos se quebrando. Entrou na caverna e encontrou uma preciosa
coleção de MSS bíblicos: 12 rolos de pergaminho e fragmentos de outros. Um dos rolos era um MS
de Isaías do ano 100 a.C, isto é, mil anos mais antigo que os exemplares até então conhecidos. Os
rolos estão escritos em papiro e pergaminho e envolvidos em panos de linho. Outras cavernas
foram vasculhadas e novos MSS foram encontrados.

Figura 1 – Manuscritos do Mar Morto.

Novas luzes estão surgindo na interpretação de passagens difíceis do AT. Exemplos: em Êxodo
1.5, o total de pessoas é 75, concordando assim com Atos 7.14. (O hebraico não tem algarismos
para os números e sim letras; daí, para um erro não custa muito...) Em Isaías 49.12, o novo MS de
Isaías diz "Siene" e não "Sinin". Ora, Siene era uma importante cidade fronteiriça do Egito, às
margens do Nilo, junto à Etiópia. É hoje a moderna Assuam, com sua extraordinária represa.
Ezequiel 29.10 e 30.6 referem-se a essa cidade; a versão ARC grafa "Sevené". Muitos eruditos
pensavam até agora que o termo "Sinin" de Isaías 49.12 fosse uma alusão à China. É muito
confortante saber que os textos desses MSS encontrados concordam com os das nossas Bíblias.

Pesquisas revelam que os MSS do mar Morto foram escondidos pelos essênios – seita ascética
judaica - durante a segunda revolução dos judeus contra os romanos em 132-135 d.C. Os
responsáveis por um grande mosteiro agora descoberto, ao verem aproximar-se as tropas
romanas, esconderam ali sua biblioteca. Nas 267 cavernas examinadas, foram encontrados
fragmentos de 332 obras, ao todo. Encontraram, inclusive, cartas do líder dessa revolta: Bar
Kochba, em perfeito estado, estando sua assinatura bem nítida. Nos MSS encontrados há trechos
de todos os livros do AT, exceto Ester.

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b) Pedra Moabita (presente no Museu de Londres)

A pedra moabita foi um dos achados arqueológicos mais importantes, pois ela tem uma
profunda relevância bíblica. É uma pedra memorial de basalto negro descoberto em 1868, em
Moabe pelo missionário alemão F. A. Klein nas proximidades de Dhiban [na moderna Jordânia], a
antiga Dibon ficava a quatro milhas ao norte do rio Arnon. O texto é esculpido em caracteres
paleohebraicos, foi gravada pelo rei Mesa de Moabe para comemorar os mais grandiosos feitos do
seu reinado. Por duas razões, principalmente, é importante a pedra moabita, ou Estela moabita.
Em primeiro lugar, por ser o documento semítico mais antigo que se possui da Palestina; e em
segundo lugar por sua relação com o relato bíblico de 2 Reis 3.

Figura 2 – Pedra moabita exposta no Museu de Londres

c) Casa de Davi (presente no museu de Israel)

Em 1993, os arqueólogos descobriram uma inscrição de pedra na antiga cidade de Dã que se


refere à "Casa de Davi". A Inscrição da Casa de Davi (Inscrição de Tel Dan) é a primeira referência
ao antigo rei Davi fora da Bíblia. Especificamente, essa pedra é um pilar de vitória de um rei em
Damasco, datado de cerca de 250 anos após o reinado de Davi, que menciona um "rei de Israel da
Casa de Davi". Nos meses a seguir, mais pedaços de inscrição foram descobertos no local,
permitindo que os arqueologistas reconstruíssem por completo a seguinte declaração: “Eu matei
Jorão, filho de Acabe, rei de Israel, e eu matei Acazias, filho de Jeorão, rei da Casa de Davi”.
Surpreendentemente, estes são os líderes judeus ligados à linhagem de Davi, conforme registrado
na Bíblia.

Figura 3 – Pedra que menciona a casa de Davi exposta no museu de Israel.

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Bibliologia
d) Estela de Merneptah

A "Estela de Merneptah" (também conhecida como a Estela de Israel) é uma pedra de laje
vertical medindo mais de dois metros de altura, esculpida com hieróglifos que datam de
aproximadamente 1230 AC. Este monumento egípcio descreve as conquistas militares do faraó
Merneptah e inclui a primeira menção de "Israel" fora da Bíblia. Embora as específicas batalhas
abrangidas pela estela não sejam mencionadas na Bíblia, a estela estabelece prova extra-bíblica de
que os israelitas já estavam vivendo como um povo no Canaã antigo cerca de 1230 AC. Além das
Estelas, uma grande imagem de parede foi descoberta no grande Templo de Karnak de Luxor
(antiga Tebas), a qual mostra cenas de batalha entre os egípcios e israelitas. Essas cenas também
foram atribuídas ao faraó Merneptah e datam de cerca de 1209 AC. O Templo de Karnak também
contém registros de vitórias militares do Faraó Sisaque de cerca de 280 anos depois.
Especificamente, o Alívio de Sisaque (Shishak Relief) retrata a vitória do Egito sobre o rei Roboão
em cerca de 925 AC, quando o Templo de Salomão em Judá foi saqueado. Este é o exato evento
mencionado claramente em dois livros do Antigo Testamento.

Figura 4 – Foto da Estela de Merneptah.

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8. Curiosidades e Estatística Bíblica

a) Divisão em Capítulo e Versículo

As versões antigas da Bíblia ou os Manuscritos mais antigos não observavam as


divisões de Capítulos e Versículos que hoje temos. Tal didática foi elaborada a fim de
facilitar a citação, o estudo e a pesquisa das Escrituras. Stephen Langton, catedrático
francês e arcebispo da Cantuária, dividiu a Bíblia em Capítulos (1227 d.C.). Séculos mais
tarde, com o invento da imprensa, Robert Stephanus, impressor parisiense elaborou a
divisão dos Capítulos em Versículos, tanto no AT como no N.T., a qual vigora até nossos
dias, e é aceito inclusive pelos estudiosos judeus.

b) Estatísticas da Bíblia

A Bíblia tem:

 66 livros (essa todo mundo sabe), sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo.


 1189 capítulos no total. Portanto, se alguém que lê um capítulo por dia resolver ler a
Bíblia toda, vai levar exatamente 3 anos, 3 meses e 4 dias.
 O número de versículos varia com a versão. A King James tem 31.102, enquanto que
a Almeida Revista e Corrigida (ARC) tem 31.105.
 O maior capítulo da Bíblia (esse todo mundo também sabe) é o Salmo 119, com 176
versículos.
 O menor é o Salmo 117, com apenas 2 versículos.
 Coincidentemente (ou não), o capítulo do meio da Bíblia, isto é, o capítulo nº 595 é o
Salmo 118.
 Os livros têm, em média, 18 capítulos cada. Porém nenhum livro tem 18 capítulos.
 Os livros têm, em média, 471 versículos cada. Porém nenhum livro tem 471
versículos.

c) Estatísticas do Uso da Bíblia

Essas estatísticas foram extraídas de um universo de 100.000 pessoas diferentes de um


aplicativo de celular durante 6 meses (10/2011 – 03/2012), para a bíblia em Português
(tradução brasileira de João Ferreira de Almeida).
 Capítulos mais lidos (do maior para o menor): Mateus 6, Salmo 23, Mateus 5,
Salmo 91, Romanos 8, João 3, Apocalipse 22, Mateus 7, Tiago 1 e Filipenses
4.
 Média de tempo diário lendo a Bíblia: 3m33s
 Média de capítulos lidos por dia: 1,63
 Dia da semana com a maior frequência de leitura: Domingo
 Dia da semana com a menor frequência de leitura: Sexta-feira

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Bibliologia

9. Perguntas

a) Explique em poucas palavras a origem da inspiração da Bíblia.

b) O que seria a suficiência bíblica?

c) O que aconteceria com a Bíblia se encontrasse uma carta perdida de Paulo?

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AULA 3 – 17.03.2012

Bibliologia

10.Bibliografia

Anderson, N. (1981). God’s Word for God’s World. Hodder and Stoughton.

Bruce, F.F. (2011). O Cânon das Escrituras. Editora Hagnos.

Cesareia, E. D. (1997). História Eclesiástica. Cpad.

Douglas, J. D. (2006). O Novo Dicionário da Bíblia. Vida Nova.

Geisler, N, (2012). A inerrância da Bíblia. Vida.

Gilberto, A. (1986). A Bíblia através dos séculos. Casa publicadora das Assembléias de Deus.

Grudem, W. (2001). Manual de Teologia Sistemática. Vida.

Henry, C. F. (1959). New Testament Use of the Old Testament. Tyndale Press.

Herzog, J. J., & Schaff, P. (2010). The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge I. Nabu Press.

Hodge, C. (2008). Systematic Theology Vol1. Hendrickson Publishers, Inc.

Price, R. (1997). The Stones Cry Out: What Archaeology Reveals About the Truth of the Bible. Harvest House
Publishers .

Vine, W., Unger, F. M., & Jr., W. W. (2002). Dicionário Vine. CPAD.

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