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CURSO DE JORNALISMO
MANUAL DE
RADIOJORNALISMO
CARMÉLIO REYNALDO FERREIRA
ÍNDICE
I – RECOMENDAÇÕES GERAIS...............................................................................................3
II – TÍTULOS...................................................................................................................................10
IV – NOMES E TRATAMENTOS.............................................................................................12
V – SIGLAS E ABREVIATURAS...............................................................................................13
VI – PONTUAÇÃO........................................................................................................................14
VII – ACENTUAÇÃO...................................................................................................................15
VIII – NÚMEROS...........................................................................................................................16
IX – DATAS E HORÁRIOS.........................................................................................................17
X – A EDIÇÃO................................................................................................................................18
XI – A PAUTA.................................................................................................................................20
XII - ENTREVISTAS.....................................................................................................................21
Manual de Radiojornalismo 3
LEMBRE-SE:
I - RECOMENDAÇÕES GERAIS
1. O Rádio tem a particularidade de apresentar a mensagem em um momento
determinado, ao contrário do Jornal, que utiliza espaços impressos. Por isso,
lembre-se que o ouvinte não pode voltar o tempo para resgatar a notícia que não
entendeu. Escreva de forma a ser o mais claro possível.
3. Considere que alguém pode captar a notícia depois de sua leitura ter sido iniciada.
Portanto, se for longa, volte a referir-se aos fatos e personagens quantas vezes for
necessário, mas sem tornar a apresentação enfadonha.
Assim:
O pesquisador Aurélio Vasconcelos estuda desde 2010 as profecias que
são feitas por essas pessoas que mantém uma tradição secular. Com base na
observação de determinados fenômenos, elas são capazes de prever o regime de
chuvas de uma região. O trabalho, encomendado pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais, mapeia os profetas, as profecias e ainda tenta identificar a
sua origem.
Esse modelo de cabeça tanto serve para matérias com passagem quanto para
entrevistas curtas, as que repórter e entrevistado dialogam fora do estúdio. A
diferença será apenas na chamada para o áudio, na qual deve ficar claro que o
repórter fez entrevista em vez de participar da apresentação como narrador.
7. Se você vai cobrir um evento, uma palestra, ou vai produzir uma reportagem, leve
em conta que deverá ter algo que torne sua matéria atrativa, que cause impacto na
abertura. Isto quer dizer que você deve estar atendo ao que se passa, ao que se diz,
pronto para captar esse aspecto de efeito.
9. Evite o uso da locução formada pelo verbo ser seguido de outro verbo no
particípio para anunciar a ação principal na frase de abertura.
11. Se uma matéria com passagem tiver mais de três sonoras, no texto que antecede a
última é necessário repetir algumas informações fornecidas no início da matéria,
como nome da pessoa entrevistada e seu vínculo com o assunto. Mas isso deve ser
feito de forma resumida.
12. Nas passagens com sonoras de mais de uma pessoa, é necessário ter cuidado para
que no texto que antecede o discurso direto seja identificado com clareza quem fala
no áudio.
14. Todos os parágrafos do texto a ser lido em voz alta pela locução devem ter o recuo
inicial.
15. O texto deve chegar bem legível às mãos do locutor. Não esqueça que da qualidade
da leitura depende o resultado de muitas horas de trabalho da equipe.
16. Empregue uma fonte cujo tamanho seja compatível com a largura do texto. No
Espaço Experimental usamos Times New Roman, tamanho 14. A largura ideal é
aquela que resulta em aproximadamente 75 toques por linha.
18. Quando uma matéria passar de uma página para outra, ponha embaixo, no canto
direito, o seguinte sinal: >>>>> SEGUE.
19. Na folha em que a matéria termina, faça embaixo, no centro, o seguinte sinal:
XXXXX.
20. Forme frases curtas, nunca com mais de duas linhas. Para isso, transforme as
orações subordinadas em frases independentes.
22. Sublinhe as palavras em que você pretende maior ênfase da locução. Mas não abuse
do recurso.
23. Tudo que se coloca no ar através do Rádio é cronometrado. Nos textos escritos
para serem lidos pela locução, chega-se à duração aproximada do tempo de leitura
contando o número de linhas. Por essa razão, o ideal é ter toda a mensagem
expressa em palavras para facilitar a contagem e a leitura.
Por isso, é obrigatório escrever por extenso:
- Todas as medidas – quilômetro em vez de km
- Vírgula, quando separando as casas decimais de um número
- Arrouba, no lugar do sinal @ nos endereços eletrônicos
- Por cento, no lugar de % nas percentagens
- Os numerais ordinais.
24. O texto será ouvido. Portanto, seja o primeiro ouvinte: leia em voz alta o que
escreveu e sinta o efeito que causa.
26. Quando for inevitável escrever uma palavra de pronúncia difícil e pouco conhecida,
faça-o separando os blocos de sílabas, de forma que possa ser pronunciada sem
dificuldade. Ex.: granolo-metria, hidro-fobi-zada, fal-coni-forme.
27. Os nomes estrangeiros, que o locutor não souber pronunciar, escreva com
maiúsculas, na forma como devem ser ditos e com as sílabas separadas. Por
exemplo: Zbigniew Nrzezinski = JIBÍG-MIU BRU-JÍN-SQUI.
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28. Quando a pronúncia de uma palavra estrangeira for ignorada pela equipe - e se for
possível - omita-a. Se servir para identificar um personagem, limite-se a dar a
função ou seu papel no contexto da notícia.
29. Cuidado com as cacofonias. Lembre-se que o texto vai ser lido e é na leitura em
voz alta que elas se manifestam na sua plenitude.
30. Cuidado com as palavras homófonas, as que têm o mesmo som mas grafias
diferentes para significados distintos como incerto e inserto (particípio do verbo
inserir) ou censo e senso. Elas podem confundir o ouvinte se não estiverem bem
contextualizadas. Por exemplo: A lista dos novos livros foi inserta pela bibliotecária.
31. Evite a forma há, que muitas vezes sequer o contexto permite que o ouvinte
distinga que se trata do verbo haver. Prefira existe, ocorre, etc.
32. Não use formas frasais que exijam o emprego de mesóclise como Far-se-á.
33. Nos meios impressos, quando se quer usar uma palavra ou expressão com sentido
conotativo, recorre-se às aspas. No Rádio, como as aspas não aparecem, o recurso é
proibido.
34. Os parênteses também não podem ser usados no texto que vai ser lido em voz alta
pela locução. Não há uma forma de expressá-los oralmente para os ouvintes.
37. Os bons ficcionistas fazem com que seus leitores vivam o tempo narrado
empregando os verbos no presente. Os maus jornalistas, ou pelo menos os que
ainda não conseguem distinguir os recursos da ficção dos usados para narrar fatos
reais, também o fazem. Mas não conseguem ir além de um parágrafo e logo se
traem com um verbo no pretérito em situação que deveria, pela coerência exigida
em função do tempo escolhido, estar no presente. Portanto, antes de usar esse
recurso, reflita sobre dois aspectos:
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40. Quando tiver que empregar expressão técnica ou científica, explique de que se trata.
Em caso de dúvida, consulte um dicionário, a internet ou a fonte mais adequada.
41. Nunca intercale uma ideia numa frase de forma que a inicial seja interrompida e sua
conclusão só ocorra após a frase intercalada. Isso dificulta a compreensão da
informação.
42. A gíria deve ser evitada. Porém, o uso constante de uma determinada gíria e a sua
consequente aceitação pela sociedade faz com que ela seja incorporada ao léxico.
Estas, use com moderação, desde que a clareza da informação não seja prejudicada.
43. Só use adjetivos que têm valor real na notícia, ou seja, completam a informação.
Nunca empregue uma palavra apenas para embelezar a frase. O adjetivo é válido
quando destaca uma característica. Ex: Apresentou uma cópia ilegível.
45. O singular generaliza o número e soa melhor do que o plural. É quando indica o
conjunto e pode ser usado sem prejudicar a clareza da informação. Ex: A Polícia
apreendeu um carro transportando propaganda ilegal (e não propagandas ilegais).
46. O novo elemento apresentado ao público pelo seu noticiário passará, naquele
instante, de ser indefinido para definido. Mas essa passagem deve ocorrer pela
sua intermediação. Portanto, antes de tratar o novo elemento como definido,
primeiro apresente ao público o indefinido que, dotado de atributos específicos ou
características extraordinárias, se torna, naquele momento, único entre os seus
semelhantes e, por isso, objeto de notícia. Depois disso, ao referir-se a ele, trate-o já
como definido.
Comece referindo-se a ele com artigo indefinido:
Um método que detecta o HIV através da urina...
Depois trate-o como ser definido, único:
O método ainda vai ser testado aqui no Brasil para depois...
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48. Tenha especial cuidado com os pronomes possessivos. Eles podem criar situações
em que será difícil ao ouvinte identificar a quem compete a posse. Ex: O Governador
vai negociar com o Prefeito a sua sucessão. A sucessão de quem? Do prefeito ou do
governador?
50. Quando uma categoria entra em greve, os profissionais param. Paralisados ficam
os trabalhos, as atividades, não eles.
51. Membro, por ser palavra masculina e, portanto, exigir concordância com esse
gênero, não deve ser empregada quando referir-se a mulher, como na frase Marília
foi o único membro reeleito. Prefira integrante.
52. Empregue o verbo falar apenas quando se referir a alocução em que o interlocutor
é uma terceira pessoa, nunca o repórter. Prefira verbos que definam melhor o que
foi transmitido através da fala como anunciar, afirmar, confirmar, dizer,
declarar, garantir, informar, etc.
53. Dentro dessa gama de verbos, podemos citar ainda concluir, que deve ser usado
para anunciar que alguém chegou a alguma conclusão. É inadequado empregá-lo
apenas para informar que uma entrevista chegou ao fim.
54. Quando está junto a verbo no infinitivo, o verbo ir deve ser usado no presente do
indicativo, embora, quase sempre, a expressão refira-se a ação futura. Portanto, diga
o professor vai divulgar... em vez de o professor irá divulgar.... Ou seja: é vai no lugar de
irá e vão no de irão.
55. Sem novidade não existe notícia. Mas uma notícia não contém apenas novidade.
Ela também tem uma certa dose de redundância - fala de acontecimentos anteriores
que permitem o ouvinte situá-la no contexto dos acontecimentos.
56. Nunca elabore uma notícia presumindo que todos os ouvintes estão a par dos
antecedentes do fato. Mesmo que o assunto tenha ocupado amplo espaço na
imprensa durante semanas, imagine que no momento da divulgação da sua matéria
alguém está tomando conhecimento dele naquele instante.
57. Continua é palavra proibida para abrir notícia. Se você tem de voltar a um assunto
já muito batido, procure começar a matéria com alguma novidade, pois o que
continua já perdeu o impacto.
58. Evite encerrar notícia com etc. Pode transmitir a idéia de preguiça, negligência ou
pouco conhecimento do assunto.
60. Nunca se refira a mulheres com palavras ou frases que tendam a ratificar postura
machista, encarando o homem como regra e a mulher como exceção.
61. Omita a descrição minuciosa de tipos físicos ou raciais, a não ser que isso seja
absolutamente necessário.
62. Ao referir-se a político com mandato legislativo, indique a que partido pertence. No
caso de senador ou deputado federal que não é da Paraíba, informe que Estado
representa. Faça o mesmo com vereadores que não forem de onde ocorre a
emissão do programa, indicando o seu município.
64. Assuntos sobre os quais não existe consenso na sociedade, como reformas
estruturais e privatização, não podem ser abordados no noticiário como se uma das
diversas correntes estivesse com a razão, a não ser que esta seja a nossa orientação
editorial. Por exemplo: é polêmico o argumento de que os encargos sobre a folha
de pagamento são causadores de desemprego. Então, se essa posição é apresentada
no noticiário, é importante divulgar quem a defende, de forma a não parecer que a
endossamos.
66. Mantenha-se informado. Procure ler o maior número de jornais e revistas possível e
ouvir noticiários de Rádio e Televisão. Na internet você vai encontrar ótimas
fontes.
67. Se você vai fazer uma matéria sobre um assunto que não domina, principalmente se
for uma entrevista em que suas perguntas também irão ao ar, é essencial que
aconteça uma conversa prévia com a fonte antes da gravação para saber fazer as
perguntas certas.
Manual de Radiojornalismo 10
II - TÍTULOS
1. Os títulos, nos programas jornalísticos, podem ser de três espécies:
1.1. Manchetes, que anunciam os principais assuntos da edição;
1.2. Título-assunto, expressão curta para abrir um segmento do noticiário sobre tema
de notável repercussão;
1.3. Título fixo, que designa seção do noticiário (o qual pode ser substituído por
vinheta gravada).
2. No caso das manchetes, elas devem sintetizar o que há de mais importante nas notícias
selecionadas, para atrair o ouvinte. Seu tamanho não deve exceder ao de uma linha de
75 caracteres.
7. Nunca elabore uma manchete para criar uma expectativa maior do que a dimensão do
fato. Recursos dessa espécie podem sustentar a audiência por algum tempo, mas fazem
a emissora perder credibilidade, atributo difícil de ser recuperado.
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2. Escreva totalmente com maiúsculas tudo o que não deverá ser lido ao microfone, como
indicações técnicas e marcações para facilitar a edição. O locutor está orientado para ler
em voz alta somente o que estiver escrito com minúsculas, excetuando-se apenas as
siglas pronunciáveis letra por letra e os nomes estrangeiros de pronúncia difícil (ver
itens 4 da seção VI e 19 da seção I).
IV - NOMES E TRATAMENTOS
1. Simplifique os nomes de pessoas muito conhecidas, usando a forma mais usual.
2. Dê o título, ou então diga o que a pessoa faz, junto com o nome: a economista Maria da
Conceição Tavares; o Ministro das Comunicações Paulo Bernardo.
4. Evite o tratamento íntimo com o personagem da notícia: Luciano viaja...; Ricardo marca...
5. Também o excesso de cerimônia deve ser evitado: O insigne prefeito, o ilustre governador...
6. Embora algumas pessoas tenham seus nomes escritos originalmente sem o acento
porque no registro cartorial o sinal foi omitido, no texto para rádio esse acento deve
constar, para que, na hora de apresentá-lo, a locução não fique em dúvida quanto à
forma correta de pronunciá-lo.
7. Os nomes de pessoas da cidade, do estado e do país são importantes. Nomes
estrangeiros, se não são notórios ou indispensáveis e sobre cuja pronúncia existe
dúvida, devem ser evitados. Poucos ouvintes se lembrarão deles minutos depois.
Nesses casos, é melhor usar o título ou a função.
8. Mesmo levando em conta o item anterior, não esqueça que a menção do nome do
personagem transmite ao ouvinte confiança e credibilidade. Por isso, cuidado para não
montar notícia que pareça dizer alguém fez algo em algum lugar.
9. Evite escrever nomes próprios com abreviaturas, exceto quando eles assim forem
conhecidos, como J. J. Veiga e J. G. de Araújo Jorge.
10. Apelidos e alcunhas não são recomendáveis. Só use se o personagem for mais
conhecido pelo apelido do que pelo próprio nome e se, mesmo assim, o aceitar de bom
grado.
11. Nunca use mais de um título para uma pessoa ao mesmo tempo, como a Presidenta da
Associação Paraibana de Imprensa, jornalista... Opte por apenas um, de preferência o que
designa o cargo.
12. Em certas ocasiões, o título é desnecessário, pois já está implícito na frase: A criação da
Rádio Universitária ocorreu no Reitorado de Berilo Borba. Aqui, a palavra reitor é
desnecessária.
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V - SIGLAS E ABREVIATURAS
1. Nunca abrevie palavras.
2. Só use a sigla quando ela for muito conhecida, como Cagepa, UFPB, DER e INSS. As
pouco conhecidas devem ser apresentadas antes ou depois do nome da instituição.
3. Quando se tratar de uma instituição pouco conhecida, evite usar a sigla. Mas se for usar
o nome dessa instituição mais de uma vez, da primeira apresente-os juntos para que os
ouvintes façam a associação. Depois, alterne um e outro ou, se conveniente para maior
clareza da informação, apresente, de vez em quando, uma forma simplificada do nome.
Ex: Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial pode ser Inmetro,
Instituto de Metrologia ou Instituto de Qualidade Industrial conforme o que esteja em
evidência na reportagem.
4. A apresentação de uma sigla no texto que vai ser ouvido deve considerar a fluência do
discurso da locução, fazer com que ela se incorpore ao texto como as demais palavras,
sem quebrar a fluidez desse discurso. Isso significa nunca colocar a sigla entre
parênteses ou mesmo entre vírgulas sem o apoio de, pelo menos, um artigo. Ex.: em
vez de o Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA)... como habitualmente se faz em
jornalismo impresso, escreva o Centro de Comunicação, Turismo e Artes, o CCTA... Em
algumas situações pode ser necessário acrescentar bem mais do que o artigo,
recorrendo a expressões como conhecido por.
Frase de abertura limitada a uma linha: Conhecimento em Debate começa hoje no CCHLA.
A frase seguinte: O Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes abre de hoje até sexta-feira suas
salas de aula e auditórios para...
6. As siglas pronunciáveis letra por letra devem ser escritas totalmente com maiúsculas:
BNDES, INSS, etc. Já as pronunciáveis como se fossem palavras, com sílabas
articuladas, só recebem maiúscula inicial, como os nomes próprios. Ex: Seplan, Anatel,
etc.
VI - PONTUAÇÃO
1. O texto para os meios eletrônicos é para ser falado e o locutor não pode interromper
uma frase no meio a fim de respirar. Portanto, sinais como travessões, reticências e dois
pontos devem orientar a leitura como as notas de uma partitura.
2. A vírgula representa uma pausa curta na qual a voz liga um enunciado a outro. Não é
um silêncio, mas uma modulação que permite enriquecer o sentido da frase.
4. Use ponto-e-vírgula em todas as enumerações onde haja vírgula dentro das partes
enumeradas. Ex: O Grupo Prisma era formado por Washington Espínola, guitarra; Sérgio Gallo,
contrabaixo; e Glauco Andrezza, percussão.
VII - ACENTUAÇÃO
1. Para acentuar bem, é imprescindível um bom conhecimento da gramática. Porém, uma
informação sobre a estrutura da língua se for bem assimilada pode resolver boa parte
das dúvidas. É o seguinte:
1.1. A língua portuguesa tende a uma predominância de palavras paroxítonas. As que
não seguem essa característica - as proparoxítonas e as oxítonas - necessitam de
um reforço fonético para fugir à tendência.
1.2. O reforço pode ser o acento, como em todas proparoxítonas e algumas oxítonas.
1.3. Nas oxítonas, também constituem reforço fonético letras como I, L, R e U no
final da palavra: dali, papel, lazer, tatu. Por isso a maioria das palavras que terminam
assim, e no entanto são paroxítonas, necessitam de um reforço para enfrentar a
pressão que aquelas letras fazem para que a sílaba tônica seja a última. Esse reforço
é o acento das paroxítonas: cáqui, lápis, fêmur, álbum, fácil, responsável, açúcar, éter.
Na dúvida, consulte as regras disponíveis nas boas gramáticas.
2. A crase só pode ser usada antes de palavra feminina. Eis algumas regras práticas para
identificar se existe crase:
2.1. Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se a frase exigir ao em vez de a,
então há crase. Ex: Cheguei cedo à televisão. Cheguei cedo ao jornal.
ATENÇÃO: Este recurso não se aplica às expressões à bala, à faca, à mão, à vista, à
espada, à tinta, à toa, à míngua, à fome (matou à bala).
2.2. Para saber se antes do topônimo ocorre crase, troque o verbo pela expressão
voltar de. Se ao invés da preposição de entrar a contração da, existe crase. Ex:
Vou a Goiânia (volto de Goiânia e não volto da Goiânia); Vou à Paraíba (volto da
Paraíba).
2.3. Também pode ocorrer crase nos pronomes demonstrativos aquele, aquela e
aquilo. Para identificar as situações, substitua-os por este, esta ou isto,
respectivamente. Se o a desmembrar-se, então haverá crase. Ex: O editor referiu-se
àquela reportagem (referiu-se a esta reportagem).
2.4. Antes dos dias da semana, quando no plural, também se usa crase: às segundas-feiras,
realizamos reunião de pauta..
2.5. Têm crase as expressões às vezes, às pressas, à maneira de, à procura de, à
noite, à risca, à proporção que, à medida que, à mercê de, à frente.
Manual de Radiojornalismo 16
VIII - NÚMEROS
1. Preferencialmente os números devem ser escritos por extenso, sendo obrigatório os
inferiores a dez.
4. O excesso de números em texto para Rádio deve ser evitado. Dificilmente o ouvinte
conseguirá acompanhar o raciocínio do redator por não ter condições de rever os
dados apresentados segundos antes. Por isso, procure apresentar apenas os números
essenciais à percepção do fato noticiado.
5. Para facilitar a leitura, pelo locutor, de números extensos, bem como permitir uma
contagem mais precisa da duração do texto no ar, escreva os números mesclando
algarismos e palavras. Ex: 58 milhões e 135 mil reais. Mas se for possível simplificar, diga
apenas mais de 58 milhões de reais.
7. Nunca escreva com algarismos romanos nem use a representação numérica dos
ordinais. É sempre João 23 ao invés de João XXIII e décimo-terceiro Distrito... ao invés de
13o Distrito...
9. Custo, preço e valor podem ser sinônimos, mas quase sempre definem coisas
distintas.
Custo refere-se à estimativa que se faz dos esforços e insumos empregados para a
obtenção de algo;
Preço é o que se cobra por um bem ou serviço;
Valor, ao contrário dos anteriores, às vezes pode depender de critérios subjetivos e
até afetivos, não podendo, nesses casos, ser aferido numericamente.
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IX - DATAS E HORÁRIOS
1. Deixe bem claro quando aconteceu o fato noticiado. Em vez de dizer simplesmente
hoje ou ontem, é mais preciso indicar hoje de manhã, nesta tarde, etc. Esse detalhe
atualiza e melhora a compreensão da notícia. Evite, no entanto, construções longas
como durante a madrugada de hoje.
2. A semana, o mês e o ano corrente devem ser tratados, preferencialmente, como esta
semana, este mês, este ano. Lembre-se: quando explicita a posição da palavra em
relação ao tempo, o pronome demonstrativo ESTE e suas variações de gênero e
número assinala presente ou futuro próximo, enquanto ESSE refere-se a passado.
3. Quando a data estiver a menos de sete dias da ocasião em que a notícia será divulgada,
use o dia da semana. Mas se apenas um dia separa o acontecimento da sua divulgação,
use ontem ou amanhã. Se a data ultrapassar os sete dias, indique o dia do mês.
5. Evite usar a expressão mês de antes do nome do mês. Ou seja: ao invés de No mês de
janeiro os riscos de incêndio são maiores, diga Em janeiro os riscos...
6. Nas referências a datas, use dia primeiro em vez de dia um. Nos demais dias do mês, use
o numeral cardinal.
8. A madrugada vai de zero hora às 6h; a manhã, das 6h ao meio-dia; a tarde, do meio-dia
às 18h; e a noite, das 18 às 24h.
9. Meia-noite e zero hora se equivalem. No entanto, a primeira diz respeito ao dia anterior
e a outra, ao posterior. Portanto, pontualmente às 24h termina o dia, não cabendo aí
qualquer fracionamento.
10. Se necessário, nos horários de transição use no começo da tarde, no início da madrugada, no
final da manhã, etc.
11. A hora, quando registrada sem qualquer indicação, corresponderá à de Brasília. Caso
contrário, deve ser especificada: hora de Paris, hora de Pequim.
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X - A EDIÇÃO
1. A edição dos programas jornalísticos não segue o padrão utilizado pelos veículos
impressos, separando as notícias por assunto (economia, esporte, cultura, etc.)
tampouco por procedência (nacional, internacional, local, etc.). Os fatos nem sempre
acontecem com a mesma intensidade e quantidade todos os dias a ponto de permitirem
sempre a mesma proporção de tempo para cada bloco e nível de interesse a cada
edição. A melhor forma de edição para o rádio é a de analogia, juntando notícias
através da relação entre assuntos. Assim, matéria sobre reunião da Opep (Organização
dos Países Exportadores de Petróleo) pode puxar para uma sobre preço dos
combustíveis que, por sua vez, remete para modificações no trânsito da cidade.
6. Boato não é notícia. Consequentemente, não deve ser divulgado. Mas não pode ser
ignorado: mande investigar.
9. Nunca divulgue gratuitamente uma notícia sobre alguém de maneira que a pessoa
venha a ter motivos para envergonhar-se ou sentir-se bajulada.
12. Avalie bem antes de usar mais de uma sonora da mesma pessoa na matéria. Mais de
uma, só quando ela está dizendo coisas muito interessantes.
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13. Se de um conjunto de sonoras gravadas com várias pessoas sobre o mesmo assunto,
você tiver que selecionar algumas, prefira as dotadas de um destes atributos:
13.1. Traz revelação importante;
13.2. Causa impacto;
13.3. É dotada de forte carga emocional
13.4. Contém opinião inusitada.
14. Não antecipe no texto as palavras do entrevistado. Procure, isto sim, chamar a atenção
para o que ele vai falar.
15. O destaque do que houver de mais importante na reportagem deve figurar no texto que
cabe à locução apresentar. A sonora deve ser encarada como um testemunho ou
ilustração que reforça o anunciado na abertura da matéria.
16. Antes de cada sonora, é importante o repórter fazer pelo menos uma afirmação,
transmitindo informação importante a respeito do aspecto que será abordado através
da gravação da pessoa entrevistada.
17. Uma gravação de má qualidade só deve ser usada quando colocá-la no ar for muito
importante para demonstrar a veracidade da notícia. Mas é necessário que, antes, a
locução justifique o áudio ruim, destacando o seu valor jornalístico e documental, e
antecipe o seu conteúdo.
Manual de Radiojornalismo 20
XI – A PAUTA
1. A pauta serve para orientar o trabalho de apuração. Seu papel é aumentar as
possibilidades da apuração e não limitá-las. É PONTO DE PARTIDA
2. Evita que a emissora divulgue apenas as informações disponíveis na fonte e que a ela
interessam.
4. Permite traçar linhas a serem seguidas para evitar dispersão ou que o repórter se deixe
levar por tentativas de fazê-lo tergiversar.
5. A pauta deve abranger todos os aspectos envolvidos no fato gerador. Ao pauteiro cabe
tentar prever os acontecimentos paralelos, as consequências e até onde poderá ocorrer
um imprevisto. Para isso, é necessário faro e atualização, bem como conhecimento de
história, psicologia social e dos costumes envolvidos.
f - Quando se tratar de continuidade de assunto que vem sendo abordado com frequência,
situar o repórter quanto ao que já foi feito e ao que se pretende apresentar de
novidade.
XII – ENTREVISTAS
A PREPARAÇÃO
1. Uma entrevista deve fluir num processo de evolução e desdobramento do tema inicial,
proporcionando à audiência acompanhar o discurso e o quadro construído. Uma forma
de planejar a entrevista é definir um roteiro com tópicos e subtópicos antes de elaborar
as perguntas.
4. Faça com que o entrevistado sinta que as informações dele serão úteis para o público.
7. As perguntas devem ser curtas e objetivas. Elabore com antecedência tantas quanto for
possível.
9. Ouça com atenção e procure demonstrar interesse por tudo quanto for dito.
10. Não relute em pedir esclarecimentos sobre qualquer coisa que não tiver entendido com
clareza suficiente para transmitir aos ouvintes.
13. Não discuta com o entrevistado se ele emitir opinião contrária a seu ponto de vista.
14. Não mostre entusiasmo se lhe for revelado algo muito importante e polêmico. Mas
assegure-se de que ouviu corretamente, confirme se aquilo pode ser divulgado e se o
entrevistado sustentará o que foi dito.
15. Se você vai fazer uma matéria sobre um assunto que não domina, principalmente se for
uma entrevista em que suas perguntas também irão ao ar, é essencial que aconteça uma
conversa com a fonte, antes da gravação, para que sejam feitas as perguntas certas.
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3. Estabeleça regras antes de entrar no ar. Chame a atenção dos convidados para a
importância de não ser prolixo. É bom para o programa, para o ouvinte e para o
próprio entrevistado - que mantêm a audiência até o final.
4. Não fale como locutor nem como professor. O jornalista deve transmitir credibilidade
na voz. Portanto, quanto mais natural, mais verdadeira.
5. Também é importante ter cuidado com o tom e a inflexão de voz com que se dirige ao
entrevistado, para evitar a impressão de que o está interpelando como em um
interrogatório.
6. As perguntas devem ser curtas e diretas, transmitindo com clareza o que se deseja
saber.
8. Evite perguntas que cabem em qualquer entrevista e aceitam qualquer resposta como:
Qual a sua impressão...
Como você vê...
Como você analisa...
10. Em programas com mais de um convidado, procure identificar quem vai falar ou está
falando, dizendo seu nome com a voz mais baixa do que a do entrevistado, sem
atrapalhá-lo. Aliás, este deve ser um dos recursos de que os convidados deverão ser
avisados antes de o programa começar.
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11. O recurso de antecipar quem vai falar não pode dar a impressão de que você está
determinando quem responde a questão.
12. Em programas de debate ou painéis, não se deve estimular ou provoca a fala dos
participantes. Deixe que tome a iniciativa quem tiver algo a dizer sobre o tema em
pauta.
13. Esteja preparado para preencher os vazios com breves comentários, resumo das ideias
expostas, identificação do entrevistado ou do tema em pauta.
14. Esteja atento às respostas do entrevistado, mas não se desligue totalmente da equipe.
Esta, porém, deve esforçar-se para evitar distrair o entrevistador e o entrevistado.
15. Ao improvisar perguntas, cuidado para não provocar descontinuidade, deixando algum
assunto sem conclusão ou os ouvintes curiosos sobre algo importante que foi
negligenciado.
18. Mantenha-se em silêncio quando não for sua vez de falar. Evite emitir qualquer som ou
palavra, como se estivesse concordando ou aprovando o que está sendo dito.
19. Tudo que possa parecer estranho a um programa de entrevistas – ou seja, não é
pergunta nem resposta – deve ser identificado depois de apresentado. Isso vale para
música, declamação de poema, leitura ou qualquer som que não pertença à estrutura
sonora do programa. Uma boa qualidade de um apresentador é a capacidade de
discernimento para perceber o que deve ser identificado para não deixar o ouvinte
confuso.
20. Não diga que o programa chegou ao fim antes da apresentação da ficha técnica.
2. O programa deve ser planejado para iniciar com a apresentação dos convidados e do
tema. Aqui as credenciais deles devem ser apresentadas – quem são e o que o
convidado principal fez de relevante para estar no programa. Mas essa apresentação
deve ser sutil, sem perguntas diretas, utilizando recursos tipo:
Como e quando foi que você percebeu que viveria da e para a literatura?
PARA O MEDIADOR
3. Esteja atento a tudo o que os convidados disserem. Lembre-se que o seu papel é o de
mediador entre dois especialistas e o público. Isto quer dizer que tudo o que for
abordado pelos convidados deve chegar claro aos ouvintes.