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INTRODUÇÃO

Este curso de latim destina-se aos alunos que fazem Letras na universidade, portanto é
necessário um conhecimento básico da língua portuguesa, para que se possam
compreender as noções elementares da língua latina.
Para que esse conhecimento não fique indefinido, façamos um esboço do que será
necessário entender na estrutura da língua portuguesa:
1. noções de classe de palavra: substantivo, adjetivo, advérbio, verbo, conjunção,
preposição, artigo, numeral e pronome.
2. noções de função sintática: sujeito, predicativo do sujeito, objeto direto,
predicativo do objeto, objeto indireto, agente da passiva, complemento
nominal, adjunto adnominal e complemento adverbial; predicado nominal e
predicado verbal.
Essas noções serão fundamentais para o entendimento das relações entre os casos
latinos e as funções das palavras em português. Esses casos do latim correspondem às
funções sintáticas das palavras na oração. Entendamos oração como uma estrutura com
sujeito e predicado, para que possamos exemplificar com modelos mais simples cada
parte de sua constituição.
Se algum aluno encontrar dificuldades em identificar essas estruturas simples de
morfologia e sintaxe, deverá providenciar uma revisão dessa matéria, antes de começar
propriamente o estudo da língua latina. Essas noções darão ao aluno a segurança de
prosseguir o curso, sem maiores problemas.
Este curso é dado em etapas que levam o aluno a refletir sobre a estrutura da língua
latina, através do seu conhecimento da língua portuguesa. Como o latim é línguamãe da
língua portuguesa - além de ser também de outras como espanhol, francês, italiano e
romeno, para ficar só nas línguas oficiais de Estados -, é possível compreender sua
estrutura com o conhecimento médio, passado nas escolas, presente em gramáticas e
livros didáticos e exigido em todos os programas oficiais do Brasil.
Portanto, todos os alunos podem fazer o curso de latim com bom desempenho.
Não será exigido conhecimento aprofundado de nenhuma noção lingüística. O que se
verifica é exatamente o contrário: o aluno passará a compreender melhor a estrutura de
seu próprio pensamento, raciocinando melhor, lendo e escrevendo com maior
competência.

METODOLOGIA

Este curso é dado semestralmente na UFPB, obrigatório para alunos de Letras e


optativo para alunos de outros cursos.
As aulas são desenvolvidas de acordo com a matéria dada, ou seja, o tema da
primeira aula será retomado na seguinte, de forma cumulativa, de modo que o aluno possa

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desenvolver o que foi aprendido e avançar no curso. Não haverá tempo para uma reflexão
mais aprofundada de cada tema desenvolvido, pois o curso se condensa em um semestre;
no entanto, deve-se dominar o assunto de cada aula, no formato como é dado, uma vez
que o próximo assunto pressupõe o conhecimento do que foi anteriormente dado.
O vocabulário empregado é reduzido ao essencial, para que se possa empregá-lo
nos exercícios, sem a necessidade de consulta a dicionários e glossários. Contudo, é
importante que cada aluno tenha a disposição um dicionário de latim, não para o curso
em si, mas para usá-lo para traduzir trechos de citações, em prosa ou em verso, seja de
autores clássicos como Cícero, Virgílio e Horácio, seja de autores cristãos.

OBJETIVO

De modo geral, o aluno deverá ser capaz de identificar as formas nominais e


verbais, para organizá-las em uma expressão coerente e compreensível. Essa dificuldade
será abordada ao longo do curso, para que se reconheça a estrutura da língua latina, o que
é fundamental para a tradução para o português.
Particularmente, o aluno que conseguir organizar um texto latino, para traduzir
suas formas de modo claro, será capaz de explicar esse processo de análise e composição,
tornando-se competente na explicação desse texto na sala de aula e por escrito.

AVALIAÇÃO

As provas serão aplicadas de acordo com o exercício dado como modelo e serão
feitas com consulta aos próprios apontamentos. Não será preciso decorar nada! Todas as
tabelas de nomes e verbos servirão de instrumento do exercício de tradução para o
português e versão para o latim. Sem isso, não haverá possibilidade de concluir em um
semestre o estudo essencial da estrutura da língua latina.

PARTE I

A língua latina é proveniente do indo-europeu, grupo lingüístico que abrange a


maioria das línguas européias, com ramificações até a Índia, com o sânscrito. Pode-se
imaginar esse grupo como uma árvore de imensa copa, em que cada ramo principal
representa um subgrupo: indo-iraniano (sânscrito, persa, iraniano etc.), helênico (grego
antigo, grego moderno), céltico (escocês, irlandês, bretão, galês etc.), germânico (alemão,
holandês, inglês etc.), eslavo (russo, ucraniano, polonês, búlgaro etc.), báltico (lituano,
letão etc.), indo-irânico (sânscrito, híndi, curdo etc.), germânico (alemão, holandês, inglês
etc.), itálico (osco, umbro, latim), além de outros como anatólio e tocariano, apenas com
referências indiretas.
Do ramo itálico, através do latim, nasceram as línguas românicas: italiano, catalão,
português, espanhol, francês, sardo, ladino, galego etc.
No entanto, o latim que dá origem a essas línguas é o latim falado, e não o escrito,
literário. Como não se pretende falar em latim, mas aprender a traduzir obras clássicas, o
latim clássico, da poesia e da prosa, será nosso objeto de estudo. Esse latim clássico
abrange dois séculos: I a. C. e I d. C., ou seja, o século primeiro antes de Cristo e o século
primeiro depois de Cristo.
Situada a época, passemos às características básicas do latim:
A posição das palavras não caracteriza sua função sintática, como em português.
Por exemplo, o homem vê o lobo é diferente de o lobo vê o homem. Embora essas orações

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contenham as mesmas palavras, seu sentido é diferente, pois em uma oração homem é
sujeito, em outra, é complemento do verbo, ou seja, objeto direto. Da mesma forma, a
palavra lobo, em uma oração é sujeito e em outra é complemento. Ora, não é preciso
analisar a oração para entendê-la, pois compreendemos e empregamos naturalmente essa
variação, que é característica de todas as línguas românicas. Em latim, não há essa
possibilidade de inverter a posição das palavras e modificar o sentido; sendo uma língua
declinada, a simples inversão da ordem não altera o sentido.
Em uma língua declinada, cada palavra (substantivo e adjetivo) traz no final uma
característica que identifica sua função sintática em uma oração. Se passarmos para o
latim os exemplos dados, homo videt lupum (o homem vê o lobo) e lupus videt hominem
(o lobo vê o homem), perceberemos que -além de não haver artigo, nem acentuação- as
palavras também se modificaram, quando se modificou o sentido.
Se tomarmos um desses exemplos, homo videt lupum, e simplesmente invertermos
a posição das palavras, sem alteração, não haverá mudança de sentido: videt homo lupum;
lupum homo videt; lupum videt homo. A tradução continuará sendo o homem vê o lobo.
Portanto, é preciso conhecer o quadro da relação caso-função e os quadros das declinações
de substantivos e adjetivos.

PARTE II

Caso é a variação ou flexão que as palavras apresentam no final. Cada caso está
relacionado basicamente a uma função sintática:
Nominativo, é o caso do sujeito e do predicativo do sujeito, em uma oração.
Vocativo é propriamente o vocativo.
Acusativo, é o caso do objeto direto.
Genitivo, é o caso do adjunto adnominal.
Dativo, é o caso do objeto indireto.
Ablativo, é o caso do adjunto adverbial e do agente da passiva.

Para praticar essa relação, leiamos as seguintes frases:


1. O aluno leu o livro.
2. Aluno, lê o livro.
3. O livro do aluno é grande.
4. O professor deu um livro ao aluno.
5. O professor ensina com o livro.
6. O livro foi lido pelos alunos.

Se fôssemos verter essas frases para o latim, em que caso colocaríamos as palavras
em destaque? Deve-se justificar a escolha. Por exemplo:
1. aluno – nominativo/sujeito; livro – acusativo/objeto direto.
Deve-se tentar responder a todas antes de ver as respostas. É importante que se
faça a análise sintática da frase toda, antes de determinar o caso.
Respostas:
2. aluno – vocativo/vocativo.
3. aluno – genitivo/adjunto adnominal; grande – nominativo/predicativo do
sujeito.
4. professor – nominativo/ sujeito; livro – acusativo/objeto direto; aluno –
dativo/objeto indireto.

4
5. livro – ablativo/adjunto adverbial.
6. alunos – ablativo/agente da passiva.

Devemos lembrar que antes de tentar aprender as teorias lingüísticas mais


complexas, é preciso dominar os fundamentos de sua própria língua.
Em uma frase como esta: O meu livro de história, que comprei neste ano, é
grande e pesado, é obrigação do aluno (futuro professor) conhecer a classe gramatical
das palavras e a função sintática de cada uma delas.
Para repetir o exercício anterior, em que caso ficariam as seguintes palavras:
livro – história – que – ano – grande – pesado?

PARTE III

Na língua latina, as palavras declináveis (substantivos e adjetivos) possuem tema


vocálico ou um radical consonântico. Didaticamente, elas se dividem em cinco
declinações, que correspondem às que têm tema –a, -o, -i, -u e as de radical consonântico.
A primeira declinação é de tema –a, com palavras femininas, na maioria, e
algumas masculinas. Vamos ao exemplo:
Magistra legit bonam fabulam.
A tradução dessa oração é “A professora lê uma boa fábula”. Deve-se lembrar que
a ordem da oração em latim não é necessariamente a mesma que em português.
Supondo-se que não saibamos sua tradução, como poderíamos traduzi-la?
Precisaríamos consultar um dicionário ou um glossário.
As palavras em latim mudam sua forma, ou seja, se declinam. Então, como elas
aparecem no dicionário?
A entrada lexical das palavras declináveis é o nominativo. Em seguida, vem o
genitivo. Os outros casos não aparecem como entrada lexical, portanto deveremos
conhecer a declinação das palavras para poder traduzi-las.
Mas como conhecer todas as palavras, com suas declinações? É claro que isso é
impossível. Então, deveremos conhecer um modelo que sirva para todas.
Modelo da primeira declinação, tema –a: fabula, -ae (f). Assim aparecem os
substantivos nos dicionários, primeiro o nominativo fabula, depois o genitivo fabulae e
por último o gênero (f), de feminino. O significado é fábula, conto, estória etc.
O adjetivo concorda com o substantivo em gênero, número e caso. Como o latim
tem gênero masculino, feminino e neutro, o adjetivo aparece nessas três formas, no
nominativo: bonus, bona, bonum; primeiro o masculino, depois o feminino e em seguida
o neutro.
Ocorre que fabulam não se encontra no nominativo; na oração dada, esse
substantivo está no acusativo, objeto direto do verbo legit, que será estudado mais adiante.
A conclusão é que deveremos conhecer o nominativo das palavras, para saber
como se declinam. Eis o modelo do tema –a:
SINGULAR PLURAL

N fabula bona fabulae bonae

V fabula bona fabulae bonae

A fabulam bonam fabulas bonas

G fabulae bonae fabularum bonarum

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D fabulae bonae fabulis bonis

Ab fabula bona fabulis bonis


Como se observa na tabela, o substantivo está acompanhado do adjetivo, fazendo-
se a concordância devida; os casos estão abreviados pelas letras iniciais; alguns casos são
coincidentes; nem todas as formas apresentam o –a do tema.
O mais importante é observar o nominativo singular, o genitivo singular e o
genitivo plural, pois este último determina o tema, com o final –arum.
Em todas as declinações, o genitivo plural é que determina o tema.
Felizmente, todas as palavras de tema –a seguem esse modelo. Conhecendo-o,
poderemos declinar qualquer palavra desse tema.
Dado o vocabulário, façamos a tradução:
Magistra, -ae (f): professora.
Fabula, -ae (f): fabula, conto, estória.
Discipula, -ae (f): discípula, aluna.
Bonus, bona, bonum: bom, boa, boa coisa (masculino, feminino e neutro).
Legit : lê, 3ª pessoa do singular, indicativo presente, voz ativa.
Legunt : lêem, 3ª pessoa do plural, indicativo presente, voz ativa.
Legitur : lê-se, 3ª pessoa do singular, indicativo presente, voz passiva.
Leguntur : lêem-se, 3ª pessoa do plural, indicativo presente, voz passiva.

1. Magistra legit fabulam bonam.


2. Discipula fabulam bonam legit.
3. Magistra bonas fabulas legit discipulis bonis.
4. Discipulae bonae legunt fabulas magistris.

Respostas:
1. A professora lê uma boa fábula. (Em latim, não há artigo.)
2. A aluna lê uma boa fábula. (A posição das palavras é aleatória.)
3. A professora lê boas fábulas às boas alunas. (Nominativo singular – acusativo
plural – dativo plural)
4. As boas alunas lêem boas fábulas às professoras. (Nominativo plural –
acusativo plural – dativo plural)

Para utilizar a voz passiva, é preciso lembrar que os verbos devem ser transitivos diretos,
que passam à voz passiva, o sujeito passa a agente da passiva e o objeto direto passa a
sujeito paciente. Assim, em “A professora lê a fábula”, na voz passiva será “A fábula é
lida pela professora”. O agente da passiva, em português é antecedido da preposição por,
contraída com o artigo (pelo, pela, pelos, pelas); em latim, a preposição é a ou ab, se a
palavra seguinte se inicia por vogal. O caso do agente da passiva é o ablativo.
Experimentemos traduzir:
5. Fabula bona legitur a magistra.
6. Bona fabula legitur a discipula.
7. Bonae fabulae leguntur a magistra discipulis bonis.
8. Fabulae leguntur a bonis discipulis magistris.

Respostas:
5. Uma boa fábula é lida pela professora. (Verbo na passiva analítica)

6
6. Uma boa fábula é lida pela aluna.
7. Boas fábulas são lidas pela professora às boas alunas. (O dativo/objeto indireto
permanece inalterado)
8. As fábulas são lidas pelas boas alunas às professoras.

PARTE IV

A segunda declinação é de tema –o, com palavras masculinas, na maioria, e


algumas femininas e neutras. Vamos ao exemplo:
Magister legit bonum librum. (O professor lê um bom livro.)
No dicionário, a entrada lexical dos substantivos é:
Magister, magistri (m): professor.
Liber, libri (m): livro.
Para saber como se declinam essas e todas as palavras de tema –o, observemos o
modelo de uma delas:

SINGULAR PLURAL
N magister magistri

V magister magistri

A magistrum magistros

G magistri magistrorum

D magistro magistris

Ab magistro magistris
Os substantivos masculinos desse tema têm também a terminação –us no nominativo
singular, mas o modelo é o mesmo. Por exemplo:
Magister legit bonum librum discipulo sedulo. (O professor lê um bom livro ao
aluno aplicado.)
Continuando o vocabulário:
Discipulus, discipuli (m): aluno, discípulo.
Sedulus, sedula, sedulum: aplicado, zeloso, estudioso.
Note-se que o substantivo se apresenta no nominativo, seguido do genitivo; o adjetivo
mantém as três formas (triforme ou de primeira classe), como em bonus, bona, bonum
(masculino, feminino e neutro).
Observemos este outro modelo de substantivo, acompanhado de adjetivo:

SINGULAR PLURAL

N discipulus sedulus discipuli seduli

V discipule sedule discipuli seduli

A discipulum sedulum discipulos sedulos

G discipuli seduli discipulorum sedulorum

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D discipulo sedulo discipulis sedulis

Ab discipulo sedulo discipulis sedulis


Note-se que nesta tabela, as terminações são idênticas às daquela, com exceção do
nominativo e vocativo singular.
Utilizando o vocabulário dado até aqui, façamos a tradução:
1. Magister legit librum discipulo.
2. Bonus magister legit librum discipulo sedulo.
3. Bonos libros magister sedulis discipulis legit.
4. Liber bonus a magistro sedulis discipulis legitur.

Deve-se evitar, antes de fazer o exercício, olhar estas respostas:


1. O professor lê um livro ao aluno. (Nominativo – acusativo – dativo)
2. O bom professor lê um livro ao aluno aplicado.
3. O professor lê bons livros aos alunos aplicados.
4. Um bom livro é lido pelo professor aos alunos aplicados. (Nominativo –
ablativo – dativo)

As palavras femininas, em menor número, seguem o mesmo modelo. No entanto, a


palavras de gênero neutro seguem este outro modelo:
SINGULAR PLURAL

N uerbum bonum uerba bona

V uerbum bonum uerba bona

A uerbum bonum uerba bona

G uerbi boni uerborum bonorum

D uerbo bono uerbis bonis

Ab uerbo bono uerbis bonis


O substantivo neutro uerbum é com u, e não v, pois esta letra só entra no alfabeto latino
no século XVI, junto com o j. Na forma maiúscula, escreve-se VERBUM, com a seguinte
entrada lexical:
Verbum, uerbi (n): palavra.
Note-se que o nominativo, vocativo e acusativo, no singular e no plural, são
idênticos. Isso deve acontecer sempre no gênero neutro.
Todas as palavras de tema –o fazem o genitivo singular em –i e o genitivo plural
em –orum; este último determina o tema das palavras.

Verter ao latim:
1. O aluno lê boas palavras no livro do professor. (A preposição em é in e se
emprega com ablativo, adjunto adverbial de lugar.)
2. Boas palavras no livro do professor são lidas pelo aluno.

Não se deve esquecer de que é preciso analisar em português, antes de tentar verter
ao latim. Cada palavra deve ser analisada e identificada com o respectivo caso latino.
Antes de olhar a resposta, é preciso ter feito a versão latina. É preciso repetir o exercício,
até compreender totalmente o processo.

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Respostas:
1. Discipulus legit bona uerba in libro magistri.
2. Bona uerba in libro magistri leguntur a discipulo.

Façamos uma síntese do que deve ser conhecido, para a continuação do estudo.
Substantivos de tema em –a, genitivo singular –ae e genitivo plural –arum.
Substantivos de tema em –o, genitivo singular –i e genitivo plural –orum.
Adjetivos de primeira classe: bonus, -a, -um.
Esse conhecimento básico é exigido com auxílio das tabelas e apontamentos dados
até aqui. Não se exige conhecimento ‘decorado’, mas é exigida a aplicação desse
processo, no estudo do latim, consultando dicionários e gramáticas.

1. Bonus magister bonum librum discipulo sedulo legit.


2. Magister bona librorum uerba discipulis legit.
3. Amicus certus in hora incerta cernitur.
4. Verbum incertum in momento incerto dicitur.
5. Bona exempla a magistro discipulis dantur.
6. Magister pulchras bonorum librorum sententias discipulis legit.
7. Discipulus librum pulchrarum sententiarum legit.
8. Discipuli a librorum sententiis erudiuntur.
9. Declinar
a. bonus liber b. pulchra sententia
c. pulchrum exemplum d. uerbum certum

1. Incertus, -a, -um: incerto, incerta, (algo) incerto.


2. Cernitur: distinguir, ver; 3ª pessoa do singular, indicativo
presente, voz passiva.
3. Dicitur: dizer; 3ª pessoa do singular, indicativo presente, voz
passiva.
3. Certus, -a, -um: certo, certa, (algo) certo.
4. Pulcher, pulchra, pulchrum: belo, bela, (algo) belo.
5. Sententia, -ae (f): sentença, opinião, pensamento.
6. Amicus, -i (m): amigo.
7. Hora, -ae (f): hora; tempo.

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8. Erudiuntur: educar, instruir; 3ª pessoa do plural, indicativo presente, voz
passiva.
9. Exemplum, -i (n): exemplo.
Como se percebe, o vocabulário é complementar, ou seja, apenas as palavras que
não apareceram são dadas. As outras já estão nos exercícios anteriores. Não adianta querer
fazer esses exercícios, se o processo não foi seguido, desde o início, em detalhes. As
respostas seguintes devem comprovar a competência do aluno para passar para a próxima
unidade.

Respostas:
1. O bom professor lê um bom livro ao aluno aplicado.
2. O professor lê boas palavras dos livros aos alunos.
3. O amigo certo se vê na hora incerta.
4. Palavra incerta é dita em momento incerto.
5. Bons exemplos são dados pelo professor aos alunos.
6. O professor lê belas sentenças dos bons livros aos alunos.
7. O aluno lê o livro de belas sentenças.
8. Os alunos são educados pelas sentenças dos livros.
9. Declinação de substantivos e adjetivos:
a.
SINGULAR PLURAL
N Bonus liber Boni libri
V bone liber Boni libri
A Bonum librum Bonos libros
G Boni libri Bonorum librorum
D Bono libro Bonis libris
AB Bono libro Bonis libris
b.
SINGULAR PLURAL
N Pulchra sententia Pulchrae sentintiae
V Pulchra sentintia Pulchrae sentintiae
A Pulchram sentintiam Pulchras sentintias
G Pulchrae sentintiae Pulchrarum sentintiarum
D Pulchrae sentintiae Pulchris sentintiis
AB Pulchra sentintia Pulchris sentintiis
c.
SINGULAR PLURAL
N Pulchrum exemplum Pulchra exempla
V Pulchrum exemplum Pulchra exempla
A Pulchrum exemplum Pulchra exempla
G Pulchri exempli Pulchrorum exemplorum
D Pulchro exemplo Pulchris exemplis
AB Pulchro exemplo Pulchris exemplis
d.
SINGULAR PLURAL

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N Verbum certum Verba certa
V Verbum certum Verba certa
A Verbum certum Verba certa
G Verbi certi Verborum certorum
D Verbo certo Verbis certis
AB Verbo certo Verbis certis
PARTE IV

A partir de agora, temos condições de consultar um dicionário e conhecer mais de


cinqüenta por cento das palavras do vocabulário latino. De fato, as palavras de tema A e
de tema O são as mais numerosas. Como não é impossível apresentar todas neste tempo
e espaço, apresenta-se um modelo que possibilitará o acesso a todas as outras. Esse
modelo funciona como uma chave que abrirá as travas para o conhecimento.
O próximo passo é conhecer um grupo de palavras, menos numeroso, mas muito
importante para avançar no estudo; trata-se do grupo de palavras que não têm tema
vocálico, ou seja, sua base de flexão ou declinação é formada sem uma vogal. As
desinências se juntam a uma base consonantal.
Como todas as outras, essas palavras também se caracterizam pelo genitivo, que no
singular é –IS e no plural é –VM; a gramática as classifica como a 3ª declinação.
Nesta mesma parte, iniciaremos também o estudo dos verbos, pois começaremos a ler
alguns trechos originais latinos.
Iniciemos com uma inscrição tumular à beira de uma estrada:
Viator, uiator, quod es, ego fui, quod nunc sum, et tu eris.
A palavra uiator é de 3ª declinação e aparece no dicionário assim:
Viator, uiatoris (m): caminhante, viajante.
O sentido se refere a quem vai por um caminho, por uma via. Como se sabe, a primeira
forma indica o nominativo, entrada lexical; a segunda forma indica o genitivo. Nesta,
deve-se observar o seguinte: vem abreviada (-oris); há uma marca, como um traço reto,
sobre o o, que indica a quantidade. Essa característica da língua latina não passou às
línguas românicas, mas é importante para a prosódia latina, ou seja, para pronunciar
corretamente. Assim, essa marca que parece um traço indica que a vogal é longa; se ela
tivesse a forma de curva, indicaria que a vogal seria breve. Em que isso importa? Se a
penúltima vogal de uma palavra for longa, pronuncia-se como paroxítona; se for breve,
pronuncia-se como proparoxítona. Então, a leitura do genitivo é “uiatôris”, porque o o
(penúltima sílaba) é longo; se fosse breve, a pronúncia seria “uiátoris”. Não existem
oxítonas em latim!
No entanto, a característica mais importante que o dicionário nos dá é que o genitivo
termina em –is. Vejamos a declinação dessa palavra na tabela:
SINGULAR PLURAL
N Viator Viatores
V Viator Viatores
A Viatorem Viatores
G Viatoris Viatorum
D Viatori Viatoribus
AB Viatore Viatoribus
A tradução da inscrição é: “Caminhante, caminhante, o que és, eu fui; o que agora sou,
também tu serás.”

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Nota-se que o substantivo uiator está no vocativo singular e que a estrutura das orações
é idêntica à estrutura em língua portuguesa.
O verbo ser aparece repetidas vezes, com formas latinas muito semelhantes às
portuguesas: es, fui e sum. Apenas a última forma é diferente. Assim como os
substantivos, os verbos aparecem no dicionário latino de forma diferente do dicionário
português. A entrada lexical é a 1ª pessoa do singular do indicativo presente: sum; em
seguida vem a 1ª pessoa do indicativo perfeito: fui; por último, aparece o infinitivo: esse.
Isso vale para todos os verbos, em todos os dicionários de latim. Vejamos esta
apresentação do verbo ser:
Sum, fui, esse: ser, estar; existir...
Portanto, para saber de um verbo num dicionário latino, é preciso conhecer a 1ª pessoa
do indicativo presente, isto é, a entrada lexical. No dicionário português, a entrada lexical
é o infinitivo.
Vejamos a conjugação do indicativo presente:
Sum, es, est, sumus, estis, sunt.
Sua tradução: sou, és, é, somos, sois, são. Devem-se notar a semelhança das formas e a
ausência dos pronomes pessoais (ego/eu; tu/tu; ille/ele; nos/nós; uos/vós; illi/eles), pois
cada forma verbal indica o sujeito.
A conjugação do indicativo perfeito:
Fui, fuisti, fuit, fuimus, fuistis, fuerunt.
Sua tradução: fui, foste, foi, fomos, fostes, foram.
Essas formas latinas representam o modo indicativo em dois aspectos: um é durativo,
inacabado (sou, continuo sendo); outro, concluído, acabado (fui, existi). Essas duas
formas de aspecto são muito importantes para formação dos modos e dos tempos.
A conjugação do futuro:
Ero, eris, erit, erimus, eritis, erunt.
Sua tradução: serei, serás, será, seremos, sereis, serão.
Complementando o vocabulário:
Quod (pronome indefinido singular neutro): que, o que, aquilo que.
Nunc (advérbio): agora.
Et (conjunção/advérbio): e; também.

Tendo relido a inscrição em latim, vamos traduzir:


1. Discipuli, discipuli, quod fui, uos estis nunc.
2. Discipule, discipule, quod sum, et tu eris.
3. Magister, magister, quod sumus, et tu fuisti.

Verter ao latim:
1. Caminhantes, caminhantes, o que sois agora, nós também fomos; o que sereis,
somos agora.
2. Os alunos serão o que os professores são agora.

Antes de ver as respostas, é preciso ter feito o exercício.


Respostas (tradução):
1. Alunos, alunos, o que fui, vós sois agora.
2. Aluno, aluno, o que sou, também tu serás.
3. Professor, professor, o que somos, também tu foste.

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Respostas (versão):
1. Viatores, uiatores, quod estis nunc, nos et fuimus; quod eritis, sumus nunc.
2. Discipuli erunt quod magistri sunt nunc.
Todo o vocabulário visto até aqui será reaproveitado nas futuras lições, sem que
necessariamente seja dado de novo. Assim, é preciso lembrar que cada lição nova
pressupõe o conhecimento das anteriores.
Para complementar o estudo do verbo ser, eis as tabelas completas dos aspectos,
modos e tempos:

Aspecto inacabado (Infectum)


INDICATIVO SUBJUNTIVO IMPERATIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO PRESENTE PASSADO PRES. FUT.
(Sou) (Era) (Serei) (Seja) (Fosse)
Sum Eram Ero Sim Essem
Es Eras Eris Sis Esses Es Esto
Est Erat Erit Sit Esset Esto
Sumus Eramus Erimus Simus Essemus
Estis Eratis Eritis Sitis Essetis Este Estote
Sunt Erant Erunt Sint Essent Sunto
Aspecto acabado (Perfectum)
INDICATIVO SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO PRESENTE PASSADO
(Fui) (Fora) (Terei sido) (Tenha sido) (Tivesse sido)
Fui Fueram Fuero Fuerim Fuissem
Fuisti Fueras Fueris Fueris Fuisses
Fuit Fuerat Fuerit Fuerit Fuisset
Fuimus Fueramun Fuerimus Fuerimus Fuissemus
Fuistis Fueratis Fueritis Fueritis Fuissetis
Fuerunt Fuerant Fuerint Fuerint Fuissent
Note-se que o tempo passado do indicativo, no infectum, é o pretérito imperfeito;
no perfectum, é o pretérito mais-que-perfeito; a 3ª pessoa do plural no indicativo presente
do perfectum pode variar: fuerunt/fuere (ambas as formas pronunciadas como
paroxítonas, pois a penúltima sílaba é longa); as bases verbais que servem de tema são
mantidas em cada aspecto: es-/er-/su-/si- para o infectum, e fupara o perfectum.
Além dos substantivos sem uma vogal temática, como uiator, a 3ª declinação
engloba também substantivos de tema em –i, como ciuis (lê-se kiuis) “cidadão” ou como
urbs “urbe, cidade”, que, como os substantivos de tema consonantal, fazem genitivo
singular em –is. A diferença se faz pelo genitivo plural, que esses substantivos em –i
fazem em –ium, ao invés de –um. Vejamos suas tabelas:
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
N Ciuis Ciues Vrbs Vrbes
V Ciuis Ciues Vrbs Vrbes
A Ciuem Ciues Vrbem Vrbes
G Ciuis Ciuium Vrbis Vrbium
D Ciui Ciuibus Vrbi Vrbibus
AB Ciue Ciuibus Vrbe Vrbibus

13
Assim, vamos verter ao latim:
1. Urbe do cidadão;
2. Urbe dos cidadãos;
3. Cidadão da urbe; 4. Cidadãos das urbes.

Respostas:
1. Vrbs ciuis; 2. Vrbs ciuium; 3. Ciuis urbis; 4. ciues urbium. Lembrando-se
sempre que a locução adjetiva em português se verte ao latim com genitivo.

As gramáticas latinas fazem uma distinção quanto ao número de sílabas no


nominativo e no genitivo: se em ambos os casos o número de sílabas é igual, par,
denomina-se parissílabo (ciuis, ciuis); se o número de sílabas não é igual, ímpar,
denomina-se imparissílabo (uiator, uiatoris).
Resumindo: os substantivos que têm genitivo singular em –is classificam-se na 3ª
delinação.

1. Magistra legit librum legum discipulo.


2. Ciuis legit librum legum magistro.
3. Magister, ut ciuis, docet legem discipulis.
4. Discipuli discunt leges urbis.
5. Líber ciuium habet leges urbium.
6. Ciues discunt cum legibus.

Lex, legis (f): lei.


Vt (advérbio): como, do mesmo modo que.
Docet (3ª pessoa do indicativo presente, singular): ensina (algo a alguém).
Discunt (3ª pessoa do indicativo presente, plural): aprendem.
Habet (3ª pessoa do indicativo presente, singular): tem. Cum
(preposição): com (caso ablativo).

Para comparação, segue-se a tabela de lex ‘lei’:


SINGULAR PLURAL
N Lex Leges
V Lex Leges
A Legem Leges
G Legis Legum
D Legi Legibus
AB Lege Legibus
Respostas:
1. A professora lê o livro das leis ao aluno.
2. O cidadão lê o livro das leis ao professor.
3. O professor, como cidadão, ensina lei aos alunos.

14
4. Os alunos aprendem as leis da cidade.
5. O livro dos cidadãos tem leis das cidades.
6. Os cidadãos aprendem com as leis.

Conforme foi visto, os substantivos têm tema em –a (1ª declinação: discipula), em


–o (2ª declinação: discipulus), em –i (3ª declinação: ciuis) e em consoante (3ª declinação:
uiator).
Os adjetivos de tipo triforme (1ª classe: bonus, a, um) seguem a declinação dos
substantivos de 1ª e 2ª declinação. Por exemplo: bonus discipulus, bona discipula, bonum
uerbum.
Os outros adjetivos, chamados de 2ª classe, seguem a 3ª declinação dos
substantivos. Eles se apresentam como de tipo biforme (omnis, omne: todo) ou uniforme
(felix, felicis: feliz); (prudens, prudentis: prudente); (uetus, ueteris: velho). Os adjetivos
biformes apresentam a 1ª forma em –is (omnis) para substantivos masculinos e femininos,
e a 2ª forma em –e (omne) para substantivos neutros. Os adjetivos uniformes apresentam
uma única forma para os três gêneros e vêm sempre seguidos do genitivo singular
(prudens, prudentis).

Vamos verter ao caso nominativo do latim as seguintes expressões:


1. Todo aluno; toda aluna; toda palavra.
2. Professor feliz; professor prudente; palavra prudente.
3. Professora feliz; professora prudente; palavras prudentes.
4. Cidadão feliz; cidadão prudente; cidadão velho.
5. Cidadãos felizes; palavras velhas; professores prudentes.
6. Urbe feliz; urbe velha; urbes velhas.

Respostas:
1. Omnis discipulus; omnis discipula; omne uerbum.
2. Magister felix; magister prudens; uerbum prudens.
3. Magistra felix; magistra prudens; uerba prudentia.
4. Ciuis felix; ciuis prudens; ciuis uetus.
5. Ciues felices; uerba uetera; magistri prudentes.
6. Vrbs felix; urbs uetus; urbes ueteres.

Esses adjetivos de 2ª classe também são de tema em –i (omnis, e; felix, -cis;


prudens, -entis) ou de tema consonantal (uetus, -eris). Observem-se suas tabelas:
SINGULAR PLURAL
M/F N M/F N
N Omnis Omne Omnes Omnia
A Omnem Omne Omnes Omnia
G Omnis Omnis Omnium Omnium
D Omni Omni Omnibus Omnibus
AB Omni Omni Omnibus Omnibus
SINGULAR PLURAL
M/F N M/F N
N Felix Felix Felices Felicia

15
A Felicem Felix Felices Felicia
G Felicis Felicis Felicium Felicium
D Felici Felici Felicibus Felicibus
AB Felici Felici Felicibus Felicibus
SINGULAR PLURAL

M/F N M/F N
N Prudens Prudens Prudentes Prudentia
A Prudentem Prudens Prudentes Prudentia
G Prudentis Prudentis Prudentium Prudentium
D Prudenti Prudenti Prudentibus Prudentibus
AB Prudenti Prudenti Prudentibus Prudentibus
SINGULAR PLURAL

M/F N M/F N
N Vetus Vetus Veteres Vetera
A Veterem Vetus Veteres Vetera
G Veteris Veteris Veterum Veterum
D Veteri Veteri Veteribus Veteribus
AB Veteri Veteri Veteribus Veteribus
Para confirmar a compreensão, basta declinar as respostas do exercício anterior.
P.S. – Notar o ablativo singular em –i, diferente dos substantivos.

PARTE V

Para o seguimento natural do curso, essas noções de substantivos e adjetivos serão


necessárias, sem que se repita sua teoria, pois em todo léxico latino elas se aplicam da
mesma forma. O mesmo vale para as noções iniciais do verbo.
O verbo em latim também se forma por temas, o que a gramática denomina conjugação
regular, como em português. Há verbos de tema em –a, -e, -i e verbos de tema
consonântico, em que a ausência de vogal temática torna necessário o emprego de uma
vogal de ligação, -Ɵ- breve. As vogais temáticas são sempre longas.
A correspondência com o sistema verbal português é evidente, no entanto ela não é
obrigatória.
Verbos de tema A são aqueles que apresentam esse tema para formar o infinitivo em –
Ɨre. Todos eles se classificam na 1ª conjugação. Como de hábito, daremos um modelo
para que sirva para todos os outros verbos dessa conjugação: AmƗre: “amar”.
No dicionário, ele se apresenta do mesmo modo do verbo ser:
Amo, amƗre; amaui, amatum.
Note-se que a entrada lexical é amo, 1ª pessoa do singular, indicativo presente, voz ativa,
no infectum (aspecto inacabado). Também no infectum está amare. Essas formas verbais
são obrigatórias, pois com elas podem-se formar os modos, os tempos e as vozes, em toda
sua flexão.
Também são obrigatórias as formas do perfectum (aspecto acabado); amaui ‘amei’ dá o
tema para a conjugação de todas as formas ativas do perfectum. Amatum é um
substantivo verbal (denominado supino) que forma o particípio passado passivo, como
um adjetivo de 1ª classe: amatus, amata, amatum.

16
Essa apresentação dos verbos no dicionário vale para todas as conjugações.
Vejamos um modelo completo para a 1ª conjugação:
Tema -Ɨ (Infectum)
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO
(amo/sou amado) (amava/era amado) (amarei/serei amado)
ativo passivo ativo passivo ativo passivo
amo amor amabam amabar amabo amabor
amas amaris/-re amabas amabaris/-re amabis amaberis/-re
amat amatur amabat amabatur amabit amabitur
amamus amamur amabamus amabamur amabimus amabimur
amatis amamini amabatis amabamini amabitis amabimini
amant amantur amabant amabantur amabunt amabuntur
Note-se que, no indicativo, há presente, passado e futuro. Quando o verbo
for transitivo, há voz ativa e passiva. A segunda pessoa do singular da voz passiva
no infectum possui uma variação em –re, que se emprega na poesia. Os sinais de
vogal longa (³) e breve ( ) servem para ajudar a pronúncia. Não existem oxítonas
em latim.

SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO
(ame/seja amado) (amasse/fosse amado)
ativo passivo ativo passivo
amem amer amarem amarer
ames ameris/-re amares amareris/-re
amet ametur amaret amaretur
amemus amemur amaremus amaremur
ametis amemini amaretis amaremini
ament amentur amarent amarentur

Note-se que, no subjuntivo, não há futuro, diferente do português, que é a


única língua ocidental que o emprega. No imperativo, infinitivo e particípio só há
presente e futuro.
IMPERATIVO
PRESENTE FUTURO
ativo passivo ativo passivo

17
ama (ama) amare (sê amado) amato (ama) amator (sê amado)
amato (ame ele) amator (seja amado)

amate (amai) amamini amatote (amai)


(sede amados)
amanto (amem eles) amantor (sejam amados)

INFINITIVO
PRESENTE FUTURO
[radical do SUPINO]
ativo passivo ativo passivo
amare amari amaturum, -am, -um amatum iri
(amar) (ser amado) esse (haver de amar) (haver de ser amado)

PARTICÍPIO
PRESENTE FUTURO
ativo passivo Ativo [radical do passivo
SUPINO] [GERUNDIVO]
amans, -antis amaturus, -a, -um amandus, -a, -um
(amante; que ama) (havendo de amar) (havendo de ser amado)

GERÚNDIO
(declinação do INFINITIVO)
Nominativo amare (amar)
Acusativo amandum (amar)
Genitivo amandi (de amar)
Dativo amando (para o amar)
Ablativo amando (pelo amar/amando)

O gerúndio é como uma declinação do infinitivo, necessária pela ausência


de artigo.
Tema –Ɨ (Perfectum)

18
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO
(amei/fui amado) (amara/fora amado) (terei amado/terei sido
amado)

ativo passivo ativo passivo ativo passivo


amaui amatus, a, amaueram amatus, a, amauero amatus, a,
um sum um eram um ero
amauisti amatus, a, amaueras amatus, a, amaueris amatus, a,
um es um eras um eris
amauit amatus, a, amauerat amatus, a, amauerit amatus, a,
um est um erat um erit
amauimus amati, ae, a amaueramus amati, ae, a amauerimus amati, ae, a
sumus era mus eri mus

amauistis amati, ae, a amaueratis amati, ae, a amaueritis amati, ae, a


estis eratis
eri tis
amauerunt/ amati, ae, a amauerant amati, ae, a amauerint amati, ae, a
amauere sunt erant erunt

Atenção às formas passivas do perfectum, que empregam o particípio


passado passivo com a conjugação do verbo ser. Como o particípio se apresenta
como um adjetivo de 1ª classe, há variação de pessoa, número e gênero. Assim,
‘eu fui amado’ é amatus sum, ‘eu fui amada’ é amata sum, ‘eu fui coisa amada’
é amatum sum; tudo isso no plural: amati sumus, amatae sumus, amata sumus.
O indicativo presente no perfectum corresponde ao que a gramática
portuguesa denomina pretérito perfeito do indicativo.
A 3ª pessoa do plural, no presente, na voz ativa, possui variante.
SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO
(tenha amado/tenha sido amado) (tivesse amado/tivesse sido amado)
ativo passivo ativo passivo
amauerim amatus, a, um sim amauissem amatus, a, um
essem

19
amaueris amatus, a, um sis amauisses amatus, a, um
esses

amauerit amatus, a, um sit amauisset amatus, a, um


esset

amauerimus amati, ae, a simus amauissemus amati, ae, a


essemus
amaueritis amati, ae, a sitis amauissetis amati, ae, a essetis
amauerint amati, ae, a sint amauissent amati, ae, a essent
INFINITIVO PARTICÍPIO
ativo passivo ativo [SUPINO] passivo
amauisse amatum, am, um amatum (para amatus, a, um
(ter amado) esse amar)/ (amado)
(ter sido amado) amatu (de amar)
Verbos de tema E são aqueles que apresentam esse tema para formar o infinitivo em –
Ɲre. Todos eles se classificam na 2ª conjugação. Eis o modelo:
DelƝre: ‘apagar; destruir’(lê-se ‘delêre’).
No dicionário: deleo, delere; deleui, deletum.
Note-se a vogal temática, sempre longa, em todas as formas do infectum (deleo, delere)e
do perfectum (deleui, deletum).

Tema -Ɲ (Infectum)
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO
(destruo/sou destruído) (destruía/era destruído) (destruirei/serei destruído)
ativo passivo ativo passivo ativo passivo
deleo deleor delebam delebar delebo delebor
deles deleris/-re delebas delebaris/-re delebis deleberis/-re
delet deletur delebat delebatur delebit delebitur
delemus delemur delebamus delebamur delebimus delebimur
deletis delemini delebatis delebamini delebitis delebimini
delent delentur delebant delebantur delebunt delebuntur

SUBJUNTIVO

20
PRESENTE PASSADO
(destrua/seja destruído) (destruísse/fosse destruído)
ativo passivo ativo passivo
deleam delear delerem delerer
deleas delearis/-re deleres delereris/-re
deleat deleatur deleret deleretur
deleamus deleamur deleremus deleremur
deleatis deleamini deleretis deleremini
deleant deleantur delerent delerentur

IMPERATIVO
PRESENTE FUTURO
ativo passivo ativo passivo

dele (destrói) delere (sê destruído) deleto (destrói) deletor (sê destruído)
deleto (destrua) deletor (seja destruído)

delete delemini (sede deletote


(destruí) destruídos) (destruí)
delento delentor (sejam
(destruam) destruídos)

INFINITIVO
PRESENTE FUTURO
[radical do SUPINO]
ativo passivo ativo passivo
delere deleri (ser deleturum, am esse deletum iri (haver de
(destruir) destruído) (haver de destruir) ser destruído)

PARTICÍPIO
PRESENTE FUTURO

21
ativo passivo Ativo passivo
[radical do [GERUNDIVO]
SUPINO]
delens, -entis deleturus, a, um delendus, a, um (havendo
(destruinte; que (havendo de destruir) de ser destruído)
destrói)

GERÚNDIO
(declinação do INFINITIVO)
Nominativo delere (destruir)
Acusativo delendum (destruir)
Genitivo delendi (de destruir)
Dativo delendo (para o destruir)
Ablativo delendo (pelo destruir; destruindo)
Tema –Ɲ (Perfectum)
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO
(destruí/fui destruído) (destruíra/fora destruído) (terei destruído/terei sido
destruído)

ativo passivo ativo passivo ativo passivo


deleui deletus deleueram deletus deleuero deletus ero
sum eram
deleuisti deletus es deleueras deletus deleueris deletus eris
eras
deleuit deletus est deleuerat deletus deleuerit deletus erit
erat

deleuimus deleti deleueramus deleti deleuerimus deleti


sumus era mus erimus

deleuistis deleti estis deleueratis deleti deleueritis deleti eritis

eratis
deleuerunt deleti sunt deleuerant deleti deleuerint deleti
erant erunt

22
SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO
(tenha destruído/tenha sido destruído) (tivesse destruído/tivesse sido
destruído)

ativo passivo ativo passivo


deleuerim deletus, a, um sim deleuissem deletus, a, um
essem

deleueris deletus, a, um sis deleuisses deletus, a, um


esses

deleuerit deletus, a, um sit deleuisset deletus, a, um


esset

deleuerimus deleti, ae, a simus deleuissemus deleti, ae, a


essemus

deleueritis deleti, ae, a sitis deleuissetis deleti, ae, a essetis


deleuerint deleti, ae, a sint deleuissent deleti, ae, a essent

INFINITIVO PARTICÍPIO
ativo passivo ativo [SUPINO] passivo
deleuisse deletum (para deletus, a, um
deletum, am, um
(ter destruído) destr.)/ (destruído)
esse deletu (de destruir)
(ter sido destruído)

Verbos de tema consonântico ou de tema zero são aqueles que se apresentam sem
vogal temática. A forma do infinitivo é também em –Ɵre, mas com e breve, pois essa
vogal é apenas de ligação. Todos eles se classificam na 3ª conjugação. Eis o modelo:
LegƟre: ‘ler’ (lê-se ‘légere’).
No dicionário: lego, legere; legi, lectum.
Tema zero (Infectum)
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO
(leio/sou lido) (lia/era lido) (lerei/serei lido)
ativo passivo ativo passivo ativo passivo
lego legor legebam legebar legam legar

23
legis legeris/- legebas legebaris/- leges legeris/-re
re re
legit legitur legebat legebatur leget legetur
legimus legimur legebamus legebamur legemus legemur
legitis legimini legebatis legebamini legetis legemini
legunt leguntur legebant legebantur legent legentur
SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO
(leia/seja lido) (lesse/fosse lido)
ativo passivo ativo passivo
legam legar legerem legerer
legas legaris/- legeres legereris/-
re re
legat legatur legeret legeretur
legamus legamur legeremus legeremur
legatis legamini legeretis legeremini
legant legantur legerent legerentur
IMPERATIVO
PRESENTE FUTURO
ativo passivo ativo passivo

lege (lê) legere (sê lido) legito (lê) legitor (sê lido)
legito (leia) legitor (seja lido)

legite (lede) legimini (sede legitote (lede)


lidos)
legunto leguntor (sejam
(leiam) lidos)

INFINITIVO
PRESENTE FUTURO
[radical do SUPINO]
ativo passivo ativo passivo
legere legi (ser legiturum, am esse (haver lectum iri (haver de ser
(ler) lido) de ler) lido)

24
PARTICÍPIO
PRESENTE FUTURO
ativo passivo Ativo passivo
[radical do SUPINO] [GERUNDIVO]
legens, -entis lecturus, a, um legendus, a, um (havendo
(lente; que lê) (havendo de ler) de ser lido)

GERÚNDIO
(declinação do INFINITIVO)
Nominativo legere (ler)
Acusativo legendum (ler)
Genitivo legendi (de ler)
Dativo legendo (para o ler)
Ablativo legendo (pelo ler; lendo)
Tema zero (Perfectum)
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO
(li/fui lido) (lera/fora lido) (terei lido/terei sido lido)
ativo passivo ativo passivo ativo passivo
legi lectus sum legeram lectus eram legero lectus ero
legisti lectus es legeras lectus eras legeris lectus eris
legit lectus est legerat lectus erat legerit lectus erit
legimus lecti sumus legeramus lecti eramus legerimus lecti erimus
legistis lecti estis legeratis lecti eratis legeritis lecti eritis
legerunt lecti sunt legerant lecti erant legerint lecti erunt

SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO
(tenha lido/tenha sido lido) (tivesse lido/tivesse sido lido)
ativo passivo ativo passivo
legerim lectus, a, um sim legissem lectus, a, um essem
legeris lectus, a, um sis legisses lectus, a, um esses

25
legerit lectus, a, um sit legisset lectus, a, um esset
legerimus lecti, ae, a simus legissemus lecti, ae, a essemus
legeritis lecti, ae, a sitis legissetis lecti, ae, a essetis
legerint lecti, ae, a sint legissent lecti, ae, a essent

INFINITIVO PARTICÍPIO
ativo passivo ativo [SUPINO] passivo
legisse lectum, am, um esse lectum (para ler)/ lectus, a, um
(ter lido) (ter sido lido) lectu (de ler) (lido)
Verbos de tema I são aqueles que apresentam esse tema para formar o infinitivo
em –Ưre. Todos eles se classificam na 4ª conjugação. Eis o modelo: AudƯre: ‘ouvir’.
No dicionário: audio, audire; audi, auditum.
Tema –Ư (Infectum)
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO
(ouço/sou ouvido) (ouvia/era ouvido) (ouvrei/serei ouvido)
ativo passivo ativo passivo ativo passivo
audio audior audiebam audiebar audiam audiar
audis audiris/-re audiebas audiebaris/re audies audieris/-re
audit auditur audiebat audiebatur audiet audietur
audimus audimur audiebamus audiebamur audiemus audiemur
auditis audimini audiebatis audiebamini audietis audiemini
audiunt audiuntur audiebant audiebantur audient audientur

SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO
(ouça/seja ouvido) (ouvisse/fosse ouvido)
ativo passivo ativo passivo
audiam audiar audirem audirer
audias audiaris/-re audires audireris/-re
audiat audiatur audiret audiretur
audiamus audiamur audiremus audiremur
audiatis audiamini audiretis audiremini

26
audiant audiantur audirent audirentur

IMPERATIVO
PRESENTE FUTURO

ativo passivo ativo passivo

audi (ouve) audire (sê ouvido) audito (ouve) auditor (sê ouvido)
audito (ouça) auditor (seja ouvido)

audite audimini (sede auditote (ouvi)


(ouvi) ouvidos)

audiunto audiuntor (sejam


(ouçam) ouvidos)

INFINITIVO
PRESENTE FUTURO
[radical do SUPINO]
ativo passivo ativo passivo
audire audiri (ser auditurum, am, um esse auditum iri (haver de
(ouvir) lido) (haver de ouvir) ser ouvido)

PARTICÍPIO
PRESENTE FUTURO
ativo passivo Ativo [radical do passivo
SUPINO] [GERUNDIVO]
audiens, -entis auditurus, a, um audiendus, a, um
(ouvinte; que ouve) (havendo de ouvir) (havendo de ser ouvido)

GERÚNDIO
(declinação do INFINITIVO)
Nominativo audire (ouvir)
Acusativo audiendum (ouvir)

27
Genitivo audiendi (de ouvir)
Dativo audiendo (para o ouvir)
Ablativo audiendo (pelo ouvir; ouvindo)
Tema –Ư (Perfectum)
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO
(ouvi/fui ouvido) (ouvira/fora ouvido) (terei ouvido/terei sido
ouvido)

ativo passivo ativo passivo ativo passivo


audiui auditus audiueram auditus audiuero auditus ero
sum eram
audiuisti auditus es audiueras auditus audiueris auditus eris
eras
audiuit auditus est audiuerat auditus audiuerit auditus erit
erat

audiuimus auditi audiueramus auditi audiuerimus auditi


sumus eramus erimus

audiuistis auditi estis audiueratis auditi audiueritis auditi eritis


eratis
audiuerunt auditi sunt audiuerant auditi erant audiuerint auditi erunt

SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO
(tenha ouvido/tenha sido ouvido) (tivesse ouvido/tivesse sido ouvido)
ativo passivo ativo passivo
audiuerim auditus, a, um sim audiuissem auditus, a, um essem
audiueris auditus, a, um sis audiuisses auditus, a, um esses
audiuerit auditus, a, um sit audiuisset auditus, a, um esset
audiuerimus auditi, ae, a simus audiuissemus auditi, ae, a essemus
audiueritis auditi, ae, a sitis audiuissetis auditi, ae, a essetis
audiuerint auditi, ae, a sint audiuissent auditi, ae, a essent

28
INFINITIVO PARTICÍPIO
ativo passivo ativo [SUPINO] passivo
audiuisse auditum, am, um esse auditum (para ouvir)/ auditus, a, um
(ter ouvido) (ter sido ouvido) auditu (de ouvir) (ouvido)
Como se vê, as quatro conjugações regulares do latim equivalem às três do
português, pois a segunda e a terceira se fundem em uma só, com a perda da noção da
quantidade vocálica.
Para que se aplique esse sistema verbal, vamos estudar um epigrama de Marcial
(40 – 104 d. C.), em que aparecem um verbo da 1ª conjugação e outro da 2ª:

Esses dois versos foram escritos no século primeiro da nossa era por um poeta que
se caracterizou por satirizar personagens de sua época. Embora o tema desse pequeno
poema seja banal, sua forma obedece ao rígido sistema das composições poéticas da
Antigüidade clássica. Na verdade, essa composição caracteriza o que se denomina dístico
elegíaco, em que o primeiro verso tem seis medidas poéticas (hexâmetro), e o segundo
tem cinco (pentâmetro).
Os nomes próprios seguem as mesmas regras dos nomes comuns:
Quintus, -i (m): Quinto, nome de homem (tema –o, como discipulus).
Thais, Thaidis (f): Taís, nome de mulher (tema consonântico, como lex). Por ser
de origem grega, esse nome faz o acusativo à moda grega: Thaida, ao invés de Thaidem.
Nos outros casos mantém-se a regularidade. Eis sua declinação:
N/V – Thais; A- Thaida; G- Thaidis; D- Thaidi; Ab- Thaide.
O vocabulário restante aparece no dicionário assim:
A, ab (prepos. de ablativo – ag. Habeo, -Ɲre; habui,
da passiva): por [per]. habitum: haver;ter. Oculus, i (m): olho.

Amo, amare; amaui, amatum: Ille, illa, illud: aquele, Quis, quae, quid (pron. subs.
amar. aquela, aquilo. interrog.): que, quem.
Duo, duae, duo: dois, duas, Luscus, a, um: caolho, Vnus, a, um: um só, uma só,
duas coisas. caolha. uma só coisa.
Esse vocabulário servirá também para os exercícios propostos.
Para se traduzir um texto latino, deve-se proceder ao seguinte:
1. localizar o verbo;

29
2. identificar o aspecto, o modo, o tempo, a voz, a pessoa, o número;
3. localizar o sujeito desse verbo;
4. formar a oração com os termos do predicado;
5. relacionar essa oração à seguinte, na formação do período.

Observando-se o poema de Marcial, não é difícil identificar as orações, devido à


pontuação. O primeiro verbo é amat.
Como esse verbo está como paradigma da 1ª conjugação, torna-se fácil identificá-
lo, conjugando-o no infectum, indicativo, presente, ativo, 3ª pessoa, singular:
amo, amas, amat, amamus, amatis, amant.
O sujeito de amat é Quintus, nominativo singular.
A oração, na ordem direta, será Quintus amat Thaida, que se traduz ‘Quinto ama
Taís’. Portanto, Thaida, acusativo, é o complemento do verbo, chamado objeto direto.
Depois, observa-se que há uma pontuação interrogativa. Não há verbo. No
entanto, o verbo deve estar implícito na pergunta: Quam Thaida?. O que fica implícito
na pergunta está na afirmação, que é Quam Thaida (Quintus amat)?.
Para que se entenda a interrogação, é preciso saber algo sobre o pronome
interrogativo quis, quae, quid, que em português é quê? ou quem?. Em latim, esse
pronome se apresenta de três formas, a primeira para o masculino (entrada lexical do
dicionário), a segunda para o feminino, a terceira para o neutro. Como todos os pronomes,
eles se declinam e têm singular e plural:
SINGULAR PLURAL
M F N M F N
N quis/qui quis/quae/qua quid/quod qui quae quae/qua
A quem quam quid/quod quos quas quae/qua
G cuius cuius cuius quorum quarum quorum
D cui cui cui quibus quibus quibus
AB quo qua quo quibus quibus quibus
No nominativo masculino singular e no nominativo neutro singular e plural, há
duas formas: a primeira se usa como pronome interrogativo substantivo; a segunda, como
pronome substantivo adjetivo. Vejamos um exemplo:
O aluno lê um livro. Que aluno? O aluno aplicado.
Vertendo-se para o latim:
Discipulus legit librum. Qui discipulus? Discipulus sedulus.
Note-se que qui é pronome interrogativo adjetivo, pois funciona sintaticamente
como adjunto adnominal de discipulus, exatamente como em português.
Se a pergunta fosse Quem?, a tradução seria Quis?, pois o pronome interrogativo
é substantivo.
A diferença entre pronome interrogativo substantivo e pronome interrogativo
adjetivo é que o primeiro não vem acompanhado de substantivo; o segundo, vem.
No nominativo feminino singular, há três formas que são variantes, ou seja, pode-
se empregar uma ou outra, tanto para interrogativo substantivo como para interrogativo
adjetivo. Outro exemplo:
A aluna lê um livro. Que aluna? A aluna aplicada.

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Vertendo-se para o latim:
Discipula legit librum. Quae discipula? Discipula sedula.
Note-se que se poderia usar tanto quis quanto qua.
E, se a pergunta incidisse sobre o complemento verbal, como faríamos?
Vejamos o mesmo exemplo:
O aluno lê um livro. Que livro? Um livro de fábulas.
Vertendo-se para o latim:
Discipulus legit librum. Quem librum? Librum fabularum.
Como livro, em latim, é masculino singular, o pronome empregado é quem, se
fosse feminino, seria quam, se fosse neutro, seria quod (interrogativo adjetivo).
Vejamos ainda um outro exemplo:
O aluno lê uma bela fábula do livro. Que fábula?
Vertendo-se ao latim:
Discipulus legit pulchram fabulam libri. Quam fabulam?
Se a pergunta fosse ‘Quem lê?’, a tradução seria Quis legit?.
Agora, um exemplo com gênero neutro:
O aluno diz uma palavra. Que palavra?
Vertendo-se ao latim:
Discipulus dicit uerbum. Quod uerbum?
Se a pergunta fosse ‘(diz) o quê?’, a tradução seria Quid?.
Olhando a tabela dos interrogativos, podemos empregá-los em todas as situações,
tanto no singular quanto no plural.
O importante é observar que, na pergunta, o caso, o gênero e o número
acompanham o raciocínio da afirmação.
Assim, Quam Thaida está no acusativo feminino singular, porque na afirmação
também estava.
A resposta Thaida luscam também mantém a mesma forma, porque fica implícito
o que está na afirmação (Quintus amat).
A tradução do primeiro verso:
Quinto ama Taís. Que Taís? Taís caolha.
Para testar o entendimento, façamos um exercício, com os nomes Antonius, da 2ª
declinação, tema –o, e Antonia, da 1ª declinação, tema -a.
Verter para o latim:
1. Antônio ama Antônia. Que Antônio?/Quem (ama Antônia)?
2. Antônio ama Antônia. Que Antônia?/Quem (Antônio ama)?
3. Antônio é amado por Antônia. Por que Antônia?/Por quem (Antônio é
amado)?
4. Antônia é amada por Antônio. Por que Antônio?/Por quem (Antônia é amada)?

Respostas:
1. Antonius amat Antoniam. Qui Antonius?/ Quis?
2. Antonius amat Antoniam. Quam Antoniam?/ Quam?
3. Antonius amatur ab Antonia. A qua Antonia?/ A qua?
4. Antonia amatur ab Antonio. A quo Antonio?/ A quo?

Prosseguindo-se com a tradução do epigrama, no segundo verso encontramos


habet, que no vocabulário se apresenta assim:

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Habeo, habƝre; habui, habitum: haver; ter. Pela terminação do infinitivo
(habƝre), reconhecemos a 2ª conjugação. Na tabela, o modelo correspondente é deleo,
delƝre.
Em um bom dicionário, haverá muito mais informação acerca de significados e
construção sintática dos verbos. Em nossa aplicação, vamos nos restringir ao essencial.
Localizado o verbo, devemos determinar sua forma: aspecto, modo, tempo, voz,
pessoa e número. Assim:
Habeo, habes, habet, habemus, habetis, habent.
Portanto, sabemos que é infectum, indicativo, presente, ativo, 3ª pessoa, singular.
Devemos agora identificar o sujeito desse verbo.
Como vimos, Thais é nominativo, oculum é acusativo (tema –o), non é advérbio
de negação e unum é numeral, que se apresenta no vocabulário como um adjetivo de 1ª
classe: unus, una, unum.
Já sabemos que não há artigo em latim, nem definido nem indefinido. Quando se
usa o numeral um, há ênfase sobre a unidade, ou seja, significa um só. Assim, a expressão
unus discipulus significa ‘um só aluno’; una discipula, ‘uma só aluna’; unum uerbum,
‘uma só palavra’.
Dos ordinais, apenas os numerais um, dois e três se declinam:
Vnus, una, unum: um, uma, uma coisa.
Duo, duae, duo: dois, duas, duas coisas.
Tres, tria: três, três coisas.
M F N M F N M/F N
N unus una unum duo duae duo tres tria
A unum unam unum duos duas duo tres tria
G unius unius unius duorum duarum duorum trium trium
D uni uni uni duobus duabus duobus tribus tribus
AB uno una uno duobus duabus duobus tribus tribus
Devemos agora traduzir a oração com habet: “Taís não tem um só olho”.
Na oração seguinte, depois da vírgula, parece não haver verbo. No entanto, como
em português, tudo está implícito: Ille (non habet) duos (oculos).
O pronome demonstrativo de 3ª pessoa ille significa ‘aquele’. Em linguagem mais
coloquial, esse pronome se identifica com a pessoa, podendo-se traduzir por ‘ele’.
Eis sua declinação:
SINGULAR PLURAL
M F N M F N
N ille illa illud illi illae illa
A illum illam illud illos illas illa
G illius illius illius illorum illarum illorum

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D illi illi illi illis illis illis
AB illo illa illo illis illis illis
Completanto a tradução do último verso: “Taís não tem um só olho; ele, os dois”.
O pronome ille se refere a Quintus, que ama Taís caolha. A sátira é: se Taís não tem um
só olho, ele não tem os dois. Ou seja, o amor é cego.
Como se vê, o exercício de tradução de textos literários é trabalhoso e lento. A
consulta a dicionários e a tabelas nas gramáticas é indispensável, pois não se pode esperar
que alguém memorize todas as tabelas nominais, verbais e pronominais do latim. Assim,
paciência é a principal virtude daquele que quer aprender a traduzir. Não há atalhos. Os
textos literários e poéticos são os mais difíceis, pois empregam engenho e arte do escritor,
em sua máxima potência. Eles são expressão de arte pura. Portanto, a dificuldade que
alguém encontre para traduzi-los é proporcional à sua apuração artística, desejada pelo
autor.
Como vimos na tradução desse dístico elegíaco, o verbo haver dá o sentido de
posse. Então, podemos dizer, em latim:
Discipulus habet librum.
A tradução será: ‘O aluno tem um livro’.
No entanto, essa forma de expressar posse é coloquial. Há outra, mais literária,
que é empregada, quando o autor deseja ser mais formal:
Discipulo est liber.
A tradução será: ‘Para o aluno existe um livro’.
Essa forma de expressão de posse é chamada dativo de posse ou dativo ético.
Vejamos as diferenças formais: discipulus, nominativo sujeito, passa para o dativo;
habet, verbo transitivo, se substitui por est, verbo intransitivo de sentido existencial;
librum, acusativo objeto direto, passa para o nominativo, como o novo sujeito.
Resumindo, a coisa possuída passa para o nominativo, o possuidor passa para o
dativo e o verbo é esse ‘ser, existir’. Essa é a forma mais comum na poesia e nos textos
literários em geral.
Para entender, vertamos ao latim, usando dativo de posse, o seguinte período:
Quinto ama Tais, que tem um só olho.
Note-se que há duas orações e dois verbos. A segunda oração é subordinada
adjetiva, pois emprega um pronome relativo (que/a qual) a um termo da primeira (Taís).
Os pronomes relativos, em latim, são semelhantes aos pronomes interrogativos e
se apresentam deste modo:

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Qui, quae, quod: que, o qual, a qual. Como sempre, a primeira forma é para o
masculino, a segunda, para o feminino, e a terceira, para o neutro.
Vejamos sua tabela:
SINGULAR PLURAL
M F N M F N
N qui quae quod qui quae quae
A quem quam quod quos quas quae
G cuius cuius cuius quorum quarum quorum
D cui cui cui quibus quibus quibus
AB quo qua quo quibus quibus quibus
Se não usarmos o dativo de posse, a versão corresponderá mais ao português:
Quintus amat Thaida, quae habet unum oculum.
A oração relativa, como em português, tem um pronome relativo, que é sujeito de
habet. Por isso, em latim, esse relativo está no nominativo feminino singular (quae).
No dativo de posse, o nominativo passa para o dativo, o acusativo passa para o
nominativo e usa-se o verbo ‘ser’. Então, vejamos:
Quintus amat Thaida, cui est unus oculus.
Se quisermos verter ao latim este período ‘Taís é amada por Quinto, que não tem
os dois olhos’, deveremos proceder do mesmo modo:
Thais amatur a Quinto, cui non sunt duo oculi.
O verbo ser concorda com o novo sujeito (duo oculi), ficando no plural. Se, em
português, o verbo estivesse no passado (tinha), em latim ficaria erant; se estivesse no
futuro, erunt, e assim por diante.
Passemos agora para o dativo de posse o segundo verso do poema traduzido:
Vnum oculum Thais non habet, ille duos.
Conforme a tradução ‘Taís não tem um só olho, ele (não tem) os dois’:
Vnus oculus Thaidi non est, illi duo.
Para continuar esse estudo, devemos traduzir este outro poema de Marcial:

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Como se vê, agora são quarto versos, dois dísticos elegíacos. As relações entre as
orações são praticamente as mesmas, tanto no latim como no português. Portanto, o
procedimento de tradução continuará o mesmo:
1. localizar o verbo;
2. identificar o aspecto, o modo, o tempo, a voz, a pessoa, o número;
3. localizar o sujeito desse verbo;
4. formar a oração com os termos do predicado;
5. relacionar essa oração à seguinte, na formação do período.

Ago, agƟre; egi, actum: impelir; levar


Quattuor (num. indecl.): quatro.
para frente.
Dens, dentis (m): dente. Qui, quae, quod (pron. relativo): que.
Dies, -ei (m/f): dia. Securus, -a, -um: seguro, segura.
Duo, duae, duo: dois, duas. Si (conj.): se.
Expello, -Ɵre; expuli, expulsum: expelir. Tertius, -a, -um: terceiro.
Istic (adv.): aí. Tibi (pron. pess. sing. dat.): a ti.
Iam (adv.): já. Totus, -a, -um: todo, inteiro.

Memini, meminisse: lembrar-se. Tussio, tussƯre: tossir.

Nihil/nil (n. indecl.): nada. Tussis, -is (f): tosse.

Possum, potes; posse; potui: poder. Vna ... una: uma ... outra.

Começando pelo verbo, memini é verbo defectivo, ou seja, não possui todas as
formas. Na verdade, todo o sistema do infectum não é usado; só se emprega o perfectum.
No entanto, em português se traduz pelo presente. Vejamos sua conjugação, no indicativo
presente (eu me lembro, tu te lembras ...):
Memini, meministi, meminit, meminimus, meministis, meminerunt.
No passado (eu me lembrava, tu te lembravas ...):
Memineram, memineras, meminerat, memineramus, memineratis,
meminerant.
No futuro (eu me lembrarei, tu te lembrarás ...):
Meminero, memineris, meminerit, meminerimus, memineristis, meminerint.
No subjuntivo presente (eu me lembre, tu te lembres …):

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Meminerim, memineris, meminert, meminerimus, memineristis,
meminerint.
No passado (eu me lembrasse, tu te lembrasses …):
Meminissem, meminisses, meminisset, meminissemus, meminissetis,
meminissent.
No imperativo (lembra-te, lembrai-vos):
Memento, mementote.
No infinitivo (lembrar-se):
Meminisse.
Essas são as formas possíveis desse verbo. Então, a expressão si memini se traduz
‘se eu me lembro’, como uma oração subordinada adverbial condicional.
Quanto ao segundo verbo fuerant, trata-se do verbo ser no indicativo passado do
perfectum (pretérito mais-que-perfeito do indicativo):
Fueram, fuieras, fuerat, fueramus, fueratis, fuerant.
O nominativo sujeito referente a esse verbo é quattuor dentes. Portanto, podese
compor ‘quatro dentes foram/tinham sido’, sobrando tibi e Aelia, que é um vocativo de
Aelia, -ae (tema -a): nome próprio feminino, Élia.
Como o vocativo é apenas um chamamento, não fazendo parte da estrutura lógica
oracional, temos de relacionar o verbo com tibi, pronome pessoal de 2ª pessoa do
singular, no dativo. Para isso, é necessário conhecer a tabela de declinação dos pronomes
pessoais de 1ª e 2ª pessoa:
1ª Pessoa 2ª Pessoa
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
N Ego Nos Tu Vos
A Me Nos Te Vos
G Mei Nostri Tui Vestri
D Mihi Nobis Tibi Vobis
AB Me Nobis Te Vobis
No genitivo plural, nostrum ‘dentre nós’; uestrum ‘dentre vós’.

Relacionando então fuerant com tibi, obtém-se ‘foram para ti’, que pode ser
entendido ‘existiram para ti’, ou seja, o verbo ser associado a um dativo configura a
construção do dativo de posse. O período traduzido literalmente seria ‘Se eu me lembro,
Élia, existiam para ti quatro dentes’, que se pode dizer melhor ‘Se eu me lembro, Élia, tu

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tinhas quatro dentes’, passando tibi do dativo de posse para o sujeito do verbo ter, que
tem como complemento ‘quatro dentes’, que em latim é sujeito do verbo ser.
Deve-se notar que fuerant está no perfectum, que em português se traduz foram
ou tinham existido; a tradução parece melhorar quando se emprega o infectum: existiam
para ti/tinhas. Isto se deve a que, em latim, memini só se emprega no perfectum, o que
força o emprego do mesmo aspecto na oração principal. Como empregamos, em
português, o aspecto inacabado com o verbo lembrar-se, também se mantém o mesmo
aspecto na posse.
No segundo verso, o verbo é expulit, que é 3ª pessoa do singular, indicativo
perfectum de expullƟre (notar o duplo l de todo sistema do infectum):
Expuli, expulis, expulit, expulƱmus, expulƯstis, expulerunt.
Essa conjugação se depreende pela observação da tabela dos verbos da 3ª
declinação (-Ɵre), voz ativa, no aspecto perfeito.
Antes de buscar o sujeito desse verbo, convém conhecer as declinações de dens,
dentis e de tussis, tussis:
Terceira Declinação – temas sonânticos em –i: *dentis > *dents > dens; deste
modo também mens, mentis: mente, espírito; frons, frontis: fronte; urbs, urbis: urbe,
cidade; mors, mortis: morte; sors, sortis: sorte, destino; etc.
Formas particulares: tussis, is (f): tosse; sitis, is (f): sede; etc.
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
N/V Dens Dentes Tussis Tussis
G Dentis Dentium Tussis Tussium
A Dentem Dentes/Dentis Tussim Tussis
D Denti Dentibus Tussi Tussibus
AB Dente Dentibus Tussi Tussibus

Como tussis é do gênero feminino, a ligação natural é una tussis, que forma o
sujeito-nominativo de expulit. Duos (acusativo, masculino, plural) deve-se referir a
dentes (masculino plural), que também pode ser dentis, conforme a tabela.
Então, podemos formar, na ordem direta:
Vna tussis expulit duos (dentis) et una (tussis expulit) duos (dentis).
Já vimos que o numeral unus, una, unum, quando vem sozinho com um
substantivo, se traduz por ‘um só, uma só, uma só coisa’; mas, quando vem seguido de et
(conjunção coordenativa ‘e’) e sua repetição (unus et unus, una et una, unum et unum),

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caracteriza a coordenação disjuntiva: ‘um e outro’, ‘uma e outra’, ‘uma e outra coisa’.
Assim, pode-se traduzir:
Uma tosse expeliu dois dentes, e outra (tosse expeliu) dois (dentes).
Como se vê, trata-se de mais uma sátira ou brincadeira que o poeta faz, embora
em dísticos elegíacos, devidamente metrificados.
Para reforçar o estudo dos verbos, convém conjugar expellƟre no indicativo, em
todos os tempos e em ambos aspectos, na voz ativa e passiva. O modelo será legƟre;
deve-se atentar à variação de tema do infectum, com ‘ll’, e do perfectum,com ‘l’. As
primeiras pessoas são: expello, expellor; expellebam, expellebar; expellam, expellar;
expuli, expulsus sum; expuleram, expulsus eram; expulero, expulsus ero.
Continuando a tradução, o terceiro verso apresenta potes, 2ª pessoa do indicativo
presente, infectum, de possum, posse; potui: ‘poder’, que se constrói com o tema do
verbo esse ‘ser’ acrescentado a pot-, formando pot-sum > possum, pot-es > potes etc.;
no perfectum, pot-fui > potui, pot-fuisti > potuisti etc. Vejamos sua conjugação:
Infectum
INDICATIVO SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO PRESENTE PASSADO
(posso) (podia) (poderei) (possa) (pudesse)
possum poteram potero possim possem
potes poteras poteris possis posses
potest poterat poterit possit posset
possumus poteramus poterimus possimus possemus
potestis poteratis poteritis possitis possetis
possunt poterant poterunt possint possent
Infinitivo presente: posse (poder).
Infinitivo futuro: ________

Perfectum
INDICATIVO SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO PRESENTE PASSADO
(pude) (pudera) (terei podido) (tenha podido) (tivesse podido)
potui potueram potuero potuerim potuissem
potuisti potueras potueris potueris potuisses

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potuit potuerat potuerit potuerit potuisset
potuimus potueramus potuerimus potuerimus potuissemus
potuistis potueratis potueritis potueritis potuissetis
potuerunt potuerant potuerint potuerint potuissent
Infinitivo perfeito: potuisse (ter podido).
Esse verbo (potes) se une ao infinitivo tussƯre, da quarta conjugação, que só se
emprega no infectum, daí a presença de apenas duas formas no vocabulário. A tradução
será ‘podes tossir’, referindo-se a Élia, como sujeito.
O adjetivo de primeira classe secura ‘segura’ também se refere a Élia, na função
de predicativo do sujeito. O substantivo diebus, ablativo plural da 5ª declinação, tem tema
–e e apresenta a seguinte declinação:

SINGULARPLURAL
N Dies Dies
V Dies Dies
A Diem Dies
G Diei Dierum
D Diei Diebus
Ab Die Diebus
A quinta declinação apresenta um número muito reduzido de palavras,
comparando-se às três primeiras. O mesmo acontece com a quarta declinação, cujos
modelos são:
a- gradus, -us (m): passo;
grau;
b- manus, -us (f): mão;
c-
genu, -us (n): joelho.

SINGULAR PLURAL
NEUTR MASCULIN FEMININ NEUTR
MASCULINO FEMININO O O O O
N Gradus Manus Genu Gradus Manus Genua
V Gradus Manus Genu Gradus Manus Genua
A Gradum Manum Genu Gradus Manus Genua
G Gradus Manus Genus Graduum Manuum Genuum
D Gradui Manui Genui Gradibus Manibus Genibus

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Ab Gradu Manu Genu Gradibus Manibus Genibus

O outro adjetivo de primeira classe (totis), ablativo plural, está relacionado a


diebus, também no ablativo plural. Como o caso ablativo se usa para as noções de
advérbio, a expressão totis diebus pode-se traduzir por ‘dias inteiros’ ou ‘todos os dias’,
como adjunto adverbial de tempo.
Organizando-se o terceiro verso no ordem direta:
Iam potes tussire secura totis diebus.
Com o vocabulário e o estudo das palavras relacionadas, podemos traduzir:
Já podes tossir segura todos os dias.
No quarto e último verso, há dois verbos: agat e habet. Este já conhecemos do
primeiro poema traduzido. Aquele, segundo o vacabulário, é da 3ª conjugação e segue o
modelo de legƟre. Portanto, seu modo é subjuntivo, no infectum, e sua conjugação é:
Agam, agas, agat, agamus, agatis, agant.
Resta saber qual é o sujeito de cada um. Tertia tussis está no nominativo singular;
nil e quod, como neutros, podem ser ou nominativo ou acusativo.
Quando houver tal dúvida, o melhor é traduzir na ordem latina, para depois
ordenar em português. Assim, ‘nada aí que leve terceira tosse há’.
Se relermos o poema em latim, podemos ordenar o quarto verso:
Nada há aí que uma terceira tosse leve.
De fato, parece haver coerência, pelo que se entendeu dos versos anteriores. Pois,
se duas tosses expeliram dois dentes, e outras duas mais dois, então nada haverá que uma
terceira tosse possa levar.
Como se vê, o trabalho de tradução requer consentração e raciocínio lógico. Não
basta saber o significado das palavras, é preciso pensar a melhor forma de empregar os
recursos da língua, pois essa é a marca do escritor.
Para pôr em prática tudo isso, devemos verter ao latim:
1. Duas tosses expeliram os dentes de Élia, que tinha quatro dentes.
2. Os quatro dentes foram expelidos por duas tosses.
3. Uma tosse expelirá quatro dentes.
4. Dois dentes serão expelidos por uma tosse.
5. Élia nada tem que uma terceira tosse leve.
É dever do aluno tentar fazer todo o exercício antes de verificar as respostas, pois
o entendimento desses pontos são aproveitados na próxima tradução.

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1. Duae tussis expulerunt dentis Aeliae, quae habebat quattuor dentis.
A oração relativa pode-se verter também assim, no dativo de posse: ‘cui erant
quattuor dentes’.
2. Quattuor dentes expulsi sunt a duabus tussibus. No perfectum, a
voz passiva se faz com o particípio passado passivo, que possui gênero e número,
como os adjetivos, e com o verbo ser, conjugado ou no presente ou no passado ou
no futuro. O agente da passiva se emprega no ablativo.
3. Tussis expelet quattuor dentis.
4. Duo dentes expellentur a tussi.
5. Aelia nil habet quod tertia tussis agat.
Note-se que cada processo da tradução é ressaltado pela versão. É necessário que
tudo esteja bem entendido e executado, desde a conjugação verbal, que se deve fazer
tantas vezes quantas forem necessárias, até a estruturação do poema todo, que exige
concentração e empenho em cada fase.
Na parte final deste trabalho, faremos a tradução de alguns trechos de Caio Túlio
Cícero (106 – 43 a. C.):

Animus, -i (m): ânimo, espírito. Honorarium, -i (n): brinde, prêmio.


Audiens, -ientis: ouvinte (part. pres.
Necessarius, a, um: necessário, a.
de audio).
Optimus, a, um: ótimo, o melhor (superlativo de
Debitum, -i (n): dever. bonus, a,um).
Delecto, -Ɨre, -Ɨui, -Ɨtum: deleitar. Orator, -ǀris (m): orador.

Dico, dicƟre, dixi, dictum: dizer. Permoueo, -ere, -ui, -motum: comover.

Doceo, docƝre, docui, docitum:

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Qui, quae, quod: que, o qual (pron. relativo).
intruir, ensinar.
Et ... et: tanto ... quanto.
O trabalho de tradução deve seguir o mesmo procedimento.
No período composto deve-se atentar à separação das orações e à relação entre
elas. Para isso, é necessário identificar os verbos, determinando sua forma e sentido.
Em primeiro lugar aparece est, que já se conhece, formando a primeira oração
‘ótimo é o orador’. Em seguida vem dicendo, que é uma forma nominal do verbo dicƟre,
relativa ao gerúndio. Ao se observar o gerúndio pelo paradigma dos verbos da 3ª
conjugação (legƟre), verifica-se que essa forma de gerúndio é uma declinação do
infinitivo, que corresponde a um substantivo. Assim, pode-se declinar:
GERÚNDIO

Nominativo dice re (dizer)

Acusativo dicendum (dizer)


Genitivo dicendi (de dizer)
Dativo dicendo (para o dizer)
Ablativo dicendo (pelo dizer; dizendo)
Deixemos essa forma nominal, por enquanto. Os próximos verbos estão
coordenados por et...et e são docet, delectat e permouet. O primeiro é da 2ª conjugação
(delƝre), o segundo é da 1ª (amƗre) e o terceiro é também da 2ª.
Conjugando-os, sabemos que estão no infectum, indicativo, presente, 3ª pessoa do
singular, voz ativa. Portanto, a palavra que pode corresponder a um nominativo singular,
como sujeito, é qui, pronome relativo referente a orator. Devemos também declinar
orator, que é da 3ª declinação, como uiator.
Falta a expressão animos audientium; a primeira palavra é substantivo da 2ª
declinação, como discipulus, a segunda é um particípio presente ativo do verbo audƯre
‘ouvir’, que como adjetivo de 2ª classe, de tema –i, assim se declina:
SINGULAR PLURAL
M/F N M/F N N/V audiens audiens audientes
audientia A audientem audiens audientes audientia
G audientis audientis audientium audientium D
audienti audienti audientibusaudientibus
AB audienti audienti audientibusaudientibus

Como vemos no vocabulário, podemos traduzir o particípio presente ativo


por ‘ouvinte’. Assim a expressão animos audientium se traduz ‘ânimos dos
ouvintes’, que é objeto direto dos verbos docet, delectat, permouet. O núcleo do
objeto é o substantivo que está no acusativo animos, o adjunto adnominal desse
núcleo é o genitivo plural audientium.
Temos a primeira parte traduzida assim: ‘Ótimo é o orador que, pelo dizer,
tanto ensina, quanto deleita, quanto comove os ânimos dos ouvintes’.
Na segunda parte, temos est, que se distribui a três orações coordenadas:
docere est debitum; delectare est honorarium e permouere est necessarium.

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Então, pode-se traduzir: ‘Ensinar é um dever, deleitar é um brinde,
comover é necessário’.
Note-se que os infinitivos, como sujeitos gramaticais, deixam os
predicativos no gênero neutro.
Para exercício, devemos indicar a classe gramatical, o caso e a função
sintática de cada palavra:
1. optimus; 2. orator; 3 animos; 4. audientium; 5. debitum; 6. honorarium;
7. necessarium; 8. qui.
Para responder é preciso declinar cada palavra; a classe gramatical é dada
na entrada lexical.
Respostas:
1. adjetivo, nominativo, predicativo do sujeito;
2. substantivo, nominativo, sujeito (de est);
3. substantivo, acusativo, objeto direto (de docet, delectat, permouet);
4. particípio presente ativo, genitivo, adjunto adnominal (de animos);
5. substantivo, nominativo, predicativo do sujeito (docere);
6. substantivo, nominativo, predicativo do sujeito (delectare);
7. adjetivo, nominativo, predicativo do sujeito (permouere);
8. pronome relativo, nominativo, sujeito (de docet,
delectat, permouet).

Verter ao latim:
1. O ânimo do orador é necessário aos ouvintes.
2. O bom livro é lido pelos bons alunos.
3. Lendo bons livros, a professora ensina e comove os alunos.
4. A fábula, que é lida pelo aluno, deleita os ânimos dos ouvintes.
5. O aluno, que lia as fábulas do livro, comovia os ânimos dos professores.
6. O aluno, que foi instruído pelos professores, leu bons livros.
É preciso conjugar todos os verbos exigidos na versão, no mesmo modo, tempo e
voz.
Respostas:
1. Animus oratoris est necessarius audientibus.
2. Bonus liber legitur a bonis discipulis.
3. Legendo bonos libros, magistra docet et permouet discipulos.
4. Fabula, quae legitur a discipulo, delectat animos audientium.
5. Discipulus, qui legebat fabulas libri, permouebat animos magistrorum.
6. Discipulus, qui docitus est a magistris, legit bonos libros.

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Auaritia, -ae (f): avareza, cobiça, Negotium, -ii (n): ocupação, trabalho.
ganância.
Caput, capitis (n): cabeça; capítulo; o Pello, pellƟre; pepuli, pulsum: repelir; principal.
afastar.
Etiam (adv.): até mesmo. Procuratio, -onis (f): administração;
procuração.
In (preposição): em. Publicus, -a, -um: público, oficial.
Minimus, -a, -um: mínimo, -a. Suspicio, -onis (f): suspeita, suspeição.

Munus, muneris (n): cargo, ofício; Vt (conj. integrante): que. funeral.

Há agora dois verbos: est e pellatur. O primeiro já conhecemos, o segundo, pelo


que se vê no vocabulário e pelo paradigma da 3ª conjugação, está no infectum, no modo
subjuntivo, presente, terceira pessoa, singular, e se conjuga assim:
Legar, legaris, legatur, legamur, legamini, legantur.
Todas as palavras que ofereçam alguma dificuldade devem ser declinadas,
observando-se no vocabulário seus temas ou declinações. Por exemplo, caput, munus,
procuratio, suspicio.
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
N Caput Capita Munus Munera
V Caput Capita Munus Munera
A Caput Capita Munus Munera
G Capitis Capitum Muneris Munerum
D Capiti Capitibus Muneri Muneribus
AB Capite Capitibus Munere Muneribus
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
N Procuratio Procurationes Suspicio Suspiciones
V Procuratio Procurationes Suspicio Suspiciones
A Procurationem Procurationes Suspicionem Suspiciones
G Procurationis Procurationum Suspicionis Suspicionum
D Procurationi Procurationibus Suspicioni Suspicionibus
AB Procuratione Procurationibus Suspicione Suspicionibus
A primeira oração não oferece dificuldade, devendo-se traduzir caput est por ‘o
principal é’. Em seguida vem uma longa expressão iniciada por in ‘em’, que indica lugar;
se ela for seguida de ablativo, a relação é de adjunto adverbial de lugar, instrumento ou
meio. De fato, procuratione é ablativo, o pronome indefinido omni concorda em gênero
(feminino), número (singular) e caso (ablativo). Como exercício, podemos declinar a
expressão omni procuratione:

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SINGULAR PLURAL
N Procuratio ominis Procurationes omnes
V Procuratio omnis Procurationes omnes
A Procurationem omnem Procurationes omnes
G Procurationis ominis Procurationum omnium
D Procurationi omni Procurationibus omnibus
AB Procuratione omni Procurationibus omnibus
Já podemos traduzir in omni procuratione por ‘em toda administração’. O
substantivo negotii está no genitivo singular (neutro de tema –o), sendo portanto adjunto
adnominal de procuratione; o outro substantivo no genitivo singular (neutro de tema
consonantal) muneris está coordenado por et a negotii, sendo também adjunto
adnominal. A última palavra é o adjetivo de 1ª classe publici, adjunto adnominal de
muneris, concordando em gênero, número e caso. Então podemos traduzir todo esse
adjunto adverbial por ‘em toda administração de negócio e de cargo público’.
Na segunda oração, que se inicia por ut ‘que’, determina-se o sujeito do verbo
pellatur, pela expressão no nominativo singular minima suspicio. Na ordem em que está,
se traduz ‘que de cobiça seja afastada até mesmo a mínima suspeita’, ou seja, ‘que seja
afastada até mesmo a mínima suspeita de cobiça’.
Para exercitar, verter ao latim:
1. Afastamos (perfectum) toda suspeita de cobiça na administração
pública.

2. Em todos os cargos públicos, a mínima suspeita de cobiça será


afastada por nós.
3. Em todo cargo público, a mínima suspeita de cobiça foi afastada.
4. Em todos cargos públicos, a mínima suspeita de cobiça fora
afastada.
5. Em todos cargos públicos, as mínimas suspeitas terão sido
afastadas.
É preciso conjugar os verbos em todas as formas pedidas.
Respostas:
1. Pepulimus omnem suspicionem auaritiae in procuratione publica.
2. In omnibus muneribus publicis, minima suspicio auaritiae pelletur a nobis.
3. In omni munere publico, minima suspicio auaritiae pulsa est.
4. In omnibus muneribus publicis, minima suspicio auaritiae pulsa erat.
5. In omnibus muneribus publicis, minimae suspiciones pulsae erunt.

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Capio, capƟre; cepi, captum: capturar; Opus (n. indecl.; na lococução opus esse):
tomar. ser preciso.
Existimo, -are; -aui, -atum: estimar,
Publicus, a, um: público; do povo.
considerar.
Insanus, a, um: insano, louco. Res, rei (f): coisa.
Loquor, loqui; locutus sum: falar. Seruus, -i (m): escravo, servo.
Oportet, oportƝre; oportuit: ser
Si (conjunção adversativa): se.
preciso, convir.
Oppressus, a, um: vencido. Taceo, -Ɲre; tacui, tacitum: calar, silenciar.
Opprimo, -Ɵre; oppressi, -essum:
Vero (adv.): com certeza, em verdade.
oprimir.

Em latim, quando se emprega o pronome pessoal, há um reforço, uma ênfase sobre


ele; em geral, não se emprega, pois o sujeito se mostra pela desinência dos verbos. Desse
modo, a expressão ego uero qui pode-se traduzir por ‘eu mesmo, na verdade, que’ ou ‘
eu mesmo com certeza que’. É preciso identificar os verbos, suas formas e seus
respectivos sujeitos.
Como essa construção pode oferecer mais dificuldades, pode-se observar que as
conjunções se relacionam a verbos conjugados, bem como os pronomes relativos. A
primeira conjunção si está relacionada a loquor, forma verbal que só se usa na voz
passiva, ou seja, não há voz ativa, em todos os modos e tempos conjugados. Esses verbos
são ditos depoentes: forma passiva e significado ativo.
Na verdade, o paradigma que lhe correspondente é legor (sou lido), da 3ª
conjugação regular; para facilitar o entendimento, apresenta-se aqui sua conjugação
completa:
INFECTUM
INDICATIVO SUBJUNTIVO IMPERATIVO

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Presente Passado Futuro Presente Passado Presente
(falo) (falava) (falarei) (fale) (falasse)
Loquor Loquebar Loquar Loquar Loquerer
Loqueris Loquebaris Loqueris Loquaris Loquereris Loquere
Loquitur Loquebatur Loquetur Loquatur Loqueretur
Loquimur Loquebamur Loquemur Loquamur Loqueremur
Loquimini Loquebamini Loquemini Loquamini Loqueremini Loquimini
Loquuntur Loquebantur Loquentur Loquantur Loquerentur
No imperativo, há ainda o tempo futuro: loquitor, para 2ª e 3ª pessoas do singular;
loquuntur, para 3ª pessoa do plural.
No infinitivo: loqui, presente (falar); locutum iri, futuro (haver de falar).
No particípio: loquens, loquentis, presente (nominativo e genitivo, como adjetivo
de 2ª classe; falante); locuturus, a, um, futuro (como adjetivo de 1ª classe; havendo de
falar). Há ainda o gerundivo, adjetivo verbal que exprime dever: loquendus, a, um (que
deve ser falado).
No gerúndio, como declinação do infinitivo loqui, há o genitivo loquendi, o
acusativo loquendum, o dativo e ablativo loquendo.

PERFECTUM
INDICATIVO SUBJUNTIVO
Presente Passado Futuro Presente Passado
(falei) (falara) (terei falado) (tenha falado) (tivesse falado)

Locutus sum Locutus eram Locutus ero Locutus sim Locutus essem
Locutus es Locutus eras Locutus eris Locutus sis Locutus esses
Locutus est Locutus erat Locutus erit Locutus sit Locutus esset
Locuti sumus Locuti eramus Locuti erimus Locuti simus Locuti essemus
Locuti estis Locuti eratis Locuti eritis Locuti sitis Locuti essetis
Locuti sunt Locuti erant Locuti erunt Locuti sint Locuti essent
No perfectum, os modos e tempos se constroem sobre o tema do particípio passado
passivo locutus, a, um, masculino, feminino e neutro, mais esse ‘ser’ conjugado. Assim,
é preciso considerar o gênero do sujeito antes de conjugar; se o sujeito for feminino,
locuta est (ela falou); se for neutro, locutum est (aquilo falou).
No infinitivo: locutum esse (ter falado); no particípio: locutus, a, um (falado).

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Então, a oração condicional si loquor se traduz por ‘se falo’; a expressão de re
publica emprega o substantivo res, da 5ª declinação (a exemplo de dies), no ablativo
singular antecedido de de (preposição com sentido de sobre, a respeito de) e sucedido por
publica, adjetivo de 1ª classe. Assim, se traduz por ‘da coisa pública’, ou seja, ‘do
governo’.
A expressão quod oportet emprega um pronome relativo sem antecedente, que
fica implícito (id), portanto se traduz por ‘o que; aquilo que’. O verbo oportet é
unipessoal, ou seja, só se emprega na terceira pessoa. Sua tradução é ‘o que convém’.
O que vem a seguir, separado por vírgulas, é o adjetivo de 1ª classe insanus, que
se refere à primeira pessoa do singular, no nominativo, como predicativo do sujeito qui.
A pontuação ajuda a perceber a ordem sintática, pois as orações condicionais estão
separadas por vírgulas. Falta ainda determinar o verbo da oração que subordina a primeira
condicional. Na seqüência, vem outra condicional: si quod opus est, em que fica
implícito o verbo loquor, da condicional anterior, além da expressão de re publica.
Então, pode-se traduzir por ‘se (falo) o que é preciso (sobre o governo)’. Como em
português, as expressões usadas antes não se repetem, como veremos na tradução final.
Seguindo-se a isso vem outro adjetivo de 1ª classe seruus, com a mesma função
do primeiro e no mesmo caso; só aí aparece o verbo relacionado a esses adjetivos,
predicativos do sujeito, que se refere a qui: existimor, infectum, indicativo, presente, voz
passiva, da primeira conjugação, como se observa no vocabulário. Se o verbo existimo
significa ‘considero’, existimor significa ‘ sou considerado’.
Portanto, retomando-se todo o período traduzido, teremos: ‘Sou eu mesmo que, se
falo do governo o que convém, sou considerado louco, se falo o que é preciso, sou
considerado escravo ...’. Para se conservar as elipses do texto original, pode-se traduzir
assim: ‘sou eu mesmo que sou considerado louco, se falo do governo o que convém,
escravo, se o que é preciso, ...’.
Falta ainda a última condicional do período si taceo ‘se calo’, que deixa implícita
a expressão de re publica. Na seqüência, a expressão coordenada oppressus et captus,
em que há dois particípios passados passivos de opprimo e de capio, respectivamente;
ou seja, considerando-se o mesmo verbo existimor, pode-se traduzir ‘se calo, sou
considerado vencido e capturado’.
É importante conjugar todos os verbos que possam causar alguma dúvida. A
tradução em si é bem simples, mas a forma final do texto requer capacidade de articular
o pensamento. A tradução final nunca é final. Um texto assim pode ter uma forma variada

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de tradução, dependendo do gosto e tendência do tradutor. No entanto, deve-se ressaltar
que a correção tem preferência sobre o estilo, pois o texto é de Cícero, e não do tradutor.
Assim, retomando as partes traduzidas, teremos: ‘sou eu mesmo que sou considerado
louco, se falo do governo o que convém, escravo, se o que é preciso, si calo, vencido e
capturado’.
A respeito desse texto, façamos um exercício de versão:
1. É preciso falar sobre o governo o que convém.
2. Calaremos sobre o governo o que não convém a nós.
3. Falaremos sobre o governo o que convém a vós.
4. Era preciso falar o que convinha a todos.
Respostas:
1. Opus est loqui de re publica quod oportet.
2. Tacebimus de re publica quod non oportet nobis.
3. Loquemur de re publica quod oportet uobis.
4. Opus erat loqui quod oportebat omnibus.

Podemos ainda fazer um exercício de versão que envolve os textos anteriores:


1. O principal para ti é que fales o que convém a todos.
2. Era preciso falar que os bons alunos liam bons livros.
3. Convém que o orador fale o que é preciso a todos os ouvintes.
4. O principal é que, lendo bons livros, o professor eduque os alunos.
5. Não convém que o aluno leia um só livro.
6. O professor lê um só livro aos alunos. Que professor? O professor que tem um
só livro.
7. O professor lia um só livro aos alunos. Que livro? O livro de fábulas.
8. O professor lerá um só livro aos alunos. A que alunos? Aos alunos que têm um
só livro.
9. O bom livro foi lido pelo professor a todos os alunos. Que bom livro? O bom
livro de fábulas.
10. O bom livro de fábulas fora lido pelo professor aos alunos. Por que professor?
Pelo professor que tinha um só livro.
11. Bons livros de fábulas terão sido lidos pelo professor aos alunos. A que alunos?
Aos alunos que têm um só livro.

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12. Élia expeliu quatro dentes com duas tosses. Que Élia? Élia que tinha quatro
dentes.
O principal para o aluno é reler todos os textos traduzidos, com todos os
exercícios; assim esse exercício será apenas uma revisão.
Respostas:
1. Caput tibi est ut loquaris quod oportet omnibus.
2. Opus erat loqui ut boni discipuli legebant bonos libros.
3. Oportet ut orator loquatur quod opus est omnibus audientibus.
4. Caput est ut, legendo bonos libros, magister docet discipulos.
5. Non oportet ut discipulus legat unum librum.
6. Magister legit unum librum discipulis. Qui magister? Magister qui habet unum
librum/Magister cui est unus liber (dativo de posse).
7. Magister legebat unum librum discipulis. Quem librum? Librum fabularum.
8. Magister leget unum librum discipulis. Quibus discipulis? Discipulis qui
habent unum librum/Discipulis quibus est unum liber (dativo de posse).
9. Bonus liber lectus est a magistro omnibus discipulis. Qui bonus liber? Bonus
liber fabularum.
10. Bonus liber fabularum lectus erat a magistro discipulis. A quo magistro? A
magistro qui habebat unum librum/A magistro cui erat unus liber (dativo de
posse).
11. Boni libri fabularum lecti erunt a magistro discipulis. Quibus discipulis?
Discipulis qui habent unum librum/ Discipulis quibus est unus liber (dativo de
posse).
12. Aelia expulit quattuor dentis cum duabus tussibus. Quae Aelia? Aelia quae
habebat quattuor dentis/ Aelia cui erant quattuor dentes (dativo de posse).

Com isso se completa o primeiro ciclo do aluno de latim. Não se deve pensar que
um segundo ciclo seria muito mais difícil, pois o segundo ciclo consiste no estudo
constante, na tentativa de traduzir os textos literários. Toda a base da língua está contida
nestas páginas que permitirão ao aluno avançar no estudo do latim, com eficiência.
É claro que não se formam latinistas em um semestre letivo; nem mesmo dois, três
ou mais semestres serão suficientes para isso. Então, com uma boa base, cada aluno
poderá avançar tanto quanto a vida possa exigir dele, sem necessidade de um curso regular
que muitas vezes repete semestre a semestre a mesma teoria inicial.

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Para esse aprendizado avançar, é indispensável uma boa gramática latina, além de
um bom dicionário de latim. Assim, damos umas referências:
Maia Junior, Juvino Alves. Latim: teoria e prática nos cursos universitários. João
Pessoa: Idéia/Editora Universitária, 2007.
Torrinha, Francisco. Dicionário latino/português. Porto: Marânus, s. d.
Faria, Ernesto. Dicionário escolar latino/português. Rio de Janeiro: MEC, s. d.
___________. Gramática da língua latina. Brasília: Fundação de Assistência ao
Estudante, s. d.
Saraiva, F. R. dos Santos. Novíssimo dicionário latino/português. Rio de Janeiro:
Garnier, s. d.
Observação: as referências sem data de edição podem nem estar disponíveis para
compra, como livros novos; no entanto elas são adquiridas em sebos, ou seja, em livrarias
de livros usados. Como a maior parte dos meus livros adquiri assim, desconheço a data
da última edição deles. De todo modo, evidencia-se a notória escassez de livros de latim
no Brasil.

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